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    CMARA DOS TCNICOS OFICIAIS DE CONTAS

    Dissoluo, Liquidao, Fuso e Ciso de Sociedades

    Comerciais

    Amndio Silva Joo Antunes Paula Franco

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    LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

    CC Cdigo Civil

    CIMT Cdigo do Imposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas

    de Imveis

    CIRE Cdigo da Insolvncia e Recuperao de Empresas

    CIRS Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas

    Singulares

    CIRC Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

    CIVA Cdigo do Imposto sobre o Valor Acrescentado

    CIS Cdigo do Imposto do Selo

    CPA Cdigo de Procedimento Administrativo

    CPC Cdigo do Processo Civil

    CRC Cdigo do Registo Comercial

    CRP Constituio da Repblica Portuguesa

    CTOC Cmara dos Tcnicos Oficiais de Contas

    LGT Lei Geral Tributria

    IMI Imposto Municipal sobre Imveis

    IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

    IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    IS Imposto do Selo

    IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado

    PEC Pagamento Especial por Conta

    RGIT Regime Geral das Infraces Tributrias

    ROC Revisor Oficial de Contas

    STA Supremo Tribunal Administrativo

    TOC Tcnico Oficial de Contas

    UC Unidade de Conta

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    ndice

    1. Dissoluo de Sociedade Comerciais 1.1. Definio 9 1.2. Causas de Dissoluo Imediata 10 1.3. Causas de Dissoluo Administrativa 11 1.4. Causas de Dissoluo Oficiosa 12 2. Liquidao de Sociedades Comerciais 13 2.1. Conceito 13 2.2. Processo de Liquidao 14 2.2.1 1 Passo Nomeao de Liquidatrios 14 2.2.1 2 Passo Liquidao do Passivo Social 15 2.2.1 3 Passo Apresentao de Contas Finais e Deliberao de Scios 15 2.2.1 4 Passo Partilha do Activo Restante 16 2.2.1 5 Passo Registo Comercial da Liquidao 16 2.2.6. Aces Pendentes, Activos e Passivos Supervenientes 17 3. PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DE DISSOLUO E LIQUIDADAO DE ENTIDADES COMERCIAIS 18 3.1. Procedimento administrativo 18 3.1.1 mbito de aplicao 18 3.1.2. Incio Voluntrio do Procedimento 20 3.1.3. Indeferimento Liminar 21 3.2. Inicio Oficioso de Procedimento 22 3.3. Participao da Entidade Comercial e dos Interessados 24 3.3.1. Procedimento Voluntrio 24 3.3.2. Procedimento Oficioso 25 3.3.3. Deciso e Registo Definitivo 26 3.4. Procedimento Administrativo de Liquidao 28 3.4.1. Procedimento Voluntrio 28 3.4.2. Procedimento Oficioso 30 3.5. Participao da Entidade Comercial e dos Interessados 32 3.6. Operaes de Liquidao 32 3.7. Regime Especial de Liquidao Imediata 35 3.8. Encerramento da Liquidao 36 4. Procedimento Especial de Extino Imediata de Entidades Comerciais (cessao na hora) 37 4.1 Extino de dividas da Sociedade 39 5. Tratamento Contabilstico e Fiscal 40 5.1 As Operaes de Liquidao 40 5.2 Os movimentos Contabilsticos 42

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    5.3 O Caso Particular dos Suprimentos 46 5.3.1 - 1 Cenrio Reembolso dos Suprimentos 47 5.3.2 - 2 Cenrio No Reembolso dos Suprimentos 47 5.4 Partilha: Valor a Considerar e Tributao 48 5.4.1Tratamento Fiscal em Sede de IRC 48 5.4.2 Tratamento Fiscal em Sede de IRS 50 5.4.3 Tratamento Fiscal em Sede de IVA 53 5.5 Obrigaes Declarativas 56 5.6 Pagamento Especial por Conta 58 5.6.1 Reembolso 58 5.6.2 Obrigatoriedade de Pagamento 58 5.7 O Caso Particular da Reduo do Capital Social 59 5.8 O Decreto Lei 64/2009 de 20 de Maro 61 5.9 Casos Prticos 63 1 Caso Partilha em Dinheiro 63 2 Caso Partilha em Dinheiro com um Imvel 65 3 Caso O Caso Especial dos Suprimentos 68 4 Caso Liquidao de Empresa com Pagamentos Especiais por Conta a Deduzir 70 5 Caso Balano de Liquidao sem Partilha pelos Scios 72 6 Caso Liquidao de Empresa com Passivo a distribuir pelos Scios 73 7 Caso Liquidao com Cedncia de Dvidas dos Clientes para os Scios 76 8 Caso Liquidao em que houve entradas em dinheiro e incorporao de Reservas 77 9 Caso Reduo do Capital Social numa Situao de Prejuzos Avultados 80 6. Fuso e Ciso 82 6.1 Introduo 82 6.2 Fuses 83 6.2.1. Conceitos 84 6.2.2 Projecto de Fuso 87 6.2.3 Oposio dos Credores 90 6.2.4 Reunio da Assembleia Geral 91 6.2.5 Direito de Exonerao do Scio 93 6.2.6. Registo da Fuso 94 6.2.7 Tratamento Fiscal em Sede de IRC 95 6.2.7.1 Data de Produo de Efeitos Fiscais 100 6.2.7.2Obrigaes Declarativas 102 6.2.8. Tratamento Fiscal em Sede de IVA 102

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    Casos Prticos n. 1 105 6.2.9 Tratamento Fiscal em Sede de IMT 107 6.2.10 Tratamento Fiscal em Sede de Imposto de Selo 108 6.2.11 Contabilizao 109 Caso Prtico n. 2 114 Caso Prtico n. 120 Casos Prticos Disponveis no SITOC 127 7. Ciso 144 7.1 Conceito e Modalidades 144 7.2 Processo de Ciso 145 7.2.1 Ciso Simples 147 7.2.2 Cisso Dissoluo 149 7.2.3 Cisso Fuso 150 7.3 Enquadramento fiscal 151 7.3.1Tratamento Fiscal em sede de IVA 155 7.4 Responsabilidade pelas Dividas 156 Caso Prtico 157

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    INTRODUO Num mundo em mutao e confrontado com uma crise econmica sem

    precedentes, as empresas enfrentam novos e complexos desafios que exigem

    uma forte capacidade de adaptao s novas realidades.

    Em situaes de crise ou mudana de paradigmas econmicos, as estatsticas

    demonstram um aumento de casos de dissoluo e liquidao mas tambm

    movimentos de associao entre empresas ou reestruturao atravs de

    fuses ou cises.

    Nestes processos, os TOC, enquanto parceiros privilegiados dos actores

    econmicos, tm um papel fundamental quer enquanto garantes da

    regularidade dos procedimentos contabilsticos e fiscais quer enquanto

    consultores nas reas da sua formao.

    As matrias que estudaremos no presente Manual relativas dissoluo,

    liquidao, fuso e ciso, pela sua complexidade, exigem de todos um esforo

    de conhecimento e actualizao permanente. Com efeito, poucas sero as

    matrias com to profundas implicaes societrias, contabilsticas e fiscais.

    Nos ltimos anos, estas matrias foram tambm objecto de alteraes

    legislativas relevantes com o objectivo de simplificao, alterando as regras

    existentes ou, nalguns casos, criando novos procedimentos, especialmente nas

    matrias da dissoluo e liquidao de sociedades, factos que, naturalmente,

    suscitam dvidas e criam novas exigncias.

    Com vem sendo apangio dos Manuais da CTOC, alm do estudo da matria

    nas suas variadas vertentes, o presente Manual apresenta vrios exemplos

    prticos que, cremos, contribuiro para uma melhor compreenso das

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    matrias. Neste mbito, no podemos deixar de destacar, o acervo de doutrina

    e situaes prticas que o SITOC nos disponibiliza para consulta.

    Pela extenso das matrias estudadas, o Manual est dividido em duas partes:

    na primeira, so estudadas, de forma integrada, a dissoluo e liquidao das

    sociedades comerciais; na segunda, feita uma descrio do processo de

    fuso e liquidao de sociedades nas suas variadas vertentes.

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    1. DISSOLUO DE SOCIEDADES COMERCIAIS

    1. 1 Definio

    Contrariamente ideia, mais ou menos enraizada, de que a dissoluo

    corresponde morte de uma entidade comercial, a dissoluo no tem como

    fim a sua extino mas apenas a sua modificao tendo em vista a liquidao.

    Conforme refere o artigo 146. do Cdigo das Sociedades Comerciais (CSC),

    com a dissoluo, a sociedade entra imediatamente em liquidao. Dito de

    outro modo, a dissoluo um passo num processo que visa, no final, a

    extino da sociedade. No entanto, a lei prev expressamente a possibilidade

    de a sociedade retomar a actividade.

    Ainda que estejamos perante um mero acto modificativo da sociedade, a

    importncia da sua natureza e funo obriga a uma cuidadosa regulamentao

    e tipificao legal das suas causas e procedimentos para proteco da prpria

    sociedade, dos seus scios e, principalmente, de terceiros.

    O processo de dissoluo das sociedades comerciais est previsto no captulo

    XII (141. a 145.) do Cdigo das Sociedades Comerciais.

    Na actual redaco do Cdigo das Sociedades Comercias, temos trs tipos de

    causas de dissoluo: (i) dissoluo imediata, (ii) dissoluo administrativa ou

    por deliberao dos scios e (iii) dissoluo oficiosa1.

    1 Redaco introduzida pelo Decreto-Lei n. 76-A, de 29 de Maro.

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    1.2 Causas de dissoluo imediata

    As causas de dissoluo imediata esto expressamente previstas no contrato

    de sociedade ou na lei.

    Nos termos do n. 1 do artigo 141., as causas legais de dissoluo imediata

    so:

    a) O decurso do prazo fixado no contrato;

    b) A deliberao dos scios;

    c) A realizao completa do objecto contratual;

    d) A ilicitude superveniente do objecto contratual;

    e) A declarao de insolvncia da sociedade.

    As causas previstas nas alneas b) e e) produzem efeitos automticos. Nos

    casos das alneas a), c) e d), os scios podem deliberar, por maioria simples

    dos votos presentes na assembleia, o reconhecimento da dissoluo e, bem

    assim, pode qualquer scio, sucessor de scio, credor da sociedade ou credor

    de scio de responsabilidade ilimitada promover a justificao notarial ou o

    procedimento simplificado de justificao (n. 2 do artigo 141. do CSC). Esta

    deliberao no se confunde com a deliberao dos scios prevista na al. b).

    Neste caso, trata-se, to s, de reconhecer a causa de dissoluo.

