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DIREITO DAS OBRIGAES II
PROF. ROMANO MARTINEZ
Faculdade de Direito de Lisboa
DISCLAIMER
Estes apontamentos no dispensam o estudo dos manuais recomendados peloProfessor Regente e Assistente.
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RESPONSABILIDADE OBJECTIVA
Responsabilidade Civil
1: GENERALIDADES. Antes de estudarmos a responsabilidade objectiva, seja ela pelo
risco ou pelo sacrifcio, cumpre tecer algumas consideraes preliminares e recordar os
pressupostos gerais da responsabilidade civil.
A responsabilidade civil uma fonte de obrigaes, maxime a obrigao de
indemnizar que, como sabemos, exclusivamente legal: encontra-se, por isso, tipificada na
lei [arts. 562 ss].
Enquanto excepo regra geral de imputao dos danos na esfera jurdica onde
ocorrem, a responsabilidade civil consiste no conjunto de factos que do origem obrigao
de indemnizar os danos sofridos por outrem [ressarcibilidade].
Relativamente distino entre responsabilidade subjectiva e objectiva, importa
recordar:
Responsabilidade subjectiva ou delitual: a responsabilidade civil pressupe,
regra geral, culpa [art. 483-2]. A culpa deve ser aqui entendida como um
juzo moral ou de censura da conduta, seja ela praticada com dolo ou mera
culpa. A actuao do agente , assim, ilcita e culposa: um delito, enfim.
o As responsabilidades obrigacional e extra-contratual so, em regra,
subjectivas, assentando no princpio da culpa: vg devedor que falta
ao cumprimento da obrigao, com culpa [responsabilidade
subjectiva obrigacional].
Responsabilidade objectiva: constitui uma excepo regra geral da
responsabilidade subjectiva ou delitual [art. 483-2], j que o dano
provocado, ainda que independentemente de culpa do agente. Pressupe
um dano, como toda a responsabilidade civil, mas no existe delito.
Modalidades de responsabilidade objectiva, consoante o ttulo de
imputao:
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o Pelo risco: tipificada na lei [art. 483-2], aplica-se s prticas de
actividades humanas lcitas, normalmente geradoras de prejuzo [vg
circulao automvel]; do risco inerente a essas actividades resulta
o dever de reparar o dano.
Funes:
Funo principal: reparao do dano
Funo acessria: preveno
o Pelo sacrifcio ou por acto lcito: a lei autoriza o agente a agir,
causando prejuzos a outrem e correlativa obrigao de
compensao desses danos [vg constituio de servido legal de
passagem].
Funo exclusiva: reparao do dano.
o As responsabilidades obrigacional e extra-contratual podem ser,
excepcionalmente, objectivas, independentemente de qualquer
culpa: vg devedor que falta ao cumprimento da obrigao, sem
culpa [responsabilidade objectiva obrigacional, art. 800].
2. PRESSUPOSTOS. Sumariamente iremos enunciar cada um dos pressupostos da
responsabilidade civil.
Face ao disposto no art. 483-1:
Facto
Ilicitude [violar ilicitamente]
o
No se verifica na responsabilidade por facto lcito Culpa [com dolo ou mera culpa]
o Prescinde-se na responsabilidade pelo risco
Dano [pelos danos]
Nexo de causalidade entre facto e dano [resultantes da violao]
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1. O facto voluntrio do lesante remete-nos para um comportamento humano,
dominvel pela vontade, expresso da conduta de um sujeito responsvel. No se exige
inteno, nem sequer actuao [contra o que a redaco do art. 483-1 pode indiciar],
bastando a conduta sob o controlo da sua vontade.
O facto voluntrio pode revestir duas formas:
Aco [art. 483]: existe um dever genrico de no lesar direitos alheios
[neminem laedere], pelo que no se exige qualquer dever especfico.
Omisso [art. 486]: exige-se um dever especfico de praticar o acto omitido,
j que no existe um correspondente dever genrico de evitar a ocorrncia de
danos para outrem, o que tornaria a vida em sociedade insustentvel e
multiplicaria as ingerncias na esfera jurdica alheia.
o O dever especfico de garante pode ser criado por contrato [vg
algum estar obrigado a vigiar um doente mental, evitando que se
suicide].
o Ou pode ser imposto pela lei [arts. 491-493]. No direito alemo, a
partir de disposies semelhantes, tem-se defendido a doutrina dos
deveres de segurana no trfego ou dos deveres de preveno do
perigo delituais, alargando-se a responsabilidade por omisso para
alm dos casos tipificados na lei. Esta doutrina teve influncias entre
ns [ANTUNES VARELA, MENEZES CORDEIROe SINDE MONTEIRO].
Na responsabilidade objectiva, o facto que a despolete essa imputao pode ser um
facto natural, um facto voluntrio do agente, ou ainda um facto do prprio lesado [vg
acidentes de trabalho].
2.A ilicitudedeve aqui ser entendida enquanto um juzo de desvalor atribudo pela
ordem jurdica ao:
Resultado da conduta do agente [teoria do desvalor do resultado].
Comportamento do agente [teoria do desvalor do facto]: posio maioritria.
A ilicitude distingue-se da ilegalidade, na medida em que esta pressupe a
inobservncia de um nus jurdico: ser ilcita a conduo em excesso de velocidade, e ilegal
a venda de um imvel verbalmente, vg.
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Nesta sede relevam as causas de justificao/excluso da ilicitude [nunca
justificao da ilicitude!].
3.A culpa pressuposto normal da responsabilidade civil, sendo a responsabilidade
objectiva excepcional, como j tivemos oportunidade de mencionar [art.483-2]. Hoje,
autores como MENEZES CORDEIRO consideram-na um juzo de censura, em sentido
normativo, em relao actuao do agente, que poderia e deveria ter agido de outro modo.
A sua conduta , assim, axiologicamente reprovada.
As presunes de culpa invertem o nus da prova [art. 350-1] e so ilidveis, nos
termos gerais [art. 350-2]: as dificuldades de prova inerentes torna mais segura a obteno
de indemnizao, pelo lesado. Para ROMANO MARTINEZ e MENEZES LEITO, o disposto nos
arts. 491-493 corresponde, na verdade, a exemplos de responsabilidade subjectiva, e no
objectiva.
4.O dano condio essencial de responsabilidade: por muito censurvel que seja o
comportamento do sujeito, no caber recurso s regras da responsabilidade civil se as coisas
correrem bem e ningum sair lesado. Ao contrrio do direito penal, onde, como sabemos, a
tentativa punvel. MENEZES LEITO entende que o dano deve ser definido num sentido
fctico e normativo, enquanto frustrao de uma utilidade que era objecto de tutela jurdica.
5. O art. 483 limita a indemnizao aos danos resultantes da violao: esse
comportamento deve ser causa dos danos sofridos, existindo um nexo de causalidadeentre o
facto e o dano.
Teoria do fim da norma violada: teoria do escopo da norma violada
o apenas necessrio averiguar se os danos que resultaram do facto
correspondem frustrao das utilidades que a norma visava conferir
ao sujeito atravs do direito subjectivo ou da norma de proteco.
Questo que acaba por se reconduzir a um problema de interpretao
do contedo e fim especfico da norma que serviu de base
imputao dos danos.
o Para MENEZES LEITO esta a melhor forma de determinao do
nexo de causalidade. A obrigao de reparar os danos causados
constitui uma consequncia jurdica de uma norma relativa
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imputao de danos, o que implica que a averiguao do nexo de
causalidade apenas se possa fazer a partir da determinao do fim
especfico e do mbito de proteco da norma que determina essa
consequncia jurdica.
3: RESPONSABILIDADE OBJECTIVA. Na responsabilidade objectiva o dano
provocado, ainda que independentemente de culpa do agente: pressupe-se, ainda, um dano,
comum a toda a responsabilidade civil, embora no exista qualquer delito.
A responsabilidade objectiva engloba duas modalidades:
Responsabilidade pelo risco [arts. 499 ss, 1348-2 e legislao avulsa]
Responsabilidade por factos lcitos ou pelo sacrifcio:
o Obrigacional [vg responsabilidade por revogao de contrato de
mandato].
o Extra-contratual [vg responsabilidade por danos causados em estado
de necessidade ou pelos prejuzos causados por servido legal de
passagem].
Ao contrrio da responsabilidade subjectiva, prevista na clusula geral do art. 483-1,
os casos de responsabilidade objectiva so excepcionais [insusceptveis de aplicao
analgica, art. 11], taxativos, e s pode ser invocada se existir uma previso legal especfica
que a contemple [art. 483-2].
Por fora do art. 499 so-lhe aplicveis, mutatis mutandis, as normas da
responsabilidade civil em geral [arts. 483 ss], exclusive as disposies respeitantes culpa.
Responsabilidade pelo Risco
1: NOO. A responsabilidade pelo risco , ainda, uma modalidade de
responsabilidade civil: excepo regra geral de imputao dos danos na esfera jurdica onde
ocorrem, dando origem obrigao de indemnizar os danos sofridos por outrem
[ressarcibilidade].
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o Os comissrios actuam no interesse e por conta do comitente, pelo
que deve este garantir ao lesado o pagamento da indemnizao.
Eis os pressupostos deste regime de responsabilidade objectiva do comitente pelos
factos danosos praticados pelo comissrio, no exerccio das suas funes:
Relao de comisso:
o Tarefa ou funo realizada no interesse e por conta de outrem que,
acrescenta MENEZES LEITO, possa ser imputada ao comitente [e no
face a toda e qualquer prestao de servios lato sensu]: actos
praticados exclusivamente no seu interesse e por conta sua [culpa in
instruendo], tenham eles o carcter duradouro ou isolado. Exemplos:
Contrato de trabalho [art. 1152]
Contrato de mandato [art. 1157]
Exclui-se o desempenho de funes com autonomia: prestao
de servio de depsito [art. 1185], empreitada [art. 1207] e
contrato de transporte.
o [ Liberdade de escolha do comissrio pelo comitente: culpa in
eligendo ] MENEZES CORDEIRO, contra MENEZES LEITOe RIBEIRO
DE FARIA. Ao contrrio do que sucede no direito alemo, no se
admite entre ns que o comitente possa ilidir a responsabilidade
atravs da demonstrao de que escolhera diligentemente o
comissrio.
o [ Nexo de subordinao ou controlo do comissrio ao comitente: culpa
in vigilando ] ANTUNES VARELA e ALMEIDA COSTA, contra MENEZESLEITOe MENEZES CORDEIRO. A exigncia deste pressuposto s faria
sentido se a concepo da responsabilidade do comitente se baseasse
na doutrina do risco de autoridade, supra 1.
