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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
DOMINAÇÃO MASCULINA, MEANDROS ETÍLICOS
E VIAS DE FATO: RETRATOS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
NO CAMPO
Alexandra Lopes da Costa1
“Ele é tão bom, mas quando bebe...”
Resumo: Em busca do controle populacional a medicina higienista do século XIX trouxe a necessidade de uma
intervenção profilática no combate aos vícios, entre os quais, a alcoolização. Esse discurso foi reforçado pelas
campanhas antialcoólicas que despontaram no Brasil na década de 1920. Constrói-se a ideia de que o álcool incapacita o
homem para o trabalho levando também à explosão dos instintos mais bárbaros e irracionais. A loucura alcoólica foi
utilizada para absolver muitos crimes de violência contra a mulher sob a alegação de que os homens não estavam
conscientes dos atos praticados. Este artigo discute o fenômeno da violência contra as mulheres no assentamento rural
Bebedouro, no estado do Mato Grosso do Sul, analisando a influência do cenário sócio-cultural na formação das
relações entre os sexos, consumo do álcool por homens e associações com atos de violência de gênero. A proposta traz
a tona narrativas de mulheres e homens do campo que evidenciam traços dos discursos herdados das antigas campanhas
antialcoólicas e dos dispositivos culturais e jurídicos de legítima defesa da honra. Tais discursos atualizam a dominação
masculina no controle da liberdade das mulheres e justificam a violência de gênero, sobretudo, sob efeito da
embriaguez. O trabalho evidencia também as dificuldades das assentadas em obter informações sobre a Lei Maria da
Penha (LMP) e de acesso a Rede de Atenção à Mulher nesse espaço distante do centro urbano e dos órgãos de proteção
e defesa de direitos.
Palavras-chave: dominação masculina, violência contra a mulher, consumo do álcool, assentamento rural, Lei Maria
da Penha.
Em muitos discursos emitidos pela opinião pública o consumo de bebidas alcoólicas e outras
drogas aparecem relacionados a contextos de agressão urbana, violência doméstica, criminalidade e
acidentes. A violência doméstica e familiar contra as mulheres, assim, quando cometida após o uso
do álcool e de outras substâncias psicoativas (SPA’s) pelo parceiro tende a ser atenuada pela
sociedade que minimiza o dolo ou mesmo transfere as responsabilidades do crime à substância
ingerida.
O álcool é considerado uma das substâncias mais antigas que se tem conhecimento na
história das civilizações. Em muitas delas não foi associado à desordem, problemas e violências. Do
uso sagrado ao profano, regular ou esporádico, os preparados alcoólicos foram utilizados de
maneiras diversas ao longo do tempo. Largamente apreciados nas festividades, no bojo de práticas
religiosas, como veículos facilitadores da comunicação com os deuses, pela medicina ou mesmo
como abortivos, sem necessariamente estarem relacionados à violência (BUCHER, 1991;
CARNEIRO, 2010).
1 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e mestre em História pela
Universidade Federal da Grande Dourados.
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Desse modo, o consumo problemático do álcool e a doença do alcoolismo foram
desconhecidos em diversas sociedades, mesmo naquelas em que a embriaguez era um costume
frequente e apreciado. Culturas distintas estabeleceram diversos padrões institucionalizados do
consumo de bebidas alcoólicas colocando em relevo os modos de produção, significados e
circunstâncias apropriadas ou não à ação social de alcoolização fornecendo scripts de uso para
diferentes ocasiões (NEVES, 2004).
Na Europa do século XIX, por exemplo, a medicina higienista primou pelo controle
populacional por meio de intervenções profiláticas de combate aos vícios, dentre os quais, a
alcoolização. Esse discurso higienista se difundiu intensamente no Brasil a partir dos anos 1920
reforçados pelas campanhas antialcoólicas da época que tinham como público alvo a população
masculina (MATOS, 2001).
Tais campanhas disseminavam a idéia de que o álcool incapacita os homens para o trabalho
e incita a explosão dos instintos mais bárbaros, incontroláveis e irracionais. A loucura alcoólica foi,
inclusive, utilizada como argumento empregado na absolvição de muitos homens em diversos
crimes de violência contra as mulheres sob a alegação de não estarem conscientes de seus próprios
atos (MATOS, 2001).
Diante dessas ponderações, cabe o questionamento: afinal por que muitas mulheres e a
sociedade tendem a depositar nas substâncias psicoativas, especialmente nas bebidas alcoólicas, os
motivos da agressão em diversos casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres?
O presente artigo trata o fenômeno da violência contra as mulheres considerando a
influência do cenário sócio-cultural na formação das relações de gênero, no consumo do álcool por
homens e associações com atos de violência contra a mulher no assentamento de reforma agrária
Bebedouro, situado na zona rural do município de Nova Alvorada do Sul, no estado do Mato
Grosso do Sul.