    A dissoluo da sociedade comercial por deliberao dos scios (al. b) do n. 1

    do artigo 141. do CSC) est sujeita s maiorias exigidas para as modificaes

    dos estatutos: nas sociedades em nome colectivo, a deliberao deve ser

    tomada por unanimidade; nas sociedades por quotas, por maioria de trs

    quartos (n.s 1 e 3 do artigo 265. do CSC); para as sociedades annimas por

    maioria de trs quartos quer a sociedade rena em primeira ou segunda

    convocatria, salvo se, na segunda convocatria, estiverem presentes ou

    representados accionistas detentores de, pelo menos, metade do capital social,

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    caso em que a deliberao pode ser tomada pela maioria dos votos emitidos

    (n.s 3 e 4 do artigo 386. do CSC); por ltimo, nas sociedades em comandita

    simples, a deliberao dever ser aprovada por unanimidade pelos scios

    comanditados e pelo voto dos scios comanditrios que representem, pelo

    menos, dois teros do capital (artigo 476. do CSC).

    A deliberao de dissoluo da sociedade no est sujeita a qualquer forma

    especial (dispensa de escritura pblica). A administrao da sociedade ou os

    liquidatrios devem requerer a inscrio da dissoluo no servio do registo

    competente e qualquer scio tem esse direito, a expensas da sociedade.

    1.3 Causas de dissoluo administrativa

    As causas legais de dissoluo administrativa so (artigo 142. do CSC):

    a) Quando, por perodo superior a um ano, o nmero de scios for inferior

    ao mnimo exigido por lei, excepto se um dos scios for o Estado ou entidade a

    ele equiparada por lei para esse efeito;

    b) Quando a actividade que constitui o objecto contratual se torne de facto

    impossvel;

    c) Quando a sociedade no tenha exercido qualquer actividade durante

    cinco anos consecutivos;

    d) Quando a sociedade exera de facto uma actividade no compreendida

    no objecto contratual.

    Verificada uma destas causas, os scios podem deliberar, por maioria absoluta

    dos votos expressos na assembleia, a dissoluo da sociedade com esse

    fundamento.

    O CSC estabelece em disposies dispersas outras causas de recurso ao

    procedimento administrativo de dissoluo a requerimento dos interessados,

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    nomeadamente (i) Falta de amortizao de quota quando os sucessores do

    scio tiverem esse direito (n. 2 do artigo 226.); (ii) Impossibilidade de

    pagamento da contrapartida da exonerao do scio (artigo 240. n. 6); (iii) e

    falta de remisso de aces (n. 10 do artigo 345.)2.

    1.4 Causas de dissoluo oficiosa

    De acordo com o artigo 143. do CSC, o procedimento administrativo de

    dissoluo instaurado oficiosamente quando:

    a) Durante dois anos consecutivos, a sociedade no tenha procedido ao

    depsito dos documentos de prestao de contas e a administrao tributria

    tenha comunicado ao servio de registo competente a omisso de entrega da

    declarao fiscal de rendimentos pelo mesmo perodo;

    b) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a ausncia de actividade efectiva da sociedade, verificada nos

    termos previstos na legislao tributria;

    c) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a declarao oficiosa da cessao de actividade da sociedade, nos

    termos previstos na legislao tributria.

    Atendendo a que o procedimento oficioso est regulado em diploma prprio,

    estudaremos mais adiante o novo Regime Jurdico dos Procedimentos

    Administrativos de Dissoluo e Liquidao de Entidades Comerciais.

    2 Neste sentido, ANTNIO PEREIRA DE ALMEIDA, Sociedades Comerciais, Coimbra Editora, 2006, p. 730.

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    2. LIQUIDAO DE SOCIEDADES COMERCIAIS

    2.1 Conceito Conforme refere Raul Ventura, a palavra liquidao usada em dois sentidos:

    (i) como situao jurdica da sociedade, aps a dissoluo e (ii) como

    processo, isto , srie de actos a praticar durante aquela fase.

    Aceite este duplo sentido, a sociedade em liquidao mantm a personalidade

    jurdica e, salvo expressa determinao legal, continuam a ser-lhe aplicveis,

    com as seguintes adaptaes, as disposies que regem as sociedades no

    dissolvidas.

    Com a dissoluo, firma da sociedade deve ser aditada a meno sociedade

    em liquidao ou em liquidao.

    Se data da dissoluo, a sociedade no tiver dvidas, os scios podem

    proceder partilha imediata do activo da sociedade na graduao estabelecida

    no artigo 156. do CSC. As dvidas fiscais ainda no liquidadas ou exigveis

    no obstam partilha mas por estas dvidas ficam responsveis ilimitada e

    solidariamente todos os scios.

    Outra alternativa de liquidao imediata a transmisso global de todo o

    patrimnio, activo e passivo, da sociedade para algum ou alguns scios,

    entregando dinheiro aos restantes. Para poder ser aceite, a transmisso deve

    ser precedida de acordo escrito.

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    2.2 Processo de liquidao Antes do incio das operaes de liquidao da sociedade, devem ser

    organizados e aprovados os documentos de prestao de contas da

    sociedade, reportados data da dissoluo. Caso a administrao no cumpra

    este dever no prazo de 60 dias, competir aos liquidatrios apresentar as

    contas.

    Com o objectivo de evitar o arrastamento do processo de liquidao, o artigo

    150. do CSC determina que a liquidao deve ser encerrada e a partilha

    aprovada no prazo de dois anos, prorrogvel, por deliberao dos scios, por

    mais uma ano. O incumprimento destes prazos constitui fundamento para

    promoo oficiosa da liquidao administrativa.

    2.2.1- 1 Passo - Nomeao de liquidatrios

    Na falta de expressa disposio estatutria ou deliberao em sentido diverso,

    so liquidatrios da sociedade os administradores.

    Havendo mais do que um liquidatrio, qualquer um deles tem poderes iguais e

    independentes para os actos de liquidao, salvo quanto alienao de bens

    da sociedade em que necessria a interveno de, pelo menos, dois

    liquidatrios.

    Aos liquidatrios so, em geral, conferidos os mesmos poderes e deveres dos

    administradores, competindo-lhe: (i) ultimar os negcios pendentes; (ii) cumprir

    as obrigaes da sociedade; (iii) cobrar os crditos da sociedade; reduzir a

    dinheiro o patrimnio residual; (iv) propor a partilha dos haveres sociais.

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    Por deliberao dos scios, o liquidatrio pode ser autorizado a (i) continuar

    temporariamente a actividade anterior da sociedade; (ii) contrair emprstimos

    necessrios efectivao da liquidao; (iii) proceder alienao em globo do

    patrimnio da sociedade; (iv) e proceder ao trespasse do estabelecimento da

    sociedade.

    Anualmente, os liquidatrios devem prestar, nos trs primeiros meses do ano

    civil, contas da liquidao, as quais devem ser acompanhas por um relatrio

    pormenorizado do estado da liquidao.

    Em qualquer momento e sem pendncia de justa causa, podem os scios

    destituir os liquidatrios e nomear novos liquidatrios, em acrscimo ou em

    substituio dos existentes.

    2.2.1 2 Passo - Liquidao do passivo social

    Os liquidatrios devem pagar todas as dvidas da sociedade para as quais seja

    suficiente o activo social. Quanto s eventuais dvidas em que no seja

    possvel efectuar a prestao ou o credor esteja em mora, os liquidatrios

    devem proceder consignao em depsito do valor da prestao. A

    consignao s poder ser revogada se a sociedade comprovar que a dvida

    se extinguiu.

    Nas dvidas litigiosas, os liquidatrios devem acautelar os eventuais direitos do

    credor por meio de cauo, prestada nos termos do Cdigo Civil.

    2.2.1 3Passo - presentao de contas finais e deliberao de scios

    As contas finais dos liquidatrios devem ser acompanhadas por um relatrio

    completo da liquidao e por um projecto de partilha do activo restante. Nas

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    contas, devem ser discriminados os resultados das operaes de liquidao

    efectuadas pelos liquidatrios e o mapa da partilha.

    As contas e o relatrio so submetidos a deliberao dos scios para

    aprovao e nomeao do depositrio que conservar a documentao da

    sociedade.

    2.2.1 4Passo - Partilha do activo restante Depois de acautelados os direitos dos credores, os activos restantes so

    partilhados entre os scios. A partilha , em regra, em dinheiro, admitindo-se,

    no entanto, a partilha em espcie se assim estiver previsto no pacto social ou

    os scios unanimemente o deliberarem.

    O n. 2 do artigo 156. do CSC estabelece a ordem de reembolso do activo

    restante: em primeiro lugar, devem ser reembolsadas as entradas

    efectivamente realizadas (se no puder ser realizado o reembolso integral, o

    activo existente distribudo pelos scios, para que a diferena para menos

    recaia em cada um deles na parte que lhe competir nas perdas da sociedade);

    em segundo lugar, se ainda existir saldo para partilhar, este deve ser repartido

    na proporo aplicvel distribuio de lucros.

    2.2.1 5 Passo - Registo comercial da liquidao

    Aps a aprovao das contas e partilha, os liquidatrios devem promover o

    registo do encerramento da liquidao. Com o registo do encerramento da

    liquidao, determina-se a extino efectiva da sociedade

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    2.2.6 Aces pendentes, activo e passivo supervenientes Apesar da extino da sociedade, h alguns factos e situaes jurdicas que se

    mantm ou que podem vir a ser suscitadas no futuro.

    Desde logo, todas as aces judiciais em que a sociedade seja parte

    continuam aps a extino desta, assumindo os scios o papel da sociedade,

    representados pelos respectivos liquidatrios.

    Relativamente ao passivo superveniente no acautelado, os scios respondem

    pelo passivo social at ao montante que receberam da partilha (artigo 163. do

    CSC). As aces judiciais podem ser propostas contra a generalidade dos

    scios, na pessoa dos liquidatrios, que assumem o papel de representantes

    legais. Se, nalguma circunstncia, um antigo scio satisfizer a dvida, tem

    direito de regresso contra os restantes.

    O activo superveniente no partilhado previamente, depois de encerrada a

    liquidao e extinta a liquidao, deve, por proposta dos liquidatrios ser,

    partilhado pelos scios. As eventuais aces judiciais a intentar para

    reconhecimento e cobrana de crditos devem ser propostas pelos liquidatrios

    em representao da generalidade dos scios. Tal no impede que qualquer

    dos scios interponha aco judicial limitada ao seu interesse.

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    3. Procedimentos Administrativos de Dissoluo e Liquidao de Entidades Comerciais

    O Decreto-Lei n. 76-A/2006, de 29 de Maro, criou um regime especial de

    dissoluo e liquidao administrativa de entidades comerciais (RJPADLEC).

    Com este regime, o governo pretendeu simplificar a dissoluo e liquidao de

    sociedades a pedido dos scios ou quando requerida oficiosamente pela

    prpria conservatria do registo comercial. Afasta-se assim, sem prejuzo do

    direito de impugnao judicial, a interveno dos tribunais na dissoluo e

    liquidao de sociedades inactivas ou, por exemplo, das sociedades que no

    procederam ao aumento de capital para os mnimos legais.

