Download - Direitos Humanos em 2 Minutos – Cartilha
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FAC apresenta
Cartilha de apoio ao conteúdo dos vídeos
em 2 minutos
em 2 minutos
Direitos Humanos
Direitos Humanos*em 2 minutos
Direitos Humanos em 2 minutos
em 2 minutos
em 2 minutos
Direitos Humanos
Direitos Humanos*em 2 minutos
Direitos Humanos*Direitos Humanos*em 2 minutos
Direitos Humanos em 2 minutos
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VÍDEOS
Direção Geral
Alexandre Ribondi
Iara Pietricovsky
Produção executiva
Elisa Mattos
Assistência de produção
Rafael Salmona
Direção de imagens
Daniel Madsen
Diana Blok
Direção de cena
Alexandre Ribondi e Iara
Pietricovsky
Roteiros
Alexandre Ribondi
Pesquisa
Carmela Zigoni
Elenco
Alexandre Ribondi
Iara Pietricovsky
Figurino
Eduardo Barón
Produção de objetos
Elisa Mattos
Maquiagem
Rubens Fontes
Técnico de luz
Aroldo Lopes
Câmera
Daniel Madsen
Diana Blok
Mário Salimon
Assistência de câmera
Luís Adriano Salimon
Montagem
Mário Salimon
Música original e
sonoplastia
João Lucas
Design
Gabriel Menezes
Comunicação
Jorge Cordeiro
Conteúdo de cartilha
Carmela Zigoni
CARTILHA
Coordenação Geral
Alexandre Ribondi
Iara Pietricovsky
Organizadora
Carmela Zigoni
Produção
Elisa Mattos
Projeto Gráfico
Gabriel Menezes
Direitos Humanos em 2 Minutos – Cartilha.
Carmela Zigoni (org.).
Brasília: Desvio Produções, 2015.
1. Direitos Humanos – 2. Cartilha.
ISBN:
Sumário
11 Direitos Humanos
• O que são direitos humanos?
• Quem deve garantir os direitos humanos?
• Como os direitos humanos acontecem na prática?
• Por que agir?
• Como agir?
21 Violência contra as mulheres
29 Direitos sexuais e reprodutivos
39 Direitos de migrantes e refugiados
47 Direitos socioambientais
57 Direitos LGBTI
65 Igualdade racial e diversidade étnica
79 Justiça fiscal
87 Direito à cidade
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76
Apresentação
O projeto Direitos Humanos em 2 Minutos (DH2’) é uma iniciativa
da Desvio Produções em parceria com o Instituto de Estudos
Socioeconômicos – Inesc, por meio do apoio do Fundo de Apoio
à Cultura do Distrito Federal – FAC do Governo de Brasília.
DH2’ foi pensado como forma de enfrentamento às
violações de direitos humanos que temos assistido hoje na
sociedade brasileira: indígenas, mulheres, jovens negros,
população LGBTI, entre outros grupos, têm sido vítimas de
violência e preconceito todos os dias, e têm mais dificuldades
de acessar seus direitos.
DH2’ reuniu, assim, artistas, realizadores e ativistas, para
juntos transformarem ideias sobre direitos humanos em vídeos
curtos para a internet, acessíveis à sociedade e ao cidadão e
cidadã comuns, buscando informar sobre temas como racismo,
violência de gênero, juventude, migração e agendas importantes
como clima (aquecimento global), mobilidade urbana e direitos
territoriais. Com direção e atuação de Alexandre Ribondi e
Iara Pietricovsky, os doze vídeos estão disponíveis na página
eletrônica da iniciativa: dh2minutos.org.
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De forma complementar, e buscando também contribuir
com atividades de formação cidadã, foi elaborada esta cartilha
sobre direitos humanos, em que podem ser encontrados de
forma acessível os principais conceitos e legislações relativos
aos temas apresentados nos vídeos. Esperamos que a Cartilha
DH2’ seja uma fonte para professores, alunos e movimentos
sociais interessados em discutir direitos humanos de maneira
transformadora.
Acreditamos que a sociedade brasileira, e a cidade
de Brasília, precisam estar em harmonia com os tratados
internacionais de promoção dos direitos, e as pessoas devem
estar comprometidas em combater a violência de todos os
tipos1.
Uma boa leitura!
Afetuosamente,
Equipe DH2’
1 Notas da organizadora: (1) Esta cartilha visa atingir o público em geral, mas tem
como foco principal ser uma introdução aos temas de direitos humanos e uma fonte
de consulta para atividades de formação; (2) As duas principais fontes de informa-
ção para essa cartilha são a Organização das Nações Unidas (ONU) e a metodologia
Orçamento & Direitos do Inesc. Outras fontes serão citadas em notas de rodapé.
1. Direitos Humanos
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1.1 O que são direitos humanos?
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada por 48
países em 1948, após a barbárie da II Guerra Mundial. A ideia era
comprometer os Estados-Nação a protegerem e promoverem
os direitos humanos em seus países, e na relação com outros
territórios. Hoje, são 192 países signatários, incluindo o Brasil.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU),
os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres
humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade,
etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição.
Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade,
à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho
e à educação, entre muitos outros. Todas as pessoas devem
desfrutar destes direitos, sem discriminação.
É importante ressaltar que depois desta declaração, outros
tratados internacionais foram sendo elaborados e assinados,
como a Convenção 169 da Organizacão Internacional do
Trabalho (OIT), o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais e a Convenção sobre a Eliminação de
Discriminação contra as Mulheres.
Além disso, outros temas foram sendo agregados à agenda
de direitos humanos, como a questão da transparência pública
dos governos e a proteção ao meio ambiente.
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1.2 Quem deve garantir os direitos humanos?
O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as
obrigações dos governos de agirem de determinadas maneiras
ou de se absterem de certos atos, a fim de promover e proteger
os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos.
Isso significa que no Brasil é o governo quem deve garantir
os direitos humanos de brasileiros e brasileiras, além de
também promover os diretos de imigrantes e refugiados que
estão em nosso país.
Os cidadãos e as cidadãs devem agir alinhados aos
princípios e leis dos direitos humanos, e denunciar possíveis
violações.
1.3 Como os direitos humanos acontecem na prática?
Para efetivar os direitos humanos, os governos devem elaborar
políticas públicas. As políticas públicas são dever do Estado
para gerar o bem estar social: é para isso que pagamos
impostos. Todo governo deve assim ter uma política de saúde,
educação, meio ambiente, cultura, mobilidade urbana, habitação
etc.
NÃO DISCRIMINE!Estes direitos são de todos e todas, independentemente das nossas diferenças.
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A política pública se expressa em:
• Equipamentos públicos
• Serviços
• Benefícios
Para financiar a política pública, o governo define as
prioridades no orçamento público, aquele bolo que é feito com
os impostos que todos pagamos, pessoas e empresas. Se um
governo está comprometido com os direitos humanos, ele vai
definir o orçamento considerando:
1. Financiamento do Estado com Justiça Social
2. Máximo de recursos disponíveis para realização de
direitos
3. Realização progressiva de direitos humanos
4. Não discriminação
5. Participação social
Estes cinco princípios constituem a base da metodologia
Orçamento e Direitos, do Inesc. Para conhecer os detalhes desta
metodologia, acesse a página do instituto: www.inesc.org.br.
1.4 Por que agir?
Você pode estar se perguntando: e o que eu tenho a ver com
tudo isso? A batalha pelos direitos humanos é uma construção
histórica. Pessoas foram e são presas, assassinadas, coagidas
e torturadas apenas por lutarem por liberdade e por uma
sociedade mais justa. A luta por direitos é, especialmente,
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contra a opressão e as injustiças. É um combate em favor
da emancipação e da autonomia de homens e mulheres que
historicamente foram privados da condição de cidadãos/ãs.
Se hoje podemos votar, nos reunir em torno de uma causa
social e acessar alguns serviços públicos (como educação e
saúde), isso nem sempre foi assim. Os direitos não são dados
por aqueles que detêm o poder, mas sim conquistados por
aqueles/as que vivem situações de opressão, invisibilidade e
violação.
Os direitos só existem, portanto, pela contínua ação
de sujeitos políticos (movimento de mulheres, movimento
campesino, movimento negro, movimento indígena, movimento
pela reforma urbana etc.), pelo reconhecimento de suas
identidades, pelo questionamento das hierarquias sociais ao
longo da história e pela militância em favor da redistribuição dos
recursos gerados pela sociedade.
Esse é um ponto importante. Não existe efetivação dos
direitos humanos sem que os recursos gerados pela sociedade
sejam distribuídos de forma justa. Efetivar direitos custa
dinheiro. Na maioria das vezes, as elites no poder não priorizam
a realização de políticas que garantam uma vida com dignidade
para os grupos menos favorecidos.
1.5 Como agir?
Existem várias formas de participar na promoção dos
direitos humanos. Você pode participar individualmente ou
coletivamente, ou de ambas as formas.