Essa proposta traz do campo as narrativas de mulheres e homens que evidenciam traços de
discursos herdados das campanhas antialcoólicas e dos dispositivos culturais e jurídicos de legítima
defesa da honra que redesenham a dominação masculina no controle da liberdade das mulheres e
justificam a violência de gênero, sobretudo, sob efeito da embriaguez.
Nas próximas páginas, busco contextualizar o cenário do assentamento Bebedouro
evidenciando a divisão sexual do trabalho e características ligadas à socialização do gênero
feminino e masculino. Posteriormente, exploro questões relacionadas ao consumo do álcool por
homens no bojo de festas e bares e, por fim, analiso o fenômeno da violência contra a mulher
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associada ao consumo das bebidas alcoólicas visibilizando suas narrativas que reproduzem
elementos herdados das antigas campanhas antialcoólicas, além de destacar aspectos da dominação
masculina impregnados nas relações sociais nesse assentamento rural distante das cidades e das
políticas públicas de promoção e defesa das mulheres.
Tá na roça: a vida no Bebedouro
O Assentamento rural Bebedouro foi criado em 2004 e está situado a 30 quilômetros do
município de Nova Alvorada do Sul. Mas as primeiras ocupações da Fazenda Bebedouro ocorreram
no início dos anos 2000. Trata-se de uma área de 1.456 hectares com 103 famílias organizadas pela
Fetagri/MS (Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Mato Grosso do Sul), a maioria
oriunda de Nova Alvorada, Glória de Dourados, Fátima do Sul, Douradina, Nova Andradina e
outros municípios do interior do Mato Grosso do Sul. A população é superior a 400 pessoas que
sofrem com a precariedade de políticas públicas, limitação de recursos financeiros e acesso restrito
aos incentivos para produção e a outras formas de geração de emprego e renda.
Nesse cenário, o emprego na cidade, nas usinas ou nas fazendas vizinhas se tornou uma
estratégia de sobrevivência necessária para a permanência na terra. Muitos assentados, homens e
mulheres, trabalhavam ou já haviam trabalhado no corte braçal nas plantações de cana das usinas de
açúcar e álcool da região.
Em relação aos lotes dos assentados, são destinados 9,8 hectares de terra para cada família
(já excluídos a quantia determinada por lei à reserva ambiental). A geografia dos lotes se divide em
dois espaços, uma porção de três hectares é reservada à construção das moradias e 6,8 ha é
destinado à produção grupal numa grande extensão de terra afastada da região das casas, que é
definida pelo governo como área societária de trabalho. Esse espaço coletivo contém a soma dos 6,8
ha de terra de cada família. No entanto, a área societária de trabalho ao invés de aproximar tem
provocado uma série de desavenças e discórdias entre a população assentada por possuírem desejos,
experiências e habilidades muito distintas sobre o manejo e produção no campo2.
Cabe às mulheres o trabalho doméstico, uma atividade que não consiste apenas em cuidar e
educar os filhos, limpar a residência, lavar e passar roupas e preparar a comida. Elas cuidam de
cães, gatos, papagaios e galinhas, bem como o corte de lenha, plantio de verduras, legumes e frutas
2 Posteriormente, o lote coletivo foi dividido em cinco porções de terra, mas as crises ainda existem mesmo
com a substituição do modo original que no início era apenas uma grande área para a produção conjunta de
120 famílias.
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nos arredores da casa e colheita destes alimentos para o consumo da família. Tratam também do
gado, da entrega de leite, da confecção e o comércio de doces, no entanto, não gozam do status de
trabalhadoras rurais, em afinidade com os achados de outros estudos desenvolvidos em
assentamentos (FARIAS, 2008; MENEGAT, 2008; SOUZA, 2009).
Sobre esse assunto a pesquisa “Nosso trabalho tem valor! Mulher e Agricultura Familiar”,
desenvolvida em 2004 pelo SOS Corpo – Instituto Feminista para a Democracia, sediado no Recife,
reflete que as atividades atribuídas às mulheres pelos mecanismos de socialização, quando
transformadas em trabalho, são pouco reconhecidas e valorizadas socialmente. Deste modo, as
trabalhadoras rurais ao realizarem as atividades em um espaço de trabalho pouco delimitado entre
as funções domésticas e a lida na agricultura e criação de animais, tendem a sofrer invisibilidade
(SILVA; ÁVILA; FERREIRA, 2005).
Ou seja, as atividades na agricultura ao se confundirem com as obrigações ‘naturais’ do sexo
feminino são desvalorizadas e concebidas mais como ajuda do que trabalho. Essas características
geram ambiguidade quanto ao entendimento do trabalho feminino na agricultura familiar e revelam
faces de um sistema mais abrangente de valores e representações reprodutores das desigualdades de
gênero, como as idéias de complementaridade e reciprocidade entre os gêneros determinantes das
qualidades do que é ‘de mulher’ e ‘de homem’, que delimitam o universo feminino do masculino.
