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Do Outro Lado do Mundo

Marcos Lira

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DO OUTRO LADO DO MUNDO

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OBRAS DO AUTOR

Evolução – Ed. Clip (2004)

Olhos – Ed. Voxxel (2004)

De l'autre côté du monde – Ed. Voxxel (2006)

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MARCOS LIRA

DO OUTRO LADO DO

MUNDO

EDITORA VOXXEL LTDA

Rua Rio Branco, 104

CEP 48.880-000

Santa Luz – BA

Fone – (75) 3265-2245

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Todos os direitos reservados ao autor

Capa

Marcos Lira

Revisão

Jussara Secundino

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DEDICATÓRIA

À minha mãe Loide Bastos de Lira que mesmo à

distância se faz constantemente protetora através de

suas orações.

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AGRADECIMENTOS

A professora Jussara Secundino, que dispensou

um pouco de seu precioso tempo para revisar e fazer

sugestões válidas e acatadas.

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APRESENTAÇÃO

Ao folhear essas páginas viajei por mundos e

sonhos distantes, embalada pelas poesias que estão

distribuídas nesses curiosos e significativos capítulos:

Vida - Amor - Luz.

Clenilda Lira

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PRÓLOGO

Estes são rabiscos guardados por muito tempo e

que agora vêm à superfície para desnudar os devaneios

da alma.

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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Índice

Capítulo Vida

11 – O Gorila Cabeludo

12 – O Amigo Urubu

13 – O Bebê Lagartixa

14 – Dor de sentimento

15 – Era outra vez...

16 – Desencontro

17 – Soneto para um

anjinho

18 – A pedra cósmica

21 – Cara de Bicho

23 – Bicho

24 – Nos bons momentos

Capítulo Amor

26 – Apaixonite aguda

28 – Reprovada

29 – Sonho

30 – Ciúme doentio

31 – Imaginação

32 – Engano

33 – Tanque Grande

34 – Luz

37 – Vem

38 – Do hades ao nirvana

Capítulo Luz

40 – Equilíbrio

41 – Rosana

42 – Carolina dos Olhos Rasos

43 – Sonho de criança

44 – Dia de festa

45 – Sonho distante

46 – Cenas

47 – Ciclo

48 – Contraste

49 - Revelação

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Capítulo Vida

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O GORILA CABELUDO

O Gorila Cabeludo

Joga pedra no bichinho

O Macaco Silvaninha

Trata a todos com carinho

O Gorila Cabeludo

Sempre fala palavrão

O Macaco Silvaninha

Brinca com o seu irmão

O Gorila Cabeludo

Nas crianças joga areia

O soldado Elefante

Leva preso pra a cadeia

O Macaco Silvaninha

Vai pra escola bem cedinho

Ele brinca e estuda

Junto com seu amiguinho

O Gorila Cabeludo

Esta triste e chorando

O Macaco Silvaninha

Fica alegre e cantando

Belo Horizonte, 20 de Julho de 2004

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O AMIGO URUBU

O amigo Urubu

Não gosta de trabalhar

Ele fica o tempo todo

Só brincando de voar

Só que quando vem a chuva

Não tem onde se abrigar

O macaco Silvaninha

Trabalhou o ano inteiro

E ficou muito feliz

Que ganhou muito dinheiro

Construiu a sua casa

Com a palha do coqueiro

O macaco Silvaninha

Enche a casa de comida

Depois come e vai brincar

O amigo Urubu

Sempre espera que alguém morra

Pra poder se alimentar

Santa Luz, 28 de agosto de 2004

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O BEBÊ LAGARTIXA

O menino lagartixa

Inda era um bebezinho

Quando acordou na noite

Viu que estava sozinho

Não vendo a sua mãe

Chorou muito amargurado

Pois pensou que ele estava

Para sempre abandonado

Subia pelas paredes

E andava pelo chão

Chorava com muito medo

De encontrar o Bicho Papão

Quando a porta se abriu

Ele foi se esconder

Com medo que fosse o bicho

Que viria lhe prender

Só que era sua mãe

Que trazia um presente

E o bebê Lagartixa

Já ficou muito contente.