    Pela sua simplicidade, o recurso a este procedimento merece ser incentivado j

    que, em muitos casos, basta o preenchimento do pedido na Conservatria para

    que todo o processo de dissoluo e liquidao de uma entidade comercial

    seja impulsionado, competindo prpria Conservatria do Registo Comercial a

    conduo e cumprimento de todas as formalidades e comunicaes.

    3.1 Procedimento administrativo de dissoluo

    3.1 1 mbito de aplicao

    O procedimento administrativo de dissoluo e liquidao aplica-se:

    (i) s sociedades comerciais;

    (ii) s sociedades civis sob forma comercial;

    (iii) s cooperativas;

    (iv) Aos estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada.

    O presente regime no aplicvel s entidades comerciais cuja

    regulamentao especfica preveja formas de dissoluo e liquidao

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    especficos que sejam incompatveis, nomeadamente (i) empresas de seguros,

    (ii) instituies de crdito, (iii) sociedades financeiras, (iv) empresas de

    investimento prestadoras de servios que impliquem a deteno de fundos ou

    de valores mobilirios de terceiros e, por ltimo, (v) aos organismos de

    investimento colectivo.

    No procedimento de dissoluo de sociedade, podemos, citando PAULA

    COSTA E SILVA / RUI PINTO, distinguir quatro fases: fase liminar, regulada

    nos artigos 4. e 7.; participao da entidade comercial e dos interessados,

    regulada nos 8. e 9.; audio de testemunhas, regulada no 11./2; deciso,

    prevista nos 4. n. 1 e 5. n. 1.3

    De acordo com o artigo 3. do RJPADLEC, se, durante o procedimento

    administrativo de dissoluo e liquidao, for pedida a declarao de

    insolvncia da entidade comercial, os actos praticados durante o procedimento

    ficam sem efeito, seguindo o processo de insolvncia os termos previstos no

    Cdigo da Insolvncia e da Recuperao de Empresas (CIRE). No mesmo

    sentido, o artigo 1. do CIRE determina que o processo de insolvncia um

    processo de execuo universal que tem como finalidade a liquidao do

    patrimnio de um devedor insolvente e a repartio do produto obtido pelos

    credores, ou a satisfao destes pela forma prevista num plano de insolvncia,

    que nomeadamente se baseie na recuperao da empresa compreendida na

    massa insolvente.

    O procedimento de dissoluo pode iniciar-se voluntariamente, por

    requerimento do interessado, ou oficiosamente, pelo Conservador do Registo

    Comercial.

    3 AAVV, Coord. ANTNIO MENEZES CORDEIRO, Cdigo das Sociedades Comerciais Anotado, Almedina, 2009, p. 1308.

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    3.1.2 Incio Voluntrio do Procedimento O artigo 4. regula o procedimento voluntrio de dissoluo, mediante a

    apresentao pelos interessados de um requerimento em qualquer

    Conservatria do Registo Comercial.

    Dispem de legitimidade para requerer a dissoluo:

    (i) As prprias entidades comerciais;

    (ii) Os scios ou cooperadores e seus sucessores;

    (iii) Os credores das entidades comerciais;

    (iv) Os credores de scios e cooperadores de entidades comerciais.

    As causas de dissoluo voluntria so:

    a) Por perodo superior a um ano, o nmero de scios da sociedade for inferior

    ao mnimo exigido por lei, excepto se um dos scios for uma pessoa colectiva

    pblica ou entidade a ela equiparada por lei para esse efeito;

    b) A actividade da sociedade que constitui o objecto contratual se torne de

    facto impossvel;

    c) A sociedade no tenha exercido qualquer actividade durante dois anos

    consecutivos;

    d) A sociedade exera de facto uma actividade no compreendida no objecto

    contratual;

    e) Uma pessoa singular seja scia de mais do que uma sociedade unipessoal

    por quotas;

    f) A sociedade unipessoal por quotas tenha como scio nico outra sociedade

    unipessoal por quotas;

    g) Se verifique a impossibilidade insupervel da prossecuo do objecto da

    cooperativa ou a falta de coincidncia entre o objecto real e o objecto expresso

    nos estatutos da cooperativa;

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    h) Ocorra a diminuio do nmero de membros da cooperativa abaixo do

    mnimo legalmente previsto por um perodo de tempo superior a 90 dias e

    desde que tal reduo no seja temporria ou ocasional.

    Estas causas de dissoluo esto tambm previstas no n. 1 do artigo 142. e

    n. 3 do artigo 270.-C do Cdigo das Sociedades Comerciais e n. 3 do artigo

    77. do Cdigo Cooperativo.

    No requerimento, o interessado deve pedir o reconhecimento da causa de

    dissoluo da entidade e apresentar documentos ou requerer diligncias de

    prova teis para o esclarecimento dos factos com interesse para a deciso.

    A apresentao do pedido por um interessado que no seja a prpria entidade

    implica que o processo de liquidao se faa tambm por via administrativa

    (artigo 15.). Caso o requerimento seja apresentado por entidade comercial e

    esta opte pela liquidao administrativa, pode indicar um ou mais liquidatrios,

    comprovando a respectiva aceitao ou solicitar a sua designao pelo

    conservador.

    Com a apresentao do requerimento, o interessado deve efectuar o

    pagamento das quantias correspondentes aos encargos devidos pelo

    procedimento, sob pena de rejeio. Nos termos do ponto 7.1 do artigo 22. do

    Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariados (RERN), so devidos

    350 Euros pela tramitao e deciso do procedimento, incluindo todos os

    registos.

    3.1.3 Indeferimento liminar

    Apresentado o requerimento, o conservador pode, por deciso fundamentada,

    indeferir liminarmente o pedido quando seja manifestamente improcedente ou

  • 21

    no tenham sido apresentados os documentos comprovativos dos factos com

    interesse para a deciso que s documentalmente possam ser provados e cuja

    verificao constitua pressuposto de procedncia do pedido (n. 1 do artigo

    7.). Esta deciso pode ser impugnada judicialmente, nos termos do artigo 12..

    Tornando-se a deciso de indeferimento definitiva, a conservatria de registo

    comercial procede devoluo de todas as quantias cobradas.

    Quando no esteja em causa a falta de apresentao de documentos

    comprovativos dos factos com interesse para a deciso mas outro documento

    (por exemplo, uma procurao), o requerente deve ser notificado para o

    apresentar num determinado prazo.

    3.2 Incio Oficioso do Procedimento

    Como referimos, o procedimento de dissoluo administrativa pode ser

    instaurado oficiosamente pela Conservatria do Registo Comercial, quando:

    a) Durante dois anos consecutivos, a sociedade no tenha procedido ao

    depsito dos documentos de prestao de contas e a administrao tributria

    tenha comunicado ao servio de registo competente a omisso de entrega da

    declarao fiscal de rendimentos pelo mesmo perodo;

    b) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a ausncia de actividade efectiva da sociedade, verificada nos

    termos previstos na legislao tributria;

    c) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a declarao oficiosa da cessao de actividade da sociedade, nos

    termos previstos na legislao tributria4;

    4 Nos termos do n. 6 do artigo 8. do Cdigo do IRC, a administrao fiscal pode declarar oficiosamente a cessao de actividade quando for manifesto que esta no est a ser exercida nem h inteno de a continuar a exercer, ou sempre que o sujeito passivo tenha declarado o

  • 22

    d) As sociedades no tenham procedido ao aumento do capital e liberao

    deste, nos termos dos n.s 1 a 3 e 6 do artigo 533. do Cdigo das Sociedades

    Comerciais;

    e) A sociedade no tenha sido objecto de actos de registo comercial

    obrigatrios durante mais de 20 anos;

    f) Ocorra a omisso de entrega da declarao fiscal de rendimentos da

    cooperativa durante dois anos consecutivos comunicada pela administrao

    tributria ao servio de registo competente;

    g) Ocorra a comunicao da ausncia de actividade efectiva da cooperativa

    verificada nos termos da legislao tributria, efectuada pela administrao

    tributria junto do servio de registo competente;

    h) Ocorra a comunicao da declarao oficiosa de cessao de actividade da

    cooperativa nos termos previstos na legislao tributria, efectuada pela

    administrao tributria junto do servio de registo competente;

    i) As cooperativas no tenham procedido ao registo do capital social

    actualizado nos termos previstos nos n.s 3 e 4 do artigo 91. do Cdigo

    Cooperativo.

    Verificada uma destas causas de dissoluo, o Conservador lavrar um auto

    onde deve identificar a entidade e a causa de dissoluo, bem como

    especificar as circunstncias que determinaram a respectiva instaurao.

    Em termos de emolumentos, este procedimento agrava em 50% os 350 Euros

    previstos para a dissoluo requerida a ttulo voluntrio (ponto 7.2 do artigo

    22. do RERN).

    exerccio de uma actividade sem que possua uma adequada estrutura empresarial em condies de a exercer.

  • 23

    3.3 Participao da entidade comercial e dos interessados

    3.3.1 Procedimento voluntrio

    Aps a apresentao do pedido, inexistindo qualquer fundamento para

    indeferimento liminar, o conservador lavra o averbamento de pendncia de

    dissoluo.

    De seguida, so notificados, por carta registada com aviso de recepo:

    - a sociedade e os scios, ou os respectivos sucessores, e um dos gerentes ou

    administradores;

    - A cooperativa e os cooperadores, ou aos respectivos sucessores, e um dos

    membros da sua direco.

    Quando o nmero de pessoas a notificar ou o volume de documentos, bem

    como, no caso de no ser possvel realizar a notificao via postal, o

    conservador pode ordenar que a notificao seja efectuada atravs da

    publicao de um aviso no stio http://publicacoes.mj.pt/pt/index.asp,

    informando que os documentos esto disponveis para consulta no servio de

    registo competente.

    Esta notificao deve conter os seguintes elementos:

    (i) Cpia do requerimento e da documentao apresentada;

    (ii) Ordem para comunicao do activo e do passivo da entidade e envio dos

    respectivos documentos comprovativos, casos esses elementos ainda no

    constem do processo;

    (iii) Concesso de um prazo de 10 dias, a contar da notificao, para dizerem o

    que se lhes oferecer, apresentando os respectivos meios de prova.

  • 24

    Simultaneamente, deve ser publicado um aviso, nos termos definidos no n. 1

    do artigo 167. do CSC, no sitio atrs referido

    (http://publicacoes.mj.pt/pt/index.asp) dirigido, consoante os casos, aos

    credores da entidade comercial e aos credores dos scios e cooperadores de

    responsabilidade ilimitada comunicando-lhe que teve (i) incio o procedimento

    de dissoluo administrativa de dissoluo e liquidao, pelo que (ii) devem

    informar, no prazo de 10 dias, os crditos e direitos que detenham sobre a

    entidade comercial em causa, bem como o conhecimento que tenham dos

    bens e direitos de que este seja titular.

