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Direito Civil II: Contratos – Profª Cíntia Rosa Pereira Lima e-mail: [email protected] Apresentação da Disciplina - Parte Geral: 1ª Prova - 25/09 - Parte Especial Metodologia - Parte Teórica - Parte Prática Avaliação - 1ª Prova (7,0) - Seminário Prático (2,0) - Contrato (1,0) - 2ª Prova (10,0) Indicação Bibliográfica - NEGREIROS, Teresa. Teoria do Contrato: Novos Paradigmas. 2ª Ed. Rio de Janeiro, 2006 - MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: O novo regime das relações contratuais. 4ª Ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

Teoria Geral dos Contratos – Evolução Histórica Evolução Histórica da Doutrina Contratual - Direito Romano: Princípio da Formalidade - Nexum (tipo de contrato de empréstimo) e stipulatio (promessa de prestar) * Princípio da Liberdade de Formas (Art. 104, II, CC). Ex.: Art. 108, CC - Direito Canônico: Princípio pacta sunt servanda (Fé à palavra dada) - Validade das convenções, atribuindo-lhes força obrigatória e amenizando a exigência de um formalismo extremado do Direito Romano. OBS.: Cláusula rebres sie standibus (assim enquanto as coisas permanecerem) – mitigação do princípio da força obrigatória frente a novos contextos * Princípio da Força Obrigatória dos Contratos – os contratos fazem lei entre as partes - Direito Natural: Willenstheorie - Kant: Autonomia da Vontade Liberdade Contratual = Direito natural do homem - O direito só poderia ser restringido pela vontade humana - Liberalismo Econômico: Voluntarismo Jurídico (laissez-faire, laissez-passer: deixa fazer, deixa passar) - Codificações do Séc. XIX (Ex.: CC 1916): marcadas pela ideologia liberal do Estado capitalista * Princípio da Liberdade Contratual – o homem tem liberdade de realizar a figura contratual que achar mais interessante - Alteração dos princípios tradicionais - Necessidade de mudança ideológica devido à desigualdade gerada entre as partes - Inadequação dos princípios tradicionais da liberdade contratual e da força obrigatória dos contratos diante da contratação em massa - Georges Ripert: A Regra Moral das Obrigações e Aspectos Jurídicos do Capitalismo Defesa da intervenção estatal nos contratos “Entre o forte e o fraco, há a lei que liberta e a liberdade que escraviza”. - CDC e CC 2002: abrandamento de princípios tradicionais * Princípio da Relatividade dos Efeitos do Contrato - Princípios Sociais: Cláusulas gerais aplicadas ao contexto social - Boa-fé Objetiva - Função Social do Contrato - Equilíbrio Contratual Em suma, o contrato hoje extrapola a mera satisfação de interesses privados, e é encarado como mecanismo fundamental para o desenvolvimento social Conceito de Contrato - Contrato como negócio jurídico bilateral: - Proposta ou oferta + aceitação

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- Espécie de negócio jurídico que se restringe apenas ao direito das obrigações, criando, modificando ou extinguindo as mesmas. OBS.: O contrato NEM SEMPRE é bilateral; pode ser unilateral (negócio jurídico bilateral que gera obrigações unilaterais – a uma só parte) - Antunes Varela: “Contrato é o acordo vinculativo assente sobre duas ou mais declarações de vontade contrapostas, mas perfeitamente harmonizadas entre si e que visam estabelecer uma composição unitária de interesses”. - Junqueira: “Contrato é um negocio jurídico, uma manifestação de vontade realizada sob determinadas circunstâncias (circunstâncias negociais) que é socialmente vista como capaz de gerar efeitos jurídicos. Esta manifestação de vontade realizada sob certas circunstâncias é a declaração de vontade”. * ACORDO DE DECLARAÇÕES DE VONTADE = vontade que, para ser acordada, deve ser antes expressa - Contrato ≠ Pacto: Pacto é acessório ao contrato, é cláusula aposta em certos contratos especiais - Contrato ≠ Convenção: Convenção é gênero (criam, modificam e extinguem obrigações), do qual o contrato é espécie (só cria obrigações) - Contrato ≠ Acordo: Acordos não são tutelados pelo ordenamento jurídico, mas sim pela moral.

Princípios Contratuais Tradicionais e Nova Teoria Contratual (Princípios Sociais) Os Princípios Contratuais Tradicionais ou Clássicos ou Liberais são regras em prol da validade e força obrigatória dos vínculos obrigacionais emanados da vontade livre individual. Os princípios tradicionais têm limitações que impedem que vigorem de maneira absoluta. 1. Princípio das liberdades contratuais: - Kant: indivíduo como ente de razão – vincula outros através de sua vontade intima e consciente - Liberdades contratuais: Liberdade de contratar: celebrar contratos ou não - Poder do indivíduo de provocar os efeitos legais que se pretende alcançar e escolher o parceiro contratual - Art. 5º, II, CF: ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei - Liberdade não absoluta pela existência de contratos obrigatórios e pelo dever, em determinadas situações, de se contratar com pessoa determinada Liberdade de estipular o contrato: escolher a forma contratual, típica ou atípica - Art. 425, CC: é lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código - Liberdade não absoluta, pois deve respeitar as normas cogentes Liberdade de determinar o conteúdo do contrato: desde que o objeto seja lícito e preencha os requisitos do Art. 104, CC. * Outras limitações: ordem pública, bons costumes e função social do contrato (Art. 421, CC)

2. Princípio da força obrigatória dos contratos: decorrente do voluntarismo jurídico e da autonomia da vontade. O contrato faz lei entre as partes desde que as vontades estejam dentro dos limites da lei. - Irretratabilidade unilateral da declaração de vontade: uma das partes não pode desconstituir ou alterar o contrato previamente formado por duas declarações convergentes de vontade. O contrato só pode ser alterado pelo distrato ou eventualmente por meio de um adendo (ambos requerem manifestação das duas partes) - Intangibilidade do conteúdo do contrato: o conteúdo do contrato não pode ser alterado unilateralmente pelas partes e nem pelo juiz, num primeiro momento. Exceção: quando a lei permitir – em casos de onerosidade excessiva, revisão judicial dos contratos e denúncia do contrato (Art. 478, 317 e 473, CC) * Outras limitações: valoração do aspecto social - mudanças nas circunstâncias da formação do contrato e atuais possibilitam adaptação do conteúdo do contrato

3. Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos: o contrato celebrado entre as partes não pode beneficiar ou prejudicar terceiros. O contrato não cria direitos nem pode impor obrigações além do que foi

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previamente contratado pelas partes (aspecto objetivo – importância da qualificação adequada do objeto do contrato). Além disso, os direitos e obrigações oriundas do contrato alcançam apenas quem é parte do mesmo (aspecto subjetivo). * Limitações: o contrato tem uma função social, função que deve considerar a sociedade como um todo, podendo ter efeito para terceiros.

4. Princípio do consensualismo ou consentimento: para a formação do vínculo contratual basta a manifestação de vontade das partes. * Limitações: no sentido de que, em certos casos, a lei exige uma forma preestabelecida. Vê-se que os princípios contratuais clássicos são relativizados, através da aplicação de novos princípios, chamados de princípios contratuais sociais, como o princípio da boa-fé objetiva, a função social do contrato ou o princípio do equilíbrio contratual.

Princípios Contratuais Sociais Os princípios contratuais sociais se distinguem dos princípios clássicos, pois se pautam pelo aspecto social, enquanto os clássicos têm caráter individualista. Não se aceita mais a ideologia de que o contrato diz respeito somente às partes contratantes. O contrato se insere no contexto social, afetando de alguma forma a sociedade como um todo. Nota-se que os princípios sociais não excluem os clássicos, mas devem ser aplicados harmoniosamente para que se alcance a igualdade real entre as partes contratantes. 1. Princípio da boa-fé objetiva: é o princípio social que irradia aos demais, ressaltando sua relevância. - Boa-fé objetiva × Boa-fé subjetiva: a boa-fé subjetiva se liga a crença individual (fator psicológico), enquanto que a boa-fé objetiva se liga a regra de conduta do individuo em sociedade.

- Princípio × Cláusula Geral: a cláusula geral nem sempre contém um princípio, mas pode conter, como no caso da cláusula geral da boa-fé objetiva (Art. 422, CC). O princípio da boa-fé objetiva é uma cláusula geral que estabelece padrões de comportamentos. Cláusula geral: meio legislativamente hábil para permitir o ingresso de princípios valorativos no ordenamento jurídico Conceito dinâmico da boa-fé objetiva = atuação refletindo no outro, respeitando-o e também respeitando seus interesses, agindo com lealdade, sem abuso e sem lesão ou desvantagem excessiva, cooperando para o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses das partes.

- Funções da cláusula geral da boa-fé objetiva: Função interpretativa: interpretação de negócios jurídicos e contratos pelo juiz (Art. 113, CC) Função integrativa: diante da lacuna da lei, o juiz determinará no caso concreto o padrão de comportamento que se espera das partes, impondo-lhes deveres anexos ou colaterais e preenchendo a lacuna da lei. Função corretiva: correção de distorções e cláusulas abusivas do negócio jurídico ou contrato - Âmbito de aplicação da cláusula geral da boa-fé objetiva: insuficiências e deficiências Amplitude: limitação da aplicação da boa-fé objetiva à conclusão e execução do contrato, sem mencionar as fases pré e pós contratuais. Natureza jurídica: o Art. 422, CC não define se a cláusula geral de boa-fé é norma cogente ou dispositiva. Deficiência: ausência de disposições sobre os deveres anexos, as cláusulas faltantes e as abusivas. - Boa-fé objetiva na fase pós-contratual: deve ser observada, gerando a responsabilidade pós-contratual * Entendimento jurisprudencial = deve-se responder pelo inadimplemento contratual quando não se observam os deveres anexos impostos pela boa-fé objetiva ainda que na fase pós-contratual - Boa-fé como fundamento para a repressão às condutas contraditórias: Venire contra factum proprium: condutas contraditórias geram uma surpresa injusta e que deve ser coibida pelo Direito através da aplicação da boa-fé objetiva. Surrectio: a atitude de uma das partes gera na outra a expectativa de direito justo e legítimo, ainda que não tenha sido pactuado.

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Supressio: prolongada abstenção do exercício de um direito, gerando a expectativa de que tal direito não será efetivamente exercido. Tu quoque: se uma parte agiu de um modo omisso, não pode exigir da outra um comportamento diferente. Ex.: aquele que não executou sua prestação no contrato sinalagmático não pode exigir, da parte contrária, a contraprestação. 2. Princípio da função social do contrato: Art. 421, CC – exigências sociais fazem com que o contrato deixe de ser mero instrumento de transferência de propriedade para assumir o papel de criador de riquezas, dotando-se de função social. - Conceito de função social do contrato: “Função social” = conceito jurídico indeterminado, definido diante de cada caso concreto Função social do contrato inter partes (interesses internos às partes contratantes): função social do contrato como norteador da atuação das partes contratantes, que devem exercer direitos e obrigações conforme os valores constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Função social do contrato ultra partes (interesses externos às partes contratantes): conteúdo genérico e abstrato ultra partes, denominado de conteúdo social, pois atingirá pessoas que não foram partes do contrato em prol do bem comum. A partir do momento em que se constata que o contrato desempenha uma função socialmente relevante, o Direito passa a regulamentá-lo tendo em vista seu impacto positivo e negativo na sociedade. 3. Princípio do Equilíbrio Contratual: o Legislador deve prever meios e o juiz deve garantir a proporcionalidade entre a prestação e a contraprestação, conforme o que razoavelmente se podia esperar. - Mitigação do princípio da força obrigatória dos contratos: a vontade individual da parte deve se conjugar com outros elementos para que se conheça o exato alcance das disposições contratuais (Art. 113, CC) - Equilíbrio econômico do contrato: assegurar a igualdade entre as partes contratantes Vertente subjetiva: efetivação da igualdade real entre os contratantes Vertente objetiva: equilíbrio entre os direitos e as obrigações das partes 4. Princípio da proteção da parte vulnerável: medidor de uma sociedade livre, justa e solidária; - Os dispositivos contratuais devem ser interpretados conforme à Constituição, como ferramentas para se alcançar a igualdade real entre as partes e assim, a justiça contratual. - Aproximação dos contratos comuns aos contratos de consumo em que o CDC expressamente garante a proteção da parte mais vulnerável (consumidor) - Art. 4º I, CDC: conotação ideológica em favor da parte mais fraca, o consumidor (presunção absoluta da vulnerabilidade do consumidor) - Georges Ripert: Impossibilidade de existir igualdade entre as partes contratantes, pois há uma constante superioridade de uma das partes contratantes sobre a outra - Vulnerabilidade (presunção absoluta) × Hipossuficiência (deve ser provada casuisticamente para inversão do ônus da prova - Art. 6º, VIII, CDC) - Três situações de vulnerabilidade: técnica (consumidor atua em área desconhecida), jurídica (ausência de conhecimentos de economia e impossibilidade de recorrer às medidas jurídicas) e fática ou socioeconômica (poder econômico dos fornecedores contra os consumidores)

Sinalagma e causa contratual e relação contratual de fato 1. Sinalagma contratual: é o que liga as partes contratantes que assumem o dever de prestações recíprocas (presente em contratos sinalagmáticos ou bilaterais) - Espécies: Sinalagma genético: liame recíproco entre as partes contratantes no momento da contratação Sinalagma funcional: analisado no decorrer do processo obrigacional; as obrigações reciprocamente assumidas entre as partes devem apresentar atributos que garantam o equilíbrio contratual. - Consideration: Common Law – requisito de existência do contrato Troca de valores: só existe contrato se houver, além da manifestação de vontade convergente, alguma troca entre as partes. Elemento essencial para distinguir promessas contratuais de promessas gratuitas

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Crítica doutrinária por ser inútil 2. A causa dos contratos: complexidades e posições doutrinárias divergentes

- Anticausalismo: corrente de juristas que não aceita a causa dos contratos como fator de existência, validade e eficácia do contrato, pois acreditam que tal análise é irrelevante e tem conceito problemático. - Causalismo: defendem a investigação da causa nos negócios jurídicos, dentre eles o contrato. * Na França, a causa é elemento de validade. Na Alemanha, é elemento de eficácia. - Sentidos da palavra “causa”: 1. Causa em sentido subjetivo: motivo determinante que levou as partes a contratarem entre si (causa lícita ou ilícita) 2. Causa como fato jurídico que dá origem ao negócio jurídico 3. Causa em sentido objetivo: investigação da função prático-social ou econômico-social do contrato (sentido utilizado atualmente na definição da causa contratual) - Funções da causa nos contratos: dependendo do contexto será fator de invalidade ou de ineficácia A causa da obrigação varia de acordo com o tipo contratual, podendo ser: * Pressuposta: em contratos reais e unilaterais – a causa da obrigação do devedor é o fato de ter recebido o objeto da prestação de seu credor * Final: em contratos sinalagmáticos – a causa da obrigação de cada contratante é o comprometimento com o outro * Liberalidade: em contratos gratuitos a liberalidade é a própria causa da obrigação

3. Relação contratual de fato - Necessidade de desenvolver uma justificativa para relações tipicamente contratuais, mas que, em sua formação, não observaram os meios tradicionais, como oferta e aceitação pelas partes contratantes - Parte da doutrina alega que a relação contratual de fato é desnecessária - Fonte das obrigações não negociais, pois não derivam de relação contratual válida.

