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Page 1: Do desemprego juvenil a empregabilidade

Do desemprego juvenil à empregabilidade por meio da aquisição de competências: a subsunção da educação à produção

capitalista.

I Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica

CEFET-MG – Belo Horizonte - MG

Valéria BOLOGNINI Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET-MG

Maria Aparecida da SILVAProfessora do Mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG

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A categoria JuventudeA categoria juventude é de difícil definição se considerado o caráter transitório da condição de jovem (Karl Mannheim, estudos sobre juventude no final da década de 60).

Entretanto, estudar os jovens somente a partir desse caráter de transitoriedade é uma atitude questionada pelo psicólogo e educador Juarez Dayrell (2003), que vê na proposta de transitoriedade dessa fase de vida uma negação do presente vivido pelo jovem como espaço-tempo de formação.

Sendo uma categoria definida histórica e socialmente, não possui caráter universal, homogêneo ou estável. Mesmo que considerado o recorte etário como delimitação inicial, essa delimitação não pode ser considerada somente a partir de sua dimensão biológica, pois são diversos os fatores sociais que definem a entrada na vida adulta.

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Para Dayrell, a “juventude é, ao mesmo tempo uma condição social e um tipo de representação”.

Conjugado as mudanças físicas (maturação biológica) que marcam os ciclos da vida, as mudanças afetivas, de referenciais relacionais, sociais e culturais, devem ser consideradas.

Segundo Marília Sposito, as etapas que marcam a entrada do jovem na vida adulta são:

1. a separação da família de origem,

2. o inicio da vida profissional e

3. a formação de um casal.

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Seguindo somente estes critérios, teríamos no Brasil, dois segmentos de jovens bastante distintos:

o das classes populares, caracterizado pelo reino da necessidade e pelas condições precárias de sobrevivência familiar, que o impulsiona precocemente para o trabalho e a vida sexual/matrimonial; e

o das classes médias e altas, caracterizado pela moratória social que retarda seu ingresso no mundo adulto, principalmente no mundo profissional.

Dessa forma, outros critérios devem ser considerados para a delimitação da juventude enquanto categoria de análise.

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Do desemprego juvenil à empregabilidade por meio da aquisição de competências:

a subsunção da educação à produção capitalista.

Do desemprego juvenil à empregabilidade por meio da aquisição de competências:

a subsunção da educação à produção capitalista.

Do desemprego juvenil à empregabilidade por meio da aquisição de competências:

a subsunção da educação à produção capitalista.

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Do desemprego juvenilDe acordo com dados do DIEESE (2006), a população jovem, de 16 a 24

anos, quando ocupada, tem sua inserção marcada pela falta de

oportunidades expressa no desemprego juvenil.

Essa falta de oportunidades se reflete na falta de perspectivas

profissionais para os jovens, principalmente entre aqueles das classes

sociais populares. É importante destacar que esse desemprego juvenil

apresenta uma especificidade em relação ao desemprego dos outros

segmentos populacionais, pois a juventude é uma fase da vida marcada

pela cobrança de participação ativa na renda familiar (principalmente

entre os jovens das famílias de classes sociais populares nas quais o

trabalho aparece como uma obrigação necessária) e pela cobrança de

projeção e construção de um futuro profissional (principalmente entre

os jovens das famílias de classe média).

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Nesta fase da vida, as necessidades de adaptação interior e exterior, em

um mundo de rápidas transformações, se apresentam de forma intensa e

um tanto caótica ao jovem, futuro adulto-trabalhador. As conseqüências

dessa adaptação à formação da consciência do indivíduo social, sua forma

de ser e viver no mundo, até então são pouco conhecidas.

OBJETIVO: compreender como, em uma contemporaneidade fragmentada em múltiplas vivências e experiências, o desemprego juvenil e o conceito de empregabilidade incidem sobre a percepção, a ação e a identidade desses jovens trabalhadores.

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Centralidade do trabalho e precarização das relações produtivas:

as juventudes desempregadas.

Belo Horizonte – assim como São Paulo e o Distrito Federal – tem taxas de participação desse segmento populacional (jovens de 16 a 24 anos) superiores ao segmento da população acima de 25 anos.

Em Belo Horizonte a taxa de participação dos jovens de 16 a 24 anos, em 2005, era de 70,6%, enquanto para a população de 25 anos ou mais a taxa de participação estava em 65,4%.

Isso indica que os jovens buscam uma oportunidade de trabalho, sendo, entretanto, mais afetados pela desigualdade do mercado de trabalho.

