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2014 Curitiba
Coleo CONPEDI/UNICURITIBA
Organizadores
Prof. Dr. oriDes MezzarobaProf. Dr. rayMunDo Juliano rego feitosa
Prof. Dr. VlaDMir oliVeira Da silVeiraProf. Dr. ViViane Colho De sllos-Knoerr
Vol. 13
DIREITO E SUSTENTABILIDADE
Coordenadores
Prof. Dr. saMyra hayDe Dal farra nasPolini sanchesProf. Dr. carlos anDr BirnfelD
Prof. Dr. luiz ernani Bonesso De arauJo
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EDITORA CLSSICA
Allessandra Neves FerreiraAlexandre Walmott Borges Daniel Ferreira Elizabeth Accioly Everton Gonalves Fernando Knoerr Francisco Cardozo de Oliveira Francisval Mendes Ilton Garcia da Costa Ivan Motta Ivo Dantas Jonathan Barros VitaJos Edmilson Lima Juliana Cristina Busnardo de Araujo Lafayete PozzoliLeonardo Rabelo Lvia Gaigher Bsio Campello Lucimeiry Galvo
Luiz Eduardo GuntherLuisa Moura Mara Darcanchy Massako Shirai Mateus Eduardo Nunes Bertoncini Nilson Arajo de Souza Norma Padilha Paulo Ricardo Opuszka Roberto Genofre Salim Reis Valesca Raizer Borges Moschen Vanessa Caporlingua Viviane Coelho de Sllos-Knoerr Vladmir Silveira Wagner Ginotti Wagner Menezes Willians Franklin Lira dos Santos
Conselho Editorial
D597Direito e sustentabilidade
Coleo Conpedi/Unicuritiba.Organizadores : Orides Mezzaroba / Raymundo Juliano Rego Feitosa / Vladmir Oliveira da Silveira / Viviane Colho Sllos-Knoerr.Coordenadores : Samyra Hayde Dal Farra Naspolini Sanches / Carlos Andr Birnfeld / Luiz Ernani Bonesso de Araujo.Ttulo independente - Curitiba - PR . : vol.13 - 1 ed. Clssica Editora, 2014.573p. :
ISBN 978-85-8433-001-0
1. Direito. 2. Sustentabilidade - pluridimensionalida-de.I. Ttulo. CDD 342.
Editora Responsvel: Vernica GottgtroyCapa: Editora Clssica
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MEMBROS DA DIRETORIA Vladmir Oliveira da Silveira
Presidente Cesar Augusto de Castro Fiuza
Vice-Presidente Aires Jos Rover
Secretrio Executivo Gina Vidal Marclio Pompeu
Secretrio-Adjunto
Conselho Fiscal Valesca Borges Raizer Moschen
Maria Luiza Pereira de Alencar Mayer Feitosa Joo Marcelo Assafim
Antonio Carlos Diniz Murta (suplente) Felipe Chiarello de Souza Pinto (suplente)
Representante Discente Ilton Norberto Robl Filho (titular)
Pablo Malheiros da Cunha Frota (suplente)
Colaboradores
Elisangela Pruencio Graduanda em Administrao - Faculdade Deciso
Maria Eduarda Basilio de Araujo Oliveira Graduada em Administrao - UFSC
Rafaela Goulart de Andrade Graduanda em Cincias da Computao UFSC
DiagramadorMarcus Souza Rodrigues
XXII ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI/ UNICURITIBACentro Universitrio Curitiba / Curitiba PR
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Sumrio
APRESENTAO ........................................................................................................................................
A (IN)APLICABILIDADE DO ESTATUTO DOS REFUGIADOS PARA OS DESLOCADOS AMBIENTAIS (Maria Cludia da Silva Antunes de Souza) ................................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
QUEM REFUGIADO? ..............................................................................................................................
OS DESLOCADOS AMBIENTAIS ................................................................................................................
O SISTEMA GLOBAL DE PROTEO DOS REFUGIADOS E OS DESLOCADOS AMBIENTAIS ..................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A APLICAAO DO PRINCPIO DA INTEGRAAO AMBIENTAL NAS POLTICAS SETORIAIS EUROPEIAS (Jamile Bergamaschine Mata Diz e Rayelle Campos Caldas Goulart) .........................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
GNESE E DESENVOLVIMENTO DA PROTEO AMBIENTAL NA COMUNIDADE EUROPEIA ...............
TRANSVERSALIDADE DAS QUESTES AMBIENTAIS NAS POLTICAS SETORIAIS DA UNIO EUROPEIA
CONCLUSO ..............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A DEFESA DE UM CONSUMO TICO COMO PRESSUPOSTO PARA A CONSOLIDAO DO PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (Adriana da Veiga Ladeira e Maristela Aparecida de Oliveira Valado) ......................................................................................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
APONTAMENTOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO PRINCPIO TICO ................
A TRAJETRIA DA PRODUO PARA O CONSUMO E SUAS IMPLICAES AMBIENTAIS ...................
PS-MODERNIDADE: A CONSTRUO DE UM HOMEM VAZIO ............................................................
CONCLUSES ............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A FORMAO DO INDIVDUO E O FENMENO DA VIOLNCIA DIANTE DOS LIMITES DO PLANETA: A ALTERAO DAS GRAMTICAS DE PRTICAS SOCIAIS PARA UMA EDUCAO SCIO-AMBIENTAL COMPROMETIDA COM A EMANCIPAO EM UMA SOCIEDADE RESILIENTE (Abrao Soares Dias Dos Santos Gracco e Gianno Lopes Nepomuceno) ....................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
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O CONTROLE SOCIAL E A MEDIAO DAS VARIADAS FORMAS DE VIOLNCIA SINDICVEIS EM RELAO SUSTENTABILIDADE ..............................................................................................................
AS DIMENSES COMPARTILHADAS DA NOO SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL COMO DESAFIO CONTEMPORNEO PARA CADA AFETADO .............................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A INFLUNCIA DA DENSIDADE POPULACIONAL NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (Isabel Nader Rodrigues e Pavlova Perizzollo Leonardelli) .....................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
ENTENDIMENTO SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ..........................................................
A RELAO ENTRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E A POPULAO .......................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A PRECEDENCIA DOS DIREITOS HUMANOS SOBRE DIREITOS PATRIMONIAIS DO ESTADO QUANDO DO ESTUDO DAS TERRAS DEVOLUTAS (Cristiano Tolentino Pires) ...................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
EVOLUES SOBRE A PROPRIEDADE ESTATAL EXERCIDA SOBRE AS TERRAS DEVOLUTAS ................
PANORAMA GERAL DAS TERRAS DEVOLUTAS EM MINAS GERAIS .......................................................
O REGIME JURDICO DOS BENS PBLICOS BASEADO EM FINS PBLICOS ..........................................
A DESAFETAO EM CONTRAPONTO VERTENTE PATRIMONIAL DE TITULARIDADE DO BEM PBLICO QUE GERA ESPECULAO ........................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A REALIDADE DOS CATADORES DE RESDUOS SLIDOS REUTILIZVEIS, REFLETIDA NA FORMAO DE UMA NOVA IDENTIDADE SOCIAL ESTIGMATIZADA (Luiz Fernando Kazmierczak e Lucyellen Roberta Dias Garcia) ...................................................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
O CATADOR DE RESDUOS SLIDOS RECICLVEIS E SUA IMPORTNCIA NO CONTEXTO DA PROBLEMTICA SOCIOAMBIENTAL .........................................................................................................
ESTIGMATIZAO SOCIAL DA FUNO DE CATADOR ...........................................................................
CONCLUSO ..............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
A SOCIEDADE DE RISCO E A NECESSIDADE DE REDISTRIBUIO DOS NUS AMBIENTAIS SOB O ASPECTO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E DO MNIMO ECOLGICO-SUSTENTVEL (Pedro Miron de Vasconcelos Dias Neto e Emmanuel Tefilo Furtado) .................................................................
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INTRODUO ............................................................................................................................................
A SOCIEDADE PS-MODERNA: SOCIEDADE DE RISCO .........................................................................
O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE E O MNIMO ECOLGICO-SUSTENTVEL .............
A SOCIEDADE DE RISCO E A NECESSIDADE DE REDISTRIBUIO DO NUS AMBIENTAL SOB O ASPECTO DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ......................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
AO CIVIL PBLICA E SUSTENTABILIDADE (Felipe Laurini Tonetti) ....................................................
AO CIVIL PBLICA E SEU CAMPO DE ATUAO ................................................................................
NATUREZA JURDICA DA AO CIVIL PBLICA ......................................................................................
CONDIES PARA O EXERCCIO DA AO CIVIL PBLICA ....................................................................
INQUERITO CIVIL ......................................................................................................................................
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA ................................................................................................
AO CIVIL PBLICA E SUSTENTABILIDADE ...........................................................................................
CONCLUSO ..............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
AS MULHERES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS NA PROMOO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (Fbio Rezende Braga e Mrcia Rodrigues Bertoldi) .........................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ................................................................................................
COMUNIDADES TRADICIONAIS E SUSTENTABILIDADE: UMA POSSVEL ALTERNATIVA .....................
