Download - Doses Lúdicas
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DOSES LDICAS uma compilao de breves textos sobre o mundo dos jogos e do entretenimento. uma reunio de posts e outros materiais do autor publicados nos ltimos anos em blogs e sites na internet. Cada texto procura trazer um referencial terico diferente e que possa servir de consulta para os futuros game designers, estudiosos do universo ldico ou simplesmente para aqueles que so apaixonados por games. DOSES LDICAS um livro para ser lido na ordem que o leitor escolher e seu contedo bastante didtico, criando um dilogo harmonioso com os especialistas ou iniciantes na rea. Desfrute em pequenas ou grandes doses. No modo easy ou no modo hard. Aperte start e boa leitura. MSc. Vicente Martin Mastrocola (@vincevader) publicitrio, graduado e ps-graduado em comunicao e marketing pela ESPM, instituio atravs da qual tambm adquiriu o ttulo de mestre. Trabalha com projetos digitais de games e interfaces ldicas desde 1998 e j realizou (e vem realizando) trabalhos para grandes clientes como: Vivo, MTV, Ford, Terra, Intel, Danone e muitos outros. Atualmente supervisor da rea de criao da ESPM de So Paulo e ministra aulas de mdia digital. Tambm leciona a disciplina Gaming Concepts na Miami Ad School | ESPM. No ltimo ano escreveu diversos artigos sobre game design na mdia especializada e publicou diversos jogos de tabuleiro, cartas, internet, iPhone e iPad. Este livro mais um projeto ldico do autor.
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VICENTE MARTIN MASTROCOLA
DOSES LDICAS Breves textos sobre o universo dos jogos e entretenimento
1 Edio So Paulo, 2013 Edio do autor
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Autor: Vicente Martin Mastrocola
Editor: Vicente Martin Mastrocola
Projeto Grfico: Vicente Martin Mastrocola
Fotos da capa: Donizeti S. Pinto
Reviso de texto: Bia Bonduki
So Paulo. Janeiro de 2013
M374 Mastrocola, Vicente Martin
Doses ldicas: breves textos sobre o universo dos jogos e entretenimento. / Vicente Martin Mastrocola. So Paulo:
Independente, 2013.
ISBN 978-85-913490-1-2
1. Game. 2. Game design. 3. Entretenimento. 4. Jogo. 5. Ldico. 6. Novos negcios. I. Ttulo.
CDU 370
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Para fazer o download deste livro, acesse: www.dosesludicas.com.br
Esta obra est licenciada sob Creative Commons - Atribuio - Uso no-comercial - Vedada a criao de obras derivadas 3.0 Brasil.
Voc pode copiar, distribuir, exibir e executar a obra.
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Para cada novo uso ou distribuio, voc deve deixar claro para outros os termos da licena desta obra.
Qualquer uma destas condies podem ser renunciadas, desde que voc
obtenha permisso do autor.
Para mais informaes, visite: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/
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Para os gamers.
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_SUMRIO
.Prefcio por Leonardo Trevisan. .11.
.Introduo .15
.Observando o Homo Ludens. .17.
.O tempo do entretenimento .21
.Um pouco de Gamification. .25.
.Indie games .29
.Uma breve entrevista com Gonzalo Frasca. .33.
.Dois exerccios de game design .37
.A figura do interator. .39.
.Games & interfaces .43
.Metagame: o jogo dentro do jogo. .47.
.Quando universos colidem: games & filmes / filmes & games .51
.Cinco planos. .55.
.O complicado mercado brasileiro de games .59
.Keep it Simple. .61.
.RPG, MMORPG e mundos virtuais .65
.Advergames. .71.
.Pontos de vista sobre ARGs .75
.Moldando as regras de um jogo. .83.
.A incerteza como elemento de game design .87
.KidZania: o parque para a criana trabalhar. .89.
.Um olhar sobre os homens e os jogos .93
.As regras e os jogos. .97.
.Evidence-based game .101
.Palavras finais. .109.
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_Prefcio por Leonardo Trevisan
Game no s diverso. Aprendi, ou melhor, me convenci disto com o
Vince. claro que , principalmente, entretenimento, mas no apenas. O que mais
interessa que a lgica do game criou um mtodo de pensar e de resolver
problemas.
A conquista mais relevante dessa lgica est no fato de que o game
aproximou duas coisas que pareciam excludentes: comunicar, ou ensinar algo a
algum e se divertir, ao mesmo tempo.
O que fazer dessa mistura do game com a vida real o objetivo do livro
DOSES LDICAS do amigo Vicente Martin Mastrocola (ou Vince Vader como
mais conhecido). Alis, primeiro, bom saber que essa mistura tem um porte
econmico respeitvel: nos ltimos oito anos nenhuma indstria cresceu tanto
quanto a de games. Desde 2006, games passaram o cinema em rendimento e em
2012 esta indstria ir ultrapassar uma marca de 70 bilhes de dlares anuais1 .
Ao olhar esse vasto campo surge uma pergunta: por que os games
avanaram tanto? Bom, com certeza, os games hoje so utilizados para atividades,
1 Fonte: Relatrio NewZoo Amsterdam 2010 http://corporate.newzoo.com/press/GamesMarketReport_FREE_030510.pdf
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como mostram os textos do Vince, que no esto ligadas diretamente ao
entretenimento. Jogos so usados para dinmicas empresariais, campanhas
polticas e abriram uma interface com educao que est s no comeo. E com a
publicidade tambm. Nenhuma dessas atividades pode dispensar a lgica dos
games. Isso fato consumado.
Muita gente, portanto, pesquisa o futuro dessa indstria, em especial nas
universidades. O debate em torno da ideia de gamification tambm est s no
comeo. O Vince, em vrios textos, atualiza a bibliografia desse assunto.
Games, portanto, so bem mais srios do que se pensa. O Vince cutuca
estas ideias de Steven Johnson (no texto O jogo e a mente) de um jeito bem
produtivo: o professor da Columbia University prope acesso irrestrito dos jovens
aos jogos porque defende que a lgica da internet e dos games possui virtudes
intelectuais e cognitivas diferentes, mas no inferiores s da leitura.
Ser que muita ousadia pensar que a thumb generation2 aprende, talvez,
mais rpido que a gerao dos seus avs, s que de um jeito diferente? E, pior,
exige dar carter ldico ao aprendizado?
Os textos avanam nas provocaes. A questo do tempo de jogo, aquele
s vou jogar mais dez minutinhos, e os motivos do: quando se joga se esquece
do tempo... Ele fala at do interator e o complexo ecossistema das telas
conectadas. Nele, o ator que interage, abre muitas possibilidades interativas em
mltiplas plataformas digitais.
Mas, qual o limite de gamification na vida? Nesse ponto, o livro do Vince
vai fundo, pois a questo no est s no aprender atravs dos games. Kevin
Werback, da Universidade da Pennsylvania, fala de tcnicas de game design (barras
2 A gerao nascida depois de 1985, na qual adolescentes e jovens se comunicam intensamente pelo uso de mobile devices (como smartphones, celulares, tablets, etc.). O nome thumb generation (ou gerao do polegar) se d porque normalmente so usados os polegares para se digitar incansavelmente nas telas desses aparatos tecnolgicos.
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de progresso, nveis, trofus, medalhas, quests) , dentro de contextos que no so
games. A Nike, por exemplo, criou o Nike Plus, um chip que conta os passos do
usurio enquanto ele anda ou corre e abre a comparao de desempenho em rede
social. A pessoa no virou avatar, mas corre de verdade enquanto compete na tela
com outros usurios. A Marinha americana j comeou a treinar seus homens
usando essa mesma lgica e tcnica. Enfim, a discusso parece estar s no comeo.
Se este o sculo do entretenimento, como podemos usar isso a favor da
educao, publicidade, e sociedade? A resposta dessa pergunta pede ateno ao
novo livro do Vince. Portanto, apenas, Boa Leitura!
Leonardo Nelmi Trevisan
graduado em Histria pela Universidade de So Paulo (1976), mestre em Histria Econmica (1984) e doutor em Cincia Poltica (1993), ambos pela Universidade de So Paulo. Obteve ttulos de ps-doutor, na rea de Economia do Trabalho, pela University of London (1997) e pela Warwick University (1998), ambos com bolsa da Fapesp. Atualmente professor titular da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, no Departamento de Economia e na Ps-Graduao (mestrado acadmico) em Administrao de Empresas. tambm professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing. jornalista (O Estado de So Paulo, 1987/2004 e Gazeta Mercantil, 2004/2009) e tem experincia na rea de Economia, com nfase em Mercado de Trabalho; Poltica do Governo e Poltica Externa, atuando principalmente nos seguintes temas: educao, desenvolvimento econmico, e internacionalizao do mercado de trabalho. Para mais informaes acesse o blog http://www.leonardotrevisan.com.br/ .
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_Introduo
Desde 2011 venho colaborando com alguns textos para o blog do amigo e
jornalista Leonardo Trevisan no endereo http://leonardotrevisan.com.br.
Quando o Leo me chamou para escrever uma coluna semanal neste endereo a
ideia original era escrever sobre games & novos negcios, mas eu acabei
ampliando a discusso e em pouco tempo j havia escrito textos sobre game design,
gamification, interfaces de jogos e outros assuntos ligados ao universo ldico. At
entrevistas com profissionais da rea de games e estudiosos do campo ldico
apareceram neste espao.
Leo e eu lecionamos juntos na ESPM e certo dia, na sala dos professores,
ele perguntou se eu no pensava em organizar os textos que escrevia para o seu blog
em algo mais formal. At ento eu no havia pensado nisso, mas imediatamente
surgiu a ideia de um livro com um contedo baseado em textos curtos, algumas
pequenas doses de conhecimento que trouxessem boas referncias bibliogrficas
aos leitores.
Na poca, maio de 2012, eu havia acabado de lanar meu primeiro livro, o
LUDIFICADOR (que o leitor pode baixar de graa em www.ludificador.com.br)
e no havia uma quantidade suficiente de posts no blog do Leonardo que eu
conseguiria compilar para fazer um segundo livro. Porm, o tempo passou e mais
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posts foram escritos. O que o leitor tem em sua frente no presente momento -
uma reunio dos melhores contedos que foram publicados em mais de um ano de
colaborao para o blog do Leonardo e outros espaos na internet.