Santa Luz, 28 de setembro de 2004

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DOR DE SENTIMENTO

Meu Papai, você não chora

Se o martelo fere o dedo,

Como eu choro se um amigo

Me toma algum brinquedo?

Essas dores eu não sinto

Tenho os pés presos ao chão

A dor que me leva ao pranto

É a que fere o coração

A saudade de um filho

O medo da rejeição

A partida inesperada

O sofrer pela paixão

Quando perco a esperança

Quando há decepção

Na angústia do desprezo

Com o horror da traição

Analisando o que sinto

Como agora você vê

Por motivos diferentes

Choro bem mais que você

Brasília, 09 de fevereiro de 2005

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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ERA OUTRA VEZ...

Terrível Monstro medonho

Que tocava sua lira

E inventava canções

Construiu o seu castelo

Com tijolos de mentira

No Alto das Ilusões

Nele morava uma fada

Rara beleza encantada

Das terras da Pura Dor

Que chorava amargurada

Pois fora aprisionada

E condenada ao amor

O salvador veio um dia

Do Reino da Convenção

E libertou a fadinha

Tudo que o pobre tinha

Acabando com a canção

Hoje ouço um lamento

Até me dá calafrio.

Sempre, pela madrugada,

Procurando sua amada

O Terrível Monstro vaga

Pelo pântano sombrio

Parauapebas, 16 de janeiro de 2006

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DESENCONTRO

Sol que resplandece

Quando a lua desce

Sem se encontrar

Lua amadurece

Já o sol esquece

De lhe esperar

A tristeza crua

Só, o Sol flutua.

De desencantar

Novamente a Lua

Vaga pela rua

A lhe procurar

Belo Horizonte, 27 de maio de 2005

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SONETO PARA UM ANJINHO

Um sorriso de afeto

Se tu olhas com firmeza

Reluz aura de franqueza

Contagia a quem s’tá perto

Estas réstias luminosas

Que contornam tuas asas

Envolvendo nossas casas

Viram plumas saborosas

Todos sabemos quem és

Por nós serás sempre amada

Ainda restam nos teus pés

Desta tua caminhada

Manchas brancas em anéis

Das nuvens de tua morada

Santa Luz, 11 de maio de 2000

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A PEDRA CÓSMICA

Mais de cem milhões de anos

Quando a terra era só

Como fogo vem do céu

Caiu levantando pó

Fez no chão uma cratera

A pedra de Bendengó

Com mais de cinco mil quilos

Dois metros de comprimento

De ferro, níquel e poeira

Ficou esquecida ao vento

Os cafundós da Bahia

Saíram do esquecimento.

Ano mil e setecentos

e oitenta e quatro exato,

Domingos Mota Botelho

Era um garoto de fato

Encontrou a pedra preta

No fundo de um regato

Pensando que era ouro

Depois de um ano afinal

Trinta homens da Coroa

Vinte juntas de animal

Arrancaram aquela pedra

Pra levar pra Portugal

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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Mas o eixo da carroça

Pegou fogo e ela caiu

No riacho Bendengó

E o povo desistiu

De levar para Lisboa

Ficando aqui no Brasil

Ela ali permaneceu

Esquecida no infinito

Por quase cento e três anos

Até que alguém tenha dito

Que aquela pedra preta

Era um meteorito

Só então Pedro Segundo

Que pediu ao engenheiro

José Carlos de Carvalho

A organizar um cruzeiro

Pra levar o meteorito

Para o Rio de Janeiro

No ano de oitenta e sete

Do século dezenove

Sobre um carretão de ferro

Finalmente ela se move

Por cento e vinte e seis dias

Na viagem que comove

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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A pedra caiu seis vezes

O eixo quatro quebrou

Cento e dezoito mil metros

Quando até ao trem chegou

Da estação Jacurici

Para o Rio viajou

O maior meteorito

Não saiu do seu canteiro

Lá na África do Sul

Querem conservá-lo inteiro.

O nosso de Bendengó

É o décimo primeiro

Sua grande importância

É que ele pode por certo

Explicar como a vida

Surgiu num mundo deserto.