Nota: no nosso direito, basta que o comissrio esteja no exerccio das suas funes,
uma vez que a responsabilidade do comitente se mantm mesmo que o comissrio
desrespeite as suas instrues ou actue intencionalmente [art. 500-2].
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Facto danoso praticado pelo comissrio no exerccio das suas funes:
o A funo que fora confiada ao comissrio funciona como delimitao
da zona de riscos a cargo do comitente.
o
MENEZES LEITO no concorda com a interpretao restritiva feita
pela doutrina relativamente a este pressuposto [doutrina essa que
exclui deste mbito os danos por ocasio da funo e os danos
praticados com abuso de funes, exigindo um nexo instrumental
entre a funo e os danos - ANTUNES VARELA e ALMEIDA COSTA],
uma vez que tal interpretao retiraria alcance prtico ao preceito e
no tem qualquer apoio legal. Sugere, assim, um nexo etiolgico
entre a funo e os danos, incluindo situaes de desrespeito e de
abuso de funes: basta que os danos sejam originados no exerccio
da funo, sejam eles por actos intencionais do comissrio, praticados
em desrespeito das instrues, ou no [n 2].
o ROMANO MARTINEZinclui actos preparatrios e posteriores.
Exemplo: age no exerccio das suas funes o operrio que deixa cair uma telha ou o
operrio que, fumando enquanto trabalha, provoca um incndio. Do mesmo modo, responde
o Banco pelo empregado bancrio que haja burlado os clientes. O comitente responde ainda
pelos actos praticados pelo comissrio em desrespeito das instrues: o segurana de uma
discoteca que deliberadamente agride um cliente ou o operrio que conduz uma mquina em
desrespeito das ordens do comitente, vg.
Responsabilidade do comissrio:
o Sobre o comissrio recaia tambm a obrigao de indemnizar.
o Pergunta-se: exige-se culpa do comissrio ou basta qualquer
imputao ao comitente, mesmo que a ttulo objectivo [sem culpa]?
Responsabilidade subjectiva, com culpa: ANTUNES VARELAe
RUI DE ALARCO [excepto se houver tambm culpa da sua
parte n 3] pressupe culpa do comissrio.
Responsabilidade subjectiva ou objectiva: ALMEIDA COSTA,
MENEZES CORDEIROe ROMANO MARTINEZ[desde que sobre
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este recaia tambm a obrigao de indemnizar n 1] o
comissrio responde pelos danos a qualquer ttulo, com ou
sem culpa.
MENEZES LEITO eRIBEIRO DE FARIA: a lei no exige uma
demonstrao efectiva de culpa do comissrio, bastando a
mera culpa presumida [art. 500-1], pelo que acolhem a
primeira posio.
Propendemos para a exigncia de culpa do comissrio [primeira posio]: o n 3
refere expressamente a possibilidade de tambm existir culpa do comitente, pelo que se
nenhuma culpa houver, de nenhum dos intervenientes da relao de comisso, no h
qualquer direito de regresso do comitente e deve ser este a suportar a totalidade da
indemnizao. Neste caso, ROMANO MARTINEZ prope a eventual aplicao analgica do
disposto no art. 507, uma vez que a responsabilidade pelo risco recai sobre vrias pessoas e
solidria.
Se o comitente actuar com culpa exclusiva [in instruendo, in eligendo ou in
vigilando], nada pode exigir em regresso [o n 3 s opera com culpa do comissrio], uma vez
que a culpa afasta o risco. Diferentemente, havendo concurso de culpas, a responsabilidade
solidria, na medida das respectivas culpas [art. 497-2 ex vi art. 500-3].
3: RESPONSABILIDADE DO ESTADO OU DE OUTRAS PESSOAS COLECTIVAS
PBLICAS. Segundo o disposto no art. 501, o Estado e demais pessoas colectivas pblicas [IP,
EP, Universidade Pblica, etc.], quando haja danos causados a terceiro pelos seus rgos,
agentes ou representantes no exerccio de actividades de gesto privada, respondem
civilmente por esses danos nos mesmos termos do art. 500.
Compreende-se que esta remisso respeite apenas a actos de gesto privada [danos
que poderiam ter sido praticados por particulares, uma vez que foram causados por entidades
pblicas desprovidas de ius imperii/poderes de autoridade]. O mbito o do Direito privado,
e no do Direito Constitucional ou Administrativo.
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o Detentores legtimos
o Proprietrio
o Usufruturio
o
Locatrio
o Comodatrio
o Detentores ilegtimos [esbulhadores]
o Exclui-se a responsabilidade objectiva: proprietrio cujo veculo fora
furtado, cliente de txi ou aluno em escola de conduo [uma vez que
nenhum tem a direco efectiva do veculo]; inimputveis,
responsveis nos termos do art. 489 [o art. 503-2 parece exigir a
imputabilidade do agente, para exercer poderes de facto sobre o
veculo], segundo MENEZES LEITO[contra, ROMANO MARTINEZ].
Utilizar no seu prprio interesse, ainda que por intermdio de comissrio:
exclui a responsabilidade objectiva a quem conduz o veculo por conta de
outrem [comissrios], uma vez que essa responsabilidade objectiva recai
antes sobre o prprio comitente.
Danos indemnizveis Danos provenientes dos riscos prprios do veculo,
mesmo que este no se encontre em circulao: abrange todos os danos
resultantes da circulao do veculo em via pblica ou em recintos privados
[vg atropelamento de pessoas, coliso entre veculos ou embate contra
coisas] e os danos causados pelo mesmo quando imobilizado [vg incndio do
motor ou avaria nos traves]. Exclui-se a responsabilidade objectiva pelos
riscos no conexos com o veculo [vg catstrofes naturais].
A responsabilidade do art. 503-1 [de quem tiver a direco efectiva do veculo]
exclui-se nos casos do art. 505, sem prejuzo do disposto no art. 570 [mantendo-se essa
disposio, portanto]:
o Quando o acidente seja imputvel:
Ao prprio lesado: no se exige culpa do lesado, mas sim
exclusividade da sua conduta na produo do dano [vg
desmaio ou comportamento ditado por medo invencvel do
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lesado exclui a responsabilidade pelo risco]. O
comportamento causal do lesado foi causa exclusiva e nica
do dano, e o acidente deixa de se poder considerar como um
risco prprio do veculo.
Nota: a lei pouco esclarece quanto a concurso de causalidade entre o facto do lesado
[seja ele culposo ou no] e a conduo do veculo [respeitando a riscos prprios do mesmo].
Cumpre apreciar:
Se o lesado actuar sem culpa, o condutor responde pelo risco e,
eventualmente, com culpa.
Se houver culpa do lesado concorrente com a culpa do condutor aplica-se o
disposto no art. 570-1.
Se no se demonstrar culpa do condutor, e a culpa do lesado concorrer com o
risco prprio do veculo, exclui-se a responsabilidade do condutor [a culpa
provada/efectiva do lesado exclui o dever de indemnizar em caso de culpa
presumida] art. 570-2, por interpretao extensiva [ANTUNES VARELA,
PIRES DE LIMAeMENEZES LEITO].
o
Nota ao art. 570: exige-se culpa do lesado, e no imputao lato
sensu [vs art. 505] e relao de concausalidade. O tribunal pode, por
isso, ordenar a reduo ou a excluso da indemnizao. O n 2
permite que a culpa provada do lesado exclua a responsabilidade com
culpa presumida do lesante [contra o regime extravagante da
responsabilidade do produtor, infra 7], quando ambas hajam
concorrido para a produo do dano, verificado o nexo causal.
.
Acidente imputvel a terceiro: tambm no exige culpa de
terceiro [pessoa, entenda-se], bastando que tenha sido a
nica causa do dano, em termos tais que no se possa atribuir
este a um risco prprio do veculo.
A responsabilidade pelo risco do condutor excluda.
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Havendo concurso de culpas entre o condutor e o
terceiro, ambos respondem solidariamente perante o
lesado [art. 497].
o
Quando o acidente resulte de causa de fora maior estranha ao
funcionamento do veculo: o acontecimento imprevisvel, inevitvel
e exterior ao funcionamento do veculo. Exemplos:
Ciclone
Inundao
Animais
leo ou neve na estrada
No excluem a responsabilidade pelo risco: circunstncias
relativamente ao funcionamento ou utilizao do veculo [vg
derrapagem, rebentamento de pneus ou incndio do motor].
A responsabilidade pelos danos causados por veculos aproveita aos seguintes
beneficirios [art. 504]:
Terceiros [vg transeunte, peo, etc.]
Pessoas transportadas [vg motorista, maquinista, cobrador de bilhetes, etc.]
Transporte por virtude de contrato: a responsabilidade s abrange os danos
que atinjam a prpria pessoa [leses, danos morais ou dano morte] e as coisas
por ela transportadas [n 2] excluem-se os danos em coisas no
transportadas e os danos reflexos sofridos pelas pessoas referidas nos arts.
495-2 e 3 e 496-2.
Transporte gratuito [vg boleia]: a responsabilidade apenas abrange os danospessoais da pessoa transportada [n 3] excluem-se os danos nas coisas
transportadas com a pessoa.
So nulas as clusulas que excluam ou limitem a responsabilidade do
transportador pelos acidentes que atinjam as pessoas transportadas [n 4] mas
no, a contrario, aquelas que excluam a responsabilidade pelos danos que
atinjam as coisas transportadas.