O ttulo DOSES LDICAS: Breves textos sobre o universo dos jogos
e entretenimento uma brincadeira com o contedo que foi escrito na forma de
posts e, portanto, so concisos em suas essncias. So textos que podem ser lidos
em poucos minutos e servem de inspirao e referncia para algumas reflexes
maiores. Eu acredito que apesar de serem curtos os textos esto de agradvel
leitura e podem iniciar discusses mais amplas em outras plataformas digitais,
artigos, livros, etc.
Os textos que voc vai ler nessa coletnea no formam uma sequncia
linear e podem ser lidos em qualquer ordem. Selecionei os textos que tendem a ser
menos datados em termos de contedo e, tambm, os que possuem boas
referncias bibliogrficas. Alguns so mais acadmicos e outros mais informais.
Eu acredito que este tipo de conhecimento para ser compartilhado e,
como meu primeiro livro, este tambm totalmente de graa para download
formatado dentro de princpios de Creative Commons.
Gostaria de agradecer ao apoio do Leo Trevisan e de todos os leitores de
seu blog que incentivaram a publicao desse material.
Boa leitura! Go gamers!
Vicente Martin Mastrocola (@vincevader)
So Paulo, janeiro de 2013.
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_Observando o Homo Ludens
Este texto uma homenagem ao autor Johan Huizinga (1872 - 1945) um
dos nomes mais presentes e significativos no campo de estudos sobre games,
ludicidade e interfaces ldicas da contemporaneidade.
Huizinga atuou como historiador na Holanda e autor de uma obra
elementar para todos aqueles que desejam estudar o universo dos jogos: trata-se
do livro "Homo Ludens" que discute a possibilidade de que o "jogar" um
elemento importante de formao da cultura humana.
Deixo claro que neste breve texto no tenho a inteno de resumir sequer
a linha de raciocnio principal do livro Homo Ludens de Huizinga, mas gostaria
de fazer alguns apontamentos tericos que sempre acompanharam meu trabalho
de desenvolvimento de jogos (independente de plataforma), interfaces ldicas e
workshops de criao de games.
Em Homo Ludens h algumas noes essenciais para entendermos o
conceito de jogo e as diferentes conexes que o ato de jogar gera na cultura
humana ao longo de sua histria. O autor prope, nas pginas iniciais de seu livro,
que a ideia de jogo pressupe algumas caractersticas essenciais como, por
exemplo:
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1) O jogo deve ser uma atividade livre e nunca imposta (p.3). Ou seja, o
jogo presume uma participao voluntria daqueles que esto imersos no ato de
jogar. O aceitar fazer parte do jogo crucial para uma boa experincia ldica.
2) O jogo no deve ser vida real e deve ter como premissa ser um
intervalo em nossa vida cotidiana (p.11). No ambiente do jogo, as leis e costumes
da vida cotidiana perdem validade, pois no universo ldico somos diferentes e
fazemos coisas diferentes (p.15). O ambiente do jogo formado de fantasia, de
sonhos e catarse; no universo do jogo quando assumimos o papel de jogadores
(players) nos transformamos em caadores de drages, soldados, esportistas e
tudo mais que nossa imaginao voluntria e o ambiente ao nosso redor permitir.
3) O jogo deve possuir limites de tempo e de espao e possuir, acima de
tudo, um caminho e sentido prprios (p.12). Afinal de contas, por mais catico
que seja, o jogo deve criar ordem atravs de regras mesmo que de maneira
temporria e limitada (p.13). Essa ideia nos apresenta a importncia de definir
regras e o espao em que a ao do jogo acontece, seja porque estamos falando
de um campo de futebol, uma tela de video game ou um tabuleiro de xadrez.
4) Um jogo, por excelncia, cria tenso, incerteza e acaso. Estes elementos
chegam ao extremo em jogos esportivos e jogos de azar. Todo jogo, conforme
supracitado no tpico anterior, possui regras e so elas que determinam o que
vale dentro do mundo temporrio circunscrito pelo jogo (p.14).
5) A funo do jogo, nas formas mais elevadas que aqui nos interessam,
pode de maneira geral ser definida pelos dois aspectos fundamentais que nele
encontramos: uma luta por alguma coisa ou a representao de alguma coisa
(p.16). Nesse ponto vemos claramente a noo de que o jogo possui significado e
gera experincias para aqueles que esto imersos em sua realidade. Em um jogo de
video game, por exemplo, o jogador se transforma no soldado futurista lutando em
um mundo ps apocalptico com misses e deveres a serem cumpridos; nesse caso
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h uma funo significante forte e que transforma a experincia de jogar em algo
imersivo e relevante ao player.
Partindo destas caractersticas elementares, Huizinga (p.65) apresenta o
conceito de crculo mgico, onde mostra que quando se participa de algum tipo
de atividade de entretenimento entra-se nesse crculo deixando para trs os
problemas, preocupaes e aflies do cotidiano, mergulhando em um outro
universo. O carter especial e excepcional de um jogo ilustrado de maneira
flagrante pelo ar de mistrio em que freqentemente se envolve. (...) Dentro do
crculo mgico, as leis e costumes da vida quotidiana perdem validade. (p. 15-16).
Apesar de ser um espao diferente do cotidiano, as aes realizadas dentro do
crculo mgico representam/significam algo para aqueles que participaram desta
experincia.
Para entendermos visualmente a noo de crculo mgico proposta por
Huizinga, podemos recorrer ao autor Ernest Adams (2009, p.8) que usa o seguinte
exemplo para demonstrar esta idia:
O crculo mgico O mundo real
A leitura de Adams sobre o crculo mgico de Huizinga na imagem
anterior nos traduz que eventos do mundo real possuem significados especiais
dentro do crculo mgico.
Marcar um gol
Chutar uma bola em uma rede
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Partindo desses pressupostos iniciais podemos antever que a ideia de
jogo pode estar presente em diferentes facetas da cultura humana, por isso
Huizinga aponta que muito mais que o Homo Sapiens, o ser humano tambm
o Homo Ludens.
E apesar de ter sido escrito em 1938, Homo Ludens ainda um livro
extremamente atual e que serve de aporte terico para estudarmos o campo ldico
na atualidade. Mais do que recomendada , realmente, uma leitura obrigatria
nessa rea.
_Referncias bibliogrficas:
ADAMS, Ernest. Fundamentals of Game Design. New Riders: 2009 HUIZINGA, Johan. Homo ludens. So Paulo: Perspectiva, 2001.
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_O tempo do entretenimento
Acontece comigo o tempo todo e voc, com certeza, j passou por essa
situao: no percebeu o tempo passar enquanto se divertia. Voc, em um dado
momento, estava realizando uma atividade que gosta ou estava se divertindo
fazendo algo ldico e no notou o tempo passar.
Simples assim. Voc achou que jogava seu game favorito por uma hora e
na verdade j havia se passado mais de trs. Tinha certeza que estava navegando na
web por duas horas e muito mais que isso j tinha corrido no relgio.
O tempo do entretenimento passa diferente do tempo real. Quando
estamos envolvidos com uma atividade que nos entretm e nos mantm imersos
fcil perceber essa "mudana" no passar dos minutos. A nossa mente tergiversa por
mundos diferentes e a sensao do tempo real se hibridiza com o tempo do
entretenimento.
Poderamos discutir esse fato com diferentes reas do entretenimento ou
mesmo com atividades que simplesmente possuem a capacidade de nos envolver e
ater nossa ateno; porm, eu gostaria de usar o universo ldico, mais
especificamente a figura dos games nesta discusso, pois acredito que nos fornece
um excelente aporte para fazermos alguns bons apontamentos.
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J foi discutido amplamente em diversos estudos, pesquisas e livros o
poder imersivo dos games. No me refiro apenas aos games eletrnicos, mas aos
games de uma maneira geral. Gosto de lembrar que uma partida de card game pode
ser to ou mais envolvente que um tiroteio multiplayer no first person shooter do
momento.
Logo, um questionamento que pode ser proposto : por que possvel
entrarmos nesse estado de imerso dos games?
De uma maneira bem sinttica podemos recorrer ao autor Karl Kapp
(2012, p.69 e 70) que usa um exemplo elucidativo no qual diz que quando voc,
por exemplo, joga "Uncharted 3: Drake's Deception" no Playstation 3, voc no fala
para o personagem Nathan Drake atirar, voc no leva ele para os lugares do mapa
e no d comandos para ele seguir. No, voc no controla o personagem Nathan
Drake porque voc o personagem enquanto est jogando o game. Ao operar
Nathan Drake no ambiente do jogo, voc aprende regras implcitas do mundo que
est habitando naquele momento e isso um dos fatores de imerso.
Essa citao de Kapp nos abre algumas portas para irmos mais a fundo
dentro do conceito de imerso. Nesse caso, gosto de trazer para a discusso as
ideias do psiclogo hngaro Mihaly Csikszentmihalyi.
Csikszentmihalyi (1975) realizou estudos sobre um processo chamado
"flow", ou fluxo, traduzindo para o portugus. O psiclogo afirma que o fluxo um
estado mental no qual uma pessoa fica completamente imersa e focada no que est
fazendo. Este estado exige total envolvimento mental e engajamento contnuo na
atividade que est sendo realizada. Seria possvel dizer que um estado crescente
ideal entre o tdio total e ansiedade/frustrao, um momento de total absoro
que oferece posteriormente um senso de satisfao.
Segundo o psiclogo, no estado de fluxo o tempo no importa. Para a
pessoa engajada na atividade (por exemplo o ato de jogar um game) pode
aparentar que se passaram alguns minutos, mas na verdade podem ter sido horas.
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O processo de fluxo necessariamente no automtico. No caso de um
game eletrnico de Playstation pode demorar a se concretizar. O jogador pode
precisar de tempo para aprender os comandos bsicos, se adequar ao universo do
jogo, estabelecer que recompensas simblicas o jogo v oferecer, etc.
Partindo disso, o processo de fluxo pode se iniciar cada vez que o player
acessa aquele ambiente. A mente, literalmente, interfaceia com o universo do game
e oferece a sensao de experimentar o tempo de uma maneira diferente.
Apesar de ser uma viso breve, nos direciona para alguns caminhos por
onde podemos aprofundar o assunto, principalmente no que diz respeito aos
games.