Quando esteve no Brasil

Einstein quis vê-lo de perto

Do grande meteorito

A história aqui encerra

Quando acordaram do sonho

Aqueles que foram à guerra

E tentaram sem sucesso

Devolvê-lo a sua terra

Santa Luz, 21 de outubro de 2005

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CARA DE BICHO

Saiba que é bom ser bom

É natural ser feliz

Abra essa cara amarrada

E dobre a sua cerviz

Imponha a sua vontade

Sem nunca baixar o nível

A essência é perfeita

Mas a mente, corrompível

Mesmo buscando um direito

Fique livre da arrogância

Seja firme na postura

Sem perder a elegância

Abra o rosto num sorriso

Não se tranque no seu mundo

Atenção a um errante

O resgata lá do fundo

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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A paz, se compartilhada

Expande-se e contagia

E o mal se semeado

Também cresce e irradia

E quando surge um problema

Use da sabedoria

Contornando o sofrimento

Voltando a ter alegria

Retribui todo carinho

Que lhe tenham dedicado

Agradece a Deus e aos homens

Pelo que já lhe foi dado

Carajás, 21 de junho de 2004

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BICHO

Bicho é o que cata o lixo

Na madrugada vazia

Um preto alegre em sorriso,

Ou uma preta Maria

Quem não mandar, cata o lixo

O que é ruim, o que presta

O refugo precioso

A vida escura é uma festa

Há o que limpa e o que suja

O que na noite vigia

Outro na manhã acorda

É tudo pura alegria

Belo Horizonte, 24 de janeiro de 2002

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NOS BONS MOMENTOS

Ondas se espalham

Sobre o lençol

Alvo como o semblante

Da primeira impressão

Estremecendo quem fita

É o azedo sabor da uva

Gostoso gosto do pecado

Com uma pureza angelical

Que não fere o pudor

Melancólica como a triste

Trilha da alegria

Parece que nessa calada noite

Alguém canta um acalanto

Num tempo que leva o som

E a levada viola

Levada pelo tempo

Jorra dos dez metais

A água cristalina e doce

Das correntezas dos sonhos

Alagoinhas, 10 de outubro de 1998

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Capítulo Amor

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APAIXONITE AGUDA

Declarava guerra ao mundo

E vivia em paz comigo

Em meu peito, lá no fundo

Tinha um coração amigo

Este andava adormecido

Sem amor e sem maldade

Quando enfim foi sacudido

Por enorme tempestade

Eu sempre ganhava a luta

Agora me sinto frágil

Estou me afogando em culpa

Em meio a esse naufrágio

Ameaças da família

Desprezada, sem amigo

Bem longe do meu amor

Sofro só, só eu comigo

O parquinho perde a graça

A pracinha, o encanto

As piadas não me alegram

Eu mergulho em meu pranto

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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Preciso virar a mesa

Acalmar o vendaval

Vou erguer minha cabeça

Pois sofrer não é normal

Solto os laços do pudor

Rompo amarras da amizade

Corto o fio da angústia

Vou ganhar a liberdade

Quero asas, vou voar

Planar sobre esse problema

Já sem medo, sem remorso

Quem agora me condena?

Eu escolho o meu destino

Já não quero mais sofrer

Vou criar meu próprio mundo

Finalmente vou viver

Valente, 01 de junho de 2001

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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REPROVADA

Nenhum e-mail ainda,

Nenhum alô, é verdade

Aquele beijo roubado

Já perdeu a validade?

Ele é que mantém aceso

O fogo dessa paixão

Que se apaga com o tempo

Se não há renovação

E aquele amor eterno

Que abafou tua vaidade

Tão ligeiro se acabou?

Só estava em minha vontade?

Logo vi, é impossível

Dois se amarem mutuamente

Teu amor é indecência

Não é puro ou inocente

Se assim é que me vês

Não sou alguém que se assuma

Vou baixar a tua nota

Ver-te como qualquer uma

Arapiraca, 05 de maio de 2001

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SONHO

Sabe o que é olhar profundo

Sob o temor de sofrer

Bem no fundo de outros olhos

Sentindo o corpo tremer

Confessar uma verdade

Sem você não sei viver

Sabe o que é vencer o medo

De despir a emoção

Se entregar por inteiro

Ao risco de uma paixão

Uma alegria que envolve

Só de pensar, emoção.