Assim, mesmo atividades executadas fora da designação própria atribuída ao sexo feminino, como
o trato do gado, por ocorrerem entrelaçadas às funções domésticas, são tidas como obrigações inatas
das mulheres e concebidas como auxílio (SILVA; ÁVILA, FERREIRA, 2005).
Enquanto as mulheres permanecem circunscritas ao espaço privado no assentamento, a
população masculina se dirige diariamente ao lote coletivo de trabalho e a outros serviços nas
fazendas da redondeza convivendo com outros homens e longe do seio familiar, ou seja, dos três
hectares que formam o pedaço de terra onde foram construídas as moradias.
Existem outros locais no Bebedouro onde a presença masculina é frequente e
preponderante: dois bares que conjugam uma espécie de mercearia com a venda de bebidas
alcoólicas, situados nas duas extremidades da área do assentamento, que funcionam anexados à
casa dos proprietários. Neste ambientes aparentemente familiares, a presença feminina é
praticamente limitada à compra de itens alimentícios e para o lar.
Segundo Grossi (2004) o trabalho nas sociedades camponesas é marcadamente segmentado
por relações de gênero tradicionais com a divisão de tarefas e papéis em femininos e masculinos.
Neste contexto, o aprendizado da divisão sexual do trabalho é transmitido pelas mulheres às
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meninas e aos meninos pelos homens, especialmente pais, mães e avós, que devem ensinar as
atividades apropriadas a cada sexo. A educação diferenciada dos filhos pode ser notada no relato da
assentada Luíza, como se pode observar neste trecho:
“A menina tem que cuidar mais, porque é mulher. Agora, filho homem tem que
ensinar a trabalhar. Não colocar para trabalhar, mas ensinar. Aqui em casa os meus
a gente ensina, tenho dois filhos homens e três mulheres. As meninas ficam em
casa, a gente ensina serviço de casa, limpar, fazer comida e os meninos serviço
fora. Então cada um de um jeito” (Luíza, Fev. 2012).
É através desse aprendizado e da observação do cotidiano sobre o poder da autoridade
varonil no seio da família, nas ideologias repassadas na escola, igreja, relações na comunidade e no
contexto sócio-cultural abrangente que os meninos aprendem a considerar o trabalho do homem
mais valorizado e importante se comparado ao feminino. No Bebedouro, as filhas são tratadas e
vigiadas pelos pais e também pelas mães que introjetaram o discurso masculino de forma diferente
dos filhos, sendo proibidas de namorar e sair de casa à noite.
Em “Senhores de si: uma interpretação antropológica das masculinidades”, Vale de
Almeida (2005) discute a construção antropológica das masculinidades na aldeia de Pardais, situada
no Alentejo português, desvelando as relações de gênero no vilarejo. Em Pardais, a rotina das mães
era o trabalho doméstico na própria casa ou em serviços sazonais dirigidos por homens.
No bojo dessa configuração até mesmo as mulheres que trabalhavam fora costumavam
permanecer em casa no tempo livre, saindo apenas para visitas aos parentes e compras, enquanto os
pais se ausentavam a maior parte do dia aparecendo no lar muito pontualmente.
Os homens possuíam uma rotina no espaço público. Eles saiam cedo de casa para o trabalho,
retornavam na hora do almoço e em seguida dirigiam-se novamente ao serviço, regressando ao lar
apenas no fim de tarde. Entretanto, após o asseio e o jantar era habitual uma escapada em direção
aos cafés.
Desse modo, ao observarem o movimento dos pais as crianças e adolescentes do sexo
masculino ensaiam as primeiras performances de saída da casa, um espaço fortemente feminilizado,
salienta Vale de Almeida (2005). Aos meninos é permitido circular com maior liberdade na
vizinhança, o que facilita o estabelecimento de relações com outras crianças do mesmo sexo e
brincadeiras no espaço público. Ao contrário das meninas que aprendem a co-dominar o ambiente
doméstico, brincando em espaços circunscritos a casa e saindo acompanhadas das mães.
Ainda que a interseccção entre os mundos do menino e da menina aconteçam de várias
maneiras no cotidiano do Bebedouro, identifica-se um padrão no qual as atividades domésticas são
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destinadas a elas, que se espelham no comportamento da mãe, aprendem a agir com passividade e
realizar as tarefas da casa carentes de visibilidade e remuneração. A conduta masculina mais ativa e
autoritária, as rotineiras saídas do pai para o labor e o espaço dos bares fornecem o exemplo do
modelo a ser seguido pelo menino.