E para finalizar, dedico este texto para todos os leitores que apreciam jogar
video game at tarde, precisam acordar cedo e falam sempre para si mesmos "vou
jogar s mais dez minutinhos".
_Referncias bibliogrficas:
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Play and intrinsic rewards. Journal of Humanistic Psychology, Vol 15(3), 1975, 41-63. URL: http://jhp.sagepub.com/content/15/3/41 KAPP, Karl. The Gamification of learning and instruction: game-based methods and strategies for training and education. San Francisco: Pfeifer, 2012.
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_Um pouco de Gamification
Em setembro de 2012, fiz um curso via web da University of Pennsylvania
sobre gamification. No sei se o curso ainda estar no ar quando o leitor travar
contato com este texto, mas o endereo para acessar o curso (gratuitamente) est
listado nas referncias ao final da leitura. O contedo realmente objetivo e bem
explicado com vdeos e exerccios. Este curso foi uma das grandes inspiraes para
a concepo deste breve texto.
Falar sobre a buzzword gamification requer cuidado para no cairmos em
generalizaes to comuns na contemporaneidade, por isso gostaria de pautar este
texto em cima de duas referncias principais: primeiramente, o curso supracitado,
e o livro The gamification of learning and instruction.
Para comear, o termo tratado no to recente como se pensa e foi
usado pela primeira vez em 2003 por uma empresa inglesa chamada Conundra,
que prometia misturar entretenimento com experincia de compra. A empresa no
obteve muito sucesso com sua proposta, mas a ideia de gamification perdurou e em
2010 ganhou fora na mdia como nunca.
Segundo Kevin Werbach, professor da Wharton School (University of
Pennsylvania), gamification sobre aprender atravs dos games. Werbach tambm
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prope que no possvel entender gamification sem entender, antes de tudo,
sobre games de uma maneira ampla.
Partindo desses pontos iniciais, o professor explica que podemos definir
gamification como "o uso de elementos dos games e tcnicas de game design (como
pontos, barra de progresso, nveis, trofus, fases, medalhas, quests, etc.) dentro de
contextos que no so games". Um exemplo que podemos incluir nessa categoria
o programa Nike Plus (http://nikeplus.nike.com/plus/).
A Nike, em parceria com a Apple, criou o Nike Plus, que um aparelho
que conta os passos que um usurio d ao andar ou correr. At ento parece apenas
um gadget sem funo dentro do contexto que estamos estudando. Porm, alm de
contar os passos do usurio, o programa Nike Plus registra recordes, compara
desempenhos em uma rede social com outros usurios, e, mediante quebra de
recordes e cumprimento de tarefas, premia os usurios com medalhas/trofus
virtuais, etc.
A Nike no criou um video game onde a pessoa corre com um avatar
usando um joystick; o que a marca fez foi criar uma maneira mais divertida e
estimulante de correr de verdade, utilizando um complexo sistema de pontos,
ranking e recompensas. A Nike gamificou a atividade de correr e praticar um
esporte.
No entanto, o contexto de gamification amplo e permite vrias
interpretaes. O autor Karl Kapp (2012, p.10 a 12) reuniu uma srie de ideias
vindas de pesquisadores da rea de games sobre este assunto. Na lista organizada
por este autor, encontramos os seguintes destaques para responder o que
gamification?:
1) Processo de uso de mecnicas de jogos para engajar audincias e
resolver problemas. - Gabe Zichermann, autor do livro "Game Based Marketing".
2) Usar tcnicas de games para tornar certas atividades mais envolventes
e divertidas. - Amy Jo Kim, autor do livro "Community building on the web".
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3) A ampla tendncia de empregar mecnicas de jogos para ambientes
que no so jogos como reas de inovao, treinamentos empresariais, causas
sociais e rea da sade. - The Gartner Group.
4) Uso de mecnicas de jogos para aplicaes que no so jogos
(tambm chamado de funware). Wikipedia.
Combinando elementos das citaes anteriores, Kapp chega a uma
definio prpria onde diz que "Gamification o uso de mecnicas de jogos,
esttica ldica e game thinking para engajar pessoas, motivar aes, promover
aprendizado e resolver problemas".
Em meu primeiro livro, que leva o ttulo de Ludificador (2012), eu usei
o termo ludificao para definir este uso cada vez mais crescente de
atividades e interfaces ldicas em reas como poltica, sade, educao e causas
sociais. apenas uma questo de semntica e creio que nos ajuda a ter outra viso
do assunto.
A discusso ampla e s est no comeo. H uma necessidade grande de
se estudar e realizar pesquisas no que tange a este tema. Para ampliar o contedo,
gostaria de recomendar dois endereos na web que servem como bons
combustveis para estudar este assunto emergente: http://gamifyforthewin.com e
http://www.gamification.co. Ambos os sites possuem cases variados, uma enorme
gama de exemplos e anlises de aes de diferentes lugares do mundo para
explicitar a ideia de gamification.
Este texto buscou mostrar os passos bsicos dentro do tema proposto. E
se voc leu este contedo at o final, acabou de ganhar a medalha gamification
level 1 dentro deste assunto.
No deixe de se aprimorar e conseguir as demais.
Bom jogo!
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_Referncias bibliogrficas:
KAPP, Karl. The gamification of learning and instruction: game-based methods and strategies for training and education. Pfeiffer: San Francisco, 2012. MASTROCOLA, Vicente. Ludificador: um guia de referncias para o game designer brasileiro. Edio do autor: So Paulo, 2012. URL para download gratuito: http://www.ludificador.com.br WERBACH, Kevin. Gamification web course. University of Pennsylvania, 2012. URL: https://class.coursera.org/gamification-2012-001/class/index
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_Indie games
Este texto uma reflexo sobre os indie games, uma modalidade muito
peculiar de criar e publicar jogos. Os indie games, como o prprio nome aponta, so
jogos independentes. Muitas vezes eles so feitos por uma pessoa sozinha ou um
grupo pequeno, normalmente sem apoio de produtoras ou grandes empresas da
rea.
Os indie games aparecem em vrias plataformas: alguns os produzem para
PC, outros para mobile media (como smartphones) e h at quem crie e lance de
maneira independente jogos de cartas ou de tabuleiro desta maneira.
Quem cria, produz e lana um jogo independente muitas vezes o faz por
puro passatempo, mas h pessoas que produzem indie games com o intuito de
mostrar suas ideias para alguma grande produtora ou publisher do mercado, e ter
sua obra lanada com apoio e divulgao em alguma grande plataforma.
No campo dos jogos eletrnicos temos vrios casos bem sucedidos dessa
modalidade, mas eu gosto sempre de citar dois games em especial: Braid (2008) e
Limbo (2010).
Braid foi uma produo independente de um programador de software
chamado Jonathan Blow. A primeira verso do game surgiu para Xbox, conquistou
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uma legio de fs e logo ganhou verses para outras plataformas. O jogo um
puzzle game que trabalha com uma mecnica de distoro temporal, onde o
jogador para resolver os enigmas deve voltar no tempo, aceler-lo ou criar
"bolhas" onde a passagem do tempo se manifesta de maneira diferente.
Foi um dos jogos digitais que mais joguei no ano em que foi lanado e at
hoje eu retomo algumas partidas para viver a excelente experincia de gameplay. O
autor do game investiu U$ 200.000 em trs anos de desenvolvimento com alguns
amigos, lanou-o como indie game e logo teve a ideia publicada para vrias
plataformas pagas. O game levou prmios e gerou uma receita que deu lucro
considervel para o autor.
J Limbo outro puzzle game criado de maneira independente por uma
produtora dinamarquesa chamada Playdead. Tambm foi lanado inicialmente
para Xbox e logo se expandiu por outras plataformas.
O jogo de plataforma 2D com enigmas visuais que devem ser resolvidos
em um bizarro mundo em preto e branco que parece ser habitado por almas.
Criado com um custo relativamente baixo, rendeu 7.5 milhes de dlares para a
produtora em downloads e prmios.
Em julho de 2012 eu tambm lancei um jogo independente, trata-se do
Pyramyz. um board game abstrato para dois jogadores que utiliza dados
piramidais em seu gameplay (acesse o contedo na internet na URL
http://gameanalyticz.blogspot.com.br/2012/07/saindo-do-forno-pyramyz-post-
n-1000.html para mais detalhes). A ideia era antiga e estava sendo rascunhada
desde setembro de 2011; cansado de procurar editoras e publishers brasileiras que
poderiam lanar o jogo resolvi investir eu mesmo na produo do Pyramyz.
Produzi aproximadamente 100 unidades do jogo a um custo de R$
5.000,00, incluindo dados, tabuleiro, manual e arte. Vendi com lucro mnimo
atravs do meu blog, o http://gameanalyticz.blogspot.com e as 100 unidades se
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foram em menos de dez dias sendo que algumas foram distribudas para contatos
importantes.
Se valeu a pena o tempo e o investimento? Muito. Enviei uma cpia do
jogo para a editora europia Runadrake e em menos de um ms veio a surpresa:
aceitaram publicar o Pyramyz em terras portuguesas com previso de distribuio
em mais dois pases. Acredito que em 2013 o game estar nas game shops do velho
mundo.
Logo, se h um bom feeling em uma ideia ldica, v em frente. E se eu
posso dar algumas dicas para todos aqueles que esto querendo dar vida aos seus
projetos de maneira independente, so elas: 1) invista, mas no em excesso; 2)
teste seu jogo (no importa a plataforma) muitas e muitas vezes antes de produzir;
3) consiga contatos-chave e d uma cpia do seu game; 4) procure outros
envolvidos com indie games para trocar experincias; 5) fique de olho no endereo
http://indiegames.com/index.html que sempre oferece timas dicas e reportagens
dentro da rea dos indie games; 6) no desista no primeiro; 7) a web um
laboratrio excelente e deve ser aproveitada para distribuir demos (no caso de
jogos eletrnicos) ou print and plays (no caso de card games e board games).
E boa sorte para todos aqueles que se arriscam neste divertido nicho dos
games e podem ficar milionrios com uma boa ideia.
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_Entrevista com Gonzalo Frasca
Existem alguns estudiosos da rea de games que admiro muito, e entre eles
est o uruguaio Gonzalo Frasca.
