Transcript
Page 1: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

1

DOENÇAS DA BATATA

(Solanum tuberosum L.)

Carlos Alberto Lopes; Mirtes Freitas Lima; Ailton Reis; Jadir Borges Pinheiro

Embrapa Hortaliças, Cx. Postal 218, 70.351-970, Brasília, DF

PINTA-PRETA

Descrição: Até o início da década passada, a pinta-preta era atribuída ao fungo Alternaria

solani. Atualmente, após estudos taxonômicos usando-se técnicas moleculares modernas,

acredita-se que a principal espécie do patógeno seja Alternaria grandis. A doença é comum em

plantios de verão sujeitos a chuvas ou irrigação frequente por aspersão, pois é favorecida por alta

temperatura e alta umidade do ar. O patógeno é disseminado principalmente pelo vento. Ataque

severo reduz a área foliar, resultando em produção de tubérculos pequenos e, consequentemente,

diminuição no rendimento da lavoura.

Sintomas: São observados, inicialmente, nas folhas mais velhas, que podem se apresentar

“queimadas” devido ao ataque intenso da doença (Figura 1). As manchas individuais são

pequenas (até 1 cm de diâmetro) e, quando desenvolvidas, apresentam círculos concêntricos

(Figura 2). No caule, as lesões tomam forma elíptica e são similares às das folhas. Lesões nos

tubérculos são superficiais e de rara ocorrência.

Figura 1. Queima de folhas de plantas de batata devido ao ataque intenso da doença. (Foto:

Ailton Reis)

Page 2: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

2

Figura 2. Manchas em folhas apresentando anéis concêntricos. (Foto: Ailton Reis)

Controle: Evitar o plantio em épocas quentes e chuvosas; evitar a instalação de lavouras

próximas a lavouras velhas; plantar batata-semente certificada; evitar irrigações frequentes por

aspersão; pulverizar preventivamente com fungicidas registrados para a cultura; destruir os restos

culturais logo após a colheita e fazer rotação de culturas de preferência com gramíneas.

REQUEIMA

Descrição: A requeima é a principal doença da batata no mundo. É causada por Phytophthora

infestans, um oomiceto que produz esporângios, zoósporos e oósporos, que são estruturas

responsáveis pela disseminação e/ou sobrevivência do patógeno. É favorecida por baixas

temperaturas (12°C - 18°C) e alta umidade relativa do ar (>90%). Sob estas condições, espalha-

se rapidamente na lavoura, podendo causar perda total em poucos dias pela destruição da

folhagem.

Sintomas: A doença se manifesta primeiro nas folhas mais novas, onde causa manchas grandes

(Figura 3) e escurecimento do caule (Figura 4). Quando o patógeno atinge o tubérculo, causa

nele lesões escuras e firmes, de bordas pouco definidas, apresentando polpa de cor marrom na

parte exposta por corte superficial.

Page 3: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

3

Figura 3. Sintomas de requeima em plantas no campo. (Foto: Ailton Reis)

Figura 4. Escurecimento do caule caule de plantas de batata. (Foto: Ailton Reis)

Controle: A principal e mais efetiva medida de controle é a aplicação de fungicidas,

respeitando-se um rodízio de produtos para evitar o aparecimento de formas resistentes do

patógeno. É necessário, entretanto, que medidas preventivas sejam tomadas para evitar a entrada

precoce e grande pressão de inóculo na lavoura. Dentre esses, evitar o plantio na proximidade de

lavouras velhas ou já infestadas, plantar batata-semente certificada e fazer rotação de culturas.

Algumas cultivares são parcialmente resistentes e devem ser preferidas em áreas ou épocas

favoráveis à doença.

Page 4: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

4

RIZOCTONIOSE

Descrição: É causada por Rhizoctonia solani, fungo habitante do solo que ataca grande número

de espécies de plantas. Muito comum em todas as regiões produtoras de batata, é favorecida por

solos úmidos, frios e férteis. A doença é de difícil controle e pode provocar perdas significativas

por reduzir a produção e comprometer a qualidade do produto. Epidemias da doença ocorrem por

conta de inóculo no solo ou associado à batata-semente, na superfície do qual podem ser

formadas estruturas de resistência (escleródios).

Sintomas: São bastante diversos e podem aparecer já antes da emergência, quando provocam a

“queima” dos brotos. A seguir, na porção subterrânea do caule e nos estolões, formam-se lesões

marrom-avermelhadas deprimidas que podem estrangular o tecido e provocar a formação de

tubérculos aéreos (Figura 5). A planta afetada, geralmente, tem as folhas coriáceas e enroladas.