O ECOFEMINISMO E A MULHER TRADICIONAL COMO VETOR NA PROMOO DO DESENVOLVI-MENTO SUSTENTVEL ..............................................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO E APLICAO DO PROTOCOLO DE NAGOYA NOS ESTADOS PLURINACIONAIS LATINOAMERICANOS DO SCULO XXI (Miguel Etinger de Araujo Junior)
INTRODUO ............................................................................................................................................
PROTEO DO PATRIMNIO GENTICO E DO CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO ............
ESTADOS PLURINACIOANAIS ...................................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
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DIREITO E DESENVOLVIMENTO NO MEIO RURAL: AGROECOLOGIA COMO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE (Iranice Gonalves Muniz) .......................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
UM NOVO SENTIDO AO DIREITO DE PROPRIEDADE NOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRRIA
ASSOCIAO CAMPONESA COMO META PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS SCIO/ECONMICO NO MEIO RURAL ..............................................................................................................................................
ASSENTAMENTOS RURAIS: MEIO AMBIENTE, CONSTITUIO DE 1988 E TEXTOS INTERNACIONAIS, NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ....................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERENCIA ..............................................................................................................................................
DIREITOS FUNDAMENTAIS E SUSTENTABILIDADE: DIREITO SADE E A QUESTO DA QUALIDADE DA GUA PARA CONSUMO HUMANO (Marcos Leite Garcia) ................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
A SADE COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL ......................................................................................
DIREITO GUA COMO DIREITO FUNDAMENTAL ................................................................................
REFLEXES SOBRE A QUESTO DA SUSTENTABILIDADE A PARTIR DAS PROPOSTAS DE NICHOLAS GEORGESCU-ROEGEN ..............................................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
GREENWASHING E A PUBLICIDADE ENGANOSA: A ATUAO DO CONSELHO NACIONAL DE AUTORRE-GULAMENTAO PUBLICITRIA (CONAR) (Mait Cecilia Fabbri Moro e Vanessa Toqueiro Ripari) ................
INTRODUO ............................................................................................................................................
O NOVO PAPEL DA EMPRESA ...................................................................................................................
GREENWASHING .......................................................................................................................................
ATUAO DO CONAR ...............................................................................................................................
CONCLUSO ..............................................................................................................................................
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................................
O ATIVISMO JUDICIAL COMO FERRAMENTA DE IMPLEMENTAO DO PRINCPIO DA SUSTENTA-BILIDADE (Luciana Costa Poli e Bruno Ferraz Hazan) ...............................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
ATIVISMO JUDICIAL E CLUSULAS GERAIS ............................................................................................
A COMPATIBILIDADE DO ATIVISMO JUDICIAL NA ESTRUTURA DO PODER JUDICIRIO NO CONTEXTO DO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO .............................................................................
SUSTENTABILIDADE: NOES GERAIS ....................................................................................................
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SUSTENTABILIDADE E ATIVISMO JUDICIAL: A SUSTENTABILIDADE COMO PRINCPIO SISTMICO ORIENTADOR DAS DECISES JUDICIAIS .................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
O CAPITALISMO GLOBAL E REFLEXES SOBRE A SOLIDARIEDADE (Pellin e Daniela) ........................
O CAPITALISMO E AS NOVAS TECNOLOGIAS .........................................................................................
REFLEXES SOBRE A SOLIDARIEDADE ...................................................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
BIBLIOGRAFIA ...........................................................................................................................................
O VALOR CONSTITUCIONAL DA SUSTENTABILIDADE COM SUA PLURIDIMENSIONALIDADE: TICA, SOCIAL, ECONMICA, JURDICOPOLTICO E AMBIENTAL (Elizangela Pieta Ronconi) ...............
INTRODUO ............................................................................................................................................
O VALOR CONTITUCIONAL DA SUSTETABILIDADE .................................................................................
A PLURIDIMENSIONALIDADE DA SUSTENTABILIDADE ..........................................................................
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
O PROCESSO DE CERTIFICAO DO ETANOL BRASILEIRO DE ACORDO COM O PRINCPIO CONSTI-TUCIONAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E SUAS REPERCUSSES (Hellen Priscilla Marinho Cavalcante e Yanko Marcius de Alencar Xavier) .........................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
A FORMAO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL .................................................
SISTEMA DE CERTIFICAO AMBIENTAL DO ETANOL BRASILEIRO .....................................................
A ADOO DOS CERTIFICADOS DE SUSTENTABILIDADE E SUAS CONSEQUNCIAS ...........................
CONCLUSO ..............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
REPENSAR DA ATUAL VISO DO MERCADO E A IMPORTNCIA DO SER HUMANO (Cristiana Eugenia Nese) ..........................................................................................................................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
DIREITOS HUMANOS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ...............................................................
COISIFICAO DO SER HUMANO DIANTE DO CAPITALISMO ............................................................
UMA NOVA LEITURA DO CAPITALISMO PELA TICA HUMANISTA .......................................................
O DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE: A TEORIA DE AMARTYA SEN ............................................
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CONCLUSO ..............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
SUSTENTABILIDADE INFORMACIONAL AMBIENTAL: TECNOLOGIAS EM REDE PARA CONSTRUO DA CIDADANIA ECOLGICA (Jernimo Siqueira Tybusch e Francielle Benini Agne Tybusch) .................
ASPECTOS INTRODUTRIOS ....................................................................................................................
A QUESTO ECOLGICA ...........................................................................................................................
MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS: A REDESCOBERTA DA NATUREZA ...................................................
ATIVISMO AMBIENTAL DIGITAL EM BUSCA DA CIDADANIA ECOLGICA ............................................
DIGRESSES FINAIS ..................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
O PRINCPIO DA SUSTENTABILIDADE E O TERCEIRO SETOR: UMA RELAO NECESSRIA PARA CONSTRUO DE UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDRIA (Patrcia Siqueira) ..........................
INTRODUO ............................................................................................................................................
OS OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICA ENQUANTO PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS .........
CONTORNOS PARA CONSTRUO DE UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDRIA .........................
A SUSTENTABILIDADE SOB A TICA PRINCIPIOLGICA ........................................................................
TERCEIRO SETOR ...................................................................................................................................... CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................................
REFERENCIAS ............................................................................................................................................
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA E SUAS CONTRIBUIES PARA UMA ADMINISTRAO EFICIENTE DA JUSTIA (Srgio Braga e Samantha Ribeiro Meyer-Pflug) ................................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA .........................................................................................................
O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA E A CRISE DO PODER JUDICIRIO ............................................
O PRINCPIO DA EFICINCIA E A ADMINISTRAO DA JUSTIA ..........................................................
CAMINHOS PARA A CONCRETIZAO DO PRINCPIO DA EFICINCIA NA ADMINISTRAO DA JUSTIA ......................................................................................................................................................
CONCLUSES ............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
SUSTENTABILIDADE: REVISITANDO CONCEITOS SOB NOVOS PARADIGMAS PARA ALCANAR SUA REAL IMPORTNCIA (Ronaldo Felipe Rolim Nogueira) ...................................................................
INTRODUO ...........................................................................................................................................
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A ORIGEM DO TERMO SUSTENTABILIDADE ...........................................................................................
AS NOES FRACA E FORTE DA SUSTENTABILIDADE ............................................................................
NOVE FORMAS PARA ALCANAR A SUSTENTABILIDADE ......................................................................
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: UM PRINCPIO? ...........................................................................
CONCLUSES ............................................................................................................................................
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
VALORAO ECONMICA NO DIREITO AMBIENTAL: MTODOS PARA VALORAO DE DANOS AO MEIO AMBIENTE (Custdio, Maraluce Maria e Ramos, Levy Christiano Dias) ....................................
INTRODUO ............................................................................................................................................
BREVE HISTRICO DO SURGIMENTO DO DIREITO AMBIENTAL ...........................................................
DA VALORAO ECONMICA DE DANOS AMBIENTAIS ........................................................................
CONSIDERAES FINAIS: A RELAO DIREITO E ECONOMIA NA VALORAO DE DANOS AMBIENTAIS
REFERNCIAS ............................................................................................................................................
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Carssimo(a) Associado(a),
Apresento o livro do Grupo de Trabalho Direito e Sustentabilidade, do XXII Encontro
Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Direito (CONPEDI),
realizado no Centro Universitrio Curitiba (UNICURUTIBA/PR), entre os dias 29 de maio e 1
de junho de 2013.
O evento props uma anlise da atual Constituio brasileira e ocorreu num ambiente
de balano dos programas, dada a iminncia da trienal CAPES-MEC. Passados quase 25 anos
da promulgao da Carta Magna de 1988, a chamada Constituio Cidad necessita uma
reavaliao. Desde seus objetivos e desafios at novos mecanismos e concepes do direito,
nossa Constituio demanda reflexes. Se o acesso Justia foi conquistado por parcela
tradicionalmente excluda da cidadania, esses e outros brasileiros exigem hoje o ponto final do
processo. Para tanto, basta observar as recorrentes emendas e consequentes novos
parcelamentos das dvidas dos entes federativos, bem como o julgamento da chamada ADIN
do calote dos precatrios. Cito apenas um dentre inmeros casos que expem os limites da
Constituio de 1988. Sem dvida, muitos debates e mesas realizados no XXII Encontro
Nacional j antecipavam demandas que semanas mais tarde levariam milhes s ruas.