    Aps a notificao, se indicadas testemunhas, o conservador procede sua

    audio, sendo os respectivos depoimentos reduzidos a escrito.

    3.3.2 Procedimento oficioso

    Quando se trate de procedimento oficioso, alm das notificaes supra

    referidas para o procedimento voluntrio, so ainda notificados os

    trabalhadores da entidade comercial que constem nos registos da Inspeco-

    Geral do Trabalho e servios competentes da segurana social nos dois anos

    anteriores instaurao do procedimento. Esta informao deve ser prestada

    pelos prprios servios, por solicitao da conservatria. Na falta de resposta

    no prazo de 10 dias, o procedimento administrativo de dissoluo pode

    prosseguir.

    A notificao deve conter os seguintes elementos:

    (i) Cpia do auto e demais documentos;

    (ii) Ordem para comunicao do activo e do passivo da entidade e envio dos

    respectivos documentos comprovativos, casos esses elementos ainda no

    constem do processo, com a expressa advertncia de que, se dos elementos

    do processo no for apurada a existncia de qualquer activo ou passivo a

  • 25

    liquidar ou se os notificados no comunicarem ao servio de registo

    competente o activo e o passivo da entidade comercial, o conservador declara

    simultaneamente a dissoluo e o encerramento da liquidao da entidade

    comercial;

    (iii) Solicitao da apresentao de documentos que se mostrem teis para a

    deciso;

    (iv) Concesso de um prazo de 30 dias, a contar da notificao, para a

    regularizao da situao ou para a demonstrao de que a regularizao j se

    encontra efectuada;

    (v) Advertncia de que, se dos elementos do processo resultar a existncia

    de activo e passivo a liquidar, aps a declarao da dissoluo da entidade

    comercial pelo conservador, segue-se o procedimento administrativo de

    liquidao, sem que ocorra qualquer outra notificao.

    3.3.3 Deciso e registo definitivo Nas situaes de dissoluo oficiosa, bem como nos casos em que a causa de

    dissoluo consistir em diminuio do nmero legal de membros da entidade

    comercial ou uma pessoa ser scia de mais do que uma sociedade unipessoal

    por quotas ou a sociedade unipessoal por quotas ter como scio nico outra

    sociedade unipessoal, os interessados tm 30 dias para regularizarem a

    situao ou demonstrarem que esta j foi regularizada. Se assim for, o

    conservador declara findo o processo.

    Mantendo-se as causas de dissoluo que fundamentaram o incio do

    procedimento, o conservador, nos 15 dias subsequentes ao termo do prazo

    para a audio dos interessados, profere a sua deciso final, declarando ou

    no a dissoluo da sociedade. Se dos elementos constantes no processo

  • 26

    resultar a inexistncia de activo e passivo a partilhar, o conservador declara

    simultaneamente a dissoluo e liquidao da sociedade.

    Todos os interessados acima referidos so notificados da deciso, nos

    mesmos termos.

    Qualquer interessado pode impugnar judicialmente a deciso do conservador,

    com efeito suspensivo, no prazo de 10 dias a contar da notificao da deciso.

    A petio deve ser apresentada na conservatria competente que a remeter

    para o tribunal de comrcio (artigo 82. n. 2, al. b) da Lei de Organizao e

    Funcionamento do Tribunais Judiciais).

    Apesar de no estar expressamente previsto, o interessado pode tambm, nos

    termos gerais, reclamar da deciso por nulidade.

    Tornando-se a deciso definitiva, o conservador lavra oficiosamente o registo

    da dissoluo (e liquidao, se for o caso n. 4 do artigo 11.) e promove a

    respectiva publicao no stio do Ministrio da Justia

    (http://publicacoes.mj.pt/pt/index.asp), nos termos das al.a) e b) do artigo 70.

    Cdigo do Registo Comercial.

    Compete tambm conservatria de registo comercial comunicar, por via

    electrnica, os factos registados:

    a) Ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas, para efeitos da inscrio do

    facto no ficheiro central de pessoas colectivas;

    b) administrao fiscal e segurana social, para efeitos de dispensa de

    apresentao das competentes declaraes de alterao de situao jurdica.

  • 27

    3.4 Procedimento administrativo de liquidao O procedimento administrativo de liquidao aplicvel s mesmas entidades

    que acima referimos no procedimento administrativo de dissoluo. Em

    conformidade, tambm o procedimento de liquidao pode ser voluntrio ou

    instaurado oficiosamente.

    Relembramos, no entanto, que, o recurso ao procedimento administrativo de

    dissoluo nem sempre implica a consequente utilizao do procedimento

    administrativo de liquidao. Com efeito, quando o pedido de dissoluo

    administrativa apresentado pela prpria entidade comercial, esta pode optar

    pelo processo de liquidao regulado no CSC.

    Podemos, de acordo com a melhor doutrina, considerar que o procedimento

    administrativo de liquidao composto por quatro fases: a fase liminar (artigos

    15. e 16.); a participao da entidade comercial e dos interessados (artigo

    17.); a liquidao (artigos 18., 19., 21. e 22.); e partilha (artigos 20. e

    21.).5

    3.4.1 Procedimento voluntrio O procedimento voluntrio de liquidao inicia-se com a apresentao de um

    requerimento de liquidao administrativa na conservatria de registo

    comercial, salvo se tal j decorrer do processo de dissoluo administrativo.

    Para este efeito, nos termos no n. 1 do artigo 15., o procedimento

    administrativo de liquidao pode ser requerido pelas (os):

    a) Entidades comerciais;

    5PAULA COSTA E SILVA / RUI PINTO, Coord. Antnio Menezes Cordeiro, Cdigo das Sociedades Comerciais Anotado, Almedina, 2009, p. 1331.

  • 28

    b) Scios ou cooperadores das entidades comerciais ou respectivos

    sucessores;

    c) Credores das entidades comerciais;

    d) Credores de scios e cooperadores de responsabilidade ilimitada.

    Nas sociedades comerciais, o procedimento administrativo de liquidao

    requerido voluntariamente quanto esta forma tiver sido fixada no contrato de

    sociedade ou por deliberao dos scios ( n. 4 do artigo 146. do CSC) ou

    quanto tenha havido um procedimento administrativo de dissoluo voluntrio,

    excepto no caso especfico de a entidade comercial no ter optado pela

    liquidao administrativa (n. 4 do artigo 15.). Neste caso, o pedido de

    liquidao considera-se efectuado no requerimento de dissoluo.

    De igual modo, nas cooperativas tambm utilizado o procedimento

    administrativo de liquidao voluntrio quando tenha ocorrido um processo

    administrativo de dissoluo, salvo se o requerimento for apresentado pela

    cooperativa e no tenha optado por esta modalidade.

    Apesar da sua pouca expresso, nos Estabelecimentos Individuais de

    Responsabilidade Limitada, a liquidao pode ser requerida nos casos

    expressamente referidos no n. 1 do artigo 25. do Decreto-Lei n. 248/86, de

    25 de Agosto.6

    6 Artigo 25. do Decreto-Lei n. 248/86, de 25 de Agosto 1 - A liquidao por via administrativa do estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode ter lugar se algum interessado a requerer com um dos seguintes fundamentos: a) Ter sido completamente realizado o objecto do estabelecimento individual de responsabilidade limitada ou verificada a impossibilidade de o realizar; b) Encontrar-se o valor do patrimnio lquido reduzido a menos de dois teros do montante do capital. 2 - Na hiptese prevista na alnea b) do nmero anterior, o conservador pode fixar ao titular um prazo razovel, a fim de que a situao seja regularizada, suspendendo-se o procedimento. 3 - A liquidao por via administrativa do estabelecimento individual de responsabilidade limitada iniciada oficiosamente pelo servio do registo competente nos seguintes casos: a) Quando, durante dois anos consecutivos, o seu titular no tenha procedido ao depsito dos documentos de prestao de contas e a administrao tributria tenha comunicado ao servio

  • 29

    No requerimento, a entidade comercial deve indicar um ou mais liquidatrios,

    comprovando a respectiva aceitao do cargo ou solicitar ao conservador a sua

    nomeao. Se o requerimento for apresentado por outros interessados, a

    designao dos liquidatrios compete ao conservador, salvo indicao de

    liquidatrios pela entidade comercial.

    competente para a liquidao qualquer conservatria, no se exigindo a

    coincidncia entre a conservatria onde correu a dissoluo e onde se

    proceder ao encerramento da liquidao.

    Por ltimo, pela tramitao do processo, incluindo todos os registos, so

    devidos 350 Euros, a ttulo de emolumentos.

    4.4.2 Procedimento Oficioso O procedimento administrativo de liquidao instaurado oficiosamente pelo

    conservador, quando:

    a) A dissoluo tenha sido realizada em procedimento administrativo de

    dissoluo instaurado oficiosamente pelo conservador;

    b) Se verifique terem decorrido os prazos previstos no artigo 150. do Cdigo

    das Sociedades Comerciais para a durao da liquidao sem que tenha sido

    requerido o respectivo registo de encerramento;

    c) Durante dois anos consecutivos, o titular do estabelecimento individual de

    responsabilidade limitada no tenha procedido ao depsito dos documentos de

    prestao de contas e a administrao tributria tenha comunicado ao servio

    de registo competente a omisso de entrega da declarao fiscal de rendimentos pelo mesmo perodo; b) Quando a administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo competente a ausncia de actividade efectiva do estabelecimento, verificada nos termos previstos na legislao tributria; c) Quando a administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo competente a declarao oficiosa da cessao de actividade do estabelecimento, nos termos previstos na legislao tributria.

  • 30

    de registo competente a omisso de entrega da declarao fiscal de

    rendimentos pelo mesmo perodo;

    d) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a ausncia de actividade efectiva do estabelecimento individual de

    responsabilidade limitada, verificada nos termos previstos na legislao

    tributria;

    e) A administrao tributria tenha comunicado ao servio de registo

    competente a declarao oficiosa da cessao de actividade do

    estabelecimento individual de responsabilidade limitada, nos termos previstos

    na legislao tributria;

    f) Se verifique que o titular do estabelecimento individual de responsabilidade

    limitada no procedeu ao aumento de capital do estabelecimento, nos termos

    do artigo 35.-A do Decreto-Lei n. 248/86, de 25 de Agosto;

    g) O estabelecimento individual de responsabilidade limitada no tenha sido

    objecto de actos de registo comercial obrigatrios durante mais de 20 anos;

    h) Tenha ocorrido o bito do titular do estabelecimento individual de

    responsabilidade limitada, comprovado por consulta a base de dados de

    servio da Administrao Pblica;

    i) O tribunal que decidiu o encerramento de um processo de insolvncia por

    insuficincia da massa insolvente tenha comunicado esse encerramento ao

    servio de registo competente, nos termos do n. 4 do artigo 234. do Cdigo

    da Insolvncia e da Recuperao de Empresas.