Nos tubérculos, pode ocorrer deformação e “sarna”, embora o mais conhecido seja a presença de

crosta preta ou “asfalto” (Figura 6).

Figura 5. Sintomas de rizoctoniose na porção basal do caule de plantas de batata. (Foto: Paulo

Eduardo de Melo)

Page 5: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

5

Figura 6. Crosta preta ou “asfalto”, em tubérculo. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Controle: As principais medidas de controle são: evitar o plantio em solos frios e úmidos,

plantar batata-semente certificada e com brotação vigorosa, fazer plantio mais superficial no

inverno, evitar irrigações frequentes, destruir os restos culturais logo após a colheita, fazer

rotação de culturas de preferência com gramíneas e realizar tratamento químico na batata-

semente e no sulco e/ou amontoa.

SARNA PRATEADA

Descrição: Tem aparecido com muita frequência em cultivos nas diferentes regiões produtoras

do País. Sua importância é cosmética, pois afeta somente a pele dos tubérculos, provocando a

desvalorização comercial principalmente da batata lavada. É causada pelo fungo

Helminthosporium solani, que pode estar presente no solo ou associado à batata-semente.

Sintomas: Não se manifestam na parte aérea e aparecem somente na periderme (pele) dos

tubérculos, nunca se aprofundando na polpa. Tubérculos doentes recém-colhidos, quando

lavados, apresentam manchas superficiais irregulares, de aspecto metálico-prateado, que confere

o nome à doença (Figura 7). No caso de batata semente, que é armazenada por período mais

longo, a superfície afetada pelo fungo perde turgidez com facilidade e fica enrugada com o

passar do tempo (Figura 8).

Page 6: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

6

Figura 7. Manchas superficiais irregulares em tubérculos causados por Helminthosporium

solani. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Figura 8. Perda de turgidez e enrugamento em batata-semente infectada armazenada. (Foto:

Carlos Alberto Lopes)

Controle: Plantar batata-semente certificada, colher o mais rápido possível após amorte das

ramas, fazer rotação de culturas e eliminar a soqueira, armazenar em galpão ventilado ou câmara

limpa e desinfestada, separar lotes diferentes de sementes, armazenar em câmara fria para inibir

o crescimento do fungo, fazer tratamento químico da batata-semente e deixá-la secar antes do

plantio após a retirada da câmara fria.

SARNA-PULVERULENTA

Descrição: É causada pelo protozoário Spongospora subterrranea, patógeno presente no solo ou

associado à batata-semente. Só ocorre em solos com excesso de umidade e é mais destrutiva em

temperaturas amenas. Como a sarna comum, afeta basicamente a qualidade dos tubérculos,

Page 7: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

7

principalmente da batata lavada. O patógeno sobrevive no solo por muitos anos e, além dos

danos diretos provocados nos tubérculos, transmite uma virose da batata.

Sintomas: São observados somente na parte subterrânea da planta. São mais visíveis nos

tubérculos, onde são formadas pústulas superficiais pequenas marrons. À medida que cresce, a

pústula se abre e libera esporos marrons, circundados pelas bordas rompidas da pele (Figura 9).

Nas raízes, formam-se pequenas galhas (Figura 10), que podem ser confundidas com galhas de

nematoides do gênero Meloidogyne.

Figura 9. Pústula abertas em tubérculos de batata com liberação esporos de Spongospora

subterrranea. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Figura 10. Formação de galhas nas raízes devido à infecção causada por Spongospora

subterrranea. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Controle: Não plantar em solos contaminados, evitar terrenos compactados e sujeitos a

encharcamento, plantar batata-semente certificada, evitar irrigações frequentes, destruir os restos

culturais logo após a colheita, fazer rotação de culturas de preferência com gramíneas.

Page 8: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

8

SARNA-COMUM

Descrição: É causada por um complexo de várias espécies da bactéria do gênero Streptomyces

(especialmente S. scabies = S. scabiei), que é habitante do solo ou associada à batata-semente.

Ataca somente os tubérculos, e por isso só é notada por ocasião da colheita. Não afeta a

produtividade, mas compromete seriamente a qualidade principalmente da batata lavada. É

favorecida por solos alcalinos e sujeitos a défice hídrico no início da tuberização.