Festas e bares: lazer, tensão, tônicos e sociabilidades
No Bebedouro o consumo habitual de bebidas alcoólicas é um costume tipicamente
masculino que ocorre nos bares ou festas. Isso não significa que as mulheres não possam beber
ocasionalmente nas festividades e em outras comemorações sociais, mas seguindo a etiqueta do
comedimento e discrição.
Apesar das festas proporcionarem um momento de descontração e diversão aos assentados,
também é palco para que antigos conflitos e rusgas sejam acertados, diferente do ambiente dos
bares. Para diversos moradores o consumo exacerbado de bebidas alcoólicas nas festividades
desperta a agressão masculina e incentiva a violência.
Muitas narrativas evocaram os problemas existentes na área societária, sobretudo sobre a
insegurança de suas posses ali, problemas com os animais da criação, e o ciúme de esposas e filhas
como fenômenos correlatos as agressões. Rosa, por exemplo, considera que o problema da violência
é deflagrado mais pela ignorância do que pelo álcool. “O maior problema não é por causa da
bebida, é a ignorância mesmo. É rolo, vaca que foi pro pasto do vizinho [no lote coletivo], esse tipo
de coisa... Aí um briga por causa da porteira, outro briga por outra coisa”.
A falta de cortesia e tolerância masculina após a ingestão de bebidas alcoólicas é um dos
aspectos apontados por Valentim para a violência. “Diversão aqui sai uma, duas e daí acaba [...] o
povo acaba por causa das brigas [...] Há muita briga por causa da bebida. Bebem e tudo acham
ruim, não conseguem tolerar os outros”. E Antônio explica, “as brigas são dos homens, mulher não
briga em festa, a maioria das brigas é por causa da cerveja, da cachaça mesmo. Essa última foi
porque um olhou a mulher do outro.”.
Socorro é outra moradora do Bebedouro que fala da violência masculina sob a ingestão do
álcool e relembra o episódio do esfaqueamento de um dos assentados durante uma festa. Ela afirma
que a maioria das brigas envolve apenas os homens e aponta que a bebida e uma certa dose de
ciúmes são estopins para briga “porque [nas festas] começa tudo bem e depois pro final começa
aquela ‘brigaiada’ danada. E aí já puxam faca um pro outro”. Ela, assim como outros
entrevistados, afirma que as mulheres não frequentam os bares.
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Diante dos casos expostos pelos moradores, pode se notar que a violência no ambiente das
festas acontece motivada pelo ciúme e tentativas de controle sobre as mulheres, tal como expressa a
narrativa de Otávio:
“A violência contra a mulher geralmente acontece por ciúme. Começa na festa. A
menina moça começa a namorar com um e com outro. Que é o que ‘nós fala’ que a
menina mulher namora com o sapo e não sabe qual é o macho e depois sai porrada.
E o casal é do mesmo jeito, a mulher começou a frequentar sua casa, de manhã,
meio dia, a tarde, aí já começa as polêmicas e sai as porradas” (Otávio, Fev. 2012).
Na visão destes homens, a infidelidade masculina é natural e, portanto, eles devem ser rivais
quando qualquer outro homem está próximo de algum familiar do sexo feminino. São receios e
inseguranças diante da possibilidade da mulher ser seduzida ou trair o marido. As brigas também
são demonstrações do homem, o chefe de família, de defesa da honra do sobrenome, da sua mulher
e da sua filha de possíveis tentativas de sedução nos espaços com outros homens.
Ser homem é portar a honra do homem, diz Machado (2001), que pontua, no universo do
código relacional, a honra de um homem não depende apenas de sua reputação, mas da honestidade
e fidelidade da esposa e a respeitabilidade de todas as mulheres de seu grupo de parentesco, como
filhas e irmãs. Assim, defender a honra de ‘suas mulheres’ contra os homens que se aproximam
delas é uma conduta que garante o domínio masculino sobre o sexo feminino e a preservação da
honra masculina.
Os problemas, rixas e desavenças ocorridas pelas contendas na área societária de produção
são outros elementos que aparecem nas narrativas como estopim para as brigas masculinas sob o
consumo do álcool. Em muitos casos, os antigos desafetos e desaforos mal resolvidos parecem
aflorar com a ingestão de bebidas alcoólicas, encorajando o ânimo mais exaltado, insuflando os
sentimentos de valentia, audácia, coragem e invulnerabilidade tão relacionados ao gênero
masculino.
Nesse cenário incomum, pois são poucas ocasiões festivas na região, acirram-se as relações
de poder e competição entre os próprios homens. Tais questões levam a crer que o consumo das
bebidas etílicas funciona como um lubrificante social que pode estreitar as relações e as distâncias,
sendo elas amistosas ou não. Adicionalmente, existe também a influência de estruturas pré-
construídas que produzem significados, parametrizam posturas e padrões de comportamento
masculino relacionados às bebidas alcoólicas.