    Tal como no procedimento voluntrio, a instaurao oficiosa do procedimento

    de liquidao pode ocorrer em qualquer conservatria, excepto nos casos em

    que houve dissoluo administrativa oficiosa. Neste caso, o processo dever

    correr na mesma conservatria.

    A ttulo de emolumentos, so devidos 350 Euros, agravados em 50%, nos

    termos do ponto 8.2 do Regulamento Emolumentar do Registo Comercial.

  • 31

    3.5 Participao da entidade comercial e dos interessados Atendendo a que, na generalidade dos casos, a notificao j foi feita aquando

    do incio do procedimento administrativo de dissoluo, o artigo 17. do

    RJPADLEC determina que a instaurao do procedimento s notificada aos

    interessados quando a dissoluo no tiver sido declarada por via

    administrativa ou quando a dissoluo tiver sido declarada pela entidade

    comercial e esta no tenha adoptado nesse momento pela liquidao por via

    administrativa.

    Nestes casos, a notificao deve informar os interessados do incio do

    procedimento de liquidao, juntar cpia do requerimento ou auto de

    instaurao do procedimento e da documentao apresentada, bem como

    ordem para, no prazo de 10 dias, comunicar ao servio de registo o activo e

    passivo da entidade comercial.

    3.6 Operaes de liquidao

    Aps a instaurao do procedimento administrativo de liquidao, o

    Conservador, quando lhe competir, deve nomear o liquidatrio e definir o prazo

    para o trmino dos trabalhos de liquidao, tendo como limite mximo de um

    ano, prorrogvel por uma nica vez, por idntico prazo, se devidamente

    justificado.

    Nos termos do artigo 18., o conservador nomeia os liquidatrios que lhe

    tenham sido indicados pela entidade comercial ou, no tendo havido qualquer

    indicao, o conservador deve nomear um ou mais liquidatrios de reconhecida

    capacidade tcnica e idoneidade.

  • 32

    Em regra, o liquidatrio nomeado deve ser um ROC ou um perito nomeado

    pela Ordem dos ROC. A responsabilidade pelo pagamento da remunerao

    cabe ao requerente ou, no caso de expressa indicao pela entidade

    comercial, compete-lhe assumir o pagamento destes encargos. Nos casos de

    liquidao oficiosa, o pagamento dos encargos com a remunerao dos

    liquidatrios e dos peritos da responsabilidade da entidade comercial ou dos

    credores da entidade comercial ou de scios e cooperadores de

    responsabilidade ilimitada que comuniquem a existncia de crditos e direitos

    que detenham sobre a entidade comercial em causa, bem como a existncia

    de bens e direitos de que esta seja titular, sem prejuzo do direito de reembolso

    sobre aquela.

    A nomeao dos liquidatrios est sujeita a registo e publicao obrigatria (al.

    a do artigo 23. do RJPADLEC e alneas a) e b) do n. 1 do artigo 70. do

    Cdigo do Registo Comercial.)7

    Os poderes e competncias dos liquidatrios esto previstos no artigo 152. do

    CSC. Como vimos, os liquidatrios tm, em geral, os deveres, os poderes e a

    responsabilidade dos membros do rgo de administrao da sociedade.

    Todos os actos que, nos termos do n. 1 do artigo 152. do CSC, esto sujeitos

    aprovao dos scios, ficam sujeitos a autorizao prvia do conservador. Se

    aos liquidatrios no forem facultados os bens, livros e documentos da

    entidade ou as contas relativas ao ltimo perodo de gesto, a entrega pode ser

    requerida judicialmente, nos termos dos artigos 1500. e 1501. do Cdigo do

    Processo Civil.

    7 O conservador pode, no mbito dos seus poderes, destituir os liquidatrios quer por sua iniciativa quer a requerimento do rgo de fiscalizao da entidade, de qualquer membro ou credor desta e de qualquer credor scio o cooperador de responsabilidade ilimitada se houver justa causa (artigo 22. do RJPADLEC).Considera-se, para este efeito, justa causa o fim do prazo para a liquidao sem que esta se encontre concluda, sem que os liquidatrios tenham requerido a prorrogao de prazo ou as razes avocadas para a demora forem injustificadas. Esta deciso pode ser impugnada judicialmente, nos termos definidos no artigo 12..

  • 33

    Aps a liquidao total, os liquidatrios devem, no prazo de 30 dias, apresentar

    as contas e o projecto de partilha do activo restante8.

    Estes documentos devem ser notificados aos membros da entidade comercial,

    de acordo com as mesmas regras acima descritas para a instaurao do

    procedimento ( n.s 4, 5 e 7 do artigo 8.) que, no prazo de 10 dias, podero

    dizer o que se lhes oferecer.

    Competir ao conservador analisar as respostas dos membros da entidade

    comercial e aprovar as contas e projecto de partilha. Esta deciso pode

    tambm ser impugnada, nos termos do artigo 12..

    Com a aprovao das contas e liquidao integral do passivo social, o activo

    restante partilhado entre os membros da entidade comercial, nos termos

    definidos na lei comercial.

    Nos casos de transmisso de bens para os quais a lei exige forma especial ou

    outra formalidade (transmisso de um imvel, por exemplo), os liquidatrios

    executam essas formalidades.

    No artigo 21. do RJPADLCE prev-se, semelhana do disposto nos artigos

    1127. e 1128. do CPC, a possibilidade de liquidao parcial ou liquidao em

    espcie se aos liquidatrios parecer inconveniente ou impossvel a liquidao

    da totalidade dos bens (por valor comercial reduzido ou at desaparecimento

    dos bens) e for legalmente permitida a partilha em espcie. Nesta

    circunstncia, o conservador convoca uma conferncia de interessados para a

    8 Caso no o faam neste prazo, qualquer membro da entidade comercial ou o titular do estabelecimento individual de responsabilidade limitada podem requerer judicialmente a prestao de contas, nos termos dos artigos 1014. e ss do Cdigo do Processo Civil.

  • 34

    qual so convocados os credores no pagos, se os houver, a fim de

    apreciarem os fundamentos da liquidao parcial ou em espcie.

    Se houver acordo, cumpre-se o acordo de pagamento e s depois ser

    partilhado o activo restante. No existindo acordo, competir ao Conservador

    decidir. Esta deciso est sujeita a impugnao judicial.

    3.7 Regime especial de liquidao imediata O artigo 24. do RJPADLEC consagra um regime de liquidao imediata em

    trs situaes distintas.

    A primeira, se no prazo de dois anos, sem prejuzo de prazo inferior

    convencionado no contrato ou fixado por deliberao dos scios, a contar da

    data em que a sociedade se considere dissolvida, no estiver encerrada a

    liquidao (al. b) do n. 5 do artigo 15.). Feitas as notificaes previstas nos

    artigos 8. e n.s 2 e 3 do artigo 17. sem que tenha sido comunicada ou

    apurada a existncia de qualquer activo ou passivo, o conservador declara

    imediatamente o encerramento da liquidao.

    A segunda, para qualquer um dos casos previstos (al. c) a h) do n. 5 do artigo

    15.) de liquidao administrativa de EIRL, se no for apurada a existncia de

    qualquer bem ou direito de que a entidade em liquidao seja titular, aps a

    notificao prevista nos n.s 2 e 3 do artigo 17., ex vi n. 3 do artigo 24..

    Por ltimo, nos casos de encerramento de um processo de insolvncia por

    insuficincia da massa insolvente, o conservador deve declarar imediatamente

    o encerramento da liquidao da entidade comercial, salvo se do processo de

  • 35

    insolvncia resultar a existncia de activos que permitam suportar os encargos

    com o procedimento administrativo de liquidao.

    3.8 Encerramento da liquidao

    Aps a concluso dos actos de liquidao e partilha do patrimnio, o

    conservador declara, no prazo de cinco dias, o encerramento da liquidao,

    notificando os interessados.

    No sendo impugnada judicialmente no prazo de 10 dias, a deciso torna-se

    definitiva. Este acto est sujeito a registo comercial e publicao (al t) do n. 1

    do artigo 3. e alneas a) e b) do CRC).

    Aps o registo definitivo, a conservatria comunica, por via electrnica o

    encerramento da sociedade:

    (i) Ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas, para efeitos da inscrio do

    facto no ficheiro central de pessoas colectivas;

    (ii) administrao tributria e segurana social, para efeitos de

    dispensa de apresentao das competentes declaraes de

    cessao de actividade;

    (iii) Aos servios que gerem o cadastro comercial, para efeito de dispensa

    de apresentao da competente declarao de encerramento de

    estabelecimento comercial;

    (iv) Inspeco-Geral do Trabalho.

  • 36

    4. PROCEDIMENTO ESPECIAL DE EXTINO IMEDIATA DE ENTIDADES COMERCIAIS (CESSAO NA HORA)

    Com o objectivo de maior simplificao de algumas situaes em que a

    dissoluo e a liquidao podem ocorrer em simultneo, o RJADLEC prev

    no artigo 27. um procedimento especial de extino imediata de

    sociedades comerciais, cooperativas e estabelecimentos individuais de

    responsabilidade limitada.

    Muitas das dissolues e liquidaes de sociedades tm sido feitas com

    recurso a este mecanismo, mesmo que nem todos os requisitos estejam

    preenchidos, nomeadamente a inexistncia de activo e passivo a liquidar.

    Assim, a dissoluo e liquidao das sociedades e cooperativas deve

    processar-se de forma imediata desde que se verifiquem cumulativamente

    os seguintes pressupostos:

    a) Instaurao do procedimento de dissoluo e liquidao por qualquer

    pessoa, desde que apresentado requerimento subscrito por qualquer dos

    membros da entidade comercial em causa ou do respectivo rgo de

    administrao, e apresentada acta de assembleia geral que comprove

    deliberao unnime nesse sentido tomada por todos os membros da

    entidade comercial;

    b) Declarao, expressa na acta referida na alnea anterior, da no

    existncia de activo ou passivo a liquidar.

    Estes pressupostos so tambm aplicveis, com as necessrias

    adaptaes, liquidao do EIRL.

    Admite-se tambm a possibilidade de o pedido ser apresentado

    verbalmente perante funcionrio competente da conservatria do registo

  • 37

    comercial por qualquer dos membros da sociedade ou cooperativa (ou

    todos) ou do respectivo rgo de administrao ou, no caso, pelo titular do

    EIRL.

    Os interessados que procedam apresentao do pedido devem

    apresentar os documentos comprovativos da sua identidade, capacidade e

    poderes de representao para o acto e liquidar os emolumentos no valor

    de 250 Euros (n. 9 do artigo 22. do RERN).

    Apresentado o pedido, o conservador ou o oficial de registos em quem

    aquele delegar poderes para o efeito, verifica a regularidade dos

    documentos e profere de imediato deciso de declarao da dissoluo e

    do encerramento da liquidao.

    Proferida esta deciso, o conservador ou o oficial com competncia

    delegada lavra oficiosa e imediatamente o registo simultneo da dissoluo

    e do encerramento da liquidao, promove a sua publicao e entrega aos

    interessados certido gratuita do registo.