Com relao ao CONPEDI, consolidamos a marca de mais de 1.500 artigos submetidos,
tanto nos encontros como em nossos congressos. Nesse sentido evidente o aumento da
produo na rea, comprovvel inclusive por outros indicadores. Vale salientar que apenas no
mbito desse encontro sero publicados 36 livros, num total de 784 artigos. Definimos a
mudana dos Anais do CONPEDI para os atuais livros dos GTs o que tem contribudo no
apenas para o propsito de aumentar a pontuao dos programas, mas de reforar as
especificidades de nossa rea, conforme amplamente debatido nos eventos.
Por outro lado, com o crescimento do nmero de artigos, surgem novos desafios a
enfrentar, como o de (1) estudar novos modelos de apresentao dos trabalhos e o de (2)
aumentar o nmero de avaliadores, comprometidos e pontuais. Nesse passo, quero agradecer a
todos os 186 avaliadores que participaram deste processo e que, com competncia, permitiram-
nos entregar no prazo a avaliao aos associados. Tambm gostaria de parabenizar os autores
COLEO CONPEDI/UNICURITIBA - Vol. 13 - Direito e Sustentabilidade
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selecionados para apresentar seus trabalhos nos 36 GTs, pois a cada evento a escolha tem sido
mais difcil.
Nosso PUBLICA DIREITO uma ferramenta importante que vem sendo aperfeioada
em pleno funcionamento, haja vista os raros momentos de que dispomos, ao longo do ano, para
seu desenvolvimento. No obstante, j est em fase de testes uma nova verso, melhorada, e
que possibilitar sua utilizao por nossos associados institucionais, tanto para revistas quanto
para eventos.
O INDEXA outra soluo que ser muito til no futuro, na medida em que nosso
comit de rea na CAPES/MEC j sinaliza a relevncia do impacto nos critrios da trienal de
2016, assim como do Qualis 2013/2015. Sendo assim, seus benefcios para os programas sero
sentidos j nesta avaliao, uma vez que implicar maior pontuao aos programas que
inserirem seus dados.
Futuramente, o INDEXA permitir estudos prprios e comparativos entre os
programas, garantindo maior transparncia e previsibilidade em resumo, uma melhor
fotografia da rea do Direito. Destarte, tenho certeza de que ser compensador o amplo esforo
no preenchimento dos dados dos ltimos trs anos principalmente dos grandes programas ,
mesmo porque as falhas j foram catalogadas e sua correo ser fundamental na elaborao da
segunda verso, disponvel em 2014.
Com relao ao segundo balano, aps inmeras viagens e visitas a dezenas de
programas neste trinio, estou convicto de que o expressivo resultado alcanado trar
importantes conquistas. Dentre elas pode-se citar o aumento de programas com nota 04 e 05,
alm da grande possibilidade dos primeiros programas com nota 07. Em que pese as
dificuldades, no possvel imaginar outro cenrio que no o da valorizao dos programas do
Direito. Nesse sentido, importa registrar a grande liderana do professor Martnio, que soube
conduzir a rea com grande competncia, dilogo, presena e honestidade. Com tal conjunto de
elementos, j podemos comparar nossos nmeros e critrios aos das demais reas, o que ser
fundamental para a avaliao dos programas 06 e 07.
COLEO CONPEDI/UNICURITIBA - Vol. 13 - Direito e Sustentabilidade
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Com relao ao IPEA, cumpre ainda ressaltar que participamos, em Braslia, da III
Conferncia do Desenvolvimento (CODE), na qual o CONPEDI promoveu uma Mesa sobre o
estado da arte do Direito e Desenvolvimento, alm da apresentao de artigos de pesquisadores
do Direito, criteriosamente selecionados. Sendo assim, em So Paulo lanaremos um novo
livro com o resultado deste projeto, alm de prosseguir o dilogo com o IPEA para futuras
parcerias e editais para a rea do Direito.
No poderia concluir sem destacar o grande esforo da professora Viviane Colho de
Sllos Knoerr e da equipe de organizao do programa de Mestrado em Direito do
UNICURITIBA, que por mais de um ano planejaram e executaram um grandioso encontro.
No foram poucos os desafios enfrentados e vencidos para a realizao de um evento que
agregou tantas pessoas em um cenrio de to elevado padro de qualidade e sofisticada
logstica e isso tudo sempre com enorme simpatia e procurando avanar ainda mais.
Curitiba, inverno de 2013.
Vladmir Oliveira da Silveira
Presidente do CONPEDI
COLEO CONPEDI/UNICURITIBA - Vol. 13 - Direito e Sustentabilidade
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Apresentao
A presente obra, que enfeixa um rico conjunto de artigos rigorosamente selecionados
para apresentao no grupo de trabalho homnimo no XXII CONPEDI destaca-se, alm da
profundidade das pesquisas que sintetizam, pela diversidade de matizes que permearam a
abordagem da questo da sustentabilidade.
Nesta perspectiva, em que pese o alto grau de transversalidade dos artigos, o que
inevitvel na temtica da sustentabilidade, foi possvel organizar a presente obra a partir de
distintos, mas complementares, grupos de abordagens, de sorte que o primeiro grupo abrange
cinco artigos focados, direta ou indiretamente, na abordagem principiolgica e conceitual da
prpria sustentabilidade.
Os cinco artigos seguintes envolvem as interaes da sustentabilidade com o que se
poderia denominar pilar da comunidade (tomando aqui emprestadas as lies de de
Boaventura de Souza Santos), destacando-se, dentre os artigos, tanto abordagens tericas
gerais envolvendo emancipao e cidadania como desdobramentos da questo em realidades
sociais especficas de distintos agrupamentos sociais.
A seguir, apresenta-se um grupo de quatro artigos que abrangem as interaes da
sustentabilidade com o que se poderia denominar pilar do mercado (tomando de novo
emprestadas, no mesmo sentido, as lies do mestre lusitano), envolvendo, entre outras, tanto
abordagens conceituais da prpria economia ecolgica como abordagens crticas da sociedade
de mercado contempornea.
Completando o conjunto de ilaes com os pilares referidos por Boaventura de Souza
Santos, o terceiro grupo de artigos opera na confluncia da questo da sustentabilidade com o
pilar do Estado, mais precisamente em temticas relacionadas a atuao do Poder Judicirio,
iniciando com a questo do ativismo judicial, passando pelas potencialidades da Ao Civil
Pblica e culminando com as questes relacionadas ao Conselho Nacional de Justia.
A obra prossegue com outro grupo de trs artigos, que procuram relacionar a questo da
sustentabilidade com os direitos fundamentais, notadamente com o direito sade, ao acesso
terra e o direito ao meio ambiente do trabalho.
COLEO CONPEDI/UNICURITIBA - Vol. 13 - Direito e Sustentabilidade
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O ltimo dos grupos enfeixa quatro artigos e abrange as questes da sustentabilidade
projetadas no plano internacional, envolvendo desde a crtica do capitalismo global e das
polticas internacionais at a anlise tpica de questes normativas especficas.
Nesta perspectiva, passa-se ao breve detalhamento dos artigos que compem a presente
coletnea:
passando para as suas concepes fraca e forte, buscando investigar qual o uso que
determinadas classes da sociedade fazem de ambas as concepes. Esse debate tem como
elemento central os recursos naturais e a sua relao com as necessidades humanas econmicas
e sociais. O artigo ainda enfrenta a questo se pode o desenvolvimento sustentvel ser
considerado um princpio e conclui apresentando a perspectiva da valorizao de foros de
consenso, os quais os cidados legtimos se reuniriam na busca de um Estado de Direito
Ambiental.
Elizangela Pieta Ronconi, da UNIVALI, no artigo O VALOR CONSTITUCIONAL
DA SUSTENTABILIDADE COM SUA PLURIDIMENSIONALIDADE: TICA, SOCIAL,
ECONMICA, JURDICO- POLTICO E AMBIENTAL busca identificar a sustentabilidade
como princpio constitucional, inserido na Constituio Federal de 1988, assegurando os
direitos relacionados ao meio ambiente como garantia do bem-estar das presentes e futuras
geraes. O contexto pluridimensional da sustentabilidade estudado a partir de cinco
abordagens: sustentabilidade na dimenso tica, sustentabilidade na dimenso social,
sustentabilidade na dimenso econmica, sustentabilidade na dimenso jurdico-poltico e
sustentabilidade na dimenso ambiental.
