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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III

Profª Évelyn Cintra Araújo

2017

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

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1 TEORIA GERAL DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

1.1 CONCEITO DE EXECUÇÃO

Ação de execução, portanto, é aquela em que o autor pretende a satisfação de um direito

reconhecido, em regra, em um título extrajudicial, e, excepcionalmente, em um título judicial. É

“satisfazer uma prestação devida” (DIDIER JR, 2009, p. 28), seja ela espontânea, quando o devedor

voluntariamente a satisfaz, ou forçada, quando a satisfação se dá pela coerção estatal.

1.2 CLASSIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO

A execução em geral pode ser classificada por diversos critérios, a saber:

a) quanto ao procedimento: a execução pode ser comum, quando serve a uma generalidade de

créditos; ou especial, quando serve a alguns créditos específicos, como o alimentar (arts. 528 e 911),

contra a Fazenda Pública (arts. 534 e 910) e o fiscal (Lei nº 6.830/80).

A diferença é importante na medida em que o art. 780, CPC e a Súmula 27 do STJ permitem a

cumulação de execuções fundadas em títulos diferentes, desde que, é claro, se observe os requisitos

da cumulação previstos no §1º do art. 327, notadamente o inciso III, que exige a compatibilidade de

ritos. Sendo assim, apenas será possível a cumulação entre duas execuções contra o mesmo

executado se ambas forem comuns ou especiais da mesma natureza.

b) quanto ao título que se executa: pode ser execução fundada em título executivo judicial ou

execução fundada em título executivo extrajudicial. O procedimento varia de acordo com o título que

se pretende executar.

Se o título for judicial (art. 515), aplicam-se as regras do cumprimento da sentença (arts. 513

e ss), ou seja, a execução ocorre no mesmo processo donde originou o título, numa mera fase de

natureza executiva. Se, por outro lado, o título for extrajudicial (art. 784), a execução dar-se-á

mediante ação própria e processo autônomo, aplicando das regras previstas a partir do art. 829.

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Importante ressaltar que, quando o título judicial se formar sem prévio processo de

conhecimento, como no caso da sentença penal condenatória, da sentença arbitral e da decisão

homologatória de decisão estrangeira pelo STJ, não há que se falar em fase de cumprimento de

sentença, razão pela qual, nestes casos, tais títulos judiciais serão excepcionalmente executados por

meio de ação própria e processo autônomo. Todavia, esclarece-se ainda que, apesar de formalmente

a execução se dar por processo autônomo, adotam-se no seu curso as regras do cumprimento de

sentença (como o pedido de multa do art. 523, §1º etc).

c) quanto à mutabilidade ou estabilidade do título judicial: a execução, ou melhor, o cumprimento de

sentença pode ser provisório (art. 520 e ss) ou definitivo (art. 523 e ss).

Será provisório o cumprimento de sentença se este for fundado em um título judicial

provisório, ou seja, em decisão judicial passível de alteração, em razão de pendência de recurso

desprovido de efeito suspensivo (que é a regra geral – art. 995). Isso significa que essa decisão pode,

desde a sua publicação, surtir efeitos, sendo cumprida provisoriamente, ainda que esteja passível de

modificação pelo julgamento ulterior do recurso.

Será, ao contrário, definitivo se fundado em um título judicial definitivo, ou seja, acobertado

pela coisa julgada material, não mais sujeita a recurso, tornando-se imutável.

Nos termos do art. 520 do CPC, o cumprimento provisório será realizado da mesma forma

que o cumprimento definitivo. Todavia, por se tratar de satisfação de um título ainda passível de

alteração, algumas regras especiais deverão ser observadas.

Uma delas consiste na obrigatoriedade, via de regra, da prestação de caução idônea pelo

exequente quando a causa for de natureza patrimonial (art. 520, IV). Tal exigência legal tem por

objetivo garantir eventual prejuízo do executado oriundo de futura modificação da decisão recorrida,

sendo dispensadas nas hipóteses do art. 521, quais sejam:

- crédito de natureza alimentar, independente de sua origem;

- o credor demonstrar situação de necessidade;

- pender agravo em REsp ou RE, fundado nos incisos II e III do art. 1.042;

- sentença estiver em consonância com súmula do STF ou do STJ, ou com acórdão proferido em

julgamento de casos repetitivos.

Em qualquer caso, se da dispensa resultar manifesto risco de grave dano, de difícil ou incerta

reparação, a exigência da caução será mantida (parágrafo único do art. 521).

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Por conseguinte, segundo os incisos II e III, sobrevindo decisão que modifique ou anule a

sentença, total ou parcialmente, ficará sem efeito, nesta proporção, tal cumprimento, restituindo as

partes ao estado anterior1 e respondendo o exequente, objetivamente (inciso I), pelos prejuízos que o

executado venha a sofrer.

O cumprimento provisório da sentença será requerido pelo exequente mediante petição

escrita perante o juízo competente. E, não sendo eletrônicos os autos, tal petição deverá estar

acompanhada de cópia dos documentos previstos no art. 522, parágrafo único, cuja autenticidade

poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade. Tal exigência se justifica para

fins de formação de autos apartados, já que os autos principais subirão ao órgão ad quem para o

julgamento do recurso.

d) quanto ao tipo de providência executiva determinada pelo juiz (se depende ou não da participação

do devedor): a execução pode ser direta (ou execução por sub-rogação) ou indireta.

A execução direta ou por sub-rogação é aquela que o Judiciário dispensa a colaboração do

devedor para a efetivação da prestação devida, promovendo-a em seu lugar através da adoção de

medidas sub-rogatórias. É a execução típica das chamadas sentenças de conhecimento com efeito

executivo lato sensu. Ex: sentença de despejo. Ocorre comumente quando se condena o devedor à

prestação de uma obrigação de entregar coisa. Portanto, o regime de execução é o das chamadas

tutelas específicas das obrigações de entregar coisa (art. 498), que ocorre no bojo do próprio

processo de conhecimento (processo sincrético).

Já a execução indireta é aquela que, ao invés do Estado tomar as providências que deveriam

ser tomadas pelo devedor, ele o força, por meio de medidas coercitivas, a cumprir a prestação.

Portanto, há atuação do devedor no momento da efetivação da prestação mediante coerção indireta.

É a execução das sentenças mandamentais, que ocorre normalmente quando se condena o devedor à

prestação de uma obrigação de fazer/não fazer. Aqui também obedece ao regime de execução da

tutela específica, no entanto, tutela específica das obrigações de fazer ou não fazer (art. 497).

1 Nos termos do art. 520, §4º, tal restituição não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de

propriedade ou de outro direito real eventualmente realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado.

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1.3 PRINCÍPIOS

a) princípio da efetividade

Pelo princípio da efetividade, corolário do princípio maior do devido processo legal, o Estado-

juiz tem o dever de entregar uma tutela executiva que realmente satisfaça, de forma célere e

adequada, o direito reconhecido do autor. Portanto, não basta a entrega da tutela executiva;

necessário é a sua entrega efetiva.

Diante dessa inarredável realidade, que ora se impõe ao Poder Judiciário, é que se tema

ampliado os poderes do magistrado no sentido de poder promover, independentemente de

provocação, as medidas executivas adequadas ao caso concreto. Trata-se da consagração do

chamado poder geral de efetivação. Exemplos: tutela específica (arts. 497 c/c 536; e 537, NCPC).

b) princípio da atipicidade

Do princípio da efetividade, que atualmente tem concentrado nas mãos do juiz poderes

executivos, é que decorre o princípio da atipicidade dos meios executivos, no sentido de que, diante

do dever de entregar a tutela executiva mais justa, adequada e efetiva, poderá o magistrado valer-se

de outros meios executivos, que não necessariamente os tipificados em lei, que julgar necessários

para tal mister (§1º do art. 536).

A questão é se esse princípio encontra assento em todo e qualquer procedimento executivo,

inclusive aquele fundado em obrigação de dar quantia. Segundo uma parcela da doutrina (Cássio

Scarpinella Bueno, Marcelo Lima Guerra, entre outros), sim, é possível o juiz adotar quaisquer

medidas coercitivas, como multa p. ex., na execução por quantia certa para incrementar a medida

executiva típica dessa espécie executiva, que é a expropriação.

c) princípio da primazia da tutela específica

A execução, em nome do princípio da efetividade, deverá ser, de preferência, específica. Ou

seja, deve-se dar prioridade à entrega da obrigação como ela é, tal qual houvesse sido cumprido

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espontaneamente pelo devedor. Em último caso, não isso possível, deverá se converter o direito em

perdas e danos.

Essa é a orientação do art. 499, §1º: “a obrigação somente será convertida em perdas e

danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado

prático equivalente”.

Nas execuções de dar quantia, o princípio se revela na faculdade dada ao credor entre

receber o dinheiro, produto da alienação dos bens penhorados, ou a imissão na posse destes

(adjudicação).

d) princípio da boa-fé processual

Impõe o dever às partes de não se comportar de forma desleal, abusiva ou fraudulenta. Na

execução é muito comum a violação desse princípio, com excessos e fraudes de ambas as partes.

É exatamente por essas circunstâncias que a legislação regula dois institutos que

representam a ruptura da parte com a figura da boa-fé processual. Trata-se da fraude contra credores

e da fraude à execução.

No primeiro caso, ocorre no curso do processo de conhecimento a fim de dilapidar o

patrimônio e aumentar o estado de insolvência do devedor. Possui o pressuposto objetivo de redução

patrimonial (evento damni) e o pressuposto subjetivo da ciência do devedor de causar do dano

(consilium fraudis). É um defeito social do negócio jurídico e a ação destinada à invalidade do negócio

feito em fraude contra credores denomina-se ação pauliana. Trata-se de instituto de direito material,

previsto nos arts. 158 a 165, do Código Civil brasileiro.

Já a fraude à execução é uma espécie de fraude contra credores qualificada e ocorre no curso

da execução, sendo um instituto de direito processual (art. 792, NCPC). Ambos serão estudados em

momento oportuno.

e) princípio da responsabilidade patrimonial (ou da realidade da execução)

De acordo com o art. 798 do NCPC, somente o patrimônio do devedor ou de terceiro

responsável que pode ser objeto de execução, ao contrário do que ocorria no Direito Romano, onde o

devedor pagava através de sua liberdade (ou seja, ele virava escravo de seu credor).

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Todavia, face à humanização do direito, esse princípio tem sofrido mitigações quando se fala,

por exemplo, em impenhorabilidade de alguns bens do devedor; ou quando se aplica uma medida de

coerção indireta, forçando a pessoa do devedor a cumprir a obrigação com seu comportamento,

embora não se dá sobre o seu corpo, salvo no caso de prisão civil por dívida alimentar (art. 528, §5º,

NCPC)2.

f) princípio do contraditório

Muito se discutiu acerca do cabimento ou não desse princípio no processo executivo, na

medida em que o devedor é chamado a juízo não para se defender, mas para cumprir a obrigação. E

mais: ainda que deseje discutir o débito, defendendo-se, deverá fazê-lo mediante uma ação de

conhecimento: os embargos do executado.

Entretanto, apesar da peculiaridade, é assente de que o princípio é aplicável na execução, em

observância com o art. 5º, inc. LV, da CF, já que se trata de um processo judicial, porém, de forma

eventual, ou seja, depende de provocação do próprio réu.

g) princípio da menor onerosidade da execução

Segundo o art. 805, “quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz

mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”.

Algumas observações deverão ser feitas:

1ª) tal opção pressupõe que os diversos meios sejam igualmente eficazes (princípio da efetividade

deve ser respeitado).

Assim, se há dois bens, penhora deverá recair sobre aquele que gerar situação menos

gravosa (nesse contexto, se insere a questão das impenhorabilidades - bens necessários à

sobrevivência do devedor e de sua família; assim, o salário, as utilidades domésticas correspondentes

a um médio padrão de vida, os instrumentos necessários ou úteis ao exercício da profissão, o bem de

família).

2 Segundo Didier Jr., “conforme a orientação do STF, que ao julgar o RE n. 466.343-1, entendeu que nem mesmo para os

casos de depositário infiel é possível a utilização da prisão civil por dívida. Entendeu o STF que os tratados internacionais ratificados no Brasil, que restringem a prisão civil por dívida à obrigação de alimentos, impedem que se admita a prisão civil para o depositário infiel, mesmo com expressa autorização constitucional”.

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Esse princípio autoriza ainda a observância do art. 848, NCPC, podendo o exequente

requerer a substituição do bem penhorado por dinheiro, pois que não há outro meio mais eficaz de

satisfazer seu crédito, ainda que mais gravoso para o executado. Aliás, o NCPC estabeleceu, em seu

art. 835, §1º, a prioridade da penhora em dinheiro, só podendo o juiz alterar a ordem dos demais

bens ali previstos.

Todavia, não autoriza parcelamento de dívidas, abatimento de juros ou correção monetária.

O único parcelamento possível será o judicial previsto no art. 916, NCPC.

2ª) visa, num primeiro momento, impedir a execução abusiva (princípio da boa-fé), e, depois, o

executado;

3ª) o princípio aplica-se em qualquer execução;

4ª) o juiz pode aplicá-lo de oficio, ou seja, se o credor optar pelo meio mais gravoso, poderá o juiz

determinar que a execução se faça pelo meio menos oneroso (art. 836 – não efetivação da penhora

de bens se o valor for absorvido totalmente pelas custas).

No entanto, quedando-se inerte o juiz e o executado, no primeiro momento que lhe couber

falar nos autos, não se pronunciar acerca dessa onerosidade excessiva, haverá preclusão.

h) princípio da proporcionalidade

É manejada quando houver colisão entre os demais princípios, adotando a solução mais

razoável, adequada e proporcional. É muito comum o choque entre a dignidade da pessoa humana do

executado, que lhe garante a impenhorabilidade de alguns bens, e a efetividade da execução. Outro

caso é o choque entre o princípio da segurança e o da atipicidade dos meios executivos etc.

Exemplos:

1) aplicação do art. 805 – o juiz deverá dar a máxima proporcionalidade nesse caso;

2) art. 835 (exceto o dinheiro, que é prioridade, a ordem de nomeação de bens é relativa, sopesando

os princípios da efetividade, a favor do exequente, e o da dignidade da pessoa humana, a favor do

executado);

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3) princípio da efetividade x princípio do contraditório (exceções e objeções do executado não só para

discutir vícios formais da execução, mas também questões relacionadas ao direito material);

4) cabimento de prisão civil do alimentante (efetividade x liberdade);

5) art. 891 – que veda a arrematação por preço vil, conceito aberto.

6) possibilidade de quebra de sigilo bancário (efetividade x intimidade).

i) princípio da adequação – deve-se aplicar o meio executivo mais adequado para obter uma

satisfação mais justa e efetiva. Ex: a prisão civil é meio mais adequado para obter a satisfação do

crédito alimentar, pois, pela urgência deste, requer uma medida mais enérgica. O regime de

precatório nas execuções contra a Fazenda Pública é manifestação da adequação subjetiva. O

contraditório eventual é manifestação da adequação teleológica (o procedimento executivo serve

para obter cumprimento da obrigação devida, e não a discussões típicas do processo de

conhecimento).

j) princípio da cooperação - É derivado do contraditório e da boa-fé.

Existem diversos artigos que demonstram a sua aplicação, como o art. 774, V, NCPC, em que o

executado tem o dever de indicar seus bens à penhora. Outros dispositivos são os arts. 525, §4° e o

917, §3º do NCPC, em que o executado que pretende impugnar ou embargar o valor da execução,

que apresente desde logo o valor que entenda devido.

k) princípio do desfecho único - segundo o qual a ação executiva se desenvolve com o único objetivo

de satisfazer o direito do exequente, não sendo sede adequada para se discutir mérito, o que deverá

ser objeto de ação autônoma.

1.4 FORMAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO

1.4.1 Demanda executiva

Para fins de formação do processo executivo, aplica-se, via de regra, o determinado no art.

2º, segundo o qual “o processo começa com a iniciativa da parte, mas se desenvolve pelo impulso do

juiz”.

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Iniciada pela parte, mediante o exercício da ação de execução, surge a chamada demanda

executiva, que se materializa através da petição inicial.

Vale lembrar que a petição inicial, como peça vestibular do processo executivo autônomo, só

tem existência em execução de títulos extrajudiciais e, excepcionalmente, de títulos judiciais (art.

515).

Quanto à satisfação ou execução de direitos reconhecidos em títulos judiciais fundados em

obrigação de dar quantia (que não se enquadram nas exceções retro mencionadas), basta o credor

inaugurar a fase do cumprimento de sentença por mera petição simples (requerimento).

Todavia, num ou noutro caso, os requisitos dos arts. 319 e 320 deverão ser observados,

guardadas as devidas peculiaridades de cada procedimento.

1.4.2 Requisitos da petição executiva (arts. 319 e 320, NCPC)

I - indicação do juízo (competência):

Se a execução for fundada em título judicial, a fase executiva (cumprimento de sentença)

será processada perante o juízo no qual o título se formou.

Assim, se o título se formou originariamente nos Tribunais (STF, STJ, TRF’s ou TJ’s), posto que

a ação era de seu competência originária, caberá a eles a sua execução (art. 516, I). Ex: O TJ/GO é

competente para executar o acórdão que proferir do julgamento da ação rescisória.

Do contrário, será competente o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição (art.516, II).

Entretanto, em ambos os casos, o parágrafo único desse artigo trouxe mais 3 juízos

alternativos para o exequente: 1) juízo do local do atual domicílio do executado (para facilitar as

intimações); 2) juízo em que o executado tiver bens sujetos à execução (para facilitar a penhora,

avaliação e expropriação); 3) juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou não

fazer.

Obs:. Quando o título judicial for sentença penal condenatória, estrangeira ou arbitral, e

acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo, o processo autônomo de execução correrá perante o

juízo cível competente (art. 516, III).

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POR OUTRO LADO, se a execução for fundada em título extrajudicial, nos termos do art. 781

do NCPC, é competente para o processo autônomo de execução:

1) foro do domicílio do executado; ou de eleição, se houver no título; ou da situação dos bens;

2) se o executado tiver mais de um domicílio, em qualquer um deles;

3) sendo desconhecido ou incerto o domicílio do executado, no lugar onde for encontrado ou do

foro do domicílio do exequente;

4) havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, no foro de qualquer deles;

5) foro do lugar do ato ou do fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o

executado.