    Simultaneamente, comunica por via electrnica o encerramento da sociedade:

    (i) Ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas, para efeitos da inscrio do

    facto no ficheiro central de pessoas colectivas;

    (ii) administrao tributria e segurana social, para efeitos de

    dispensa de apresentao das competentes declaraes de

    cessao de actividade;

    (iii) Aos servios que gerem o cadastro comercial, para efeito de dispensa

    de apresentao da competente declarao de encerramento de

    estabelecimento comercial;

    (iv) Inspeco-Geral do Trabalho.

  • 38

    4.1 Existncia de dvidas da sociedade

    Muitos de ns j foram confrontados com a falsidade das declaraes dos

    scios quanto inexistncia de dvidas ou passivo. Contrariamente ao afirmado

    pelos scios, a sociedade tem dvidas e, face celeridade e inexistncia de

    contraditrio deste procedimento, a sociedade j foi extinta sem que os

    credores possam impugnar a liquidao da sociedade.

    Ora, perante esta situao, os credores devem demandar os respectivos

    scios, nos termos do artigo 162. e seguintes do CSC. Encerrada a liquidao

    e extinta a sociedade, os antigos scios respondem pelo passivo social no

    satisfeito ou acautelado, at ao montante que receberam na partilha.

    A aco judicial deve ser proposta contra os scios porque no existem, neste

    procedimento, liquidatrios.

    Alm da responsabilidade pelo pagamento das dvidas, sobre os scios recai

    tambm a eventual responsabilidade civil pelo incumprimento das obrigaes

    contratuais da sociedade, bem como responsabilidade criminal9.

    9 Neste sentido, PAULA COSTA E SILVA / RUI PINTO, Coord. Antnio Menezes Cordeiro, Cdigo das Sociedades Comerciais Anotado, Almedina, 2009, p. 1351.

  • 39

    5. Tratamento Contabilstico e Fiscal da Dissoluo e Liquidao

    5.1 As operaes de liquidao

    As operaes de liquidao de uma sociedade so o conjunto de actos

    realizados a fim de dar ao patrimnio social uma apresentao, ressalvados

    todos os direitos e dvidas a terceiros, que permita atribuir aos scios o

    patrimnio lquido remanescente.

    Antes de iniciada a liquidao, devem ser organizados e aprovados os

    documentos de prestao de contas, reportados data da dissoluo.

    Esta prestao de contas conveniente para separar claramente as contas

    antes e aps as operaes de liquidao. H interesse em elaborar um

    inventrio detalhado dos bens e obrigaes, ou seja, um balano de liquidao

    previsional.

    O balano de liquidao no se destina propriamente ao apuramento dos

    resultados do exerccio, mas determinao do valor real do patrimnio, na

    perspectiva da imediata realizao do activo (imveis, bens mveis,

    mercadorias, crditos, entre outros) para pagamento de todo o passivo da

    empresa.

    Assim, nestes balanos de liquidao no se incluem elementos que estavam

    ligados ao funcionamento da empresa (por exemplo, contratos de empreitada

    por terminar).

    Na fase de liquidao os administradores ou gestores da empresa devem:

  • 40

    Terminar os contratos e negcios pendentes; Cumprir com as obrigaes da sociedade; Cobrar os crditos; Pagar todas as dvidas da sociedade, para as quais seja

    suficiente o activo existente;

    Reduzir a dinheiro o patrimnio residual; Propor a partilha do remanescente (o patrimnio que sobrou); Caso a empresa esteja mais do que um ano em fase de

    liquidao, prestar nos 3 primeiros meses do ano, contas anuais

    da liquidao, acompanhadas de um relatrio pormenorizado,

    elementos que devem ser submetidos apreciao e aprovao

    dos scios.10

    Assim, a liquidao de uma empresa nada mais do que um conjunto de actos

    de gesto necessrios para realizar o activo e pagar o passivo da sociedade.

    O remanescente ser destinado ao reembolso do montante das entradas

    realizadas, havendo basicamente, duas hipteses a considerar:

    No sendo possvel o reembolso integral das entradas, os valores existentes so distribudos aos scios por forma que a diferena

    para menos recaia em cada um deles na proporo da parte das

    perdas que lhes competir;

    Sendo possvel o reembolso integral e ainda houver saldo, o remanescente deve ser repartido na proporo utilizada na

    distribuio de lucros.

    A apreenso destes conceitos muito importante, dado que no final, todas as

    contas devero encontrar-se saldadas. 10 Artigo 155. do Cdigo das Sociedades Comerciais

  • 41

    Aqui, a equao base do balano fundamental:

    ACTIVO = PASSIVO + CAPITAIS PRPRIOS (ou Situao Lquida)

    Assim, partindo do pressuposto que todas as dvidas esto pagas, com o

    Passivo a zero, o valor dos capitais prprios tem de corresponder ao activo

    existente, ou seja, ser possvel o reembolso integral das entradas realizadas e

    ainda pode haver remanescente.

    No sendo possvel o reembolso integral, significa isso que ainda h passivo a

    pagar, pelo que os scios devem responder na parte que lhes competir nessas

    perdas.

    Imaginemos o seguinte cenrio em que todo o activo foi vendido, sendo

    realizado 10.000 em dinheiro que foi depositado e com um passivo de 50.000.

    10.000 = 50.000 + (-40.000)

    Neste cenrio, aps a venda de todo o activo da empresa, a empresa no

    conseguiu realizar os valores suficientes para fazer face ao seu passivo, pelo

    que os valores obtidos com a venda dos activos no foram suficientes para

    fazer face s dvidas. Perante esta situao, os scios devero participar nas

    perdas na proporo que lhes competir.

    Caso os scios no tenham patrimnio prprio para fazer face ao passivo por

    pagar, devem requer judicialmente a insolvncia.

    5.2 Os movimentos contabilsticos

  • 42

    Aprovadas as contas at dissoluo, deve proceder-se ao fecho e reabertura

    de todas as contas, para que os lanamentos referentes liquidao sejam

    claramente separados dos anteriores liquidao.

    No que respeita s despesas relacionadas com a liquidao, tais como

    honorrios de liquidatrios, indemnizaes, entre outras, assim como os

    resultados obtidos na venda de activos e pagamento de passivos, muitos

    autores preconizam a diviso da conta 88 Resultado Lquido do Exerccio em

    duas subcontas especficas:

    88 Resultado Lquido do Exerccio

    881 Resultado do Exerccio

    884 Resultado da Liquidao

    A opo mais utilizada movimentar apenas a conta 884 Resultado da

    liquidao, que consiste em separar os resultados da liquidao dos resultados

    do exerccio, referentes ao perodo decorrido desde o princpio do ano at ao

    movimento da dissoluo.

    Outra opo movimentar as contas de custos e proveitos por natureza

    (operacionais, financeiros, extraordinrios) e apurar o resultado da liquidao

    na subconta respectiva.

    O Balano de Partilha

    Aps todas as operaes de liquidao, deve elaborar-se o Balano de

    Partilha, o qual deve apresentar apenas as contas relativas aos bens e valores

    a partilhar pelos scios e as contas do capital prprio.

  • 43

    BALANO DE PARTILHA

    ACTIVO CAPITAL PRPRIO

    Caixa

    x

    Capital

    x

    Depsitos Ordem

    x

    Reservas

    x

    Result, Lq. Exerccio

    Result. Exerccio

    +/- x

    Result. Da Liquidao

    +/- x

    X

    x

    Cada scio ou accionista tem a haver a sua quota-parte no capital prprio da

    sociedade. Assim, h que efectuar a imputao das contas de capital prprio

    aos scios, creditando (ou debitando, havendo prejuzos) a conta 25

    Accionistas (Scios) 25 x..- Accionistas (scios) c/Liquidao.

    Os movimentos contabilsticos a efectuar so os seguintes:

    Capital Social

    51 Capital Social

    A

  • 44

    25x..- Accionistas (scios) c/Liquidao

    Imputao do capital aos scios

    Reservas

    57 Reservas

    A

    25x..- Accionistas (scios) c/Liquidao

    Imputao das reservas aos scios

    Resultados

    No caso dos resultados so possveis os seguintes cenrios:

    Lucro no exerccio

    Lucro no exerccio

    Prejuzo no exerccio

    Prejuzo no exerccio

    Lucro na liquidao

    Prejuzo na liquidao

    Lucro na liquidao

    Prejuzo na liquidao

    881 881 25 25

    884 a a a

    A 25 881 881

    25 25 884 884

    a a

    884 25

    Aps estes movimentos, a soma dos saldos credores das contas de liquidao

    dos scios tem de ser igual soma dos saldos devedores das contas dos

    valores concretos a partilhar (depsitos ordem, depsitos a prazo, ttulos

  • 45

    negociveis e, eventualmente, bens do activo que no foi possvel vender ou

    que no se quis vender).

    Pela entrega dos valores, havendo apenas dinheiro a partilhar, os movimentos

    contabilsticos so os seguintes:

    25x..- Accionistas (scios) c/Liquidao

    A

    11- Caixa

    12 Depsitos Ordem

    Partilha do remanescente pelos scios

    Aps este lanamento, todas as contas ficam saldadas, incluindo as contas de

    liquidao dos scios, estando nesta fase, a empresa pronta para proceder ao

    encerramento da liquidao na Conservatria do Registo Comercial.

    5.3 O caso particular dos suprimentos Umas das situaes que mais dvidas levanta na liquidao so os

    suprimentos efectuados. Os suprimentos mais no so do que emprstimos

    que os scios efectuam s empresas na qual detm uma participao social,

    pelo que constam obrigatoriamente do passivo, numa subconta apropriada da

    conta 25.

    Aquando da liquidao de uma empresa, h contudo, dois cenrios que se

    colocam quando existem suprimentos.

  • 46

    5.3.1 -1. Cenrio: Reembolso dos suprimentos Havendo o reembolso dos suprimentos aos scios significa que no houve

    renncia ao direito ao reembolso dos suprimentos e que existe patrimnio

    liquido suficiente para fazer face a esse reembolso.

    Vejamos o seguinte exemplo:

    Depsitos Ordem: 10.000

    Suprimentos: 5.000

    Capital Prprio: 5.000

    Este o exemplo de uma situao em que o patrimnio permite o reembolso

    de todos os suprimentos, pelo que possvel proceder-se ao reembolso dos

    suprimentos e partilhar o remanescente.

    5.3.2 - 2. Cenrio: No reembolso dos suprimentos

    Quando no existe reembolso dos suprimentos, normalmente, porque no

    existe patrimnio para fazer face a esse compromisso da sociedade para com

    os seus scios. Nesta situao, o que fazer ento?