Para Minayo e Deslandes (1998), a violência que ocorre sob o efeito de SPA’s contém
particularidades que envolvem diversos aspectos, subjetivos e contextualizados. Isto significa que
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há mais chances de ocorrer agressões em alguns lugares e situações, sob normas específicas e visões
de mundo que são retroalimentadas por grupos e indivíduos. Um exemplo dessa situação pode ser
constatado nas diferentes maneiras de beber e se comportar nas festas e bares do Bebedouro3.
Nos bares do assentamento, os homens estabelecem formas de sociabilidade e solidariedade,
dramatizam sofrimentos, compartilham experiências, trocam favores, fecham acordos, realizam
negócios e atualizam padrões de masculinidades por meio de performances do corpo, disputas de
jogos e conversas sobre o dia-a-dia, as mulheres, futebol e pescarias. A ingestão de bebidas deve ser
feita entre pares e nunca sozinho, sendo a embriaguez e a perda do controle sobre o beber atos
reprovados pelo grupo, pois incapacitam o homem para o cumprimento de suas responsabilidades
sociais e na família. Essas normas funcionam como um controle social informal a balizar a
utilização adequada do álcool pela freguesia dos bares. Embora o consumo desregrado e associado a
possíveis problemáticas (como a violência contra as mulheres) também exista, não constitui a regra
e o padrão de alcoolização convencionado nesses estabelecimentos4.
Misoginia e violência de gênero: da sobriedade à embriaguez
O sistema de dominação masculina é evidente no Bebedouro, pois existem inúmeros casos
de machismo envolvendo tentativas de controle da mulher pelos homens, tais como as práticas de
agressão físicas mais visíveis às sutilezas da opressão de gênero. Muitos dificultam, impõe limites,
coagem ou simplesmente proíbem a livre circulação de suas esposas no espaço até mesmo para
freqüentarem a escola. Nesses casos é comum a necessidade da permissão do marido para sair de
casa.
A limitação do direito de ir vir imputada pelo sexo masculino é um espelho das hierarquias
de gênero existentes no assentamento podendo configurar uma forma de violência psicológica
contra as mulheres. Ao impactar negativamente na auto-estima, a violência psicológica, o destrato e
as desqualificações do feminino aprisionam corpos e mentes na subordinação da servidão
voluntária, corroendo a autodeterminação, patrocinando e perpetuando o suposto consentimento da
submissão das mulheres.
3 Vale lembrar que os bares estão instalados na própria residência dos proprietários, isto é, no lugar de moradia da
família, enquanto as festas são em áreas públicas e capazes de atrair um número diversificado de assentados, que
dificilmente se reuniriam massivamente por outros motivos. 4 De acordo com o INCRA, o comércio de bebidas alcoólicas é proibido nos assentamentos rurais, o que pode contribuir
para a norma de ponderação no beber entre os assentados.
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“Os casos de machismo tem muito, de desvalorização da mulher, dos xingamentos,
humilhações, de controlar a mulher. Na verdade, o pessoal da zona rural eles não
estão preparados para serem diferente. A criação que eles tiveram é bem antiga. É
daquele tipo que a mulher é submissa ao marido. Aonde vai tem que pedir
permissão, não é comunicar. Você comunicar o marido que está indo é uma coisa,
agora você pedir é outra. Aqui há casos em que a mulher precisa pedir ao marido
para pode ir a algum lugar, ir à reunião [...] Até em relação ao sexo, eles falam das
esposas. A gente nem acha mais que é violência, de tanto ouvir falar” (Rita, Jan.
2011).
Nesse cenário a violência doméstica e familiar acontece com ou sem o consumo de bebidas
alcoólicas pelos homens, como revela o depoimento de Marialva, que sofreu violência do marido
durante os quatro anos em que foi casada. “Se fosse bebida tinha a desculpa da bebida, mas ele não
bebia”. As desigualdades nas relações de gênero estão diluídas no tecido social. São oriundas da
concretude da vida material a partir das relações sociais e desde cedo introjetadas e (re)produzidas
pelas mulheres e homens através dos mecanismos de socialização. Desse modo, constroem
verdades, envernizam identidades, delineiam percepções e subjetividades, normatizam padrões de
comportamento adequados e o próprio parâmetro de moralidade para cada sexo.
No cerne da moralidade construída para o sexo feminino no Bebedouro a vida doméstica
ocupa lugar central. A idéia corrente é de existirem mulheres dignas, aquelas que são mães
dedicadas, filhas comportadas, dóceis e prestativas, exímias donas de casa, trabalhadoras,
companheiras, fiéis e obedientes aos maridos. Destoar de aspectos desse padrão para cada fase da
vida das mulheres representa um ato de desvio das feminilidades dominantes no assentamento.