Requisitos subjetivos, objetivos e formais 1. Pressupostos subjetivos: qualidades das partes contratantes - Capacidade: aptidão para manifestar vontade a respeito do conteúdo do contrato Relativamente incapazes devem ser assistidos por representante, sob pena de anulabilidade Absolutamente incapazes devem ser representados por representante, sob pena de nulidade - Legitimação: capacidade específica – aptidão específica para contratar. A legitimação decorre da relação que existe entre o sujeito e o bem e que o autoriza a celebrar o contrato * A legitimação se distingue da capacidade genérica porque é circunstancial. 2. Pressuposto objetivo: objeto do contrato deve ser lícito, possível, determinado e com valor econômico * Além disso, requer-se o consentimento, que deve ser livre, sério e isento de vícios 3. Forma: modo de exteriorização do conteúdo do contrato - Princípio da liberdade de forma: a lei não requer uma forma específica para contratar, basta a declaração de vontade das partes contratantes, que pode ser externada verbalmente ou de forma escrita, salvo exceções. * Exceções: contratos formais ou solenes – que impõem uma forma específica, sob pena de nulidade - A forma escrita do contrato desempenha algumas finalidades: a) Torna certa e induvidosa a manifestação de vontade b) Se assinado pelos contratantes e duas testemunhas, é um título executivo extrajudicial c) Protege terceiros 4. Conteúdo do contrato: conjunto de disposições que regulam os interesses das partes contratantes - Preâmbulo: qualificação das partes contratantes - Contexto: cláusulas contratuais - Disciplina sobre os elementos essenciais do negócio jurídico, os elementos naturais e podem incluir elementos acidentais (condição, termo e encargo – dispensáveis e incluídos pela vontade das partes)

Formação dos Contratos

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A regra é que o contrato se forma com a convergência das declarações de vontade das partes contratantes – quando a proposta e a aceitação se integram reciprocamente. O problema é que as declarações podem ser dadas instantaneamente ou pode haver um lapso temporal entre a declaração de vontade do proponente (proposta) e a do oblato (aceitação) Outra distinção que deve ser feita na teoria de formação dos contratos é entre o contrato real, que só se forma com a entrega da coisa, e o contrato consensual, que requer o consenso de declarações de vontade das partes. 1. Proposta: início da celebração de um contrato - Natureza jurídica: ato pré-negocial cujos efeitos estão determinados na lei; é uma declaração de vontade essencial para a formação dos contratos, pois obriga o proponente. - Proposta × tratativas: tratativas são atos preparatórios do contrato * Em contratos de grande valor elabora-se uma minuta do contrato (expressa as negociações preliminares por escrito); a minuta não tem efeito vinculante, mas surgem alguns deveres decorrentes da cláusula da boa-fé objetiva, que ocasionam a culpa in contrahendo, que leva ao surgimento da responsabilidade pré-contratual (ressarcimento de danos emergentes e lucros cessantes). *O contrato preliminar é outro instituto, diferente das tratativas, pois dele surge a obrigação de celebrar o contrato definitivo, onde se uma das partes se negar a dar a declaração de vontade após o contrato preliminar, o juiz supre essa falta. a) Conceito de proposta: é a declaração receptícia de vontade dirigida à pessoa com a qual se pretende celebrar um contrato, vinculando-se (o proponente) aos termos da proposta. - Há três formas de se iniciar a negociação de um negócio jurídico, podendo ser por proposta, oferta ao público (proposta dirigida ao público) e publicidade, mas não há distinção quanto aos efeitos, pois todas são obrigatórias e vinculativas. As meras conversas ou negociações preliminares não vinculam as partes. OBS.: Quando a proposta for dirigida ao público, ou seja, feita a pessoa determinável é denominada oferta ao público. b) Requisitos da proposta: a proposta deve ser inequívoca, precisa e completa; devendo conter as cláusulas essenciais do contrato. c) Efeitos da proposta: a proposta obriga o proponente, mas essa obrigatoriedade pode ser excluídas em três hipóteses (Art. 427, CC): I. Se constar nos termos dela: "esta proposta não vincula o proponente"; II. Dependendo da natureza do negócio; III. Dependendo das circunstâncias do caso. - A forma normal de extinção da proposta é a consequente aceitação. A proposta perde seus efeitos diante da recusa. - Sendo entre presentes a aceitação deve ser imediata. - A questão que se coloca é a oferta feita a pessoa ausente, que não possibilita a resposta imediata. Neste contexto, surge um problema decorrente da vinculação do proponente até a outra pessoa receber a proposta, manifestar sua aceitação ou não e o prazo para que esta resposta chegue ao proponente. d) Modalidades de proposta: I. Proposta feita a pessoa presente (com meio de comunicação imediata): a resposta deve ser imediata. * Pode ser com prazo (caduca se não for aceita dentro do prazo estipulado) ou sem prazo (caduca se não for aceita imediatamente). II. Proposta feita a pessoa ausente: * Proposta sem prazo: deixa de ser obrigatória se decorre tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente. * Proposta com prazo: proposta feita com prazo para a emissão da resposta, após decorrido esse tempo e não houver aceitação deixa de ser obrigatória.

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* Proposta a que se segue retratação: a proposta não é obrigatória se a retratação do proponente chega ao conhecimento do oblato antes de ele ter expedido a resposta, ou ao mesmo tempo. e) Da retratação do proponente: só é eficaz quando o proponente se arrepende e sua retratação chega antes do oblato receber a proposta e emitir sua aceitação. f) Distinção entre proposta, convite a contratar, oferta ao público e publicidade: - A oferta ao público é uma manifestação receptícia da vontade, sendo feita a oferta a um público em geral (diferentemente da proposta, que é feita a pessoa certa). É vinculante (obriga o individuo que veiculou a oferta), mas pode ser limitada pelas reservas (disponibilidade em estoque, por exemplo).

- O convite a contratar não vincula as partes (invitante e invitado). O invitado apenas se vinculará caso faça sua oferta, sendo que o invitante estará vinculado à sua aceitação, pois ao invés de ofertar, ele somente invitou que outras pessoas o façam. É uma mera informação, com ausência de intenção do indivíduo a celebrar o contrato. * A noção de oferta ao público se confunde com a de publicidade. A emissão de declaração de vontade receptícia com o fim de ofertar um produto ou serviço, trata-se de publicidade. - O CDC possibilita a execução específica da obrigação se o consumidor assim preferir (em relações privadas se resolve em perdas e danos). Assim, não se aplica o art. 429, CC às relações de consumo, pois é difícil colocar todos os requisitos essenciais ao contrato em um anúncio; Mas a publicidade é vinculante quando contiver as informações necessárias à conclusão do contrato. - Entende-se por invitatio ad offerendum a comunicação não-vinculatória de uma pessoa destinada ao público em geral, informando sobre bem ou serviço, sem clara intenção de concluir o contrato a partir da manifestação, possuindo conteúdo informativo e descritivo.

2. Aceitação: fase conclusiva no processo de formação do contrato. - O oblato deve manifestar sua intenção de vincular-se ao que foi proposto, não caracterizando aceitação o mero aviso de recebimento. a) Conceito de aceitação: declaração receptícia de vontade, mediante a qual o destinatário da proposta (oblato) manifesta intenção em concluir o contrato, a partir da sua integral anuência aos termos da proposta, desde que o faça dentro do prazo estipulado. - Manifestação de vontade (expressa ou tácita) do destinatário da proposta, em que adere a todos os termos desta, concluindo-se o contrato, desde que chegue ao conhecimento do ofertante em tempo hábil - Qualquer alteração na proposta original importa em recusa desta e em nova proposta (contraproposta). b) Contraproposta: aceitação modificativa da proposta. - A aceitação tardia também equivale à contraproposta, mas a lei obriga o proponente a comunicar o oblato deste atraso, sob pena de ter de indenizá-lo por perdas e danos. c) Modalidades de aceitação: pode ser feita de forma expressa, tácita (comportamentos que exteriorizam a aceitação) ou pelo silêncio (quando a lei não exigir a forma expressa). d) Da retratação (arrependimento) do oblato: a retratação só produzirá efeitos se chegar ao proponente antes da aceitação ou simultaneamente. 3. Contrato entre presentes: considera-se concluído instantaneamente o contrato celebrado entre presentes - Entre presentes, a aceitação deve ser imediata. - Se a proposta for feita sem prazo ou não for imediatamente aceita, não haverá contrato algum. - Dificuldades quanto à determinação do momento e do local da conclusão do certame: omissão da legislação sobre contrato entre presentes - O art. 428, I determina que o contrato celebrado por telefone também é considerado “entre presentes”. 4. Contrato entre ausentes: é aquele formado por um meio de comunicação que impõe um lapso temporal entre a oferta e a aceitação. - O grande desafio desse tipo é definir o momento de formação do contrato e a permanência do efeito vinculativo da proposta.

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a) Momento da formação do contrato: há alguns sistemas que tentam definir o momento da conclusão do contrato entre ausentes I. Sistema da cognição ou da informação: o contrato conclui-se no momento em que o proponente toma conhecimento do conteúdo da aceitação. Quem defende diz que é lógico; quem critica diz que é impraticável, pois geraria uma situação de vaivém de comunicação em escala interminável. II. Sistema de agnição ou da declaração: o contrato se conclui no momento que a vontade se afirmou por um ato exterior. Há três teorias a respeito:

- Teoria da declaração propriamente dita: o momento da conclusão do contrato seria o ato em que o aceitante formula a resposta. * A crítica que se faz é que é inconcebível que alguém se vincule sem ter conhecimento da constituição do vínculo (quando a pessoa, por exemplo, está redigindo um email). - Teoria da expedição ou da transmissão: o momento da conclusão do contrato é o do envio da resposta ao proponente. Teoria utilizada no CC brasileiro (art. 434). * A vantagem dessa teoria é a desnecessidade de se provar o momento em que a mensagem chega à esfera de domínio do destinatário. Mas pode ser mudado para o momento de recebimento pela vontade das partes. - Teoria da recepção: a conclusão do contrato se dá no momento em que a resposta positiva do oblato chega materialmente às mãos do policitante. Teoria usada pelo BGB.

- Em suma: no Brasil, o contrato se forma no momento em que o oblato envia sua aceitação, ressalvado o direito de retratação do oblato (desde que chegue antes ou simultaneamente à aceitação). Mas, se o proponente tiver se comprometido a esperar a resposta, o contrato não se conclui com a expedição, mas após o recebimento da resposta pelo proponente. Por fim, se as partes tiverem predeterminado um prazo para a aceitação, o contrato se aperfeiçoa apenas após este prazo convencionado pelas partes. 5. Lugar da formação do contrato: é importante definir o lugar para definir o foro competente e a legislação aplicável. - O contrato entre presentes tem por lugar o local onde se encontram as partes contratantes. - O contrato entre ausentes tem-se no lugar onde foi proposto (art. 435, CC). - Não deve se confundir lugar da formação do contrato com lugar de pagamento, que é em regra no domicílio do devedor. - ATENÇÃO: Nas relações de consumo é estabelecido o foro privilegiado do consumidor, sendo esta matéria relevante diante da realidade do comércio eletrônico. 6. Silêncio como manifestação de vontade: - O silêncio pode ser considerado como aceitação tácita quando a lei assim prever, mas não se admite o silêncio, tomado isoladamente, como algo suficiente para a conclusão do contrato. - Pontes de Miranda distingue entre tacitude stricto sensu (atos dos quais se possa inferir a manifestação de vontade da parte) e silêncio (ausência de tais atos). Art. 432, CC; art. 111, CC; art. 39, CDC; 7. Conduta como manifestação de vontade: às vezes, a manifestação de vontade da parte é exteriorizada por um comportamento. - Deve-se distinguir: Declaração tácita: é aquela que resulta de atos, atitudes ou comportamentos incompatíveis, segundo os casos, com certa concordância ou discordância. Declaração implícita: decorre da interpretação da manifestação de vontade exteriorizada. - Declaração tácita é uma manifestação indireta da vontade, aquela que se deduz da conduta do declarante. - Deve-se analisar com cautela a aceitação do contrato pela conduta, principalmente em casos do comércio eletrônico.

Negociações preliminares e contrato preliminar 1. Negociações preliminares: são as sucessivas tratativas em que os contratantes discutem e estabelecem os parâmetros para a futura contratação. - O tema adquiriu novos contornos devido à aplicação do principio da boa-fé objetiva na fase pré-contratual (tratativas negociais ou tratos preliminares).

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- Conteúdo do contrato: 1. Conteúdo mínimo: corresponde ao cerne de um tipo contratual nominado ou inominado. “Essência do negócio jurídico” que se desdobra nas subespécies in abstrato (tipo) e in concreto (token). 2. Conteúdo agregado: compreende os elementos que podem ser alterados e até eliminados pelos contratantes, em alguns casos. Se desdobram nas subespécies de conteúdo: cogente e dispositivo 3. Conteúdo peculiar: elementos que são acrescentados voluntariamente pelos contratantes - Nos tratos preliminares, os contratantes discutem o que vai compor o conteúdo do contrato. Mas não há efeito vinculante, apenas a possibilidade de ensejo à responsabilidade por danos causados pela ruptura injustificada das negociações preliminares. a) Responsabilidade pré-contratual (culpa in contrahendo) - Formação do contrato: momento em que se verifica a correspondência entre proposta e aceitação * Antes desse momento = fase pré-contratual - Fase pré-contratual: partes discutem sobre o conteúdo mínimo, o agregado dispositivo e também sobre o conteúdo peculiar que comporá o futuro contrato. Não há efeito vinculativo ou obrigação de celebrar o contrato nessa fase, mas pode haver obrigações decorrentes da inobservância dos deveres anexos. * Responsabilidade civil extra contratual ou aquiliana: ainda não há contrato, mas há responsabilidade - Pressupõe-se dano patrimonial = lucro cessante e danos emergentes (perdas e danos) * Art. 422, 186, 187 e 927, CC - As tratativas negociais podem gerar grande probabilidade de que o contrato seja celebrado (expectativa legítima) ou podem demonstrar que a contratação definitiva será pouco provável (mera esperança de celebrar contrato). Situações levadas em consideração para analisar o quantum indenizatório. - Ihering × Windscheid: teorias diferentes para explicar o mesmo fenômeno - Possibilidade de responsabilizar uma das partes contratantes por romper inesperada e injustificadamente as tratativas negociais b) Teoria da responsabilidade por perda de uma chance: são indenizáveis os danos que decorrem da frustração de uma oportunidade ou da expectativa futura que se concretizaria em circunstâncias normais. - Chance séria e real, correspondente a mais de 50% de probabilidade de concretização do contrato 2. Contrato preliminar: tem natureza jurídica contratual, com efeitos vinculantes. a) Conceito: modalidade contratual através da qual os contratantes se obrigam a concluir outro negócio jurídico (o futuro e definitivo), o contrato principal. - Distingue-se pelo objeto: objeto = compromisso assumido pelos contratantes em celebrar o contrato definitivo. Questiona-se a utilidade desta figura contratual - Socialmente relevante, pois apresenta uma garantia às partes contratantes da futura contratação em definitivo quando não seja possível celebrá-lo de imediato. b) Objeto do contrato preliminar: prestação = obrigação de fazer; celebrar o contrato definitivo. - Obrigação de prestar declaração de vontade - Distingue-se do objeto do contrato definitivo, que pode ser uma obrigação de (não) fazer/dar c) Espécies de contrato preliminar: - Contrato num momento presente = contrato preliminar: atual manifestação de vontade através da qual as partes vinculam-se a celebrar o contrato definitivo em momento posterior Pode ser celebrado: a) Quando impõe às partes a obrigação de realizarem um contrato num momento futuro - Contrato preliminar sinalagmático ou bilateral (Art. 463, CC) b) Quando impõe a uma das partes a obrigação de realizar um contrato enquanto a outra tem faculdade de vir a celebrá-lo ou não. - Contrato preliminar unilateral (Art. 466, CC) ou promessa unilateral de comprar - Contrato num momento futuro = contrato definitivo: modalidade contratual que as partes celebrarão futuramente e em definitivo d) Utilidade social do contrato preliminar:

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- As partes não pretendem desde logo os efeitos do contrato definitivo - As partes não querem cumprir, desde logo, os elementos extrínsecos do contrato e) Requisitos do contrato preliminar - Não há necessidade de se observar todos os requisitos do contrato definitivo no contrato preliminar f) Registro do contrato preliminar - Entendimento jurisprudencial: desnecessidade de registro do contrato preliminar - Código Civil: determinou que os contratantes fizessem o registro do contrato preliminar - O registro é importante para dar publicidade e evitar prejuízos a terceiros e garantir segurança. Mas entre as partes, o contrato preliminar é plenamente válido e vinculante. Por isso, as partes contratantes não podem alegar o não cumprimento do contrato preliminar por não terem realizado o registro. O registro é apenas necessário para efeito erga omnes. g) Efeitos do contrato preliminar: - O contrato preliminar tem efeitos vinculantes. De modo que se uma das partes se negar a emitir a declaração de vontade à que se obrigou, caberá ao juiz atribuir o caráter definitivo ao contrato preliminar (Art. 464, CC). - Outros requisitos para que o suprimento judicial seja possível: * Compatibilidade com a natureza do contrato definitivo; * Observância dos requisitos do contrato definitivo (diferem quanto à forma); * Impossibilidade de direito de arrependimento: os contratantes não podem ter previsto o direito de arrependimento, pois senão em vez do suprimento judicial é cabível o arrependimento. * Interesse processual para agir: o suprimento só é cabível se a outra parte tiver cumprido suas obrigações em tempo oportuno. h) Extinção do contrato preliminar: - Caso uma das partes contratantes não dê cumprimento ao contrato preliminar, a outra parte pode pedir sua extinção pelo inadimplemento, pleiteando perdas e danos (Art. 465, CC).