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RODRIGUES BASTOSe MENEZES CORDEIRO: no. A presuno de culpa do n
3, 1 parte valeria apenas nas relaes internas, entre comitente e
comissrio.
ANTUNES VARELA, ALMEIDA COSTA, RUI DE ALARCOe SINDE MONTEIRO:
sim. A presuno de culpa do n 3, 1 parte tem alcance externo, sendo eficaz
perante o lesado. Esta posio foi acolhida e fixada por um assento do STJ.
o ROMANO MARTINEZ: a presuno s deve valer nas relaes
externas e no no direito de regresso, uma vez que o comissrio
[responsabilidade subjectiva com presuno de culpa] e o
comitente [responsabilidade objectiva pelo risco] respondem
solidariamente perante o lesado.
o A lei faz recair sobre o comissrio, em lugar da responsabilidade
pelo risco, uma presuno de culpa: o comissrio responde por
todos os danos causados, sem qualquer limite [no sujeito ao
disposto no art. 508], se no conseguir ilidir tal presuno.
o Compreende-se a presuno de culpa dos condutores comissrios,
uma vez que dos condutores profissionais se exige uma percia
superior do condutor mdio, podendo ilidir a presuno com
relativa facilidade. Por outro lado, a conduo por conta de
outrem representa, normalmente, um risco de afrouxamento na
vigilncia do veculo e de fadiga do comissrio que conduz o
veculo horas seguidas.
O art. 506 regula em termos especficos a coliso de veculos, sem culpa: a lei
apresenta critrios de resoluo de um possvel conflito de imputaes com base no risco.
Se da coliso entre dois veculos resultarem danos em relao aos dois ou em
relao a um deles:
o E se nenhum dos condutores tiver culpa: a responsabilidade
repartida na proporo em que o risco de cada um dos veculos
contribuiu para os danos [n 1, 1 parte] concausalidade de
ambos os veculos.
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Apanha de frutos [art. 1367]
Reparaes ou construes [art. 1349]
Responsabilidade contratual:
Revogao do mandato [arts. 1170-1172]
Na doutrina alem pergunta-se a quem devem ser imputados os danos da
responsabilidade pelo sacrifcio: se ao autor do sacrifcio que os causou ou, pelo contrrio, ao
titular do direito de valor superior, em benefcio de quem esse sacrifcio ocorreu.
A OBRIGAO DE INDEMNIZAO
Indemnizao
1: NOO. A indemnizao tratada pelo CC como uma modalidade das obrigaes
[arts. 562 ss], cuja fonte consiste na imputao de um dano a outrem e cujo contedo se
caracteriza pela prestao de um equivalente ao dano sofrido. Pretende-se, com a
indemnizao, a eliminao do dano sofrido pelo credor, sendo a mesma, por isso, atribuda
no seu interesse [ressarcibilidade do dano].
Em termos processuais, a indemnizao pode ser exigida sem o seu montante se
encontrar especificamente determinado [art. 569], aquando da propositura da aco. A
mesma pode igualmente ser atribuda em termos equitativos, pelo tribunal [art. 566-3].
Da articulao dos arts. 562 e 566-1 resulta a primazia da restaurao ou
reconstituio natural/in natura sobre a indemnizao em dinheiro. Com efeito, a obrigao
de indemnizao estabelece-se primordialmente atravs da reparao do objecto destrudoou da entrega de objecto idntico [concepo real de dano]. O credor/lesado posto na
situao que existiria se no se tivesse verificado o dano.
Quanto tal reconstituio natural no seja possvel [infungibilidade ou impossibilidade
do objecto], no repare integralmente os danos ou se afigure excessivamente onerosa para o
devedor/lesante [interpretada em termos restritivos apenas quando a reconstituio natural
se apresentar como um sacrifcio manifestamente desproporcionado para o lesante, contrrio
boa f.], a indemnizao fixada em dinheiro [sucedneo pecunirio].
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Jurdico
o Negativo: non facere [omisso] e de pati [sujeio]
2: PRESTAES FUNGVEIS E INFUNGVEIS. Quanto substituio no cumprimento,
as prestaes podem ser:
Fungveis: a realizao da prestao pode ser substituda por outrem que no
o devedor, sem prejuzo para o credor [arts. 767-1 e 827-830] susceptvel
de execuo especfica.
o As prestaes so, em regra, fungveis: independentemente de a coisa
ser ou no fungvel [art.207], atendendo a:
Natureza da prestao
Interesse do credor
Acordo das partes
Infungveis: s o devedor pode realizar a prestao [art. 767-2]. A
substituio do devedor no cumprimento no possvel, pelo que a lei no
admite a execuo especfica da obrigao.
o
Infungibilidade natural: a substituio do devedor no cumprimento
prejudica o credor.
o Infungibilidade convencional: devedor e credor acordaram
expressamente que a prestao s pode ser realizada pelo primeiro.
3: PRESTAES INSTANTNEAS E DURADOURAS. Quanto ao momento em que
ocorrem, as prestaes podem ser:
Instantneas: a execuo da prestao ocorre num nico momento [art. 434-
1].
o Integral [realizada de uma s vez, vg entrega da coisa vendida]
o Fraccionada [uma nica obrigao, cujo objecto dividido em
fraces, com vencimentos intervalados, vg venda a prestaes, art.
934]
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A prestao encontra-se determinada apenas por referncia a uma certa quantidade,
peso ou medida de coisas dentro de um gnero, mas no est ainda concretamente
determinado quais os espcimes daquele gnero que vo servir para o cumprimento da
obrigao. Exemplo:
Obrigao de entrega de dez quilos de mas, vg: h referncia ao gnero
[mas] e quantidade [dez quilos], mas ainda no esto concretizadas quais
as mas com que o devedor dever cumprir a obrigao.
Pelo contrrio, a obrigao especfica aquela em que tanto o gnero, como os
espcimes da prestao se encontram determinados.
As obrigaes genricas so comuns nas negociaes sobre coisas fungveis [art. 207].
Exemplo de obrigao genrica quanto a coisa infungvel: entrega de um quadro de um
pintor, vg.
A escolha, ou o processo de individualizao dos espcimes dentro do gnero [vg
recorrendo pesagem, medida ou escolha], pode caber a ambas as partes [credor ou
devedor, art. 400], ou a terceiro. Em regra, e supletivamente, a escolha [concentrao] cabe
ao devedor [art. 539], embora possa eventualmente caber ao credor ou a terceiro [art.
542], excepcionalmente.
Pergunta-se se o devedor [o dono das mas, vg] completamente livre de escolher
os espcimes, maxime aqueles de pior qualidade. O BGB obriga o devedor a entregar uma
coisa de classe e qualidade mdia, pelo que MENEZES CORDEIRO invoca o regime da
integrao dos negcios jurdicos, com base na boa f, defendendo a mesma soluo [art.
239]. ROMANO MARTINEZ eMENEZES LEITOreconduzem esse entendimento ao disposto no
art. 400: a determinao da prestao deve ser realizada segundo juzos de equidade.
Uma vez que, nas obrigaes genricas, a transferncia da propriedade no pode
ocorrer no momento da celebrao do contrato [vs art. 408-1], a indeterminao inicial
coloca o problema do risco do perecimento da coisa que, nos termos gerais, corre por conta
do proprietrio [art. 796]. Com efeito, um direito a uma quantidade de coisas a escolher de
certo gnero um direito de crdito, e no um direito real. Regra geral, a transferncia da
propriedade opera com a determinao da prestao [art. 408-2]: a transferncia opera,
enfim, quando a coisa determinada com conhecimento de ambas as partes.
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Todavia, as obrigaes genricas constituem uma excepo a este regime. A
transmisso da propriedade, e, consequentemente, do risco, ocorre no momento da
concentrao da obrigao, ou seja, no momento em que a obrigao genrica passa a
especfica, no se exigindo que essa concentrao seja conhecida de ambas as partes. A lei
consagrou a teoria da entrega [art. 540], de JHERING, segundo a qual a concentrao da
obrigao genrica s ocorreria com o cumprimento da obrigao, transferindo-se o risco para
o credor nesse momento. Qualquer perecimento da coisa que acontecesse anteriormente
correria por conta do devedor. Com efeito, a concentrao ocorre normalmente mediante a
entrega pelo devedor [art. 408-2 princpio da entrega], devendo ser determinada at ao
cumprimento, atravs da concentrao.
A lei admite, contudo, casos em que a obrigao se concentra antes do cumprimento,
embora cabendo a escolha ao devedor [art. 541] o risco do perecimento corre por conta do
credor:
Acordo das partes: contrato modificativo da obrigao que substitui a
obrigao genrica por uma obrigao especfica.
O gnero extingue-se a ponto de restar apenas uma das coisas nele
compreendidas: a concentrao ocorre por mero facto da natureza [art. 790]
O credor incorre em mora: o credor, sem motivo justificado, recusa receber a
prestao ou no pratica os actos necessrios ao cumprimento da obrigao
[art. 813]. MENEZES LEITO: trata-se de uma fico para estender a
aplicao do regime do art. 814-1 s obrigaes genricas.
A promessa de envio [art. 797]: hiptese do cumprimento, e no
concentrao dvidas de envio ou remessa, em que o devedor no secompromete a transportar a coisa para o local do cumprimento, mas apenas a
coloc-la num meio de transporte destinado a outro local.
Diferentemente, quando a escolha compete ao credor ou a terceiro [art. 542], passa
a ser irrevogvel. Essa escolha concentra imediatamente a obrigao, desde que declarada ao
devedor ou a ambas as partes. Se o credor no fizer a escolha dentro do prazo estabelecido,
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responsabilidade dos restantes obrigados , por isso, admissvel, sendo a prestao exigvel
aos demais devedores. O credor deve pagar-lhes o valor correspondente parte do devedor
exonerado [art. 536].
