DISCURSO DE ENCERRAMENTO
O Congresso Internacional "Humanismo Português na Época dos Descobrimentos" chegou ao fim. As comunicações lidas, confiadas a especialistas de renome, tanto estrangeiros, com publicações sobre Humanismo em Portugal, como nacionais, tiveram todas elevado nível e incontestável interesse.
O período abrangido foi desde o meado do século XV, com a comunicação de Luís Adão da Fonseca sobre "A formação clássica e literária do Condestável D. Pedro" até o final do século XVI com o estudo de Sebastião Tavares de Pinho sobre "D. Jerónimo Osório e a crise sucessória de 1580".
A lição inaugural, proferida pelo Presidente da Comissão Organizadora, ocu-pou-se de ."Os humanistas e a divulgação dos Descobrimentos", tratando do Humanismo Português, antes e depois da entrega do Colégio das Artes à Companhia de Jesus, em 1555, e de notícias da Expansão, dadas pelos humanistas.
Os historiadores que escreveram em latim sobre a época dos descobrimentos portugueses foram objecto de estudos especiais da parte de Amadeu Torres, "Os descobrimentos portugueses nos escritos latinos goisianos"; Luís de Sousa Rebelo, "Damião de Góis, Diogo de Teive e os arbitristas do século XVII"; Raul Miguel Rosado Fernandes, "Uma informação de André de Resende sobre a Guiné"; Virgínia Soares Pereira, "André de Resende e os Portugueses, segundo Bartolomé de Albornoz".
De entre os historiadores e ensaístas, mereceu um lugar especial D. Jerónimo Osório de quem se ocuparam José Manuel Torrão, "A China na obra de Jerónimo Osório"; R. W. Truman, "Jean Matai (Ioannes Matalius Metellus), ami fidèle de Jerónimo Osório et son De Rebus Emmanuelis à Cologne"; Manuel Augusto Rodrigues, "DJerónimo Osório e os seus comentários bíblicos"; Dietrich Briese-meister, "A Glória como forma de vida: análise de Jerónimo Osório, De Gloria "; e Sebastião Tavares de Pinho, já citado.
Um interesse particular foi consagrado aos contactos portugueses com o Japão, de que falaram Aníbal Pinto de Castro, "As cartas dos Jesuítas do Japão, do-
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cumento do encontro de culturas"; e Manuel Cadafaz de Matos, "A tipografia quinhentista de expressão cultural portuguesa no Oriente e a difusão dos ideais do Humanismo". Foi discutido o problema da autoria do livro De Missione Legatorum laponensium , publicado em Macau , em 1590, e atribuído tanto por Costa Ramalho como por Cadafaz de Matos ao Pe. Duarte de Sande, da Companhia de Jesus.
Foi salientada a importância da poesia latina e de formas como a elegia e, sobretudo, o epigrama na celebração de acontecimentos contemporâneos. A poesia neo-latina, mesmo quando pouco inspirada, é uma fonte de surpreendentes informações a respeito da vida que fluía sob os olhos dos poetas. '
Belmiro Fernandes Pereira ocupou-se de "A fama portuguesa no ocaso do Império: a divulgação europeia dos feitos de D.Luís de Ataíde", com poemas de André de Resende, Inácio de Morais e Pedro Sanches; Josef Ijsewijn tratou de "Achilles Statius and Latin poetry in late 16th century Rome"; José António Sanchez Marin, "Características de la obra poética de Manuel da Costa"; Carlos Tannus, "António de Cabedo: a cara e a coroa" sobre um episódio trágico nas guerras de Africa.
A repercurssão das navegações portuguesas no mundo intelectual europeu serviu de, lema à comunicação de Sylvie Deswarte, "Egídio da Viterbo et les Découvertes Portugaises" em que História da Arte, inscrições e textos literários em latim foram engenhosamente combinados; Rita Biscetti, "Ainda as epístolas a DJoâo II de Angelo Poliziano"; ou a comunicação já referida de R. W. Truman sobre Jean Matai, o amigo fiel de D. Jerónimo Osório. E ainda José Vitorino de Pina Martins sobre "Descobertas Filológicas e Descobrimentos Portugueses numa carta de Aldo Manu-
' zioá Leão X (1513)".'
O universo das ideias e dos sentimentos em campos tão variados como o apostolado, a parenética e a estilística literária aparecem nos trabalhos de Isaías da Rosa Pereira, "Os sermões de André de Resende e de Francisco de Melo no Sínodo de Évora de 1534"; Nair de Castro Soares, "A literatura de sentenças no humanismo português"; Tom Earle, "Nosso edifício de escritura: a linguagem da arquitectura nas Décadas de João de Barros"; João Pedro Mendes, "Retórica e Descobrimentos".
A reflexão sobre a História foi motivo de alguns brilhantes ensaios: a meditação dos Quinhentistas sobre o seu próprio tempo, no trabalho de Jorge Borges de Macedo, "Fortuna e Providência como guia da interpretação do pensamento português no século XVI" ; de Quinhentistas e outros, no estudo de Carlos Ascenso André, "Luz e penumbra na visão humanista dos Descobrimentos"; e na lição final de Jorge Alves Osório, "Humanismo e História".
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Finalmente, os editores da época dos Descobrimentos não foram esquecidos: Artur Anselmo tratou de "O livreiro Luís Rodrigues, editor português de textos humanísticos (1539-1549)".
Duas ocasiões de convívio e um espectáculo teatral amenizaram os quatro dias de trabalhos, entre 9 e 12 de Outubro, a saber, o "pôr do sol" no Claustro do Colégio Novo ou da Sapiência que hoje pertence à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação; e o jantar no Palácio de S. Marcos. Aos cerca de quatrocentos e cinquenta congressistas foi também oferecido um espectáculo teatral, com a colaboração do Teatro de Gil Vicente, que celebra o seu trigésimo aniversário: o Centro Cultural de Évora aí representou cenas dos autos de Gil Vicente sob o título de Clérigos e Almocreves .
Neste balanço final do Congresso, há que salientar a boa vontade e o espírito de colaboração das autoridades universitárias, nomeadamente, as da Faculdade; dos funcionários da escola em geral, sobretudo a Dra Zélia Sampaio; e do grupo de alunos que com ela colaborou (a Rosário, o João, a Cecília, o Jorge, o Agostinho). Sem a Senhora D. Zélia, como, por hábito antigo de bom convívio e afecto, costumamos chamar-lhe, tudo teria sido mais difícil.
A Comissão Organizadora, onde o Presidente foi quem menos fez, levou a efeito um Congresso que não envergonha a Faculdade nem os seus dois núcleos de Humanidades Greco-Latinas, a saber, o Instituto de Estudos Clássicos e o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos.
Estamos profundamente reconhecidos aos patrocinadores, a quem me referi na sessão de abertura, e ao conjunto de boas vontades que tanto facilitaram a tarefa de realização deste Congresso Internacional do Humanismo Português na Época dos Descobrimentos. Pessoalmente, e em nome dos meus colegas, os Doutores Sebastião de Pinho, Nair Castro Soares, Carlos Ascenso André e João Manuel Nunes Torrão, exprimo o maior reconhecimento pela simpatia envolvente e carinhosa que rodeou esta iniciativa da gente das Clássicas, apostada em não deixar esquecer a importância do Latim na génese e evolução da Cultura Europeia.
A. Costa Ramalho