Classificação dos Contratos A relevância da classificação está em sua utilidade: aplicam-se as mesmas regras e efeitos jurídicos a determinada categoria de contrato. 1. Quanto à forma como se aperfeiçoam: - Contratos consensuais e contratos reais: a consequência dessa classificação é a utilidade na determinação do momento da formação do contrato * Consensuais: tornam-se perfeitos e acabados com a integração de duas declarações de vontade * Reais: alem do consentimento, requer-se a entrega da coisa para a formação do contrato - Contratos solenes e contratos não-solenes: a consequência diz respeito a possível nulidade do contrato quando a lei requer forma especial * Solenes: requerem forma especial por exigência legal ou por vontade das partes - Forma (maneira de manifestação da declaração de vontade) ≠ prova (meio para demonstrar a existência do ajuste) * Não-solenes: a lei deixa ao arbítrio dos contratantes a forma de sua celebração 2. Quanto à própria natureza: - Contratos unilaterais e contratos bilaterais: quanto aos efeitos (não quanto a formação); * Unilaterais: produzem obrigações para apenas uma das partes contratantes * Bilaterais ou sinalagmáticos: produzem obrigações para todas as partes contratantes; uma prestação é o pressuposto da outra havendo uma interdependência entre elas. * OBS.: Figura intermediária: contrato bilateral imperfeito – se forma como um contrato unilateral, mas durante a execução surgem obrigações à parte que só tinha direitos (pouco aceito pela doutrina, pois não deixa de ser unilateral, apenas surge uma obrigação acidental). Ex.: comodato (unilateral – comodatário tem obrigação de devolver o bem emprestado) em que se conserta o bem, realizando benfeitorias úteis e necessárias, surgindo para o comodante o dever de reembolsar as quantias gastas.

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Tem como consequências práticas da classificação: - Exceção de contrato não cumprido (Art. 476 e 477, CC): não pode ser exigido o adimplemento da outra parte antes do cumprimento de sua própria obrigação; só vale para contratos bilaterais - Condição resolutiva tácita (Art. 474 e 475, CC): se uma das partes não cumpre sua obrigação culposamente, constitui justa causa para a resolução do contrato; só vale para bilaterais - Teoria dos Riscos: Nos contratos unilaterais: a coisa perece para o credor quem arca com os prejuízos da perda da coisa (Art. 238, CC). Nos contratos bilaterais: a coisa perece para o devedor que suporta o prejuízo da perda da coisa (Art. 237, CC). - Contratos onerosos e contratos gratuitos: * Onerosos: correspondência entre a vantagem econômica de um dos contratantes e o sacrifício da outra parte. * Gratuitos: só uma parte obtém proveito econômico Tem como consequências práticas o impacto em três esferas distintas: - Responsabilidade civil: nos contratos gratuitos, o autor da liberalidade só deve indenizar os danos causados dolosamente e a parte que aproveita responde por simples culpa. Nos onerosos, ambas as partes respondem por culpa (Art. 392, CC). - Evicção e vícios redibitórios: se aplicam apenas aos contratos onerosos - Interpretação: restritiva nos contratos gratuitos - Contratos comutativos e contratos aleatórios: * Comutativos: a relação vantagem – sacrifício é equivalente, havendo certeza quanto às prestações. * Aleatórios: o direito à prestação é incerto, as partes se submetem à alternativa de ganho ou perda. a) Aleatório pela própria natureza: o risco é da essência do negócio. Ex.: seguro b) Acidentalmente aleatórios: normalmente comutativos, mas no caso concreto as partes resolvem inserir o fator de risco, condicionando a prestação a um evento incerto. A consequência prática desta classificação diz respeito à aplicação das regras sobre vícios redibitórios, arras e lesão, que somente podem ser invocados nos contratos comutativos. - Contratos causais e contratos abstratos: * Abstrato: obrigatório independentemente da causa que o gerou * Causal: deixa de ser obrigatório, quando a causa for determinante para sua celebração. No CC há apenas a previsão da causa ilícita ou imoral (Art. 166, III), que determina a nulidade do negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a ambas as partes for ilícito. 3. Quanto à relação entre os contratos: - Contratos principais e contratos acessórios * Principais: são os contratos que contém a obrigação principal * Acessórios: são aqueles cuja função é garantir o cumprimento de obrigações contraídas em um contrato principal A consequência prática da classificação é relativa à aplicação da regra “o acessório segue o principal” 4. Quanto à sua denominação legal: - Contratos nominados e contratos inominados * Nominados: esquematizados na lei (figuras contratuais típicas) * Inominados: não estão especificamente regulados em lei, decorrem da autonomia da vontade (contratos atípicos) A consequência prática diz respeito à definição das regras que serão aplicadas. Os contratos atípicos podem ser constituídos por uma mistura entre os contratos típicos. Assim, há quatro teorias para a aplicação das regras: 1. Teoria da absorção: o intérprete deve procurar a categoria de contrato mais próxima para aplicar as regras desta 2. Teoria da combinação: aplicam-se as regras de ambos os tipos contratuais envolvidos

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3. Teoria da extensão analógica: aplicam-se as regras dos contratos semelhantes 4. Teoria da criação: só se aplicam as regras contratuais gerais, pois o contrato atípico se apresenta como um tipo novo. 5. Quanto ao seu objeto: - Contrato preliminar e contrato definitivo * Preliminar: compromisso ou pré contrato – negócio jurídico bilateral que tem por objeto a realização de um contrato definitivo em momento futuro * Definitivo: negócio jurídico bilateral celebrado entre as partes 6. Quanto ao tempo de sua execução: - Contrato de execução instantânea, contrato de execução diferida e contrato de execução continuada (periódica) * Instantâneos: as prestações podem ser realizadas em um só instante imediato * Diferida: o cumprimento da obrigação é postergado para algum tempo depois * Continuado: de trato sucessivo; a execução se fá em prestações periodicamente repetitivas durante um período. Ex.: locação A consequência prática dessa classificação liga-se aos: 1. Efeitos da anulação ou resolução por inexecução: se for instantâneo = volta ao estado anterior; se for continuado = efeitos até então produzidos são mantidos. 2. Teoria da imprevisão ou resolução por onerosidade excessiva: aplica-se aos contratos continuados. 7. Quanto à importância dos atributos pessoais do contratante: - Contratos pessoais e contratos impessoais * Pessoais: destacam os atributos pessoais da outra parte contratante; a figura do contratante é elemento causal do contrato (obrigações de fazer de serviço infungível) * Impessoais: celebrados indistintamente com qualquer pessoa Consequências práticas: adimplemento dos contratos – pessoais são intransmissíveis, não podem ser executados por outrem e podem ensejar anulabilidade por erro sobre as qualidades essenciais da pessoa 8. Quanto ao modo de elaboração: - Contratos paritários, contratos de adesão e contratos por adesão * Paritários: cláusulas são livremente discutidas e estabelecidas pelas partes (livre debate) * DE adesão: elaborados exclusivamente por uma das partes, que detém o monopólio de fato ou de direito do objeto no negócio * POR adesão: elaborados exclusivamente por uma das partes, mas esta não detém o monopólio de fato ou de direito do objeto Consequências práticas: interpretação – cláusulas ambíguas ou contraditórias são interpretadas de maneira mais favorável ao aderente; relações de consumo – aplicam as disposições especiais do CDC. Outras classificações: quanto à legislação aplicável (contratos civis, empresariais e de consumo) e quanto à função econômica (contratos de troca, associativos, de prevenção de riscos, de crédito e de atividade)

Interpretação dos Contratos 1. Introdução: a interpretação deve analisar o intuito prático (interesse objetivo) das partes ao celebrarem determinado negócio jurídico. Algumas das regras de interpretação de contratos dizem respeito à análise hermenêutica da vontade comum das partes (segundo critérios de razoabilidade); interpretação do contrato conforme o comportamento das partes, antes, durante e após a execução do contrato; outra regra é a da interpretação contra proferentem (?). 2. Critérios estabelecidos no ordenamento jurídico brasileiro aplicados na interpretação do negócio jurídico: - As declarações de vontade devem ser interpretadas de acordo com a intenção das partes nelas consubstanciada (necessidade de exteriorização da vontade interna das partes) 3. Funções da interpretação dos contratos: - Função recognitiva: busca da vontade comum das partes; o juiz busca reconstruir a vontade das partes - Função integrativa: preencher lacunas e construir a regulamentação negocial; o intérprete lança mão da cláusula geral da boa-fé objetiva e dos usos e costumes.

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* O comportamento das partes é uma “interpretação autêntica” do contrato (Junqueira de Azevedo) * O aplicador do Direito deve considerar, além da vontade declarada das partes, as circunstâncias relevantes, tais como: as negociações preliminares, as práticas comerciais e condutas estabelecidas entre as partes, a natureza e o objeto do contrato e os usos e costumes de mercado, além disso, a boa-fé objetiva. Os elementos volitivos (de vontade) tem mais intensidade na interpretação dos atos concernentes aos direitos pessoais puros (direitos da personalidade, estado, capacidade e família). No testamento, a vontade a ser analisada é do testador. Já na doação, é a do disponente (quem doa). * Contratos de adesão, a regra é a interpretatio contra stipulatorem – em caso de ambiguidade, a interpretação deve ser a mais favorável ao aderente. * Nas relações de consumo, interpreta-se da forma mais favorável ao consumidor (Art. 47, CDC)

Contrato de Adesão, Condições Gerais dos Contratos e Contratos Atípicos 1. Contrato de adesão:

* Contexto de massificação das relações contratuais: as cláusulas contratuais são unilateralmente impostas por uma das partes contratantes que detém uma posição de superioridade (econômica, social, técnica) em relação à outra. Contratos de adesão são cada vez mais comuns numa sociedade que exige produção e distribuição de bens e serviços em larga escala e que isto seja feito da forma mais rápida possível. * Despersonalização do contratante: característica da sociedade de massa – o contato físico mediato ou imediato é absolutamente dispensável para a conclusão do negócio jurídico, como o contrato, e até mesmo para executá-lo. Tudo isto é feito de forma rápida, barata e eficiente, através da internet. * Desumanização do contrato: as partes não sabem ao certo com quem estão contratando. Ex.: vendas à distância por meio da internet.

- Conceito: contrato de adesão é o contrato escrito e impresso com antecedência pelo estipulante que impõe as cláusulas contratuais ao aderente, a quem cabe somente preencher os espaços sobre seus dados pessoais, dados do bem ou serviço contratado e o preço ajustado entre as partes. As cláusulas são estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito. - Características: anterioridade (elaborado previamente), unilateralidade, forma escrita (impressos para serem preenchidos pelo aderente), caráter geral (destina-se a número indeterminado de pessoas); ausência de tratativas negociais; adesão integral (a aceitação do aderente dá-se mediante concordância integral com todas as cláusulas) - Regras específicas: 1. Interpretação favorável ao estipulante: havendo cláusulas ambíguas ou contraditórias, interpretam-se da forma mais favorável ao aderente; 2. Nulidade de renúncia antecipada: nulidade de cláusulas que determinem renúncia antecipada do aderente a direito que decorra da natureza do negócio 3. Nulidade da cláusula de eleição de foro 4. Nulidade das cláusulas abusivas nas relações de consumo 2. Condições Gerais dos Contratos: outra prática comum da sociedade de massa são as cláusulas contratuais gerais. - Conceito: contratos escritos ou não escritos em que o adquirente (número indeterminado de pessoas) de produto ou serviço aceita em bloco todas as condições prévia e unilateralmente impostas por aquele que detém os bens ou prestadores de serviços. Ex.: contratos de transportes terrestres ou aéreos - Características: 1. Independência do contrato: as condições gerais dos contratos independem da figura típica contratual e não estão inclusas no instrumento negocial (são fixadas no site da empresa, no recibo) 2. Elaboração prévia: antecedência na elaboração; incorporam o futuro contrato a ser celebrado entre as partes

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3. Alto teor de impessoalidade: elaboradas para número indeterminado de pessoas, são aplicáveis a qualquer indivíduo que venha a concluir o contrato submetido a tais condições gerais 4. Unilateral: elaborados por uma das partes contratantes e impostos unilateralmente a outra parte. 5. Aceitação através de condutas típicas: aceitação através de comportamentos concludentes - Distinção entre contrato de adesão e condições gerais dos contratos Contrato de adesão é sempre escrito e corresponde ao próprio instrumento negocial. Já as condições gerais dos contratos são estabelecidas fora do título contratual. * Um contrato de adesão também pode estar submetido às condições gerais quando indique o anexo onde estão as cláusulas contratuais que disciplinam aquela relação jurídica contratual. - Limitações legais à validade das condições gerais dos contratos Para que as condições gerais dos contratos tenham validade, é necessário que seja feita referência a elas e que o oblato tome ciência de sua existência concordando com elas. Limites legais para a validade: 1. Dever de informação: contratante deve informar que há condições gerais do contrato; 2. Possibilidade real de conhecimento do conteúdo: além desta informação, deve-se disponibilizar meios de tomar conhecimento real do conteúdo das condições gerais dos contratos 3. Aceitação das condições gerais do contrato: manifestação expressa ou tácita de que o contratante aceita as cláusulas contratuais gerais, depois da informação e da possibilidade real de conhecimento do conteúdo. 4. Controle formal do conteúdo do contrato: em relações de consumo, estas cláusulas podem ser nulas de pleno direito (Art. 51, CDC), viabilizando controle preventivo (autorização de órgãos administrativos) ou repressivo (Judiciário – ação judicial para retirada de uma cláusula abusiva do rol das condições gerais do contrato).