Algumas entrevistadas, inclusive, acreditam que há mulheres que merecem apanhar ao
fugirem dos padrões ideais. Dona Erminda, por exemplo, informou que, além de sua filha, tinha
conhecimento de outra mulher que sofria violência. Mas segundo a entrevistada essa assentada agia
de modo inadequado, pois tinha o hábito de usar roupas decotadas, como shorts curtos que
chamavam a atenção masculina. Nas considerações da entrevistada, está implícito uma idéia que
associa a violência à conduta inapropriada da mulher, sugerindo que por um lado existem mulheres
que provocam a violência ou merecem um corretivo, de outro, aquelas inocentes, como sua filha,
que sofrem esse tipo de violência sem motivo algum. Por esse prisma, essas últimas são as
verdadeiras vítimas da violência doméstica e familiar perpetrada por homens.
Ao questionar os homens se existiam mulheres que mereciam a violência, a reação
masculina diante do gravador foi de desconfiança, receio e suspeita. Entretanto, em conversas
informais pude notar um pensamento explícito de reprovação das mulheres que não cumprem as
tarefas domésticas, não ajudam no lote e demonstram sensualidade ao exibirem partes do corpo pelo
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uso de trajes curtos e o atrevimento de discordar do marido em público. A preocupação com a
infidelidade feminina, a traição de namoradas e esposas, foi um elemento bastante presente entre as
apreensões masculinas captadas durante o trabalho de campo.
Nessa direção, Evelin relata que o ciúme do marido era constante e serviu de motivação para
que ela apanhasse pelo menos três vezes sem esboçar resistência ou revidar. “Fiquei quieta, né?!?
Como todas as outras mulheres, tenho medo. Fiquei quieta. Com medo de reagir”, diz a assentada
relembrando as bebedeiras do marido em duas ocasiões de espancamento.
Ana sofreu violência do marido durante oito anos e associa a violência ao uso do álcool,
sublinhando que seu marido virava fera toda vez que bebia. Embora em seu relato seja perceptível
que o esposo a proibia de sair de casa mesmo sem o uso do álcool e que possuía outras atitudes
enérgicas sobre ela, a entrevistada acredita que a bebida inspirava a violência. Ela também disse
conhecer casos de outras mulheres no Bebedouro que passaram por situações semelhantes à
vivenciada por ela. “A minha vizinha ela sofreu muito também. O marido dela bebia e.... só que o
marido dela nunca bateu nela [...]”, mas gastava muito dinheiro com a bebida e ficava agressivo.
“Ela ia lá em casa e contava pra mim, chorava e tal. Aí voltava mais desabafada pra casa dela”.
Socorro é outra entrevistada que expressa a mesma opinião ao considerar que o álcool
provoca a violência praticada pelo marido. “Meu marido quando bebe fica doido. Fica diferente.
Então eu penso, às vezes eu até falo: óh meu deus do céu, eu só queria que viesse pessoa aqui e
impedisse de beber no bar, nos botecos daqui e de vender bebida alcoólica”.
Favorável ao veto às bebidas, pois o consumo exagerado já atingiu o genro e a filha,
Ermelinda sofre pela filha agredida pelo esposo. “Tá muito difícil viver aqui, perigoso sair até
morte por causa de bebida... Estou falando do meu próprio genro. Ele tá prejudicando muito a
filha. Quando a gente vai falar ele fala, “a casa é minha”. Manda você tomar lá... eu vou te furar”.
Flaviana, filha de Ermelinda, demonstra o mesmo pensamento da mãe sobre o consumo de
bebidas na região e o surgimento de casos de violência, mas se mostrou reticente e constrangida em
falar abertamente sobre a violência sofrida.
“Acho que a bebida pode levar a muita coisa, gera a violência. A pessoa bebe não
sabe o que tá fazendo, o álcool tá tomando conta... Meu marido bebe quase todo
dia. Daí ele fica machão querendo brigar. Quando ele tá bêbado ele enche o saco.
Grita, fica bravo, reclama da comida, gasta o dinheiro das compras. Mas tudo é a
bebida” (Flaviana, Fev. 2012).
O discurso da próxima entrevistada é diferente das histórias analisadas até aqui, pois aborda
o problema da dependência química do álcool pelo parceiro. Ao longo da entrevista com Rita foi
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possível perceber que, em diversos momentos, ela pareceu omitir, atenuar ou suavizar o
comportamento ríspido e agressivo do parceiro nos momentos de alcoolização, bem como transferir
o problema da agressividade para a doença e o ciúmes que aumentava após o uso da bebida.
“Nunca morei no campo, é a primeira vez. A minha maior dificuldade foi que eu
enfrentei o alcoolismo. Ele começou a beber no acampamento depois continuou.
Meu marido parou. Fez tratamento. Quando a pessoa bebe não quer parar. Antes
ele bebia na casa dos outros. O bêbado sempre fica bravo, né? Fica atacado com a
bebedeira” (Rita, Fev. 2011).