Sintomas: Podem ser bastante variáveis em formato e profundidade, dependendo da estirpe

bacteriana, da cultivar, do momento da infecção e das condições de solo. O mais comum é

aparecerem lesões superficiais corticosas, marrons e em forma de estrela (Figura 11). Maior

perda de qualidade ocorre em caso de lesões tornarem-se profundas (sarna profunda) (Figura

12).

Figura 11. Lesões superficiais em forma de estrela em tubérculos. (Foto: Carlos Alberto Lopes).

Figura 12. Lesões profundas em tubérculos. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Controle: Não plantar em terreno infestado, plantar batata-semente certificada, evitar solos

alcalinos, não aplicar excesso de calcário, evitar défice hídrico principalmente no início da

Page 9: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

9

tuberização, evitar solos com matéria orgânica mal decomposta e fazer rotação de culturas com

gramíneas. O controle químico tem eficácia relativa e não existem cultivares com alto grau de

resistência.

MURCHA-BACTERIANA

Descrição: Também conhecida por murchadeira, é favorecida por temperatura e umidade altas.

É causada por Ralstoniasolanacearum, bactéria presente nos solos de quase todo o país e que

ataca muitas espécies de plantas, embora a raça 3 biovar 2 (R3Bv2) Filotipo I, predominante no

sul e sudeste do Brasil, seja mais comum em batata. Tem tolerância “zero” na batata-semente.

Ocorre com mais frequência em lavouras conduzidas sob alta temperatura e alta umidade.

Sintomas: Aparecem em qualquer fase de crescimento, embora seja mais comum cerca de duas

semanas após a amontoa. Pelo fato de colonizar o sistema vascular da planta (xilema), provoca

murcha da planta (Figura 13) ao dificultar o fluxo de água das raízes para a parte aérea, sintoma

que se manifesta inicialmente nas horas mais quentes do dia. A exsudação de pus bacteriano nos

tubérculos (Figura 14) é típico da doença. O teste-do-copo em caules de plantas murchas é uma

técnica útil para se diagnosticar esta doença.

Figura 13. Sintomas de murcha em plantas de batata. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Page 10: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

10

Figura 14. Exsudação de pus bacteriano em tubérculos. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Controle: Devem ser preventivas, pois é muito difícil eliminar a bactéria de solos contaminados.

As medidas mais eficazes são usar batata-semente certificada, plantar em terrenos sem histórico

da doença, cuidar para não usar água contaminada e evitar o trânsito de máquinas e veículos de

campos contaminados para novas áreas de plantio. O controle químico é ineficaz e não existem

cultivares resistentes à murcha-bacteriana.

PODRIDÃO-MOLE E CANELA-PRETA

Descrição: São causadas por várias espécies de Pectobacterium e Dickeya, antigamente

classificadas como Erwinia spp. Representantes dos dois gêneros acima são encontrados com

abundância em todos os solos brasileiros, podendo atacar diversas hospedeiras, principalmente as

hortaliças que produzem órgãos suculentos, como cenoura, mandioquinha-salsa, repolho, couve-

flor e tomate. Aparecem com frequência em lavouras conduzidas no verão, pois são favorecidas

por temperatura e umidade altas, tornando-se mais sérias na presença de ferimentos dos tecidos.

Sintomas: As duas formas de manifestação da infecção pelas bactérias podem provocar perdas

consideráveis pelo apodrecimento da batata-semente (antes e após o plantio), dabase das ramas

(canela-preta) (Figura 15), e podridão-mole das ramas e dos tubérculos (Figura 16), estes no

campo ou armazém.

Page 11: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

11

Figura 15. Apodrecimento da batata-semente e da base das ramas (canela-preta). (Foto: Carlos

Alberto Lopes)

Figura 16. Podridão-mole do tubérculo. (Foto: Carlos Alberto Lopes)

Controle: Devem ser evitados plantios que estarão sujeitos a alta temperatura e umidade, como

ocorre no verão nas principais regiões produtoras no Brasil. Outras medidas essenciais são

plantar batata-semente certificada, não irrigar em excesso e evitar ferimentos às plantas. Sabe-se

que as cultivares variam em relação à severidade de sintomas para ambas as doenças, embora

nenhuma cultivar seja considerada resistente. Para evitar as podridões em pós-colheita, é

importante colher a batata em solo seco, proceder a secagem antes de embalar os tubérculos e

armazenar o produto em local fresco e ventilado.