Contratos Atípicos e Coligados 1. Contratos Atípicos - Conceito: contrato que não tem disciplina legal (de conteúdo total ou parcialmente inovador – princípio da liberdade de contratar) - Espécies: a) Contratos atípicos propriamente ditos ou puros: as partes estabelecem um conteúdo totalmente inovador e original, diverso dos tipos legislativos. Ex.: leasing, franchising e factoring b) Contratos atípicos mistos: correspondem à modificação dos tipos legislativos ou combinação entre de tipos entre si ou com tipos sócio-jurisprudenciais. Ex.: contrato de locação com prestação de serviços por parte do locador 2. Contratos Coligados: não se confundem com contratos atípicos mistos apesar das semelhanças - Conceito: decorrem da coligação de diversos contratos sem, contudo, formar um todo unitário como ocorre nos contratos atípicos mistos. - Espécies de coligação: a) União meramente externa: união instrumental; os contratos coligados são independentes entre si. Ex.: celebração de contrato de transporte e de seguro do passageiro b) União alternativa: partes celebram vários contratos sendo que sua existência (de um ou mais dos contratos) se dá até o implemento de uma condição. 3. Disciplina jurídica dos contratos mistos: diversas teorias sobre a regra aplicável a esses contratos, além dos princípios contratuais, que os regulamentam. a) Teoria da Combinação: impõe a decomposição do contrato atípico misto em suas várias modalidades, aplicando-se as regras de cada figura típica. * Crítica: ignora que o contrato atípico misto é um todo unitário que não pode ser fracionado sem comprometer sua estrutura e sem criar conflitos de regras. b) Teoria da absorção: a disciplina jurídica aplicável será a do tipo de referência que predomina no contrato típico misto. * Crítica: ignora que o contrato misto é um todo e não há que se falar em predominância c) Teoria da aplicação analógica: aplicação das regras do contrato típico que mais se assemelha ao contrato atípico. Não existindo figura típica, recorre-se ao princípio da analogia. * Crítica: insuficiente

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- Solução de Orlando Gomes: teoria eclética – aplicação de todas as três teorias acima mencionadas

Efeitos dos Contratos com relação a terceiros O princípio da relatividade dos efeitos do contrato impõe que o contrato não prejudica nem beneficia terceiros. No entanto, esse princípio não é absoluto. Além disso, a categoria “terceiro” é heterogênea, havendo textos da lei em que o termo “terceiro” é utilizado em vários sentidos. 1. Estipulação em favor de terceiro: “A” se obriga com “B” a prestar algo para “C”. - “C” é terceiro, pois não manifestou sue consentimento na relação contratual entre “A” e “B”, mas é credor, pois é beneficiário da obrigação ajustada entre “A” e “B”. - Não se requer de “C” sua anuência, mas é permitido que este renuncie ao beneficio resultado da obrigação firmada entre “A” e “B”. Ex.: Contrato de seguro de vida, em que o estipulante elege o beneficiário (terceiro) - Se no contrato, couber ao terceiro o direito de reclamar a execução, não pode o estipulante exonerar o devedor. É uma garantia ao beneficiário que receberá a prestação. - O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro beneficiário independente da anuência deste e da outra parte (ato inter vivos ou mortis causae). 2. Promessa de fato de terceiro: “A” promete a “B” que “C” lhe prestará algo. - “C” (terceiro) só estará vinculado à obrigação se aceitá-la, pois que é atingido de maneira onerosa pelo ajuste firmado entre “A” e “B”. - Se “C” não aceitar a obrigação de prestar o prometido por “A” a “B”, “A” responderá por eventuais perdas e danos, pois continua vinculado à obrigação e não cumpriu o que prometera (fato de terceiro). “A” assume o cumprimento da obrigação como devedor primário, sendo garante do fato alheio. OBS.: Proteção patrimonial do cônjuge que não concordou ou não anuiu com o vínculo assumido – o CC 2002 exime a responsabilidade quando o terceiro for o cônjuge do que prometeu, pois o patrimônio (do casal) será atingido, prejudicando “C” mesmo que não anua com o contrato. - A partir do momento em que o terceiro “C” assume a obrigação de prestar o que foi prometido, ele passa a ser o sujeito vinculado à obrigação. Se “C” não cumprir a prestação, não pode se voltar contra “A”, que se desvinculou quando “C” assumiu a obrigação. 3. Contrato com pessoa a declarar: uma das partes se reserva a faculdade de indicar a pessoa que assumirá a posição de contratante (cláusula pro amico eligendo ou pro amico electo). Requisitos: a) Indicação por escrito b) Comunicação em 5 dias: a indicação por escrito deve ser feita nesse prazo legal c) Forma de aceitação: deve coincidir com a forma legal ou voluntariamente estabelecida para a celebração do contrato. d) Produção de efeitos retroativamente: uma vez aceito pela pessoa indicada, os efeitos são produzidos desde a época da celebração do contrato e) Ineficácia da indicação: o contrato produz efeitos entre os contratantes originários - Se a indicação não for comunicada; - Se a pessoa não aceitar; - Se a pessoa nomeada era insolvente e tal fato fosse desconhecido por quem a indicou - Se a pessoa a nomear for incapaz * Finalidade prática e econômica: evitar os inconvenientes de transferências patrimoniais sucessivas, pois nesse caso, não há duas transferências de propriedade, mas apenas uma só.

Efeitos dos Contratos Bilaterais, Vícios Redibitórios e Evicção 1. Exceção do contrato não cumprido - Conceito: defesa pela qual o contratante justifica o não cumprimento da prestação no fato de o outro (chamado de exceto) ainda não ter cumprido a sua obrigação. Tal efeito decorre da natureza dos contratos bilaterais ou sinalagmáticos e tem fundamento na correspondência prestação – contraprestação

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- Cabimento: nos contratos bilaterais de execução instantânea (obrigações recíprocas e simultâneas) não cabe exceção do contrato não cumprido quando houve renúncia deste direito ou quando há cláusula solve et repete. Tal cláusula consiste na impossibilidade do exercício do direito de a parte arguir a exceção de contrato não cumprido, cabendo à parte somente cumprir sua obrigação e pleitear a restituição ou perdas e danos num momento posterior. - Consequência: a) Exceptio non rite adimpleti: quando há cumprimento parcial ou defeituoso (que deve ser provado) do contrato. Nesta hipótese, pode-se exigir o cumprimento da obrigação integral ou exigir que a obrigação seja complementada ou melhorada mediante o depósito judicial da contraprestação. b) Exceptio non adimpleti contractus: inadimplemento total. Nesta hipótese, a parte (vítima do inadimplemento) pode deixar de cumprir sua obrigação alegando os efeitos da exceção do contrato não cumprido. c) Cautela em caso de insolvência de um dos contratantes: possibilidade de não cumprir a obrigação quando a outra parte estiver em estado de insolvência ou exigir uma caução de que a prestação será efetivamente cumprida. 2. Cláusula resolutiva - Conceito: efeito implícito nos contratos bilaterais e que consiste no poder de se pleitear a resolução da obrigação com base na inadimplência da parte contrária. - Espécies: a) Cláusula resolutiva tácita: ainda que os contratantes não convencionem uma cláusula neste sentido, este efeito decorre dos contratos bilaterais; b) Cláusula resolutiva expressa: cláusula expressa no contrato que autorize um dos contratantes a resolver o contrato se o outro não cumprir com a prestação a que se vinculou; * Diferença: a cláusula implícita depende de interpelação judicial, enquanto que a expressa opera de pleno direito. No entanto, é mais seguro que haja intervenção judicial para determinar os direitos e deveres de cada parte. - Consequências da cláusula resolutiva: dependem do interesse do contratante lesado (opção) a) Resolução do contrato b) Cumprimento da obrigação assumida pela outra parte * Nos dois pedidos é cabível a cumulação com perdas e danos (consequência do inadimplemento voluntário do devedor) 3. Vícios redibitórios - Conceito: Defeitos ocultos, que diminuem a utilidade ou o valor da coisa, de tal forma que o contrato não se teria realizado se esses defeitos fossem conhecidos. * As consequências previstas para a hipótese de vícios redibitórios decorrem do princípio de garantia, que independe de cláusula expressa e segundo o qual o alienante deve assegurar o perfeito estado da coisa. - Requisitos para a caracterização de vício redibitório: a) Contrato comutativo ou de doação onerosa: não cabe nos contratos aleatórios e gratuitos b) Defeito oculto, imperceptível pelo homem médio: se sabia do vício e recebeu a coisa mesmo assim, entende-se renúncia ao direito de reclamar; c) Defeito pré-existente à alienação: mas que pode se manifestar após a alienação d) Defeito que torne a coisa imprópria ao fim a que se destina ou que lhe diminua o valor - Consequências: ações edilícias: * Ação redibitória: pede-se a extinção do contrato mediante rejeição da coisa, com objetivo de reaver o preço pago * Ação estimatória ou quanti minoris: pede-se o abatimento do preço, proporcionalmente à diminuição do valor da coisa; depende de intervenção judicial para apurar a redução do valor. OBS.: Há hipóteses em que só cabe ação estimatória, como quando o adquirente vende a coisa à terceiro (a resolução do contrato afetaria terceiro) ou na hipótese de venda de coisas feita conjuntamente; e hipóteses em que só cabe ação redibitória, como em caso de perecimento da coisa A indenização por perdas e danos é cumulável apenas se o vício oculto for conhecido pelo alienante.

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- Prazo: DECADENCIAL * As consequências dos vícios redibitórios devem ser exercidas no limite temporal de até 30 dias se a coisa for móvel e 1 (um) ano se for imóvel; OBS.: Na garantia esses prazos não correm, mas o defeito deve ser comunicado nos 30 dias seguintes à sua manifestação. * A contagem dos prazos inicia-se da entrega efetiva do bem, pois possibilita o conhecimento do defeito oculto. Assim, se o bem já estava na posse do adquirente na época da alienação, os prazos são reduzidos à metade. * Exceções à regra da contagem dos prazos acima mencionados:

a) Se a natureza do vício dificulta sua constatação: a contagem dos prazos inicia-se a partir do momento em que o adquirente toma ciência do vício, restringida a 180 dias, se móvel e 1 ano, se imóvel. b) Na venda de animais: tendo em vista o fato de que certas enfermidades demoram para se manifestar, pode-se estabelecer regra diversa da exposta. Não havendo regras especiais, o prazo inicia-se a partir da ciência do problema com o animal, até o limite de 180 dias.

* Estes prazos podem ser ampliados, diminuídos ou até suprimidos. Mas não em relações de consumo, pois seria cláusula abusiva e nula de pleno direito * Relações de consumo tem prazos especiais no CDC: reparação em máximo de 30 dias, ou não sendo possível reparar, caberá à escolha do consumidor pedir: substituição do bem por outro da mesma espécie e quantidade; devolução do bem mediante restituição da quantia paga e corrigida (redibição); ou abatimento de preço.

4. Evicção - Conceito: é a perda da coisa por sentença judicial, que atribui a outrem a propriedade da coisa. * Partes: Evictor (terceiro reivindicante), Evicto (adquirente do bem que perdeu) e Alienante (transferiu o bem ao evicto) * Funda-se no princípio da garantia - Requisitos a) Que a coisa tenha sido adquirida onerosamente (na doação onerosa, o doador se responsabiliza pela evicção até o limite do encargo); b) Que a perda seja total ou parcial c) Que a perda tenha sido decretada por sentença judicial transitada em julgado d) Que se verifique a anterioridade do direito do evictor e) Que tenha sido feita denunciação da lide - Cláusula non praestanda evictione: as partes pode excluir o dever de responder pelos riscos da evicção através da cláusula de irresponsabilidade do alienante pela eventual perda judicial da coisa. No entanto, a parte pode ser responsabilizada ainda assim: a) Se o evicto não tinha conhecimento do risco da perda do direito por sentença judicial b) Se, ainda que tivesse conhecimento deste risco, não o assumiu * Para que se possa exercer os direitos do evictor, não se pode ter conhecimento de que a coisa era evicta, em homenagem ao princípio da boa-fé objetiva (Art. 457) - Direitos do evicto a) Restituição integral do preço, com juros legais e correção monetária; b) Indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao evictor; c) Indenização das despesas do contrato; d) Reembolso das custas judiciais e honorários advocatícios; e) Ressarcimento de todos os prejuízos que diretamente resultaram da evicção; As obrigações são devidas ainda que a coisa se deteriore, pois a evicção decorre da perda do bem por sentença judicial. Além disso, as benfeitorias necessárias e úteis devem ser reembolsadas.

Extinção dos Contratos e Onerosidade Excessiva 1. Extinção dos contratos: cessação dos efeitos contratuais, mas com diferentes consequências jurídicas dependendo da circunstância de cada hipótese. - Modo normal de extinção de contratos: o contrato se extingue normalmente, com o cumprimento fiel das obrigações assumidas pelas partes; - Modos anormais de extinção de contratos: contrato se extingue sem que as obrigações tenham sido cumpridas pelas partes contratantes (dificuldade de sistematização legal). Pode ocorrer por:

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a) Causas anteriores ou contemporâneas à formação do contrato: anulação do contrato b) Causas supervenientes à formação do contrato: resolução, resilição e recisão do contrato. 2. Resolução: remédio judicial para tutelar o contratante inocente e prejudicado nos casos de inexecução das obrigações contratuais por mora/inadimplemento total, imputável ou não ao devedor: - Hipóteses: em que se devem pedir judicialmente os efeitos da resolução por sentença constitutiva negativa a) Contratos bilaterais: inadimplemento das obrigações assumidas por uma das partes contratantes b) Redibição: vícios redibitórios e evicção c) Onerosidade excessiva OBS.: Não cabe resolução – em contratos plurilaterais, de sociedade ou aleatórios. - Dificuldade: mistura entre os sistemas Francês e Alemão - Exigência de pronunciamento judicial para que se operem os efeitos da resolução × pleno direito 3. Resilição: rescisão – extinção do contrato por vontade de ambos os parceiros contratuais (distrato) ou por vontade de um dos contratantes, quando a lei autorizar (resilição unilateral) a) Distrato: resilição bilateral – acordo de vontade entre as mesmas partes contratantes, cujo objeto é a extinção do vínculo jurídico contratual anteriormente formado entre eles - Forma: mesma forma exigida para o contrato celebrado entre as partes b) Resilição unilateral: extinção pela vontade exclusiva de uma das partes - Requisitos: i. Autorização expressa da lei ii. Notificação à outra parte: extrajudicial ou judicial iii. Caso uma das partes tenha feito investimentos consideráveis: aguardar prazo razoável para que a parte recupere os investimentos feitos. - Cabimento: i. Contrato de trato sucessivo e contrato por tempo indeterminado: ninguém se obriga perpetuamente. ii. Contrato com base na confiança: perda de confiança no outro iii. Direito de arrependimento: quando há previsão, uma das partes pode exercer esse direito mediante a notificação à parte contrária da resilição unilateral. 4. Rescisão: ruptura do contrato em caso de lesão ou estado de perigo, pois é possível que o contrato seja mantido, desde que reestabelecido o equilíbrio. * Art. 171, II, CC: trata lesão e estado de perigo como fatores de anulabilidade * Legislador não utiliza a expressão “rescisão” de forma uniforme – sinônimo de resolução ou resilição FIM DA MATÉRIA – 1ª PROVA 5. Resolução por onerosidade excessiva - Conceito: situação peculiar, em que o desequilíbrio entre prestação e contraprestação dá-se por fato superveniente em virtude de circunstâncias extraordinárias e imprevisíveis. Diante destas circunstâncias permite-se a resolução, ou mesmo a revisão do contrato por onerosidade excessiva (Art. 478 a 480, CC) - Evolução histórica: ideia do preço justo na Idade Média; cláusula rebus sic standibus (implícita em qualquer contrato – prevê a alteração de circunstâncias) no direito canônico. * Século XIV: direito civil limita a revisão contratual aos contratos de longo prazo – trato sucessivo (periódicos) e de execução diferida; * França: teoria da imprevisão – revisão possível em qualquer caso em que aconteçam fatos imprevisíveis; Lei Falliot - resolução do contrato se tivesse havido prejuízo devido à I Guerra Mundial * Alemanha: teorias a) Teoria da Pressuposição: consideração de que as partes estão tão convencidas que determinada situação vai ocorrer que elas nem tomam o cuidado de inserir uma cláusula contratual que diga as consequências da não ocorrência do fato esperado (condição não desenvolvida) b) Teoria da Base do Negócio: subjetiva como a da Pressuposição, pois coloca em destaque o que as partes pensaram. Karl Larenz objetivou essa teoria pela divisão em: i. Teoria da Base do Negócio Subjetiva: a base do negócio jurídico é o motivo comum das partes e não necessariamente o econômico