Frasca (Montevidu, 1972) um game designer e pesquisador acadmico
que focou seus estudos em serious games e jogos polticos. Serious games podem ser
explicados como jogos com uso profissional, educacional e pedaggico. Este tipo
de jogo mistura narrativa com mecnicas ldicas para enviar uma mensagem de
teor srio aos jogadores envolvidos no processo. (IUPPA & BORST, 2007)
Durante sua trajetria, Frasca fundou a Powerful Robot Games que um
estdio de criao de jogos localizado na sua cidade natal de Montevidu. Dentro
do campo de teoria dos jogos, Frasca se enquadra na categoria de ludologista,
estudando games como simuladores baseados em regras.
H alguns meses eu venho trocando e-mails com Frasca e atormentando
a vida dele com perguntas e pedidos de colaboraes de textos para o meu blog, o
Gaming Conceptz (http://gamingconceptz.blogspot.com). Em uma dessas
famigeradas trocas de e-mails, sugeri uma breve entrevista com essa lenda da rea
de pesquisa de games; ele, sem titubear, aceitou. Voc confere nosso papo nas
linhas a seguir. (A breve entrevista que segue foi feita em setembro de 2012)
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1) Como voc se tornou um pesquisador de serious games?
Frasca: Eu sou interessado em games. Serious games tentam levar os games mais
alm. Logo, acredito que qualquer pessoa interessada em publicar games deve ser
interessada em serious games tambm. Eu tambm creio que alguns serious games,
mesmo no sendo bem sucedidos, levantam questes para nos fazer melhores
game designers.
2) Qual seria a melhor definio para ludologia? E narratologia?
Frasca: Ludologia apenas uma palavra para pesquisa de jogos e mecnicas de
jogos. Simples assim. J narratologia tem vrias definies, mas basicamente a
disciplina que estuda histrias e storytelling.
3) Ns podemos ver, atualmente, uma onda de estudos sobre o uso de
mecnicas de jogos em diferentes reas do conhecimento. Qual a sua opinio
sobre a buzzword gamification?
Frasca: Eu vejo um monte de buzzwords indo e virndo. Eu penso positivamente
no fato de algumas pessoas estarem preocupadas em aplicar mecnicas de jogos em
outros campos. Se gamification est aqui para ficar ou vai sumir, s o tempo nos
dir. No geral, eu tento no acreditar em receitas e a maioria do que eu vejo sobre
gamification me soa como uma frmula mgica, mas eu posso estar errado.
4) O uso de serious games para campanhas polticas e educao
melhorou/aumentou nos ltimos anos?
Frasca: Na verdade, no. E esta uma pergunta interessante. A resposta que eles
no so relevantes para o pblico em geral. Eu acredito que ainda estamos
esperando a massa crtica nesse caso. Mais cedo ou mais tarde acontecer
especialmente em educao.
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Esta minha atual obsesso. Eu poderia dizer que atualmente sou mais interessado
em educao do que em games. Bem, na verdade, difcil observar um sem
considerar o outro.
5) O mundo est ficando cada vez mais ldico, com novas interfaces digitais
disponveis e mdias sociais. Isto um fato. As empresas e as agncias de
publicidade esto prontas para estas mudanas?
Frasca: Eu no tenho certeza. Video games so considerados cool por si s, no por
causa do que eles podem fazer. No por causa da tecnologia, por causa das
convenes sociais. Quanto mais incorporado o jogar est na nossa cultura, mais
fcil fica de entender o uso dele em nosso mundo.
6) Mande uma mensagem final para os novos pesquisadores da rea de games
e game design.
Frasca: Joguem meu novo game para iOS, o Space Holiday! No est na categoria
de serious game e nem political game, mas trata-se de um divertido puzzle game. Eu
sempre gostei de puzzle games e sempre pensei que este o tipo de jogo que eu
gosto de criar. Faam o download na iTunes Store!
E agora, a mensagem final: fique longe de rtulos como game researcher, game
designer, criador, jogador, etc. pois estas categorias se sobrepe o tempo todo. Voc
no consegue ser bom em uma delas se no for bom em todas as outras.
_Referncia bibliogrfica:
IUPPA, Nick & BORST, Terry. Story and simulations for serious games: tales from the trenches. Burlington: Focal Press, 2007
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_Dois exerccios de game design
Este texto de contedo relacionado especificamente prtica de game
design. Na verdade vou dividir com os leitores dois exerccios que eu costumo
utilizar com os participantes de workshops que ministro sobre o tema.
Muitas vezes, exercitar a criao de novos jogos pode vir da inspirao de
recriar jogos clssicos e consagrados. Pensando nisso, quero deixar aqui duas
sugestes de atividade para os entusiastas pensarem com carinho.
A primeira atividade criar um jogo da velha para trs jogadores. Parece
fcil, mas voc ver que muitos elementos precisam ser mudados e ajustados para
que o game funcione. Este exerccio est presente no livro Challenges for Game
Designers e realmente um bom brain burner para achar uma soluo vivel,
simples e divertida.
Quando eu trabalhei nesse exerccio pela primeira vez, criei a seguinte
ideia: um cubo mgico de Rubik com todas as faces em cor branca. Cada jogador
na sua vez - com uma caneta especial e cada um com uma cor diferente - pode
pintar um quadradinho de um lado do cubo e realizar trs movimentos. A ideia ,
em algum momento, fazer uma linha horizontal, vertical ou diagonal com a sua cor
em um dos lados.
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A segunda atividade que costumo propor envolve o clssico jogo de tnis
de mesa abstrato, o Pong. Tente fazer o Pong para um jogador, s que acrescente
elementos que o tornem mais desafiador como efeitos na bolinha e/ou na raquete.
Nesse caso eu criei o Pont em Adobe Flash, que voc pode jogar e analisar nesse
endereo http://www.vincevader.net/games/pont/ .
Bom treino de game design!
_Referncia bibliogrfica:
BRATHWAITE, Brenda & SCHREIBER, Ian. CHALLENGES FOR GAME DESIGNERS: non-digital exercises for video game designers. USA: Cengage, 2009.
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_A figura do interator
Neste texto eu gostaria de discutir sobre uma intrincada figura surgida dos
tempos de comunicao e tecnologias convergentes em que vivemos: trata-se do
interator.
O ecossistema do interator o mundo das telas conectadas, um ambiente
onde tablets recebem contedos diretamente dos aparelhos de TV e smartphones
interagem com displays digitais em um ponto de venda.
Esta breve introduo a respeito do interator nos fornece uma noo de
expectativas e anseios de um consumidor diferenciado dentro do cenrio
contemporneo.
O nome interator evoca na raiz de seu significado a ideia de um ator
que interage com algo. Como um termo muitas vezes ligado a um cenrio de
tecnologia, a ideia de interator pode parecer - em um primeiro momento -
unicamente ligada ao universo dos jogos eletrnicos. Mas devemos pensar em
todas as possibilidades interativas em mltiplas plataformas digitais.
O universo dos games possui sim uma importncia muito grande quando
buscamos referncias para estudar a figura do interator. Ao voltarmos nosso olhar
para alguns anos no passado vemos a figura em questo emergindo em um dos
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primeiros experimentos de games eletrnicos da histria: o Pong. Segundo Cohen
(1984, p.17) o Pong era uma representao abstrata de uma partida de tnis de
mesa entre dois jogadores, que usavam controles rudimentares simulando as
raquetes e que faziam com que um retngulo branco se movimentasse
verticalmente na tela. Este game que surgiu em arcades e consoles em 1972, e
transformou a TV de certa maneira. O Pong fez com que o espectador (viewer)
fosse alm de um jogador (player) e levou-o a experincias interativas nicas,
mostrando nuances iniciais da figura do interator.
Partindo desse princpio, podemos comear a desenhar o conceito de
interator. Janet Murray, em sua obra Hamlet no Holodeck, prope que o elemento
transformador de um espectador comum em um interator a capacidade de
agncia, entendida como a capacidade de realizar aes significativas e ver os
resultados de nossas decises e escolhas. Segundo a autora, espera-se sentir
agncia no computador quando se d um duplo clique sobre um arquivo que se
abre diante de ns, ou quando se insere nmeros em uma planilha eletrnica e se
observa os totais serem reajustados. (2001, p. 127).
Com os entrelaamentos entre diferentes plataformas pode-se pressupor
que a capacidade de agncia no se limite apenas a operar um software, abrir um
arquivo no computador ou jogar um game eletrnico. Talvez seja possvel propor
que a capacidade de agncia se amplie de uma plataforma outra e se complete
com experincias transmiditicas.
A figura do interator caminha por diferentes plataformas conectadas,
explorando o que cada uma tem de melhor a oferecer em termos de interatividade
e contedo.
Tomando como exemplo um produto com diferentes desdobramentos
em diversas plataformas miditicas, como a srie de animao Star Wars: Clone
Wars, observa-se que enquanto um indivduo acompanha um captulo na televiso
ele espectador. Ao terminar o episdio, se o mesmo indivduo se conecta
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internet para discutir a trama com outros usurios, joga um game da franquia, cria
teorias para os prximos captulos em redes sociais ou busca sites de notcias para
discutir o contedo da srie, ele est assumindo, ento, a postura de interator.
bom lembrar que apenas alguns indivduos mais envolvidos com o seriado
assumem essa postura participativa que demanda tempo na internet e
disponibilidade para esse tipo de produo.
Muitas vezes o papel de interator se funde ao papel de f quando se trata
de um produto cultural miditico. Serve-se aqui da observao de Henry Jenkins
(2006, p. 41), sobre o significado cultural do f:
No se torna um f apenas por assistir regularmente determinado programa, mas por traduzir esta experincia em algum tipo de atividade cultural, por compartilhar idias e impresses sobre o programa com os amigos, por ingressar em uma comunidade de fs que compartilham interesses em comum. Para os fs, natural que o consumo deflagre a produo, a leitura gere a escrita, a cultura do espectador se torne cultura participativa.
Jenkins (2008), em obra posterior, refora a argumentao proposta por
Murray (2001) de que a distino entre autor, leitor, produtor, espectador, criador
e intrprete difcil de ser realizada na figura do consumidor desse tipo de srie,
mas que definitivamente ele tudo isso na figura do interator.
Murray (2001, p. 50) classifica esses interatores como audincia ativa
quando os autores e produtores de uma fico seriada expandem a histria para
incluir nela mltiplas possibilidades, o leitor adquire um papel mais ativo e talvez,
por conseqncia, mais criativo.