Page 12: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

12

NEMATOIDE-DAS-GALHAS

Descrição: É causada por várias espécies de nematoides do gênero Meloidogyne, sendo mais

comuns no Brasil M. incognita,M. javanicae M. arenaria. Estas espécies são habitantes do solo e

atacam as raízes de diversas hospedeiras de diferentes famílias botânicas, o que dificulta a

rotação de culturas para controle da doença. Causam maiores prejuízos em cultivos de verão,

pois temperaturas altas favorecem a multiplicação do patógeno.

Sintomas:A infecção de raízes e tubérculos se dá por juvenil de 2º estádio (J2). Ao se alimentar

nos tecidos das raízes da planta parasitada, durante o seu desenvolvimento até a fase adulta o

nematoide induz hiperplasia e hipertrofia das células, formando as galhas . As protuberâncias nos

tubérculos, também conhecidas como “pipocas” (Figura 17A-B), reduzem a produção bem

comoa qualidade do produto na colheita.

Figura 17 (A-B). Sintomas de “pipoca” em tubérculos de batata devido a infestação pelo nematoide-das-

galhas (Meloidogynespp.). (Fotos: Jadir B. Pinheiro)

Controle: Plantar batata-semente certificada, pois o patógeno é disseminado por meio de

tubérculos infectados; evitar a disseminação por meio de máquinas e implementos que transitam

em lavouras contaminadas; fazer rotação de culturas com espécies não hospedeiras e evitar o

plantio em áreas contaminadas, em especial em períodos mais quentes do ano; realizar alqueive

com o revolvimento do solo, periodicamente, antes do plantio;fazer plantios de plantas

antagonistas e de adubos verdes como as crotalarias. O controle químico só deve ser usado em

último caso e sob a estrita orientação de um engenheiro agrônomo, face à alta toxicidade dos

nematicidas ao meio ambiente.

A B

Page 13: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

13

NEMATOIDE DAS-LESÕES-RADICULARES

Descrição: Várias espécies de Pratylenchus causam lesões em raízes e tubérculos, mas as mais

importantes no Brasil são P. brachyurus e P. penetrans. Esse gênero de nematoides ataca várias

hospedeiras, inclusive gramíneas, que são muito recomendadas para a rotação de culturas para o

cultivo da batata.

Sintomas: Embora também cause danos ao sistema radicular, prejudicando a absorção de águas

e nutrientes pela planta, os sintomas são mais visíveis quando os tubérculos são atacados.

Juvenis e/ou adultos do nematoide podem penetrar tanto nas raízes como em tubérculos por meio

das lenticelas, que ficam escurecidas, dando ao tubérculo um aspecto de pintado (Figura18A-B)

e desvalorizando-o comercialmente.

Figura 18(A-B). Sintomas em tubérculos de batata devido à infestação pelo nematoide-das-

lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus). (Foto: Jadir B. Pinheiro)

Controle: Plantar em áreas não infestadas, a partir de amostragem de solo e exame laboratorial

que constate a ausência do patógeno; fazer rotação de culturas com espécies não hospedeiras;

uso do alqueive com revolvimento do solo antes do plantio; de preferência plantar espécies que

não sejam gramíneas; plantar espécies antagonistas e adubos verdes como as crotalarias; evitar

plantios de verão em áreas suspeitas de infestação. O controle químico tem eficácia relativa e

não existem cultivares resistentes.

ENROLAMENTO DAS FOLHAS

Descrição: É causado pelo vírus Potatoleafrollvirus(PLRV), que é transmitido por várias

espécies de pulgões, sendo Myzuspersicae a principal. A relação vírus/vetor é do tipo persistente

ou circulativa, em que o pulgão, tanto para adquirir o vírus como para transmiti-lo necessita de

A B

Page 14: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

14

períodos prolongados de alimentação na planta. Uma vez virulífero, o pulgão pode transmitir o

vírus por toda sua vida.Atualmente, o vírus éencontrado em baixa frequência no campo,

entretanto, essa virose já foi a principal doença responsável pela degenerescência da batata-

semente até a década passada. Aparentemente, essa redução de importância se deve ao maior uso

de batata-semente certificada e ao efetivo controle do inseto vetor.

Sintomas: A doença se manifesta de duas maneiras em plantas infectadas: 1. sintomas primários,

que resultam da infecção da planta no campo durante o ciclo da cultura e caracterizam-se por

apresentar enrolamento dos folíolos apicais, além de amarelecimento da base dos folíolos

(Figura 19), e 2.sintomas secundários, que resultam do plantio de tubérculos infectados, em que

as plantas ficam subdesenvolvidas e apresentam enrolamento das folhas basais (Figura20).