Uma forte crtica ao atual modelo de consumo o que nos apresenta Adriana da Veiga
Ladeira e Maristela Aparecida de Oliveira Valado, da Escola Superior Dom Helder Cmara,
em seu artigo A DEFESA DE UM CONSUMO TICO COMO PRESSUPOSTO PARA A
CONSOLIDAO DO PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ao
apontarem para o agravamento das condies do meio ambiente em decorrncia do
esgotamento dos recursos naturais e de sua utilizao como depsito de resduos. Nesta
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perspectiva, entendem que a tecnologia agregada ao sistema capitalista ensejou um incremento
na produo e a necessidade do aumento de circulao e venda dos novos produtos, o que
desaguou em um modelo de consumo na sociedade, no qual as pessoas so instigadas a
consumir cada vez mais, o que significa ir contra a possibilidade de se ter um desenvolvimento
sustentvel. Nesse sentido propem uma nova tica voltada para a coletividade, uma tica
ambiental que combine o funcionamento da economia e o meio ambiente para a promoo e
construo de um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, pressuposto essencial
para a existncia humana, com dignidade, na Terra.
Hellen Priscilla Marinho Cavalcante e Yanko Marcius de Alencar, da UFRN, no artigo
O PROCESSO DE CERTIFICAO DO ETANOL BRASILEIRO DE ACORDO COM O
PRINCPIO CONSTITUCIONAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E SUAS
REPERCUSSES buscam demonstrar a importncia de certificaes sustentveis na indstria
do etanol, de acordo com o princpio do desenvolvimento sustentvel, explicando acerca da
evoluo do seu conceito, da sua regulao nas leis brasileiras e da prioridade de um equilbrio
entre as atividades econmicas e o mencionado princpio. O estudo abrange tambm os
critrios utilizados para estabelecer os padres de certificao e seus atores participantes, em
conjunto com um estudo das iniciativas j existentes, enfatizando as repercusses no comrcio
internacional da adoo de um plano de certificao para o etanol no Brasil.
SOCIEDADE temtica da sustentabilidade como
princpio normativo de aplicabilidade em vrias searas da ordem constitucional, destacando sua
condio de pilar da ordem econmica social para a construo de um Estado Constitucional
Solidrio, tendo por foco especial os fatores social, econmico e ambiental da atuao das
organizaes de Terceiro Setor. A pesquisa procura demonstrar que o desenvolvimento do
princpio da sustentabilidade em seus aspectos multidimensionais associado a atuao do
Terceiro Setor possibilitam a reconduo aos objetivos fundamentais da Repblica, para
promoo de uma sociedade solidria, emancipada e justa.
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Jernimo Siqueira Tybusch e Francielle Benini Agne Tybusch, da UFSM, em seu
artigo SUSTENTABILIDADE INFORMACIONAL AMBIENTAL: TECNOLOGIAS EM
REDE PARA CONSTRUO DA CIDADANIA ECOLGICA buscam analisar a crise
ambiental com propsito de realizar uma reflexo acerca das temticas do ativismo ambiental
digital e meio ambiente, demonstrando a importncia da sustentabilidade informacional
ambiental como um mecanismo de fortalecimento no processo participativo, bem como um
instrumento imprescindvel para a politizao das novas tecnologias no cenrio brasileiro. Esta
pesquisa indica, outrossim, que para que a informao realmente tenha efetividade necessrio
que se salve tambm a prpria tcnica e a tecnologia para amparar a natureza e o homem e, por
consequncia a sustentabilidade em todos os seus nveis.
Partindo do pressuposto que os limites do planeta sem uma gesto consciente e um
compartilhamento racional de seus riscos poder ampliar os padres de todas as espcies de
violncia, Abrao Soares Dias Dos Santos Gracco e Gianno Lopes Nepomuceno, da Escola
Superior Dom Helder Cmara, em seu artigo intitulado A FORMAO DO INDIVDUO E O
FENMENO DA VIOLNCIA DIANTE DOS LIMITES DO PLANETA: A ALTERAO
DAS GRAMTICAS DE PRTICAS SOCIAIS PARA UMA EDUCAO SCIO-
AMBIENTAL COMPROMETIDA COM A EMANCIPAO EM UMA SOCIEDADE
RESILIENTE se voltam para o processo educacional, onde propem que atravs de um
mtodo compreensivo, se faa uma reflexo das recorrentes categorias de violncia a partir de
um processo de aprendizado sincrnico e no mais diacrnico, a respeito da necessidade de
novos padres eticizantes de produo e consumo. Desse modo, concebe-se uma moral e uma
tica ps-tradicional, sob uma base principiolgica de interpretao do ordenamento jurdico
que entrelaa, sem preponderncia a priori, o direito posto (positivismo) e a leitura moral
metafsica (direito natural). Para tanto, necessrio manter-se a tenso permanente entre os
limites do planeta e a necessidade de desenvolvimento econmico para ensejar um processo
pedagogicamente aberto de formas inteligentes, autnomas e resilientes de vida que inspiram a
principiologia do ordenamento jurdico.
O catador de resduos slidos reutilizveis, ao mesmo tempo em que se revela como
agente co-responsvel pela sustentabilidade e preservao dos recursos naturais, mostra sua
condio de vulnerabilidade, de ser um excludo social, por exercer uma atividade que, em
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razo das condies em que realizada, apresenta-se desumana, exaustiva e opressora. Assim,
na anlise de Luiz Fernando Kasmierczak e Lucyellen Roberta Dias Garcia, da UENP, no
artigo A REALIDADE DOS CATADORES DE RESDUOS SLIDOS REUTILIZVEIS,
REFLETIDA NA FORMAO DE UMA NOVA IDENTIDADE SOCIAL
ESTIGMATIZADA, a inexistncia de um suporte tcnico eficiente para o redirecionamento
adequado dos resduos slidos atravs de polticas pblicas de saneamento, faz com que haja
transferncia de tal responsabilidade para os catadores de materiais reciclveis, o que alm de
favorecer o progresso econmico do setor privado, torna-os marginalizados e excludos da
sociedade.
Fbio Rezende Braga e Marcia Rodrigues Bertoldi, da UNIT, no artigo intitulado AS
MULHERES DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS NA PROMOO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL, partindo do referencial do ecofeminismo e
utilizam-se da pesquisa bibliogrfica e documental para identificar o papel da mulher
pertencente a comunidades tradicionais no desenvolvimento de prticas sustentveis que
fomentam a continuidade cultural e a promoo do desenvolvimento sustentvel.
No artigo DIREITO E DESENVOLVIMENTO NO MEIO RURAL:
AGROECOLOGIA COMO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE, a autora Iranice
Gonalves Muniz, do Centro Universitrio de Joo Pessoa apresenta a pesquisa que
desenvolveu junto aos camponeses associados Ecovrzea (Associao dos agricultores e
Agricultoras da Vrzea Paraibana), no Municpio de Sap, situado no Estado da Paraba,
objetivando analisar as mudanas ocorridas na agricultura familiar dos assentamentos rurais
que utilizam a produo agroecolgica na Zona da Mata paraibana e verificar em que
propores essas mudanas tm contribudo para redefinir as relaes entre os camponeses, a
produo agrcola e o meio ambiente. A autora identificou uma mudana tanto no discurso
como na pratica desse grupo de camponeses que respeita o princpio constitucional da funo
social da propriedade, estabelecido na da Constituio de 1988, no artigo 170 inciso III.
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e procedimentos mais recorrentes na literatura acerca
sados.
Cristiana Eugenia Nese, da UNINOVE, em seu artigo REPENSAR DA ATUAL
VISO DO MERCADO E A IMPORTNCIA DO SER HUMANO, tendo por foco o
princpio da dignidade da pessoa humana como ncleo central da Constituio da Repblica
Federativa do Brasil, procura repensar a atividade econmica capitalista, propondo uma nova
leitura do liberalismo econmico, onde busca um capitalismo mais tico, humano e solidrio a
partir das teorias de Amartya Sen e sua perspectiva da liberdade como forma de
desenvolvimento.
Isabel Nader Rodrigues e Pavlova Perizzollo Leonardelli, da UCS, em seu artigo
intitulado A INFLUNCIA DA DENSIDADE POPULACIONAL NO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL nos trazem uma instigante anlise sobre a relao
entre os recursos disponveis e populao. Para eles, a necessidade crescente de suprir a
demanda por recursos, sem a finitude do planeta, leva a uma anlise do desenvolvimento
sustentvel. Inicialmente referida com o termo ecodesenvolvimento, a problemtica
demogrfica sempre foi uma constante para ambientalistas, j que os dados sobre crescimento
populacional, seja ou no vista por meio de progresses geomtrica ou aritmtica, comprovam
que h discrepncia entre o aumento populacional e a produo de recursos, principalmente de
alimentos. A possibilidade de enfrentamento dessa questo, no entendimento dos autores,
passa necessariamente por um enfoque que leve em conta a observao e prtica do
desenvolvimento sustentvel.
No artigo GREENWASHING E A PUBLICIDADE ENGANOSA: A ATUAO DO
CONSELHO NACIONAL DE AUTORREGULAMENTAO PUBLICITRIA (CONAR)
as autoras Mait Cecilia Fabbri Moro e Vanessa Toqueiro Ripari, da UNINOVE, considerando
k mou-se em algo desejvel e almejado pelas
empresas, as quais encontraram nessa nova modalidade uma forma de ampliar e fidelizar sua
clientela, buscam refletir sobre como as empresas, mediante sua comunicao com o pblico,
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propagam a imagem de sustentabilidade e de responsabilidade social. Em especial, e a partir da
avaliao da atuao do CONAR, verificam como no Brasil tem sido combatido o mal uso
desse marketing verde pelas empresas visando a sua autopromoo.