Dando-se por sacrifício

Às loucuras desse bem

E obter por resposta

A todo amor que se tem

Em apenas um sussurro

Eu te amo assim também

Marabá, 05 de setembro de 2002

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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CIÚME DOENTIO

Dor na madrugada, medo

A negra cor da paisagem

A angústia do segredo

No horror dessa viagem

Tenho tudo, quero mais

Quero o que não é direito

Devaneios irreais

Quanta falta de respeito

Entro na intimidade

Vasculhando agenda e lixo

Fujo da realidade

Com a fúria de um bicho

O encanto desencanta

O amor já se complica

O ciúme alto canta

O terror que se pratica

A decepção domina

Apagando a ilusão

O ódio se dissemina

Chega a separação

Porto de Sauipe, 16 de janeiro de 2005

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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IMAGINAÇÃO

Uma vez imaginando

Sonho lindo de se ver

Eu me vi todo feliz

Encontrando com você

Subimos uma colina

Nossos corpos bem de perto

Soltos ao frescor da brisa

E ao silêncio do deserto

Ali nós nos entregamos

Entre as flores e o céu

O universo conspirava

Nos lambuzamos de mel

Assim o cansaço vence

Nos jogamos sobre o solo

Eu entregue ao prazer

Adormeci no teu colo

Volto agora à realidade

Que me tirou deste gosto

Acordei com as carícias

Dos teus dedos no meu rosto

Tua voz doce falou

Acorda, vamos descer

É distante esta colina

E começa a escurecer

Belo Horizonte, 11 de julho de 2002

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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ENGANO

Enganei-me totalmente

Quando disse que te amava

De todo meu coração

Hoje a espada do ciúme

Jorrou sangue do meu peito

Encharcou até o chão

Todo meu corpo estremece.

Vi que nenhum sentimento

Mora junto a tanta dor.

Mesmo trôpego, arrasado

Fui procurar em teus olhos

Pra onde foi esse amor

E vi que inabalável

Mora num lugar eterno

Envolto em toda calma.

Não era como eu pensava,

Eu descobri que eu te amo

Do fundo da minha alma

Santa Luz, 21 de julho de 2001

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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TANQUE GRANDE

Aqui que tudo acontece

Graças a todo sossego

O que eu gosto o que nem ligo

E o que eu morro de medo

Lembro que tinha um marco

Que emergia da água

E sucumbiu para sempre

Como tudo ele se acaba

Fruto de longa conquista

Solto às carícias do vento

Na madrugada sombria

Entrega-se o monumento

E a queda sangra em ondas

Num suspiro realizado

Proclamando aos quatro cantos

Está tudo consumado.

Santa Luz, 18 de novembro de 2001

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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LUZ

Amo você porque amo

Isso não pode mudar

É um sentimento puro

Que nunca vai acabar

Porém, se você me fita

Olhar brando e penetrante

A boquinha entreaberta

Num encanto radiante

Ou quando você não faz

O que lhe era normal

Só porque sem minha presença

Já não é mais tão “legal”

Ou ainda se você

Só por me considerar

Já mede cada palavra

Temendo me machucar

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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E se em silêncio e só

Sente o peso deste amor

Suporta adversidade

E não perde o fervor

Mas principalmente quando

Você diz que me adora

E até diz que me ama

Que é o ápice da glória

Nasce em mim um sentimento

Que é maior que o amor

Mais forte que a paixão

Perfeito, livre da dor

Pois tudo isso que sinto

Quando chega até você

Encontra seu sentimento

E só faz fortalecer

É um misto de amor

Felicidade, paixão

De respeito e compromisso

Da mais pura gratidão

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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É de um poder sem fim

Que transpõe toda barreira

Que nos leva ao encontro

De dimensão sem fronteira

Como uma nuvem suave

Flutua silenciosa

Sobrepõe a outra nuvem

Em carícia vagarosa

O encontro dos opostos,

Alegria de viver

Destinados a união

Fundidos em um só ser

Todos ouvem o trovão

Na explosão que se encerra

Que é vista como luz

Em toda a face da terra

Arapiraca, 08 de julho de 2001

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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VEM