Se a prestao for impossvel por facto imputvel a apenas um dos devedores, este
responde por impossibilidade culposa [art. 801-1], enquanto que os restantes vem extinta a
sua obrigao [art. 790].
PLURALIDADE ACTIVA
Diferentemente, se a obrigao for indivisvel com pluralidade de credores, a lei
refere que qualquer um deles tem o direito de exigir a prestao por inteiro, mas que o
devedor s relativamente a todos os credores em conjunto se pode exonerar o devedor
cumpre perante todos os credores, enfim [art. 538]. A citao judicial do devedor por um
dos credores transforma a obrigao conjunta em solidria, como defendem ROMANO
MARTINEZ e MENEZES CORDEIRO. A soluo, neste caso, pauta-se pela aplicao analgica
do disposto no art. 536: os restantes credores s podem exigir a prestao do devedor se lhe
entregarem o valor da parte que cabia parte do crdito que se extinguiu.
FONTES DAS OBRIGAES BASEADAS NO
PRINCPIO DA AUTONOMIA PRIVADA
O CONTRATO
Negcios Jurdicos
1: NEGCIO JURDICO. Cumpre reter a seguinte distino tradicional:
Negcios jurdicos unilaterais: possuem apenas uma parte
Negcios jurdicos multilaterais: possuem duas ou mais partes
o Negcios bilaterais ou contratos: possuem apenas duas partes
Por parte entende-se, nesta sede, o titular de um interesse, e no uma pessoa
individualmente considerada. Esta acepo, por isso, implica que duas ou mais pessoas
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constituam uma nica parte, desde que ligadas por um interesse comum. Nos contratos, por
seu lado, exige-se uma contraposio de interesses entre as duas partes.
A referncia a interesse , como sabemos, discutida pela doutrina: MENEZES
CORDEIROcritica aquilo a que apelida de verdadeira jurisprudncia dos interesses, j que
os intervenientes num negcio jurdico unilateral podem ter interesses diversos, sem prejuzo
de uma posio comum.
MENEZES CORDEIROprope, deste modo, a seguinte classificao:
Negcios jurdicos unilaterais: os efeitos desencadeados no diferenciam as
pessoas que intervieram.
o Tende a existir apenas uma pessoa, uma declarao e um interesse.
Contratos: os efeitos desencadeados diferenciam duas ou mais pessoas.
o Tende a existir vrias pessoas, vrias declaraes e vrios interesses.
MENEZES LEITOcritica esta acepo, propugnando antes o critrio da necessidade
de uma declarao negocial ou de duas ou mais, como critrio delimitador de negcios
jurdicos unilaterais e bi/multilaterais. Atenta-se, aqui, ao modo da formao do negcio, e
no j aos interesses subjacentes ou aos efeitos desencadeados.
Face a esta primeira abordagem, podemos concluir o seguinte:
A doao um contrato: exige duas declaraes negociais [art. 940].
A doao pura a um incapaz um negcio jurdico unilateral: produz efeitos
independentemente de aceitao [art. 951-2].
Os efeitos da doao so sempre os mesmos, seja ela um contrato ou um
negcio unilateral: art. 954.
O contrato , enfim, o resultado de duas ou mais declaraes negociais contrapostas,
mas integralmente concordantes entre si, de onde resulta uma estipulao unitria de
efeitos jurdicos.
Modalidades de Contratos
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o momento da celebrao do contrato, correndo o risco da perda ou deteriorao da coisa a
partir desse momento [art. 796-1].
Indicimos j algumas excepes a esta regra, que ora cumpre apreciar [art. 408-2]
excepes legais ao princpio geral da transferncia imediata:
Coisas futuras: o momento da transferncia da propriedade o da aquisio
da coisa pelo alienante [vg A promete doar um anel a B a 11 de Outubro.
Entretanto, B promete vend-lo a C, em Dezembro do mesmo ano. A
propriedade do anel transmite-se para C a 11 de Outubro, quando o anel
doado ao alienante, B]. Ressalva: regime aplicvel compra e venda, e no
doao ou empreitada [arts. 880 e 942-1].
o Coisas relativamente futuras: art. 211. O efeito translativo depende
da constituio da propriedade [ou de outro direito real] sobre essa
coisa por parte do alienante.
o Coisas absolutamente futuras: no existem ainda na realidade jurdica
e fctica. O direito s ser adquirido a partir do momento em que a
coisa tiver existncia [tornar-se numa coisa presente], transferindo-se
por mero efeito do contrato.
Coisas indeterminadas: a transferncia da propriedade verifica-se no
momento em que a coisa determinada com conhecimento de ambas as
partes. Regime aplicvel s obrigaes alternativas [art. 543] o efeito
translativo est associado com a escolha da prestao, desde que conhecida
das partes [normalmente, do devedor]. Ressalva: regra no abrange as
obrigaes genricas [arts. 539 e 540] o efeito translativo d-se com a
concentrao [normalmente, com o cumprimento], salvo o disposto no art.
541.
Frutos naturais e partes componentes ou integrantes: a transferncia da
propriedade verifica-se no momento da colheita ou da separao [obrigao
de entrega do devedor, art. 880].
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Contratos onerosos e gratuitos, simultaneamente: contrato a favor de
terceiro, vg [art. 443] relao triangular.
Neste mbito, cumpre ainda apreciar a seguinte distino:
Contratos comutativos: ambas as atribuies patrimoniais se apresentam
como certas.
Contratos aleatrios: pelo menos uma das atribuies patrimoniais se
apresenta como incerta
o Quanto sua existncia
o Quanto ao seu contedo
o Exemplo: contrato de jogo e aposta [art. 1245], contrato de renda
vitalcia [art. 1238] e contrato de seguro.
Esta distino s possvel quanto aos contratos onerosos.
8: OUTRAS CLASSIFICAES. Cumpre ainda reter as seguintes classificaes de
contratos:
Quanto previso do regime legal:
o
Contratos tpicos: o regime est previsto na lei.
o Contratos atpicos: o regime imposto pela prtica comum, falando-
se a esse propsito de uma tipicidade social ou de um tipo social
[vg contrato de franquia ou franchising].
Quanto ao nomen iuris:
o Contratos nominados: reconhecidos pela lei atravs de um nomen
iuris. Podem, por sua vez, ser tpicos ou atpicos. Atpico: contrato de hospedagem [art. 755 b]
o Contratos inominados: a lei no os designa atravs de um nomen iuris.
So sempre atpicos.
9: CONTRATOS MISTOS. Os contratos mistos renem em si regras de dois contratos
total ou parcialmente tpicos. Assumem-se como contratos atpicos, j que no correspondem
integralmente a nenhum tipo contratual regulado por lei.
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Paradoxalmente, a sua atipicidade resulta da adopo de dois ou mais contratos que
so, per se, tpicos, suscitando conflitos dos regimes a aplicar.
Constituem categorias de contratos mistos:
1. Contratos mltiplos ou combinados: contratos nos quais as partes
estipulam que uma delas deve realizar prestaes correspondentes a dois
contratos tpicos distintos, enquanto que a outra realiza uma nica contra-
prestao comum.
o Exemplo: venda de automvel + prestao de servios de conduzi-lo.
2. Contratos geminados ou de tipo duplo: contratos nos quais uma parte se
encontra obrigada a uma prestao tpica de certo tipo contratual e a outra
se encontra obrigada a uma contra-prestao, de outro tipo contratual.
o Exemplo: arrendamento + prestao de servios de limpeza do prdio.
Para estes tipos de contratos [1. e 2.], GALVO TELLESprope a aplicao da teoria
da combinao: aplicao combinada dos vrios regimes em causa. MENEZES LEITO
considera que esta ser a soluo tendencial para os dois tipos de contratos em apreo, de
modo menos rgido quanto propugna GALVO TELLES.
3. Contratos indirectos, mistos stricto sensu ou cumulativos: contratos nos
quais usada uma estrutura prpria de um tipo contratual para preencher
uma funo tpica de outro tipo contratual.
o Exemplo: venda de um imvel a preo residual, meramente simblico,
a ttulo de liberalidade/doao.
4. Contratos complementares: contratos em que so adoptados os elementos
essenciais de um determinado contrato mas aparecem acessoriamenteelementos tpicos de outro(s) contrato(s).
o Exemplo: venda de automvel + prestao de servios acessria de
manuteno do veculo.
Para estes tipos de contratos [3. e 4.], GALVO TELLESprope a aplicao da teoria
da absoro: deve-se optar a favor de um nico regime contratual. MENEZES LEITO
considera que esta a teoria que tendencialmente se aplicar aos dois tipos de contratos em
apreo, de modo menos rgido quanto propugna GALVO TELLES.
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ALMEIDA COSTA discordou de ambos os entendimentos, sustentando, na teoria da
analogia, a no aplicao de nenhum dos regimes, tratando-se de contratos integralmente
atpicos que devem obedecer Parte Geral do Direito das Obrigaes. Perante lacunas de
regime, a integrao deveria ser feita com recurso analogia. MENEZES LEITO considera
que esta teoria merece um afastamento liminar, j que a integral atipicidade dos contratos
mistos no corresponde sua natureza.
MENEZES CORDEIRO e ANTUNES VARELApronunciaram-se no sentido da ponderao
caso a caso, entre as duas primeiras teorias apresentadas por GALVO TELLES.
10: UNIO DE CONTRATOS. Ao contrrio dos contratos mistos conforme enunciados
supra 9, na unio de contratos no existe um contrato apenas, j que os vrios elementos
dos tipos contratuais no se dissolvem para formar um nico contrato.
Na unio de contratos verifica-se, sim, a celebrao conjunta de diversos contratos,
unidos entre si. Cada contrato mantm a sua autonomia e pode ser individualizado em face
do conjunto.
Cumpre reter as seguintes modalidades de unio de contratos:
Unio externa: a ligao entre os vrios contratos resulta apenas de serem
celebrados ao mesmo tempo [vg ir a um caf e pedir um bolo e um mao de
cigarros] art. 417-1, 1 parte.