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As juventudes desempregadas.O relatório “Trabalho decente e juventude na América Latina”, com o perfil do jovem latino-americano em relação ao desemprego, à informalidade e à inatividade, divulgado em outubro de 2007 pela OIT, aponta que 16% da força de trabalho entre 16 e 24 anos da América Latina está desempregada, sendo que no Brasil, constatou-se que 4,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não trabalham, não estudam e não possuem o ensino fundamental completo.

Já o “Informe do Desenvolvimento Juvenil” elaborado pelo psicólogo Jorge Werthein, da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla), aponta para um total de sete milhões de brasileiros fora do sistema escolar e sem emprego.

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A vulnerabilidade deste segmento populacional é comprovada pelo alto desemprego dos jovens, sendo que, em 2005, a taxa de desemprego dos trabalhadores de 16 a 24 anos era de 30,5% em Belo Horizonte, e de 11,2 % para a população acima de 25 anos (DIEESE, 2006).

informalidade no mercado de trabalho brasileiroque, de acordo com Richard Sennett, repercute negativamente no cotidiano dos trabalhadores, fazendo-os vivenciar situações de insegurança e instabilidade.

Esse quadro é agravado pela:

baixa remuneração que este segmento populacional recebe pelo seu trabalho.

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As juventudes desempregadas.

De acordo com os estudos feitos por José Machado Pais e Yves Clot entre jovens europeus, as dificuldades de acesso dos jovens ao trabalho e emprego, com a precarização dos postos de trabalhos ocupados por este segmento populacional, os leva a uma “marginalização objetiva”, caracterizada pelo afastamento ou recusa do trabalho.

Para Heloísa Martins, essa avaliação negativa estaria atrelada a “uma avaliação realística de suas chances no mercado de trabalho”

Já Bajoit e Franssen apontam para a “emergência de novas orientações com relação ao trabalho” que levam os jovens franceses a utilizar de diferentes estratégias para a gestão de sua insatisfação profissional. A principal destas estratégias seria o “trabalho desinvestido”.

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Na contra-mão das pesquisas que defendem a decrescente importância do trabalho para a constituição identitária do jovem está o estudo “Perfil da Juventude Brasileira” realizado por Nadya Araújo Guimarães com jovens brasileiros com idades entre 15 e 24 anos,

Os dados desta pesquisa demonstram que

17% dos jovens entrevistados destacam o trabalho como fonte de preocupações e interesses, a frente inclusive da educação.

26% dos entrevistados destacaram o trabalho como o maior problema que vivenciam

28% dos entrevistados colocaram o desemprego como o assunto que mais os preocupa.

Para esta pesquisadora, a centralidade do trabalho está na necessidade dele, seja enquanto direito ou ainda enquanto condição de vida.

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Educação das classes trabalhadoras no capitalismo globalizado:as juventudes em busca da empregabilidade.

O aumento de jovens inativos faz crescer a preocupação de desagregação social, que é combatida por meio de programas públicos para inserção e formação profissional (DIEESE, 2006). * Programa Primeiro Emprego do Governo Federal, que tem por objetivo contribuir para a geração de oportunidades de trabalho decente para a juventude brasileira. * Programa Jovens Protagonistas, um dos cinco Eixos considerados estratégicos pelo Estado Mineiro, com o objetivo de organizar ações dirigidas à juventude, aumentar o percentual de jovens que concluem o ensino médio e ampliar suas oportunidades de inclusão no mercado de trabalho, por meio do empreendedorismo.

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Os jovens nascidos a partir do final dos anos 80, mas principalmente àqueles nascidos na década de 90, foram alvo de uma política educacional de massa, que buscava, de forma compulsória, ampliar o tempo escolar das novas gerações de cidadãos-trabalhadores. A mediação realizada pela educação pública para a formação de uma mão-de-obra adequada ao desenvolvimento econômico da nação, mas principalmente a conformação dos trabalhadores-livres às indulgências do capital foi marcante neste período.

Gaudêncio Frigotto aponta para o fato que “os atributos mais valorizados nos trabalhadores relacionam-se à conteúdos desenvolvidos pela educação geral.