Figura 19. Sintomas primários em plantas de batata causados pelo vírus do enrolamento da

folha. (Foto: Antônio Carlos de Ávila)

Figura 20. Sintomas secundários em plantas de batata causados pelo vírus do enrolamento da

folha. (Foto: Antônio Carlos de Ávila)

Page 15: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

15

Controle: Plantar batata-semente certificada; controlar a população de pulgões na lavoura e nos

arredores; eliminar plantas nativas e soqueira de batata que possam abrigar o vírus e os vetores;

plantar cultivares resistentes; eliminar plantas doentes (roguing) em caso de produção de batata-

semente.

MOSAICO

Descrição: É causado por estirpes de Potato virus Y (PVY). Osubgrupo necrótico, denominado

PVYNTN

, que causa anéis necróticos nos tubérculos, é o que tem predominado no Brasil, nos

últimos tempos, após a sua introdução no País em tubérculos de batata importados. O vírus é

transmitido por várias espécies de pulgões, sendo Myzuspersicaea principal. A relação

vírus/vetor é do tipo não persistente ou não circulativa, em que o pulgão adquireetransmite o

vírus em poucos segundos, na chamada “picada de prova”. O mosaico tornou-se a virose de

maior importância econômica para a cultura da batata no Brasil, sendo atualmente a principal

causa da degenerescência da batata-semente.

Sintomas: O principal sintoma é mosaico nas folhas mais novas (Figura 21), acompanhado ou

não de nanismo da planta, este mais visível em infecções precoces.Osubgrupo PVYNTN

, além dos

sintomas na parte aérea, causa anéis necróticos nos tubérculos (Figura 22), que desvalorizam o

produto para o mercado.

Figura 21. Sintomas de mosaico induzidos por Potato mosaic virus (PVY) em batata. (Foto:

Antônio Carlos de Ávila)

Page 16: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

16

Figura 22. Sintomas de anéis necróticos em tubérculos induzidos pela estirpe PVYntn

. (Foto:

Antônio Carlos de Ávila)

Controle: Plantar batata-semente certificada; fazer rotação de culturas com espécies não

hospedeiras; eliminar plantas nativas e soqueira de batata que possam abrigar o vírus e os

vetores; plantar cultivares resistentes; eliminar plantas doentes (roguing) em caso de produção de

batata-semente. O controle químico do vetor na lavoura não é medida eficaz.

VIRA-CABEÇA

Descrição: É causado por espécies do gênero Tospovirustais como Tomato spotted wilt virus

(TSWV), Groundnut ringspot virus (GRSV) e Tomato chlorotic spot virus (TCSV). Embora

muito comum em tomateiro no Brasil, a doença “vira-cabeça” não é frequentemente detectada

em lavouras de batata no País, entretanto, tem-se notado o aumento de sua frequência na cultura

nos últimos anos. Os vírus são transmitidos por espécies de tripes, especialmente dos gêneros

Frankliniella e Thrips. A transmissão é do tipo circulativa propagativa, em que o vírus é

adquirido pelo inseto no estádio de segundo instar do inseto durante o processo de alimentação

em planta infectada; o vírus circula no corpo do vetor, onde se multiplica.

Sintomas: O principal sintoma é a redução do crescimento da planta e aparecimento demanchas

necrótica nas folhas apicais e nas hastes, que podem ser confundidas com infecção de fungos

fitopatogênicos(Figuras 23A-B). Lesões necróticas nas folhas podem apresentar-se como anéis,

que são característicos da doença. Sintomas podem também surgir em tubérculos de plantas

infectadas, na forma de anéis necróticos, que desvalorizam o produto no mercado.

Page 17: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

17

Figura 23(A-B). Sintomas induzidos por tospovírus em folhas (A, B) e haste (B) de plantas de

batata. (Fotos: Mirtes F. Lima)

Controle: Plantar batata-semente certificada; fazer rotação de culturas com espécies não

hospedeiras dos vírus e dos vetores; eliminar plantas nativas e soqueira de batata que possam

abrigar o vírus e os vetores; plantar cultivares resistentes; eliminar plantas doentes (roguing) em

caso de produção de batata-semente; evitar o plantio de batata próxima a lavouras de tomate,

pimentão, pimenta e alface.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALLEN, C.; PRIOR, P.; HAYWARD, A.C. 2005. Bacterial wilt disease and the Ralstonia

solanacearum complex. APS Press. St. Paul, MN. 510 p.