Unio interna: os contratos apresentam-se ligados entre si por uma relao
de dependncia, unilateral ou bilateral [vg s comprar um computador se for
vendida uma impressora, conjuntamente] art. 417-1, 2 parte.
Unio alternativa: as partes declaram pretender um ou outro contrato,consoante ocorrer ou no a verificao de determinada condio, implicando
a produo de efeitos de um dos contratos e excluindo a produo de efeitos
do outro [vg celebrao de dois contratos de arrendamento, em cidades
diferentes, com a condio de s vigorar aquele respeitante cidade onde o
sujeito for colocado pela sua empresa].
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11: SUBCONTRATO. O subcontrato um negcio jurdico bilateral sujeito
disciplina geral dos contratos.
Com efeito, uma das partes no subcontrato ter que ser parte noutro negcio
jurdico, enquanto que o subcontraente , em regra, estranho relao contratual base. O
negcio base tem necessariamente que ser um contrato duradouro e celebrado sem intuitu
personae. O intermedirio parte nos dois contratos, pelo que no se desvincula da
conveno base, passando a coexistir duas relaes jurdicas distintas: a do contrato principal
e a do subcontrato.
No subcontrato permite-se o gozo por terceiros das vantagens de que o intermedirio
titular, bem como a substituio deste no cumprimento da actividade a que estava adstrito.
Exemplos:
Sublocao: art. 1060
Subempreitada: art. 1213
CONTRATOS PRELIMINARES
Contratos Preliminares e Contratao Mitigada
1: CONTRATOS PRELIMINARES. Os contratos preliminares so contratos cuja
execuo pressupe a celebrao de outros contratos.
Constituem exemplos fundamentais, que estudaremos infra ao pormenor:
Contrato-promessa [art. 410]
Pacto de preferncia [art. 414]
2: CONTRATAO MITIGADA. Os contratos preliminares no devem ser confundidos
com a figura da contratao mitigada, conforme configurada por MENEZES CORDEIRO nos
seguintes termos: na contratao mitigada no h qualquer vinculao a uma obrigao,
embora as partes assumam certos compromissos durante a fase das negociaes.
Eis alguns exemplos:
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constituio de dois direitos de crdito que concorrem
simultaneamente sobre o patrimnio do devedor.
2: MODALIDADES. Recordemos os conceitos supra enunciados, relativamente aos
contratos unilaterais/bilaterais e monovinculantes/bivinculantes.
MENEZES CORDEIRO prope a seguinte classificao, no mbito do contrato-
promessa:
Contratos-promessa monovinculantes: apenas uma das partes fica vinculada
celebrao do contrato definitivo.
Contratos-promessa bivinculantes: ambas as partes ficam vinculadas
celebrao do contrato definitivo.
O contrato-promessa unilateral [assim apelidado pelo art. 411] seria, segundo este
entendimento, um contrato sinalagmtico, j que implica prestaes correlativas [as
declaraes de ambas as partes], ainda que monovinculante [apenas uma das partes se
vincula a prestar]. O termo unilateral poderia induzir o discente em erro, fazendo-o crer
tratar-se de um negcio jurdico unilateral, nos mesmos termos dos arts. 457 ss: assim no o
; as duas partes celebram o contrato-promessa, embora apenas uma fique vinculada
celebrao do contrato definitivo.
Contra este entendimento, MENEZES LEITO considera no existir qualquer sinalagma
no contrato-promessa unilateral, j que a declarao negocial no pode ser vista como uma
obrigao, nem pode ser exigida. S existiria um sinalagma perfeito no caso de contrato-
promessa em que ambas as partes se vinculam celebrao do contrato definitivo e ambas
podem exigir da contraparte essa mesma celebrao. Prope, assim, a seguinte classificao:
Contratos-promessa unilaterais
Contratos-promessa bilaterais
Essa , alis, a designao legal dos mesmos [art. 410-2 e 411].
Com o devido respeito, sustentaremos aqui a primeira das posies [da autoria de
MENEZES CORDEIRO], j que a designao de contrato-promessa unilateral poderia ser
confundida com os [parcos] exemplos de negcios jurdicos unilaterais, redundado em
confuso terminolgica.
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Feita esta ressalva lingustica, a classificao das modalidades de contratos-promessa
em monovinculantes e bivinculantes pertinente, j que a promessa respeitante celebrao
de contrato definitivo para o qual a lei exija documento autntico ou particular, s vale se
constar de documento particular [art. 410-2]:
Contratos-promessa monovinculantes: assinado pelaparte que se vincula
celebrao do contrato definitivo.
Contratos-promessa bivinculantes: assinado por ambas as partes.
A maior parte das promessas monovinculantes [art. 411] so remuneradas, maxime
atravs do denominado preo de mobilizao: entrega, de uma s vez ou faseadamente, de
uma prestao pecuniria que constitui a contrapartida pela vinculao do contraente
celebrao do contrato definitivo. O contraente vinculado no fica, todavia, indefinidamente
sujeito a que a contraparte, que no se vinculou, possa exercer o direito de exigir a
celebrao do contrato definitivo: se as partes no convencionarem um prazo dentro do qual
esse vnculo seja eficaz, pode o tribunal fix-lo [art. 411]. MENEZES LEITO considera
existir, aqui, um sinalagma imperfeito, j que a parte que se vincula fica obrigada a celebrar
o contrato definitivo e adquire o direito contrapartida, enquanto que a contraparte deve
proporcionar essa contrapartida e goza do direito de exigir a celebrao do contrato.
No caso de promessa monovinculante remunerada, a mesma deve ser assinada apenas
pela parte que assume a obrigao de contratar [pela parte que se vincula, enfim], segundo
MENEZES LEITO[contra, GALVO TELLES e ANTUNES VARELA].
3: CONTRATO-PROMESSA BIVINCULANTE ASSINADO POR UM DOS PROMITENTES.
Questo pertinente aquela que versa sobre um contrato-promessa originariamente
bivinculante que foi apenas assinado por um dos promitentes. Pergunta-se: poder o mesmo
ser vlido como promessa monovinculante, permitindo a subsistncia da obrigao de quem
assinou o documento particular [art. 410-2]? A doutrina respondeu de quatro formas
diferentes:
Teoria da transmutao automtica desse contrato em contrato-promessa
monovinculante:
o Defendida por: jurisprudncia do STJ durante a dcada de 70.
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coerentemente sustentamos, concluirmos pela natureza sinalagmtica
de ambas as modalidades de contrato-promessa. Recorde-se o
entendimento de MENEZES CORDEIROque temos vindo a defender: o
contrato-promessa unilateral, assim apelidado pelo art. 411, um
contrato sinalagmtico, j que implica prestaes correlativas [as
declaraes de ambas as partes], ainda que monovinculante.
MENEZES CORDEIROadopta uma posio conciliadora: dada a diferente natureza dos
dois tipos de contrato-promessa [diferena essa no baseada na natureza sinalagmtica de um
em detrimento de outro, mas sim no nmero de partes que se vincula celebrao do
contrato definitivo], a situao s poderia ser de invalidade total, pelo que apenas a
converso poderia salvar o negcio jurdico. Todavia, a reduo pode, em concreto,
salvaguardar melhor os interesses do contraente vinculado. Nestes termos, propugna a
aplicao conjunta dos dois preceitos em causa [arts. 292 e 293] aliados boa f na
integrao de lacunas das declaraes negociais [art. 239], em ordem a encontrar a soluo
mais justa para o caso concreto.
No podemos deixar de concordar com esta soluo.
Um assento do STJ datado de 1989 [numa altura em que os assentos eram fonte de
direito, art. 2] pretendeu solucionar a querela doutrinria em questo, determinando que:
O contrato nulo mas pode considerar-se vlido como contrato-promessa
monovinculante, desde que essa tivesse sido a vontade das partes.
MENEZES LEITO e MENEZES CORDEIROconsideraram a formulao manifestamente
infeliz, j que apenas afastaria a teoria da transmutao automtica, reabrindo a discusso
relativamente s trs teorias que sobejavam:
MENEZES LEITO, ALMEIDA COSTA e jurisprudncia maioritria: o assento
adoptou a teoria da reduo.
GALVO TELLES e ANTUNES VARELA: o assento adoptou a teoria da
converso.
CALVO DA SILVA: o assento seria inconstitucional.
Em concluso, a questo est longe de pacificada e passvel de inmeras
interpretaes, de entre as quais optamos pela soluo de MENEZES CORDEIRO.
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essencial de o terceiro estar obrigado, para com o beneficirio da
promessa, a celebrar um contrato definitivo.
MENEZES CORDEIRO: instaurao de uma aco de reivindicao adaptada
contra o terceiro [art. 1315].
o MENEZES LEITO: a aco de reivindicao no tem natureza
constitutiva, ao invs do exerccio da eficcia real [aquisio
potestativa de um direito real], mas apenas de mera apreciao
reconhecimento de um direito real e consequente restituio da coisa
que seu objecto [art. 1311].
Face s crticas endereadas por MENEZES LEITO a cada uma das propostas
doutrinrias, o autor prope a instaurao de uma aco declarativa constitutiva,
eventualmente cumulvel com um pedido de restituio, em litisconsrcio necessrio contra
o promitente faltoso e o terceiro adquirente.
Incumprimento do Contrato-Promessa
1: MEIOS DE DEFESA. Ao contrato-promessa que seja incumprido por uma das partes
[promitente faltoso], pode o promitente fiel opor-lhe os seguintes meios de defesa:
Responsabilidade obrigacional [arts. 798 ss]
Execuo especfica [art. 830]
Sinal ou outra indemnizao pr-convencionada [art. 442]
Aumento do valor da coisa ou do direito [art. 442-2, 2 parte]
Direito de reteno [art. 755 f]Cada um destes meios que fazem valer a posio do promitente fiel sero estudados
infra com maior detalhe.