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ii. Teoria da Base do Negócio Objetiva: a base do negócio é a alteração das circunstâncias existentes no momento da celebração do negócio c) Teoria da impossibilidade alargada: um contrato pode ser revisto quando não há impossibilidade na prestação, mas apenas uma dificuldade. Se houvesse impossibilidade, a solução seria a resolução. d) Teoria da boa-fé objetiva: fundamentação para a revisão judicial dos contratos em caso de desequilíbrio entre a prestação e a contraprestação. - Teoria da onerosidade excessiva no CC/2002 1. Quebra do sinalagma: verifica-se a desproporção, o desequilíbrio entre as prestações (contra o princípio da equivalência) 2. Onerosidade excessiva: a obrigação cabe apenas a uma das partes, não havendo sinalagma, mas fato posterior à conclusão do contrato determina a redução da prestação ou a alteração de seu modo de execução. 3. O fim pode se tornar inútil: a prestação é possível, mas se torna inútil por fatos extraordinários e imprevisíveis. - Pressupostos positivos da resolução por onerosidade excessiva: * Preenchimento dos requisitos da lei (Art. 478) a) Contratos de execução continuada ou diferida: deve-se verificar diferença de valor das prestações entre o momento da formação do vínculo contratual e o de sua execução, por isso o cabimento apenas nesses contratos. b) Fatos supervenientes extraordinários e imprevisíveis: desequilíbrio por fatos anormais e que as partes não tenham previsto. c) Onerosidade excessiva para uma parte e “extrema vantagem” para a outra * Questionamentos: - Se a parte-ré não oferecer proposta para reequilíbrio do contrato, o juiz pode alterar por si mesmo o contrato? Sim, mas apenas em caso em que não haja oferta do réu. - Contratos aleatórios podem ser objeto de resolução por onerosidade excessiva? Sim, desde que a onerosidade ultrapasse o risco típico desses contratos (álea extracontratual) - Pressupostos negativos da resolução por onerosidade excessiva: impedem a resolução por onerosidade a) Contrato já executado: para que se conceda a resolução, a parte que a invoca não pode ter executado a prestação que assumiu no contrato b) Presença de mora: a parte que invoca não pode ser inadimplente c) Existência de cobertura de riscos normais: o juiz deve verificar que a onerosidade excessiva não esteja coberta pelos riscos normais do contrato - Consequências da resolução por onerosidade excessiva: - Na onerosidade excessiva subjetiva (contrato unilateral), não existe a relação sinalagmática para que se avalie o desequilíbrio, então a parte pode oferecer a redução ou alteração da prestação para evitar o desequilíbrio; - Na onerosidade excessiva objetiva, trata-se de equilíbrio entre direitos e deveres.

Contrato de Compra e Venda 1. Conceito: contrato celebrado entre as partes visando à aquisição e transferência da propriedade de um bem. Portanto, é um negócio translativo de propriedade * Partes: Adquirente/comprador: é quem paga o preço estipulado em dinheiro com o fim de adquirir a propriedade do objeto do contrato Alienante/vendedor: obriga-se a transferir a propriedade deste bem ao adquirente * Caráter obrigacional do contrato, que por si só não é meio hábil para aquisição de propriedade. * Preço é elemento essencial da compra e venda * Distingue-se da cessão, pois esta é negócio jurídico bilateral para transmissão de bens incorpóreos e a compra e venda é de bens corpóreos. * Pagamento feito em dinheiro, mas pode ser efetivado através de duplicata, cheque etc. 2. Caráter obrigacional ou real da compra e venda: segundo o direito brasileiro, o caráter é obrigacional - O direito brasileiro atribui ao contrato de compra e venda caráter obrigacional, onde do contrato de compra e venda origina-se uma obrigação de dar/entregar, exigindo-se a tradição real das coisas móveis e a transcrição no registro do título translativo para os bens imóveis. (diferente do caráter real adotado por outros países, onde o contrato de compra e venda já transmite a propriedade).

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3. Classificação do contrato de compra e venda: 3.1. Bilateral ou sinalagmático: na compra e venda o sinalagma é perfeito; a execução de uma prestação é a causa do cumprimento da outra. Há obrigações para ambas as partes. 3.2. Consensual: para a formação deste contrato basta o consentimento das partes. O contrato existe com a declaração jurídico-negocial do vendedor e do comprador, que convergem quanto aos fins e o meio eleito é congruente para que atinjam o fim almejado pelos contratantes. - A princípio, a forma para manifestação de vontade das partes é livre, exceto se a lei exigir alguma solenidade ou forma especial. Ex: compra e venda de valor superior a 30 salários mínimos; há a necessidade de transferência por escritura pública (instrumento redigido por tabelião, que goza de fé pública). 3.3. Oneroso: o preço é um dos elementos essenciais do contrato de compra e venda. Pode ser: a) Comutativo: quando há equivalência entre prestação e contraprestação. b) Aleatório: quando uma das partes puder falhar; uma das partes assume o risco do negócio. Ex.: contrato de compra e venda de coisa futura 3.4. Execução: pode ser instantânea ou diferida: a) De execução instantânea (imediata): execução é operada em um único feito e simultaneamente; adquirente paga o total do preço no mesmo instante em que o alienante lhe entrega o bem; b) De execução diferida: as partes ajustam o parcelamento do valor da prestação ou adiam sua execução para momento posterior. 4. Elementos essenciais do contrato de compra e venda: OBS.: quando o objeto do contrato for venda de imóvel de valor superior a 30 vezes o salário mínimo vigente, a escritura pública passa a ser da substância do negócio jurídico (requisito de validade do negócio jurídico). a) Coisa (res): bem corpóreo (se incorpóreo, trata-se de cessão de direitos e não compra e venda). - Pode ser coisa futura que, se não existir, leva ao retorno ao status quo ante, salvo se tratar-se de um contrato aleatório. - No caso de venda de objeto que não é propriedade do vendedor também se dá essa conclusão: se o vendedor não adquirir a coisa para si, o contrato fica sem efeito e o comprador tem direito à restituição. b) Preço (pretium): é essencial para diferenciar a compra e venda da doação - Deve ser estipulado em dinheiro corrente do país. Pode-se até estipular a entrega de dinheiro e bem, mas o valor em dinheiro deve ser maior do em bens (havendo apenas entrega de bem, trata-se de permuta ou troca). - O preço deve ser sério: não pode ser simulado, irrisório ou vil. - Também deve ser certo: deve constar no contrato, ainda que seja apenas a forma pela qual o preço será determinado. Pode ser fixado por terceiro se as partes assim convencionarem (se este aceitar, se não, o contrato ficará sem efeito); pode ser fixado à taxa de mercado ou de bolsa; em função de índices ou parâmetros. - No silêncio das partes quanto ao preço, este será aquele que normalmente ocorre nas vendas habituais do vendedor, se não houver tabelamento oficial. Se houver variação no preço praticado pelo vendedor será o preço médio. Veda-se que o preço seja arbitrado livremente por uma das partes, sob pena de nulidade. c) Consentimento: se aperfeiçoa tão somente com as declarações de vontade das partes. - O agente deve ser plenamente capaz. Se for absolutamente incapaz deve ser representado, se relativamente, deve ser assistido. Requer-se ainda a legitimidade, que é a capacidade específica. 5. Modalidades especiais de compra e venda: a) Venda ad corpus (vendas imobiliárias): venda de imóvel em que as partes não se vincularam à medida exata do imóvel; o imóvel é transferido como coisa certa e discriminada, levando-se em consideração a aparência do mesmo, não podendo o comprador reclamar pela área do imóvel. b) Venda ad mesuram (vendas imobiliárias): nesse caso, a área do imóvel foi determinante para o conteúdo do contrato de compra e venda, implicando diretamente no valor do preço. Assim, o comprador pode exigir a exatidão da quantidade declarada na escritura (mas se as diferenças não excederem a um vigésimo do total da área, as dimensões do imóvel foram apenas enunciativas). Não sendo possível a exatidão, caberá, à escolha do comprador:

- Resolver o contra obtendo a restituição do preço pago; ou - Pedir o abatimento proporcional do preço pago.

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Se houver excesso na área e o vendedor não sabia (não tinha meios de conhecer a real extensão do imóvel) e teve prejuízo, ele pode pedir a complementação do preço no prazo de um ano contando do registro do título, como prazo prescricional. Mas o comprador pode escolher entre duas alternativas:

- Devolver o excesso da área; ou - Complementar o preço

c) Venda à vista de amostras (vendas mobiliárias): a amostra vincula o devedor, que assume a obrigação de entregar a coisa vendida com as mesmas qualidades correspondentes às amostras, sob pena de resolução do contrato pelo comprador. 6. Distribuição das despesas com o contrato de compra e venda: - As despesas com escritura e registro ficam a cargo do comprador; - As despesas com a tradição, a cargo do vendedor. Essa é a regra legal de distribuição, mas as partes podem estabelecer de maneira diversa a distribuição das despesas com o contrato de compra e venda. 7. Obrigações do comprador e do vendedor: Comprador = pagar o preço Vendedor = transferir o domínio do bem 8. Responsabilidade pelos riscos na perda ou deterioração do objeto da compra e venda: - O devedor responde pela perda ou deterioração (suporta os riscos da coisa) até a tradição. - O comprador suporta os riscos do preço antes da tradição * Além disso suporta os riscos da coisa após a tradição, ou se estiver em mora. * Se o comprador estipular que a tradição deva ser feita em lugar diverso do lugar da época da venda, é ele quem suporta os riscos pelo perecimento e pela deterioração da coisa (mas se o vendedor não seguir as instruções dadas pelo comprador quanto o transporte do bem, é ele quem suporta). 9. Hipótese de defeito oculto nas coisas conjuntas: segue a regra geral estipulada para os vícios redibitórios, podendo o adquirente enjeitar a coisa verificando a existência de algum vício ou defeito oculto que a tornou imprópria ao uso a que se destina ou que lhe diminua o valor. - Pode rejeitar a coisa reavendo o preço pago ou pode exigir um abatimento no preço, permanecendo válido o contrato. Mas, na compra e venda de coisas vendidas conjuntamente, o defeito de uma delas não autoriza a rejeição de todas. 10. Problemas relativos à legitimidade das partes na compra e venda: deve-se analisar a capacidade genérica (absoluta ou relativamente incapazes elencados na lei) e a legitimação ou capacidade específica dos contratantes - deve-se avaliar se existem ou não hipóteses de restrições específicas para contratar, melhor denominadas por falta de legitimidade para contratar. a) Venda de ascendentes a descendentes: é anulável a venda de ascendente a descendente sem o consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante (exceto se for casado em regime de separação obrigatória de bens).

- Justifica-se pelo princípio da igualdade das legítimas entre os descendentes, pois a compra e venda prejudicaria os demais. É anulável, devendo a anulabilidade ser arguida pelo interessado em 2 anos. - Também é importante ressaltar que a pessoa casada, para alienar um bem imóvel, deve ter a anuência do outro cônjuge; anuência é chamada de vênia conjugal (sendo outorga uxória = a anuência da esposa e vênia marital = do esposo). Se a recusa em autorizar for injusta, o juiz poderá supri-la.

b) Venda por pessoa encarregada de zelar pelo interesse do vendedor: é vedado que a pessoa encarregada de zelar pelo interesse do proprietário do bem adquira dele o objeto da compra e venda sob pena de nulidade. - Justifica-se pela manutenção da moral nas relações jurídicas, garantindo a isenção necessária para desempenho de ofício ou profissão. - Casos no art. 497: (I) tutores, curadores, administradores não podem comprar bens confiados à sua guarda ou administração; (II) servidores públicos não podem comprar bens da pessoa jurídica a que servirem; (III) juízes, árbitros, peritos e outros auxiliares da justiça que não podem comprar bens ou direitos litigados em tribunal (não engloba os casos de compra e venda ou cessão entre co-herdeiros); (IV) leiloeiros não podem comprar bens de leilão a que estejam encarregados. * Proibição se estende também à cessão de crédito.

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c) Venda entre cônjuges: é vedada a compra e venda entre marido e mulher, desde que o objeto desta compra e venda seja um bem que integre a comunhão – porque é ato dissimulado e não mudará o patrimônio. d) Venda por condomínio: não pode um condômino vender sua parte da coisa indivisível, enquanto pende o estado de indivisão, sem respeitar o direito de preferência ou prelação dos demais coproprietários. - Se ele fizer isso, os outros condôminos podem requerer para si a parte alienada depositando o preço em até 180 dias (prazo decadencial) após a realização da venda a um estranho à relação jurídica de copropriedade. - Se há pluralidade de condôminos interessados, leva-se em conta (1º) quem tiver mais valiosas benfeitorias; (2º) os de quinhão maior; (3º) e se os quinhões forem iguais, prevalecem os coproprietários que a quiserem, depositando o preço (formando-se outro condomínio quanto à parte alienada entre os coproprietários). 11. Cláusulas especiais à compra e venda (pactos adjetos): são cláusulas inseridas no contrato de compra e venda dando-lhe nova roupagem - características e possibilidades específicas que a moldura genérica do contrato de compra e venda não teria. - São: Retrovenda, Venda a contento, Preempção, Venda com reserva de domínio, Venda sobre documentos. - Nesse CC não se previu o pacto de melhor comprador: cláusula que subordina o contrato de compra e venda a uma condição resolutiva, em que se desfaz o contrato de compra e venda se, dentro do prazo estipulado, aparecer quem ofereça um preço maior. * Gerava muita insegurança, mas sua não previsão não significa a sua proibição. - Ainda há a figura do pacto comissório (também não previsto no CC 2002): cláusula contratual em que as partes estabelecem que o preço deve ser pago até certo dia; passando a data, se o preço não for pago, o vendedor tem o direito de desfazer o contrato ou exigir o pagamento do preço. * Não há previsão, pois está subentendido em todo contrato bilateral como cláusula resolutiva tácita.

I. Retrovenda: cláusula inserida no contrato de compra e venda de bem imóvel, conferindo ao vendedor o direito de recobrar, em três anos, o imóvel vendido, restituindo ao adquirente o preço e despesas realizadas. - O contrato fica subordinado a uma condição resolutiva. Essa cláusula deve ser averbada na matrícula do imóvel adquirindo eficácia real (erga omnes) * Transmite-se por ato inter vivos ou causa mortis, podendo ser exercido o direito de retrato contra o terceiro adquirente. - Prazo decadencial. Pode ser resgatado pela ação de resgate, de caráter reivindicatório. - As partes podem estabelecer um prazo inferior ao limite de 3 anos. Se duas pessoas possuírem esse direito, e só uma se manifestar para exercê-lo, o comprador intimará a outra para que manifeste sua concordância. A pessoa deve depositar o valor corrigido para reaver o bem.