Luciana Costa Poli e Bruno Ferraz Hazan, da Escola Superior Dom Helder
Cmara/MG, no artigo examinam a atuao do Poder Judicirio, mais precisamente o
fenmeno do ativismo judicial no contexto do Estado Democrtico de Direito no artigo: O
ATIVISMO JUDICIAL COMO FERRAMENTA DE IMPLEMENTAO DO PRINCPIO
DA SUSTENTABILIDADE. Abordam a importncia da atuao do juiz para efetivao dos
princpios constitucionais e principalmente como esses podem contribuir para as metas de
sustentabilidade propostas pelo Estado. Para os autores a sustentabilidade no se encerra em
um contedo destitudo de normatividade, ao contrrio, pode ser compreendida como um
princpio geral e sistmico, orientador das decises judiciais.
No artigo AO CIVIL PBLICA E SUSTENTABILIDADE, Felipe Laurini Tonetti,
da UNICURITIBA, faz uma abordagem da ao civil pblica nos seus mais variados aspectos
desde a exposio da base jurdica do referido instituto, passando pelas condies para seu
exerccio, at chegar em dois instrumentos especficos e segundo o autor de valiosa
importncia para que ela atinja os objetivos: o inqurito civil e do termo de ajustamento de
condita. A finalidade do artigo traar um paralelo com a teoria da sustentabilidade, de modo a
aferir e demonstrar que a ao civil pblica um mecanismo fundamental para que o
desenvolvimento da atividade empresarial ocorra de maneira sustentvel.
-
Nacional de Jus
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eficiente.
Marcos Leite Garcia da UNIVALI, em artigo intitulado DIREITOS FUNDAMENTAIS
E SUSTENTABILIDADE: DIREITO SADE E A QUESTO DA QUALIDADE DA
GUA PARA CONSUMO HUMANO, partindo do paradigma geocntrico e utilizando-se do
referencial terico de Nicholas Georgescu-Roegen, afirma que o direito gua potvel e ao
saneamento bsico fazem parte do direito sade como direito fundamental, dentro do
contexto dos direitos sociais e das necessidade humanas bsicas. Estuda questes como a
qualidade da gua para o consumo humano, bem como as consequentes doenas relativas ao
consumo de agua contaminada, seja ela poluio qumica ou biolgica.
Cristiano Tolentino Pires, da PUC-Minas, apresenta no seu artigo A PRECEDENCIA
DOS DIREITOS HUMANOS SOBRE DIREITOS PATRIMONIAIS DO ESTADO
QUANDO DO ESTUDO DAS TERRAS DEVOLUTAS a inteno de colocar em discusso os
fundamentos que justificam a adoo do regime jurdico dos bens pblicos pela legislao
brasileira, que por sua vez pauta-se em um Estado de direito que democrtico, participativo,
plural e multitico, cuja existncia se justifica apenas se alicerada na garantia de direitos
individuais que consigam ser efetivados e no apenas dispostos na legislao. Para o autor,
constata-se que a aplicao cega das prerrogativas existentes a favor da proteo dos bens
pblicos, no caso especfico das terras devolutas, somente vem defender o interesse pblico
secundrio do Estado enquanto pessoa jurdica deixando margem a prpria razo de ser
estatal, que a proteo do interesse pblico primrio, legtimo enquanto interesse de todos e
cada um individualmente considerado. Nesse sentido, os bens pblicos merecem proteo a
partir do momento que efetivamente cumprem sua funo social.
A partir do referencial terico de Ulrich Beck no exame do que considera uma
sociedade de risco, Pedro Miron de Vasconcelos Dias Neto e Emmanuel Tefilo Furtado, da
UFC, no artigo intitulado A SOCIEDADE DE RISCO E A NECESSIDADE DE
REDISTRIBUIO DOS NUS AMBIENTAIS SOB O ASPECTO DO MEIO AMBIENTE
DO TRABALHO E DO MNIMO ECOLGICO-SUSTENTVEL analisam a necessidade de
redistribuio do nus ambiental sob o aspecto do meio ambiente do trabalho como
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instrumento eficaz de tutela do mnimo ecolgico-sustentvel, o qual se encontra fortemente
vinculado noo de mnimo existencial e com a prpria dignidade humana. Na medida em
que a aplicao dos institutos de preveno e precauo se so vistos como instrumentos
eficazes para evitarem a ocorrncia de danos, estes devem ser dirigidos ao meio ambiente do
imprevisveis.
No artigo O CAPITALISMO GLOBAL E REFLEXES SOBRE A
SOLIDARIEDADE, Daniela Pellin, da UNINOVE se contrape s teorias econmicas do
capitalismo que procuram convencer seus interlocutores de que o surgimento se deve ao
regime de troca. Busca demonstrar, que historicamente o capitalismo possui razes blicas de
conquista e subjugao dos povos com explorao das gentes e das economias locais, numa
franca acumulao de riquezas de toda ordem. Segundo o autor, no sc. XXI, na nossa atual era
da tecnologia, a concorrncia acirrada se d de forma qualificada, em tempo e espao reais; os
grandes monoplios econmicos continuam a subjugar povos conduzindo a humanidade em
ameaa de extino. Necessrio se faz que pases representando agentes de resistncia ao
sistema imposto, se renam para mitigar e impedir a subjugao dos povos, cuja proteo da
dignidade da pessoa humana conduz a um novo ciclo de pacificao social: o da solidariedade
internacional.
Jamile Bergamaschine Mata Diz e Rayelle Campos Caldas Goulart, da UFMG, no
artigo intitulado A APLICAAO DO PRINCPIO DA INTEGRAAO AMBIENTAL NAS
POLTICAS SETORIAIS EUROPEIAS abordam o tratamento normativo e a consequente
aplicao do princpio da integrao ambiental nas polticas comunitrias europeias,
especialmente no que se refere s polticas econmicas, industrial, exterior, de transportes e
agrcola, setores que apresentam uma maior inter-relao com a matria ambiental e que
contam com um desenvolvimento normativo progressivo mais acentuado. Ao realizar um
estudo sobre a integrao do meio ambiente nas polticas setoriais apontam para a abertura de
uma nova linha de investigao que possa fundamentar a necessidade de que o meio ambiente
seja destinatrio de uma maior proteo no momento de tomada de deciso em qualquer campo
ou mbito de atuao das instituies comunitrias. Entendem que a aplicao do princpio da
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integrao, tanto do ponto de vista da horizontalidade como da globalidade, pode servir de
referncia para outros processos de integrao em curso, como o caso do MERCOSUL.
Com forte base na ideia de proteo e respeito biodiversidade, Miguel Etinger de
Araujo Junior, da UEL, no artigo CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO E
APLICAO DO PROTOCOLO DE NAGOYA NOS ESTADOS PLURINACIONAIS
LATINO- AMERICANOS DO SCULO XXI, apresenta os parmetros para a efetividade e
legitimao do Protocolo de Nagoya nos pases latino-americanos que experimentaram neste
incio de Sculo XXI a construo do novo constitucionalismo baseado na ideia de pluralidade
e diversidade do povo. O autor afirma que ser com respeito aos princpios ali construdos que
os acordos internacionais podero se sustentar como mecanismos eficazes de promoo do
desenvolvimento ambiental e social.
Os problemas ambientais em nvel internacional no se restringem to somente a
questes de poluio, depleo da natureza, eroso da biodiversidade, mas atingem questes de
movimento de pessoas, tal como descreve o artigo intitulado A (IN)APLICABILIDADE DO
ESTATUTO DOS REFUGIADOS PARA OS DESLOCADOS AMBIENTAIS, de Maria
Cludia da Silva Antunes de Souza, da UNIVALI, que destaca a problemtica das pessoas que
so obrigadas a abandonarem seus lares motivados por mudanas ambientais, quando o meio
onde vivem torna-se imprprio para a sobrevivncia. Ao analisar o sistema global de
refugiados e verificar sua incompatibilidade aos deslocados ambientais, chama a ateno para
a necessidade de se construir um sistema de proteo especfico para os mesmos, de modo a
garantir uma efetiva proteo s pessoas que se encontram nessa condio. Para a autora a
ocorrncia cada vez mais frequente de desastres ambientais e de degradao dos recursos
naturais compromete a qualidade de vida do homem e, em alguns casos, inviabiliza a sua
permanncia em seus locais de origem. A partir dessa realidade, a pesquisa busca verificar em
que circunstncias o sistema global de proteo dos Refugiados aplica-se aos deslocados
ambientais, suprindo a ausncia de normas que instituam seu estatuto e assegurem a proteo
de seus Direitos Fundamentais. Nesse sentido, destaca a necessidade de se construir um
sistema de proteo especfico para os deslocados ambientais, que garanta uma efetiva
proteo s pessoas que se encontram nessa condio.
Uma boa leitura a todos e a todas.