II – indicação das partes (legitimidade):

a) Legitimidade ativa (exeqüente) A legitimidade ativa tem previsão legal no artigo 778 do NCPC. Nos termos do caput do

referido artigo, a legitimidade ativa é do credor a quem a lei confere o título executivo.

Também pode promover a execução, conforme o inciso I, o Ministério Público, nos casos

previstos em lei. Ou seja, o MP detém legitimidade para a execução, seja quando atuou no processo

de conhecimento como parte (em legitimidade ordinária – sentença condenatória contra o próprio

MP; ou em legitimidade extraordinária) ou como fiscal da ordem jurídica, quando então dependerá

de previsão legal (Ex: art. 100 do CDC).

Já o §1º do art. 778 elenca pessoas às quais é atribuída legitimidade ativa para promover ou

prosseguir na execução, em sucessão ao exequente originário (o qual independe do consentimento

do executado). São pessoas que não participaram da formação do título, mas que tornaram

sucessoras do credor, por ato inter vivos ou causa mortis.

Dessa forma, podem ser legitimados o espólio (quando os bens não foram partilhados); os

herdeiros e sucessores (quando os bens já foram partilhados)3; bem como o cessionário na cessão de

crédito (art. 286 a 298, CC) e o sub-rogado (art. 346 a 351, CC).

3 Se a morte do credor ocorrer após a promoção da execução, a sucessão no pólo ativo obedecerá o disposto no art. 110,

NCPC. Se a cessão for feita após a citação no processo de execução por título extrajudicial, não há necessidade de obedecer ao disposto no art. 42, §1º, CPC, conforme STF (RE 97.461-0-AgRg-RJ).

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b) Legitimidade passiva (executado) Segundo o artigo 779, NCPC, via de regra, a legitimidade recai sobre o devedor, reconhecido

como tal no título.

Mas poderá recair também sobre o espólio, herdeiros ou sucessores do devedor (em caso de

sua morte); sobre novo devedor, com o consentimento do credor (em caso de assunção da dívida do

arts. 299 a 303 do Cód. Civil); sobre o fiador do débito constante no título extrajudicial (que poderá

pagar a dívida, quando então ocorrerá sub-rogação e passará a ser novo credor do devedor); sobre

o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito; e sobre o

responsável tributário.

É possível ao exequente fazer cumulação subjetiva, ou seja, promover a execução contra um

ou mais legitimados passivos (Ex: contra o devedor e o fiador, ao mesmo tempo), formando um

litisconsórcio passivo. A recíproca é verdadeira: poderá dois ou mais exequentes executarem o

mesmo e único devedor na parte que cabe a cada um ou a totalidade da dívida se solidários.

Entretanto, o que diverge a doutrina é quanto à possibilidade de litisconsórcio passivo

necessário na execução, aceitando-a em hipóteses restritíssimas (cônjuges casados em regime de

comunhão parcial ou total de bens etc).

c) Intervenção de terceiros na execução

Há grande divergência na doutrina a respeito do cabimento de intervenção de terceiros na

execução.

Em geral, não se admite qualquer figura, exceto o incidente da desconsideração da

personalidade jurídica (art. 134, NCPC).

Apesar de haver decisões muito isoladas do STJ, não cabe sequer a assistência (que tem sido

aceita apenas nos embargos à execução), pois que não haverá sentença favorável a uma das partes

para que se justifique o interesse jurídico do assistente para intervir, mas haverá tão somente a

satisfação do crédito consubstanciado no título.

Todavia, existem modalidades específicas de intervenção de terceiros aplicáveis na execução:

Protesto pela preferência: credor com título legal de preferência pode intervir na execução e

protestar pelo recebimento do crédito de acordo com a preferência (art. 908, NCPC);

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Concurso especial de credores: ocorre quando várias penhoras recaírem sobre o mesmo bem.

Exercício do benefício de ordem pelo fiador: fiador pode exigir benefício de ordem, caso seja

ele o demandado.

III - causa de pedir

É necessária a indicação de dois fatos jurídicos: a existência de título executivo líquido, certo

e exigível; e o inadimplemento do devedor.

III.1 Título executivo

Há uma regra que rege toda execução: nulla executio sine titulo (art. 803, I, NCPC). Ou seja,

não há execução sem título. Este, por sua vez, deve possuir os atributos da certeza, da liquidez e da

exigibilidade.

a) Atributos do título

a.1) Certeza

A certeza do crédito diz respeito a não controvérsia quanto à sua existência. Isso ocorre

quando o título estiver formalmente perfeito, posto que atendidos todos os requisitos formais para a

sua constituição.

a.2) Liquidez

A liquidez do título diz respeito à determinação exata de seu valor. Os títulos extrajudiciais

deverão ser sempre líquidos. Por sua vez, os títulos judiciais poderão ser líquidos ou ilíquidos.

Quando ilíquidos, ou seja, quando não se sabe o quanto se deve, o valor deverá ser apurado

num procedimento intermediário entre a fase cognitiva e executiva4. Tal procedimento denomina-se

liquidação de sentença, previsto nos arts. 509 ao 512, do NCPC.

De acordo com o art. 509, há apenas duas espécies de liquidação:

4 Quando a sentença for penal condenatória, arbitral, estrangeira e acórdão do Tribunal Marítimo, a liquidação far-se-á

mediante processo autônomo, instaurado depois do processo de conhecimento e antes do processo de execução. Isso porque

em tais casos não houve processo de conhecimento prévio para que justificasse uma fase de liquidação, devendo esta ser

feita mediante a instauração de processo novo, que pressupõe exercício do direito de ação e citação do réu.

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I - por arbitramento: ou seja, aquela que a apuração do valor de uma coisa, serviço ou prejuízo

depender de avaliação de quem tem conhecimento técnico, ou seja, de perícia. Ela é determinada

pelo juiz na sentença, convencionada pelas partes ou exigida pela natureza do objeto da liquidação;

II - pelo procedimento comum (antiga liquidação por artigos): quando a apuração depender de

alegação e prova de fato novo, conhecido e suscitado tão somente após a prolação da sentença (não

se rediscute a lide, tampouco se modifica a sentença - §4º, art. 509).

Proferida a sentença ilíquida, o credor ou o devedor poderá requerer a sua liquidação.

No caso da liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para apresentar pareceres

ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito,

observando, no que couber, o procedimento da prova pericial (art. 510 c/c arts. 464 a 480, NCPC).

Já na liquidação pelo procedimento comum, o juiz intimará o requerido, na pessoa de seu

advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, no prazo de 15 dias, oferecer

contestação, observando o procedimento comum do NCPC.

Vale lembrar que, tanto num quanto noutro caso, a liquidação poderá ser realizada na

pendência de recurso5, processando-se em autos apartados no juízo de origem, devendo, por

consequência, o liquidante promover a cópia das peças processuais para tanto.

Por fim, esclareça-se que, quando a apuração do valor depender apenas de cálculo

aritmético, reputa-se a sentença líquida (art. 786, parágrafo único, NCPC), podendo o credor

promover, desde logo, o cumprimento de sentença, porém instruindo o pedido com memória

discriminada e atualizada do cálculo (art. 524, NCPC).

Se o juiz perceber que há erros no cálculo, ou seja, que o valor aparentemente excede aos

limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base o

valor encontrado pelo contador judicial, nomeado pelo juiz (§§ 1º e 2º, art. 524),

Se a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do

executado, o juiz poderá executá-los, sob pena de crime de desobediência e de se reputar corretos os

cálculos do exequente (§§3º, 4º e 5º, art. 524).

5 Ainda que recebido no efeito suspensivo, pois o art. 512 do NCPC não faz tal distinção. Vide: TJ-SP - Agravo de

Instrumento AI 2359431720118260000 SP 0235943-17.2011.8.26.0000 (TJ-SP)

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a.3) Exigibilidade

Por fim, a exigibilidade diz respeito ao direito à prestação do titular do crédito e que o dever

de cumprir essa prestação deve ser atual (dívida vencida).

b) Espécies de títulos

Somente a lei pode criar um título executivo ou integrá-lo ao rol de títulos executivos

(princípio da taxatividade e da tipicidade dos títulos executivos). Dessa forma, os títulos executivos

judiciais e extrajudiciais estão previstos no NCPC, respectivamente, nos arts. 515 e 784.

b.1) Títulos executivos judiciais (art. 515)

Dessa forma, são considerados títulos executivos judiciais nos termos do art. 515, NCPC:

I – as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de uma obrigação;

Normalmente, são as decisões condenatórias. Todavia, há divergência na doutrina e na

jurisprudência se as sentenças declaratórias e constitutivas também poderiam ser consideradas

títulos executivos judiciais.

Para Didier Júnior, é possível a execução dos efeitos decorrentes da sentença constitutiva.

Ex: ação de despejo, pois, desconstituído o contrato de locação, tem que se retirar o ex-inquilino à

força, caso este insista na permanência no imóvel – execução lato sensu.

JURISPRUDÊNCIA A FAVOR: RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AÇÃO DECLARATÓRIA. FORÇA EXECUTIVA. FORMAÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EM FAVOR DO RÉU. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DA TERCEIRA TURMA DESTA CORTE. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. 1.- As sentenças de cunho declaratório podem ter força executiva, se presentes os elementos necessários à execução, como exigibilidade e certeza da relação. Precedentes. 2.- A sentença declaratória em ação de revisão de contrato pode ser executada pelo réu, mesmo sem ter havido reconvenção, tendo em vista a presença dos elementos suficientes à execução, o caráter de "duplicidade" dessas ações, e os princípios da economia, da efetividade e da duração razoável do processo (REsp nº 1.309.090/AL). 3.- O Agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar o decidido, que se mantém por seus próprios fundamentos. 4.- Agravo Regimental improvido.

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(STJ, AgRg no REsp 1446433/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 09/06/2014) JURISPRUDÊNCIA CONTRA: PROCESSUAL CIVIL. MULTAS DE TRÂNSITO. AÇÃO DESCONSTITUTIVA. RECUPERAÇÃO DOS VALORES PAGOS A TÍTULO DE MULTA. TÍTULO EXECUTIVO E COISA JULGADA. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA DE SENTENÇA EMINENTEMENTE DESCONSTITUTIVA. 1. Hipótese em que a decisão monocrática deu provimento ao Recurso Especial a fim de reformar o acórdão, que consignou: "considerando que a parte agravante, em sua ação de conhecimento, não postulou a devolução de qualquer valor, mas apenas a anulação da penalidade aplicada, não pode vir em sede de liquidação de sentença, invocar questão que não foi objeto de pedido". 2. A demanda ajuizada questiona a sanção como um todo e busca sua desconstituição. Sem adentrar vetustos debates sobre cargas de eficácia de decisões, a desconstituição da multa aplicada pressupõe a declaração de sua insubsistência por violação do devido processo legal. A alteração concreta produzida pela eficácia constitutiva negativa não esgota os efeitos do repúdio à sanção aplicada. O iter de rejeição à imposição estatal termina com a recuperação dos valores, corolário inquestionável da declaração de inexistência da multa, ainda que por motivos formais. 3. Decorrência disso é a alteração do CPC, que previu como título executivo não mais a sentença exclusivamente condenatória, e sim aquela que "reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia" (art. 475-N, I, do CPC), possibilitando a execução de sentenças formalmente declaratórias. Nessas situações, "não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submeter tal sentença, antes da sua execução, a um segundo juízo de certificação, cujo resultado seria necessariamente o mesmo, sob pena de ofensa à coisa julgada" (REsp 1300213/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 18.4.2012). 4. Tal posição reforça o entendimento de que o "pagamento de multa de infração de trânsito não exprime convalidação de vício, porquanto se julga da improcedente a penalidade imposta, será devolvida, a importância paga, atualizada em UFIR, ou por índice legal de correção dos débitos fiscais, conforme o art. 286, § 2º, do Código de Trânsito Brasileiro". 5. Agravo Regimental não provido. (STJ, AgRg no REsp 1018250/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 25/09/2014)

II e III - decisão homologatória de autocomposição judicial ou extrajudicial;

Um acordo pode ser feito dentro ou fora de um processo, ou seja, judicial ou

extrajudicialmente. O acordo judicial (art. 487, III, b, NCPC) e o extrajudicial levado à homologação do

Poder Judiciário (art. 725, VIII, NCPC) são obviamente considerados títulos executivos judiciais.

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Todavia, o acordo extrajudicial não submetido à homologação do Judiciário é um título executivo

extrajudicial (art. 784, IV, NCPC).

Vale registrar que, segundo o art. 515, § 2º, do NCPC, a autocomposição judicial pode

abranger sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em

juízo.

IV - formal e certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos

sucessores a título singular ou universal;

O formal de partilha (art. 655, NCPC) tem força executiva apenas para o inventariante e

entre os herdeiros. Caso tenha que executar obrigação contra terceiro que não esteja contemplado

no formal, deverá o herdeiro propor ação de conhecimento.

V - crédito de auxiliar de justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido

aprovados por decisão judicial.

Atenção: no CPC/73, era título executivo extrajudicial. A alteração é digna de aplausos, pois

que o título que aprova o crédito advém de decisão judicial, ainda que tais credores não mantenham

relação com o objeto litigioso do processo.

Em regra, as partes devem antecipar o pagamento das despesas referentes aos atos que

requerem (art. 82, NCPC).

VI - sentença penal condenatória transitada em julgado;

A sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo

crime, nos termos do art. 91, I, do Código Penal. A executabilidade civil da sentença penal transitada

em julgado é considerada um efeito secundário da sentença penal que independe de pedido para ser

gerado e de posterior decisão em processo cível nesse sentido.

O valor da indenização pode já vir estabelecido na sentença penal (art. 387, IV, CPP) ou então

ser apurado por meio de liquidação de sentença, caso o juízo penal fixe um valor mínimo (art. 63,

parágrafo único, CPP e 509 e seguintes do NCPC).

VII - sentença arbitral (art. 31, da Lei n. 9.307/96)

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VIII e IX - sentença estrangeira homologada pelo STJ e a decisão interlocutória estrangeira, após a

concessão do exequatur à carta rogatória pelo STJ

Por se tratarem de atos de império de outro país soberano, as decisões judiciais estrangeiras

só terão validade e eficácia no território nacional após submeterem ao procedimento de

homologação perante o STJ, se sentenças, ou da concessão do exequatur (“cumpra-se”), também pelo

STJ, à carta rogatória do juízo estrangeiro, se decisões interlocutórias (arts. 960 ao 965 do NCPC).

Em ambos os casos, após a homologação da sentença ou após a concessão do exequatur à

carga rogatória quanto à decisão interlocutória, a respectiva execução far-se-á perante a Justiça

Federal (art. 109, X, CF)

IMPORTANTE: Títulos executivos extrajudiciais celebrados no estrangeiro não necessitam de

homologação no Brasil para terem eficácia executiva (§§2º e 3º do art. 784, NCPC).

X – vetado (era o acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo)

b.2) Títulos executivos extrajudiciais (art. 784)

Por outro lado, conforme o art. 784 do NCPC são considerados títulos executivos

extrajudiciais:

I - títulos de crédito: são os mais conhecidos dentre os títulos extrajudiciais. São eles: cheque6, nota

promissória, debênture, letra de câmbio e duplicata.

Não há necessidade de protesto, salvo se desejar executar os responsáveis indiretos que não

o emitente-devedor (como os endossantes e os avalistas dos endossantes).

6 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O CHEQUE:

a) apesar de o cheque ser legalmente considerado ordem de pagamento à vista, a Súmula 370 do STJ entende que importa em dano moral a apresentação antecipada de cheque pós-datado; b) por outro lado, o prazo prescricional do cheque, que é de 6 meses, período em que o mesmo terá força executiva, é contado a partir do fim do prazo para a sua apresentação ao sacado (banco), que, por sua vez, contar-se-á em 30 dias, se cheque da mesma praça, ou em 60 dias, se de praça distinta, a partir da emissão (e não do pós-datamento). Passados os 6 meses + 30 dias, ou os 6 meses + 60 dias, o cheque deixa de ser um título executivo, não podendo mais ser executado, ocasião em que a força executiva deverá ser resgatada pela ação monitória, que é uma ação de conhecimento de rito especial (arts. 700 e ss, NCPC). c) quanto aos demais títulos, os prazos prescricionais são variáveis, a depender do executado (3 anos do vencimento do título, se o executado for o emitente ou o avalista; 1 ano do protesto, se o executado for endossante ou avalista de endossante; ou 6 meses da data em que pagou a dívida ou em que foi demandado a pagar, para o co-responsável regredir contra os demais).

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Por outro lado, em razão do princípio da circularidade dos títulos de crédito, é obrigatória a

instrução da inicial com o título original7, não se admitindo a instrução da petição com fotocópias,

ainda que autenticadas, sob pena de nulidade da execução.

Tal exigência se justifica pois, em virtude da possibilidade da alta circulação dos títulos de

crédito por meio de endosso, evita-se a circulação irregular e a multiplicidade de ações fundadas no

mesmo título. Assim, a jurisprudência tem admitido, excepcionalmente, a instrução com cópia

autenticada do título, apenas quando este não for cambial (STJ, AgRg nos EDcl no Ag 183.404/SP, 4ª

T., j. 09.09.2003, rel. Min. Barros Monteiro).

II - escritura pública ou qualquer documento público assinado pelo devedor

Trata-se, na verdade, de confissão de dívida em que o devedor reconhece expressamente

obrigação certa, líquida e exigível perante o tabelião de notas (escritura pública), que é o mais comum

e não depende da assinatura do devedor; ou perante qualquer agente público no exercício de suas

funções (documento público), ocasião em que dependerá da assinatura do devedor para ser título

executivo.

III - documento particular assinado pelo devedor com duas testemunhas

Segundo o STJ, para que os contratos sejam considerados títulos executivos não é necessário

que as 2 testemunhas sejam presenciais, bastando ser pessoas capazes, isentas, idôneas e

identificadas no título, sendo dispensada a autenticação de suas assinaturas.

Daí conclui-se que, caso não conste tais formalidades, o contrato não será título hábil para

ser executado, devendo a obrigação nele consubstanciada ser pleiteada apenas por ação de

conhecimento, seja pelo rito comum pela ação de cobrança ou pelo rito especial pela ação monitória.

Observação importante: segundo entendimento pacificado do STJ, contrato de abertura de

crédito, ainda que acompanhado de extrato bancário, não é considerado título executivo extrajudicial

(Súmula 233, STJ), porém, o mesmo não se possa dizer sobre o contrato de renegociação de dívidas,

ainda que oriundo de abertura de crédito (Súmula 300, STJ).