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Conhecer seus direitos
É importante conhecer os seus direitos. A escola é um agente
importante no processo de apoiar os cidadãos e cidadãs,
desde a infância, a conhecer os seus direitos. Mas a cidadania
ativa deve partir também de todos os agentes de governo, de
organizações não governamentais, da imprensa e dos próprios
cidadãos.
PESQUISE, LEIA, USE A INTERNET DE MANEIRA CONSCIENTE: CONHECER SEUS DIREITOS É UMA PRERROGATIVA PARA EXERCÊ-LOS!Também é preciso conhecer os direitos do próximo, pois existe diversidade e desigualdade em nossa sociedade. Conhecer os direitos das outras pessoas também é fundamental para garantir um mundo com direitos humanos assegurados!
VOCÊ SABIA QUE:As rádios e canais de televisão necessitam de concessões publicas para veicular seus programas? Por isso, os responsáveis pelas rádios e TV tem responsabilidade com a cidadania, devendo necessariamente ter programação com informações de qualidade!
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Organizar-se
Além de conhecer os seus direitos e buscar exercê-los, você
também pode ser organizar coletivamente para agir em
favor dos direitos humanos. Pode ser um grupo de amigos,
vizinhos, colegas de escola, faculdade ou trabalho, e a forma
de organização também varia: coletivo, movimento social,
organizações de classe, de base, ou até um grupo nas redes
sociais de internet. O importante é ter clareza sobre a defesa
dos direitos humanos, tentar influenciar a opinião pública e a
realidade das pessoas!
TRABALHAR EM GRUPO PODE SER MUITO GRATIFICANTE:
CONHEÇA A HISTÓRIA DO COLETIVO DA CIDADE
O Coletivo tem por foco a constituição de espaço de
convivência, formação para a participação e cidadania,
desenvolvimento do protagonismo e da autonomia das
crianças e adolescentes, a partir dos interesses, demandas
e potencialidades dessa faixa etária. As intervenções são
pautadas em experiências lúdicas, culturais, artísticas
e esportivas como formas de expressão, interação,
aprendizagem, sociabilidade e proteção social.
Em meados de 2006, estudantes, moradores e famílias
da Cidade Estrutural iniciam ações voluntárias para
promover o bem estar de crianças do bairro. Cinco anos
depois, em 2011, esta ação passa a se chamar Coletivo da
Cidade, tornando-se uma associação sem fins lucrativos.
A iniciativa foi crescendo, pessoas se agregaram à
ação. Até que contando com um convênio com o Governo
de Brasília mediado por uma instituição parceira, realiza
atividades de educação para atende 200 crianças e
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adolescentes de 6 a 14 anos, no contra-turno escolar. O
grupo de voluntários se tornara um Coletivo de educadores
e voluntários, que desenvolvem atividades lúdicas, artísticas,
na perspectiva de desenvolver o potencial criativo das
crianças e adolescentes!
Outra parceria apareceu: o Inesc. Então, com recursos
da União Europeia, novos educadores se juntaram à equipe
do Coletivo e atividades e ações da agenda de direito à
cidade foram potencializadas, com a construção de debates
e ações concretas de acesso à garantia de direitos na
Cidade Estrutural.
Denunciar violações de direitos humanos
Diversas pessoas e grupos sociais são vítimas todos os dias
de violências e violações de seus direitos humanos. É dever
de todo cidadão e cidadã denunciar as violações de direitos
humanos quando tomar conhecimento de alguma. Isso pode
ser feito individualmente, ou por meio de organizações sociais
constituídas.
No Brasil, qualquer pessoa pode denunciar para a Ouvidoria
Nacional dos Direitos Humanos por meio do website
www.humanizaredes.gov.br ou pelo Disque 100. O serviço mais
conhecido é o Disque 100 de atendimento telefônico gratuito
oferecido pelo Governo Federal, que funciona 24 horas por
SAIBA MAIS SOBRE O COLETIVO DA CIDADE:S coletivodacidade.org
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dia, nos 7 dias da semana. As denúncias recebidas no Disque
100 são analisadas, tratadas e encaminhadas aos órgãos
responsáveis.
Se as instituições locais não responderem à denúncia,
apurando e se comprometendo a resolver o problema, é
possível denunciar também para o Conselho de Direitos
Humanos, ou outros organismos da ONU que podem investigar
violações de direitos humanos, sempre e quando elas sejam
devidamente comprovadas. A investigação é realizada
confidencialmente. Mais informações em http://www.dudh.org.
br/acao/denuncias/.
Agora que você já entendeu as bases sobre os direitos
humanos, vamos falar sobre diferentes sujeitos de direitos
e algumas das principais lutas hoje na agenda dos direitos
humanos.
2. Violência contra as mulheres
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A violência contra as mulheres é um fenômeno antigo no Brasil
e no mundo: a sociedade com modelo patriarcal promove
um ambiente em que a violência contra as mulheres é uma
questão social e cultural. É importante reforçar isso porque
o senso comum tende a acreditar que os agressores são
pessoas psicologicamente desequilibradas, mas o fato é que os
agressores são homens comuns, de todas as classes sociais.
A partir da Constituição de 1988, as mulheres passaram
a ter direitos muito claros no Brasil. Os movimentos sociais
de mulheres sempre tiveram um papel importantíssimo no
combate à violência e, nos anos 80, foram construídas as
primeiras delegacias de mulheres.
Atualmente, a cada 1 hora e meia uma mulher é morta no
Brasil, geralmente por maridos, companheiros e namorados. Em
2014, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 realizou
485.105 atendimentos, uma média de 40.425 atendimentos ao
mês e 1.348 ao dia. Desde a criação do serviço em 2005, foram
mais de 4 milhões de atendimentos2.
A Lei n. 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006,
conhecida como Lei Maria da Penha, veio a ser o grande marco
2 Fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM, website.
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na luta contra a violência contra as mulheres: ela estabelece
que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime,
deve ser apurado por meio de inquérito policial e ser remetido
ao Ministério Público. Esses crimes são julgados nos Juizados
Especializados de Violência Doméstica contra a Mulher, criados
a partir dessa legislação, ou, nas cidades em que ainda não
existem, nas Varas Criminais. A lei também tipifica as situações
de violência doméstica, proíbe a aplicação de penas pecuniárias
aos agressores (como compra de cestas básicas), amplia
a pena de um para até três anos de prisão e determina o
encaminhamento das mulheres em situação de violência, assim
como seus dependentes, a programas e serviços de proteção e
de assistência social.
VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DA LEI MARIA DA PENHA?O caso nº 12.051/OEA, de Maria da Penha Maia Fernandes, foi o caso homenagem à Lei 11.340. A farmacêutica cearense Maria da Penha Maia Fernandes é o marco recente mais importante da história das lutas feministas brasileiras: ela foi vítima de violência doméstica durante 23 anos de casamento. Em 1983, enquanto dormia, recebeu um tiro do então marido, Marco Antônio Heredia Viveiros, que a deixou paraplégica. Depois de se recuperar, foi mantida em cárcere privado, sofreu outras agressões e nova tentativa de assassinato, também pelo marido, por eletrocução. Procurou a Justiça e conseguiu deixar a casa, com as três filhas.Depois de um longo processo de luta, em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 11.340, conhecida por Lei Maria da Penha, que coíbe a violência doméstica contra mulheres.
24
Ainda para proteger as mulheres, existe a Lei do
Feminicídio (Lei 13.104/15) que considera homicídio qualificado
o assassinato de mulheres em razão do gênero (feminicídio). A
norma inclui o feminicídio no rol de crimes hediondos, previsto
na lei 8.072/90.
De acordo com a proposta, considera-se que o assassinato
ocorreu em razão do gênero da vítima quando o crime envolve
violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação
contra a condição de mulher. A pena prevista para homicídio
qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. De autoria da CPMI da
Violência contra a Mulher, cujos trabalhos foram concluídos em
junho de 2013, o projeto prevê ainda o aumento da pena em 1/3
se o crime ocorrer:
• Durante a gestação ou nos três meses posteriores ao
parto;
• Contra menor de 14 anos, maior de 60 ou pessoa com
deficiência;
• Na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Outro marco importante para os direitos humanos das
mulheres é o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
(PNPM), que foi construído por meio de conferências locais e
nacionais das quais participaram centenas de mulheres de todo
VOCÊ SABE O QUE É FEMINICÍDIO?“O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante.” (Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher , CPMI-VCM, 2013). Fonte: agenciapatriciagalvao.org.br
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o Brasil. O II PNPM (2008) tem dez temas principais:
1. Autonomia econômica e igualdade no mundo do
trabalho, com inclusão social;
2. Educação inclusiva, não-sexista, não-racista, não-
homofóbica e não-lesbofóbica;
3. Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos
reprodutivos;
4. Enfrentamento de todas as formas de violência contra
as mulheres;
5. Participação das mulheres nos espaços de poder e
decisão;
6. Desenvolvimento sustentável no meio rural, na cidade e
na floresta, com garantia de justiça ambiental, soberania
e segurança alimentar;
7. Direito à terra, moradia digna e infraestrutura social nos
Ainda para proteger as mulheres, existe a Lei do
Feminicídio (Lei 13.104/15) que considera homicídio qualificado
o assassinato de mulheres em razão do gênero (feminicídio). A
norma inclui o feminicídio no rol de crimes hediondos, previsto
na lei 8.072/90.