Venha aqui, oh Luana

Você diz que me engana

Eu me deixo enganar

De andar quase nua

Já não saio na rua

Com medo de te encontrar

Acabou a paixão

Você sem compaixão

Suspendeu o carinho

Tô aqui, sem afeto

Vivendo no deserto

Sem saber qual o caminho

Vem me livrar da dor

Venha mesmo sem amor

Vem me dar só um beijinho

Não esqueço você

Não quero te perder

Me alegra um pouquinho

Vem me livrar da dor

Venha mesmo sem amor

Vem me dar só um pouquinho

Já sei quem é você

Não tem nada a perder

Vem, me cobre de beijinho

Carajás, 9 de dezembro de 2001

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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DO HADES AO NIRVANA

Eu tinha os pés no chão

Onde vi o amor nascer

Flutuamos em paixão,

Alegria a florescer

Mas o mel tornou-se amargo

O veneno destilava

Até se tornou um fardo

E assim nos separava

Tudo aos pés desmoronou

Mágoas e ressentimento

O vôo desgovernou

Culpa e arrependimento

Você me estendeu a mão

Num pedido de socorro

Pesava-lhe a solidão

Nos encontramos de novo

Nossos braços viram asas

Vivemos então pra amar

Estamos dentro de um sonho

E não quero acordar

Santa Luz, 23 de maio de 2001

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39

Capítulo Luz

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EQUILÍBRIO

Envolve-me com a alegria

Desta tua juventude

E te mostro que o pranto

Nos melhora em atitude

É poder absoluto

Se estás em evidência

Só que não escandaliza

O que vive com decência

É bonito quando danças

Ao som alto da canção

Recolhe-te no silêncio,

Depois em meditação

Tua vida é tão intensa,

Sempre com esse fervor

E te tornas mais bonita

Se tu andas com pudor

É bela tua energia

É grande tua beleza

Bebe da moderação

Alimenta a pureza

Arapiraca, 26 de Julho de 2001

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ROSANA

Acorrentada, abandonada, iludida

Amarga o dia sem o que seria amor

E humilhada, abatida por maus-tratos

Resolve agora se ver livre do terror

Silenciosa, cruza a porta, liberdade

Sai insegura dessa sua decisão

Senta na praça chora um pranto copioso

Enquanto a noite pesa sua escuridão

Um homem chega e discreto diz baixinho

“Chora tranqüila, velarei teu sentimento”

E permanece em silêncio a companhia

Vem o soluço, a madrugada, o sofrimento

Raiou o dia e com ele a esperança

Afastaria a injustiça e a dor

A nau a leva rumo à felicidade

Não desampara quem se faz merecedor

Volta-se ao banco grata pela companhia

Quer ela agora agradecer ao guardião

Resta uma réstia luminosa como um raio

Que se desloca ao infinito desde o chão

Belo Horizonte, 21 de junho de 2003

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CAROLINA DOS OLHOS RASOS

O meu mundo é assim,

Eu que traço meu caminho.

Nessa minha vida atéia,

No zumbido da colméia

Ou se me falta carinho,

Algum deus vela por mim.

Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2005

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SONHO DE CRIANÇA

A noite negra despenca dura na terra

Apaga as cores, as flores, a borboleta.