7 Em se tratando de processos digitais, a Lei 11.419/06 regula o tratamento do documento original, corroborado no art.

425, §2º, NCPC.

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IV- o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela

Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado

por tribunal;

Dispensam-se testemunhas, pois há o reconhecimento da idoneidade desses sujeitos em

atestar o acordo de dívida ou da obrigação entre as partes sem vício. Exemplo clássico são os TAC’s

(termos de ajustamento de conduta) perante o MP.

Segundo Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.446), há divergência doutrinária a respeito da

homologação realizada perante os “advogados dos transatores”, “sendo mais adequado não

interpretar literalmente o dispositivo (no plural), admitindo-se ser a homologação realizada perante

um só advogado constituído por ambas as partes.”

Se porventura, o ato depender de homologação judicial, o título será considerado judicial,

nos termos do art. 515, II, do NCPC. Dessa forma, conclui-se que, no caso da atuação do conciliador

ou do mediador, nesse caso, para se considerar a sua homologação um título extrajudicial, é

necessário que seja fora do juízo.

V - contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele

garantido por caução.

Tratam-se todos de direitos reais de garantia, sendo a hipoteca a garantia dada por meio de

bem imóvel; o penhor, por bens móveis. Já a anticrese é instituto de direito real em que o credor

retém imóvel do devedor percebendo seus frutos até o pagamento total do crédito. Já a caução pode

ser real (quando se confunde com a hipoteca, penhor e anticrese em alguns casos), ou fidejussória

(quando houver fiança).

Vale lembrar que esses contratos de garantia podem ser celebrados por terceiros, não

devedores, que a partir de então passam a ter responsabilidade patrimonial. Dessa forma, o

exequente poderá executar exclusivamente o devedor, ou apenas o garante, ou ambos, em

litisconsórcio passivo facultativo.

VI - contratos de seguro de vida em caso de morte

Importante destacar que será considerado título extrajudicial o contrato de seguro de vida

e não o contrato de acidentes pessoais e o contrato de seguro de automóvel, ainda que destes

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resultar morte. Assim, nestes últimos casos, o recebimento do crédito (prêmio) dependerá de prévio

processo de conhecimento.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIA ADEQUADA PARA COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL. É a ação de conhecimento sob o rito sumário - e não a ação executiva - a via adequada para cobrar, em decorrência de dano causado por acidente de trânsito, indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel. Isso porque o contrato de seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585 do CPC). Como cediço, o título executivo extrajudicial prescinde de prévia ação condenatória, ou seja, a função de conhecimento do processo é postergada até eventual oposição de embargos do devedor. Ademais, somente a lei pode prescrever quais são os títulos executivos, fixando-lhes as características formais peculiares. Desse modo, apenas os documentos descritos pelo legislador, seja em códigos ou em leis especiais, é que são dotados de força executiva, não podendo as partes convencionarem a respeito. Além disso, pela interpretação conjunta dos arts. 275, II, "e", 585, III, e 586 do CPC, depreende-se que somente os contratos de seguro de vida, dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais, podendo ser utilizada, nesses casos, a via da ação executiva. Logo, para o seguro de automóveis, na ocorrência de danos causados em acidente de veículo, a ação a ser proposta é, necessariamente, a cognitiva, sob o rito sumário, uma vez que este contrato de seguro é destituído de executividade e as situações nele envolvidas comumente não se enquadram no conceito de obrigação líquida, certa e exigível, sendo imprescindível, portanto, nessa hipótese, a prévia condenação do devedor e a constituição de título judicial. A par disso, percebe-se que o legislador optou por elencar somente o contrato de seguro de vida como título executivo extrajudicial, justificando a sua escolha na ausência de caráter indenizatório do referido seguro, ou seja, o seu valor carece de limitação, sendo de responsabilidade do segurador o valor do seguro por ele coberto, uma vez que existe dívida líquida e certa. Verifica-se, ainda, que o tratamento dispensado ao seguro de dano, como ao de automóveis, é diverso, uma vez que esses ostentam índole indenizatória, de modo que a indenização securitária não poderá redundar em enriquecimento do segurado, devendo, pois, o pagamento ser feito em função do que se perdeu, quando ocorrer o sinistro, nos limites do montante segurado. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014, DJe 9/12/2014.

Todavia, entende de modo diverso Daniel Amorim Neves (2016, p. 1.447), para quem: “o

contrato de seguro de acidentes pessoais do qual resulte morte possa ser compreendido como título

executivo, porque nesse caso não existem as dificuldades referentes à prova da existência e extensão

da incapacidade, motivo que aparentemente retirou o contrato de seguro de acidentes pessoais do

rol dos títulos executivos.”

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Por fim, não se pode deixar de notar que o NCPC sutilmente acrescentou na redação deste

inciso a exigência do evento morte. Há quem afirme que o objetivo do legislador foi o de excluir

definitivamente os contratos de seguro de acidentes pessoais que resulte morte do rol dos títulos

extrajudiciais; e outros que já defendem que não passou de uma condição de exigibilidade da

obrigação.

VII - créditos decorrentes de foro e laudêmio.

Decorrem do antigo instituto da enfiteuse. Na enfiteuse, o proprietário ou senhorio

transfere o bem para o enfiteuta que passa a ter todos os poderes referentes ao domínio. Assim,

pode o enfiteuta usufruir, gozar, dispor do bem, alienando-o, transferindo-o e oferecendo à penhora.

Em contrapartida, o enfiteuta deve pagar ao senhorio o foro anual ou, em caso de transferência do

bem para outrem, pagar o laudêmio. Tal instituto é ultrapassado e fadado à extinção.

VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente do aluguel de imóvel, bem como de

encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio.

Não há necessidade de contrato escrito de locação, bastando a existência de uma prova

documental que ateste a existência da locação e dos encargos (exemplificativa – inclui outras espécies

de encargos da locação, como as despesas de telefone e de consumo de força, luz, água e esgoto).

IX - certidão de dívida ativa da Fazenda Pública.

Trata-se do título apto a desencadear a execução fiscal, prevista na Lei n. 6.830/81.

Importante destacar que se considera Fazenda Pública apenas os entes federados e suas

respetivas autarquias e fundações públicos, excluindo-se, portanto, as empresas públicas, as

sociedades de economia mista e as entidades privadas concessionárias ou permissionárias do serviço

público.

A inscrição de contrato ou de dívida é feita por meio de procedimento administrativo

regular, com os requisitos formais previstos pelo art. 202 do CTN e art. 2.º, § 5.º, da Lei 6.830/1980,

conferindo liquidez e certeza à dívida, e sem a participação do devedor ou do terceiro, mas

unilateralmente pelo Estado.

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Por fim, nota-se que a respectiva certidão diz respeito apenas a obrigações de pagar, não

podendo ser inscritas em dívida ativa as demais obrigações. Neste caso, caberá ao ente público ajuizar

prévio processo de conhecimento para a formação de título judicial, ou processo de execução se

tratar de outro título extrajudicial.

X - crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício,

previstas em convenção de condomínio ou aprovadas em assembleia geral, desde que

documentalmente comprovadas.

Na égide do CPC/1973 só era possível executar encargos de condomínio que estivessem

expressamente previstos em contrato escrito, como ocorre no contrato de locação. Do contrário, era

necessário prévio processo de conhecimento para reconhecer a obrigação e, na sequência, o seu

cumprimento.

Todavia, o NCPC torna agora executável documento que comprove o crédito referente às

contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas em Convenção de

Condomínio ou aprovadas em Assembleia-Geral. Tal previsão alinha-se ao já estabelecido no art. 12, §

2º, da Lei 4.591/1964, que prevê que cabe ao síndico arrecadar as contribuições competindo-lhe

promover, por via executiva, a cobrança judicial das quotas atrasadas.

Vale notar que, também neste caso, a formação do título executivo não dependerá da

participação do devedor em sua elaboração e muito menos de sua assinatura; bastando ao

condomínio edilício ingressar com processo de execução contra o condomínio devedor instruindo sua

petição inicial com cópia da convenção condominial e da ata da assembleia que estabeleceu o valor

das cotas condominiais, ordinárias ou extraordinárias.

XI - certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e

demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei.

Também emitida unilateralmente pelo credor (presunção de legalidade do ato administrativo),

como tradicionalmente ocorre na certidão da dívida ativa.

XII - todos os demais títulos, aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

O rol do art. 784 é meramente exemplificativo e várias leis especiais criam títulos

extrajudiciais:

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- créditos da OAB contra os inscritos (Lei 8.906/1994, art. 46);

- cédulas de crédito rural (Decreto-lei 167/1967, art. 41);

- cédulas de crédito industrial (Decretolei 413/1969);

- cédulas de exportação (Lei 6.313/1975);

- cédulas de crédito comercial (Lei 6.840/1980);

- cédula hipotecária (Decreto-lei 70/1966, art. 29);

- cédula de produto rural (Lei 8.929/1990, art. 211);

- decisão do plenário do CADE impondo multa ou obrigação de fazer ou não fazer (Lei 8.884/1994, art.

60; ver Lei 12.529/2011, art.93);

- honorários do árbitro no compromisso arbitral (Lei 9.307/1996, art. 11, parágrafo único);

- prêmios dos contratos de seguro previstos na Lei do Sistema Nacional dos Seguros Privados

(Decreto-lei 73/1966, art. 27), cédula de produto rural (Lei 11.076/2004), entre outros.

Observação final: o credor por título executivo extrajudicial pode ajuizar ação de conhecimento, a fim

de obter título executivo judicial (STJ e art. 785 NCPC).

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. AJUIZAMENTO DE AÇÃO MONITÓRIA EM VEZ DE AÇÃO DE EXECUÇÃO. FACULDADE DO CREDOR, DESDE QUE A OPÇÃO NÃO IMPLIQUE PREJUÍZO À DEFESA DO DEVEDOR. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1.- Embora disponha de título executivo extrajudicial, o credor tem a faculdade de levar a lide ao conhecimento do Judiciário da forma que lhe aprouver, desde que a escolha por um ou por outro meio processual não venha a prejudicar do direito de defesa do devedor. Não é vedado pelo ordenamento jurídico o ajuizamento de Ação Monitória por quem dispõe de título executivo extrajudicial. 2.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 3.- Agravo Regimental improvido. (AgRg no AREsp 148.484/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2012, DJe 28/05/2012)

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III.2 Inadimplemento do devedor

Além da existência do título, também deve ser apontado pelo exequente o inadimplemento,

que ocorre sempre que o devedor deixa de satisfazer a obrigação certa, líquida e exigível (art. 786,

NCPC).

Para que haja inadimplemento é necessário que eventuais termos, condições ou encargos

estejam satisfeitos, se existirem (art. 514, NCPC), bem como cumpridos todos os deveres recíprocos

pela parte (art. 787, NCPC). Para tanto, deverá o credor provar que cumpriu com sua parte do

contrato (art. 798, I, d – trata-se da aplicação da exceção do contrato não cumprido – exceptio non

adimpleti contractus).

IV – pedido

O pedido imediato é a indicação do tipo de execução que deseja quando por mais de um

modo puder ser efetuada (art. 798, II, NCPC). Ex: na ação de alimentos é possível satisfazer o crédito

por várias técnicas: prisão civil, expropriação ou desconto em folha de pagamento.

O pedido mediato é o bem da vida que se deseja a satisfação. Ex: indicação do valor do

crédito devido.

Quando o pedido mediato for de prestações sucessivas (art. 323, NCPC), as prestações vão

se somando à medida que forem vencendo, incluindo-as no pedido independentemente de

declaração expressa do autor. Muitas vezes, nesses casos, mister se faz complementar a penhora. A

cada constrição de bens deve-se abrir prazo para o devedor se manifestar.

Quando se tratar de pedido decorrente de obrigação alternativa e a escolha couber ao

credor, este a indicará na petição inicial (§1º do art. 800, NCPC). Se couber ao devedor, este deverá,

em até 10 dias após a citação, exercer a opção e realizar a prestação (art. 800, caput).

V - valor da causa: esse requisito não é necessário para a petição simples da fase de cumprimento de

sentença.

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VI - indicação das provas: restringe-se à prova documental. De acordo com o art. 798, I, NCPC, ao

propor a execução, incumbe ao exequente instruir a petição inicial com:

- o título executivo extrajudicial (para grande parcela da doutrina, a ausência da juntada do título

executivo na petição inicial trata-se de falta de interesse de agir. Mas há quem diga se trata de falta

de pressuposto processual específico. De todo modo, leva à nulidade da execução, pois nulla executio

sine titulo);

- o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura (conteúdo – parágrafo único, art.

798);

- a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;

- da prova, se for o caso (obrigações sinalagmáticas) do adimplemento da contraprestação pelo

credor.

VII – opção pela audiência de conciliação ou mediação: não se aplica à execução.

VIII - outros requerimentos:

Outras providências ou requerimentos podem ser realizados na petição inicial.

1) penhora: os arts. 524, VII, e 798, II, c, NCPC autorizam o exequente a indicar, sempre que possível,

os bens a serem penhorados, embora também poderá fazê-lo em momento posterior se desejar.

Ademais, poderá o exequente requerer penhora online (art. 854, NCPC).

2) intimações: o artigo 799 do NCPC determina que o exequente deverá requerer a intimação de

algumas pessoas, tais como:

- do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens

gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária, sob pena de ineficácia da alienação

judicial (art. 804, NCPC);

- do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto,

uso ou habitação;

- do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa

de compra e venda registrada;

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- do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão

de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair

sobre imóvel submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse ou concessão;

- do proprietário de terreno com direito de superfície, enfiteuse ou concessão de uso especial para

fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre direitos do

superficiário, do enfiteuta ou do concessionário;

- da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada.

3) medidas urgentes: o exequente pode, ainda, requerer medidas cautelares (art. 799, VIII, NCPC).

1.4.3 Emenda da inicial

Protocolizada a petição, caso esteja incompleta ou desacompanhada de documentos

indispensáveis à propositura da execução, poderá o juiz mandar emendá-la num prazo de 15 dias.

(art. 801, NCPC), sob pena de indeferi-la.

1.4.4 Efeitos decorrentes da propositura da execução e da citação do executado

Existem efeitos decorrentes da propositura da execução e efeitos decorrentes da citação do

executado:

- Efeitos decorrentes da propositura da execução: direito de averbação nos registros de bens da

certidão da admissão da execução (art. 828, NCPC – uma das consequências é a presunção absoluta

de fraude à execução das alienações efetuadas após tal averbação); litispendência; litigiosidade do

objeto.

- Efeitos decorrentes do despacho que ordena a citação do executado: interrupção da prescrição

(art. 802, NCPC), retroagindo à data de propositura da ação; prevenção; indisponibilidade patrimonial

relativa do devedor; constituição em mora; direito potestativo do executado ao parcelamento da

dívida no prazo para os embargos (art. 916, NCPC).

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1.4.5 Responsabilidade patrimonial

1.4.5.1 Bens sujeitos à penhora e Impenhorabilidade de bens – art. 789, NCPC

Vimos pelo princípio da responsabilidade patrimonial que o patrimônio do devedor que

responde por suas obrigações.

O art. 789 disciplina que “o devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros

para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”.

A doutrina diverge se a execução recairá sobre os “bens presentes e futuros” a partir do

momento em que foi contraída a obrigação ou do momento da instauração da execução. Por razões

óbvias, tem prevalecido o primeiro entendimento, uma vez que admitir a penhora apenas sobre bens

adquiridos a partir da propositura da execução diminui em muito a expectativa de satisfação do

crédito pela possibilidade de transferências em fraude contra credores.

Merece atenção a parte final do referido dispositivo que ressalva algumas situações,

previstas em lei, em que os bens do devedor não responderão por seus débitos. Trata-se da

impenhorabilidade de certos bens do executado, em razão da observância do princípio da dignidade

da pessoa humana.

Dessa forma, o art. 833 do NCPC estabelece um elenco de bens absolutamente

impenhoráveis, ou seja, que jamais responderão pela satisfação das dívidas do devedor, como:

I - os bens inalienáveis (por lei ou por ato voluntário): não se justifica admitir a penhora de bens que

não podem ser alienados, pois tal ato constritivo precede à alienação judicial na execução. Ex: bens

públicos e bens doados ou alienados com cláusula de inalienabilidade.

II - móveis, pertences e utilidades domésticas: desde que não sejam valor elevado ou que

correspondam a um “padrão médio de vida”. A questão, na prática, é tormentosa, mas a

jurisprudência atual tende a incluir entre os bens impenhoráveis aqueles que, apesar de não serem

imprescindíveis ao funcionamento da residência, mostram-se necessários ao lazer do executado

(aplicação do art. 6º da CF/88, que garante o lazer como direito social do cidadão). Há ainda muita

discussão a respeito de determinados bens, como freezer, lava-louças, secadora de roupas, DVD etc,

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28

propondo, então, a doutrina a consideração de uma “média nacional de conforto”, baseada em dados

do IBGE, como critério objetivo para aferição da impenhorabilidade de bens móveis residenciais.

III - vestuários e pertences pessoais: desde que também não sejam de elevado valor, ou que garantam

a mínima dignidade do executado. Seriam, portanto, facilmente penhoráveis roupas para o extremo

frio, normalmente destinadas para viagem em lugares de temperaturas muito baixas; ou roupas e

acessórios de luxo etc. Não se pode esquecer também que certos acessórios são de elevado valor,

mas ainda sim são impenhoráveis por ter valor sentimental, como a aliança de núpcias. Portanto, o

juiz deverá analisar caso a caso sob as balizas da razoabilidade.

IV – salários e remunerações em geral (inclui aposentadoria, pensões, honorários do profissional

liberal etc): isso em razão do caráter alimentar de tais verbas.

TODAVIA, o §2º do art. 833 excepciona a impenhorabilidade de salários em 2 hipóteses:

- em caso de pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem (relação

familiar, ato ilícito ou verbas trabalhistas lato sensu), em percentual que possibilite a subsistência do

executado-alimentante. Obs: o STJ já entendeu que tal penhorabilidade atinge, inclusive, a

gratificação de férias e o 13º salário do executado;

- valores que excedem a 50 salários mínimos (novidade do NCPC) – valor não muito condizente com a

realidade da maioria dos brasileiros. Estabeleceu-se, portanto, um teto para a impenhorabilidade de

salários.

A lei da ação popular (Lei nº 4.717/65), em seu art. 14, §3º, prevê também uma exceção,

admitindo desconto em folha de pagamento de condenação em ação popular, se assim mais convier

ao interesse público.