De acordo com a proposta, considera-se que o assassinato
ocorreu em razão do gênero da vítima quando o crime envolve
violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação
contra a condição de mulher. A pena prevista para homicídio
qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. De autoria da CPMI da
Violência contra a Mulher, cujos trabalhos foram concluídos em
junho de 2013, o projeto prevê ainda o aumento da pena em 1/3
se o crime ocorrer:
• Durante a gestação ou nos três meses posteriores ao
parto;
• Contra menor de 14 anos, maior de 60 ou pessoa com
deficiência;
• Na presença de descendente ou ascendente da vítima.
Outro marco importante para os direitos humanos das
mulheres é o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres
(PNPM), que foi construído por meio de conferências locais e
nacionais das quais participaram centenas de mulheres de todo
VOCÊ SABE O QUE É FEMINICÍDIO?“O feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: o controle da vida e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro; como subjugação da intimidade e da sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato; como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou a tratamento cruel ou degradante.” (Relatório Final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher , CPMI-VCM, 2013). Fonte: agenciapatriciagalvao.org.br
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meios rural e urbano, considerando as comunidades
tradicionais;
8. Cultura, comunicação e mídia igualitárias, democráticas
e não discriminatória;
9. Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia;
10. Enfrentamento das desigualdades geracionais que
atingem as mulheres, com especial atenção às jovens e
idosas.
Para alcançar os objetivos do plano em relação aos direitos
das mulheres, é necessário o comprometimento do Governo
Federal, estados e municípios.
2727
(->) Acesse dh2minutos.org e assista ao vídeo:
O direito de quem ama
3. Direitos sexuais e reprodutivos
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Direitos sexuais e direitos reprodutivos são Direitos Humanos já
reconhecidos em leis nacionais e documentos internacionais:
Direitos reprodutivos
• Direito das pessoas de decidirem, de forma livre e
responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos
desejam ter e em que momento de suas vidas.
• Direito a informações, meios, métodos e técnicas para
ter ou não ter filhos.
• Direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de
discriminação, imposição e violência.
Direitos sexuais
• Direito de viver e expressar livremente a sexualidade
sem violência, discriminações e imposições e com
respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a).
• Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual.
• Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo,
vergonha, culpa e falsas crenças.
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• Direito de viver a sexualidade independentemente de
estado civil, idade ou condição física.
• Direito de escolher se quer ou não quer ter relação
sexual.
• Direito de expressar livremente sua orientação sexual:
heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade,
entre outras.
• Direito de ter relação sexual independente da
reprodução.
• Direito ao sexo seguro para prevenção da gravidez
indesejada e de DST/HIV/AIDS.
• Direito a serviços de saúde que garantam privacidade,
sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminação.
• Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva
Fonte: Ministério da Saúde, 2006. “Cartilha: Direito sexuais,
direitos reprodutivos e métodos anticoncepcionais”.
Os direitos sexuais e reprodutivos afetam diretamente a
saúde das mulheres com relação à maternidade (pré-natal, parto
e puerpério), e também em relação ao planejamento familiar, ao
câncer de colo do útero e de mama, às DSTs e ao HIV/Aids.
VOCÊ SABIA?As mulheres são maioria na população brasileira e as principais usuárias do Sistema Único de Saúde – SUS.
32
• Planejamento familiar: direito a consultas ginecológicas
gratuitas, bem como acesso a anticoncepcionais e
preservativos;
• Pré-natal: direito à acompanhamento especializado
durante a gravidez (o que inclui exames, consultas e
orientações gratuitas) bem como ao conhecimento do
seu local de atendimento e vinculação a este para o pré-
natal e o parto.3
• Parto e puerpério: a gestante tem direito a toda
informação necessária sobre seu parto e a um
acompanhante, de sua indicação, durante todo o período
de trabalho de parto, parto e pós-parto. O SUS deve dar
atenção à mulher e ao bebê também durante o puerpério.4
• Direitos trabalhistas da gestante: direito ao pré-natal e
à licença maternidade;
• Câncer de colo de útero: direito ao exame preventivo e
tratamento no SUS em caso de diagnóstico de câncer;
• Câncer de mama: direito ao exame, tratamento e
reconstrução da mama no SUS: a lei nº 12.802
estabelece que a reconstrução mamária é um direito da
mulher que teve a mama mutilada pelo tratamento do
câncer e ainda que ela deve ser feita imediatamente
após a retirada das mamas se existirem condições
3 Amparo legal: Lei nº 9.263, de 13 de novembro de 1996, Artigo 3º, Parágrafo
Único, Inciso II; Portaria nº 569 MS/GM 01 de junho de 2000, Artigo 2º a, b, c e d, e
Anexo I, Atividades 2, Item 1; Lei nº 11.634, de 27 de dezembro de 2007, Artigo 1º,
Inciso I e II. (Fonte:Ministério da Saúde, website).
4 Amparo legal: Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, Artigos 19-J e Artigo 19-J,
Parágrafo1º; Portaria nº 2.418 MS/GM, de 02 de dezembro de 2005. (Fonte:Ministério
da Saúde, website).
VOCÊ SABE O QUE É VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?
Procedimentos, físicos ou não, pelos quais as mulheres passam na gestação, trabalho de parto, parto, pós-parto e abortamento que não são preconizados pelos princípios da humanização e da medicina baseada em evidências.A violência é rotineira nos hospitais e maternidades, mas, além do empenho das ativistas, ações do Ministério Público podem melhorar o cenário obstétrico do Brasil. Alguns exemplos:
• Agressões verbais• recusa de atendimento• condução à cesariana sem evidências
científicas de necessidade• privação de acompanhante• lavagem intestinal• raspagem dos pelos• jejum• episiotomia• separação de mãe e bebê saudável após o
nascimento, entre outros procedimentos.
Embora no Brasil o crime não seja tipificado, o Ministério Público instaurou inquéritos públicos que investigam as práticas nos hospitais e maternidades de São Paulo.Fonte: bolsademulher.com
33
• Planejamento familiar: direito a consultas ginecológicas
gratuitas, bem como acesso a anticoncepcionais e
preservativos;
• Pré-natal: direito à acompanhamento especializado
durante a gravidez (o que inclui exames, consultas e
orientações gratuitas) bem como ao conhecimento do
seu local de atendimento e vinculação a este para o pré-
natal e o parto.3
• Parto e puerpério: a gestante tem direito a toda
informação necessária sobre seu parto e a um
acompanhante, de sua indicação, durante todo o período
de trabalho de parto, parto e pós-parto. O SUS deve dar
atenção à mulher e ao bebê também durante o puerpério.4
• Direitos trabalhistas da gestante: direito ao pré-natal e
à licença maternidade;
• Câncer de colo de útero: direito ao exame preventivo e
tratamento no SUS em caso de diagnóstico de câncer;
• Câncer de mama: direito ao exame, tratamento e
reconstrução da mama no SUS: a lei nº 12.802
estabelece que a reconstrução mamária é um direito da
mulher que teve a mama mutilada pelo tratamento do
câncer e ainda que ela deve ser feita imediatamente
após a retirada das mamas se existirem condições
3 Amparo legal: Lei nº 9.263, de 13 de novembro de 1996, Artigo 3º, Parágrafo
Único, Inciso II; Portaria nº 569 MS/GM 01 de junho de 2000, Artigo 2º a, b, c e d, e
Anexo I, Atividades 2, Item 1; Lei nº 11.634, de 27 de dezembro de 2007, Artigo 1º,
Inciso I e II. (Fonte:Ministério da Saúde, website).
4 Amparo legal: Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, Artigos 19-J e Artigo 19-J,
Parágrafo1º; Portaria nº 2.418 MS/GM, de 02 de dezembro de 2005. (Fonte:Ministério
da Saúde, website).
VOCÊ SABE O QUE É VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA?
Procedimentos, físicos ou não, pelos quais as mulheres passam na gestação, trabalho de parto, parto, pós-parto e abortamento que não são preconizados pelos princípios da humanização e da medicina baseada em evidências.A violência é rotineira nos hospitais e maternidades, mas, além do empenho das ativistas, ações do Ministério Público podem melhorar o cenário obstétrico do Brasil. Alguns exemplos:
• Agressões verbais• recusa de atendimento• condução à cesariana sem evidências
científicas de necessidade• privação de acompanhante• lavagem intestinal• raspagem dos pelos• jejum• episiotomia• separação de mãe e bebê saudável após o
nascimento, entre outros procedimentos.