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venda do bem a terceiro, deve entender-se que o direito de crdito
do promitente fiel no prevalece sobre o direito do terceiro
adquirente [MENEZES CORDEIRO], uma vez que esse entendimento
equivaleria atribuio de eficcia real a todos os contratos-
promessa, derrogando-se o regime do art. 413. A favor da
prevalncia do [mero] direito de crdito do promitente fiel sobre o
direito real do terceiro, pronunciaram-se GALVO TELLES, OLIVEIRA
ASCENSOe, mais recentemente, PAULA COSTA E SILVA.
2: LIMITES EXECUO ESPECFICA. H casos em que a execuo especfica do
contrato-promessa no possvel:
Havendo conveno em contrrio [art. 830-1 e 2]:
o A possibilidade de execuo especfica da obrigao de contratar no
um regime imperativo, uma vez que pode ser derrogado.
o Presume-se conveno em contrrio caso as partes estipulem sinal ou
outra penalizao para o incumprimento da promessa, maxime
clusula penal [n 2] presuno ilidvel, nos termos gerais [art. 350-
2], de que as partes queriam uma indemnizao, e no a emisso
da declarao omitida.
Quando a execuo especfica seja incompatvel com a natureza da obrigao
assumida:
o A natureza do contrato-promessa no se apresenta como compatvel
com a sua constituio por sentena judicial nos seguintes casos [n1,
2 parte]:
Contrato-promessa relativo a contrato real quoad
constitutionem [penhor de coisas, mtuo, comodato e
depsito], j que se exige a tradio da coisa, de forma
espontnea, para se poder operar a constituio do contrato
definitivo: sem coaco para tal, pelo tribunal.
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Sinal
1: NOO. Em sede de contrato-promessa, o sinal assume uma funo
preponderante, j que o seu regime suscita inmeros problemas dogmticos quanto matria
que ora estudamos.
Por sinal [art. 442] entende-se a clusula acessria dos contratos onerosos mediante
a qual uma das partes entrega outra, por ocasio da celebrao do contrato, determinada
coisa fungvel.
2: REGIME GERAL. Esta clusula acessria tem uma utilidade prtica inquestionvel,
uma vez que fixa as consequncias do incumprimento do contrato oneroso na qual aposta:
Se a parte que constituiu/entregou o sinal deixou de cumprir a sua obrigao,
a outra parte tem o direito de fazer sua a coisa entregue [art. 442-2, 1
parte], ou se a impossibilidade for imputvel a essa parte.
Se o incumprimento partir de quem recebeu o sinal, tem este que o devolver
em dobro [art. 442-2, 1 parte], ou se a impossibilidade for imputvel a essa
parte.
Se no houver qualquer incumprimento de nenhuma das partes, e o contrato
for integralmente cumprido enquanto tal, a coisa entregue como sinal ser
imputada na prestao devida, se tiver a mesma natureza da obrigao
assumida [tratando-se se uma quantia monetria, ser subtrada ao montante
devido como preo, vg] ou restituda em singelo, se essa imputao no for
possvel [art. 442-1], sob pena de enriquecimento sem causa de quemrecebera o sinal [art. 473-1] facto no imputvel a nenhuma das partes.
Se houver impossibilidade imputvel a ambas as partes, os direitos recprocos
a indemnizao extinguem-se por compensao [art. 847], subsistindo o
dever de restituir o sinal em singelo.
Este regime [art. 442-1 e 2, 1 parte] aplica-se a qualquer contrato oneroso no qual
as partes estipulem sinal: face a estes traos gerais, MENEZES LEITO classifica o sinal
enquanto uma datio rei com funo confirmatria-penal, que se aproxima da clusula penal
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[art. 810 - embora no consista no pagamento a posteriori de uma quantia pecuniria, como
na clusula penal] e pressupe a entrega prvia de uma coisa fungvel [contrato real quoad
constitutionem e quoad effectum].
Ainda assim, a realizao de uma datio rei por uma das partes aquando da celebrao
do contrato no presume, nos termos gerais, a constituio de sinal [art. 440]: a datio rei
vista como uma antecipao do cumprimento da obrigao, e no como a constituio de
sinal, salvo estipulao expressa das partes.
3: O SINAL NO CONTRATO-PROMESSA. A redaco do art. 442 no clara quanto
diviso do mesmo. Todavia, doutrinariamente estabeleceu-se que os n 2, 2 parte, n 3 e n 4
se aplicam exclusivamente aos casos de sinal em contrato-promessa.
Em sede de contrato-promessa, diferentemente do que supra 2 foi enunciado, a
datio rei nunca se poderia qualificar como antecipao do cumprimento da prestao, uma
vez que o contrato-promessa apenas institui obrigaes de prestao de facto jurdico [a
emisso da declarao de celebrao do contrato definitivo]. Coerentemente, presume-se
que todas as quantias em dinheiro [datio pecuniae] entregues nesta sede, pelo promitente-
comprador ao promitente-vendedor, foram pagas a ttulo de sinal [art. 441]. Compreende-se:
a obrigao de pagamento do preo s surge com o contrato definitivo.
Esta presuno ilidvel nos termos gerais [art. 350-2], valendo a quantia, nesse
caso, como antecipao do cumprimento de uma obrigao futura, a imputar na prestao
devida. Se a obrigao no se chegar a constituir, a quantia deve ser restituda em singelo,
sob pena de enriquecimento sem causa de quem a haja recebido [art. 473-2, condictio ob
causam finitam].
Cumpre analisar detalhadamente o regime do sinal relativamente ao contrato-
promessa.
4: DIREITO AO AUMENTO DO VALOR DA COISA/DIREITO. Segundo o art. 442-2, 2
parte, no caso de incumprimento do contrato-promessa, o promitente-comprador que haja
recebido a coisa a que se refere o contrato prometido mediante tradio, tem o direito de:
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preceito seja reconduzida a esse instituto, por MENEZES LEITO, e no ao ressarcimento dos
danos. Est em causa, to-s, uma forma de obstar s vantagens auferidas pela no execuo
do contrato-promessa.
A tradio da coisa objecto do contrato definitivo constitutivo ou translativo de um
direito real, um pressuposto essencial para operar esta opo do promitente-comprador,
uma vez que a celebrao do contrato definitivo seria uma mera formalizao de uma
situao de facto, j consolidada: o uso e fruio da coisa em causa, desde a celebrao do
contrato-promessa.
Por outro lado, a exigncia do aumento do valor da coisa/direito pressupe ter sido
constitudo sinal, uma vez que a tradio sem sinal seria um acto de mera tolerncia
[MENEZES CORDEIROe MENEZES LEITO]. Contra este entendimento, pronunciou-se GALVO
TELLES. Com efeito, o disposto no art. 442-2, 2 parte consiste numa disposio excepcional,
destinada a corrigir um funcionamento desvirtuado do sinal, pressupondo a sua constituio
prvia. Se, diferentemente, no tivesse havido qualquer estipulao de sinal, o promitente-
comprador:
Receberia uma indemnizao pr-convencionada, se fosse o caso.
Poderia exigir uma indemnizao pelos prejuzos causados com o
incumprimento, nos termos gerais [arts. 798 ss].
Poderia exigir a execuo especfica do contrato [art. 830-1].
Com recurso a qualquer um destes meios, o promitente fiel obteria eficazmente a
reintegrao da sua esfera jurdica com o dano resultante do incumprimento, pelo que seria
desnecessria a opo do aumento do valor da coisa/direito, segundo MENEZES LEITO.
5: SINAL E EXECUO ESPECFICA. No art. 442-3, 1 parte, tambm exclusivamente
aplicvel aos casos de constituio de sinal em contrato-promessa, temos que em qualquer
dos casos [perda do sinal/restituio do sinal em dobro ou direito ao aumento do valor da
coisa/direito], o promitente fiel pode, em alternativa, requerer a execuo especfica do
contrato, nos termos do art. 830. Cumpre apreciar:
A redaco infeliz, uma vez que dir-se-ia que o promitente fiel teria sempre a
possibilidade de optar pela execuo especfica, em alternativa ao sinal. No assim:
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MENEZES LEITO pronuncia-se no primeiro sentido: uma vez que a excepo do
cumprimento consiste numa oferta de cumprimento em relao a um contrato-promessa, essa
oferta no faria qualquer sentido face a um contrato-promessa definitivamente incumprido,
antes consistindo numa forma de purgao da mora [evitar que a mora se converta em
incumprimento definitivo].
Conclui-se: para a aplicao do art. 442-2, 2 parte [direito ao aumento do valor da
coisa/direito] bastaria a mera ocorrncia de mora no cumprimento, segundo ANTUNES
VARELA e MENEZES CORDEIRO. Contra este entendimento, exigindo uma situao de
incumprimento definitivo, pronunciaram-se GALVO TELLES e CALVO DA SILVA.
Posies intermdias delinearam-se perante a controvrsia: ALMEIDA COSTA
considerou que o novo regime legal [art. 442-3, 2 parte] havia acrescentado ao art. 808
uma nova hiptese de transformao da mora em incumprimento definitivo [o direito ao
aumento do valor da coisa/direito]. Por seu lado, JANURIO GOMES considerou exigvel a
outorga ao promitente faltoso de um prazo suplementar de cumprimento, prvio restituio
do sinal em dobro ou do aumento do valor da coisa/direito, findo o qual o devedor poderia
oferecer-se para cumprir a obrigao [excepo do cumprimento do contrato-promessa] ou,
caso no o fizesse, a mora transferir-se-ia em incumprimento definitivo, nos termos gerais
[art. 808].
MENEZES LEITO, ante a querela doutrinria, estabeleceu alguns pontos assentes
sobre o regime do sinal no contrato-promessa:
O art. 442-3 uma disposio especfica sobre o regime do sinal no contrato-
promessa, pelo que dela no podero ser extradas concluses sobre o regime
do sinal em geral [art. 441-1 e 2, 1 parte].