    Vejamos a seguinte situao, aps todas as operaes de liquidao, temos os

    seguintes valores:

    Depsitos ordem: 10.000

    Suprimentos: 15.000

    Capital Prprio: (5.000)

    Nesta situao, os valores remanescentes no so suficientes para fazer face

    ao passivo. Acontece, porm, que se trata de um passivo especial, ou seja, so

  • 47

    emprstimos dos prprios scios, pelo que, havendo a renncia expressa em

    Acta ao reembolso dos suprimentos no haver impedimento legal para a

    liquidao da sociedade, apesar da conta 25, no ficar saldada. Este perdo

    de dvida por parte dos scios no concorrer para a formao do resultado

    tributvel no mbito de uma liquidao de sociedade, ao abrigo do artigo 21.

    do Cdigo do IRC.

    5. 4 Partilha: valor a considerar e tributao

    5.4.1 Tratamento Fiscal em sede de IRC

    Quando no mbito de uma liquidao de uma sociedade se procede partilha

    em bens, na determinao do resultado de liquidao, havendo partilha dos

    bens patrimoniais pelos scios, considera-se como valor de realizao

    daqueles o respectivo valor de mercado, de acordo com o disposto no artigo 74. do CIRC.

    Tratando-se de bens imveis, para efeitos de determinao do resultado da

    liquidao em sede de IRC, o valor de mercado no poder ser inferior ao valor

    patrimonial tributrio definitivo dos imveis, de acordo com o artigo 58. A do

    Cdigo do IRC.

    Do ponto de vista fiscal, as mais-valias apuradas na partilha dos bens do imobilizado pelos scios devero integrar o resultado de liquidao da sociedade, sendo apuradas pela diferena entre o valor de mercado dos bens e o respectivo valor de aquisio, deduzido das amortizaes praticadas e

    aceites para efeitos fiscais, corrigido pelos coeficientes de desvalorizao da

    moeda para o efeito publicados em portaria do Ministro das Finanas, sendo o

  • 48

    valor de realizao, o seu valor de mercado nos termos do artigo 74. do

    Cdigo do IRC.

    Tratando-se de existncias, em vez de se apurar uma mais ou menos-valia

    contabilstica, apura-se um proveito contabilstico de acordo com o artigo 74.

    do CIRC, o qual concorrer para a formao do resultado fiscal do exerccio da

    cessao.

    Assim, no pelo facto dos imveis no serem alienados, optando-se pela

    partilha pelos scios, no mbito da liquidao da sociedade que deixa de haver

    tributao em sede de IRC. Haver igualmente tributao em sede de IMT,

    porquanto estamos em presena da transmisso de propriedade de bens

    imveis.

    No exerccio da cessao em IRC, haver sempre um resultado apurado, lucro

    ou prejuzo ou, eventualmente, no caso das empresas inactivas um resultado

    nulo.

    As empresas detentoras de participaes sociais em sociedades liquidadas em

    que o valor da partilha ou inexistente ou insuficiente face ao investimento

    efectuado, reconhecem a menos-valia contabilstica. Em termos fiscais, a

    menos-valia obtida aceite em apenas 50%, de acordo com o artigo 42., n. 3

    do Cdigo do IRC (com a limitao do artigo 75.. n. 2, alnea b) do Cdigo

    IRC).

    Vejamos o seguinte exemplo:

  • 49

    A sociedade ABX, detinha uma participao social de 500.000 h 3 anos na

    sociedade Alfa que, entretanto foi liquidada, tendo recebido a sua quota-parte

    na partilha no montante de 25.000

    Os movimentos contabilsticos a efectuar na sociedade sero:

    69411xx Perdas em Imob. financeiras Liq da empresa Alfa

    A

    411 - Partes de capital: 500.000

    Abate da participao financeira

    12 Bancos

    A

    69411xx Perdas em Imob. financeiras Liq. da empresa Alfa 25.000

    Recebimento da quota-parte na partilha

    A menos-valia contabilstica de 475.000 ser aceite fiscalmente em metade,

    ou seja, 237.500. No quadro 07 do Modelo 22, deve-se acrescer 237.500.

    5.4.2 Tratamento fiscal em sede de IRS

  • 50

    De acordo com o artigo 75. do CIRC, poder haver uma parcela de mais-

    valias e uma parcela de rendimentos da categoria E.

    O valor atribudo a cada um scios em resultado da partilha, abatido do preo

    de aquisio das correspondentes partes sociais, se resultar numa diferena

    positiva ser considerado rendimentos da categoria E, nos termos do artigo

    75. do Cdigo do IRC.

    O resultado da partilha, abatido do preo do valor nominal das correspondentes

    partes sociais tributado em IRS na categoria E. No caso de no serem scios

    originrios (ou sendo scios originrios tenham adquirido a correspondente

    parte social por valor diferente do valor nominal, com prmio de emisso),

    poder haver tributao enquadrvel na categoria G (o rendimento da categoria

    E vai at ao limite da diferena entre o valor que foi atribudo e o que, face

    contabilidade da sociedade liquidada, corresponda a entradas efectivamente

    verificadas para a realizao do capital, sendo que o eventual excesso tem o

    enquadramento na categoria G).

    O rendimento lquido a tributar atribudo aos scios pessoas singulares na

    Partilha de Sociedades aps liquidao determina-se do seguinte modo:

    A = (valor atribudo a cada scio) (valor de aquisio da quota)

    B = (valor atribudo a cada scio) (valor nominal da quota)

    Se o valor (A) for POSITIVO, considera-se que rendimento de aplicao de

    capitais at ao valor (B), sendo o excesso MAIS-VALIA.

  • 51

    Se o valor (A) for NEGATIVO, esse valor ser tido como uma MENOS-VALIA

    dedutvel.

    Seno, vejamos o seguinte exemplo,

    Valor atribudo na partilha a um scio = 120.000

    Valor de aquisio da quota = 90.000

    Parte de capital do scio (valor nominal) = 100.000

    A = 120.000 90.000 = 30.000

    B = 120.000 100.000= 20.000

    Rendimento da categoria E = rendimento de capitais 20.000, o excesso 30.000-

    20.000= 10.000 so mais-valias (categoria G)

    A atribuio dos valores concretos a partilhar que sejam rendimentos da

    categoria E, encontram-se sujeitos a uma reteno taxa liberatria de 20%,

    nos termos do artigo 71., n. 3, alnea c) do Cdigo do IRS, com opo pelo

    englobamento (artigo 71,, n. 6, alnea c) do CIRS).

    Refira-se que a reteno na fonte apenas se aplica partilha em dinheiro e no

    partilha em bens.

  • 52

    Feita a opo a que se refere o nmero anterior, a reteno que tiver sido

    efectuada tem a natureza de pagamento por conta do imposto devido a final

    (artigo 71., n. 7 do CIRS).

    Havendo a opo pelo englobamento, os rendimentos de capitais s sero

    considerados em 50% do seu valor, nos termos do artigo 40. - A do CIRS.

    5.4.3Tratamento fiscal em sede de IVA

    Em sede do Imposto sobre o Valor Acrescentado no mbito de uma liquidao

    de empresa, h uma srie de situaes mais comuns que importa tratar.

    Venda de bens do activo imobilizado no mbito das operaes de liquidao

    A venda de bens do activo imobilizado no mbito das operaes de liquidao

    de uma empresa, no tem qualquer especificidade, pelo que h que liquidar

    imposto nos termos gerais, s taxas que se aplicarem aos bens que esto a ser

    vendidos.

    A alienao de bens afectos exclusivamente a uma actividade isenta, quando

    no tenham sido objecto do direito deduo, est isenta de IVA, ao abrigo do

    n. 32 do artigo 9. do Cdigo do IVA. Por exemplo, a venda de bens numa

    liquidao de uma clnica mdica que pratica operaes exclusivamente

    isentas de IVA, est isenta ao abrigo desta norma.

    O caso particular das viaturas ligeiras de passageiros

    A alienao de viaturas de turismo, tal como definidas no artigo 21, n. 1, alnea

    a) do Cdigo do IVA, em relao s quais no tenha sido deduzido o IVA, est

    isenta de IVA, de acordo com o n. 32 do artigo 9. do Cdigo do IVA.

  • 53

    considerada viatura de turismo qualquer veculo automvel, com incluso do

    reboque, que, pelo seu tipo de construo e equipamento, no seja destinado

    unicamente ao transporte de mercadorias ou a uma utilizao com carcter

    agrcola, comercial ou industrial ou que, sendo misto ou de transporte de

    passageiros, no tenha mais de nove lugares, com incluso do condutor.

    Viaturas comerciais, aquelas que apenas tm dois lugares, condutor e

    acompanhante, no so consideradas viaturas de turismo.

    Atribuio de bens do imobilizado no mbito da partilha

    A atribuio de bens em partilha aps as operaes de liquidao, encontra-se

    igualmente sujeita a IVA.

    Com efeito, de acordo com o artigo 3., n. 3, alnea f) do Cdigo do IVA,

    considera-se transmisso a afectao permanente de bens da empresa, a uso

    prprio do seu titular, do pessoal, ou em geral a fins alheios mesma, bem

    como a sua transmisso gratuita, quando, relativamente a esses bens ou aos

    elementos que os constituem, tenha havido deduo total ou parcial do

    imposto.

    O imposto ser liquidado sobre o preo de aquisio dos bens ou de bens

    similares, ou, na sua falta, o preo de custo, reportados ao momento da

    realizao das operaes, de acordo com o artigo 16., n. 2, alnea b) do

    Cdigo do IVA.

    Bens imveis vendidos ou atribudos em partilha em relao aos quais foi deduzido do IVA

  • 54

    Em relao a bens imveis que forem atribudos em partilha e em relao aos

    quais houve a deduo do IVA, por exemplo, no mbito de uma empreitada de

    construo civil, h que efectuar uma regularizao de IVA a favor do Estado,

    de acordo com o previsto no artigo 26. , n. 3 do Cdigo do IVA.

    Em que consiste essa regularizao de IVA a favor do Estado?

    A regularizao consiste em creditar a favor do Estado um dcimo (1/10) do

    inicialmente deduzido, por cada ano (da no utilizao para fins da empresa)

    que falta para completar os 10 anos (20) da regularizao. O prazo de 20 anos

    aplica-se caso a aquisio dos imveis ou concluso das obras tenha ocorrido

    a partir de 2001, inclusive.

    Actos de arrematao, venda judicial ou administrativa, conciliao ou de contratos de transaco

    Havendo uma venda judicial ou administrativa dos bens, objecto de arresto, h

    lugar tributao em IVA, o qual ser liquidado pelos prprios Servios. Veja-

    se, para o efeito, o ponto 4 do Ofcio-Circulado n. 11323 do SIVA, emitido em

    31 de Janeiro de 1989:

    4. Nessa perspectiva, compete aos tribunais a liquidao do imposto de

    justia, imposto de selo, taxas de processado, e com a entrada em vigor do

    CIVA, passou a competir-lhe tambm a liquidao deste imposto, quando se

    mostra devido nos actos de arrematao ou venda judicial (artigo 28., n. 4 do

    CIVA).