Embora no Brasil o crime não seja tipificado, o Ministério Público instaurou inquéritos públicos que investigam as práticas nos hospitais e maternidades de São Paulo.Fonte: bolsademulher.com
técnicas para isso. No caso de impossibilidade da
reconstrução imediata, a paciente tem direito a
acompanhamento e realização da cirurgia assim que ela
alcançar as condições requeridas para a reconstrução;
• DSTs: direito a exame e tratamento pelo SUS;
• Viver com HIV/Aids: direito à testagem, ao tratamento
34
gratuito com acompanhamento de um infectologista e
acesso aos remédios.
A questão do aborto no Brasil
O aborto não deve ser considerado como um método
contraceptivo. A mulher que tem uma vida sexual ativa e que
não quer ter filhos deve procurar orientação médica para usar
um dos métodos contraceptivos aprovados pelo Ministério da
Saúde e disponíveis na Rede Pública de Saúde.
O Código Penal Brasileiro não pune os médicos que
interrompem uma gravidez, quando a mulher corre risco de vida
ou quando a mulher engravidou de um estupro.
Aborto legal em caso de risco de vida da mulher
Em caso de risco de vida da mulher, o próprio médico pode
solicitar uma junta médica para atestar a necessidade do aborto. A
interrupção da gravidez será feita com toda segurança.
Neste tipo de interrupção de gravidez o médico não precisa
do consentimento da gestante nem do consentimento do
representante legal (em caso de menor ou doente mental).5
Aborto legal em caso de estupro
5 Fonte: Cfemea – Centro Feminista de Estudos e Assessoria, website; Onu Mulhe-
res, website. Acessos em 2016.
35
Em caso de estupro, a mulher deve imediatamente registrar a
ocorrência do crime em uma delegacia, de preferência Delegacia
da Mulher, para que, além de registrar o crime para uma futura
punição do estuprador, receber o Boletim de Ocorrência (BO)
e fazer o Exame de Corpo de Delito, que comprova a agressão
sexual sofrida.
Existem hospitais referência para interrupção da gravidez
resultante de estupro. Entretanto, todas as unidades de saúde
que tenham serviços de ginecologia e obstetrícia constituídos,
de acordo com a Norma Técnica do Ministério do Saúde,
deverão estar capacitadas para o atendimento a esses casos.6
Aborto legal em caso de fetos anencéfalos
Em 2012, o Superior Tribunal Federal decidiu como legal os
casos em que as mulheres decidem pelo aborto de fetos
anencéfalos (ou seja, cujo cérebro não se desenvolveu durante o
início da gestação) e médicos que realizam o procedimento não
cometem crime.7
Perfil da Mulher que Aborta no Brasil
Há movimentos sociais que defendem o direito de escolha das
mulheres. No Brasil são realizados cerca de 1.500.00 abortos
anualmente, em média 200 mil mulheres recorrem ao SUS por
6 idem.
7 Fonte: imprensa digital.
36
complicações decorrentes, e estima-se 10 mil morrem vítimas de
abortos clandestinos8, a maioria pobres e negras, que não tem
recursos financeiros para pagar um aborto clandestino seguro.
Pesquisa da Universidade de Brasília, em parceria com
o Instituto de Bioética e financiada pelo Fundo Nacional de
Saúde (2010), revelou o perfil da brasileira que interrompe a
gravidez: ela é casada, tem filhos, religião e pertence a todas
as classes sociais. Dentre o total de mulheres que declararam
na pesquisa já terem feito pelo menos um aborto, 64% são
casadas e 81% são mães. A classe social não interfere na
decisão. Do total de mulheres que abortaram, 23% ganham até
um salário mínimo, 31% de um a dois, 35% de dois a cinco e
11% recebem mais de cinco.
Das 2.002 entrevistadas no estudo, de 18 a 39 anos, 15%
declararam que já fizeram pelo menos um aborto. Projetado
sobre a população feminina do país nessa faixa etária, que é
de 35,6 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), esse número representaria 5,3 milhões de
mulheres. Até então, as estatísticas disponíveis sobre aborto no
Brasil eram as relacionadas a curetagens feitas nos hospitais,
uma média de 220 mil nos últimos sete anos.9
8 Fonte: Estatísticas do Aborto, Senado Federal – Comissão de Direitos Humanos,
2015
9 Fonte: UnB Notícias: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.
php?id=3404
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A barriga da mulher
4. Direitos de migrantes e refugiados
40
Para entender os direitos de migrantes e refugiados é preciso
dar um passo atrás e fazer a seguinte reflexão: os europeus,
principalmente portugueses, quando aqui chegaram,
encontraram diversos povos indígenas, falantes de diferentes
línguas e com culturas diversas. Depois disso, foram trazidos
africanos de centenas de nações e culturas de origem bantu
e iorubá, lamentavelmente, para o trabalho forçado. Indígenas
e africanos foram vítimas de um violento projeto colonial que
incluiu genocídio dos indígenas, e escravidão de indígenas e
africanos (incluindo mulheres e crianças, todos tratados como
mercadoria, não como humanos).
Posteriormente, vieram holandeses, espanhóis, italianos,
japoneses, coreanos, e mais recentemente, chineses, haitianos,
sírios, colombianos, bolivianos e muitas outras nacionalidades.
As razões para esses movimentos de grupos humanos
variam: vão desde ocupações violentas de territórios de
outras pessoas, a fuga de guerras ou desastres naturais, até
ocupações pacíficas em busca de trabalho, estudo e melhores
condições de vida.
Assim a identidade e a noção de pertencimento são
construções sociais.
41
Segundo O Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados – ACNUR10:
Os refugiados são pessoas que escaparam de conflitos
armados ou perseguições. Com frequência, sua situação
é tão perigosa e intolerável que devem cruzar fronteiras
internacionais para buscar segurança nos países mais
próximos, e então se tornarem um ‘refugiado’ reconhecido
internacionalmente, com o acesso à assistência dos Estados,
do ACNUR e de outras organizações. São reconhecidos
como tal, precisamente porque é muito perigoso para eles
voltar ao seu país e necessitam de um asilo em algum outro
lugar. Para estas pessoas, a negação de um asilo pode ter
consequências vitais.
O direito internacional define e protege os refugiados. A
Convenção da ONU de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados
e seu protocolo de 1967, assim como a Convenção da OUA
(Organização da Unidade Africana) – pela qual se regularam
os aspectos específicos dos problemas dos refugiados na
África em 1969 – ou a Declaração de Cartagena de 1984
sobre os Refugiados continuam sendo a chave da atual
proteção dos refugiados.
10 Fonte: ACNUR, webiste. http://www.acnur.org/
VOCÊ SABE A DIFERENÇA ENTRE IMIGRANTE E REFUGIADO?
42
A proteção dos refugiados tem muitos ângulos, que
incluem a proteção contra a devolução aos perigos dos
quais eles já fugiram; o acesso aos procedimentos de
asilo justos e eficiente; e medidas que garantam que seus
direitos humanos básicos sejam respeitados e que lhes
seja permitido viver em condições dignas e seguras que os
ajudem a encontrar uma solução a longo prazo. Os Estados
têm a responsabilidade primordial desta proteção. Por tanto,
o ACNUR trabalha próximo aos governos, assessorando-os e
apoiando-os para implementar suas responsabilidades.
Os migrantes escolhem se deslocar não por causa de uma
ameaça direta de perseguição ou morte, mas principalmente
para melhorar sua vida em busca de trabalho ou educação,
por reunião familiar ou por outras razões. À diferença dos
refugiados, que não podem voltar ao seu país, os migrantes
continuam recebendo a proteção do seu governo.
Para os governos, estas distinções são importantes.
Os países tratam os migrantes de acordo com sua própria
legislação e procedimentos em matéria de imigração,
enquanto tratam os refugiados aplicando normas sobre
refúgio e a proteção dos refugiados - definidas tanto em
leis nacionais como no direito internacional. Os países têm
responsabilidades específicas frente a qualquer pessoa que
solicite refúgio em seu território ou em suas fronteiras. O
ACNUR ajuda os países a enfrentar suas responsabilidades
de asilo e proteção.
O ACNUR responde pela assistência internacional prestada aos
refugiados e, sob determinadas condições, aos deslocados
internos e apátridas. Em 2013, o número de pessoas com
necessidade de apoio no mundo atingiu 51,2 milhões – o que
demonstra a magnitude do desafio a ser vencido.
43
O Brasil é parte da Convenção Internacional sobre o
Estatuto dos Refugiados de 1951 e do Protocolo de 1967 –
além de integrar o Comitê Executivo do ACNUR desde 1958. De
acordo com esses tratados, poderá solicitar refúgio no Brasil o
indivíduo que, devido a fundado temor de ser perseguido por
motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo
social específico ou opinião política, encontre-se fora de seu
país de nacionalidade (ou, no caso de apátridas, de seu país
de residência habitual) e não possa ou, devido a tal temor, não
queira retornar a ele.