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Coordenadoras do Grupo de Trabalho
Prof. Dr. Samyra Hayde Dal Farra Naspolini Sanches UNINOVE/UNIVEM
Prof. Dr. Carlos Andr Birnfeld FURG
Prof. Dr. Luiz Ernani Bonesso de Arajo UFSM
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A (IN)APLICABILIDADE DO ESTATUTO DOS REFUGIADOS PARA OS
DESLOCADOS AMBIENTAIS
THE (IN)APPLICABILITY OF THE STATUTE OF REFUGEES TO
ENVIRONMENTALLY DISPLACED PERSONS
1
Maria Cludia da Silva Antunes de Souza
RESUMO
A ocorrncia cada vez mais frequente de desastres ambientais e de degradao dos recursos naturais compromete a qualidade de vida do homem e, em alguns casos, inviabiliza a permanncia em seus locais de origem. O presente artigo tem como contexto a crescente preocupao com as pessoas que abandonam seus lares, motivadas por mudanas ambientais que tornam o meio em que habitam imprprio para a sobrevivncia humana. Nessa esteira, objetiva-se verificar se e em que circunstncias o sistema global de proteo dos Refugiados aplica-se aos Deslocados Ambientais, suprindo a ausncia de normas que instituam seu estatuto e assegurem a proteo de seus Direitos Fundamentais. Nesse sentido, destaca-se a necessidade de se construir um sistema de proteo especfico para os Deslocados Ambientais, que garanta uma efetiva proteo s pessoas que se encontram nessa condio. Palavras-chave: Refugiado. Deslocado Ambiental. Refugiado Ambiental. Perseguio Ambiental. ABSTRACT
The increasingly frequent occurrence of environmental disasters and natural resources degradation compromises the quality of life of humankind and, in some cases, prevents people from remaining in their places of origin. As context, the present article has the crescent preoccupation with people that abandon their homes, motivated by environmental changes that render the place they live inadequate for human survival. In this sense, the article has the objective to verify if and under which circumstances the global system of Refugees protection is applied to Environmentally Displaced Persons, filling the absence of rules regulating their situation and securing their Fundamental Rights. Accordingly, it is highlighted the necessity
1
Doutora pela Universidade de Alicante Espanha. Mestre em Derecho Ambiental y de la Sostenibilidad pela Universidade de Alicante Espanha. Mestre em Cincia Jurdica pela Universidade do Vale do Itaja UNIVALI. Graduada em Direito pela Universidade do Vale do Itaja UNIVALI. Professora no Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Cincia Jurdica, nos cursos de Doutorado e Mestrado em Cincia Jurdica, e na Graduao do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI. Professora responsvel pelo Ncleo de Prtica Jurdica NPJ da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI. Tem experincia na rea de Direito, com nfase em Direito Civil e Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: Responsabilidade Civil, Danos Ambientais, Responsabilidade Ambiental e Sustentabilidade. Email: .
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to build a specific protection system to Environmentally Displaced Persons that guarantee an effective protection to people in that condition. Keywords: Refugee. Environmentally Displaced Person. Envrionmental Refugee. Environmental Persecution.
INTRODUO
O crescimento alarmante de desastres ambientais e da degradao de recursos
naturais provoca uma preocupao no cenrio mundial3. So mais de 33 milhes de
refugiados, solicitantes de refgio, deslocados internos e outras pessoas que abandonam seus
lares, pondo em risco a prpria vida, liberdade e segurana, na tentativa de fugir de
perseguio por motivos de raa, religio, nacionalidade, grupo social ou opinies polticas. A
essas pessoas a comunidade internacional reconhece o estatuto de Refugiados, presta-lhes
assistncia e concede-lhes asilo, por intermdio do ACNUR e sob os auspcios da Conveno
de 1951 Relativa ao Estatuto dos Refugiados (doravante apenas Conveno de 1951 ou
Conveno dos Refugiados) e de seu Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados
(doravante apenas Protocolo de 1967 ou Protocolo dos Refugiados).
Nessa estatstica, porm, no esto computados outros milhes de indivduos que
tambm necessitam abandonar seus lares e que tambm arriscam a prpria vida, liberdade e
segurana, motivados por mudanas ambientais que tornam o meio em que habitam
completamente imprprio para a sobrevivncia humana. Esses indivduos, denominados
Deslocados Ambientais, no gozam, como os Refugiados, de um estatuto jurdico prprio e,
portanto, padecem de seus sofrimentos sem uma efetiva e direcionada ao da comunidade
internacional no sentido de assegurar-lhes seus Direitos Fundamentais. Conforme destaca o
prembulo do Projeto de Conveno Relativa ao Estatuto Internacional dos Deslocados
Ambientais, de autoria da equipe do Centre de Recherche Interdisciplinaire en Droit de
lEnvironnement, de lAmnagement de de lUrbanisme: [...] a despeito dos numerosos instrumentos internacionais visando a proteo do meio ambiente, no existe, no estado atual do direito internacional aplicvel aos refugiados, nenhum instrumento especfico prevendo a situao do conjunto dos deslocados ambientais e podendo ser aplicado e invocado em seu favor. (PRIEUR et. al., 2008, prembulo, traduo oficial do Centre de Recherche Interdisciplinaire en Droit de lEnvironnement, de lAmnagement et de lUrbanisme.).4
3 35.440.128. Esse o nmero de pessoas sob o mandato do Alto-Comissariado das Naes Unidas para Refugiados (ACNUR ou UNHCR, do ingls: United Nations High Commissioner for Refugees). Dado oficial do ACNUR, disponvel em: . Acesso em: 06 mar 2013. 4 Texto original em francs: [...] malgr les nombreux instruments internationaux visant protger lenvironnement, il nexiste, dans l'tat actuel du droit international applicable aux rfugis, aucun instrument
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Este artigo tem por objeto a anlise de uma nova categoria os Deslocados
Ambientais e tem por objetivo verificar se (e em que circunstncias) a Conveno e o
Protocolo dos Refugiados podem ser aplicados a esses Deslocados Ambientais, suprindo a
ausncia de normas que instituam seu estatuto e assegurem a proteo de seus Direitos
Fundamentais. Nesse sentido, destaca-se a necessidade de se construir um sistema de proteo
especfico para os Deslocados Ambientais, que garanta uma efetiva proteo s pessoas que
se encontram nessa condio.
Durante as fases de investigao, tratamento dos dados e redao do relatrio final da
pesquisa, adotou-se uma postura metodolgica indutiva, colhendo os dados pertinentes dos
instrumentos convencionais supracitados e da doutrina especializada no assunto, para da
chegar concluso que apresentada ao final deste artigo cientfico.
Para tanto, foram acionadas as tcnicas da categoria e do conceito operacional, a fim
de definir claramente os termos trabalhados e estabelecer as conexes existentes entre eles.
Desenvolveu-se pesquisa bibliogrfica, devidamente direcionada pela tcnica do referente e
registrada por meio da tcnica do fichamento5.
Nesse sentido, apresenta-se primeiramente o regime adotado pela Conveno de
1951 para os Refugiados, destacando-se o conceito operacional6 desta categoria7 e os critrios
condicionantes do reconhecimento da qualidade de Refugiado. Em seguida, aborda-se a
questo dos Deslocados Ambientais, conceituando-se esta categoria e examinando-se a
complexidade dos fenmenos que nela se enquadram. Por fim, enfrenta-se a questo da
possibilidade ou no de aplicao da Conveno de 1951 aos Deslocados Ambientais.
Para as categorias centrais deste trabalho, so adotados os seguintes conceitos
operacionais:
Refugiado: pessoa que, [...] temendo ser perseguida por motivos de raa, religio, nacionalidade, grupo social ou opinies polticas, se encontra fora do pas de sua nacionalidade e que no pode ou, em virtude desse temor, no quer valer-se da proteo desse pas, ou que, se no tem nacionalidade e se encontra fora do pas no qual tinha sua residncia
spcifique prvoyant la situation densemble des dplacs environnementaux et pouvant tre appliqu et invoqu en leur faveur. 5 Sobre a tcnica da categoria, ver PASOLD, 2008, p. 25-35. Sobre a tcnica do conceito operacional, v. PASOLD, 2008, p. 37-52. Sobre a tcnica do referente, v. PASOLD, 2008, p. 53-62. Sobre a tcnica do fichamento, bem como sobre seu uso conjunto com a tcnica do referente, ver PASOLD, 2008, p. 107-123. 6 Quando ns estabelecemos ou propomos uma definio para uma palavra ou expresso, com o desejo de que tal definio seja aceita para os efeitos das idias que expomos, estamos fixando um Conceito Operacional [...] (todo em negrito no original) (PASOLD, 2008, p. 37). 7 Categoria a palavra ou expresso estratgica elaborao e/ou expresso de uma idia. (todo em negrito no original) (PASOLD, 2008, p. 25).
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habitual [...], no pode ou, devido ao referido temor, no quer voltar a ele. (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1951, art. 1-A(2)).
Perseguio: ao prejudicial, ou ameaa de tal ao, praticada contra uma pessoa
ou um grupo de pessoas, por motivos relacionados a quem a pessoa raa, nacionalidade
ou pertencimento a um grupo social particular ou quilo em que ela acredita religio ou
opinio poltica.