II. Venda a contento e venda sujeita a prova: - A venda a contento é realizada quando se subordina o contrato a uma condição suspensiva (o contrato só se aperfeiçoará após manifestação do adquirente do seu agrado). - A venda sujeita a prova consiste de cláusula que subordina o contrato de compra e venda a uma condição suspensiva quanto à verificação das qualidades do bem asseguradas pelo vendedor (o comprador deve manifestar que quer firmar o contrato depois que for intimado).

III. Perempção ou preferência ou prelação: cláusula que obriga o comprador, quando for vender ou dar em pagamento o bem móvel ou imóvel, oferecer primeiramente ao alienante em igualdade de condições. - O antigo vendedor (alienante originário) também pode exercer seu direito quando tomar conhecimento da venda do bem, intimando o adquirente originário (atual vendedor). Para exercer esse direito o alienante originário tem o prazo decadencial de 180 dias se for móvel ou de 2 anos, se for imóvel. - Responde por perdas e danos o comprador que alienar a coisa sem observar essa cláusula. E o adquirente do imóvel responderá solidariamente se tiver agido de má-fé. - Esse direito só pode ser exercido se o alienante originário concordar em pagar o mesmo valor que o terceiro comprador concordou, e não o valor pelo qual vendera o bem – igualdade de condições. - O alienante originário deve exercer o direito de preferência nos 3 dias após a notificação do vendedor se móvel, e em 60 dias se imóvel. - Se mais de uma pessoa é titular desse direito, só poderá ser exercido em relação ao todo do bem. É um direito personalíssimo, não se pode ceder nem transmitir a herdeiros. - Em caso de desapropriação pelo poder público, só pode exercer se o destino do bem não coincidir com o que constou da expropriação. (ver quadro na apostila, p. 25, sobre diferenças entre retrovenda e preferência).

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IV. Venda com reserva de domínio: cláusula do contrato de compra e venda de bem móvel infungível, em prestações, pela qual o vendedor continua sendo proprietário da coisa vendida até que o comprador pague integralmente o preço. (Pode somente para bem móvel infungível - que possa ser individualizado). - É condição resolutiva: propriedade do comprador apenas se consolida após o pagamento integral do preço. * O comprador, que desde logo fica na posse do bem, responde pelos riscos, ainda que não seja o dono. - Forma escrita expressa e obrigatória. - Se o comprador deixa de pagar o preço, o vendedor só pode exercer o direito de propriedade se constituir em mora o comprador. - Após constituir em mora, pode ingressar com uma ação de cobrança das quantias não pagas ou recuperar a posse do bem ingressando com ação reivindicatória. Se escolher a segunda opção pode reter parte das quantias pagas para cobrir despesas, desvalorização, perdas e danos, devolvendo o restante do valor.

V. Venda sobre documentos: a tradição do bem é substituída pela entrega de documentos que comprovem a existência da mercadoria objeto de um contrato de compra e venda. - O vendedor cumpre com sua obrigação principal quando entrega ao comprador os documentos; e se esses estiverem em ordem o comprador não pode negar o pagamento. O pagamento deve ser feito no lugar e no momento da entrega dos documentos (mas podem convencionar de forma diferente). - Os riscos de perda do bem correm por conta do comprador (em caso de uso de seguradora, o comprador paga o prêmio). Mas se o vendedor conhecia essa perda, ele agiu de má-fé e os riscos transferem-se a ele.

Alienação fiduciária Modalidade de alienação em que há o desmembramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa. É um direito real de garantia. 1. Conceito: alienação de bem móvel ou imóvel, em prestações ou financiada, da qual decorre o desmembramento da posse, ou seja, o devedor fiduciante mantém-se na posse direta do bem, usando-o conforme o fim a que se destina; e o credor fiduciário mantém a posse indireta do bem com o fim de garantia. O credor fiduciário poderá ou executar a dívida ou pleitear a propriedade do bem, sendo que nessa hipótese o bem deverá ser levado a leilão ou após o vencimento da dívida, dado em pagamento.

2. Evolução histórica: - Direito romano: havia a fidúcia cum creditore (garantia de pagamento de dívida) e a fiducia cum amico (transferência para alguém de confiança por causa de guerra). - Direito germânico: parecida com a de Roma, mas aqui era transmitida sob condição resolutiva. - Direito inglês: figuras da mortgage (resolução automática do contrato com o pagamento ou perda da propriedade para o credor fiduciário) e a trust (entrega de um bem a uma pessoa para que esta faça uso conforme determinado, confiando que esta pagará integralmente o preço ajustado entre as partes).

3. A contextualização da propriedade fiduciária no Direito brasileiro: a) Alienação fiduciária de bens móveis e imóveis b) Cessão fiduciária de direitos creditórios decorrentes da alienação de imóveis c) Propriedade fiduciária para fins de constituição dos fundos de investimento imobiliário

4. Características da alienação fiduciária: - Acessório: é um contrato acessório para garantir o cumprimento de outro.

* Pode ser firmado simultaneamente ao contrato principal ou posteriormente a ele. - As partes: a) Devedor fiduciante: usa o bem conforme seu fim e se comprometeu a pagar o preço; e b) Credor fiduciário; aquele com posse indireta do bem a título de garantia do cumprimento do contrato principal. - Objeto: bem móvel, bem imóvel, ações e cessões de direitos sobre imóveis. - Forma: deve ser feito por escrito, em instrumento público ou particular.

5. Das consequências da propriedade fiduciária: pode ocorrer a consolidação da propriedade a) No devedor fiduciante: quando pagar integralmente o preço ajustado ou o empréstimo contratado. O credor fiduciário deve entregar o termo de quitação em 30 dias para cancelar a propriedade fiduciária. b) No credor fiduciário: se a dívida não for paga, a propriedade é consolidada para o credor fiduciário, devendo este levar a propriedade a leilão. - Dúvida: o devedor fiduciário pode concordar em dar o bem em pagamento da dívida ao credor fiduciário? Se for bem móvel pode, mas é nula a cláusula que imponha a dação em pagamento do bem antes de vencida a dívida. Se imóvel há discussões, mas parece ser possível, por analogia ao parágrafo único do Art. 1428.

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Compromisso de compra e venda 1. Origem histórica: é uma promessa de contratar, espécie do gênero dos contratos preliminares. 2. Conceito: contrato preparatório em que as partes contraem a obrigação de virem a celebrar o contrato definitivo, após o pagamento integral do preço previamente ajustado.

3. Classificação do compromisso de compra e venda: I. Quanto ao sinalágma: pode ser

a) Unilateral: hipóteses restritas, como casos de promessa de compra ou de promessa de venda, que são contratos de opção, trazendo obrigação de contratar apenas para o promitente vendedor; ou b) Bilateral: gera obrigações para ambas as partes, que consistem na celebração do contrato definitivo em momento posterior.

II. Quanto à forma: não há forma exigida por lei, é contrato não formal – liberdade de forma. III. Quanto à onerosidade: depende do objeto do contrato definitivo a ser celebrado. No caso do compromisso de compra e venda, o contrato preliminar é oneroso, já que o definitivo é oneroso. IV. É consensual: basta que as partes acordem sobre os termos do contrato definitivo a ser celebrado.

4. Natureza jurídica: É um direito real, mas para isso precisa dos seguintes requisitos: a) Contrato celebrado sem possibilidade de direito de arrependimento; b) Contrato deve ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis (necessário apenas para que seja oponível a terceiro). OBS.: O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.

- Deste modo, o CC/02 possibilita a cláusula de imissão de posse, onde o promitente comprador tem posse relativa direta e o promitente vendedor reserva-se à qualidade de possuidor absoluto até a completa quitação do negócio jurídico definitivo. É um direito real de aquisição. - Direito real sui generis = se reduz à simples limitação do poder de disposição do proprietário que o constituiu.

5. Requisitos e pressupostos do compromisso de compra e venda: - Pressupostos: capacidade das partes, a idoneidade do objeto e a legitimidade para realizá-lo;

OBS.: Vênia conjugal = necessária para validar; o contrato celebrado pelo marido sem o consentimento da esposa é inválido por falta de legitimidade do marido, mas a esposa pode ratificar posteriormente, sanando a invalidade.

- Requisitos (elementos intrínsecos): consentimento, forma e causa.

6. Execução específica do compromisso de compra e venda: admitida e dá-se da seguinte forma – (1º) o promitente-comprador deve interpelar a outra parte para que ela celebre, em 15 dias, o contrato definitivo. - Se passar o prazo e não houver manifestação de vontade referente à formação do contrato definitivo, o promitente-comprador pode requerer em juízo o suprimento judicial, sendo que a sentença de adjudicação compulsória será levada a registro.

7. Cláusula de arrependimento no compromisso de compra e venda: o compromisso de compra e venda de imóveis urbanos em terrenos loteados é irretratável (norma especial). Mas nos outros é possível haver cláusula de arrependimento (norma geral).

Contratos de empréstimos: Mútuo e Comodato O CC traz duas modalidades de empréstimo: o mútuo (empréstimo de consumo) e o comodato (empréstimo de uso). O CDC tem várias disposições sobre o assunto. No empréstimo, uma das partes recebe a coisa em empréstimo para uso ou utilização, tendo essa pessoa a obrigação de restituir esta coisa individualizada ou dar outra coisa do mesmo gênero, quantidade e qualidade depois de determinado lapso temporal. 1. Contrato de comodato: I. Definição: Contrato gratuito pelo qual alguém (comodante) entrega a outrem (comodatário) uma coisa infungível, para que dela se utilize gratuitamente, e a restitua depois. Empréstimo gratuito de coisas não fungíveis, que se perfaz com a tradição do objeto. Elementos essenciais:

a) Gratuidade: o difere de locação, que é uma cessão onerosa. b) Tradição da coisa: por ser contrato real, só se perfaz com a entrega da coisa * Sem entrega = promessa de comodato. c) Infungibilidade da coisa emprestada: a coisa deve ser infungível, não pode ser consumível. d) Temporariedade: comodatário obriga-se a restituir a coisa dada em comodato após um lapso temporal. Se não houver a obrigação de restituição após o lapso temporal = doação gratuita.

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II. Classificação do contrato de comodato: 1. Unilateral: obrigação só do comodatário (restituir a coisa); 2. Real: precisa de entrega da coisa para se perfazer; 3. Por tempo determinado ou determinável: precisa de prazo. Se for prazo determinado, o comodante não pode pedir a restituição do bem antes do fim do prazo, exceto se provar que há necessidade imprevista e urgente.

- Se não for determinado o prazo, há presunção de que o contrato foi estipulado pelo tempo necessário para o uso concedido. Deste modo, para reaver o bem, o comodante deverá notificar o comodatário para que devolva o bem em um prazo razoável, sob pena de aluguel da coisa até a restituição;

4. Contrato de execução continuada ou periódica: os efeitos do contrato se prolongam no tempo. * Há divergências sobre o caráter personalíssimo ou não do comodato, já que por ser benéfico a um indivíduo em especial, não necessariamente o benefício é feito pra outrem. Mas outros autores entendem que o caráter personalíssimo não é característica essencial do comodato. No caso de comodato de bens alheios que estão com tutor ou curador é necessária autorização especial.

III. Obrigações decorrentes do contrato de comodato - o comodatário se obriga a:

- Guardar e conservar a coisa empregada como se fosse sua; - Limitar o uso do bem emprestado, delimitando no contrato; - Usar o bem de acordo com a sua natureza; - Restituir o bem findo o prazo do contrato ou quando decorrer o tempo necessário para o uso do bem, ou em algumas hipóteses (prazo indeterminado) quando o comodante o requerer.

IV. Riscos do objeto do comodato: - Se a coisa perecer ou deteriorar-se sem culpa do comodatário (caso fortuito ou força maior), o comodatário não é obrigado ao pagamento de qualquer indenização. - O comodatário só responde por perdas e danos se não cumprir com suas obrigações do Art. 582, CC, e se, constituído em mora nos casos de comodato por prazo indeterminado para restituir o bem, não o fizer. Também será responsabilizado pela perda do bem tomado em comodato se não salvá-lo antes dos seus bens. - Com relação às despesas na manutenção do bem, o comodatário responde por elas, não podendo cobrar o comodante. Há responsabilidade solidária quando o objeto tiver sido emprestado para mais de uma pessoa. 2. Contrato de Mútuo: I. Definição: contrato pelo qual alguém (mutuante) transfere a propriedade de coisa fungível a outrem (mutuário), que se obriga a lhe pagar coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. Elementos essenciais:

a) Transferência da propriedade: transfere o domínio, então o mutuante deve ser proprietário (comodato só exige posse direta) do que empresta e deve poder de disposição para aliená-la; b) Fungibilidade da coisa: bem fungível ou consumível (sofrem imediata destruição com seu uso); * Impossibilidade de mútuo para imóveis, já que são infungíveis. c) Temporariedade: caso contrário seria doação ou venda.

II. Classificação do contrato de mútuo: 1. Unilateral: só o mutuário tem obrigação (de restituir). O mutuante tem direito de crédito consistente na faculdade de exigir a restituição da coisa equivalente, além da cobrança de juros quando for mútuo feneratício (oneroso, mas ainda unilateral, pois os juros são pagos só pelo mutuário; mútuo feneratício é o único contrato unilateral oneroso). 2. Real: contrato só se perfaz com a tradição da coisa. A promessa pode ensejar perdas e danos. OBS: Há presunção legal de o mútuo é gratuito, no silêncio das partes (não pactuando juros), salvo se o mútuo tiver fins econômicos, quando é presumido oneroso. Todavia, é raro o mútuo gratuito

III. Espécies de mútuo:

Mútuo gratuito: contrato benéfico, auxílio desinteressado do mutuante. Mútuo oneroso ou feneratício ou frutífero: as partes estabelecem juros, é oneroso. Assim, além de devolver coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade, o mutuário ainda tem que pagar os juros. - Se o mutuário não pagar os juros (retributivos ou compensatórios), o mutuante pode pedir a resolução do contrato.

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- Quanto aos juros, o pagamento pode ser feito em parcelas, sendo a dívida amortizável. O saldo amortizado é calculado com os juros, sendo que o novo saldo é obtido com base nos juros sobre aquele aplicados, e sobre esse novo saldo amortizado, mais uma vez os juros, e assim por diante.