Regime do sinal em geral [art. 441-1 e 2, 1 parte]: a lei exige o
incumprimento definitivo da obrigao, sob pena de se considerar a perda do
sinal ou a sua restituio em dobro enquanto sanes desproporcionadas para
simples mora no cumprimento. Por outro lado, cominar tais sanes simples
mora provocaria uma quebra sistemtica entre o regime do sinal e o regime
da clusula penal, com o qual o primeiro se identifica parcialmente [a
clusula penal apenas pode ser exigida com o incumprimento definitivo da
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obrigao, a menos que as partes a estabeleam para o atraso da prestao,
art. 811-1].
Regime do sinal no contrato-promessa [art. 442-2, 2 parte, n 3 e n 4]:
o
Diferentemente, a opo pelo aumento do valor da coisa/direito pode
ocorrer em caso de simples mora, valendo como renncia do
promitente fiel s regras gerais do sinal [as quais, em caso de
eventual converso em incumprimento definitivo, no poder invocar
a seu favor]. Sistematicamente encontra-se referida no art. 442-3, 2
parte, que, na 1 parte, menciona a execuo especfica [cujo
pressuposto a mora e no o incumprimento definitivo].
Havendo simples mora, o promitente fiel deve comunicar o
seu interesse no aumento do valor da coisa/direito ao
promitente faltoso, para que este, paralisando essa
restituio, possa oferecer-se para o cumprimento da
obrigao em falta [excepo do cumprimento do contrato-
promessa].
Verificando-se o incumprimento definitivo [seja por perda do
interesse do credor, seja pelo decurso do prazo da
interpelao admonitria, art. 808], o promitente faltoso
ter que restituir o aumento do valor da coisa/direito.
Esquema do regime do sinal:
Perda do sinal
Incumprimento definitivo
[art. 442-2, 1 parte]
Restituio do sinal em dobro
Simples mora ----- Opo pelo aumento do valor da coisa/direito
+ responsabilidade por danos moratrios
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2: PRESSUPOSTOS. Recaindo o direito de reteno sobre coisa imvel, pode o
promitente fiel que tenha recebido a coisa em tradio execut-la com preferncia aos
demais credores do devedor [art. 759-1], prevalecendo mesmo sobre hipoteca, ainda que
registada anteriormente [art. 759-2 e art. 5-2 CR Predial] direito crdito oponvel inter
partes e direito real de garantia oponvel erga omnes que lhe permite conservar a coisa na
sua posse.
Uma interpretao literal dos preceitos poderia tornar mais forte a pretenso do
promitente-comprador do que a do prprio comprador do imvel hipotecado!
Nestes termos, MENEZES LEITO considera que o direito de reteno, em caso de
incumprimento de contrato-promessa, pressupe no s tradio da coisa, mas tambm
constituio de sinal [veja-se a referncia a nos termos do art. 442, supra 1, e o que
supra foi dito quanto aos actos de mera tolerncia, quando haja tradio sem sinal].
Preconiza, pois, uma interpretao restritiva do preceito: crdito resultante do no
cumprimento imputvel outra parte respeita apenas ao direito ao aumento do valor da
coisa/direito, se o credor optar por essa alternativa [art. 442-2, 2 parte, supra], e no
indemnizao pelo incumprimento, nos termos gerais da responsabilidade obrigacional [arts.
798 ss]. Tambm no respeita ao direito restituio do sinal em dobro, uma vez que esse
direito ocorre haja ou no tradio da coisa [no pressupe a conexo directa com a coisa,
enfim].
Pacto de Preferncia
1: NOO. Em sede de contratos preliminares encontramos o pacto de preferncia
[arts. 414 ss]: a conveno pela qual algum [obrigado preferncia] assume a obrigao de
dar preferncia a outrem [preferente] na venda [negcio prefervel] de determinada coisa.
uma figura mais geral do que a preferncia na venda, j que o art. 423 admite obrigaes de
preferncia em relao a outros contratos onerosos que no tenham cariz intuitu personae. O
obrigado preferncia no se obriga a contratar com o preferente: antes a escolh-lo como
parte num negcio jurdico.
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um contrato preliminar de outro, tal como o contrato-promessa, embora o obrigado
preferncia no se obrigue a contratar, mas apenas a escolher algum como contraente.
Reformulemos: o pacto de preferncia a conveno pela qual algum assume a
obrigao de escolher outrem como contraente, nas mesmas condies negociadas com
terceiro, no caso de decidir contratar. necessrio que o preferente esteja disposto a
acompanhar, enfim.
um contrato unilateral, j que apenas uma das partes assume uma obrigao,
enquanto que o titular da preferncia livre de exercer ou no o seu direito.
Havendo preferncias recprocas, temos ainda dois pactos, ainda que num mesmo
documento. Se uma das partes assin-lo, a sua vinculao vlida, sem necessidade de
reduo ou de converso.
2: FORMA. O art. 415 remete para o regime do contrato-promessa, quanto forma
do pacto de preferncia [art. 410-2]. Nestes termos, se, para a celebrao do contrato
prefervel for exigido documento autntico ou particular, exige-se que o pacto de preferncia
conste de documento particular. Em qualquer outro caso, vinga a liberdade de forma, nos
termos gerais [art. 219]. Todavia, apenas ter que ser assinado pelo obrigado preferncia,
j que se trata de um contrato unilateral [cfr. supra 1].
No se aplica, contudo, o regime do art. 410-3: a remisso legal do art. 415 no tem
esse alcance [contrato-promessa relativo celebrao de contrato oneroso de transmisso ou
constituio de direito real sobre edifcio, ou fraco autnoma dele].
3: EFICCIA REAL. Nos termos gerais, a estipulao do pacto de preferncia atribui
apenas ao seu beneficirio um direito de crdito contra a outra parte, em face da
relatividade e inoponibilidade a terceiros.
A lei admite, contudo, que ao direito de preferncia seja atribuda eficcia real [art.
421 e 413], verificados os seguintes pressupostos:
Bens imveis e mveis sujeitos a registo
Estipulao expressa das partes
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Celebrado por documento particular com assinatura do obrigado, se no
for exigida escritura pblica para o contrato prefervel
Inscrio no registo
No se confunda esta figura com a das preferncias legais: essas tm sempre eficcia
real [podem sempre ser opostas ao terceiro adquirente], j que a prpria lei que concede a
preferncia na venda ou dao em cumprimento da coisa objecto de direito real ou pessoal
de gozo. Exemplos:
Compropriedade [art. 1409]
Arrendamento [art. 1091]
Com efeito, segundo o art. 422 o direito convencional de preferncia [art. 421] no
prevalece contra os direitos legais de preferncia, uma vez que as partes no podem,
mediante conveno, afastar direitos legalmente atribudos, ainda que registado!
O titular da preferncia no possui apenas, neste caso, um direito de crdito
preferncia, mas tambm um direito real de aquisio, oponvel erga omnes, mesmo a
posteriores adquirentes da propriedade.
Neste caso, o processo adequado para o exerccio do direito de preferncia a
denominada aco de preferncia [art. 1410]: extensvel a qualquer titular de direitos reais
de preferncia, e no apenas ao comproprietrio. Pressupostos:
Prazo: 6 meses
Depsito do preo devido, no prazo de 15 dias
Quanto legitimidade passiva para a aco de preferncia:
GALVO TELLES, ALMEIDA COSTA e MENEZES CORDEIRO: o obrigado
preferncia no seria parte legtima, salvo se o titular decidir cumular a
aco com um pedido de indemnizao.
ANTUNES VARELA e MENEZES LEITO: o obrigado preferncia tem
necessariamente que ser demandado, em litisconsrcio necessrio passivo
com o terceiro adquirente.
Caso as partes simulem o preo, nos termos dos arts. 240 ss, cumpre apreciar duas
hipteses:
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No: OLIVEIRA ASCENSOa referncia ao nome de terceiro impediria o
obrigado preferncia de celebrar um contrato para pessoa a nomear
[MENEZES LEITO e ROMANO MARTINEZ: nesse caso a prpria reserva de
nomeao deveria ser comunicada].
Sim: GALVO TELLES e MENEZES CORDEIRO, por razes de boa f.
Sim, mas apenas nas situaes em que o no-exerccio da preferncia
implique que subsistam relaes jurdicas entre o terceiro e o titular da
preferncia [vg compropriedade e arrendamento, supra]: PIRES DE LIMA,
ANTUNES VARELAe CARLOS BARATA.
Sim, desde que o terceiro seja um sujeito determinado, ou, em caso
inverso, deve a situao de indeterminao ser mencionada na
comunicao, sob pena de o obrigado no ter que exercer o seu direito
preferncia, e de o direito no precludir se no for exercido: MENEZES
LEITO.
Nos mesmos termos, a reserva de nomeao, no contrato para pessoa a nomear,
infra, teria que ser mencionada na comunicao para preferncia.
Em suma, a funo do pacto de preferncia permitir que o titular da preferncia
possa optar por contratar com o obrigado, em igualdade de condies com um terceiro
[recorde-se a noo supra 1]: nestes termos, se a comunicao no indicar o nome de
terceiro, no h qualquer hiptese de o titular da preferncia verificar a veracidade das
condies comunicadas. Conclui-se: o titular do direito da preferncia no tem que exercer o
seu direito se, na comunicao, no for indicado o nome do terceiro [MENEZES LEITO].
5: INCUMPRIMENTO DA PREFERNCIA. Com a comunicao e o exerccio da
preferncia, ambas as partes formulam uma proposta de contrato e respectiva aceitao,
pelo que, se voltarem atrs com a sua deciso, praticam um facto ilcito: preenchidos os
requisitos de forma, e verificadas proposta e aceitao, tal implica a celebrao do contrato
prefervel, sem mais.
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Quando tal no suceda, essas declaraes valem como promessas de contratar, o que
permitir o recurso execuo especfica, em caso de incumprimento definitivo celebrao
de contrato incompatvel, com terceiro [art. 830]:
Sem comunicao da preferncia
Com comunicao da preferncia, e aps comunicao, dentro do prazo,
da inteno do titular em exercer a preferncia
O titular da preferncia adquire o direito indemnizao pelo incumprimento
contratual, nos termos gerais dos arts. 798 ss: no pode, contudo, reclamar a coisa contra o
terceiro adquirente, uma vez que os direitos de crdito no prevalecem sobre os direitos
reais.