Além das excepcionalidades legais, o STJ tem também flexibilizado a regra legal da

impenhorabilidade de salário, apoiando-se nos princípios do patrimônio mínimo e na dignidade da

pessoa do executado. São elas:

- restituição de imposto de renda, caso seja mero reforço financeiro, e não destinado ao pagamento

de necessidades básicas do executado8;

- honorários advocatícios, quando a verba devida ao advogado ultrapassar o razoável para o seu

8 Informativo 409/STJ, 3.ª Turma, REsp 1.059.781/DF, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01.10.2009; Informativo 435/STJ,

3.ª Turma, REsp 1.150.738/MG, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.05.2010

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29

sustento e de sua família9;

- saldo de salário quando do recebimento do próximo salário – muito polêmico ainda10;

- penhora de até 30% das verbas salariais, em analogia ao percentual máximo permitido para

empréstimo consignado feito perante instituições financeiras11.

V - bens necessários ou úteis ao exercício profissional: aplica-se apenas às pessoas físicas12, entre as

quais se insere, de acordo com o §3º do art. 833, o produtor rural. O maior problema deste inciso é

que se considera impenhoráveis não só bens necessários como também os úteis ao exercício da

atividade laborativa, ou seja, aqueles que ajudam, mas que, sem eles, o trabalho seria executado da

mesma forma. Isso tem gerado interpretações demasiadamente extensivas.

VI – o seguro de vida: pois, para o beneficiário, tem natureza alimentar.

VII – materiais necessários para as obras em andamento: salvo se a própria obra for objeto de

penhora, ou as dívidas relativas ao próprio bem, inclusive para a sua aquisição (§1º do art. 833).

VIII – pequena propriedade rural trabalhada pela família: existem 2 definições legais para o caso, uma

pela Lei nº Lei 8.629/1993 (pequena propr. Rural = 1 a 4 módulos fiscais), e outra pela Lei nº

4.504/196 (propriedade familiar = imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo

agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e

o progresso social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e

eventualmente trabalho com a ajuda de terceiros). Segundo o STJ, aplica-se a 2ª definição para fins

de impenhorabilidade.

9 Informativo 553/STJ, 2ª Turma, REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, j. 25.11.2014, DJe 5.12.2014

10 a favor: Informativo 554/STJ, 2ª Seção, EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10.12.2014, DJe

19.12.2014; STJ, 3.ª Turma, REsp 1.330.567/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16.05.2013, DJe 27.05.2013; STJ, 2.ª Seção, REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014; contra: STJ, 1.ª Turma, REsp 1.164.037/RS, rel. Min. Sérgio Kukina, rel. p/ acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 20.02.2014, DJe 09.05.2014 11

STJ, 4.ª Turma, EDcl no REsp 1.284.388/MT, rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24.04.2014, DJe 30.04.2014. Enunciado 59/FONAJE: “Admite-se o pagamento do débito por meio de desconto em folha de pagamento, após anuência expressa do devedor e em percentual que reconheça não afetar sua subsistência e a de sua família, atendendo sua comodidade e conveniência pessoal”. 12

Segundo o STJ, às microempresas e empresas de pequeno porte também, quando a atividade destas confundir com a do sócio.

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30

IX - recursos públicos ligados à aplicação compulsória em educação, saúde e assistência social: de

acordo com o STJ, tal hipótese legal de impenhorabilidade absoluta foi em prestígio ao interesse

coletivo em detrimento do interesse particular.

X - valores depositados em caderneta de poupança: aqui se trata uma impenhorabilidade de valores,

porém, relativa, pois limitada a até 40 salários mínimos, considerado tal limite máximo

independentemente da quantidade de poupanças possa ter o executado.

Obviamente que aqui também se aplicam as exceções quanto aos créditos de natureza

alimentar e ao excedente de 50 salários mínimos, previstas no §2º do art. 833. Neste último caso, a

melhor interpretação é no sentido de que se o executado percebe alta remuneração “não precisa ter

a garantia de impenhorabilidade de valores mantidos em conta poupança, que passariam a ser

totalmente penhoráveis” (DANIEL AMORIM, 2016, p. 1474).

Vale lembrar que o STJ já decidiu que tal impenhorabilidade se aplica a qualquer outra

reserva financeira13.

XI - recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político: mesmo

fundamento do inciso IX.

XII - créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária,

vinculados à execução da obra: busca proteger o direito dos consumidores que adquirem imóveis

pelo regime de incorporação imobiliária, pois, “eventual penhora desse crédito levaria a

interrupção da obra ou a inviabilidade de sua regularização, em detrimento dos interesses dos

consumidores adquirentes que em nada contribuíram para a dívida exequenda da

incorporadora” (DANIEL AMORIM, p. 2016, p. 1.475).

Além das hipóteses de impenhorabilidades absolutas previstas no NCPC, há que se destacar

a prevista na Lei nº 8.009/90 quanto ao bem de família, a saber, o bem imóvel14 de moradia da família

ou da entidade familiar (Súmula 364, STJ – constituída por pessoas solteiras, separadas e viúvas).

A Lei 8.009/90 trouxe a impenhorabilidade bem de família por qualquer dívida (civil, fiscal,

13

STJ, 2.ª Seção, REsp 1.230.060/PR, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 13.08.2014, DJe 29.08.2014. 14 Nos termos da Súmula 449, a vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem

de família para efeito de penhora.

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31

previdenciária, trabalhista etc), salvo, nos termos do art. 3º:

- créditos de financiamento para construção ou aquisição do imóvel;

- créditos de pensão alimentícia, resguardados os direitos sobre o bem do cônjuge ou companheiro

do devedor-alimentante, salvo se ambos responderem pela mesma dívida (NR dada pela Lei nº

13.144/15);

- cobrança de impostos, taxas e contribuições oriundas do imóvel;

- cobrança de hipoteca sobre o próprio imóvel;

- se o bem de família foi adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal

condenatória;

- por obrigação decorrente de fiança em contrato de locação - o STF decidiu ser tal hipótese

constitucional sem que se possa falar em violação da garantia à moradia (RE n° 407.688).

ATENÇÃO/Observações importantes:

1ª) o inciso I do art. 3º da Lei nº 8.009, que trazia a exceção à impenhorabilidade do bem de família

para execução de crédito de trabalhador do próprio lar (doméstico), foi REVOGADO pela Lei

complementar nº 150/15, tornando, agora, impenhorável.

2ª) o STJ entende que o bem de família é impenhorável independentemente do seu valor. Por outro

lado, já decidiu também que imóvel desocupado pode ser penhorado, ainda que seja o único do

devedor.

Por fim, questão polêmica é a relativa à possibilidade de renúncia ao direito à

impenhorabilidade dos bens. O melhor entendimento é no sentido de que, por não se tratar de regras

de ordem pública, mas de proteção ao executado, pode este indicar qualquer bem à penhora de seu

patrimônio disponível (donde se excluem os inalienáveis e o bem de família), renunciando a

impenhorabilidade.

1.4.5.2 Débito e Responsabilidade

Sabe-se que as obrigações, que estão lastreadas pelo patrimônio do devedor, possuem dois

elementos: um de natureza material e estática, que é o débito (no direito alemão, schuld); e outro de

ordem processual e dinâmico, a responsabilidade (haftung).

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32

Normalmente, os dois elementos se conjugam, ou seja, quem deve, responde com seu

patrimônio pela dívida.

Mas nem sempre isso ocorre.

É possível que haja dívida, mas não a responsabilidade (Ex: dívida prescrita e dívida de jogo).

A recíproca também é verdadeira: não haja dívida, porém alguém ser responsável por ela.

Exemplo: sócio é responsável pela dívida da sociedade nos casos previstos em lei (art. 795, NCPC); o

fiador é subsidiariamente responsável pela dívida do devedor afiançado (art. 794 – benefício de

ordem; sub-rogação do credor original se pagar a dívida); espólio ou sucessores são responsáveis

pelas dívidas do de cujus no limite das forças da herança e na proporção da parte que lhe couber (art.

796, NCPC c/c arts. 1792 e 1821, Cód. Civil).

1.4.5.3 Responsabilidade patrimonial do terceiro

SITUAÇÃO DIFERENTE é aquela em que um terceiro que não é responsável pela dívida, mas,

ainda assim, sofre a penhora de um bem que adquiriu (ou que esteja em sua posse) do devedor que

está sendo executado. Esse terceiro não é parte, e tal penhora é injusta, podendo se opor através dos

chamados embargos de terceiro, salvo se enquadrar numa das exceções do art. 790, NCPC.

Portanto, há responsabilidade patrimonial de terceiro, sendo seus bens atingidos pela

execução APENAS nos casos expressos do art. 790, que diz: “são sujeitos à execução os bens (....)

I – do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação

reipersecutória.

Trata-se da responsabilidade do terceiro que recebeu o bem por sucessão causa mortis, à

título singular (legatário – herda uma coisa certa e determinada), o qual é objeto de execução, ou

melhor, cumprimento de sentença proferida em sede de ação fundada em direito real ou obrigação

reipersecutória (ação que implica na entrega ou restituição de uma coisa, como na ação de despejo,

nas ações possessórias etc).

Exemplo: cumprimento da sentença em uma ação de usucapião (ação fundada em direito

real), cujo bem usucapido foi deixado, por testamento, a um legatário (ex: creche).

Fatalmente, o bem deverá ser entregue ao autor da usucapião, então credor-exequente,

restando ao terceiro legatário apenas discutir tal perda por embargos de terceiro.

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33

Cuidado para não confundir com a semelhante hipótese prevista no art. 792, I, que trata da

ineficácia de negócio jurídico feito em fraude à execução. Ali, o legislador refere-se à transferência de

bem, também objeto de ação real ou reipersecutória, mas por ato inter vivos e, portanto,

fraudulenta.

Neste caso, tal negócio é fraudulento e ineficaz, podendo o exequente fazer a execução

recair sobre o bem que está na posse ou propriedade do terceiro-adquirente, que nada poderá fazer,

não cabendo sequer a oposição de embargos de terceiro.

De toda sorte, fato é que a transferência do bem, seja por causa mortis ou por ato inter vivos,

não impede a prática de atos executivos em favor do credor. Ratifica tal entendimento o

processualista e então ministro do STF, Teori Albino Zavascki (apud DIDIER JR, 2010, p. 263, v. 5): “A

transferência, mortis causa ou por ato inter vivos, de bem objeto de ação real, não inibe a atividade

executiva em favor do credor”.

II – do sócio, nos termos da lei.

Geralmente, o patrimônio da pessoa jurídica é que responde por suas dívidas, não

alcançando o de seus sócios, salvo nos casos previstos em lei.

Porém, há casos em que o sócio responde solidariamente (sociedade em nome coletivo - art.

1.039 do CC; e do sócio comanditado na sociedade em comandita simples - art. 1.045, caput, do CC)

ou subsidiariamente (sociedade irregular e sociedade de fato) pelas dívidas da empresa; ou então

que, em virtude da prática de ato fraudulento ou abusivo, tem os seus bens atingidos pela execução

por força da aplicação da desconsideração da pessoa jurídica (art. 50 do CC – teoria

maior/inadimplência + desvio e abuso; art. 28 do CDC – teoria menor/basta inadimplência), por meio

do incidente previsto nos arts. 133 a 137 do NCPC15.

Em todo caso, haverá a possibilidade do exercício do direito do benefício de ordem pelo sócio

(art. 795, § 1.º, do NCPC), podendo o sócio indicar bens da sociedade para que respondam à

satisfação da dívida antes que seus bens sejam atingidos.

15

“Tem entendido a doutrina e a jurisprudência que se faz necessária a participação do sócio no processo de execução, assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante embargos à execução, para que o juiz possa desconsiderar a personalidade jurídica e alcançar os bens dos sócios, até então terceiros” (DANIEL AMORIM, 2016, p. 1.479).

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34

III – do devedor, ainda que em poder de terceiros.

Esse inciso é extremamente criticado, pois que se não trata de uma exceção à

responsabilidade patrimonial do devedor, já que a execução recairá justamente sobre um bem de sua

propriedade, mas que está na posse de terceiro (Ex: bem locado). O patrimônio não deixou de ser do

devedor apenas porque o bem se encontra no poder de terceiro.

IV – do cônjuge ou companheiro, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua

meação respondem pela dívida.

Esse inciso deve ser interpretação à luz do art. 73, §1º, III do NCPC, segundo o qual “ambos

os cônjuges serão necessariamente citados para a ação fundada em dívida contraída por um dos

cônjuges a bem da família.”, corroborada na lei civil material, nos arts. 1.643 e 1.644, que trata da

solidariedade entre os cônjuges pela dívida contraída por um deles para compra de coisas necessárias

à economia doméstica ou de empréstimos para a aquisição de tais coisas.

Assim, há uma presunção de que as dívidas, contraídas por um cônjuge que beneficie a

ambos, devem ser respondidas pelos bens particulares dos dois, independentemente do regime de

bens em que são casados.

Registre-se que tal presunção é relativa, o que significa dizer que é possível a prova em

contrário por um dos cônjuges ou companheiro de que não foi beneficiado e que, portanto, não é

responsável. Isso pode ser feito mediante embargos de terceiro, se seu interesse seja tão somente se

livrar da penhora injusta sobre bem imóvel (art. 842 c/c art. 674, §2º, NCPC), da qual será

obrigatoriamente intimado, salvo se o regime for de separação absoluta de bens; ou mediante

embargos à execução, caso tenha a intenção de discutir o débito ou alegar a nulidade da execução16.

Caso o bem imóvel penhorado seja indivisível, o art. 843 do NCPC entende que o bem deverá

ser alienado inteiramente, pelo preço da avaliação, no mínimo, e depois entregue a quota-parte ao

cônjuge alheio à execução.

V – alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.

O art. 792 do NCPC traz as hipóteses de fraude de execução:

16

É pacífica a doutrina e jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça quanto ao entendimento de que o cônjuge ou companheiro não devedor tem legitimidade para os embargos à execução e embargos de terceiro, o que parece confirmar o entendimento de condição simultânea de parte e terceiro desse sujeito (Súmula 134, STJ).

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35

- quando pender ação real ou reipersecutória (desde que tenha sido averbada no respectivo registro

público) => para título executivo judicial.

- quando pender processo de execução (desde também tenha sido averbada no registro dos bens

penhoráveis – art. 828) => em caso de execução de título extrajudicial.

- quando pender hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial no processo onde foi (desde

que averbada no registro do bem hipotecado ou constritado)

- quando pender ação capaz de reduzir o devedor à insolvência

- nos casos previstos em lei

Para a configuração da fraude à execução é necessária a comprovação apenas do elemento

objetivo (eventus damni), consistente no dano causado ao credor-exequente pela alienação ou

oneração do bem objeto de penhora (apesar de que nas 3 primeiras hipóteses, não há necessidade de

provar tal dano, apenas na 4ª – redução à insolvência). Exemplo: se o devedor deve 50 mil, mas tem

um patrimônio de 500 mil, só haverá dano ao credor-exequente se ele alienar mais que 450 mil dos

seus bens.

Em contrapartida, os elementos subjetivos (scientia e consilium fraudis) não precisam ser

provados, sendo presumidos, pois a alienação de bens, responsáveis pela dívida, na pendência de

ação judicial que a discute, pressupõe a ciência de fraude do devedor e o conluio fraudulento entre

este e o terceiro adquirente.

O STJ estabelece o momento em que tais presunções ocorrem. Assim, para tal Corte

presume-se:

- a ciência de fraude do devedor: quando este tiver a inequívoca ciência da existência de ação judicial,

o que se dá, por óbvio, apenas por meio da citação (processo autônomo) ou intimação (cumprimento

de sentença), sendo os atos fraudulentos cometidos antes desse momento processual considerados,

em regra, como fraude contra credores.

- o conluio fraudulento com o terceiro adquirente: a partir do registro da penhora do bem alienado

(Súmula 375, STJ). Tal presunção de má-fé do terceiro adquirente é relativa, portanto, admite-se

prova em contrário mediante embargos de terceiro (art. 674, §2º, II, NCPC). Importante destacar que,

caso o registro da penhora não seja efetuado, o terceiro adquirente tem o ônus de provar a sua boa-

fé (§2º do art. 792).

Todavia, em ambos os casos é possível, caso o credor-exequente proceda à averbação da

causa no registro competente (como exigem os incisos I, II e III do art. 792), que se antecipe o marco

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36

de tais presunções (agora, absoluta) já ao momento da propositura da ação, dado o efeito erga

omnes da averbação.

Por fim, recorda-se que a fraude à execução se assemelha à chamada fraude contra credores,

na medida em que em ambas há alienação de bens pelo devedor a terceiros, tornando-o insolvente.

PORÉM, diferenciam pelas seguintes características:

A propósito, apesar da diferenciação, convém notar que a alienação em fraude contra

credores também implicará em alcance do bem, objeto do negócio fraudulento anulado, pela futura

execução. Aliás, trata-se de hipótese nova inserida ao art. 790 do NCPC, a seguir.

VI – cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em

ação autônoma, de fraude contra credores.

“É curiosa a previsão do art. 790, VI, do Novo CPC. Sendo o ato anulado, o bem retorna ao

patrimônio do devedor, de forma que passa a responder por suas obrigações, mas não por meio de

responsabilidade secundária, já que o responsável patrimonial nesse caso é o devedor. O dispositivo

só teria sentido se o ato fosse considerado ineficaz, porque nesse caso o bem de propriedade do

adquirente, que obviamente não é devedor, responderia pelas obrigações deste.” (DANIEL AMORIM,

2016, p. 1.485).

17

Os planos de existência, validade e eficácia dos negócios jurídicos não se confundem. Ato ou negócio inexistente é aquele realizado sem a observância de seus elementos, quais sejam, agente, objeto e forma. Ato ou negócio inválido é aquele que, embora existente, foi realizado com vício ou defeito na manifestação de vontade do agente, seja por erro, coação, lesão, estado de perigo, fraude ou simulação; ou em observância aos seus requisitos, quais sejam, por agente capaz, com objeto lícito, possível, determinado ou determinável e mediante forma prescrita ou não defesa em lei. Por fim, ato ou negócio ineficaz é aquele, apesar de existente e válido, não produz efeitos por pender alguma condição, termo ou encargo. O termo, segundo o STJ, a partir do qual se reputa um negócio ineficaz por fraude à execução, é a citação ou a intimação do réu para a execução (autônoma ou incidental ao processo de conhecimento/cumprimento de sentença).