A política brasileira para o acolhimento de refugiados
avançou significativamente nas últimas duas décadas,
especialmente após a promulgação do Estatuto do Refugiado
(Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997). Essa lei instituiu as normas
aplicáveis aos refugiados e aos solicitantes de refúgio no Brasil
e criou o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) – órgão
responsável por analisar os pedidos e declarar o
reconhecimento, em primeira instância, da condição de
refugiado, bem como por orientar e coordenar as ações
necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico
aos refugiados. A lei brasileira é reconhecida como uma das
mais avançadas sobre o assunto, tendo servido de modelo para
países da região.
ATUALMENTE EXISTEM CERCA DE 5 MIL REFUGIADOS NO BRASIL, DE MAIS DE 70 NACIONALIDADES.
44
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O grande vôo
5. Direitos socioambien-tais
48
Os direitos socioambientais dizem respeito a diversas questões
que combinam os direitos das pessoas ao meio ambiente,
considerando a preservação da biodiversidade, mas também
a garantia de territórios onde vivem povos e comunidades
tradicionais, acesso à água, a qualidade do ar, a agricultura
familiar, as cidades sustentáveis, o patrimônio genético,
governança ambiental e, no plano internacional, principalmente
mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida no planeta.
Com relação à legislação brasileira e desenho de políticas
públicas, podemos destacar:
• Constituição Federal de 1988: “Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações” (Título VIII (Da Ordem Social), em seu Capítulo
VI, no art. 225, caput);
• Licenciamento Ambiental: Lei 6.938/81 e Resoluções
CONAMA11 nº 001/86 e nº 237/97;
11 Conselho Nacional de Meio Ambiente.
49
• Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981);
• Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão
Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária -
PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica
e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma
Agrária - PRONATER (Lei 12.188/2010);
• Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010);
• Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de
Povos e Comunidades Tradicionais (Decreto 6040/2007).
Além disso, o Brasil participa ativamente, por meio do
governo e dos movimentos sociais ambientalistas, das principais
reuniões e conferências internacionais sobre o tema e é
signatário dos principais tratados:
• Conferência para Mudanças Climáticas Eco-92 (1992, Rio
de Janeiro);
• Tratado de Kyotto (1997), onde foram realizadas várias
alterações em relação às metas propostas no Rio, como
por exemplo, a de que o conjunto dos países mais
industrializados deveria diminuir a emissão de gases de
dióxido de carbono;
• Agenda 21: centraliza-se na ideia do desenvolvimento
sustentável, que devem ser colocadas em prática
durante esse século. Além da proteção da atmosfera e
oceanos, o objetivo da Agenda 21 é implantar medidas
sociais, principalmente para indígenas, ribeirinhos,
e povos e comunidades tradicionais, além de dar
atenção à questão de gênero em contexto de impactos
ambientais.
50
Na prática, o país não tem cumprido estas diretrizes e
leis, e tem enfrentado diversos problemas socioambientais
com violações de direitos humanos associadas. Atualmente,
os principais problemas são: o desmatamento das florestas, a
mineração, a contaminação das águas, os resíduos sólidos sem
tratamento e a poluição nas grandes cidades, além da remoção
de comunidades indígenas e quilombolas para construção de
hidrelétricas, e de comunidades periféricas em casos de obras
para grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo.
O problema está relacionado com o modelo de
desenvolvimento econômico, que privilegia a extração de
recursos naturais para exportação; associado aos interesses
privados desmedidos, fortemente representados no Congresso
Nacional (agronegócio, mineração etc), que tem tentado votar
agendas de retrocessos de direitos.
O modelo de desenvolvimento impacta, por exemplo, a
Região Amazônica, que tem os piores resultados no Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH). Ao lado dos grandes
projetos, há graves violações de direitos humanos, seja pela
disputa pela terra ou pelos impactos sociais e ambientais
gerados por grandes projetos de infraestrutura, e pelos anos
de invisibilidade no acesso a políticas públicas da população
diretamente afetada.
PARA SABER MAISsobre os impactos socioambientais na Amazônia Brasileira, visite a página: http://amazonia.inesc.org.br/
51
Uma questão injusta é que os países mais ricos, como
Estados Unidos e Japão, que emitem mais gases, se recusam
a mudar suas práticas, pois afirmam que isso impactaria a
economia. Por outro lado, os países mais pobres, em geral no
continente africano, que emitem menos gases, são aqueles mais
afetados pelas mudanças climáticas. As grandes corporações,
ou seja, os interesses privados, dominam os debates, no lugar
dos estados-nacionais. Após a última grande reunião sobre
mudanças climáticas, a COP21, que aconteceu em Paris (2015),
os ambientalistas saíram pessimistas:
“Mais negócios, aceleração dos mecanismos financeiros,
tecnologias para enfrentar o aquecimento global. Mais, mais,
mais. E é aqui que ficamos aturdidos, sem saber ou mesmo
ter forças para combater essa tendência que atravessa
como um trator sobre todos os povos e populações e
ecossistemas.” 12
12 Trecho do artigo “A verdade inconveniente da COP 21: as corporações ven-
ceram”, de Iara Pietricovsky, Inesc. Para ler os artigos completos sobre a COP21
acesse: www.inesc.org.br.
O MUNDO ESTÁ FICANDO MAIS QUENTE, E ISSO VIOLA DIREITOS HUMANOS.Estima-se que 5 milhões de pessoas serão mortas vítimas do aquecimento global até 2020, sendo que 80% delas serão crianças no sul da Ásia e na África Subsaariana.
Fonte: DARA. Relatório Monitor da
Vulnerabilidade Climática. Espanha, 2010.
52
O desastre de Mariana e a violação de direitos humanos
O rompimento da barragem da Samarco/BHP/Vale S.A. despejou
60 milhões de metros cúbicos de lama tóxica no meio ambiente:
19 pessoas morreram e 300 mil foram diretamente afetadas,
entre elas indígenas, pescadores e agricultores.13 Além da morte
do Rio Doce, que significa morte de espécies vegetais e animais,
o desastre impactou modos de vida e a cultura de diversas
comunidades.
“O desastre socioambiental de Mariana é sim produto desta
expansão sem precedentes da extração de minério de ferro
na história do Brasil. Uma expansão puxada pelo chamado
super ciclo de commodities da última década, que elevou
o preço da tonelada de minério de ferro a US$ 187,18 em
2011. Essa demanda mundial agressiva levou a uma corrida
de investidores para ampliar a extração, processo que, uma
vez iniciado com vultosos investimentos e expectativas
de retorno, foi intensificado ainda mais diante da queda
subsequente de preço, para manter o lucro – e o retorno
dos muitos acionistas. A ausência de uma regulação do setor
e das suas condições socioambientais de exploração está,
portanto, na raiz desse trágico episódio comandado por uma
articulação de interesses entre as grandes corporações,
ávidas por lucros, e pelo governo brasileiro, ávido por
superávits comerciais.” 14
13 Fonte: Comitê em Defesa dos Atingidos pela Mineração, 2015.
14 Trecho do artigo “Morte do Rio Doce: Um crime com muitos autores”, Alessandra
Cardoso, Inesc. Para ler o artigo completo acesse: www.inesc.org.br.
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Acabou-se o que era Doce
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De repente nesse verão
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De repente nesse verão
6. Direitos LGBTI
58
A sigla LGBTI significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans
(Transexuais, Travestis e Transgêneros) e Intersexos. Estas
denominações não abarcam toda a diversidade humana,
mas são algumas das possibilidades relativas ao gênero e à
sexualidade.
Nos últimos anos houve alguns avanços na garantia de
direitos no Brasil para estas pessoas:
• Foram realizadas duas Conferências Nacionais de
Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT;
• Foi criado o Conselho Nacional de Combate à
Discriminação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Transexuais - CNCD/LGBT;
• O Supremo Tribunal Federal, em decisão de maio de
2011, reconheceu que os casais homossexuais têm os
mesmos direitos e deveres que a legislação brasileira
já estabelece para os casais heterossexuais, inclusive
o casamento, pondo fim à discriminação legal dos
homossexuais;
• É criado, em 2013, o Sistema Nacional LGBT, gerido pela
Secretaria Nacional de Direitos Humanos;
59
• A ONU discute pela primeira vez, em 2013, a questão
LGBT de forma específica, e lança a campanha “Livres e
Iguais”, sendo que um dos vídeos traz relatos de mães
brasileiras. O ministro das Relações Exteriores, à época
Luiz Alberto Figueiredo Machado, participa, na sede
da ONU, em Nova York, da Reunião Ministerial sobre o
Papel das Nações Unidas para a Eliminação da Violência
e da Discriminação contra Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Transgêneros (LGBT).
Atualmente, os direitos das pessoas LGBTI estão garantidos
nas seguintes legislações:
1. Constituição de 1988: o artigo 3º, inciso IV, da CF veda
qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor
e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou
discriminado em função de sua preferência sexual.