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Para Acácia Kuenzer, o novo discurso para a educação dá ênfase á

formação de profissionais flexíveis, que acompanhem as rápidas

mudanças tecnológicas em curso. Essa mudança de foco se verifica

pela substituição da formação especializada dos cursos

profissionalizantes pela formação adquirida por intermédio da

escolarização ampliada, passando para a educação básica o papel de

assegurar os conhecimentos que fundamentam as práticas sociais e

desenvolver competências que possibilitem “aprender ao longo da

vida”, proposta de caráter central na pedagogia da acumulação flexível.

Dentro do contexto macro econômico-social do capitalismo globalizado, a formação de um trabalhador polivalente, participativo, com elevada capacidade de abstração e decisão decorre das novas necessidades do capital diante do alto desenvolvimento tecnológico das forças produtivas que o mantém (FRIGOTTO, 2000).

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As juventudes em busca da empregabilidade.

Novos conceitos são incorporados aos de produtividade e qualidade. Uma nova linguagem é instituída, rearticulando os interesses burgueses em torno da escolarização ampliada da classe trabalhadora. Surge assim, a noção de empregabilidade, considerada como uma preparação, uma capacitação contínua para a manutenção ou obtenção de um emprego (OLIVEIRA, 1999).

A empregabilidade nesse contexto, diz respeito às competências de um indivíduo em se adequar ao novo, dispondo de suas habilidades e conhecimentos para o desenvolvimento da produção. Cada vez mais o trabalhador deve se mostrar disposto a aprender, a adaptar-se à dinâmica produtiva das empresas e das sociedades capitalistas, numa relação de subordinação à lógica do capital.

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Conjuntamente com a noção de empreendedorismo, a

empregabilidade assume uma dimensão ideológica ao individualizar

e subjetivizar os controles e a domesticação da produção material e da

organização da vida social.

Busca de adequar as classes trabalhadoras às novas formas de trabalho

e gestão produtiva impostas como solução à crise de acumulação vivida

pelo capital após a década de 70.

Encaminha os jovens em formação para uma nova cultura do trabalho,

que os adapte ao desemprego, à insegurança e aos riscos, à

volatibilidade e à flexibilidade na gestão da força de trabalho, que

caracterizam o mercado de trabalho do capitalismo globalizado.

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Subsunção da educação à produção? ou Será possível um projeto alternativo para a educação dos jovens trabalhadores?

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Se o trabalho assume formas e significados específicos em cada

período histórico e em cada sociedade, a sua compreensão depende

da análise das formas como ele é objetivamente aplicado, suas inter-

relações, sua natureza e principalmente como se dá a formação das

classes trabalhadoras. Considerado de tal forma, os diversos

trabalhos constituem formas distintivas de sociabilidade, classe

e cultura, articulando simbolicamente, economicamente e

estruturalmente as identidades das classes sociais e dos

indivíduos que vivem em determinada sociedade.

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Cabe-nos questionar como, além das velhas questões da relação

trabalho/educação ainda não superadas pelo regime capitalista,

outras questões – estas sim novas – que buscam subordinar o

indivíduo à produção e ao consumo, e mais, subordinar os

pensamentos, ações e comportamentos à lógica capitalista do

lucro, se constituem como questões de pesquisa na busca de

apreender o papel da formação humana e da escolarização

nas transformações da vida social.

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Faz-se necessário apreender os valores e representações que

permeiam o imaginário das juventudes trabalhadoras em relação ao

mundo escolar e ao mundo profissional diante das recentes

transformações ocorridas nos processos e organização do trabalho.

Principalmente conhecer suas expectativas de vida e futuro, buscando

apreender a real demanda de formação humana, cidadã e

profissional que deve orientar uma proposta alternativa de educação

para as classes trabalhadoras.

Uma proposta de educação para a classe trabalhadora, no moldes

propostos por Gramsci e por outros teóricos, que tem o trabalho

como principio educativo, mas principalmente, como potência de

transformação do mundo.

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FRAYSSINET, Fabiana. Jovens à margem da sociedade. Revista Fórum, 2007.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Globalização e crise do emprego: mistificações e perspectivas da formação técnico-profissional. Anais do XIII Congresso Brasileiro de Sociologia, Recife, junho de 2007.

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OLIVEIRA , Ramon de. Empregabilidade e competência: conceitos novos sustentando velhos interesses. Revista Trabalho & Educação, Belo Horizonte, NETE-FaE/UFMG, n. 5, jan-jun, 1999. p. 51-63.

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2002. 204 p.

SPOSITO, Marilia Pontes. Estudos sobre juventude em educação. Revista Brasileira de Educação, nº 5. Set-dez, 1997. P. 37-52.


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