Observar o comportamento do interator na contemporaneidade faz
parte do trabalho de estudar e pesquisar nuances do comportamento de consumo
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e participao em mdia digital desse pblico, que cresce cada vez mais no mundo
de telas conectadas e tecnologias convergentes que vivemos.
_Referncias bibliogrficas:
COHEN, Scott. Zap: the rise and fall of Atari. New York: McGraw-Hill, 1984. JENKINS, Henry. Cultura da convergncia. So Paulo: Aleph, 2008. JENKINS, Henry. Fans, bloggers and gamers: exploring participatory culture. New York: NYU Press, 2006. MURRAY; Janet. Hamlet no Holodeck O futuro da narrativa no ciberespao. So Paulo: Ed. Unesp, 2001
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_Games & interfaces
Muitas vezes no nos damos conta do tanto de interfaces que esto ao
nosso redor diariamente. Quando acionamos a tela do smartphone, sacamos
dinheiro no caixa eletrnico, entramos no menu de um blu ray ou quando ligamos
a tela inicial de um video game na televiso, estamos interagindo com interfaces.
Especialistas dizem que as boas interfaces so aquelas que desaparecem
aos olhos e percepo do usurio. Se a interface for boa, consequentemente ser
intuitiva e de fcil aprendizado para quem vai interagir com a mesma.
Johnson (2001, pg. 17) diz que a interface atua como uma espcie de
tradutor, mediando entre duas partes, tornando uma sensvel para a outra. Em
outras palavras, a relao governada pela interface uma relao semntica,
caracterizada por significado e expresso, no por fora fsica.
E, logicamente, quando falamos em games surge a importncia de
entender alguns aspectos primordiais para uma boa interface. Dos casual games at
games mais complexos imperativa a necessidade de ter elementos claros expostos
nas telas e que estes nunca confundam ou transformem a experincia do player em
algo negativo.
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Angry Birds um excelente exemplo de jogo casual com interface clara
para o usurio, pois todo mundo sabe como funciona um estilingue. O jogo, de
maneira intuitiva, faz com que voc leve seu dedo para arremessar os pssaros
contra os obstculos com uma instruo que consiste de uma imagem simples com
uma seta apontando o que deve ser feito.
Mesmo jogos complexos em sua estrutura, como os de tiro em primeira
pessoa, devem possuir uma interface intuitiva embutida em sua estrutura. No a
toa que muitos desses jogos utilizam os botes de gatilho dos joysticks
(acionados com os dedos indicadores), para simular os comandos de mira e
disparo.
Brent (2005) em seu livro Game Interface Design aponta alguns
caminhos para criao de interfaces intuitivas e amigveis pensando nos jogadores
de diferentes plataformas de games digitais.
Segundo este autor (pg. 2) mais importante do que o aspecto visual do
jogo a sua funcionalidade. Uma interface pobre pode arruinar por completo a
experincia do game. Esta experincia ser negativa se o usurio ficar confuso e no
conseguir navegar com clareza no menu inicial ou se ele no entender onde
encontrar informaes enquanto joga o game.
Brent ainda afirma que um planejamento detalhado para a interface de um
jogo pode realmente ajudar no processo de game design (pg. 10). O autor ainda
destaca que simplicidade e organizao podem ser seus objetivos principais no
processo de game design. O usurio vai ter uma experincia positiva se estiver apto
a olhar para a tela e, instantaneamente, saber o que tem que fazer. (pg. 69).
Por ltimo, a experincia de interface formada de muitos olhares. Testar
um jogo sozinho por dez vezes vicia o olhar e faz detalhes importantes passarem
despercebidos; testar um jogo por uma vez com dez pessoas diferentes foca em
problemas que podem ser resolvidos e melhora a experincia de interface de um
game.
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_Referncias bibliogrficas:
FOX, Brent. Game interface design. Boston: Thomson Course Technology, 2005. JOHSON, Steven. A cultura da Interface. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2001.
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_Metagame: o jogo dentro do jogo
Batman Arkham City foi, sem dvida nenhuma, um dos grandes
lanamentos de 2011. Confesso que meu favorito ainda Batman Arkham
Asylum, mas estou extremamente satisfeito com a experincia de jogo que o
segundo ttulo da srie me proporcionou.
O game possui uma srie de pontos que merece destaque especial:
mecnica de combate excelente (com sequncias de combos divertidssimas),
cenrios belssimos (e sombrios), uma seleo primorosa de viles (ok, isso fcil
quando se trata do Batman), desafios inteligentes e, por ltimo, uma srie de mini
games dentro da trama principal. Gostaria de me ater a este ltimo ponto para a
discusso desse texto.
Em Batman Arkham City o jogador possui uma srie de misses
secretas escondidas no cenrio para completar em paralelo misso principal.
Alguns exemplos destas misses so: resolver enigmas do Charada espalhados pelo
mapa, encontrar os signos msticos do personagem Azrael, salvar prisioneiros
polticos, salvar vtimas do vilo Deadshot, destruir gales cheios de veneno,
melhorar sua performance ao planar pelo cenrio, etc.
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O contedo extra oferece horas a mais de diverso e uma quantidade
maior de trofus (ou achievements) para o jogador exibir. Porm, o que nos chama
a ateno que tambm oferece a experincia do jogador participar do metagame.
Em alguns livros de roteiros de games h uma srie de definies e estudos
para definir o termo, mas uma definio bem objetiva do que metagame est na
Wikipedia e me agrada bastante. L est descrito que metagame um termo amplo
usado normalmente para definir uma estratgia, ao ou mtodo que transcende
um set de regras prescrito usando fatores externos que afetam o game ou vo alm
dos supostos limites do ambiente proposto pelo game.
No caso de Batman Arkham City alm dos mini games que correm em
paralelo com a trama principal h ainda um contedo extra oferecido pelo jogo que
amplia a experincia: uma divertida ferramenta de busca na web (como o Google)
gerenciada pelo mordomo e brao direito do Batman, Alfred Pennyworth. No
endereo http://alfredatyourservice.co.uk/ (visitado em 09/07/2012) podemos
comtemplar esta ampliao do universo do jogo para fora do jogo.
J no primeiro jogo da srie, o Batman Arkham Asylum, havia uma
srie de extra challenges e o site http://arkhamcare.com/ (visitado em
09/07/2012) que trazia uma experincia transmiditica com o intuito de fazer
com que o player ampliasse sua participao no jogo para alm de uma tela s.
A maioria dos grandes lanamentos de video games est trabalhando com a
ideia de metagame. As produtoras entenderam que um game deve proporcionar
experincias em diferentes nveis para seus usurios e que elas devem pensar em
quem quer somente passar pela trama principal, mas devem dar ateno especial
para todos que desejam ter um aprofundamento no universo do jogo. Este
aprofundamento pode vir como mini games dentro do game principal, partidas
multiplayer ou desdobramentos transmiditicos que complementam a experincia
do game.
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Preste ateno no prximo jogo que voc for experimentar. Sem querer,
pode ser que voc j esteja envolvido na experincia do metagame e nem percebeu.
_Referncia:
Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Metagaming
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_Quando universos colidem: games & filmes / filmes & games
Neste texto eu gostaria de destacar algumas caractersticas que transitam
entre os games e os filmes e vice-versa. Sabemos que ambos so produtos culturais
inseridos na ampla indstria do entretenimento e, sem dvida, um influencia
consideravelmente o outro em termos de linguagem, dinmica e esttica.
Em alguns momentos, os dois mundos que discutimos neste texto se
hibridizam e formam experimentos interessantes como o game Heavy Rain
(Quantic Dream, 2010) onde o componente narratolgico alcana uma dinmica
bem prxima do que poderamos resumir como um filme interativo e ldico. O
jogador comanda aes em modelo de rvore de deciso, que vo se
desenvolvendo como cenas de um filme entre um apertar de boto e outro. Heavy
Rain trabalha com a ideia de que mltiplas decises durante o percurso geram
finais diferentes, aumentando, assim, a possibilidade de um player experienciar
novamente a trama, optando por caminhos (e decises) diferentes.
Parece que uma coisa possivelmente certa: apesar das diferenas de
plataforma inegvel que os filmes influenciam a linguagem dos games e vice-versa.
E quando observamos a transio de contedo entre estas plataformas,
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percebemos que h uma estratgia de desdobramento transmiditico que remonta
aos primeiros consoles lanados na dcada de 1980. Nos primrdios desta dcada,
havia o filme E.T (Steven Spielberg, 1982) e ento foi criado o jogo E.T.(Atari,
1982) baseado na pelcula. Avanando alguns anos, tivemos o lanamento do jogo
Silent Hill (Konami, 1999) e ento foi feito o filme sobre o game (Christophe
Gans, 2006). H uma inverso de papeis nesse mbito onde primeiro os filmes se
desdobram em jogos e depois os jogos so moldados para irem para o cinema.
Trazendo esta discusso para o lado dos games, podemos recorrer a uma
importante figura deste mercado: trata-se de Sidney "Sid" Meier (1954). Meier
um programador canadense e designer de vrios strategy games para computador,
sendo "Civilization" uma de suas obras mais conhecidas. O game designer, sem
dvida, um dos maiores colaboradores criativos da indstria de games na
atualidade.
Meier diz que h uma diferena crucial entre games e filmes. No game,
quanto maior a ateno que focada no jogador, maior a chance do game ser bem
sucedido. Em um filme, voc est vendo a histria de outro algum, logo, quanto
melhor for a histria, os atores, os efeitos, etc. mais interessado o espectador pode
se tornar durante a experincia.
Michael Nitsche (p.57) em seu livro Video Game Spaces, aponta que um
diretor de cinema diz "olhe aqui, eu vou te mostrar algo" e o game designer (ou
spacemaker, como denomina o autor) diz "olhe aqui, eu vou te ajudar a descobrir
algo".
Ainda dentro deste contexto podemos recorrer ao autor Henry Jenkins
que sugere que ns devemos pensar nos game designers menos como contadores
de histrias e mais como arquitetos de narrativa" (p.129) os quais "no contam
simplesmente histrias, mas criam mundos e esculpem espaos de interao e
deciso" (ibid. 121).