2. União Estável: segundo decisão do STF de cinco de
Maio de 2011, não há impedimento ao reconhecimento
da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar;
3. Adoção: depois da decisão do STF de cinco de Maio
de 2011 já não existem óbices legais de qualquer
natureza para que um par homossexual pleiteie a
adoção conjunta de um infante. O art. 42,§ 2º do
Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece como
requisito para a adoção conjunta que os candidatos
sejam unidos pelo matrimônio ou vivam em união
estável, comprovada a estabilidade da família. A união
homoafetiva foi equiparada à união estável para todos
os efeitos.
60
4. Nome social: é o nome pelo qual pessoas trans e
travestis preferem ser chamadas cotidianamente, em
contraste com o nome oficialmente registrado que
não reflete sua identidade de gênero. Atualmente há
leis em diversos estados que preveem este direito,
principalmente em estabelecimentos como órgãos da
administração pública, Universidades e escolas.
5. Cirurgia de redesignação sexual: oferecida pelo SUS
para homens e mulheres trans, regulamentada pelo
Conselho Federal de Medicina.
Uma grande lacuna na legislação brasileira diz respeito
à tipificação da violência. Os projetos de lei que tramitam no
Congresso estão paralisados. Com isso, observamos estatísticas
e casos dramáticos. Em 2011, 266 pessoas LGBT foram
assassinadas no Brasil. Segundo o relatório oficial da Secretaria
Nacional de Direitos Humanos (SDH) – Dados do 2º Relatório
Sobre Violência Homofóbica 2012 –, o número de denúncias de
violência homofóbica cresceu 166% naquele ano. O número de
mortes, segundo Estudo do Grupo Gay da Bahia (GGB) mostra
que, entre 2011 e 2013, o número de homossexuais mortos no
Brasil aumentou 27%.
Casos de agressões movidas pela homofobia são
noticiados com frequência na mídia. A juventude é afetada
por esta violência de maneira ímpar, e alguns casos se tornam
emblemáticos, como o espancamento de adolescentes na
Avenida Paulista; a tortura e morte do adolescente Alexandre
Ivo, de apenas 14 anos; da jovem lésbica Kyvia Torres, que teve
os dedos decepados por um policial; e o caso mais recente,
do jovem Kaike, de 16 anos, cuja explicação de suicídio ainda
levanta dúvidas na comunidade LGBT e entre ativistas de
61
direitos humanos. Suicídios entre jovens trans também se
tornaram um fenômeno comum, no Brasil e no mundo.
As pessoas LGBTI e suas famílias se organizam pelos seus
direitos por meio de movimentos sociais e coletivos, como por
exemplo o Grupo Gay da Bahia e as Mães Pela Igualdade. São
realizadas, em todo Brasil, diversas Paradas do Orgulho LGBT,
sendo que uma das mais antigas, na cidade de São Paulo, está
em sua 20ª edição, reunindo milhões de pessoas todos os
anos. Estas pessoas tem demandas comuns, outras bastante
específicas. Mas o que as une é a luta por respeito, direitos civis
igualitários e combate à violência.
62
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As letrinhas do sexo
63
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Essa alegria me basta
7. Igualdade racial e diversidade étnica
66
O racismo e a discriminação baseados na raça/etnia são
motivos de violência e desigualdades no trabalho, no acesso
à universidade, e até mesmo no acesso à saúde das pessoas
negras/afrodescendentes e indígenas.
É importante ressaltar que raça não é uma questão
biológica, é uma construção social. É um conceito que foi
reforçado a partir da colonização dos europeus na América e
depois na Ásia e na África. Este conceito de “raça biológica”
dizia que as pessoas eram mais ou menos capazes, bonitas
ou inteligentes com base em algumas características físicas,
principalmente aquelas aparentes, como o tom da pele, a
textura dos cabelos, a característica dos olhos etc. Mas essa é
uma ideia errada! Tanto no meio científico, como os tratados
políticos internacionais, a visão de raça biológica é uma ideia
equivocada e racista. Biologicamente, somos todos humanos, e
nascemos iguais perante a lei.
No entanto, devido à construção histórica desse termo,
surgiu um fenômeno que chamamos de racismo: uma ação
social discriminatória que se baseia nesse conceito errôneo de
raça biológica para discriminar e violentar negros, indígenas,
descendentes de orientais e árabes, ou seja, todos aqueles que
não são percebidos como “brancos”.
67
No Brasil, o racismo está escondido atrás da ideia
de “democracia racial”, uma teoria já ultrapassada, que
perpetua a ideia de que brancos, negros e indígenas viveriam
harmoniosamente no país, sem considerar, portanto, a história
e as desigualdades da nossa sociedade. Desde o princípio da
colonização, indígenas e africanos recém-trazidos forçadamente
a este território – e depois os seus descendentes –, sempre
lutaram contra o trabalho forçado e o modelo que os subjugava
econômica e socialmente, matando culturas e pessoas.
Exemplos dessa resistência são os quilombos rurais e urbanos
de negros (e indígenas).
Quando o Brasil saiu da ditadura militar e inaugurou um
novo período democrático, os movimentos negros e indígenas
participaram da construção da Constituição de 1988, buscando
inserir neste importante texto os seus direitos.
Como foi dito acima, raça é um conceito construído social
e historicamente. Da mesma forma a questão da etnia, termo
mais utilizado para se falar da realidade dos indígenas no
Brasil. Essa diferença se deu na história devido à abordagem
da colonização: oficialmente, a Coroa Portuguesa definiu
que aos africanos seria destinado o trabalho e aos indígenas
a salvação através da catequização pela igreja católica. Na
prática, tanto indígenas como africanos e afrodescendentes
foram submetidos ao trabalho forçado (escravo) e à imposição
do cristianismo. Esse processo todo não foi tranquilo, foi
RESPEITAR, PORTANTO, OS DIREITOS DOS NEGROS E INDÍGENAS É UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS!
68
extremamente violento, permeado por tortura, estupros
e assassinatos daqueles que foram submetidos pelos
colonizadores.
Os grupos negros/afrodescendentes e os indígenas têm
histórias diferentes de luta no Brasil, até mesmo por terem
bases culturais diferenciadas.
Movimentos Negros, Quilombolas e Religiões de Matriz
Africana: a questão da raça
Há também diversidade com relação à negritude e africanidade
em nosso país. Entre os séculos XVI e XIX, o Brasil recebeu
aproximadamente cinco milhões de africanos e africanas na
condição de homens e mulheres escravizados, vindos de países
como Angola, Congo, Moçambique, Benin, Togo, Gana, Guiné,
Nigéria e Senegal. Eles trouxeram para o país mais que sua força
de trabalho, trouxeram tecnologias agrícolas e de mineração,
suas culturas, saberes, tradições e valores civilizatórios
(SEPPIR, 2016). Assim, diferentes comunidades e grupos sociais
percebem sua identidade de acordo com a matriz cultural
(Yorùbá, Bantu e Ewé Fon), e os processos históricos e culturais
de resistência vividos.
No Brasil urbano, os movimentos negros se articularam
para o alcance dos direitos civis e políticas reparatórias, desde
a Constituição de 1988 até a política de ações afirmativas
(cotas), saúde, moradia, educação entre outras. Destaca-se
o fato de as existirem movimentos de mulheres negras,
com pautas específicas para a garantia dos direitos humanos
destas. Além dos movimentos negros propriamente ditos, há
diversas expressões artísticas baseadas na negritude, como
o movimento Hip Hop e o Funk, e derivados mais recentes
69
('passinho', 'slam', etc.). Tais grupos possuem territorialidades
e culturas específicas, e se utilizam da música, dança e grafite
para discursar criticamente sobre as desigualdades sociais e
o racismo.
As comunidades quilombolas se fundam a partir da
noção de resistência. Se em um primeiro momento eram
definidas como comunidades constituídas a partir da “fuga”
(“quilombo histórico”), hoje entende-se que foram e são grupos,
principalmente formados por descendentes de africanos (mas
não só), socialmente organizados contra sistemas de opressão e
que tem a territorialidade como forte componente cultural e de
demandas por direitos. Atualmente, os quilombolas, em todo o
Brasil, tem sido vítimas de violações sérias de direitos humanos,
principalmente pela pressão exterior aos seus territórios.
70
COMUNIDADES QUILOMBOLAS E SEUS DIREITOS
As comunidades quilombolas são grupos étnicos – predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana –, que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. Estima-se que em todo o País existam mais de três mil comunidades quilombolas.
O Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A partir do Decreto 4883/03 ficou transferida do Ministério da Cultura para o Incra a competência para a delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como a determinação de suas demarcações e titulações.
Conforme o artigo 2º do Decreto 4887/2003, “consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. É a própria comunidade que se autoreconhece “remanescente de quilombo”. O amparo legal é dado pela Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho, cujas determinações foram incorporadas à legislação brasileira pelo Decreto Legislativo 143/2002 e Decreto Nº 5.051/2004.