No incumpre a obrigao de preferncia quem se comprometer a dar preferncia no
arrendamento de uma casa e posteriormente o decidir vender a terceiro, vg: o obrigado
celebrou um contrato de natureza diferente do contrato prefervel, pelo que no h qualquer
incumprimento.
6. MANUTENO DA PREFERNCIA. H duas hipteses legais que justificam ainda a
manuteno da preferncia:
Unio de contratos [art. 417]: venda da coisa juntamente com outras,
por um preo global.
o Unio externa: estipulao comum do preo, sem qualquer
dependncia entre os vrios contratos o titular pode exercer
a preferncia pelo preo que for atribudo proporcionalmente
coisa [n 1, 1 parte].o Unio interna: h dependncia entre os vrios contratos, pelo
que o exerccio da preferncia afecta toda a unio de
contratos o obrigado pode exigir que a preferncia se faa
em relao a todas as coisas vendidas [n1, 2 parte]. Para tal,
exige-se que a quebra da unio interna acarrete prejuzos
apreciveis para uma das partes.
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Por isso frequentemente se apelida situao jurdica complexa daqui emergente
relao triangular, analiticamente decomposta em trs relaes:
Relao de cobertura ou de proviso: promitente e promissrio [art. 449]
Relao de justificao da atribuio ou de valuta: promissrio e terceiro
[atribuio patrimonial indirecta] interesse digno de proteco legal.
Relao de execuo: promitente e terceiro [execuo da determinao
do promissrio]
Eis algumas modalidades de contrato a favor de terceiro:
Contrato a favor de terceiro prprio ou imprprio
Contrato a favor de pessoa determinada ou indeterminada
Contrato a cumprir em vida do promissrio ou depois da morte deste
2: REGIME GERAL. O regime geral do contrato a favor de terceiro aquele que
verdadeiro, a favor de pessoa determinada e a cumprir em vida do promissrio.
O contrato a favor de terceiro constitui uma excepo ao regime da ineficcia dos
contratos em relao a terceiros [art. 406-2], uma vez que faz nascer automaticamente um
direito para o terceiro, surgindo independentemente da aceitao deste [art. 444-1] teoria
do incremento, vs teoria da aceitao e teoria da cesso. Esse direito de crdito legitima o
terceiro a exigir o cumprimento da promessa [art. 444-1].
Admite-se, contudo, que o terceiro rejeite a promessa, declarando-o ao promitente,
que o deve comunicar ao promissrio [arts. 447-1], extinguindo-se o direito por ele
adquirido. A adeso impede a revogao da promessa [art. 448-1].
Para alm do terceiro, o promissrio pode tambm exigir do promitente ocumprimento da sua obrigao [art. 444-2], uma vez que acordou com o promitente a
realizao da prestao a terceiro. Segundo TEIXEIRA DE SOUSAe MENEZES LEITO, existe
aqui apenas uma nica posio jurdica objectiva que permite a aquisio da prestao: o
direito de crdito de terceiro.
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3: CONTRATO A FAVOR DE TERCEIRO IMPRPRIO. A promessa de liberao de
dvida [art. 444-3] um contrato a favor de terceiro imprprio, uma vez que o promitente e
o promissrio acordam numa obrigao de resultado: a de que o promitente obter a extino
de uma dvida que o promissrio tem para terceiro. No h, aqui, qualquer adstrio a uma
prestao, pelo promitente, mas to-s a liberao da dvida do promissrio.
A prestao que o promitente realize perante terceiro, eventualmente, meramente
instrumental, a fim de obter o resultado da liberao do promissrio: s este tem interesse na
promessa, e no o terceiro.
4: BENEFCIO DE PESSOA INDETERMINADA. Se o beneficirio da prestao for um
conjunto indeterminado de pessoas [vg interesse pblico, no limite], estabelece-se uma
legitimidade difusa para a exigncia da prestao [art. 445 e 446].
5: PROMESSA A CUMPRIR DEPOIS DA MORTE DO PROMISSRIO . Esta constitui uma
excepo ao regime do art. 444-1, uma vez que o terceiro no pode exigir o cumprimento da
promessa antes da verificao da morte do promissrio. Pergunta-se:
As partes pretenderam atribuir ao terceiro logo um direito de crdito
sobre o promitente, o qual apenas se vencer no momento da morte do
promissrio? Se o terceiro morrer antes do promissrio, os seus herdeiros
sucedem no seu direito sobre o promitente [art. 451-2].
Ou pretenderam que o direito de crdito apenas se constitua aps a morte
do promissrio, beneficiando at l o terceiro apenas de uma expectativa
jurdica? Os herdeiros do terceiro no o sucedem em nada, uma vez que,
quando o terceiro morreu, ainda no era titular de qualquer direito [art.
451-1].
A lei foi compromissria nesta matria, tentando consagrar ambos os entendimentos.
Paradoxo? A lei serviu-se de presunes, a ilidir nos termos gerais: o direito s atribudo
com a morte do promissrio e este designa subsidiariamente como beneficirios os herdeiros
do terceiro.
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Ratificao do contrato ou de procurao anterior celebrao deste
[art. 453-2] requisito necessrio: atribuio de poderes representativos
por parte do nomeado, garantindo a sua vinculao ao contrato.
Sendo exigida ratificao, deve ser outorgada por escrito [art. 454-1], se
forma mais solene no for exigvel [n 2].
3: NATUREZA JURDICA. O contrato para pessoa a nomear um contrato
simultaneamente celebrado em nome prprio e em nome alheio.
A sua celebrao em nome prprio est sujeita a uma condio resolutiva, e a sua
celebrao em nome alheio est sujeita a uma condio suspensiva: a eficaz nomeao do
terceiro teoria da dupla condio, segundo MENEZES CORDEIRO.
TRANSMISSO DAS OBRIGAES
A TRANSMISSIBILIDADE DOS CRDITOS E DAS DVIDAS
Cesso de Crditos
TRANSMISSO DO LADO ACTIVO
1: NOO. A cesso de crditos consiste numa forma de transmisso de crdito que
opera por virtude de um negcio jurdico, normalmente um contrato celebrado entre o credor
[cedente] e terceiro [cessionrio] arts. 577 ss.
Exemplo: A, cedente locador, transmite o seu direito de crdito face a B, locatrio, a
C, cessionrio, que passa a cobrar as rendas.
No se exige qualquer consentimento do devedor, nem a prestao de qualquer
colaborao deste para que a cesso venha a ocorrer, uma vez que, para o devedor,
indiferente realizar a prestao perante um ou outro. A cesso de crditos tem, contudo, que
lhe ser notificada [art. 577-1]. Em suma, transmite-se o direito de crdito do credor/cedente
para o terceiro cessionrio, sendo que o ltimo ocupa a posio jurdica do primeiro.
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de relaes a constituir, segundo LARENZ e ANTUNES
VARELA.
Contra este entendimento: art. 1058 e 821, uma vez que
mesmo em relativamente a relaes j constitudas de
aplicar a teoria da transmisso. esta a soluo consagrada
relativamente transmisso de crditos futuros [MOTA
PINTO].
Exemplo: C tem um apartamento arrendado a B, que lhe paga renda. C vende, em
Maio de 2007, a totalidade das rendas do ano de 2008 a A.
Inexistncia de impedimentos legais ou contratuais a essa transmisso:
o Admitem-se: crditos como o direito de preferncia [art. 420] ou o
direito a alimentos [art. 2008].
o Probe-se: a cesso de crditos de direitos litigiosos a magistrados ou
outros funcionrios judiciais [art. 579], sob pena de nulidade [art.
580-2].
o Pressupe que no tenha sido convencionado entre o devedor e o
credor que o crdito no seria objecto de cesso [art. 577] pactum
de non cedendo, expressa ou tacitamente. Este pacto no coloca o
crdito fora do comrcio jurdico, mas apenas gera uma obrigao
para o credor de no o transmitir a outrem. No se trata de um caso
de nulidade da cesso.
o A conveno inoponvel a um cessionrio de boa f [art. 577-2].
No ligao do crdito, em virtude da prpria natureza da prestao, pessoa
do credor:
o Se tal suceder, no faria sentido obrigar o devedor a prestar perante
pessoa diferente. Exemplos: direito a alimentos [art. 2003], contrato
de servio domstico ou prestao de servio dos mdicos e
advogados.
o Sob pena de nulidade, nos termos do art. 294.
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3: EFEITOS DA CESSO DE CRDITOS. Quanto aos efeitos da cesso de crditos,
cumpre distinguir:
Efeitos em relao s partes:
o
Transmisso do crdito do cedente para o cessionrio
o A cesso opera por mero efeito do contrato
o A transmisso no imediatamente oponvel a terceiros
o Essa transmisso verifica-se com todas as vantagens e defeitos que o
crdito tinha, abrangendo garantias e outros acessrios [art. 582].
Transmitem-se as garantias inseparveis da pessoa do cedente
[art. 582-1]: fiana, penhor e hipoteca [arts. 627, 666 e
686 ss].
Direito de reteno: garantia intimamente ligada pessoa do
cedente, que s poder ser transmitida por acordo expresso
entre cedente e cessionrio [arts. 754 ss].
Reserva de propriedade: no pode ser transmitida com a
cesso de crdito, uma vez que seria necessria a resoluo
do contrato por falta de pagamento do preo [art. 409].
o A transmisso abrange as excepes que o devedor possua contra o
cedente [art. 585]: vg invalidade, resoluo ou prescrio.
o O cedente tem que prestar ao cessionrio a garantia da existncia e
da exigibilidade do crdito ao tempo da cesso [art. 587-1],
aplicando-se o regime do negcio base [arts. 892ss ou 956 ss, no
caso de compra e venda ou doao].
o Obrigao de entrega de documentos