A história de Juliana é similar a vivenciada por Rita. Ambas possuem cicatrizes da
agressividade do esposo e não as percebem como sendo uma forma de violência contra mulheres,
mas resultado do alcoolismo enquanto patologia. Deste modo, a agressividade quando do uso das
bebidas alcoólicas foi vista como um elemento típico e decorrente do efeito do álcool, portanto, atos
não identificados pelas duas como de violência doméstica e familiar. É como se o ficar transtornado
pelo alcoolismo fosse uma conduta natural da patologia, aceita, permitida e legitimada socialmente.
Tais percepções remetem aos discursos da medicina eugenista de combate aos vícios do
século XIX, responsável pela criação de nosografias em torno do consumo do álcool, da própria
figura do ‘alcoólatra’ e delimitações de papéis femininos e masculinos. Na configuração desse
quadro, as mulheres foram incumbidas de zelar pela saúde da família com função especial na
reeducação dos filhos e maridos ‘caídos em vício’ (MATOS, 2001).
Em diversos casos de criminalidade, inclusive na questão da violência contra as mulheres, a
loucura alcoólica foi utilizada como meio de absolvição dos crimes sob o argumento de que os
homens não estavam cientes e conscientes das agressões cometidas. Em muitos processos
envolvendo crimes passionais foi julgado que, ao ter a honra arranhada ou por não ter controle das
situações, o homem foge da normalidade, ultrapassa os próprios limites e realiza atos agressivos sob
efeito insensato da embriaguez (MATOS, 2001). Unindo a alegação médica da loucura com os
dispositivos jurídicos de defesa da honra ou integridade moral verifica-se uma silhueta sob o
controle do corpo e liberdade das mulheres.
A propensão ao surgimento do ciúme masculino seria mais explícita após a ingestão do
álcool, motivando a incessante preocupação com a fidelidade feminina. Matos (2001) recorda que
um dos pilares da identidade masculina é a noção de honra, definida de acordo com a conduta moral
das mulheres na família. Deste modo, a virilidade além de configurar a potência da sexualidade
varonil, também exigia um teste constante de exercício do controle masculino da liberdade e
sexualidade das mulheres.
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Para Matos (2001) esse panorama cultural produzia uma órbita de relações altamente
propícias à tensão e desavenças com grande possibilidade de emergência da violência. Segundo ela,
o discurso propalado pelas campanhas antialcoólicas construiu um perfil masculino que reforça a
idéia do homem carregado de agressividade, na qual a legitimidade da violência aceita socialmente
tornou-se uma forma de iniciativa. “Incorporada à sua identidade, a agressão passou a ser, para o
homem, elemento de constituição que, sobreposto à virilidade, produz e alimenta a violência,
muitas vezes, provocada por alucinações e delírios causados pelo álcool” (MATOS, 2001, p. 74).
A ampla difusão deste discurso e suas atualizações para justiçar a violência após o consumo
de bebidas alcoólicas são hipóteses de uma moral que reprova o consumo até mesmo dentro das
normas aceitas pela comunidade funcionando como peças que movimentam a engrenagem do
controle social e que legitimam a violência doméstica e familiar contra as mulheres sob ingestão das
bebidas etílicas pelo homem. É como se o álcool se tornasse o grande vilão da história, capaz de
fazer homens agirem segundo os ímpetos da loucura provocada pela bebida, a exemplo do ciúme
desmedido, pressões morais sobre a companheira e condutas violentas em virtude dos delírios,
alucinações e desvarios alcoólicos.
O pouco conhecimento sobre a Lei Maria da Penha e outros direitos da população feminina
entre as assentadas também foi um elemento constatado na pesquisa, o que dificulta a busca por
direitos e o rompimento dos relacionamentos marcados pela violência masculina. A falta de uma
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher em Nova Alvorada do Sul, cidade mais próxima
do Bebedouro, e a pouca qualificação de policiais e técnicos de muitas delegacias dos municípios
do interior do estado para o trato da violência doméstica e familiar contra a mulher por meio da Lei
Maria da Penha e a própria falta de profissionalização do atendimento às mulheres vítimas de
violência são outros entraves.
Considerações finais
O conteúdo deste trabalho questionou concepções que naturalizam a violência doméstica e
familiar contra as mulheres como resultado do uso do álcool por homens contrastando com
discursos enraizados no senso comum. Ao estudar as relações de gênero e desvelar traços
patriarcais e de dominação masculina presentes na cultura e vida social do Bebedouro, o texto
fornece dados que podem contribuir com análises sobre a violência doméstica nos assentamentos de
reforma agrária espalhados pelo território brasileiro.