IV. Lei da Usura: limitação da taxa dos juros e a proibição do anatocismo. A Lei da Usura vedava a estipulação de juros superiores ao dobro da taxa legal (12% a.a.). - Entretanto, a Lei 4595/64 diz que os juros cobrados pelas instituições financeiras submetidas ao sistema financeiro nacional e o mercado de capitais serão disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional. Chegou-se à conclusão que o limite da taxa de juros fixado pela Lei da Usura não seria aplicável às operações realizadas por instituições financeiras e o STF sumulou. - A CF/88 limitou os juros em 12% ao ano, mas este trecho foi revogado pela EC 40/2003 para evitar confusões. V. Limitação da taxa de juros: o Art. 591 do CC trouxe inovação à determinação da taxa de juros, que não pode exceder a taxa a que se refere o Art. 406, CC – taxa SELIC, mas essa taxa não é instituída por lei e permite o acúmulo mensal. Sendo assim, o STF considerou a aplicação da SELIC incompatível com a regra do 591, CC que permite apenas a capitalização anual de juros. Assim, a limitação dos juros deverá observar o índice de 1% ao mês, ou seja, 12% ao ano (após 01/01/2003). Para aplicação da Lei de Usura, deve-se considerar o dobro dessa taxa legal (24% a.a.). Os contratos que violem os dispositivos da Lei da Usura são nulos de pleno direito. VI. Anatocismo: consiste na incorporação dos juros vencidos ao capital, sendo que sobre esta quantia incidirão os juros vincendos (capitalização). A Súmula 121 do STF entende que é vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada. Mas o art. 591 permite capitalização anual, revogando a súmula acima. VII. Riscos, prazos e extinção do contrato de mútuo: os riscos com a coisa correm por coisa do mutuário (devedor), mas é irrelevante, pois o gênero não perece. O mútuo é contratado com prazo, mas, no silêncio das partes, a lei presume que: se for bem agrícola o prazo do pagamento é até a próxima colheita; se for dinheiro, o prazo é de 30 dias; se for outro bem fungível, o mutuante tem o direito de intimar o mutuário a qualquer momento para cumprir a obrigação, mas com razoabilidade. VIII. Mútuo feito à pessoa menor: não pode ser pleiteado nem do menor nem de seu responsável, se este não o representou nem assistiu no negócio celebrado. Mas há as seguintes exceções:

- Se houver ratificação posterior pelo representante legal do menor; - Se o mútuo foi contratado para suprir suas necessidades (alimentos) habituais na ausência de seu representante legal; - Se o menor tiver bens por esforço do seu trabalho (o credor só executará até o limite desses bens); - Se o empréstimo se reverteu em benefício do menor; - Se o menor contratou o empréstimo maliciosamente, por exemplo, ocultando sua idade.

Contrato de Locação

1. Histórico da locação e sua evolução: - Direito Romano: 3 modalidades, ou espécies de contrato de um gênero maior chamado locatio conductio: - Locatio rei (locação de coisas) - Locatio operarum (locação de serviços) - Locatio operis faciendi (locação de obra ou empreitada) Entretanto, a unificação do conceito de locação no Direito Romano mostra-se equivocado. Há traços distintivos entre as três modalidades contratuais distintas e o que as assemelha é um dos elementos: a remuneração periódica. - Clóvis Beviláqua (CC 1916): “contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração, que a outra paga, se compromete a fornecer-lhe, durante certo lapso de tempo; ou o uso e gozo de uma coisa infungível (locação de coisas); ou a prestação de um serviço (locação de serviço); ou a execução de algum trabalho determinado (empreitada)”. O CC 16 também tratava destas figuras como espécies incluídas sob a denominação de um único contrato típico chamado de “Locação”. - Conclusão: com o tempo, percebeu-se que esses contratos não podem ser tratados da mesma maneira. O fator característico da locação é a restituição da coisa após um lapso temporal. Mas, na locação de serviços, esta restituição é impossível, pois uma vez executados os serviços, o objeto do contrato se exaure; e na locação de obra, a restituição também é impossível. Assim, a sistematização destes contratos foi alterada pelo CC 2002.

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- CC/2002: Cada uma destas figuras contratuais é tratada como um contrato em espécie (típico e nominado). Assim, a denominação “Locação de coisas” disciplina a locação propriamente dita (com restituição posterior da coisa locada), os “Contratos de prestação de serviços” disciplinam a locação de serviços e a “Empreitada” trata das antigas locações de obras. 2. Locação de coisas: disciplinada em leis esparsas, além do CC/02; Se a coisa objeto do contrato de locação for: (a) Prédio urbano - Lei do Inquilinato; (b) Prédio rústico - Estatuto da Terra; (c) Prédios nacionais - DL 9760.

- Conceito e classificação do contrato de locação: o locador transfere a posse do bem ao locatário, por um prazo certo ou indeterminado, mediante retribuição (aluguel) ajustada. - É um contrato com efeitos obrigacionais, cujo objeto deve ser infungível; a restituição da coisa locada ao término do contrato é essencial para configurar o contrato de locação; é obrigatoriamente oneroso. - Pode ser classificado em:

a) Sinalagmático: as partes têm obrigações interdependentes (locador cede uso e gozo da coisa; locatário paga o aluguel). Locador e locatário são credores e devedores recíprocos. b) Consensual: requer-se apenas o consenso para aperfeiçoar o contrato; a disponibilidade da coisa é mera obrigação que surge ao locador. c) Oneroso: essencial para ser distinguido do comodato. d) Impessoal: a morte de um dos contratantes não extingue o contrato, transferindo-o ao herdeiro. e) De execução continuada: apesar de o locatário pagar de forma periódica, o objeto é único, por isso não é de execução diferida.

- Âmbito de aplicação do Código Civil: locação de imóveis de propriedade da Administração; locação de vagas de garagem e estacionamento; locação de espaços de publicidade; locação de flats, arrendamento mercantil

- Principais aspectos do contrato de locação de coisas no CC/02: I. Obrigações do locador e locatário (Art. 566-569 do CC): o locador obriga-se a entregar ao locatário a coisa alugada e garantir o uso pacífico. O locatário obriga-se a usar a coisa nos limites do contrato, dar ciência ao locador de turbações por terceiros, pagar aluguel e restituir a coisa no fim do contrato.

II. Direitos do locador e locatário: - Os direitos do locatário são a redução proporcional do aluguel ou resolver o contrato em caso de deterioração da coisa sem culpa do locatário; pagamento da multa proporcional se quiser resolver o contrato de locação com prazo determinado antes de seu término; direito de retenção (incide também sobre o valor das benfeitorias necessárias e úteis, desde que feitas com autorização do locador). - Os principais direitos do locador são de rescindir o contrato, além de perdas e danos se o locatário usar a coisa locada fora dos limites do contrato ou se danificá-la por abuso do locatário; direito a receber a multa se o locatário resolver o contrato antes do prazo combinado.

III. Locação por prazo determinado e indeterminado: - Com prazo determinado: se encerra automaticamente com o termo final, sem interpelação para a coisa ser restituída. - Se o locatário continuar com o bem sem oposição do locador, entende-se que o contrato prorrogou-se por tempo indeterminado.

IV. Dos efeitos da mora do locatário: se o locatário não devolver quando notificado, ele responde pelo pagamento dos aluguéis arbitrados pelo locador e responde por quaisquer danos que a coisa venha a sofrer, ainda que por caso fortuito.

V. Da revisão judicial do contrato de locação: são casos que o juiz pode intervir no contrato de aluguel para garantir o equilíbrio contratual.

1. Quanto ao valor do aluguel arbitrado abusivamente; 2. Quanto à multa: redução da multa contratual quando esta previr o pagamento dos alugueis ainda devidos pelo tempo que falta (abusiva).

VI. Cláusula de vigência do contrato de locação: - Conceito: cláusula mediante a qual o contato de locação terá vigência, caso o locador venda a coisa locada ainda na vigência do contrato de locação. - Requisitos: contrato de locação deve ser registrado no Cartório de Registro de Títulos e Documentos do domicílio do locador, quando a coisa locada for móvel e no Registro de Imóveis da respectiva

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circunscrição, quando imóvel. Quando imóvel, ainda que não esteja prevista a cláusula de vigência, não se pode despejar o locatário antes de 90 dias após a notificação.

3. Lei do inquilinato (locação residencial): locação de imóvel urbano que pode ser residencial; para temporada (por curto período de tempo), ou não residencial ou comercial. Para ser locador basta ter a posse do imóvel. O contrato pode ser firmado por qualquer prazo, mas se for por 10 anos ou mais e o locador for casado, precisa da vênia conjugal. É válido sem a vênia, mas o cônjuge não precisa respeitar o tempo que ultrapassou os 10 anos. - Não há forma especial para a celebração do contrato, mas se for verbal é por prazo indeterminado. a) Espécies de locação residencial: com prazo indeterminado e com prazo determinado.

I. Contrato de locação com prazo indeterminado: o locador pode reaver o imóvel (ação de despejo) em casos de resilição motivada (denúncia cheia): concordância do locatário - mútuo acordo1; ou se o locatário praticou alguma infração legal ou violou disposição contratual2; ou em virtude de falta de pagamento do aluguel e demais encargos3; ou quando forem necessários reparos urgentes no bem, determinados pelo Poder Público, e que não possam se fazer com o locatário no imóvel4. - Fora dessas hipóteses não pode ser rescindido pelo locador, mas o locatário pode devolver o imóvel a qualquer tempo, desde que notifique o locador com antecedência mínima de 30 dias sob pena de pagar o valor de um aluguel. II. Contrato de locação com prazo determinado: o locatário pode resilir unilateralmente o contrato desde que pague a multa proporcional ao tempo que resta; o locador não pode reaver o imóvel antes do término do prazo contratual sob pena de ser carecedor da ação de despejo. - Mas o art. 9º da Lei do Inquilinato coloca outros motivos, que são: havendo mútuo acordo entre as partes; se uma das partes cometer infração contratual ou legal; havendo falta de pagamento podendo ser de um mês; para realização de reparos no imóvel.

Subespécies de contrato de locação por prazo determinado: * Contrato de locação por escrito e com prazo igual ou superior a 30 meses: findo o prazo, o contrato termina independentemente de notificação. No entanto, se o locatário continuar na posse do imóvel por mais de 30 dias sem oposição do locador, o contrato é prorrogado por prazo indeterminado, mantida as condições do contrato original. - O locador poderá pedir o imóvel de volta a qualquer tempo e sem motivo justificado (denúncia vazia), concedendo o prazo de 30 dias para a desocupação do imóvel. * Contrato de locação, verbal ou escrito, com prazo inferior a 30 meses: findo o prazo, o contrato termina independentemente de notificação ou aviso. Se o locatário permanecer na posse do imóvel por mais de 30 dias sem oposição do locador, tem-se contrato por tempo indeterminado, sendo mantidas as cláusulas do original. - Se o locador quiser reaver o imóvel deve haver denúncia cheia (motivo justificado): mútuo acordo; infração legal contratual; falta de pagamento; realização de reparos urgentes; extinção do contrato de trabalho; para uso próprio ou para alguém da família que não tenha residência própria; para demolição ou edificação; se a vigência interrupta ultrapassar 5 anos.

b) Aluguel: é vedada fixação do aluguel em moeda estrangeira, variação cambial e salário mínimo. - Pode ter reajuste por índice que deve ser legalmente aceito e anual. - Pode haver revisão amigável do valor do aluguel, feita a qualquer tempo; ou revisão judicial no decurso do prazo de 3 anos, a contar do início do contrato, ou da última revisão acordada entre as partes, se houver uma primeira ação revisional. c) Aspectos materiais da Lei do Inquilinato: I. Restrição da denúncia vazia (ação de despejo sem nenhuma razão) por parte do locador: a denúncia vazia só é cabível se o contrato for escrito e com prazo mínimo de 30 meses.

* Se for inferior a 30 meses, só é cabível após 5 anos de vigência interrupta da locação. II. Requisitos para estabelecer locação para temporada: deve ser escrita, com prazo máximo de 90 dias, e consignar a destinação. - Nessa modalidade o locador pode exigir o pagamento antecipado do aluguel. Vencidos os 90 dias, se o locatário não desocupar o imóvel, o locador deverá promover ação de despejo em até 30 dias (denúncia vazia).

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III. Locação não residencial ou comercial: nessa modalidade a lei confere ao locatário (comerciante) o direito de renovação, havendo certos requisitos: contrato escrito, prazo igual ou superior a 5 anos, exercício da mesma atividade por 3 anos. 4. Aspectos procedimentais da lei do inquilinato: os procedimentos são - a ação de despejo, a consignação de pagamento de aluguéis e encargos, a ação revisional e a ação renovatória. Esses processos tramitam nas férias forenses (prazos não se suspendem nem se interrompem); a competência é territorial (admite foro de eleição); o valor da causa (em todos) é de 12 aluguéis vigentes; a citação é feita pelo correio com aviso de recebimento; o recurso de apelação interposto pelo vencido só é recebido no efeito devolutivo, autorizando a execução provisória (apenas na ação revisional o recurso tem efeito suspensivo). I. Ação de despejo: - Admite tutela antecipada: possibilidade de liminar inaudita altera pars para o locatário sair do imóvel no prazo de 15 dias. Requisitos:

a) Caução de 3 aluguéis (depositada pelo locador); b) Que seja uma locação por prazo determinado em que as partes tenham feito um acordo escrito e assinado por 2 testemunhas rescindindo o contrato por mútuo acordo; ou despejo de ex-empregado c) Em caso de locação para temporada, a ação deve ser ajuizada nos 30 dias seguintes ao término. d) Em caso de morte do locatário sem que haja sucessor. e) Permanência do sublocatário legítimo no imóvel, extinto o contrato de locação.

- Formas de extinção do contrato: amigável ou judicial (que, em regra, se dá por ação de despejo). OBS.: Também cabe tutela antecipada na ação de despejo, se presentes os requisitos do Art. 273, CPC (dispensada a caução).

- Há alguns casos que possibilitam a ação de despejo por motivo especial (Art. 60, L Inquilinato): realização de reparos ou demolição do imóvel. Sendo que a petição inicial deve constar da prova de propriedade do imóvel (exceto no caso do herdeiro, quando aberta a sucessão, que não precisa apresentar a prova).

II. Ação de despejo por falta de pagamento: tem natureza desconstitutiva ou constitutiva negatória, e não condenatória. Mas há a possibilidade de emendar a mora. - Feita a citação, o réu tem 15 dias para contestar, sendo que, se não o fizer, será revel e se o fizer, emenda a mora através do depósito dos valores devidos (impedindo a rescisão do contrato). - O locatário não poderá emendar a mora se já o fez por duas vezes nos doze meses anteriores, mas isso deve ser alegado pelo autor. - Feito o depósito, o locador irá se manifestar, podendo concordar com o depósito (processo será extinto), ou discordar, dizendo o porquê do depósito não estar correto (o réu terá 10 dias para complementá-lo). - Pode haver cumulação entre a ação de rescisão do contrato de locação (despejo por falta de pagamento) e a ação de cobrança. Mas se o contrato for escrito e assinado por 2 testemunhas, vale como título executivo extrajudicial e o processo correto, neste caso, é o de execução (não a cumulação de pedidos). - Pode haver cumulação subjetiva (locador pode ingressar com a ação contra o locatário e seu fiador).

III. Ação revisional: o locatário ou locador podem pedir a revisão do valor do aluguel a cada três anos, mas a primeira revisão só pode ser feita após três anos do início do contrato e as demais só podem ser feitas três anos após o último acordo ou da citação da última ação de revisão. - A petição inicial deve indicar o valor do aluguel que se pretende receber ou pagar. Se o autor quiser aluguel provisório, deve comprovar na petição inicial o valor de mercado do aluguel, sendo que o aluguel provisório será fixado em até 80% do valor indicado pelo autor. - Na sentença, o juiz fixa o aluguel definitivo, que é devido desde a citação, acarretando diferenças de aluguel em favor do locatário ou locador. Diferenças devidas em favor do locador é aluguel, portanto enseja despejo por falta de pagamento, se o locador quiser. Se as diferenças forem em favor do locatário, pode ser usado o instituto da compensação com os aluguéis futuros.

IV. Ação renovatória: cabível em hipótese de locação não residencial e fundamenta-se na proteção ao comércio, comerciante e indústria das mazelas do mercado. - Deve ser instruída com o contrato escrito que esteja em vigor pelo prazo mínimo de 5 anos ou a somatória dos prazos de vários contratos ininterruptos totalizem 5 anos; deve-se ainda comprovar que exerce a mesma atividade há 3 anos. - O locador pode se defender alegando que o autor não preenche os requisitos estabelecidos na lei, que a proposta do locatário não corresponde ao valor de mercado e/ou que há proposta melhor de terceiro.