Migrao Internacional: deslocamento de um indivduo ou de um grupo de
indivduos que deixa o pas de sua nacionalidade ou onde possua residncia habitual com
destino a outro pas.
Deslocados Ambientais: [] aquelas pessoas que foram foradas a deixar seu habitat tradicional, temporariamente ou permanentemente, por conta de uma determinada perturbao ambiental (natural e/ou causada por pessoas) que comprometeu sua existncia e/ou afetou seriamente a qualidade de suas vidas. (EL-HINNAWI, 1985, p. 4 apud BATES, 2002, p. 466, traduo livre).8
Perturbao Ambiental: [] qualquer mudana fsica, qumica e/ou biolgica no
ecossistema (ou recurso bsico) que o torna, temporariamente ou permanentemente,
inadequado para sustentar vida humana. (EL-HINNAWI, 1985, p. 4 apud BATES, 2002, p.
466, traduo livre).9
Perseguio Ambiental: utilizao de Perturbaes Ambientais para prejudicar uma
pessoa ou um grupo de pessoas, por motivos relacionados a quem a pessoa raa,
nacionalidade ou pertencimento a um grupo social particular ou quilo em que ela acredita
religio ou opinio poltica.
Deslocado Ambiental Stricto Sensu: aquela pessoa que forada a deixar seu
habitat tradicional, migrando interna ou internacionalmente, em carter temporrio ou
permanente, por conta de uma determinada Perturbao Ambiental (natural e/ou causada por
pessoas) que, sem configurar Perseguio Ambiental, compromete sua existncia e/ou afeta
seriamente sua qualidade de vida.
Perseguido Ambiental: aquela pessoa que, por fundado temor de Perseguio
Ambiental que comprometa sua existncia e/ou afete seriamente sua qualidade de vida,
forada a deixar seu habitat tradicional, temporria ou permanentemente.
8 Texto original em ingls: [...] those people who have been forced to leave their traditional habitat, temporarily or permanently, because of a marked environmental disruption (natural and/or triggered by people) that jeopardized their existence and/or seriously affected the quality of their life [sic]. 9 Texto original em ingls: [] any physical, chemical, and/or biological changes in the ecosystem (or resource base) that render it, temporarily or permanently, unsuitable to support human life.
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Refugiado Ambiental: toda pessoa que, por fundado temor de Perseguio
Ambiental que comprometa sua existncia e/ou afete seriamente sua qualidade de vida,
forada a deixar o pas de sua nacionalidade, temporria ou permanentemente, e que no pode
ou, em virtude daquele temor, no quer valer-se da proteo desse pas, ou que, se no tem
nacionalidade e se encontra fora do pas no qual tinha sua residncia habitual, no pode ou,
devido ao referido temor, no quer voltar a ele.
1 QUEM REFUGIADO?
Segundo o ACNUR, no final de 2010, o mundo j computava mais de 10 milhes de
Refugiados10. No toa que Earl Huyck e Leon Bouvier (apud CASELLA, 1984, p. 260,
traduo livre) afirmam que [h]oje se pode apontar quase qualquer lugar em um globo
girando e por-se- o dedo em uma situao de refugiado11.
Apesar da existncia de Refugiados remontar s eras bblicas lembre-se do xodo
dos escravos Egpcios, sob a liderana de Moiss, em busca da Terra Prometida , a
comunidade internacional somente esboou uma preocupao acerca da questo aps a
Primeira Guerra Mundial, com a criao da Liga das Naes. Sem nunca ter definido a
categoria Refugiado, a Liga atuou de forma eminentemente pragmtica e pontual, protegendo
grupos especficos, por meio do desenvolvimento emprico de mecanismos institucionais, cuja
extenso dependia de consideraes polticas e de simpatias humanitrias. (ANDRADE,
2001, p. 120-121).
apenas aps a Segunda Guerra Mundial que a proteo internacional dos
Refugiados adquire carter geral, embasando-se em duas vertentes fundamentais, conforme
destaca Jos Henrique Fischel de Andrade (2001, p. 99 e 99-100): uma institucional, [...]
materializada no estabelecimento de organizaes que tm como escopo a assistncia e a
proteo dos refugiados [...]; e uma jurdica, [...] que ocorre por meio da redao de
instrumentos convencionais, extraconvencionais e domsticos, os quais conceituam o termo
refugiado e definem o estatuto jurdico de seus beneficirios. A vertente institucional ,
hoje, representada pelo ACNUR, enquanto a vertente jurdica est consubstanciada na
Conveno de 1951 e no Protocolo de 1967. 10 Dado oficial do ACNUR, disponvel em: . Acesso em: 02 maio 2012. 11 Texto original em ingls: [t]oday one may point almost anywhere on a spinning globe and put a finger on a refugee situation.
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Enquanto base jurdica da proteo global dos Refugiados, a Conveno de 1951 traz
a grande contribuio de oferecer um conceito operacional para a categoria. Tal conceito, por
conter os elementos essenciais que caracterizam a figura do Refugiado, decisivo para
assinalar as obrigaes contratuais ou convencionais dos Estados que so signatrios daquele
instrumento (CASELLA, 1984, p. 253). Ipsis litteris, assim se expressa a Conveno: Para os fins da presente Conveno, o termo "refugiado" se aplicar a qualquer pessoa [...] que, em conseqncia dos acontecimentos ocorridos antes de 1 de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raa, religio, nacionalidade, grupo social ou opinies polticas, se encontra fora do pas de sua nacionalidade e que no pode ou, em virtude desse temor, no quer valer-se da proteo desse pas, ou que, se no tem nacionalidade e se encontra fora do pas no qual tinha sua residncia habitual em conseqncia de tais acontecimentos, no pode ou, devido ao referido temor, no quer voltar a ele. (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1951, art. 1-A(2), sem negrito no original)
Quando firmada em 1951, a Conveno estabelecia duas restries: uma de cunho
temporal, pela qual a caracterizao do Refugiado dependia de evento ocorrido antes de 1 de
janeiro de 1951, e um de cunho geogrfico, limitando a caracterizao do Refugiado a
acontecimentos ocorridos no continente europeu (ORGANIZAO DAS NAES
UNIDAS, 1951, art. 1-B(1)). Ambas as restries, contudo, foram levantadas pelo Protocolo
de 1967, que assim se expressa: Para os fins do presente Protocolo, o termo "refugiado" [...] significa qualquer pessoa que se enquadre na definio dada no artigo primeiro da Conveno, como se as palavras "em decorrncia dos acontecimentos ocorridos antes de 1 de janeiro de 1951 e..." e as palavras "...como conseqncia de tais acontecimentos" no figurassem do 2 da seo A do artigo primeiro.
O presente Protocolo ser aplicado pelos Estados Membros sem nenhuma limitao geogrfica [...] (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1967, art. 1(2) e (3)).
Destarte, sem as restries de cunho temporal e geogrfico, o conceito da Conveno
de 1951, adotado tambm neste artigo, impe trs condies para a caracterizao da situao
do Refugiado: 1) o fundado temor de Perseguio; 2) a Migrao Internacional; e 3) a
ausncia de proteo do pas de origem.
O fundado medo de Perseguio [o] critrio crucial para conceituar um refugiado
[...] (CASELLA, 2001, p. 20). No h, porm, uma definio universalmente aceita de
Perseguio, nem uma uniformidade de interpretao do termo de tal maneira que fica a
cargo de cada Estado, ao decidir sobre a concesso do asilo territorial12, o reconhecimento do
estatuto do Refugiado (CANADO TRINDADE, 2004, p. 302). Alm disso, a definio no
exige a efetiva Perseguio, mas o temor justificado de Perseguio, o que implica a presena 12 Ao acolher em seu territrio um Refugiado, o Estado est a lhe conceder asilo territorial (que no se confunde com o asilo poltico ou diplomtico, [...] que concedido a perseguidos por motivos polticos e que concedido nas legaes, navios de guerra, aeronaves militares e acampamentos militares.). (MELLO, 2000, p. 161).
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de um elemento subjetivo da pessoa que demanda ser considerada Refugiada. (UNITED
NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES, 1992, pargrafos 37-50). Ainda
assim, o conceito operacional da categoria Perseguio essencial para este artigo, posto que,
sendo condio sine qua non para o reconhecimento da situao de Refugiado luz da
Conveno de 1951, ser instrumento de anlise no item 3, quando se examinar a
possibilidade de aplicao do sistema global de proteo dos Refugiados ao caso dos
Deslocados Ambientais.
Nesse diapaso, o Guia do ACNUR de Procedimentos e Critrios de Aplicao para
Determinar o Estatuto de Refugiado Luz da Conveno de 1951 e do Protocolo de 1967
Relativos ao Estatuto dos Refugiados (doravante apenas Guia do ACNUR) oferece uma
indicao do que seja Perseguio, ao afirmar que: Do artigo 33 da Conveno de 1951, pode-se deduzir que as ameaas vida ou liberdade por razes de raa, religio, nacionalidade, opinies polticas ou pertencimento a certo grupo social so sempre perseguies. Outras violaes graves dos direitos do homem pelas mesmas razes constituiriam igualmente perseguies.