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Qual o limite para as fronteiras entre estes dois campos? Esta uma
pergunta difcil de responder. Alguns estudiosos prevem um futuro com formas
hbridas nada convencionais tanto para os games quanto para os filmes. Um fato
inegvel: independente de qual ir se mesclar com o outro, deveremos sempre ter
um foco no usurio/jogador/interator/espectador.
Como reflexo final, vale a ideia de Jenkins (2008, p. 39) de que os meios
de comunicao e plataformas de acesso a contedo nunca morrem nem
necessariamente desaparecem. O que morre so apenas as ferramentas que usamos
para acessar seu contedo e a maneira como o contedo oferecido.
_Referncias bibliogrficas:
NITSCHE, Michael. VIDEO GAME SPACES image, play and structure in 3D worlds. Massachusetts: MIT Press, 2008. JENKINS, Henry. "Game Design as Narrative Architecture" In First Person: New Media as Story, Performance and Game, edited by Pat Harrington and Noah Wardrup-Fruin, 118-131. Cambridge, MA, and London: MIT Press, 2004. JENKINS, Henry. Cultura da convergncia. So Paulo: Aleph, 2008
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_Cinco planos
interessante examinar, dentro da indstria do entretenimento, a rea de
games eletrnicos. Esta, nos ltimos anos, tornou-se um espao privilegiado de
mediao, construo de narrativa e consumo de servios e bens (materiais e
simblicos).
Dentro dos estudos que dizem respeito a esta rea h uma referncia
bibliogrfica extremamente inspiradora para este texto. Trata-se do livro "VIDEO
GAME SPACES - image, play and structure in 3D worlds" que traz uma
abordagem extremamente didtica no que tange ao processo de materializar a
interface entre o game e os jogadores.
O autor Michael Nitsche (2008) teoriza sobre a ideia de "cinco planos"
que compe o ecossistema entre game e player. Segundo o autor, este cinco planos
so:
1) O plano das regras: que , basicamente, o que est contido na
plataforma ou console do jogo. Este conjunto de leis estabelece - por exemplo -
fsica, inteligncia artificial, limites e arquitetura dos nveis do game. importante
lembrar que os jogadores no precisam entender a lgica do cdigo por trs do
jogo, eles devem decodificar o mundo do game que lhes proposto na tela, por
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mais fantasioso ou abstrato que este seja. Nesse caso, como afirma Turkle (1984,
p.83) "alm da fantasia, h sempre as regras".
2) O plano mediado: que o que exibido na tela ao jogador. O espao
de uso da imagem que cria a imerso do player no universo proposto. Aqui
podemos ter as animaes, intervenes cinemticas e grficos do jogo
(independente, novamente, de serem abstratos ou ultra realistas).
Ao tratarmos do quesito mediao podemos recorrer a uma citao do
autor Martn-Barbero (2004, p. 215) que diz que as novas plataformas miditicas
mediam a produo de imaginrios que de algum modo integram a desgarrada
experincia urbana dos cidados. Estas plataformas, de alguma maneira,
introduzem no cotidiano o espetculo da televiso ou tiram a pessoa do mundo
real levando-a a uma experincia que chega a ser hiper-real atravs da internet ou
de um console de video game .
3) O plano ficcional: que o espao "imaginado" na mente dos jogadores.
Em outras palavras: o ambiente que vive na imaginao dos mesmos. Como
observa Koster (2005, p.105) desde de que crebros diferentes possuem diferentes
foras e fraquezas, pessoas com gostos diferentes vo ter concepes variadas a
respeito dos games que jogam.
4) O plano de jogo: que o espao que inclui o jogador e o hardware do
jogo. o espao significativo que cria o ato de jogar.
5) O plano social: definido pela interao com outros players. O espao
onde jogadores podem - possivelmente - interagir com outros jogadores. Ou
porque esto vivendo uma experincia ldica lado a lado presencialmente ou
porque esto em lugares distantes conectados em modo multiplayer.
Parece que independente do grau de complexidade da plataforma e das
experincias vividas pelos jogadores importante observar a relao game/player
em diferentes camadas ou superfcies. Entender os rizomas que permeiam a tela
onde est sendo exibido um game e a mente do jogador que est na frente dela
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parece ser a chave para entendermos muitos processos do campo ldico e como
construir experincias mais imersivas para diferentes tipos de pblico.
No entanto, a riqueza da ideia de cinco planos de Nitsche no pode ser
sintetizada nessa breve discusso. Deixo o convite ao leitor para se aprofundar no
assunto lendo as ideias desse autor no livro supracitado.
_Referncias bibliogrficas:
KOSTER, Raph. A theory of fun for game design. Arizona: Paraglyph Press, 2005. MARTN-BARBERO, Jess. Ofcio de cartgrafo: travessias latino-americanas da comuicao na cultura. So Paulo: Loyola, 2004. NITSCHE, Michael. VIDEO GAME SPACES - image, play and structure in 3D worlds. Massachusetts: MIT Press, 2008. TURKLE, Sherry. The Second Self: Computers and the Human Spirit. New York: Simon & Schuster, 1984
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_O complicado mercado brasileiro de games
Quando escrevemos sobre dados de mercado sempre camos no risco de
datar algum tipo de contedo, mas creio que vlida a observao de algumas
caractersticas do peculiar mercado brasileiro de games.
Em outubro de 2012, o jornal Folha de So Paulo publicou um estudo* -
realizado pelo Ibope juntamente com a consultoria de pesquisa GFK e Acigames -
sobre o mercado tupiniquim de jogos.
A chamada da matria aponta que "o mercado brasileiro de games j o
quarto maior do mundo e deve continuar a crescer". Outros pontos que merecem
destaque neste estudo:
1) De cada 100 brasileiros, 23 jogam games. Esta porcentagem
corresponde cerca de 46 milhes de pessoas.
2) Os gamers brasileiros se distribuem em 67% que jogam com console,
42% via computador ou notebook, 17% via smartphone ou tablet e 7% com
consoles portteis.
3) Contrariando a ideia de que games so "coisa de menino", 47% do
pblico gamer composto de mulheres.
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4) O mercado, que em 2011 movimentou R$ 840 milhes, crescer em
mdia 7,1% por ano at 2016 quando atingir R$ 4 bilhes.
Com tanto potencial, aparece uma dvida: por que o governo no investe
na rea? Estamos com o terreno pronto para crescer cada vez mais dentro deste
mercado e tudo o que vemos so impostos abusivos e burocracia para a entrada de
grupos investidores estrangeiros.
Talentos no faltam para potencializar uma indstria criativa deste porte
aqui no Brasil. Parece que o que falta viso para enxergar as inmeras
possibilidades.
Temos nmeros expressivos para web e mobile, mas parece estar longe o
dia em que teremos ttulos 100% brasileiros se destacando na praia de consoles.
Eu ainda tenho esperana de ver isso acontecer. Enquanto isso, vamos
brigando para produzir nossos jogos com as ferramentas que esto disponveis.
_Referncia:
*Estudo publicado pelo jornal Folha de So Paulo na URL: http://www1.folha.uol.com.br/tec/1165034-mercado-brasileiro-de-games-ja-e-o-quarto-maior-do-mundo-e-deve-continuar-a-crescer.shtml
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_Keep it Simple
Este texto dedicado aos novos game designers, entusiastas da rea de
desenvolvimento de jogos e estudiosos do universo ldico.
Atualmente, a indstria de games tem crescido de maneira gigantesca. J
no novidade que dentro da rea de entretenimento os games superaram faz
tempo o cinema e a msica em termos de faturamento. Os desdobramentos
transmiditicos gerados a partir de produtos relacionados aos jogos so tantos que
fica at difcil separar os faturamentos absolutos dentro dessa complexa trama
comunicacional.
Logo, em uma rea onde a expanso parece no ter limites, soa natural
congregar diferentes tipos de jogos e, consequentemente, diferentes tipos de
consumidores (ou melhor, jogadores).
Dentro deste complexo contexto onde surgem diferentes modalidade de
jogadores, tambm aparecem oportunidades criativas de naturezas variadas. Ou
seja, os mltiplos pblicos tambm geram caminhos variados dentro desse
mercado to efervescente.
Todo game designer certamente j sonhou, em algum momento de sua
trajetria, criar um complexo jogo para console ou PC para um tipo especfico de
jogador: o heavy user gamer. Isso timo, mas no podemos esquecer que,
atualmente, uma grande parte do consumo de games gerada por outro tipo de
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pblico: os casual gamers. O alto nmero de games casuais que surgiram para
download em plataformas como a App Store (Apple) e a Play Store (Google) nos
do algumas pistas para o enorme potencial dessa rea. Sem contar os inmeros
ttulos de games casuais que tambm existem para consoles.
E o que vem a ser um casual game? Segundo Trefay (2010), casual games
podem ser definidos como jogos rpidos de experimentar, detentores de
mecnicas simples e extremamente acessveis. Neste tipo de jogo, segundo o autor,
regras e objetivos devem ser muito claros e os jogadores devem adquirir
proficincia de maneira rpida. O casual game se adapta ao cotidiano e agenda do
jogador.
No que tange o universo dos casual games, parece que a essncia de
sucesso determinada pelo mantra pregado por vrios game designers consagrados
dessa modalidade. Trata-se do "keep it simple" ou mantenha simples em uma
traduo livre. E "simples" (ou casual) no sinnimo de "pobre" neste caso.
Criar bons games casuais um desafio enorme para os game designers.
Sucessos mundiais como Angry Birds, Temple Run e Draw Something so boas
provas disso.
Quando se cria um casual game, vale a lio nmero um das aulas de
marketing: conhea bem seu pblico alvo; ou melhor, mantenha sempre o jogador
casual em mente. E procure sempre manter a simetria da simplicidade seguindo
alguns conselhos simples que apresento a seguir:
1) Contedo relevante e storytelling interessante completam uma boa
mecnica simples;
2) Uma mecnica bem definida que dispense longas explicaes aliada
com uma interface intuitiva constitui um fator de sucesso. Pense em Angry Birds e
lembre-se que todo mundo sabe jogar este jogo porque usar um estilingue um
conhecimento quase universal.
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3) Pense em como o jogo se encaixa no cotidiano e nos momentos de
micro-tdio da vida do player.
4) Pense em como o game pode funcionar em diferentes plataformas. Os
casual games de sucesso ampliam suas trajetrias atravs de PC, console e mobile
devices.