O coração endurecido se desterra

A esperança, abandonada na sarjeta

A ambição, inveja, ódio e o tormento

Condensam nuvens de pesar sobre cidade

O egoísmo, pai do descontentamento

Vem, desintegra os laços de fraternidade

As mãos suaves estendem-se em um apelo

A resgatar a alma que está perdida

E mergulhada em um denso pesadelo

Não acredita ainda possa haver saída

Mas esboçando um sorriso, a criatura

Conta seus sonhos de amor e alegria

Irradiando a aura d’uma alma pura

Convida a vida a viver um novo dia

Acreditando em idéias de nobreza

Que somos livres e os nossos sentimentos

Espargem pétalas de paz na natureza

Um novo mundo criado nos pensamentos

Aquele homem fica agora a contemplar

A inocente alvura de um coração

E passa de desiludido a acreditar

Que para o mundo há ainda salvação

Carajás, 04 de novembro de 2004

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DIA DE FESTA

E novamente a cidade está em festa

A euforia é que comanda a multidão

Hoje não quero fazer parte da alegria

Aqui estamos eu, você e a solidão

Trago-te flores para ornar tua morada

Agradecido por momentos de beleza

Que os teus pés quando bailavam nas calçadas

A mim mostravam como é rica a natureza

Hoje não danças como antes nestas festas

Fostes embora sem me dar explicação

Eu deposito as rosas, com dor e tristeza

Aqui na lápide cruel que enfeita o chão

Feira de Santana, 26 de junho de 2005

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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SONHO DISTANTE

Nas lembranças de um sonho

Flutuo por sobre mares

Atravessando desertos

E planando pelos ares

Do outro lado do mundo

O sorriso é alegria

Existe um abraço amigo

Um toque que arrepia

Uma Babel aos avessos

A linguagem universal

O amor, dança, tambores

O homem, o animal

A natureza intocada

Floresce, uma homenagem

O Sol que desperta o leito

Sorri abrindo passagem

A saudade aperta o peito

Que pranto, tanto chorou

Quando os olhos denunciam

O sonho não acabou

Com um beijo carinhoso

De sentimento profundo

Vem, me mostra. Existe vida

Do outro lado do mundo?

Franceville, 13 de novembro de 2005

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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CENAS

Atuando neste palco

Rindo com a alma em pranto

Chorando pela alegria

E espalhando o meu canto

Já fui bom, já fui eu

Já fui tudo, já fui mau

Recebendo dessa gente

Os aplausos do final

Pedindo a compreensão

Enquanto o ator aqui fala

O mundo gira ao contrário

E a platéia se cala

A poucos metros do pano

Que encobre a realidade

Onde os problemas da vida

Sufocam a vaidade

Pojuca, 29 de Janeiro de 1983

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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CICLO

O sol brilha para a caridade

E arde sobre a tirania.

A noite embala o sono dos piedosos,

Oculta os fantasmas dos carrascos

E conduz à reflexão os arrependidos.

A aurora traz a satisfação de servir,

A oportunidade da redenção

Ou o prazer sádico da intolerância.

O dia constrói os sonhos.

...ou os pesadelos.

Belo Horizonte, 17 de novembro de 2004

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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CONTRASTE

Cai a noite sobre o mar

Acende a luz na cidade

A jangada sobre a areia

Guarda os livros, liberdade

Passos leves, pés desnudos

Sobre o mármore polido

Pés descalços sobre a areia

Passo firme e decidido

Veste o que tem de mais simples

No horizonte observar

A casa do jangadeiro

Na penumbra à beira do mar

A melhor roupa da mala

Sai do mundo marginal

Na cidade é encanto

O palácio de cristal

Que beleza a união

Não lhes falta o carinho

Não lhes faltam luxo e pão

Tudo é fácil em seu caminho

Como é bom ter a riqueza

Ter paz é necessidade

Viver é a abundância

Que feliz simplicidade

Paragominas,22 de agosto de 2004

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Do outro lado do mundo Marcos Lira

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REVELAÇÃO

Minha louca e insana insensatez

Asa Mágica da imaginação

Mãe bondosa, dona da sabedoria

És rainha de progresso e emoção

Este reino de poder e equilíbrio

Em seu teto pai, eu sinto proteção

O amor se incerto é inquietante

Mas na estrada volto à realização

O clamor por justiça na disputa

É o retorno de quem foi pra solidão

A fortuna fatalmente bate à porta

É a força natural da sedução

Destrói-se o que trai, ele é traído

Sua morte traz a regeneração

Em um tempo que tempera a paciência

O diabo vem com a dominação

Todo o sonho do castelo é destruído

Esperança na luz da imensidão

Quando negra é a noite de perigo

Raia o sol com a glorificação

Quando julgo tudo ter se revelado

Em um mundo só de realização

Minha louca e insana insensatez

Abre as asas, voa na imensidão

Paragominas, 20 de fevereiro de 2005


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