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO

1. - existe a dívida, mas não há ação ainda; 1. - pressupõe ação pendente, tendo o réu já sido citado/intimado (STJ);

2. - é instituto de direito material (defeito do negócio jurídico – art. 158 a 165, CC);

2. - é instituto de direito processual (configura ato atentatório à dignidade da justiça – art. 792 c/c 774, I, NCPC);

3. - o negócio fraudulento é anulável ; efeito ex nunc; 3. - o negócio fraudulento é ineficaz17

; efeito ex tunc;

4. - a anulação ocorre em ação autônoma (ação pauliana – art. 161, CC); 4. - a ineficácia ocorre incidentalmente ao processo em curso, nos mesmos autos, mediante prévia intimação do terceiro adquirente para opor embargos de terceiro (art. 792, §4º, NCPC);

5. - para se configurar depende do eventus damni (elemento objetivo); do consilium fraudis e da scientia fraudis do terceiro (elementos subjetivos / presunção absoluta de fraude e má-fé se doação - art. 158, CC).

5. - depende apenas do elemento objetivo; o conluio em fraudar e a scientia fraudis são presumidos (de modo absoluto, se houver averbação da ação ou da penhora).

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37

VII – do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.

Já se questiona na doutrina se tal inciso não é mera repetição do inciso II, estando por ele

absorvido. Para Daniel Amorim (2016, p. 1.486), o dispositivo refere-se às figuras atípicas de

desconsideração da personalidade jurídica criadas pelo STJ, como a desconsideração entre sociedades

do mesmo grupo econômico e desconsideração inversa (do sócio para atingir os bens da empresa –

utilizado muito no direito de família).

Mas parece que a posição mais lógica é a que considera, contempladas no inciso II, apenas

aquelas situações legais em que o sócio responde com seus bens particulares pelas dívidas da

sociedade, como na sociedade em comandita simples, em nome coletivo, de fato ou irregular;

deixando a questão da desconsideração da personalidade jurídica exclusivamente no inciso VII.

1.4.5.3 Bens retidos pelo credor (art. 793, NCPC)

Segundo o art. 793, o exequente não poderá promover a execução sobre outros bens do

devedor enquanto não excutida a coisa que se achar em seu poder em direito de retenção. Isso

ocorre quando o credor se achar na posse de bem pertencente ao devedor, em exercício ao direito de

retenção, como ocorre quando é depositário (arts. 643 e 644 do CC), mandatário (arts. 664 e 681, CC),

locatário (art. 35 da Lei 8.245/91), hospedeiro (arts. 647, I e 649, CC) ou o credor pignoratício (art.

1433, I e II, CC).

1.4.5.4 Responsabilidade de imóvel submetido ao regime de direito de superfície (art. 791, NCPC)

Primeiramente, há que se esclarecer que o direito real de superfície, previsto nos arts. 1.369 a

1.377 do Código Civil, é uma concessão, gratuita ou onerosa, atribuída pelo proprietário a outrem do

direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura

pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis.

Portanto, surgem 2 direitos reais sobre o imóvel, de titulares diferentes: os direitos e

obrigações vinculados ao terreno; e aqueles vinculados à construção ou à plantação.

O art. 791 trata, de forma inédita, da penhora sobre bem imóvel sujeito ao regime do direito

de superfície. Sendo executado o proprietário, somente o terreno responderá pela satisfação do

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38

direito do exequente, enquanto que, sendo executado o superficiário, somente a plantação ou a

construção será objeto de penhora. Detalhe: com registros distintos em cartório (§1º).

Portanto, nota-se a individualização da responsabilidade patrimonial do proprietário e do

superficiário, estendendo-a, por analogia, à enfiteuse, à concessão de uso especial para fins de

moradia e à concessão de direito real de uso (§2º).

1.4.6 Defesa do Executado

O executado tem direito de defender-se em qualquer tipo de execução. No caso de

cumprimento de sentença, a defesa se faz mediante impugnação à execução (art. 525, NCPC). No

caso de execução de título extrajudicial, a execução se faz por meio de embargos à execução (arts.

914 a 920, NCPC).

Existem outras formas de se defender na execução como por meio de ações autônomas

(defesas heterotópicas) ou por meio da exceção de pré-executividade.

a) Embargos à execução

a.1) conceito e requisitos

Os embargos à execução são verdadeira ação de conhecimento, incidental, ou seja, no curso

da execução. Portanto, sua petição inicial segue os requisitos dos arts. 319 e 320 do NCPC.

A competência para julgar os embargos é a mesma do órgão da ação de execução (art. 61,

NCPC). É caso de competência funcional. Quando houver bens do executado em outra comarca, deve-

se observar o disposto no art. 914, §2º, NCPC (execução por carta).

O executado passa a ser denominado embargante e o exequente passa a ser denominado

embargado. Via de regra, será o executado o legitimado ativo (embargante) para o oferecimento dos

embargos. Mas podem ser legitimados ativos qualquer responsável patrimonial (art. 790, NCPC). Não

cabe intervenção de terceiros nos embargos, exceto a assistência.

Por ser ação própria, deve-se atribuir valor da causa. Nesse caso, caso os embargos alcance

todo o crédito da execução, o valor da causa dos embargos será o mesmo da execução. Caso alcance

apenas parte dele, o valor da causa será o apenas essa parcialidade. Importante notar também que,

caso se alegue excesso de execução, como se verá adiante, o valor da causa será o apontado pelo

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39

embargante como sendo o correto.

a.2) prazo (art. 915 – contados a partir da citação, nos termos do art. 231, NCPC).

Apesar de, na execução por quantia certa, o executado ser citado para pagar o devido em 03

dias (art. 829, NCPC), o prazo para opor os embargos à execução será de 15 dias (art. 915, NCPC).

Quando houver mais de um embargado, o prazo para oferecer embargos conta-se da

juntada de cada comprovante de citação, salvo se tratar de cônjuges ou companheiros, quando será

contado da juntada do último (art. 915, §1°, NCPC). Também continua não aplicando aos embargos o

dobro de prazo para litisconsortes com advogados diferentes (art. 229 do NCPC) por força da previsão

do art. 915, §3°, NCPC).

Lembrando que a citação na execução, agora no NCPC, é feita por correio, e não mais por

oficial de justiça. Todavia, quando a citação for por hora certa ou por edital, e o executado não

oferecer embargos, será nomeado curador especial como representante do executado para tanto.

a.3) dispensa de garantia do juízo e ausência de efeito suspensivo

De acordo com o art. 914, o oferecimento de embargos não depende de garantia do juízo

(penhora, depósito ou caução).

Em regra, os embargos não possuem efeito suspensivo (art. 919, NCPC).

Todavia, preleciona o §1º do art. 919 que o efeito suspensivo poderá ser concedido

excepcionalmente DESDE QUE, a requerimento do embargante, estejam satisfeitos os requisitos para

a concessão da tutela provisória (fumus boni iuris e periculum in mora, ou seja, a relevância do

fundamento dos embargos e o fundado receio de dano caso não haja a suspensão da execução), e

esteja a execução garantida por penhora, depósito ou caução.

Obviamente que, se o efeito suspensivo for apenas parcial, a execução será apenas em parte

suspensa (art. 919, §3º c/c 921, I, NCPC).

Todavia, mesmo que se tenha atribuído efeito suspensivo, poderá a execução seguir quando

exequente garantir o juízo (aplicação analógica do art. 525, §10, NCPC).

Por fim, vale ressaltar a nova redação dada ao §5° do artigo em referência que,

acertadamente, estabelece que a suspensão não impede substituição, o reforço ou a redução da

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40

penhora, e não simplesmente a apenas “a penhora” (como dispunha o velho CPC), uma vez que

obviamente a 1ª penhora já houve, por ser requisito essencial para a concessão daquele efeito.

a.4) matéria de defesa

É ampla a defesa do executado em sede de embargos à execução. O amplo rol está elencado

no artigo 917 do NCPC, que prevê as seguintes hipóteses:

I – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação => redação mais apurada, substituindo a

anterior que falava em nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado.

I – penhora incorreta ou avaliação errônea => ATENÇÃO: considerando que, na execução por quantia

certa, o executado é citado para pagar em 3 dias, sob pena de sofrer penhora (art. 829, caput e §1º),

ou para oferecer embargos à execução em 15 dias (art. 915), tal defesa não será cabível se os

embargos forem oferecidos antes de findo o prazo para o pagamento (ou seja, antes dos 3 dias), uma

vez que não terá ainda ocorrido a penhora. Neste caso, o executado poderá arguir a incorreção por

petição simples em 15 dias contados da ciência do ato (novidade – art. 917, §1º).

III – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções => são 2 defesas diferentes. Os casos

que podem ensejar excesso estão elencados no mesmo art. 917, §2º, NCPC. Alegado excesso de

execução, o executado deve indicar o valor que entender correto sob pena de tal defesa não ser

conhecida pelo juiz se houver outros fundamentos, ou sob pena de rejeição liminar dos embargos, se

for o único fundamento dos embargos (art. 917, §§3° e 4º, I e II, NCPC).

IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa.

V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução => novidade (alinhando ao que ocorre na

contestação do processo de conhecimento). A arguição de impedimento e suspeição far-se-á de

acordo com os arts. 146 e148 do NCPC, ou seja, por petição simples criando um incidente.

VI – qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento =>

exemplos: prescrição, extinção da obrigação (pagamento, novação, subrogação etc),

inconstitucionalidade de lei, exceção do contrato não cumprido, etc.

a.5) procedimento

Os embargos deverão ser distribuídos por dependência ao processo de execução principal,

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41

porém processados em autos apartados, e instruídos com cópias de peças processuais relevantes, que

poderão ser declaradas autênticas, sob a responsabilidade pessoal do advogado (art. 914, §1º, NCPC).

Se os embargos forem intempestivos; manifestamente protelatórios (ato atentatório à

dignidade da justiça – art. 918, parágrafo único); ou nos casos de indeferimento da petição inicial ou

improcedência liminar da demanda, o juiz os rejeitará liminarmente (art. 918, NCPC).

Da decisão que indefere a petição inicial dos embargos caberá o recurso de apelação (art.

331), neste caso desprovido de efeito suspensivo (art. 1.012, §1º, III, 1ª parte, NCPC), pois a extinção

dos embargos sem resolução do mérito deve produzir efeitos imediatos por favorecer o exequente e

a execução (aplicação do princípio da efetividade).

TODAVIA, sendo recebidos os embargos, será o exequente-embargado intimado para que,

no prazo de 15 dias, ofereça sua defesa. Daí, ou o juiz julga imediatamente o pedido (art. 355) ou

designa audiência, proferindo sentença (art. 920, NCPC).

Caso os embargos sejam julgados procedentes, cabe apelação no seu duplo efeito

(devolutivo e suspensivo). Por outro lado, se julgados improcedentes, a exemplo da sentença que

extingue os embargos sem resolução do mérito, caberá apelação também apenas no efeito

devolutivo, conforme art. 1.012, §1º, III, 2ª parte, NCPC.

a.6) pedido de parcelamento da dívida

Ao invés de oferecer os embargos, pode o executado requerer o parcelamento do crédito

do exequente (art. 916, NCPC). Os requisitos para esse incentivo são: requerimento do executado;

depósito de, no mínimo, 30% do montante executado, incluindo custas e honorários; não ter o

executado oferecido embargos à execução. O restante deverá ser pago em até 06 parcelas, acrescido

de juros e correção monetária. O atraso do pagamento de qualquer das parcelas gera multa de 10%

sobre a mesma.

b) Impugnação à execução

É a defesa do executado no cumprimento de sentença, ou seja, quando a execução se fundar

em título judicial.

De acordo com o art. 525 do NCPC, o prazo para oferecer a impugnação é de 15 dias após

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42

transcorrido o prazo do art. 523, NCPC (o executado é intimado para, em 15 dias, pagar o débito, sob

pena de multa e honorários de advogado, ambos em 10% cada, e sob pena de penhora). Lembrando

que, ao contrário dos embargos, aplica-se aqui o prazo em dobro do art. 229 em caso de litisconsortes

litigando com advogados de escritórios de advocacia distintos, nos termos do §3º do art. 525.

O conteúdo da impugnação à execução ou a matéria de defesa é bem mais limitada do que

nos embargos, e está prevista no art. 525, §1º, do NCPC, a saber:

I – falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;

II – ilegitimidade de parte;

III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação – nos termos dos §§12, 13, 14 e 15 do

art. 525, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título judicial fundado em lei ou

ato normativo considerado inconstitucional ou incompatível com CF pelo STF, em controle

concentrado ou difuso, antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. É a chamada “coisa

julgada inconstitucional” – hipótese de relativização da coisa julgada fora das hipóteses da rescisória;

IV – penhora incorreta ou avaliação errônea – pois esta ocorre no mesmo prazo de que dispõe o

executado para impugnar, ou seja, após o prazo de 15 dias para pagar o débito (art. 523). Todavia,

alegações da defesa, posteriores ao término do prazo para impugnação, inclusive relativa à novas

penhoras e avaliações, o executado poderá formulá-las mediante simples petição em 15 dias,

contados da ciência do fato ou da intimação do ato (§11 do art. 525).

V – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções – caso o executado alegar excesso de

execução, deverá declarar o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e

atualizado de seu cálculo (§4º do art. 525), sob pena de rejeição liminar da impugnação, se o excesso

for o seu único fundamento, ou não ser examinada tal alegação, se houver outros fundamentos (§5º);

VI – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VII – qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,

compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença.

A impugnação à execução também independe de garantia do juízo e, via de regra, não

possui efeito suspensivo (§6º do art. 525).

Todavia, excepcionalmente poderá o juiz atribuir esse efeito quando, a requerimento do

executado, houver garantia do juízo (por penhora, caução ou depósito) e a demonstração da

relevância dos fundamentos e do perigo de grave dano ou de difícil reparação caso haja o

prosseguimento da execução.

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ATENÇÃO – Casos em que a execução, de certa forma, prosseguirá mesmo que tenha sido

atribuído efeito suspensivo:

- atos de modificação (substituição, reforço ou redução) da penhora ou de avaliação dos bens podem

ser realizados (§7º);

- se a impugnação for parcial (parte do objeto da execução), a execução prosseguirá quanto à parte

restante (§8º);

- se deduzida por um dos executados, não suspenderá a execução contra os que não impugnaram

(§9º);

- se o exequente caucionar a execução, este terá o direito de prosseguir com a execução (§10).

Por se tratar de decisão interlocutória proferida na fase de cumprimento, por força do

parágrafo único do art. 1.015 do NCPC, da decisão que julgar a impugnação é cabível agravo de

instrumento.

Por fim, vale notar que estranhamente o §7º do art. 916 previu a não aplicação do

parcelamento judicial da dívida à fase do cumprimento de sentença.

c) Exceção ou objeção de pré-executividade (exceção de não-executividade)

A exceção de pré-executividade foi muito usada antes da última reforma do CPC, pois que

antes era necessário garantir o juízo para a interposição dos embargos, o que era dispensável se se

tratasse de exceção de pré-executividade.

Atualmente, não há mais tanta utilidade uma vez que se tornou desnecessária a garantia do

juízo para impugnar ou embargar à execução. Todavia, ainda é utilizada quando o executado perde o

prazo para impugnar ou embargar à execução para alegar questões supervenientes ou que devam ser

conhecidas de ofício; ou em procedimentos de execução especial, onde ainda se exige a garantia do

juízo para oferecer defesa.

Serve, basicamente, para alegar as matérias de ordem pública, que podem ser conhecidas de

ofício, como a falta de pressupostos processuais ou de condições da ação; bem como qualquer

matéria que tivesse prova pré-constituída, como prescrição, pagamento, compensação, ausência de

título, impenhorabilidade, novação, transação, etc.

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d) Ações autônomas (defesas heterotópicas)

O devedor ainda pode defender-se com o oferecimento de ações autônomas que podem

influenciar a execução. É o caso da ação rescisória, da ação de revisão ou anulação de negócio

jurídico, a consignação em pagamento.

O ajuizamento desse tipo de ação não impede a execução do título (art. 784, §1°, NCPC). Por

serem tais ações conexas com a execução, os processos devem ser reunidos.

Ajuizada a ação autônoma, seu objeto não pode ser discutido em sede de embargos na

execução, sob pena de litispendência. Nesses casos, a ação autônoma é recebida como verdadeiros

embargos à execução.

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45

2 EXECUÇÕES EM ESPÉCIE

2.1 EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA (certa ou incerta)

As execuções das obrigações de fazer, não fazer e de entregar coisa observam regramentos

diversos em razão do título em que são fundadas. Veja o quadro abaixo:

Obrigação Título Judicial Título Extrajudicial

Fazer e não Fazer

Arts. 497, NCPC

Arts. 815 e ss., NCPC

Entregar coisa

Art. 498, caput, NCPC (coisa

certa)

Art. 498, parágrafo único,

NCPC (coisa incerta)

Arts. 806 a 810, NCPC (coisa

certa)

Arts. 811 a 813, NCPC (coisa

incerta)

2.1.1 Fundadas em Título Judicial (arts. 497 e 498 do NCPC)

Nas execuções de obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, fundadas em título

judicial, vigora o princípio da primazia da tutela específica, o que implica prioridade do juiz em

entregar de forma imediata, direta e específica o bem da vida ao credor.

Isso só é possível mediante o proferimento de uma sentença mandamental, que é, a

princípio, condenatória. Porém, ela não se limita a condenar, pois também ordena (mandado) que

as partes cumpram a condenação disposta na sentença. Os provimentos mandamentais, portanto,

têm uma carga mista (condenação + execução).

Para forçar o devedor ao cumprimento imediato e específico da obrigação, o juiz pode

adotar mecanismos processuais de coerção indireta, independentemente de requerimento da

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46

parte, como a cominação de multa diária pelo inadimplemento (astreintes)18, cujo valor e

periodicidade será determinada pelo juiz de acordo com o caso concreto. Trata-se do poder geral de

efetivação do juiz.