5) Crie o jogo prevendo expanses, desdobramentos e atualizaes. A
chave para continuar com o player do seu lado sempre chamar a ateno do
mesmo para novidades.
6) O casual game deve ter uma essncia elegante e significativa em sua
composio. Salen e Zimmerman, no prefcio do livro Rules of Play (p.XIII e
p.XIV, 2004), explicam que o PONG, um dos primeiros experimentos de games
domiciliares, apesar da interface rudimentar que representava uma partida de tnis
de mesa possua significado para o jogador. O PONG fcil de aprender, rpido de
jogar, cada partida nica e, acima de tudo, diverte e gera experincia para os
jogadores.
importante lembrar que tpicos acima so apenas conselhos. No h
regras e tampouco receitas prontas ou frmulas de sucesso. O que importa estar
sempre munido de referncias e repertrios variados do universo ldico.
No importa a categoria, a nica certeza de que os continues so infinitos
quando o assunto criao de games.
_Referncias bibliogrficas:
SALEN, Katie & ZIMMERMAN, Eric. Rules of Play: game design fundamentals. Massachusetts; The MIT Press, 2004 TREFY, Gregory; KAUFMANN, Morgan. Casual Game Design. Burlington: Morgan Kaufmann, 2010
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_RPG, MMORPG e mundos virtuais
Escrevi as reflexes deste texto originalmente para a revista Marketing, em
julho de 2007. Apesar da data distante, h alguns pontos do material que achei
interessante editar e republicar dentro do contedo deste livro, pois h alguns
registros histricos e conceitos que eu, particularmente, considero essenciais para
estudarmos dentro do universo ldico.
De 2007 para c, tivemos um crescimento exponencial na modalidade de
games intitulada Massive Multiplayer Online Role Playing Games, ou MMO (como
os adeptos costumam tratar) e, desde a publicao do contedo na revista
Marketing, este tipo de game multi-jogadores se sofisticou no somente em
tecnologias, grficos e interao digital, mas tambm em termos de modelo de
negcio. Jogos como o World of Warcraft, por exemplo, movimentam uma
quantidade de dinheiro em seu universo que muito maior que o PIB de vrios
pases do mundo.
Porm, antes de falarmos sobre MMORPGs importante olharmos para
trs, mais precisamente para o incio da dcada de 70 para encontrarmos a
modalidade original que possivelmente foi a inspirao e referncia para estes
jogos on-line: os Role Playing Games (RPGs).
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Em 1974, surgia nos Estados Unidos um jogo diferente: tinha tabuleiro,
peas, dados em formato de poliedros variados e uma particularidade, pois
misturava ao com representao teatral. Era o Dungeons & Dragons, uma das
primeiras experincias bem sucedidas de RPG. Nele, os jogadores, com suas fichas
de personagens, interpretavam papis de fantasia medieval, como guerreiros, elfos,
magos, e construam uma narrativa junto com uma pessoa que encarnava o papel
de Mestre de Jogos, responsvel por narrar a saga para as demais pessoas. A
grande inovao que o RPG trouxe na poca foi a de que era um jogo que no
tinha necessariamente ganhadores ou perdedores, todos os que jogavam tinham
como objetivo dar continuidade a uma aventura para que ela durasse o maior
tempo possvel.
Novas modalidades desses jogos foram surgindo no decorrer dos anos.
Novos cenrios, novas regras, e o jogo foi se difundindo em todo o mundo,
inclusive no Brasil. Com a popularizao dos computadores pessoais na dcada de
80, e os video games nos anos 80 e 90, surgiram alguns RPGs eletrnicos, porm
ainda limitados, pois tinham fim pr-determinado e, consequentemente, no
permitiam que a experincia se ampliasse.
Foi com a internet que os jogos deram grande salto, pois surgiu a
possibilidade de criar personagens, jogar com pessoas do mundo todo e atuar em
aventuras que agora no possuam fim pr-determinado. Surgiram ento os
Massive Multiplayer Online Role-Playing Games (MMORPGs).
Fazendo um breve levantamento de informaes na Wikipedia,
poderamos definir MMORPG como um jogo de computador e/ou videogame
que permite a milhares de jogadores criarem personagens em um mundo virtual
dinmico, ao mesmo tempo, na Internet. Ou seja, consegue-se criar um
personagem digital que ir viver e interagir com outros seres digitais em um
ambiente/mundo virtual. Porm, esta parece ser uma definio muito rasa.
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Segundo Richard Allan Bartle (2003), um dos criadores do primeiro
ambiente virtual experimental em 1978, os MMORPGs podem se enquadrar na
categoria de "mundos virtuais". Nesse caso importante conceituar o termo
virtual, muitas vezes apenas contrastado com real. O conceito de virtual ,
contudo, mais amplo e envolve a idia de potencial, sendo constitudo de
elementos intangveis que podem ser bastante reais para seus usurios.
O pesquisador Rob Shields, da Universidade de Alberta, Canad, lembra
que o virtual captura a essncia mutvel do real. Quando falamos em virtual
estamos falando de possibilidades que podem se concretizar, entre outros espaos,
em um ambiente construdo digitalmente. Um mundo todo de grficos, objetos e
personagens animados que so comandados por pessoas reais. Ou seja, estamos
falando de pessoas por trs de pixels.
Esses mundos so implementados por um computador, ou uma rede
deles, que simula um ambiente. Algumas entidades deste ambiente esto sobre o
controle direto de pessoas reais. Como muitos podem afetar o ambiente virtual
simultaneamente, o mundo chamado de compartilhado ou multi-user. Esse
universo virtual categorizado como persistente, pois mesmo que alguns players
saiam e voltem, ele no para de mudar.
Bartle afirma ainda que mundos virtuais tm muitas aplicaes alm de
entretenimento, sendo usados como simuladores militares e at com fins
empresariais, mas os jogos de computador on-line ainda so o topo da cadeia de
mercado de desenvolvimento nessa categoria. Mundos virtuais so ambientes de
socializao, comunidade, role-playing, interao e lugares onde algumas pessoas e
empresas enxergaram a possibilidade de criar comunicao, marketing e novos
negcios.
Os mundo virtuais se originaram dos antigos MUDs (Multi-User
Dungeons). Os primeiros datam do final dos anos 70 e eram baseados em texto,
como o jogo "ADVENTURE" ou o ZORK, com eventos e ambientes descritos
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por palavras. A introduo de grficos computadorizados foi o segundo passo da
histria - haviam ento MUDs textuais e MUDs grficos. Os MUDs evoluram
para ambientes onde pessoas se conectavam simultaneamente e o universo
mudava persistentemente. Assim surgiram os Massively-Multiplayer Online Role-
Playing Games com jogadores munidos de suas representaes dentro dos
universos digitais.
No mundo dos MMORPGs essas representaes so chamada de
avatares. A palavra avatar no hindusmo associada transfigurao e significa
manifestao corporal de um ser imortal. No caso dos jogos a personificao que
o jogador cria na tela. Uma vez criado o avatar, cabe ao jogador viv-lo, enfrentar
batalhas com ele (no caso do jogo World of Warcraft), encarar monstrinhos
divertidos para conquistar posies nos rankings (como no game Gunbound), lutar
contra viles em metrpole futurista (como no jogo City of Heroes) ou encarnar
um personagem jedi do universo de Star Wars dentro do ambiente de The Old
Republic.
Talvez fosse possvel estabelecer uma relao entre os avatares e o que o
pesquisador Cludio Lcio Mendes nomeia de personagens-jogadores. Mendes
(2006) mostra que, ao montarem as narrativas, os personagens-jogadores
apoiaram-se nas alternativas propostas pelos jogos. Pouco importa se um
Tiranossauro Rex a ser morto, um deus egpcio h muito esquecido ou uma esttua
que toma vida. A fidedignidade parece no ser uma questo importante para tais
eventos. O que importa a fantasia que eles carregam e a possibilidade de
surpreender, atualizando as narrativas. Em suma, o importante conduzir-se como
um sujeito-jogador-personagem no ato de jogar. Personagens so condutes que
permitem aos jogadores interagir com outros jogadores no mundo virtual. Todos
os atributos dos avatares, como poderes, vida, tens e estatsticas, so registrados
em tempo real pelo servidor web, garantindo continuidade ao processo de jogar.
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Quando o jogador sai e, aps um tempo, entra, ele encontra seu personagem da
mesma maneira que o deixou.
Alguns MMORPGs renem milhares de jogadores espalhados pelo
mundo. Jogos como World of Warcraft permitem, atravs dos avatares, estabelecer
contato com pessoas de todo o planeta. Basta pagar a taxa de acesso, conectar-se ao
servidor e jogar. Alguns jogadores apontam de maneira hiperblica que tamanha
a dimenso atingida pelo MMO World of Warcraft que, para muitos, mais do que
um jogo, ele uma verdadeira religio.
Ao observamos as delicadas conexes entre os RPGs, MMORPGs e
outros mundos virtuais podemos entender um mundo de oportunidades de
interao, gerao de contedo pelos jogadores e, sobretudo, uma nova forma de
pensar modelos de negcios digitais para um pblico que trata este tipo de
linguagem como algo natural em seu cotidiano.
Ao retomar este texto de 2007, vislumbro o quanto ainda precisamos
pesquisar e refletir sobre o assunto. Literalmente, precisamos estudar de maneira
multiplayer este contedo para chegarmos a direes mais claras dentro das
mltiplas possibilidades e enormes mudanas que esta modalidade peculiar
oferece.
_Referncias bibliogrficas:
BARTLE, Richard Allan. Designing virtual worlds. Estados Unidos: New Riders Publishing, 2003 MASTROCOLA, Vicente Martin. Um mundo de possibilidades. Revista Marketing. So Paulo: Ed. Referncia, 07/2007, Nmero 413, pgs. 49 a 56.
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MENDES, Cludio Lcio. Jogos eletrnicos: diverso, poder e subjetivao. Campinas: Ed. Papirus, 2006 SHIELDS, Rob. Performing Virtualities: Liminality on and off the Net. Artigo digital disponvel na URL: http://virtualsociety.sbs.ox.ac.uk/text/events/pvshields.htm , 2000.