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Chamar atenção para a dimensão cultural das relações sociais no campo, das relações de
gênero e hierarquias de poder entre homens e mulheres não significa desconsiderar as reações
fisiológicas do álcool no organismo de cada ser humano. Mas entender que os valores misóginos e a
violência imbuída no processo de socialização das masculinidades, muitas vezes, abastecem a
violência futura de parcela da população masculina na sociedade constituindo fatores que
conjugados ao consumo das bebidas alcoólicas podem aflorar a agressividade em inúmeros homens.
No cerne das relações de gênero no Bebedouro cabe às mulheres o trabalho doméstico
desvalorizado e sem remuneração, mas também as demais atividades do sítio, porém sem serem
reconhecidas como trabalhadoras. A geografia espacial do assentamento com a longa distância entre
o sítio e a área societária de produção contribui para reforçar a divisão sexual do trabalho e tornar o
ambiente doméstico da casa e seus arredores essencialmente femininos.
Quanto ao público masculino existe uma movimentação rotineira com destino ao lote
coletivo, mas também para fora dos limites do Bebedouro, especialmente em direção as fazendas da
região ou nas usinas constituindo uma alternativa para complementar a renda e viabilizar a
permanência dessas famílias na terra. É através dos mecanismos de socialização e da própria
observação das relações sociais que as crianças aprendem o comportamento ideal para cada sexo,
inclusive no tocante ao uso do álcool.
Os bares são locais de sociabilidade eminentemente masculinos com etiquetas e pedagogias
de ingestão de bebidas que recomendam o consumo grupal e não solitário, sendo a embriaguez e a
perda do controle sobre o beber atos reprovados pelos fregueses. E mesmo existindo no
assentamento e no próprio espaço dos bares o consumo desregrado e associado a possíveis
problemáticas (como a violência contra as mulheres), isso não constitui a regra e o padrão de
alcoolização partilhado nos bares.
Já nos eventos festivos do Bebedouro são comuns as brigas, facadas e discussões entre
homens aparentemente insufladas pelo ânimo exaltado desencadeado por efeitos das bebidas
alcoólicas. No entanto, por trás desses episódios de violência existem antigas rixas, desaforos e
desavenças mal resolvidas que em grande parte são relacionadas à produção na área societária de
trabalho.
Foi perceptível no assentamento pesquisado a existência de distintas formas de violência
contra as mulheres envolvendo ou não o uso do álcool pelo parceiro, incluindo desde as agressões
psicológicas das humilhações, coerções e xingamentos, aos danos materiais, morais, à violência
sexual e física dos mais variados matizes e intensidades.
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O exercício do poder masculino sob as mulheres dilui-se no cotidiano do Bebedouro
tornando-se uma realidade naturalizada, ou seja, muitas vezes, despercebida à população feminina.
A transgressão das responsabilidades, do recato e do comportamento ideal para o gênero feminino é
uma atitude reprovada pela população assentada de ambos os sexos. É dever dos homens proteger
‘suas’ mulheres da ameaça que lhes suscita a convivência delas com outros homens. Este fato
parece reconfigurar traços dos antigos dispositivos em torno dos preceitos de legítima defesa da
honra corroborando para a punição feminina e a moral permissiva em torno da violência doméstica
e familiar contra as mulheres. Tais questões contribuem para o desamparo da vítima, bem como a
perpetuação da violência e a impunidade dos agressores neste assentamento de reforma agrária,
onde as mulheres possuem pouco conhecimento sobre a Lei Maria da Penha e os seus direitos, pois
é um espaço distante do centro urbano e longe das políticas de promoção, proteção e garantia de
direitos.
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Male domination, meanders ethyl and conflicts: portraits of violence against women in the
rural area
Abstract: In 19th century, the medicine hygienist brought the need for prophylactic intervention in
combating addictions, including the alcohol consumption, as an attempt to control the population.
This discourse was consolidated by anti alcohol campaigns directed to male audience that emerged
in Brazil in the 1920s. Introduces the idea that alcohol incapacitates the man for the job also leading
to the explosion of the most barbarous and irrational instincts. The madness alcohol was used as a
means of absolution of many crimes of violence against women on the grounds that men were not
aware of actions taken. This article discusses the phenomenon of violence against women in rural
Bebedouro settlement, in Mato Grosso do Sul, analyzing the influence of socio-cultural scenario in
the formation of relationships between the sexes, alcohol consumption by men and associations
with violence gender. The proposal brings up stories of women and men from this rural area show
that inherited traits of speeches and anti alcoholics campaigns devices cultural and legal legitimate
defense of honor. This speeches updated male dominance in controlling the freedom of women and
justify gender-based violence, especially under the influence of drunkenness. The work also
highlights the difficulties of these rural women in obtaining information about the Maria da Penha
Law (LMP) and access to the Women's Care Network in this space far from the urban center and
the organs of protection and defense of rights.
Keywords: male domination, violence against women, alcohol consumption, rural settlement;
Maria da Penha Law.