Todavia, caso o juiz, entenda ser mais efetivo e razoável (princípio da proporcionalidade),

poderá adotar providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente

(art. 497, 2ª parte), por meio da sentença executiva lato sensu, consistente também numa

condenação, porém o Estado é quem satisfará o direito do credor, mediante a adoção de

providências ou medidas de sub-rogação ou de substituição no lugar do devedor, como busca e

apreensão (quando a coisa não é entregue em tempo hábil a quem cabia tal obrigação); remoção de

pessoas e coisas; desfazimento de obras (obrigação de não construir em determinado terreno);

impedimento de atividade nociva (como o fechamento da indústria poluente até que haja a

instalação de filtros apropriados) etc. Trata-se, portanto, de medidas de coerção direta.

No entanto, nos termos do art. 499 do NCPC, se não for possível a tutela específica ou a

obtenção da tutela pelo resultado prático equivalente, seja porque o bem a ser entregue pereceu

por culpa do devedor; seja porque o fazer ou o não fazer se tornou impossível, como, por exemplo,

a indústria que não consegue instalar os filtros antipoluentes diante de sua falta no mercado local, a

obrigação se converterá em perdas e danos (tutela genérica).

Também haverá conversão em perdas e danos se o autor abrir mão da tutela específica,

preferindo a indenização19, ou seja, se ele requerer a tutela genérica. Vê-se, portanto, que a

execução de tais obrigações é regida pelo princípio da primazia tutela específica, anteriormente já

estudado.

18

A astreinte – multa cominada pelo juiz para assegurar o cumprimento de sua decisão – é uma criação do direito

francês que tem por objetivo forçar o réu a adimplir, tendo, portanto, caráter coercitivo.

É importante observar que, exatamente em razão de sua natureza coercitiva, a astreinte é devida

independentemente da indenização. Assim, como ensina Marinoni, “se a ordem do juiz, apesar da multa, não for

suficiente para convencer o réu a adimplir, ela poderá ser cobrada independentemente do valor devido em face da

prestação inadimplida e do eventual dano provocado pela falta do adimplemento na forma especifica e no prazo

convencionado”.

A multa cominada pelo juiz objetiva coagir o réu a cumprir a obrigação e, portanto, para que seja uma forma

autêntica e eficaz de pressão sobre a vontade do réu, é imprescindível que seja fixada com base em critérios que

permitam atingir sua finalidade: garantir a efetividade da tutela jurisdicional. Assim, sua fixação deve ser balizada por

critérios subjetivos, sobretudo a capacidade econômica do devedor. A periodicidade da multa pode variar. Não precisa

ser ela diária. Os Tribunais vem entendendo ser cabível a multa mesmo quando a execução for contra a Fazenda

Pública. Ademais, é possível cumular as astreintes com a multa do artigo 77 do CPC. A multa somente poderá ser

cobrada após a formação de coisa julgada. 19

Importante esclarecer que o juiz não permitirá a conversão da obrigação em perdas e danos caso perceba que o credor

fez tal opção por mero capricho, a fim de onerar o devedor, quando este poderia ter entregue, sem maiores prejuízos para

si, a obrigação àquele in natura.

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47

Convertida que seja em perdas e danos, estes serão apurados em incidente cognitivo à

execução, cuja decisão será executada em procedimento executivo próprio para as obrigações por

quantia certa. Importará, portanto, a conversão também do rito: da tutela específica para

cumprimento de sentença.

2.1.2 Fundada em Título Extrajudicial (art. 815 e ss. do NCPC) a) Obrigação de fazer ou não fazer

Quando se tratar de título extrajudicial, o devedor será citado para satisfazer a obrigação no

prazo assinalado pelo juiz, se outro não estiver anotado no título (art. 815 – obrigação de fazer; art.

822 – obrigação de não fazer, CPC). É a fase de cumprimento voluntário.

Citado, o executado pode apresentar três condutas:

1) fazer, ou desfazer o que já fez;

2) oferecer embargos à execução no prazo de 15 dias; ou

3) permanecer inerte.

Na ocorrência dos dois últimos casos, passa-se para a segunda fase, que é o da execução forçada. Caso a obrigação de fazer ou não fazer seja fungível, aplica-se os artigos 817 a 820 do NCPC,

assim esquematizados:

REQUERIMENTO DO

EXEQUENTE

(prestação da obrigação

por terceiro à custa do

executado)

JUIZ NOMEIA 3º IDÔNEO (livremente ou o indicado pelo

exequente)

O 3º OFERECE PROPOSTA

P/ REALIZ. DO SERVIÇO

JUIZ OUVE AS PARTES

ACERCA DA PROPOS-

TA DO 3º (o credor adian- ta

as despesas, caso seja

aprovada).

REALIZADA A PRESTAÇÃO, - NÃO HAVENDO IMPUGNAÇÃO: o

OUVE AS PARTES – 10 dias juiz considerará satisfeita a obrigação.

- HAVENDO IMPUGNAÇÃO: o juiz a decidirá

OBS. FINAL: caso o 3º não realize a prestação ou o faça de modo incompleto ou defeituoso, o exequente poderá requerer ao juiz, no prazo de 15 dias, que o autorize a conclui-la ou repará-la à custa do 3º. Este será, neste caso, ouvido num prazo de 15 dias, quando então o juiz determinará a avaliação do custo das despesas necessárias, condenando-o a pagá-lo.

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48

Já as obrigações infungíveis, pela sua própria natureza, não permitem a prestação do serviço

por terceiro, quando então, nos termos do art. 821, o juiz assinará prazo para que o executado

pessoalmente cumpra com a obrigação.

Havendo recusa ou mora do executado, a obrigação se converterá em perdas e danos, a ser

apurada em incidente ao processo executivo, e seguirá as regras da execução por quantia certa.

Vale ressaltar que, fungível ou infungível a obrigação, será sempre possível ao credor optar pela

conversão em perdas e danos.

Por outro lado, em se tratando de obrigação de não fazer, determina o art. 822 que o juiz, a

requerimento do exequente, mandará citar o executado para que desfaça o ato no prazo que fixar.

Havendo recusa ou mora, o exequente requererá ao juiz que se determine o desfazimento (por um

terceiro) às custas do executado.

Se não for possível o desfazimento do ato, ou quando o credor assim preferir, a obrigação de

não fazer será convertida em perdas e danos, observando aqui também o procedimento da execução por

quantia certa.

b) Obrigação de entregar coisa certa ou incerta

Nessa execução também existem duas fases: a fase da execução voluntária e a fase da execução

forçada.

Em se tratando de coisa certa, citado, o executado terá 15 dias para entregar a coisa (art. 806).

Em se tratando de coisa incerta, o executado será citado para entregá-la individualizada, se lhe

couber a escolha (art. 811). Se a escolha couber ao exequente, esse o fará na petição inicial (art. 811,

parágrafo único). Qualquer das partes poderá impugnar a escolha feita pela outra no prazo 15 dias,

quando então o juiz decidirá de plano ou, se necessário, ouvindo o perito de sua nomeação (art. 812).

Num ou noutro caso, citado, o executado pode ter três condutas:

1) entregar a coisa;

2) oferecer embargos no prazo de 15 dias; ou

3) permanecer inerte.

Se o executado entregar a coisa, a obrigação será considerada satisfeita e a execução só

prosseguirá se for para pagamento de frutos ou ressarcimento de prejuízos (art. 807). Importante

observar que caso a coisa já tenha sido alienada a terceiro, será expedido mandado contra este, que

poderá se insurgir mediante embargos de terceiro desde que a deposite antes (art. 808).

De outro giro, se o executado NÃO entregar a coisa, este estará sujeito à multa por dia de

atraso no cumprimento da obrigação, fixada pelo juiz ao despachar a inicial, bem como lhe será

expedido mandado de imediata imissão na posse (se bem imóvel) ou busca e apreensão (se bem

móvel), nos termos do art. 806, caput e §§1º e 2º.

Por fim, há que se falar em conversão da obrigação de entrega de coisa em perdas e danos

nos casos do art. 809, ou seja, quando a coisa se deteriorar, não for entregue ao exequente, não for

encontrada, ou não reclamada do poder de terceiro adquirente.

Quanto às benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo executado, aplica-se o art. 810 do NCPC.

2.2 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

As principais fases procedimentais da execução por quantia certa contra devedor solvente,

seja fundada em título judicial ou extrajudicial, são:

1. Fase da proposição: quando o exequente promove a execução. Esta é a única fase em que há

distinções a depender do título que se executa, ou seja, caso trate de cumprimento de sentença ou

processo autônomo de execução.

2. Fase da apreensão: na qual ocorre a sua apreensão (penhora) e avaliação;

3. Fase da transferência: em que o bem apreendido e avaliado é alienado e, portanto, transformado

em dinheiro, numa verdadeira expropriação do executado;

4. Fase da satisfação do crédito: na qual o dinheiro apurado é entregue ao exequente nos limites do

seu crédito (pagamento).

2.2.1 FASE DA PROPOSIÇÃO (atos iniciais):

a) no Cumprimento de Sentença (arts. 513 a 533)

50

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Transitada em julgado a sentença, ou se pendente de recurso desprovido de efeito

suspensivo, o seu respectivo cumprimento, definitivo ou provisório, far-se-á mediante o

requerimento do exequente (e não mais de ofício pelo juiz, conforme antiga discussão doutrinária sob

a égide do CPC/73).

Tal requerimento será feito mediante petição simples, endereçada, via de regra, ao juízo da

causa onde se formou o título (regras do art. 516), observando também a legitimidade ativa e passiva,

previstas, respectivamente, nos art. 778 e 779 do NCPC, e suas qualificações nos termos do inciso I do

art. 524. Ressalva-se, nesse momento, a disposição no art. 513, §5º, que diz não ser possível a

promoção do cumprimento de sentença em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que

não tiver participado da fase de conhecimento.

Como já sabido, tal petição deverá fundamentar-se na existência de um título executivo

líquido, certo e exigível, no caso, de natureza judicial (cf. rol do art. 515). Vale lembrar que, sendo

este ilíquido, deverá antes submeter o feito à fase de liquidação nos termos do art. 509.

Ademais, também é necessário o exequente demonstrar o inadimplemento do devedor,

atentando-se, inclusive, para o fato de o juiz ter decidido relação jurídica sujeita a condição ou termo,

caso em que, de acordo com o art. 514, deverá o exequente demonstrar a sua realização.

Ato contínuo, o exequente deverá formular os pedidos. Além da indicação, se possível for,

dos bens passíveis de penhora (inciso VII do art. 524), o requerimento do exequente consistirá na

intimação do executado para pagar o débito, acrescido de custas, se houver, num prazo de 15 dias

(art. 523).

De acordo com o art. 513, §2º, tal intimação poderá ocorrer de diversas formas, a saber:

I – por Diário da Justiça na pessoa do advogado do devedor: caso tenha advogado constituído nos

autos;

II - por correio com AR: quando representado pela Defensoria Pública ou não tiver advogado

constituído nos autos. ATENÇÃO: também será feita desta forma, porém pessoalmente (só serve a

assinatura do devedor no AR), no caso do requerimento do exequente para o cumprimento de

sentença ocorrer após 01 ano do trânsito em julgado da sentença (art. 513, §4º);

III – por meio eletrônico: quando se tratar de empresas públicas ou privadas (art. 246, §1º) que não

tiverem advogado constituído nos autos;

IV – por edital: quando o revel já havia sido citado por edital na fase de conhecimento.

51

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ATENÇÃO: nos casos de sentença arbitral, sentença estrangeira e sentença penal condenatória, onde

a execução será por processo autônomo, embora se aplique as regras do cumprimento de sentença, o

executado será CITADO, e não intimado, conforme §1º do art. 515.

Por fim, tal petição deverá ser instruída com demonstrativo discriminado e atualizado do

crédito, que deverá conter o índice de correção monetária; os juros e respectivas taxas; os termos

inicial e final dos juros e correção monetária; a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

e a especificação de eventuais descontos obrigatórios realizados (art. 524, incisos II, III, IV, V e VI).

Pois bem: intimado (ou citado), dispõe o art. 523 que o executado20 terá 15 dias para

cumprir voluntariamente a dívida, acrescidos de custas, se houver.

Não havendo o pagamento voluntário no prazo, aduz o §1º do mesmo artigo que o débito

será acrescido de multa de 10% e de honorários advocatícios no mesmo percentual (os quais serão

proporcionais caso o pagamento for parcial - §2º), bem como será expedido, desde logo, o mandado

de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação (§3º do art. 523); além de a sentença

poder ser levado a protesto, nos termos do art. 517, NCPC.

Paralelamente, também após transcorrido o prazo do art. 523 sem o pagamento voluntário,

começará a fluir o prazo de 15 dias para o executado, se quiser, oferecer a impugnação ao

cumprimento de sentença, de acordo com o art. 525, caput e seus parágrafos (oportunamente já

estudados).

b) no Processo autônomo de execução (arts. 824 e ss)

Por se tratar de processo autônomo, é sabido que a sua deflagração dá-se por petição inicial,

que deverá observar os requisitos gerais do art. 319 (com exceção dos meios de prova e da opção

quanto à audiência de conciliação) e os específicos dos arts. 798 e 799.

Dessa forma, à título de revisão, deverá nela conter:

- juízo competente (arts. 781 e 782);

20 Antes de o vencedor requerer o cumprimento da sentença, o vencido pode comparecer em juízo e pagar o valor que

entende devido, apresentando memória de cálculo. Trata-se de pagamento espontâneo pelo executado, nos termos do art. 526 do NCPC.

52

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- os nomes e qualificação das partes (arts. 778 e 779 c/c art. 798, II, b);

- os fatos e fundamentos jurídicos (art. 786): consistente em mencionar os dados do título executivo

extrajudicial (rol do art. 784), bem como o inadimplemento do executado;

- o pedido é a satisfação do direito, ou seja, o cumprimento da obrigação, embora possa também o

exequente pleitear medidas urgentes, quando necessário (art. 799, VIII);

- a indicação dos bens suscetíveis de penhora, sempre que possível (art. 798, II, c);

- os requerimentos de intimações das pessoas enumeradas no art. 799;

- o valor da causa, que é o valor da dívida atualizada até a propositura da ação, conforme

demonstrativo de débito atualizado (conteúdo: art. 798, parágrafo único), que instruirá a inicial (art.

798, I, b);

- a propósito, a inicial deverá estar instruída também com: o título executivo; a prova da ocorrência

de termo ou condição, ou da contraprestação em obrigação sinalagmática (art. 798, I, b, c, d).

Despachando a inicial, o juiz determina a citação do executado para pagar a dívida, mais 10%

de honorários advocatícios21, no prazo de 3 dias, sob pena de penhora (art. 829, §1º); ou, se preferir,

no prazo de 15 dias oferecer embargos à execução (art. 915) ou requerer parcelamento da dívida (art.

916).

Vale lembrar que, após o despacho da inicial, o exequente tem o direito de averbar, em

registro público, a certidão de admissão da execução para conhecimento de terceiros (arts. 799, IX, e

828).

Todavia, caso o oficial de justiça não encontra o executado, mas encontra bens penhoráveis,

procederá ele já o arresto22 de tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 830). Tal

21

Se o executado efetuar o pagamento do débito no prazo legal, os honorários são reduzidos pela metade (art. 827, §1º) e a

execução se extingue (art. 924, II). Por outro lado, se o pagamento não ocorrer e a execução prosseguir, o juiz pode elevar o

percentual dos honorários até 20%, em consideração ao trabalho realizado pelo advogado do exequente (art. 827, §2º).

Tratam-se novos honorários, distintos daqueles sucumbenciais, fixados pela sentença na fase cognitiva; são relativos à fase

executiva. 22

Há julgados reconhecendo a possibilidade do arresto on-line, senão vejamos:

“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EXECUTADOS NÃO

LOCALIZADOS. ARRESTO PRÉVIO OU EXECUTIVO. ART. 653 DO CPC. BLOQUEIO ON LINE.

POSSIBILIDADE, APÓS O ADVENTO DA LEI N. 11.382/2006. APLICAÇÃO DO ART. 655-A DO CPC, POR

ANALOGIA.

1.- "1. O arresto executivo, também designado arresto prévio ou pré-penhora, de que trata o art. 653 do CPC, objetiva

assegurar a efetivação de futura penhora na execução por título extrajudicial, na hipótese de o executado não ser

encontrado para citação.

53

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

arresto não é uma cautelar, mas uma espécie de pré-penhora, a qual se converterá em penhora após

a efetiva citação do executado (1º - pessoal, em 2 dias distintos, num prazo de 10 dias após o arresto;

2º - com hora certa, se houver, no caso anterior, suspeita de ocultação do executado; 3º - por edital,

se frustradas as duas anteriores).

Por outro lado, sendo encontrado o executado, e não efetuado o pagamento no prazo de 3

dias, o oficial de justiça, com o mandado de citação, penhora e avaliação, procederá de imediato a

penhora dos bens indicados na inicial pelo exequente, ou pelo executado, desde que aceitos pelo juiz

(art. 829, §§1º e 2º).

Penhorados os bens, o executado deverá ser intimado (art. 829, §1°).

2.2.2 FASE DA APREENSÃO (da penhora, do depósito e da avaliação):

a) Penhora e depósito

a.1) limites ou objeto da penhora - artigo 831, NCPC, restringe-se à parcela do patrimônio suficiente

para pagar a dívida, excluindo os impenhoráveis (arts. 832 e 833 – já estudados).

a.2) efeitos da penhora:

- alteração do título de posse do devedor => de acordo com o art. 840, o bem é entregue a um

depositário (I - instituição bancária, se dinheiro, pedras e metais preciosos; II - depositário judicial, ou

na sua falta, o próprio exequente, se móveis, semoventes, imóveis; ou III - o executado, se imóveis

rurais, máquinas, utensílios e instrumentos agrícolas, mediante caução, ou ainda nos casos de difícil

remoção ou quando concordar o exequente - §2º);

- individualiza os bens que suportarão a atividade executiva: quando a execução tem início, a

responsabilidade patrimonial é abstrata e genérica (art. 789 CPC); com a penhora, ela passa a ser

concreta e específica.

2. Frustrada a tentativa de localização do executado, é admissível o arresto de seus bens na modalidade on-line (CPC,

art. 655-A, aplicado por analogia). (...)." (REsp 1.370.687/MG, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, DJe

15/08/2013).

2.- Recurso Especial provido, para permitir o arresto on line, a ser efetivado na origem. (REsp 1338032/SP, Rel. Ministro

SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2013, DJe 29/11/2013)”.

54

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- ineficácia relativa dos atos de disposição de bens: se o bem penhorado for de valor igual ou inferior

ao da dívida não poderá ser alienado, sob pena de fraude à execução.