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_Advergames
No novidade que as reas de comunicao, marketing e publicidade se
utilizam de linguagens de diversos campos para constituir suas aes. A linguagem
do cinema utilizada em um comercial, tcnicas de storytelling so empregadas em
uma grande campanha para contar a histria de uma marca, a ideia de estratgia -
oriunda do campo da guerra - utilizado em um plano de lanamento de produto,
etc. Os exemplos que poderamos citar so incontveis e as reas de conhecimento
empregadas tambm.
Dentro desse contexto, a linguagem dos games tambm veio a ser
utilizada como estratgia de comunicao e marketing. Como um produto cultural
que faz parte da contemporaneidade, os games comearam a ser empregados para
divulgar marcas, produtos e servios. Assim, o termo advergame (advertise +
game) foi criado para caracterizar o uso de games (que podem ser analgicos e
digitais) dentro de um ambiente de comunicao e marketing.
O autor Ricardo Cavallini (2006, p. 81), de uma maneira bastante
objetiva, observa que advergame a utilizao de jogos (independente de
plataforma) como ferramenta de marketing. O autor discorre que h muitos tipos
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de utilizao de jogos dentro da rea de comunicao, mas dois merecem especial
destaque:
1) In-game advertising: trata-se de replicar a propaganda do mundo real no
mundo virtual, usando faixas, psteres, spots de rdio e outdoors. O SSX3, jogo
de snowboard da Eletronic Arts usa outdoors da Honda e Seven Up em sua
interface.
2) Product placement: uso do produto dentro do contexto do jogo. Por
exemplo, os personagens do game Devils may cry usam calas jeans da marca
Diesel. Em Tom Clancys Splinter Cell Pandora Tomorrow o personagem um
smartphone p900 da Sony Ericsson para cumprir misses. No Worms 3D da
SEGA, os personagens bebem o energtico Red Bull para conseguirem dar pulos
mais altos.
Em uma segunda viso, o pesquisador Mauro Berimbau (2010, p.63) nos
diz que advergames so jogos criados especificamente para uma marca, construdos
do incio ao fim em torno de um produto ou servio. Berimbau ainda lembra que
quando se afirma que o jogo construdo especificamente para uma marca, em vez
de um local no ciberespao onde possvel a aquisio de espao publicitrio
digital, o jogo se revela como o prprio formato da publicidade. Aqui a publicidade
no usa o mundo digital para comunicao a publicidade d forma aos elementos
constitutivos deste mundo digital, bem como compe as relaes entre esses
elementos.
Ao direcionarmos nosso olhar para este mercado, podemos perceber que
o game est em publicidade, promoes, experincias de marca, pesquisa,
programas de TV, internet, redes sociais e potencialmente em todos os aspectos do
nosso cotidiano.
Entender esse cenrio, decifrar a mente do pblico jogador e criar
experincias significativas com marcas, produtos e servios mais um desafio para
os profissionais que atuam nessa rea.
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_Referncias biblogrficas:
BERIMBAU, Mauro. Advergames: Comunicao e consumo de marcas, 2010. 136 f. Dissertao (Mestrado em Comunicao e Prticas de Consumo) - PPGCOM ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing, So Paulo. CAVALLINI, Ricardo. O marketing depois de amanh. So Paulo: Digeratti Books, 2006.
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_Pontos de vista sobre ARGs
1.Definies, reflexes e apontamentos
Dentro da rea de games h uma vertente de discusso sobre os ARGs
(sigla para Alternate Reality Games) que se ampliou nos ltimos anos devido ao
destaque que essa modalidade ganhou em meio aos festivais de publicidade ao
redor do mundo. Algumas vertentes de estudo preferem chamar este tipo de
interao de narrativa transmdia e outras do o nome de narrativa multi
plataforma. Independente de nomenclaturas ou categorizaes, o objetivo do
texto observar e refletir sobre esta modalidade de contar histrias e interagir com
um tipo peculiar de player.
Um exemplo prtico que merece ser ressaltado dentro desse contexto a
campanha Why so serious? que aconteceu entre 2007 e 2008 para promover o
lanamento do filme Batman The Dark Knight. O editor do site Brainstorm 9,
Carlos Merigo, ressalta que esta campanha uniu entretenimento com relevncia e
conseguiu uma integrao de mdias fora do comum utilizando a linguagem do
entretenimento como guia. A campanha, inclusive, foi premiada com destaque no
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Festival de Criatividade de Cannes de 2009 e recebeu grand prix na modalidade
viral.
Em linhas gerais, a campanha Why so serious uma maneira multi
plataforma de envolver o espectador no filme antes dele estrear no cinema. Atravs
de uma srie de sites ficcionais, pistas em redes sociais e vdeos fake, possvel
acompanhar detalhes do universo do filme do personagem Batman de maneira
extremamente imersiva e aprofundar a experincia da tela para um pblico seleto
(nas referncias, ao final do texto, o leitor encontrar um link para o video case
completo da campanha).
Partindo desses insights iniciais, surge o questionamento: como definir de
maneira objetiva o que um ARG?
McGonigal (2011, p.120), por exemplo, define Alternate Reality Game
como uma espcie de jogo no qual voc vive a experincia, em parte, na sua vida
real e no somente em um ambiente virtual.
J o site CNET (http://www.cnet.com/) aponta que Alternate Reality
Game um gnero ficcional inspirado em uma mistura de vida real, caa ao
tesouro, interao ao vivo, video games e comunidade on-line; estes jogos so uma
intensa e intricada srie de quebra-cabeas envolvendo sites da web codificados,
pistas no mundo real - como anncios no jornal, chamadas de telefone de
personagens do jogo - e outras plataformas miditicas.
Normalmente esta categoria de jogo possui um objetivo especfico que
no apenas envolver o player com a histria e os personagens ficcionais, mas
conectar o mesmo ao mundo real e a outras pessoas, ou at divulgar promoes e
servios de uma empresa, marca, produto ou servio (vide o exemplo do filme
Dark Knight). Muitos quebra-cabeas de uma trama s podem ser resolvidos de
forma colaborativa unindo os esforos de vrios jogadores, exigindo que estes
saiam da frente do computador e sigam procurando pistas plantadas no mundo
real.
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Jenkins (2008, p. 47) define narrativa transmiditica como uma prtica
que a indstria do entretenimento se apropriou para desdobrar uma narrativa a
partir de uma plataforma principal (em geral um filme, livro ou srie de TV) em
diversos subprodutos (jogos, quadrinhos, etc), ampliando, assim, o espectro
possvel para a interao com fs/consumidores envolvidos no processo de fruio
da obra.
Para completar esta ideia, podemos recorrer a Szulborski (2005) que diz
que um ARG um mundo imersivo de mistrio, aventuras e fantasia, esperando
para ser explorado. Um mundo que reage a cada movimento, com personagens e
empresas que falam com voc, mandam mensagens e at mesmo fornecem itens
fsicos para ajudar em sua busca.
Outro apontamento importante que deve ser levantado dentro desse
contexto dos ARGs que a ideia de narrativa transmiditica ou multi plataforma
no algo que surgiu junto com a internet. Se olharmos para o sculo XX,
percebemos que a pluralizao de um contedo em diversas plataformas pode ser
detectado at mesmo na era pr internet.
Para dar um exemplo, basta voltarmos ao passado, mais precisamente s
oito horas da noite do dia 30 de outubro do ano de 1938, vspera de dia das bruxas
nos Estados Unidos. Nesta ocasio o cineasta Orson Welles comeou a narrar pelo
rdio uma dramatizao de A Guerra dos Mundos, livro de fico cientfica de
H.G. Wells, pela estao de rdio CBS nos Estados Unidos.
Durante o espao de uma hora, a programao normal de msica foi
interrompida por comentrios de reprteres simulando um pnico generalizado
medida que iam descobrindo e narrando que meteoritos caindo de Marte na Terra
eram na verdade uma invaso aliengena em andamento.
Milhares de pessoas que sintonizaram o programa de leste a oeste dos
Estados Unidos, um pouco depois das oito horas da noite, e perderam o aviso
inicial de que uma dramatizao estava prestes a comear, teriam de esperar
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quarenta minutos at que uma breve nota da CBS repetisse que o contedo
narrado era apenas um programa de fico.
O pnico dramatizado durante o programa da CBS compreensivelmente
se tornou real e a partir desse exemplo de A guerra dos mundos pode-se perceber
qual o efeito imersivo que uma histria bem narrada (e arquitetada) pode causar
em toda a populao de uma pas como os Estados Unidos .
Como bem aponta Castells (2009, p. 50) as fontes de poder social de
nosso mundo, como violncia, narrativas, coero, persuaso e dominao poltica,
no mudaram fundamentalmente na nossa experincia histrica; o que mudou
fundamentalmente a articulao entre o global e o local. Castells (2009, p. 54)
ainda afirma que o processo de comunicao, historicamente falando, definido
pela tecnologia que permeia a comunicao, as caractersticas dos emissores e
receptores, seus cdigos culturais e protocolos e escopos de comunicao.
Reforando a ideia de Castells, podemos recorrer a Igarza (2008, p. 82)
que argumenta que o momento em que vivemos, de forte convergncia de meios,
enriquece os dispositivos tecnolgicos e consequentemente amplia a experincia
do consumidor, permitindo diferentes microuniversos de se manifestarem no
celular, no cinema, na TV ou em outra plataforma de comunicao. Igarza aponta
que todas estas plataformas convergentes so pontos de contato com os
consumidores e potencialmente utilizveis como ambientes para expor narrativas,
inclusive as que se desdobram em multi plataformas como as chamadas narrativas
transmiditicas, pois independente do meio, se fala em narrar histrias.
2.Um exemplo de ARG
Os apontamentos iniciais so a base para observarmos um dos casos que
conquistou notoriedade dentro dos estudos de Alternate Reality Game, trata-se da
narrativa "I Love Bees" utilizada para promover o lanamento do jogo Halo 2 de
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Xbox em 2004. As informaes que seguem foram extradas e traduzidas do site
www.argn.com.
A histria do ARG I love Bees se concentra na personagem fictcia Dana
Awbrey e sua tia que era dona de um apirio. O site da criadora de abelhas, na URL
http://ilovebees.com, foi atacado durante uma madrugada por uma espcie de
vrus que colocou uma contagem regressiva de 20 mil anos na pgina principal e
que mostrava a mensagem System Peril Distributed Reflex. Nesse meio tempo, a
personagem Dana atualizava seu blog pedindo ajuda para usurios de web que