Cabe à Fundação Cultural Palmares emitir uma certidão sobre essa autodefinição. O processo para essa certificação obedece norma específica desse órgão (Portaria da Fundação Cultural Palmares nº 98, de 26/11/2007). Por força do Decreto nº 4.887, de 2003, o Incra é o órgão competente, na esfera federal, pela titulação dos territórios quilombolas.
Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA (website, acesso em 2016).
71
Por fim, destacamos os grupos de matriz africana,
articulados em torno da ancestralidade africana. Tais
coletividades se expressam por meio do candomblé (mais que
uma religião, uma ‘tradição’, um modo de vida), ou religiões
afro-brasileiras, como a umbanda e o catolicismo negro mineiro,
paraense, etc. Isso para citar somente algumas expressões
fundadas a partir da história da africanidade no Brasil. Suas
demandas por políticas publicas e garantia de direitos,
expressas no I Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável
dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana,
priorizam os seguintes temas: fortalecimento institucional
dos grupos, combate ao racismo, garantia de direitos,
territorialidade e cultura, inclusão social e desenvolvimento
sustentável. Estes grupos também são vítimas de violações
de direitos humanos, principalmente aquelas decorrentes do
racismo e por parte de fundamentalistas religiosos cristãos.
VOCÊ SABE O QUE É RACISMO INSTITUCIONAL?
No Brasil, o Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) implementado no Brasil em 2005“, definiu o racismo institucional como “o fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude que combina estereótipos racistas, falta de atenção e ignorância. Em qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações. (CRI, 2006, p.22).
Fonte: Guia de Enfrentamento ao Racismo Institucional. Geledés – Instituto da Mulher
Negra e Cfemea – Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Onu Mulheres. 2013.
72
Os indígenas: a questão da etnia
Etnia é uma coletividade de pessoas que se define a partir da
cultura, sendo a cultura tudo aquilo que define este grupo:
a língua, o sistema de parentesco, formas de organizar sua
produção, economia e política, alimentação, religiosidade,
relação com territórios, e assim por diante.
Atualmente, no Brasil, segundo dados do censo do IBGE
realizado em 2010, a população brasileira soma 190.755.799
pessoas, destas 817.963 são indígenas, representando 305
diferentes etnias. Foram registradas no país 274 línguas
indígenas.
A Constituição Federal de 1988 reconheceu a capacidade
civil dos povos indígenas e avançou na ampliação e garantia dos
seus direitos, alinhando-se à Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), à Declaração Universal
dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Organização das
Nações Unidas (ONU), instrumentos jurídicos internacionais
que referenciam o campo do indigenismo. A atualização do
principal marco jurídico brasileiro inaugurou uma nova fase
do indigenismo estatal e significou o rompimento, no campo
do direito, com valores etnocêntricos que contribuíram
historicamente para reforçar assimetrias nas relações entre
o Estado e os povos indígenas. Cabe ressaltar, contudo, que
apesar da Constituição Federal de 1988 ter estabelecido um
novo paradigma sobre os direitos dos povos originários do
Brasil, rompendo com a perspectiva tutelar e integracionista,
a concretização dessa ruptura ainda é um processo em curso.
(FUNAI, website, acesso em 2016).
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1. Ordenamento fundiário
A demarcação de terras indígenas contribui para a política
de ordenamento fundiário do Governo Federal e dos Entes
Federados, seja em razão da redução de conflitos pela terra,
seja em razão de que os Estados e Municípios passam a
ter melhores condições de cumprir com suas atribuições
constitucionais de atendimento digno a seus cidadãos, com
atenção para às especificidades dos povos indígenas.
2. Garantia da diversidade étnica e cultural
A demarcação das terras indígenas também beneficia,
indiretamente, a sociedade de forma geral, visto que
a garantia e a efetivação dos direitos territoriais dos
povos indígenas contribuem para a construção de uma
sociedade pluriétnica e multicultural. Ademais, a proteção
ao patrimônio histórico e cultural brasileiro é dever da União
e das Unidades Federadas, conforme disposto no Art. 24,
inciso VII da Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. As terras indígenas são áreas fundamentais para
a reprodução física e cultural dos povos indígenas, com a
manutenção de seus modos de vida tradicionais, saberes
e expressões culturais únicos, enriquecendo o patrimônio
cultural brasileiro.
MAS POR QUE DEMARCAR TERRAS INDÍGENAS?Conheça algumas razões apontadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI):
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3. Conservação ambiental
Beneficiam-se, ademais, a sociedade nacional e mundial com
a demarcação das terras indígenas, visto que tal medida
protetiva consolida e contribui para a proteção do meio
ambiente e da biodiversidade, bem como para o controle
climático global, visto que as terras indígenas representam
as áreas mais protegidas ambientalmente (segundo dados
PPCDAM - Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento
na Amazônia, 2004-2012), localizadas em todos os biomas
brasileiros. Assim, a demarcação de terras indígenas
também contribui para que seja garantida a toda população
brasileira e mundial um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, nos termos do art. 225 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
4. Proteção de Povos Indígenas Isolados
A demarcação de terras indígenas é especialmente
importante para os povos indígenas isolados, que optam
por não manter qualquer relação de contato permanente
com a sociedade nacional, vivendo de modo autônomo
em ambientes que conhecem em profundidade. Devido
à situação de isolamento voluntário, esses povos são
especialmente vulneráveis a doenças e epidemias.
Desse modo, ao executar uma política de proteção
territorial diferenciada voltada a povos isolados, pautada
pela premissa do não-contato, o Estado brasileiro
evita o genocídio, nos termos da legislação nacional e
internacional.15
15 Fonte: FUNAI, website, acesso em 2016.
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O que que esse povo tá fazendo aqui
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Gente nova
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Aquela coisa de pele
8. Justiça fiscal*
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A justiça fiscal é um tema que remete à desigualdade de
impostos pagos pelas pessoas: atualmente, no Brasil, as
mulheres negras e pobres são as que proporcionalmente mais
pagam impostos, pois o nosso sistema tributário é regressivo, ou
seja, os pobres contribuem proporcionalmente mais que os ricos.
Em comparação com outros países, a carga tributária
brasileira, de 36% em relação ao PIB, está na média dos outros
lugares. O problema é que temos aqui uma situação de injustiça
fiscal que penaliza os pobres e a classe média. Essa situação
de desigualdade acontece porque grande parte da estrutura
tributária do país está baseada em impostos indiretos, ou
seja, que incidem sobre o consumo de bens e serviços e não
sobre a renda e a propriedade: por exemplo, se o cidadão vai
comprar arroz no supermercado, uma pessoa pobre paga o
mesmo imposto que uma pessoa rica. Mas quando se relaciona
este imposto com o salário que aquela pessoa recebe, a
proporção que o pobre paga é muito maior que a da pessoa
rica. Isso configura uma situação de injustiça fiscal. Os ricos
têm patrimônio e a transmissão desses ativos de geração
em geração paga impostos muito baixos. Além disso, os ricos
também recebem lucros e dividendos, que não são taxados.
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A evasão fiscal, também conhecida como sonegação fiscal,
é o uso de meios ilícitos para evitar o pagamento de taxas,
impostos e outros tributos. Entre os métodos usados para
evadir tributos, estão a omissão de informações, as falsas
declarações e a produção de documentos que contenham
informações falsas ou distorcidas, como a contratação de
notas fiscais, faturas, duplicatas etc.
Já a elisão fiscal configura-se num planejamento que utiliza
métodos legais para diminuir o peso da carga tributária
num determinado orçamento. Respeitando o ordenamento
jurídico, o administrador faz escolhas prévias (antes dos
eventos que sofrerão agravo fiscal) que permitem minorar o
impacto tributário nos gastos do ente administrado.
Os incentivos fiscais podem atuar como elisão induzida por
lei em casos como por exemplo, os incentivos fiscais para as
mineradoras que exploram recursos minerais na Amazônia:
as empresas não pagam impostos, ou pagam muito pouco,
e além de produzir impactos socioambientais com suas
atividades, deixam de contribuir para o orçamento da região,
que seria revertido em políticas públicas. 16
16 Fonte: imprensa digital, 2016; e amazonia.inesc.org.br
VOCÊ SABE A DIFERENÇA ENTRE ELISÃO E EVASÃO FISCAL?Elisão e evasão fiscal são duas formas de se evitar o pagamento de tributos. Conheça as diferenças:
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A injustiça fiscal gera a concentração de renda. Cerca
de 1% da população mundial detém quase 50% da riqueza
produzida no planeta. Os outros 99% dividem, em partes
também desiguais, os cerca de 50% restantes. E um dado
chocante: as 62 pessoas mais ricas do mundo têm tanto
dinheiro quanto metade da população global. (Fonte: Oxfam
Brasil, 2014-2016).