BIGNELL, D.R.D; HUGUET-TAPIA, J.C.; JOSHI, M.V.; PETTIS, G.S.; LORIA, R. 2010.

What does it take to be a plant pathogen: genomic insights from Streptomycesspecies.

Antonie van Leeuwenhoek. DOI 10.1007/s10482-010-9429-1

CASTILLO, P.; VOVLAS, N. Pratylenchus (Nematoda: Pratylenchidae): Diagnosis, Biology,

Pathogenicity and Management. Nematology Monographs and Perspectives vº 6, Brill, Leiden

– Boston, 529p. 2007.

FRANK, J.A. Rhizoctoniacanker (Black Scurf). In: HOOKER, W.J. (ed.) Compendium of

potato diseases. St. Paul, APS, 1990. p.52-54.

KADO, C.I. 2010. Macerative diseases and their pathogens. p.103-130 in: Kado, C.I. Plant

Bacteriology. APS Press. St. Paul, MN. 336 p.

B A

Page 18: Doenças da batata (solanum tuberosum l.)

C.A.LOPES et al., 2014. Doenças da Batata. SOCIEDADE BRASILEIRA DE FITOPATOLOGIA (SBF)

18

LOENBENSTEIN, G.; BERGERM P.H.; VRUNT, A.A.; LAWSON, R.H. Virus and virus-like

diseases of potatoes and production of seed potatoes. Kluwer Academic Publishers, The

Netherlands.

LOPES, C.A. 2005. Murchadeira da batata. Publicação Técnica ABBA. Associação

Brasileira da Batata. Itapetininga, SP. 66 p.

NAZARENO, N.R.X.; JACCOUD FILHO, D.S. Doenças fúngicas. In: PEREIRA, A.S.;

DANIELS, J. O Cultivo da Batata na Região Sul do Brasil. Pelotas, Embrapa Clima

Temperado, 2003. p.239-276.

PINHEIRO, J.B.; LOPES, C.A. Manejo Integrado de nematoides em cultivos de batata. In:

Laércio Zambolim. (Eds.). Produção Integrada da Batata. 1ª ed.Viçosa - MG: Departamento

de Fitopatologia - UFV,v.2, p.69-94. 2011.

RODRIGUES NETO, J.; DESTÉFANO, S.A.L.; SHIMOYAMA, N. 2008. A sarna da batata

causada por Streptomyces spp. Publicação Técnica ABBA. Associação Técnica da Batata.

Itapetininga, SP. 32 p.

RODRIGUES, T.T.M.S.; BERBEE, M.L.; SIMMONS, E.G.; CARDOSO, C.R.; REIS, A.;

MAFFIA, L.A.; MIZUBUTI, E.S.G. First report of Alternaria tomatophyla and A. grandis

causing early blight on tomato and potato in Brazil. New Disease Reports, 22:28, 2010.

SINGH, R. P.; VALKONEN, J. P. T.; GRAY, S. M.; BOONHAM, N.; JONES, R. A. C.;

KERLAN, C.; SCHUBERT, J. Discussion paper: The naming of Potato virus Y strains infecting

potato. Archives of Virology, 153:1–13, 2008.

SOUZA DIAS, J.A.C. DE; IAMAUTI, M.T. Doenças da batateira. In: Kimati, H.; AMORIM, L.;

REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. Manual de Fitopatologia

Vol. 2 – Doenças das plantas cultivadas. São Paulo, 4ed. Ceres, 2005. p.119-142.

STEVENSON, W.R.; LORIA, R.; GARY D. FRANC, G.D.; WEINGARTNER, D.P.

Compendium of Potato Diseases.APS Press. 2013. 2.ed. 144p.

TOTH, I.K.; van der WOLF, J.M.; SADDLER, G.; LOJKOWSKA, E.; HÉLIAS, V.;

PIRHONEN, M.; TSROR, L.; ELPHINSTONE, J.G. 2011. Dickeya species: an emerging

problem for potato production in Europe. Plant Pathology, 60:385-399.

WARREN, M.; KRÜGER, K.;SCHOEMAN, A.S. Potato virus Y (PVY) and Potato leafroll

virus (PLRV): A South African perspective. University of Pretoria, South Africa. 2005. 32p.


Top Related