A questo de saber se outras aes prejudiciais ou ameaas de tais aes constituem perseguies depender das circunstncias de cada caso [...]. (UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGESS, 1992, pargrafos 51-52, traduo livre).13
Tambm o Relatrio do ACNUR de 1993 til para compreender a categoria
Perseguio, quando, ao tratar da dinmica dos Deslocamentos e das principais causas dos
fluxos de Refugiados, assim se expressa: A Conveno de 1951 identifica o que ainda uma
grande causa-raiz do fluxo de refugiados: a perseguio baseada em que o refugiado (raa,
nacionalidade, pertencimento a um grupo social particular) ou em que ele acredita (religio ou
opinio poltica). (UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGESS, 1993,
traduo livre).14
Tendo em vista essas indicaes do Guia do ACNUR e do Relatrio de 1993,
prope-se o seguinte conceito operacional para a categoria Perseguio, a fim de que esta
possa servir como instrumento de anlise neste artigo, sem, contudo, intentar a construo de
13 Texto original em francs: De l'article 33 de la Convention de 1951, on peut dduire que des menaces la vie ou la libert pour des raisons de race, de religion, de nationalit, d'opinions politiques ou d'appartenance un certain groupe social sont toujours des perscutions. D'autres violations graves des droits de l'homme pour les mmes raisons constitueraient galement des perscutions. La question de savoir si d'autres actions prjudiciables ou menaces de telles actions constituent des perscutions dpendra des circonstances de chaque cas [...] 14 Texto original em ingls: The 1951 Convention identified what is still a major root cause of refugee flows: persecution based on who the refugee is (race, nationality, membership of a particular social group) or what he or she believes (religion or political opinion).
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uma definio que seja necessariamente aceita universalmente. Assim, considera-se
Perseguio como a ao prejudicial, ou a ameaa de tal ao, praticada contra uma pessoa
ou um grupo de pessoas, por motivos relacionados a quem a pessoa raa, nacionalidade
ou pertencimento a um grupo social particular ou quilo em que ela acredita religio ou
opinio poltica.
A segunda condio imposta pela Conveno de 1951 para o reconhecimento da
situao do Refugiado exige que o indivduo j se encontre fora do pas de sua nacionalidade
isto , faz-se necessria a verificao de uma Migrao Internacional, entendida aqui
como o deslocamento de um indivduo ou de um grupo de indivduos que deixa o pas de sua
nacionalidade ou onde possua residncia habitual com destino a outro pas. Por conseguinte,
no so considerados Refugiados os migrantes internos, que deixam suas residncias com
destino a outras regies do mesmo pas, mesmo quando vtimas de Perseguio. Nesse
sentido, o relatrio do ACNUR de 1993: As situaes que produzem refugiados tambm
produzem outras formas de deslocamento, incluindo pessoas que no cruzaram uma fronteira
internacional, mas enfrentam os mesmos medos e perigos dos refugiados. (UNITED
NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES, 1993, traduo livre)15.
A terceira condio prevista pelo conceito da Conveno de 1951 determina que o
pas da nacionalidade do Refugiado (ou onde ele mantenha sua residncia habitual) no lhe
oferea a devida proteo contra a Perseguio sofrida ou ainda que o Refugiado no queira,
pelo temor de Perseguio, a proteo de seu Pas. Isso significa que o Estado de origem do
Refugiado sempre estar envolvido com a situao de Perseguio que gerou o fluxo
migratrio, quer porque 1) o Estado de origem do Refugiado o prprio agente da
Perseguio; ou 2) o Estado de origem do Refugiado no o agente da Perseguio, mas no
toma as medidas necessrias para cessar tal Perseguio. Em ambos os casos, o indivduo no
goza da proteo de seu prprio Estado e acaba buscando asilo para alm das fronteiras.
exatamente esse desamparo que est no nascedouro das duas condies anteriores: por no
poder contar com o seu prprio Estado, a pessoa tomada do justificado temor de
Perseguio e deixa sua residncia, migrando internacionalmente, a fim de defender sua vida,
sua liberdade e sua segurana atravs do refgio em outro pas. Por esse motivo, Flvia
Piovesan (2001, p. 38) afirma que [c]ada refugiado conseqncia de um Estado que viola
os Direitos Humanos.
15 Texto original em ingls: The situations that produce refugees also produce other forms of displacement, including people who have not crossed an international border but face the same fears and dangers as refugees.
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Reunidas essas trs condies (temor de Perseguio, Migrao Internacional e
ausncia de proteo do pas de origem), configurada est a situao do Refugiado, que deve
ser reconhecida pelos Estados da comunidade internacional16, especialmente pelos membros
da Conveno de 1951 e de seu Protocolo de 1967. Conforme salienta o Guia do ACNUR: Uma pessoa um refugiado, no sentido da Conveno de 1951, desde que ela satisfaa os critrios enunciados na definio. Essa situao necessariamente realizada antes que o estatuto de refugiado seja formalmente reconhecido ao interessado. Por consequncia, a determinao do estatuto de refugiado no tem por efeito conferir a qualidade de refugiado; ela constata a existncia dessa qualidade. Uma pessoa no se torna refugiada porque ela reconhecida como tal, mas ela reconhecida como tal porque ela refugiada. (UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES, 1992, pargrafo 28, traduo livre)17.
A Conveno de 1951 e seu Protocolo de 1967 no so os nicos instrumentos
internacionais que trazem um conceito operacional para a categoria Refugiado. Pode-se citar
pelo menos mais dois documentos que adentram essa questo e chegam a cunhar uma
definio ainda mais ampla do que a da Conveno de 1951: a Conveno da Organizao da
Unidade Africana (OUA), de 1969, e a Declarao de Cartagena, de 1984. Conforme destaca
Flvia Piovesan (2001, p. 36), ambos os instrumentos, alm de adotarem o conceito da
Conveno de 1951, [...] prevem a violao macia dos direitos humanos como
caracterizadora da situao de refugiado18. Todavia, tanto a Conveno da OUA quanto a
Declarao de Cartagena so instrumentos de alcance regional, aplicveis, respectivamente,
apenas frica e Amrica Latina. Por isso, as extenses da definio de Refugiado ali
16 A concesso de asilo territorial ao Refugiado ato de soberania, no sendo obrigatrio para o Estado. Conforme lembra Geraldo Eullio do Nascimento e Silva (2001, p. 13 e 14), [...] a concesso do asilo um direito do Estado baseado em sua soberania. E ainda: [...] no existe um direito ao asilo, ou seja o Estado, no exerccio de seu direito de soberania, tem o direito de recus-lo. Por outro lado, Flvia Piovesan (2001, p. 47-48) defende que o princpio do non refoulement, pelo qual vedada a devoluo do Refugiado ao pas em que sua vida e liberdade estejam ameaadas, deve ser reconhecido e respeito por toda a comunidade internacional, por se consubstanciar como um princpio de jus cogens. 17 Texto original em francs: Une personne est un rfugi, au sens de la Convention de 1951, ds qu'elle satisfait aux critres noncs dans la dfinition. Cette situation est ncessairement ralise avant que le statut de rfugi ne soit formellement reconnu l'intress. Par consquent, la dtermination du statut de rfugi n'a pas pour effet de confrer la qualit de rfugi; elle constate l'existence de cette qualit. Une personne ne devient pas rfugi parce qu'elle est reconnue comme telle, mais elle est reconnue comme telle parce qu'elle est rfugi. 18 A Conveno da OUA, aps adotar o mesmo conceito da Conveno de 1951, estende a definio de Refugiado a fim de abranger tambm [...] qualquer pessoa que, devido a uma agresso, ocupao externa, dominao estrangeira ou a acontecimentos que perturbem gravemente a ordem pblica numa parte ou na totalidade do seu pas de origem ou do pas de que tem nacionalidade, seja obrigada a deixar o lugar da residncia habitual para procurar refgio noutro lugar fora do seu pas de origem ou de nacionalidade (ORGANIZAO DA UNIDADE AFRICANA, 1969, art. 1(2)). J a Declarao de Cartagena, recomenda que o conceito de Refugiado adotado para a Amrica Latina abarque, alm dos casos previstos pela Conveno de 1951, aqueles casos de [...] pessoas que tenham fugido dos seus pases porque a sua vida, segurana ou liberdade tenham sido ameaadas pela violncia generalizada, a agresso estrangeira, os conflitos internos, a violao macia dos direitos humanos ou outras circunstncias que tenham perturbado gravemente a ordem pblica (COLQUIO SOBRE PROTEO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS NA AMRICA CENTRAL, MXICO E PANAM, 1984, concluso terceira).
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presentes no so adotadas por este artigo, que pretende, conforme esclarecido anteriormente,
analisar o sistema global de proteo dos Refugiados, a fim de verificar a possibilidade de sua
aplicao ao caso dos Deslocados Ambientais. O artigo atem-se, portanto, ao conceito da
Conveno de 1951 e s condies de caracterizao da condio de Refugiado ali impostas.
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