    Nos termos do artigo 16., n. 2, alnea g) do Cdigo do IVA, o valor tributvel

    nas transmisses de bens resultantes de actos de arrematao ou venda

  • 55

    judicial ou administrativa, o valor por que as arremataes ou vendas tiverem

    sido efectuadas ou, se for caso disso, o valor normal dos bens transmitidos.

    O imposto relativo s transmisses de bens resultantes de actos de

    arrematao, venda judicial ou administrativa, conciliao ou de contratos de

    transaco ser liquidado no momento em que for efectuado o pagamento ou,

    se for parcial, no do primeiro pagamento das custas, emolumentos ou outros

    encargos devidos, de acordo com o artigo 28., n. 4 do CIVA.

    No entanto, o adquirente daqueles bens no fica, pelo facto de o imposto ser

    liquidado pelos servios, coarctado no seu direito deduo do imposto. O

    direito deduo aferir-se- pelo cumprimento das normas exigidas no Cdigo

    do IVA, artigo 19. e seguintes, sendo que o documento legal a que se refere

    o n. 2 do artigo 19. ser o documento de liquidao emitido pelos servios,

    junto com o respectivo recibo de pagamento junto dos mesmos.

    Se houver o abate/venda judicial de bens do imobilizado, h que reconhecer as

    mais ou menos-valias contabilsticas, as quais concorrero para o apuramento

    do Lucro Tributvel.

    5.5- Obrigaes declarativas

    O momento da dissoluo pode no coincidir com o momento da liquidao. Se

    no for o caso, no exerccio da dissoluo, perodo que decorre entre o dia 1

    de Janeiro e a data da dissoluo da sociedade, embora se mantenha a obrigatoriedade de encerrar as contas com referncia data de dissoluo, no h que entregar a declarao modelo 22 referente a esse perodo.

    No que se refere ao exerccio do encerramento da liquidao, desde que o

    perodo de liquidao no ultrapasse 2 anos (aps as alteraes introduzidas

  • 56

    pela Lei n. 53-A/2006, de 29 de Dezembro), podero ser entregues duas

    Modelo 22, sendo a 1 obrigatria (incio do ltimo exerccio at data da

    cessao), e a 2. facultativa referente ao perodo de liquidao (desde a data

    de dissoluo at data da cessao).

    Esta declarao Modelo 22 facultativa, s tem interesse caso hajam lucros que possam ser anulados por prejuzos posteriores, no perodo de liquidao.

    A data de cessao em sede de IRC a data do pedido do registo de

    liquidao na Conservatria do Registo Comercial. Este entendimento consta

    do Ofcio-Circulado n. 20 063, de 5 de Maro de 2002. A cessao de IRC

    independente da eventual anterior cessao para efeitos de IVA.

    Em termos de obrigaes declarativas h que entregar a declarao de

    cessao no prazo de 30 dias a contar da data da cessao, conforme estipula

    o n. 6 do artigo 110. do CIRC.

    Deve-se entregar a declarao de rendimentos modelo 22 at ao ltimo dia til

    do prazo de 30 dias a contar da data da cessao, nos termos do n. 3 do

    artigo 112. do CIRC aplicando-se igualmente este prazo para a apresentao

    ou envio da declarao relativa ao exerccio imediatamente anterior, quando

    ainda no tenham decorrido os prazos mencionados nos n.s 1 e 2 do mesmo

    artigo. A declarao anual deve igualmente ser entregue no mesmo prazo, de

    acordo com o n. 4 do artigo 113. do CIRC.

    Existe, contudo, um problema em relao modelo 22, declarao anual/IES

    do exerccio anterior, quando a cessao ocorre no incio do ano, uma vez que

    os sujeitos passivos pretendem cumprir com o estipulado no cdigo do IRC,

    mas vm-se impedidos, na prtica, porque os ficheiros do exerccio anterior

    ainda no se encontram disponveis na pgina electrnica da DGCI. Nestes

    casos, no aplicada nenhuma sano ao sujeito passivo, devendo este

    submeter as referidas declaraes logo que os ficheiros estejam disponveis.

  • 57

    5. 6 - Pagamento Especial por conta

    5. 6.1. - Reembolso

    Relativamente ao pagamento especial por conta, o Cdigo do IRC, no artigo

    98, n, 2 do CIRC, prev, expressamente que, em caso de cessao de

    actividade no prprio exerccio ou at ao terceiro exerccio posterior quele a

    que o pagamento especial por conta respeita, a parte que no possa ter sido

    deduzida, quando existir, reembolsada mediante requerimento do sujeito

    passivo, dirigido ao chefe do servio de finanas da rea da sede, direco

    efectiva ou estabelecimento estvel em que estiver centralizada a

    contabilidade, apresentado nos 90 dias seguintes ao da cessao da

    actividade.

    Assim sendo, o reembolso ocorrer sempre aps a extino jurdica da

    sociedade e cessao em IRC nas Finanas, pelo que no pedido de reembolso

    se deve indicar os scios e respectivas participaes e NIBs.

    5. 6.2.- Obrigatoriedade de Pagamento

    No que respeita obrigatoriedade de efectuar o pagamento especial por conta,

    o artigo 98., n. 11, alnea c) do CIRC, dispensa de pagamento especial por

    conta, os sujeitos passivos que tenham deixado de efectuar vendas ou

    prestaes de servios e tenham entregue a correspondente declarao de

    cessao de actividade a que se refere o artigo 33. do Cdigo do IVA.

    No que respeita ao exerccio da cessao em sede IRC, se esta ocorrer antes

    do fim do prazo da 2 prestao (final do ms de Outubro) no ter de efectuar

    o PEC. Este o entendimento da Administrao Fiscal, constante do Ofcio-

    Circulado n. 82, de 18 de Maro de 1998, que mantm, a nosso ver, a sua

    validade.

  • 58

    5.7- O caso particular da reduo do Capital Social

    Numa situao de perda de mais de metade do Capital Social e em situaes

    de grandes prejuzos, a reduo do Capital Social afigura-se como uma

    soluo. O objectivo da reduo do capital social no caso de grandes prejuzos

    transitados ou mesmo do perodo a adequao do capital ao patrimnio

    lquido da sociedade, mas sem libertao de meios patrimoniais.

    Existem diversas formas e tcnicas de proceder a uma reduo do Capital

    Social por forma a manter a igualdade entre o montante do capital e a soma

    dos valores nominais das participaes sociais.

    Reduo do valor nominal das participaes Reagrupamento das participaes Extino de participaes

    No caso da reduo do valor nominal de aces, esta reduo deve ser igual

    para todas as aces, sendo que a soma dos novos valores nominais, vai

    corresponder ao novo valor do Capital Social.

    Nesta modalidade, a proporo relativa das participaes globais dos

    accionistas no alterada. Contudo, nas sociedades por quotas esta proporo

    no ser afectada, apenas se a reduo dos valores nominais de todas as

    participaes for proporcional (porque nas sociedades por quotas, as quotas

    podem ter diferentes valores nominais).

    No reagrupamento das participaes, mais concretamente, nas sociedades

    annimas, a reduo do capital pode ser efectuada mediante a reduo do

    nmero de aces. Por exemplo, de 1.000.0000 de aces de 10, trocadas

    por 50.000 aces de 10.

  • 59

    A extino de participaes est relacionada sobretudo com a possibilidade de

    sada de scios, nomeadamente, havendo a excluso de scio.

    Em relao s sociedades annimas, o artigo 463. do Cdigo das Sociedades

    Comerciais permite a reduo do capital por meio de extino de aces

    prprias.

    Refira-se ainda que permitido deliberar a reduo do capital a um montante

    inferior ao mnimo estabelecido na lei para o respectivo tipo de sociedade se tal

    reduo ficar expressamente condicionada efectivao de aumento do capital

    para montante igual ou superior quele mnimo, a realizar nos 60 dias

    seguintes quela deliberao, nos termos do artigo 95., n. do Cdigo das

    Sociedades Comerciais.

    Vejamos o seguinte exemplo, referente a uma reduo do capital social de uma

    empresa, por motivos de prejuzos avultados:

    Na situao da perda de mais de metade do capital social e no sendo possvel

    os scios entrarem com injeco de capital, na parte que lhes cabe nos

    prejuzos, a sociedade s pode evitar a dissoluo, reduzindo o seu capital.

    BALANO

    Activo 3.800 Capital Prprio

    Capital Social

    Sr. X 1.200

    Sr. Y 400 1.600

    Result Transitados -1.060

  • 60

    Passivo 3.260

    3.800 3.800

    51 Capital

    A

    59 Resultados Transitados 1.060

    57- Reservas Livre 140

    Reduo do Capital Social em 1.200 para cobertura dos prejuzos transitados e

    constituio de reservas pelo excedente. O novo Balano apresentar um

    Capital Social de 400

    A reduo do capital social permite limpar do Balano os prejuzos declarados

    e ocultos, nomeadamente, resultantes de crditos incobrveis, reavaliaes

    demasiado optimistas, restabelecendo o equilbrio entre o capital e o patrimnio

    da sociedade

    5.8 - Decreto-Lei n. 64/2009, de 20 de Maro Tendo em ateno a contraco dos mercados financeiros a nvel mundial,

    fruto da grave crise econmico-fnanceira que o Mundo atravessa, foi publicado

    a 20 de Maro de 2009 um diploma que permite dois mecanismos

    extraordinrios de flexibilizao regra do Cdigo das Sociedades Comerciais,

    segundo a qual, o valor pelo qual so emitidas as aces no pode ser inferior

    ao respectivo valor nominal.

    Assim, no que respeita s sociedades annimas com aces admitidas

    negociao em Bolsa, caso o valor nominal das aces seja igual ou inferior ao

    valor contabilstico e sob condio de que seja simultaneamente deliberado, ou

  • 61

    de que tenha sido prvia ou simultaneamente autorizado e, posteriormente

    realizado um novo aumento do capital, pode-se optar por reduzir o valor

    nominal sem reduo do capital social. Assim, o capital passar a estar

    representado pela componente valor nominal e pela componente da

    diminuio do valor nominal, a qual apenas pode ser utilizada para posterior

    aumento do valor nominal das aces e para emisso de novas aces.

    Estas medidas vm no sentido de tentar limpar o balano de sociedades

    cotadas em Bolsa em dificuldades com valores nominais manifestamente

    inferiores ao valor contabilstico das aces constantes do Balano. Assistimos,

    actualmente, a uma queda acentuada dos principais ndices bolsistas das

    principais praas financeiras mundiais, muitas vezes sem correspondncia ao

    nvel do desempenho econmico das empresas.

  • 62

    5.9 Casos Prticos

    BALANO

    Bancos 15.000 Capital Social

    Sr. A 12.500

    Sr. B 12.500 25.000

    Result Lq. Exerccio -10.000

    15.000 15.000

    Quais os movimentos contabilsticos


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