- conservação dos bens: evitando a dilapidação patrimonial, principalmente a dos bens penhorados;

- conferir efeito suspensivo aos embargos à execução e à impugnação ao cumprimento de sentença;

- estabelecer o direito de preferência (art. 797, 908 e 909) => a penhora estabelece o direito de

preferência do credor que a procedeu em primeiro lugar, se tiverem a mesma hierarquia. Todavia,

havendo concurso de credores, ou seja, de hierarquias diferentes, seguem-se primeiramente as

regras de direito material (dívidas trabalhistas, dívidas tributárias, hipoteca etc) e depois as de direito

processual (tem preferência o credor que primeiro realizou a penhora).

a.3) ordem de preferência da penhora – esta estabelecida no art. 835, onde a prioridade é a penhora

de dinheiro, prevista no inciso I (cf. dispõe o §1º do mesmo artigo); já a ordem, nas demais hipóteses,

é relativa, podendo o juiz alterá-la de acordo com as circunstâncias do caso concreto. No caso de o

crédito estar garantido por direito real, a penhora deve recair sobre o bem objeto da garantia (§3º).

a.4) realização, formalização e registro da penhora

A penhora realiza-se com a apreensão e depósito do bem (art. 839), mas se formaliza,

consoante dispõe o art. 838, pelo auto (lavrado por oficial de justiça quando a apreensão é realizada

fora da sede do juízo) ou termo (redigido por escrivão, no bojo dos autos, na secretaria do juízo; de

acordo com o art. 845, §1º, a penhora de imóveis, quando apresentada certidão da respectiva

matrícula, e a penhora de veículos, quando apresentada certidão que ateste a sua existência, serão

realizadas por termo nos autos).

Lembrando que, obedecidas as normas instituídas pelo CNJ, a penhora de dinheiro e as

averbações de penhoras de móveis e imóveis poderão ser realizadas por meio eletrônico (art. 837).

De toda sorte, formalizada a penhora por qualquer dos meios legais, dela será imediatamente

intimado o executado (art. 841), na pessoa de seu advogado, se tiver constituído nos autos, ou, do

contrário, pessoalmente por via postal de preferência (§§1º e 2º), salvo se a penhora foi realizada em

sua presença, quando então se presume intimado (§3º).

Outras pessoas deverão também ser intimadas da penhora:

a) o cônjuge do executado, na penhora de imóvel ou de direito real obre imóvel, exceto se casados

55

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em regime de separação absoluta de bens (art. 842);

b) o titular de direito sobre o bem penhorado, sob pena de ineficácia de futura alienação (arts. 799, I

a VII, e 804);

c) o terceiro garantidor de dívida alheia (art. 835, §3º);

d) a sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada (art.

876, §7°).

Além da averbação da propositura da execução, o exequente deve averbar os atos de

constrição realizados (art. 844) para a presunção absoluta de conhecimento por terceiros.

a.5) lugar e tempo da penhora – segundo art. 845 do NCPC, os bens devem ser penhorados em

qualquer lugar que estejam, preferindo-se aqueles que estão no foro da execução (art. 848, III). Caso

não tenham bens no foro da causa e não for possível fazer por termo nos autos (§1º do art. 845),

realiza-se a execução por carta (art. 845, §2º), penhorando, avaliando e alienando os bens no foro da

situação, ou seja, no juízo deprecado (art. 914, §2º).

Quanto ao tempo, os atos de penhora deverão realizar-se em dias úteis, das 6 às 20 horas (art.

212, NCPC). Todavia, o §2° do art. 212 estabelece que, excepcionalmente, independentemente de

autorização do juiz, pode a penhora ser realizada no período de férias forenses, feriados ou dias úteis

fora do horário estabelecido no artigo.

a.6) modificação da penhora

A modificação da penhora pode se dar por redução, ampliação, renovação e a substituição.

De acordo com o art. 874, após a avaliação, o juiz poderá, a requerimento do interessado e

ouvida a parte contrária, mandar reduzir a penhora quando os bens penhorados excederem

demasiadamente o valor da execução (inciso I); ou ampliar, quando verificar que os bens penhorados

são insuficientes para pagar a dívida (inciso II). Também será admitida a redução ou ampliação da

penhora se, no curso do processo, o valor de mercado dos bens penhorados sofrer alteração

significativa (art. 850).

Já a renovação da penhora ocorre nos casos do art. 851, NCPC: se a primeira foi anulada; o

produto da alienação não for suficiente para pagar o exequente; e este desistir da primeira penhora

por estarem os bens sub judice.

56

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Por fim, a substituição da penhora pode-se dar por iniciativa de qualquer das partes (art. 848

– quando a ordem de penhora não foi obedecida; quando recair sobre bens fora do juízo, havendo

outros no foro da execução; quando recair sobre bens embaraçados, havendo outros livres; incidir em

bens de baixa liquidez; etc) ou por iniciativa exclusiva do executado (art. 847 – desde que comprove

ser menos onerosa e que não trará prejuízos ao exequente). Os requisitos da iniciativa exclusiva são

cumulativos ao passo que, na iniciativa de qualquer das partes, trata-se de hipóteses isoladas.

a.7) penhoras especiais

A primeira modalidade de penhora especial certamente é a penhora on-line de dinheiro em

depósito ou em aplicação financeira. Com previsão no artigo 854, o juízo de execução pode

determinar, mediante requerimento do exequente e sem dar ciência prévia ao executado, que, por

meio eletrônico gerido pelo Banco Central, as instituições financeiras bloqueiem depósitos e

aplicações financeiras em nome do executado até o limite do valor indicado na execução.

De tal penhora será intimado o executado pessoalmente, ou na pessoa de seu advogado, para

que, no prazo de 5 dias, comprove que as quantias penhoradas são impenhoráveis, ou que há

indisponibilidade excessiva (art. 854, §3º). Se rejeitada, ou não havendo a manifestação do

executado, a indisponibilidade é convertida em penhora, sem necessidade de lavratura de termo,

devendo a instituição financeira, por ordem do juiz, transferir em 24 horas o valor para conta do juízo

da execução (§5º).

Outra modalidade de penhora especial é a penhora de créditos, como as constantes em título

de crédito; direitos e ações; dívidas de dinheiro a juros, de direito a rendas ou de prestações

periódicas; a prestação ou restituição de coisa determinada (arts. 855 a 860).

Temos ainda a penhora de empresa ou outros estabelecimentos e de semoventes (arts. 862 a

865); bem como a de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel (arts. 867 a 869).

O NCPC inovou ao prever ainda a penhora de quotas ou ações de sociedades personificadas

(art. 861); e de percentual de faturamento de empresa (art. 866).

b) Avaliação

Para que haja a expropriação, é necessário antes proceder a avaliação do bem, com a

57

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descrição das características, do estado e do valor do bem (art. 872). Regra geral deve ser realizada

pelo oficial de justiça (art. 154, V e 870 NCPC); mas, caso sejam necessários conhecimentos técnicos

especializados e o valor da execução o comportar, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo de 10

dias para a entrega do laudo (art. 870, parágrafo único).

Nos termos do art. 871, não se procederá a avaliação:

I - quando uma das partes aceitar a estimativa feita pela outra;

II – se tratar de títulos ou mercadorias com cotação em bolsa;

III - títulos da dívida pública, ações de sociedades e títulos de crédito negociáveis na bolsa, cujo valor

será o da cotação oficial do dia;

IV – veículos automotores ou bens cujo preço de mercado é conhecido por pesquisas em órgãos

oficiais ou anúncios de venda divulgados em meios de comunicação.

Obviamente que também não haverá avaliação se o bem for dinheiro.

É possível a realização de nova avaliação nas hipóteses do art. 873 (erro ou dolo do avaliador;

alteração posterior do valor; fundada dúvida sobre o valor da 1ª avaliação).

c) FASE DA TRANSFERÊNCIA (da expropriação)

Expropriação é a transferência forçada de bens do executado, visando à satisfação do direito

do exequente.

Realizada a penhora e avaliação, dá-se início aos atos expropriatórios – art. 875, NCPC.

Conforme artigos 824 e 825, NCPC, a execução por quantia certa se realiza pela expropriação

de bens do executado, a qual pode ocorrer por adjudicação ou alienação.

c.1) adjudicação (arts. 876 a 878)

A adjudicação é o ato de expropriação em que o próprio bem penhorado é transferido para o

exequente (espécie de “dação em pagamento”) ou para outras pessoas a quem a lei confere

preferência na aquisição.

Tal requerimento somente poderá ser feito antes da alienação (após a alienação, só se esta

restar frustrada - art. 878), pois é um ato expropriatório preferencial, e sempre por preço não inferior

58

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ao da avaliação (art. 876).

Se o valor do bem adjudicado for (art. 876, §4º):

- igual ao valor da execução → haverá extinção da execução pelo pagamento;

- inferior ao valor da execução → a execução prossegue, para a satisfação do saldo remanescente;

- superior ao valor da execução → o adjudicante terá que depositar de imediato a diferença em juízo.

Tem legitimidade para adjudicar o exequente; os indicados nos incisos II a VIII do art. 88923;

os credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem; o cônjuge ou o companheiro; os

descendentes ou ascendentes do executado (§5°); e os sócios, no caso de penhora de quota social ou

de ação de sociedade anônima fechada (§7°).

Se houver vários interessados a adjudicarem, deverá ocorrer licitação. Havendo igualdade de

ofertas (considerando que o preço mínimo é o da avaliação), a preferência será dos familiares do

executado (cônjuge ou companheiro, descendente e ascendente, nessa ordem - §6º). Caso só haja

credores, prevalecerá o credor que tiver crédito de maior privilégio, e se forem créditos da mesma

categoria, prevalecerá a penhora mais antiga.

Pois bem, requerida a adjudicação, do pedido será o executado intimado nos termos do §1º

do art. 876, e, na sequência, o juiz decidirá todas as questões, mandando lavrar o auto de

adjudicação (art. 877).

Após o auto ser assinado pelo juiz, pelo adjudicatário, pelo escrivão ou chefe de secretaria e,

se presente, pelo executado, a adjudicação torna-se perfeita e acabada, devendo ser expedida a carta

de adjudicação e o mandado de imissão na posse, se bem imóvel; ou ordem de entrega ao

adjudicatário, se bem móvel (art. 877, §1º).

Lembrando que, até a lavratura do auto, poderá o executado remir a execução (salvar),

pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, mais juros, custas e honorários

advocatícios (art. 826).

23

III - o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão de uso especial para fins de moradia

ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos reais;

IV - o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de

moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais;

V - o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora anteriormente averbada, quando a penhora

recair sobre bens com tais gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução;

VI - o promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda

registrada;

VII - o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda

registrada;

VIII - a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.

59

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c.2) da alienação (arts. 879 a 903)

De acordo com o art. 879 do NCPC, a alienação poderá ocorrer de 2 formas:

- por iniciativa particular; ou

- em leilão judicial.

c.2.1) alienação por iniciativa particular (art. 880)

Se não houver adjudicação, a expropriação poderá ocorrer por alienação por iniciativa

particular.

Trata-se de alienação por iniciativa do próprio exequente ou por intermédio de corretor ou

leiloeiro público credenciado perante o órgão judiciário, onde o juiz fixará os termos do negócio, ou

seja, fixará o prazo em que a alienação deve ocorrer, a forma de publicidade, o preço mínimo, as

condições de pagamento, as garantias e, se for o caso, a comissão de corretagem (§1º).

Realizada a venda, esta será firmada por termo nos autos, expedindo-se carta de alienação,

se imóvel e mandado de imissão na posse, se bem imóvel; ou ordem de entrega ao adquirente, se

móvel (§2º).

c.2.2) alienação por leilão judicial (art. 881 a 903)

- cabimento e tipos de leilão (arts. 881 e 882)

A alienação em leilão judicial é subsidiária, ou seja, somente ocorre se não houver

adjudicação, tampouco alienação por iniciativa particular (art. 881).

O leilão será, via de regra, na forma eletrônica, e, caso não seja possível, será na presencial,

em lugar a ser designado pelo juiz (art. 882).

Ela será realizada por leiloeiro público, designado pelo juiz (pode haver indicação pelo

exequente – art. 883), cuja comissão, estabelecida lei ou arbitrada pelo juiz, será paga pelo

arrematante.

- incumbências do leiloeiro (art. 884):

De acordo com o art. 884, são incumbências do leiloeiro:

60

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- publicar o edital, anunciando a alienação;

- realizar o leilão onde se encontrem os bens ou no lugar designado pelo juiz;

- expor aos pretendentes os bens ou as amostras das mercadorias;

- receber e depositar, dentro de 1 dia, à ordem do juiz, o produto da alienação;

- prestar contas nos 2 dias subsequentes ao depósito.

- atos preparatórios e edital (arts. 885 a 887)

Antes da realização do leilão, o juiz fixará o preço mínimo e as condições da arrematação

(art. 885), bem deverá ser providenciada a publicação de edital, nos termos dos arts. 886 (conteúdo

do edital) e 887 (publicação, com antecedência mínima de 5 dias, em internet, ou em jornal de ampla

circulação), dando-se ciência da alienação judicial às pessoas previstas no art. 889.

- legitimidade para arrematar (oferecer lance – art. 890)

Qualquer pessoa que estiver na livre administração de seus bens pode arrematar, exceto as

pessoas enumeradas nos incisos do artigo 890, NCPC.

Até mesmo o exequente poderá arrematar os bens, e, caso seja o único credor, não está

obrigado a exibir o preço (art. 892, §2º). Se o valor dos bens arrematados exceder ao seu crédito,

deverá depositar a diferença.

À exemplo do que ocorre na adjudicação, se houver mais de pretendente, proceder-se-á

licitação entre eles, e, em caso de igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, o companheiro, o

descendente ou o ascendente do executado, nessa ordem (§2º do art. 892), e, em caso de bem

tombado, a preferência é da União, Estados e Municípios nessa ordem (§3º).

- preço mínimo (art. 890)

A arrematação poderá ocorrer por preço inferior ao da avaliação, mas nunca por preço vil

(art. 891). De acordo com o parágrafo único do art. 891, considera-se vil o preço inferior ao mínimo

estipulado pelo juiz e constante no edital, e, não tendo sido estipulado, será aquele inferior a 50% do

valor da avaliação.

- pagamento (arts. 892 e 895)

61

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

O pagamento será feita pelo arrematante, via de regra, de imediato (art. 892). Todavia, é

possível o interessado adquirir o bem em prestações nos termos do art. 895 (proposta de aquisição

por escrito, até o início do 1º leilão, de valor não inferior ao da avaliação; ou até o início do 2º leilão,

por valor que não seja vil; sempre 25% de entrada e o restante em até 30 prestações, tudo garantido

por caução ou hipoteca).

No caso de atraso no pagamento de qualquer das parcelas, incidirá multa de 10% sobre a

parcela inadimplida mais as vincendas (§4º); e, em caso de inadimplemento, o exequente poderá

requerer a resolução da arrematação ou promover, em face do arrematante, a execução do valor

devido (§5º).

Obviamente que a proposta de pagamento à vista prevalece à de pagamento parcelado

(§7º), e, se houver mais de uma proposta de pagamento parcelado em iguais condições, o juiz

decidirá pela formulada em primeiro lugar; porém, se de diferentes condições, decidirá pela mais

vantajosa, qual seja, a de maior valor (§8º).

Obs: a arrematação global (de vários bens) tem preferência em relação às arrematações

individuais (art. 893). Por outro lado, se o imóvel permitir divisão, poderá ser alienado parcialmente

(art. 894), mas, se não encontrar licitantes, será alienado em sua integralidade (§1º).

- prorrogação (art. 900), transferência (arts. 888) e suspensão do leilão (art. 899)

O leilão deve ser realizado dentro do expediente forense; caso o contrário, deverá

prosseguir no dia útil imediato, na mesma hora em que teve início, independentemente de novo

edital (art. 900).

Eventualmente, é possível o juiz mandar publicar a transferência do leilão caso este não se

realize por qualquer motivo (art. 888).

Por fim, será suspensa a arrematação assim que o produto da alienação for suficiente para

pagar o crédito do exequente e as despesas da execução (art. 899).

- encerramento e formalização da arrematação (art. 901)

Encerrada a arrematação com a assinatura do auto de arrematação, pago o preço ou

prestadas as garantias, expede-se a carta de arrematação com o respectivo mandado de imissão na

posse, se o bem for imóvel; ou o mandado para entrega, se o bem for móvel (art. 901, caput e §1º).

62

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- desfazimento da arrematação (art. 903, §1º e 5º)

Assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo leiloeiro, a arrematação será

considerada perfeita, acabada e irretratável (art. 903), ainda que os embargos do executado ou a ação

de anulatória, prevista no §4º, sejam julgados procedentes.

Essa norma visa claramente conferir estabilidade à arrematação, protegendo o arrematante

e, indiretamente, as partes e a execução, por reduzir os riscos do negócio jurídico.

Todavia, é possível a qualquer das partes da execução (especialmente, o executado)

requerer, num prazo de 10 dias após o aperfeiçoamento da arrematação, o desfazimento desta por

ter sido realizada com vícios.

São espécies de desfazimento da arrematação:

Invalidação: quando realizada por preço vil ou com outro vício (como inobservância dos requisitos

de publicidade, falta de intimação do executado, impedimento do arrematante para licitar). Neste

caso, mesmo passado o prazo de 10 dias sem que a parte tenha requerido a invalidação, poderá

fazê-la por ação autônoma anulatória, nos termos do §4º do art. 903.

Ineficácia: ausência de intimação do leilão em relação às pessoas elencadas no art. 804.

Resolução: se não for pago o preço ou se não for prestada a caução.

Por outro lado, também se admite o desfazimento da arrematação por iniciativa do próprio

arrematante, que dela poderá desistir (revogação ou desistência), nos termos do §5º:

- se provar, nos 10 dias seguintes ao da arrematação, a existência de ônus real ou gravame não

mencionado no edital;

- se, antes de expedida a carta de arrematação ou a ordem de entrega, o executado requerer o

desfazimento (invalidação, ineficácia ou resolução);

- se foi citado para responder a ação autônoma anulatória, desde que apresente a desistência no

prazo desta resposta.

Acolhida a desistência, libera-se o depósito feito.

d) FASE DA SATISFAÇÃO (da entrega do dinheiro ao exequente)

63

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De acordo com o art. 904, há satisfação do crédito pela entrega do dinheiro ou pela

adjudicação dos bens penhorados.