Soma-se a este quadro o problema dos paraísos fiscais.
Um paraíso fiscal é um estado nacional ou região autônoma
onde a lei facilita a aplicação de capitais estrangeiros, com
alíquotas de tributação muito baixas ou nulas, além de garantir
o sigilo bancário. Os ricos tendem a enviar os recursos para
estes lugares para evitar o pagamento de impostos nos seus
próprios países, isso inclui os ricos brasileiros.
A sonegação também é um problema sério no Brasil:
somente as empresas inadimplentes no país, devem à Receita
Federal cerca de 392 bilhões de reais. Esses recursos poderiam
ser investidos em políticas públicas.
A evasão, elisão e sonegação fiscal agravam a
regressividade, na medida em que os mais ricos criam
mecanismos, lícitos e ilícitos, para evitar pagar impostos ou
pagar bem menos impostos:
• A Tax Justice Network (TJN) estimou que os brasileiros
possuíam, em 2010, ativos em centros offshore da
ordem de U$ 520 bilhões – o que equivalia a cerca de
um quarto do PIB.
• O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda
Nacional (Sinprofaz) estima que a sonegação fiscal
foi da ordem de R$ 500 bilhões em 2014, o que
correspondeu a cerca de 30% da arrecadação e 10% do
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PIB – equivalente ao orçamento da Previdência Social
para o mesmo ano.
A evasão, elisão e sonegação fiscal impedem que os
Estados cumpram a obrigação em aplicar o máximo de recursos
disponíveis para a realização dos direitos humanos, drenando
bilhões para fora do Estado – só os fluxos ilícitos estimados pelo
Global Fiscal Integrity (GFI) para 2012 correspondem a cerca de
3 anos do Programa Bolsa Família ou 1 ano de SUS.
* Esta sessão foi elaborada a partir da entrevista realizada por Joana Rozowykwiat
com Grazielle David, assessora do Inesc, intitulada “Impostos: O leão que mia para
os super-ricos”; relatório da Oxfam Internacional “Working for a few”, 2014, traduzido
para o português em 2016 pela Oxfam Brasil; e a apresentação de Nathalie Beghin,
Coordenadora da Assessoria do Inesc, “Brasil: como a evasão,a elisão e a sonegação
fiscal violam Direitos Humanos e minam a democracia,” no âmbito da Rede Brasileira
pela Integração dos Povos, REBRIP, em 2015.
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O anjo
9. Direito à cidade
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Cerca de metade da humanidade vive hoje em cidades.
Populações urbanas cresceram de cerca de 750 milhões
em 1950 para 3,6 bilhões em 2011. Até 2030, quase 60% da
população mundial viverá em áreas urbanas. O crescimento
das cidades significa que elas serão responsáveis por prestar
serviços a um número sem precedentes de pessoas. Isso inclui
habitação, água potável, ar limpo, educação e saúde acessíveis
e transporte eficiente, entre outros..
Nas próximas décadas, 95% do crescimento da população
urbana mundial ocorrerá em países em desenvolvimento.
Espera-se que a população urbana dos países africanos cresça
de 414 milhões para mais de 1,2 bilhão até 2050, enquanto a dos
asiáticos irá crescer de 1,9 bilhão para 3,3 bilhões. Essas regiões
juntas vão contabilizar 86% do crescimento total da população
urbana mundial. A tendência em relação à urbanização tem
enormes implicações nos esforços para reduzir a pobreza, gerir
recursos naturais, proteger o meio ambiente e enfrentar as
mudanças climáticas. Enquanto cidades ocupam 2% da massa
de terra no mundo, elas produzem até 70% da emissão de
dióxido de carbono. (Fonte: Onu-Habitat, 2014).
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O conceito de direito à cidade foi desenvolvido pelo
sociólogo francês Henri Lefebvre em seu livro de 1968 Le droit
à la ville. Ele define o direito à cidade como um direito de não
exclusão da sociedade urbana das qualidades e benefícios
da vida urbana. No texto, escreve sobre a segregação sócio-
econômica e seu fenômeno de afastamento, que gera “centros”
em oposição às “periferias”. Perante este cenário, ele exige
o direito à cidade como uma recuperação coletiva do espaço
urbano por grupos marginalizados que vivem nos distritos
periféricos da cidade. Na década de 1990, as ideias deste
autor foram retomadas nas áreas de geografia e planejamento
urbano, e se tornaram o slogan de muitos movimentos sociais.
Hoje, a cidade centrada no mercado é o foco, incluindo novos
métodos de produção e novas formas de segregação e
exclusão. Há uma ausência de participação na formação da
cidade por aqueles que foram excluídos do desenvolvimento
econômico, para aqueles que foram deslocados por meio de
gentrificação ou para aqueles que estão sofrendo com políticas
de imigração excludentes. (Fonte: RioOnWatch, 2016).
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No Brasil, o Estatuto da Cidade de 2001 inscreveu o
direito à cidade na lei federal. No entanto, no contexto das
rápidas transformações em curso marcadas pela falta de
participação social, o direito coletivo à cidade está seriamente
comprometido. Um caso exemplar é aquele dos moradores
do Rio de Janeiro frente aos grandes eventos esportivos, em
que as obras de revitalização de espaços públicos ignoram
MILTON SANTOS E O DIREITO À CIDADEO Brasil também possui uma importante referência para pensar as cidades democráticas, o geógrafo Milton Santos. A partir da noção de
“geografia cidadã”, construiu uma obra crítica sobre a questão da urbanização no Brasil e na América Latina composta de dezenas de livros como A urbanização brasileira (1980), O Espaço do Cidadão (1987) e Por uma outra globalização (2000).
Ele questionou as desigualdades na cidade, os processos de gentrificação, e a própria globalização. Para ele:
“Não temos que acreditar que as formas-conteúdo do presente são inevitáveis, incontestáveis, mas que podem e devem ser recusadas e que este novo momento da revolução burguesa, marcada pelo globalitarismo, será substituído por um outro, no qual predominará a solidariedade local, a solidariedade horizontal em substituição às verticalidades opressivas das empresas hegemônicas, quando a luta cotidiana do povo abrirá novos caminhos.”
(Denise Elias, 2001).
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territorialidades inscritas em partes nobres da cidade, antes
abandonadas pelo poder público, como foi o caso da área
portuária daquela cidade, que removeu centenas de pessoas
sem considerar o diálogo. “Em protestos e debates por toda a
cidade, os moradores do Rio estão questionando até que ponto
a sua cidade está sendo modelada sem eles e para os outros”.
(Fonte: RioOnWatch, 2016).
Além do direito à moradia, outras pautas se agregam à
noção de direito à cidade, como a mobilidade urbana (tarifas
mais justas no transporte coletivo, espaço para bicicletas), os
resíduos sólidos (“lixo e cidadania”), o acesso aos bens culturais
e serviços, a agricultura urbana (hortas em espaços públicos da
cidade), as questões raciais e relações de gênero, e também o
direito de estar na periferia, tendo de fato direitos garantidos
em todos os sentidos. Fala-se, portanto, no direito à circulação e
à permanência/identidade.
AS MULHERES TAMBÉM TEM DIREITO À CIDADE?“Enquanto andar sozinha pela rua significar o medo de ser assediada, ameaçada ou violentada, a resposta é não! As mulheres não têm direito à cidade porque não têm uma vivência plena e segura do espaço público. Não apenas nas ruas e demais espaços, mas também no transporte público, especialmente em horários de pico, quando a superlotação favorece a ação de abusadores.”
Raquel Rolnik, 2016 (publicado originalmente no Portal Yahoo).
Raquel Rolnik é arquiteta e urbanista e professora da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foi relatora especial do
Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Direito à Moradia
Adequada, por dois mandatos (2008-2011, 2011-2014).
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Uma boa noticia é que recentemente foi aprovado
na Câmara dos Deputados o transporte como um direito
constitucional, o que impactará todo o sistema urbano de
transportes nos próximos anos. Entendeu-se que, para acessar
todos os outros direitos fundamentais, como saúde e educação,
é preciso se deslocar: logo, se os cidadãos não tem acesso a
transporte, principalmente os pobres, estariam sendo violados
seus outros direitos.
Atualmente, há muito movimentos sociais ligados à
agenda de direito à cidade, e eles estão articulados em torno
da Rede Social Brasileira por Cidades Justas Democráticas e
Sustentáveis.
VOCÊ SABE O QUE É GENTRIFICAÇÃO?Chama-se gentrificação fenômeno que afeta uma região ou bairro pela alteração das dinâmicas da composição do local, tal como novos pontos comerciais ou construção de novos edifícios, valorizando a região e afetando a população de baixa renda local. Tal valorização é seguida de um aumento de custos de bens e serviços, dificultando a permanência de antigos moradores de renda insuficiente para sua manutenção no local cuja realidade foi alterada.
Fonte: imprensa digital, 2016.
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Uma bicicleta à esquerda
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