A entrega do dinheiro se dá na forma do artigo 905, ou seja, o juiz expedirá, a favor do

exequente, mandado de levantamento de dinheiro depositado para segurar o juízo ou produto da

alienação dos bens, bem como o faturamento de empresa ou outros rendimentos de coisas ou

empresas penhoradas, caso, claro, não houver outros exequentes ou credores com privilégio.

Tal mandado poderá ser substituído pela transferência eletrônica do valor depositado para

conta indicada pelo exequente (art. 906, parágrafo único).

Pago ao exequente o principal, os juros, as custas e os honorários, o restante deverá ser

restituído ao executado (art. 907).

2.3 EXECUÇÃO DE ALIMENTOS

2.3.1 Considerações gerais

Quanto à origem, os alimentos podem ser legítimos (devidos por força de lei, parentesco,

matrimônio ou união estável); voluntários (por força de negócio jurídico inter vivos como transação

ou causa mortis como o legado); ou indenizativos (decorrentes de ato ilícito – aplica-se o art. 533,

NCPC/procedimento próprio/não aplica técnica da prisão civil, a qual se restringe aos alimentos do

Direito de Família).

Quanto à estabilidade, os alimentos podem ser definitivos quando estipulados em decisão

final do juiz; ou provisórios, quando concedidos por tutela provisória de urgência, seja de natureza

cautelar (quando muitos os denominam de alimentos provisionais), seja de natureza antecipada, em

ambos os casos com o objetivo de garantir a subsistência do exequente e os gastos do processo

enquanto se discute o mérito24.

24

Para Didier Junior (2010, p. 691), não há nenhuma diferença substancial entre alimentos provisórios e provisionais, considerando que ambos têm natureza satisfativa, sendo a diferença meramente terminológica. Ademais, com o NCPC, a distinção perdeu ainda mais a importância já possuem requisitos comuns para a concessão, que, nos termos do art. 300, são a probabilidade do direito (fumus boni iuris) e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil ao processo (periculum in mora).

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Quanto à natureza, os alimentos podem ser naturais (quando indispensáveis para a

subsistência) e civis (quando vão além das necessidades básicas do indivíduo alcançando as

necessidades morais e intelectuais).

Quanto ao momento, os alimentos podem ser futuros (devidos somente a partir da

sentença que os fixa); atuais (devidos a partir do ajuizamento da ação de conhecimento, em caráter

provisório); e pretéritos (relativos ao período anterior ao do ajuizamento da ação de conhecimento;

a jurisprudência pátria é unânime em não reconhecê-los, uma vez que, se o alimentando sobreviveu

ao ajuizamento da ação de alimentos, não há mais necessidade de pedi-los, devendo seu pleito

limitar-se aos alimentos atuais e futuros).

2.3.2 Procedimento da execução de alimentos:

a) Quanto ao título que se executa:

- Cumprimento de sentença (arts. 528 a 533, NCPC): se o título executivo for judicial (ainda que se

peça prisão civil, pondo fim a antiga divergência doutrinária sobre tal possibilidade). O

cumprimento de sentença é aplicável seja no caso de alimentos fixados em sentença (alimentos

definitivos) ou em decisão interlocutória (alimentos provisórios), conforme prevê o art. 531 do

NCPC.

Se tratar de alimentos provisórios, ou fixados em sentença ainda não transitada em julgado,

o cumprimento de sentença ocorrerá em autos apartados (art. 531, §1º); e, se tratar de alimentos

definitivos, processará nos mesmos autos (art. 531, §2º).

Outra grande inovação é que o cumprimento de sentença de alimentos também pode ser

promovido no juízo do domicílio do exequente (art. 528, §9º), além dos juízos já previstos

genericamente para qualquer cumprimento de sentença no art. 516 do NCPC (juízo que decidiu a

causa; domicílio do executado; local onde se encontram os bens).

- Processo autônomo de execução (arts. 911 a 913, NCPC): se os alimentos estiverem definidos

em título extrajudicial (Ex: acordo referendado por MP, Defensoria ou advogados dos transatores –

art. 784, IV; ou alimentos reconhecidos em escritura pública – art. 784, II).

65

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b) Quanto aos meios executivos (à escolha do exequente):

- por desconto em folha de pagamento => quando o executado-alimentante for funcionário

público, militar, diretor ou gerente de empresa, ou empregado sujeito à CLT;

- por expropriação de bens => para débitos mais antigos, anteriores aos 3 últimos vencidos.

Porém, faculta-se ao exequente requerer tal técnica de todo o débito; ou

- por prisão civil => quando se tratar de débitos recentes, ou seja, as 3 prestações anteriores ao

ajuizamento da execução mais aqueles que se vencerem no curso do processo.

2.3.3 Desconto em folha (art. 529, se título judicial; ou art. 912, se título extrajudicial)

O procedimento de desconto somente é possível, como já dito, se o executado é servidor

público (lato sensu) ou empregado. É a forma mais eficiente para evitar a inadimplência e trata-se

de uma medida executória de direta ou por sub-rogação.

O procedimento segue-se da seguinte forma: havendo o pedido (por meio da ação de

conhecimento, para formar título judicial; ou da ação de execução, se o título for extrajudicial), o

juiz oficia à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando o desconto na remuneração do

executado. A não realização do desconto caracteriza crime de desobediência.

O NCPC inova ao prever o desconto em folha para pagamento de pensão em atraso: todavia,

a soma do valor vencido e do valor devido naquele mês não pode ultrapassar 50% dos ganhos

líquidos do executado25. Apesar da omissão legal no processo autônomo, a aplicação de tal regra é a

este extensível.

2.3.4 Expropriação de bens (art. 528, §8º, se título judicial; art. 913, se extrajudicial)

O exequente pode optar por receber o crédito por meio de constrição do patrimônio do

executado. Mas, atenção, se o exequente optar pela expropriação de bens (penhora), não se

admite a prisão civil (art. 528, §8º).

25

“A regra é interessante porque geralmente se estabelecia como teto de desconto o valor de 30% da remuneração, e

no caso de cumulação de prestações vencidas e vincendas o valor será superior a esse por expressa autorização legal.” (NEVES, 2016, p, 1.708).

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Vale lembrar que, por serem os alimentos, na verdade, obrigação de pagar quantia certa, o

procedimento segue o rito comum, aplicando o disposto nos arts. 523 a 527 (cumprimento de

sentença) ou as regras dos arts. 824 e ss. (processo autônomo de execução por quantia certa), a

depender se trata de título executivo judicial ou extrajudicial, porém, com algumas particularidades:

- prioridade da penhora de crédito do devedor (aluguéis ou outros rendimentos): é possível,

inclusive, que o terceiro efetue o pagamento, por depósito bancário, diretamente ao credor-

alimentando;

- em caso de penhora em dinheiro, eventual concessão de efeito suspensivo aos

embargos/impugnação à execução não obsta ao exequente levante mensalmente a importância

(parte final do §8º do art. 528, NCPC);

- em caso de concurso de credores (muitas penhoras sobre o mesmo rendimento), a preferência é

para o pagamento do crédito alimentar sempre.

2.3.5 Prisão civil (art. 528, se título judicial; art. 911, se título extrajudicial)

Por fim, caso preferir o exequente E se tratar das 3 últimas parcelas anteriores ao

ajuizamento da execução, bem como das que se vencerem em seu curso (art. 528, §7º, e Súm. 309,

STJ), faz-se a execução por prisão civil, que nada mais é que uma medida de coerção indireta, que

busca pressionar o executado ao cumprimento da obrigação.

Por meio deste procedimento, o juiz determinará, a requerimento do exequente, a citação

(se processo autônomo) ou intimação (se cumprimento de sentença) pessoal do executado para,

em 03 dias:

1) pagar o débito;

2) provar que já pagou; ou

3) justificar a sua absoluta impossibilidade.

Se o débito é pago ou o executado comprova o pagamento, haverá a extinção da execução.

Por outro lado, se o executado justifica o inadimplemento comprovando fato que gerou a

impossibilidade absoluta do pagamento (§2º), a prisão não será decretada e a execução também será

extinta, “podendo o exequente requerer a instauração da execução por quantia certa contra devedor

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solvente pelo procedimento comum, nos próprios autos ou em autos apartados” (NEVES, 2016, p.

1.711).

MAS, se o executado não pagar ou se a justificativa não for aceita, o juiz decretará a PRISÃO

do executado pelo prazo de 1 a 3 meses (§3º), o qual deverá ser cumprida em regime fechado,

separado dos demais presos comuns (§4º).

Vale lembrar que, no caso específico do cumprimento de sentença, além de decretar a

prisão, o juiz também mandará PROTESTAR o pronunciamento judicial, nos moldes do art. 528,

§1º, bem como da regra genérica do art. 517.

Por fim, algumas considerações merecem ainda ser feitas quanto à prisão civil:

- o prazo máximo da prisão é de 3 meses (cf. NCPC e o CPC/73) ou de 60 dias (cf. Lei de

Alimentos)? Tal divergência, que remonta desde a égide do CPC de 73, permanece, dando azo ao

surgimento de 3 correntes doutrinárias, a saber:

1ª) aplica-se o prazo de até 3 meses em caso de alimentos provisionais, e o prazo de até

60 dias para os alimentos definitivos (Profº Ricardo Avelino);

2ª) aplica-se o prazo de até 60 dias, independentemente dos alimentos, uma vez que

lei especial derroga a geral (Araken de Assis);

3ª) aplica-se o prazo máximo de 3 meses, independentemente dos alimentos, uma vez que

lei posterior (NCPC de 2015) derroga lei anterior (Lei de Alimentos, Lei n. 5478/68). Este

entendimento, defendido por Marinoni, Barbosa Moreira e o próprio STJ, parece ser o que

irá prevalecer.

- se o prazo for extrapolado, cabe habeas corpus para o seu relaxamento; caso contrário, se o

interesse do executado for apenas discutir a medida coercitiva, por ter ela natureza civil e não penal,

deverá interpor agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, NCPC);

- a prisão não é uma medida satisfativa, pois o cumprimento da pena não elide a dívida do

executado, que deverá ser satisfeita por outros meios (§5º);

- cumprida a pena, não pode o devedor ser mais preso pelas mesmas parcelas, ainda que continuem

vencidas, mas sim pelas posteriores que forem vencendo.

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2.4 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (art. 100, CF; e arts. 534 e 535; e 910, NCPC)

2.4.1 Noções gerais

Trata-se da execução em que o executado é a Fazenda Pública (F.P.), ou seja, as pessoas

jurídicas de direito público interno, a saber, a União, os Estados, o DF e os Municípios e suas

respectivas autarquias e fundações públicas.

Quanto à obrigação de fazer/ não fazer ou entregar coisa, a execução contra a F.P. se dá

conforme os artigos 536 a 538 do NCPC. Apenas a execução por quantia certa é que tem regras

próprias, porque, como os bens públicos são impenhoráveis e inalienáveis, não é possível sua

expropriação, sendo necessário fazer previsão orçamentária do crédito (procedimento do precatório,

previsto no art. 100 da CF).

Todavia, neste caso, o procedimento se divide a depender do título executivo, de modo que,

em se tratando de título judicial, a execução far-se-á pelo cumprimento de sentença, especialmente

previsto nos arts. 534 e 535 do NCPC; e, em se tratando de título extrajudicial, a execução será por

ação e processo autônomos, consoante o que dispõe o art. 910 do mesmo diploma processual.

2.4.2 Procedimento

a) Cumprimento de sentença (arts. 534 e 535)

Nos termos do art. 534, o exequente requererá o cumprimento de sentença contra a F.P.,

apresentando demonstrativo discriminado e atualizado do crédito. Não haverá intimação para

pagamento voluntário, sob pena de multa, deixando bem claro o §2º do referido artigo que tal multa

não se aplica à F.P.

Na verdade, a F.P. é intimada na pessoa de seu representante judicial para, no prazo de 30

dias, impugnar a execução, podendo alegar quaisquer das matérias arroladas no art. 535

(praticamente as mesmas previstas genericamente no art. 525 para a impugnação ao cumprimento

de sentença, exceto penhora incorreta ou avaliação errônea, por razões óbvias). Se houver alegação

de excesso de execução, caberá à executada declarar de imediato o valor correto, sob pena de seu

69

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

não conhecimento (§2º do art. 535, NCPC).

Apesar do silêncio da lei, a impugnação oferecida pela F.P. (assim como os embargos, no caso

de execução autônoma) possui efeito suspensivo automático. Assim, não se aplica o disposto no art.

919 do NCPC. Tal circunstância é evidenciada por dois motivos: 1º) o efeito suspensivo do 919

depende de penhora e os bens públicos são insuscetíveis de penhora; e 2º) a expedição de precatório

bem como a requisição de pequeno valor dependem de prévio trânsito em julgado dos embargos (art.

100, §§ 1° e 3°, CF).

De acordo com o art. 535, §3º, que, se não houver impugnação ou se esta for rejeitada, o

pagamento será feito por meio de precatório (inciso I) ou Requisição de Pequeno Valor (RPV)26 (inciso

II).

a.1) Precatório27:

É uma ordem de pagamento, expedida pelo Poder Judiciário, contra as Fazendas Públicas, em

virtude de decisão judicial transitada em julgado que reconheça obrigação de pagar.

Na prática, a sua expedição segue o seguinte rito: instruído e assinado pelo juiz da causa, o

pedido de precatório é dirigido ao Presidente do respectivo Tribunal, que deverá inscrevê-lo até dia

1° de Julho, requisitando ao órgão fazendário competente a inclusão de verba necessária no

orçamento geral da entidade de direito público, cujo pagamento deverá ser feito até o final do

exercício financeiro seguinte (cf. §5º, art. 100, CF), com correção monetária. Teoricamente, o não

pagamento do precatório no prazo acarretaria intervenção judicial (arts. 34 a 36, CF). Entretanto, a

alegação de falta de recursos é tida como justificativa plausível.

No entanto, percebe-se que surgirá uma ordem cronológica de apresentação de precatórios

inscritos contra o ente público, a qual deverá ser obedecida no momento do pagamento, exceto os

créditos que gozam de preferência (art. 100, §1º, CF; e Súmula 655, STF e Súmula 144, STJ).

Dessa forma, existem 3 “filas” diferentes de precatórios (art. 100, §§1º e 2º):

26

CUIDADO: nos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, não é necessário o credor requerer o cumprimento de

sentença. Transitada em julgada a sentença, haverá a requisição de pagamento ou a expedição de precatório, de ofício (art.

17 Lei 10.259/01 e art. 13 Lei 12.153/09). 27

O precatório consiste no modo encontrado pelo sistema jurídico brasileiro para que pudessem ser cumpridas, observada a

ordem do requerimento, as decisões judiciais transitadas em julgado que condenam os entes públicos ao pagamento de

importâncias pecuniárias. Importante se faz consignar que o precatório é apenas um meio necessário ao cumprimento das

decisões judiciais que condenem a Fazenda Pública, e não um título autônomo desvinculado da obrigação que o originou.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

• precatório alimentar28 cujo titular tenha 60 anos ou mais, ou seja, portador de doença

grave;

• precatório alimentar de outros titulares;

• precatório geral.

Caso a ordem dos precatórios não seja observada (§6º), o Presidente do Tribunal

determinará, a requerimento de qualquer credor preterido, e depois de ouvido o chefe do Ministério

Público, o sequestro da quantia devida (não é cautelar; tem natureza satisfativa). A questão é quem

será o legitimado passivo: a Fazenda Pública ou o credor que foi privilegiado? Segundo a melhor

doutrina, ambos, formando um litisconsórcio passivo.

Com o advento da EC 62, há também a possibilidade de sequestro no caso de não alocação

orçamentária dos recursos necessários ao pagamento do crédito inscrito no precatório, ocasião em

que só a F.P. que responderá.

a.2) Requisição de pequeno valor (RPV – art. 100, §3º, CF)

Trata-se de sistema mais simplificado, não se aplicando o regime dos precatórios, consistente

na expedição de mera ordem judicial de pagamento de valores definidos em lei como de pequeno

valor, cabendo à F.P. creditar o valor respectivo no prazo de 2 meses mediante depósito na agência

de banco oficial mais próxima da residência do exequente (art. 535, §3º, II, NCPC), sob pena de

sequestro da quantia.

De acordo com o art. 17, § 1º, da Lei 10.259/2001, e art. 97, §12, ADCT, consideram-se de

pequeno valor os créditos que não excederem a:

• 60 salários mínimos para a União;

• 40 salários mínimos para Estados e DF; e

• 30 salários mínimos para os Municípios.

Todavia, o ente público pode fixar, por lei própria, valor menor, desde não seja inferior ao

teto do maior benefício do RGPS (§4º, art. 100). Em Goiás, o RPV goiano foi fixado em 20 salários

28

Os precatórios alimentares são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementares,

benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, fundadas em responsabilidade civil (§1º do art 100, CF).

71

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV Profª Évelyn Cintra Araújo

mínimos (art. 3º da Lei 17.034/10).

Se o crédito do exequente for superior ao limite para expedição de RPV, ele pode renunciar

ao excedente, não sendo admitida, por outro lado, a expedição de precatórios complementares ou

suplementares, bem como fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de

enquadramento em RPV (§8º, art. 100).

b) Execução autônoma (art. 910, NCPC)

À semelhança do procedimento do cumprimento de sentença, requerida a execução (nesse

caso, mediante petição inicial), a F.P. será CITADA para opor embargos no prazo de 30 dias, cuja

matéria de defesa obviamente é mais ampla (art. 910, §2º).

Caso não haja a oposição dos embargos, ou transitando em julgado a decisão que os rejeitar

(lembre-se que, aqui, a decisão que julga os embargos é uma sentença29), expede-se precatório ou a

RPV, observado o disposto no art. 100 da CF e, no que couber, os arts. 534 e 535, NCPC. Esta é a

dicção do art. 910, §1º e 3º.

29

Mesmo que o resultado da referida decisão seja desfavorável à Fazenda Pública, não há que se falar em reexame

necessário já que tal oportunidade foi dada quando do proferimento da sentença de conhecimento condenatória, a qual deu

origem ao título executivo.

Da sentença que julgar os embargos à execução contra a F.P. cabe recurso de apelação no seu duplo efeito (devolutivo e

suspensivo), ao contrário do que preleciona o artigo 1.012, V, NCPC. Isso porque o recebimento da respectiva apelação só

no efeito devolutivo é ineficaz, pois não será possível promover execução provisória, já que o procedimento do precatório

pressupõe trânsito em julgado, ou seja, definitividade da decisão.


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