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Prestação de Serviço e Empreitada Prestação de Serviços 1. Conceito: contrato pelo qual um indivíduo (executor ou prestador) se obriga a prestar um serviço a outro (solicitante ou tomador) de forma eventual mediante retribuição, não havendo subordinação entre as partes contratantes. - O conceito do contrato de prestação de serviços é feito por exclusão, ou seja, aqueles contratos que não se ajustam aos requisitos legais do contrato de trabalho, que é caracterizado por vínculo com subordinação e continuidade.

2. Classificação do contrato de prestação de serviços: a) Consensual: se aperfeiçoa com o encontro das declarações de vontade b) Bilateral ou Sinalagmático: obrigações para ambas as partes – o prestador deve executar o serviço e o tomador deve pagar a remuneração (honorários). Geralmente a prestação é paga após a prestação do serviço, mas pode haver estipulação em contrário. O valor da remuneração pode ser arbitrado se não houver acordo. c) Oneroso: vantagem e ônus para ambos. d) Limite temporal: não pode superar o prazo de 4 anos. Após esse prazo, o contrato é encerrado, mesmo que a obra não esteja concluída, mas as partes podem celebrar outro contrato que vigorará por mais 4 anos. * Não conta no prazo o tempo em que o prestador deixa de trabalhar por culpa. e) Pessoal: não pode ser transferido a outrem, mas as partes podem concordar que o serviço seja realizado por outrem. f) Forma: livre

3. Aviso prévio: a lei impõe o prazo máximo de 4 anos, mas as partes podem celebrar contrato de prestação de serviço por prazo indeterminado ou sem mencionar o prazo, ainda que respeitando o limite máximo. - A consequência de se estipular um contrato por tempo indeterminado é que qualquer uma das partes pode resilir (unilateralmente) o contrato a qualquer tempo. Mas para isso, deve ser dado aviso prévio.

4. Objeto do contrato: serviço lícito, de caráter material ou imaterial e compatível com as forças e condições do tomador.

5. Extinção do contrato de prestação de serviços: a) Despedida: resilição unilateral do contrato, feita pelo tomador ou pelo prestador, com ou sem justa causa. - Se o prestador se despedir com justa causa, terá direito à remuneração devida. - Se o prestador despedir-se sem justa causa ou for despedido pelo tomador com justa causa, terá direito a remunerações devidas, mas deverá responder por perdas e danos. - Se o tomador despedir o prestador sem justa causa, este deverá receber as remunerações vencidas e, além disso, a metade de que receberia ao termo legal do contrato.

b) Circunstâncias que determinam o término do contrato de prestação de serviços: além da despedida, a morte de qualquer das partes, o escoamento do prazo, a conclusão da obra, a rescisão do contrato mediante aviso prévio, o inadimplemento de qualquer das partes e a impossibilidade de continuação do contrato por força maior também extinguem o contrato.

6. Direito de quitação: direito de receber a quitação (declaração de que o contrato está encerrado) do serviço prestado após o termino do contrato.

7. Sanções eventuais: prestador deve ter qualificação técnica e habilitação profissional, quando for necessário, sob pena de ser responsabilizado pelo exercício irregular de determinada atividade e de não poder cobrar a retribuição que normalmente corresponde ao trabalho executado. - No entanto, se resultar em benefício para a outra parte, o juiz atribuirá uma compensação razoável, desde que tenha havido boa-fé. Mas isso não se aplica quando a prestação de serviço é proibida por lei. - Aliciamento de pessoas (Art. 207, CP): aliciar pessoas pra prestar serviço a outrem; também é vedado, sob pena de o aliciador indenizar o tomador de serviços em valor correspondente a dois anos de trabalho.

Empreitada 8. Conceito: contrato pelo qual as partes convencionam a execução de determinada obra (ou serviço), sem subordinação ou dependência, obrigando-se o executante (empreiteiro), por seu trabalho só ou com a ajuda de terceiros, fornecendo ou não os materiais necessários, perante a parte que requisitou a obra (empreitante ou dono da obra ou comitente), segundo as informações deste, que fica obrigado a pagar o preço avençado independentemente do tempo necessário.

9. Classificação do contrato de empreitada:

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a) Bilateral ou Sinalagmático: o empreiteiro tem a obrigação de executar a obra, enquanto o dono da obra deve pagar a remuneração ajustada pela obra e, quando for o caso, fornecer os materiais. b) Consensual: aperfeiçoa-se pela declaração de vontade das partes. c) Forma: livre, mas aconselha-se a forma escrita para estabelecer as características da obra e o orçamento. d) Oneroso: remuneração é elemento essencial

10. Espécies de empreitada: - Quanto à definição da remuneração: a) Empreitada de preço fixo: preço é estabelecido pelas partes levando em consideração a obra em sua totalidade, ficando desde o início estipulado o preço total da obra.

I. Empreitada de preço fixo relativo: partes convencionam a possibilidade de alteração do valor da remuneração dependendo dos componentes da obra (Contrato oneroso aleatório). II. Empreitada de preço fixo absoluto: não se admite alteração do valor da remuneração da mão de obra ou dos materiais utilizados, salvo em hipóteses excepcionais:

- Fatos imprevisíveis, que levam à revisão judicial do contrato, ou por boa-fé objetiva, se o dono, presente na obra, vê a necessidade de aumento de preço e não se opõe.

b) Empreitada por medida ou ad mensuram: o preço é estabelecido levando-se em conta o cumprimento da obra, que é calculado por etapas e paga-se o preço correspondente a cada etapa.

- Quanto à execução da obra pelo empreiteiro: a obrigação de fornecer materiais deve estar expressa a) Empreitada de mão de obra (labor): o empreiteiro obriga-se apenas à execução da obra, cabendo ao empreitante fornecer-lhe os materiais. Nesse caso, o empreiteiro só responde pelos riscos de perecimento ou deterioração da coisa mediante a comprovação de culpa.

b) Empreitada mista: além de se obrigar pela execução da obra, o empreiteiro se obriga a fornecer os materiais. Nesse caso, o empreiteiro responde pela boa qualidade da obra como um todo, suportando os riscos de deterioração da obra, a menos que o dono da obra esteja em mora (hipótese em que isentará o empreiteiro dessa responsabilidade).

11. Direitos e obrigações das partes: a) Direitos e obrigações do dono da obra: DIREITOS - exigir do empreiteiro a observância do que foi estabelecido no contrato, podendo suspender a obra se não forem seguidas suas instruções; fiscalizar a obra; receber a obra concluída conforme pactuado; rejeitar a obra ou pedir abatimento do preço se as instruções dadas não forem observadas. OBRIGAÇÕES: efetuar o pagamento (criando presunção absoluta de que verificou a obra); ao receber a obra, analisar o que foi feito e apontar vícios; receber a obra; fornecer materiais, na hipótese de empreitada mista; manter as instruções do projeto.

b) Direitos e obrigações do empreiteiro: DIREITOS – receber o pagamento do valor estipulado (direito de cobrança); entregar a obra ao proprietário; requerer que o dono da obra a verifique; direito de retenção da obra até que seja efetuado o pagamento (admitido pela doutrina); cessão de sua posição a um terceiro, desde que haja consentimento expresso do dono da obra e de que não se trate de contrato personalíssimo; suspender a obra em caso de culpa do dono ou por fato extraordinário. OBRIGAÇÕES – executar a obra conforme as instruções e planos dados; reparar os vícios que a obra venha a apresentar; entregar a obra concluída na data estipulada; pagar pelos materiais inutilizados por culpa; no caso de empreitada mista, deve fornecer os materiais. 12. Responsabilidade das partes: relaciona-se à espécie contratada a) Empreitada de mão de obra: não havendo culpa do empreiteiro, o dono da obra sofre os prejuízos decorrentes da perda ou deterioração da obra, não podendo pleitear indenização pelos materiais utilizados. - No entanto, antes da entrega da obra, não estando em mora o dono da obra e não havendo culpa do empreiteiro, este não pode pleitear retribuição. Mas o empreiteiro pode se eximir desta responsabilidade se provar que a perda resultou de defeitos nos materiais fornecidos pelo dono da obra, desde que tenha dado ciência da má qualidade ou quantidade do material (dever do empreiteiro).

b) Empreitada mista: o empreiteiro responde pela perda ou deterioração da coisa até o momento da entrega, salvo se o dono da obra estiver em mora de recebê-la.

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c) Responsabilidade do empreiteiro pelos vícios de solidez e segurança: prazo irredutível de 5 anos de garantia do empreiteiro pela solidez e segurança da obra. - Se o empreiteiro tem conhecimento de má condição do solo em que se realiza a obra, só se eximirá de responsabilidade recusando-se a realizar a empreitada. - O dono da obra tem o prazo de 180 dias para alegar vícios ocultos, contando da data em que o vício for detectado. 13. Suspensão da obra: o empreiteiro pode suspender a obra em três casos – por culpa do dono ou motivo de força maior; quando se manifestarem dificuldades imprevisíveis de execução, de modo que a empreitada se torne excessivamente onerosa e o dono da obra se opuser ao reajuste do preço; se as modificações exigidas pelo dono da obra forem desproporcionais ao projeto aprovado, ainda que o dono arque com o preço.

* Salvo esses casos, o empreiteiro não pode suspender a obra, ou responderá por perdas e danos. 14. Extinção do contrato de empreitada: pela execução da obra; pela resolução (se uma das partes não cumpre sua obrigação, a outra pode resolver o contrato); pela resilição unilateral (empreitante deve indenizar empreiteiro); pela morte das partes, se o contrato é personalíssimo. 15. Subempreitada: é um contrato derivado, em que o empreiteiro contrata outra pessoa para a execução de parte ou da totalidade da obra, sob sua fiscalização. - Não se permite se o contrato de empreitada original for personalíssimo. - Responsabilidade do empreiteiro principal: subsidiária (majoritária) ou solidária

Contrato de Fiança 1. Introdução: contrato acessório do contrato principal (de locação ou de empréstimo ou de financiamento), de garantia do adimplemento das obrigações advindas do contrato principal.

2. Conceito: Contrato pelo qual uma das partes contratantes (fiador) garante o cumprimento da obrigação assumida pelo afiançado (devedor da obrigação no contrato principal) em face do credor. - Garantia Real × Garantia Pessoal: a garantia real vincula um bem em especial para dar em garantia (penhor ou hipoteca). Já a garantia pessoal recai em terceira pessoa, que assume a dívida se o devedor falhar (fiança).

3. Classificação do contrato de fiança: a) Quanto às obrigações oriundas do contrato de fiança: contrato unilateral (obrigações só para o fiador). b) Quanto à onerosidade: gratuito, mas é possível estipulação contrária para compensar riscos do fiador. c) Quanto à existência: contrato acessório. Nesse sentido, a obrigação fiduciária não sobrevive à obrigação principal e tem a mesma natureza e extensão da obrigação principal (se a fiança não for limitada, ela compreenderá todos os acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais, desde a citação do fiador). O valor da fiança pode ser inferior ao valor da obrigação principal, mas não poderá superá-lo. d) Quanto à forma: contrato formal, devendo ser por escrito (particular ou público). e) Quanto à relação entre as partes contratantes: contrato personalíssimo. O credor não está obrigado a aceitar o fiador se não for pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha se prestar a fiança, e não possua bens suficientes para cumprir a obrigação afiançada. Há possibilidade de o credor exigir a substituição do fiador que se torne insolvente.

4. Pressupostos e requisitos: a) Quanto à capacidade das partes: as partes devem ter capacidade e legitimidade. Se fiador for casado, precisa obter a vênia conjugal, salvo se casados em regime de separação obrigatória de bens. Mas o fiador não pode alegar a falta de outorga uxória para exonerar-se da responsabilidade.

b) Quanto ao objeto do contrato de fiança: dívidas presentes ou futuras (mas só pode acionar o fiador depois que a obrigação se tornar líquida e certa).

c) Quanto à forma: por escrito (elemento de validade). 5. Espécies de fiança: a) Fiança convencional: vontade do devedor (fiador) ou do credor, independente do devedor afiançado. b) Fiança legal: por determinação legal. c) Fiança judicial: determinada pelo juiz. 6. Efeitos da fiança:

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a) Relações entre o credor e o fiador: dois benefícios ao fiador - Benefício de ordem (excussão): direito do fiador de exigir ao credor que acione primeiro o devedor principal. * As condições para o uso desse benefício são: (1) Que o fiador o invoque até a contestação da lide e (2) Que o fiador nomeie bens do devedor situados no mesmo município, suficientes para quitar o débito. * Há ainda situações que impedem a utilização desse benefício, que são: (1) a renúncia expressa; (2) se o fiador obrigou-se como principal pagador ou devedor solidário; (3) se o devedor for insolvente ou falido. - Benefício de divisão: Havendo vários fiadores para só um débito, cada fiador responde somente pela parte que lhe couber, repartida a totalidade da dívida entre todos. Se não se reservaram ao benefício da divisão, serão solidariamente responsáveis. b) Relações entre o afiançado e o fiador: - Benefício de sub-rogação em favor do fiador: pagando o fiador a dívida, este sub-roga-se nos direitos do credor, passando a ser credor do afiançado com os mesmos direitos do credor da obrigação principal, por ele cumprida. * O fiador que paga a dívida tem as pretensões de: (1) obtenção do ressarcimento de todas as perdas e danos; (2) indenização dos prejuízos sofridos em razão da fiança; (3) reembolso dos juros correspondentes ao capital que desembolsou para pagar a dívida. * O fiador ainda tem direito de: (1) dar andamento à execução iniciada contra o devedor principal pelo credor, se este, sem justa causa, a retardar; (2) exigir que o devedor o exonere da fiança se corrido o prazo dentro do qual se obrigou a libertá-lo (o fiador que queria se exonerar da fiança dada sem limitação de prazo fica obrigado por todos os efeitos da mesma durante 60 dias após a notificação do credor). 7. Da possibilidade de transmissão da fiança aos herdeiros: a fiança extingue-se com a morte do fiador, mas a responsabilidade incorrida até esse tempo se transfere aos herdeiros (as obrigações contraídas pelo fiador até o dia de sua morte se transmitem – débitos garantidos vencidos). Ainda que haja um prazo para a fiança, e que o fiador faleça antes de vencido esse lapso de tempo, a morte do fiador põe termo à fiança. 8. Extinção da fiança: a) Extinção do contrato de fiança por via de consequência: extinguindo-se a obrigação principal, extingue-se a fiança. b) Extinção do contrato de fiança por via principal: extingue-se a fiança, permanecendo a obrigação principal c) Extinção do contrato de fiança por modos especiais: dá-se mediante a exoneração do fiador, que ficará desobrigado nos seguintes casos:

* Se sem seu consentimento o credor conceder moratória (prorrogação de prazo) ao devedor. * Se for impossível ao fiador sub-rogar-se nos direitos de credor, por fato deste. * Se houver substituição do objeto do pagamento e vier o credor a perder, por evicção, a coisa recebida. * Se o credor, a quem forem indicados bens do devedor pelo fiador ou alegar o benefício de ordem, retardar a execução, deixando o devedor cair em insolvência.

9. Exceção à impenhorabilidade do bem de família do fiador: o fiador não pode alegar a impenhorabilidade do bem de família = a impenhorabilidade do bem de família não alcança o locatário demandado pelo fiador que pagou a dívida.

Contrato de Depósito 1. Conceito: contrato por meio do qual uma pessoa entrega a outrem um objeto móvel, fungível ou infungível, para que este guarde até que seja reclamado. - Partes: Depositante (o que entrega o bem) e Depositário (o que recebe o bem). 2. Classificação do contrato de depósito: a) Real: torna-se perfeito com a entrega do bem. b) Temporário: sempre surgirá a obrigação de restituir o depósito pelo depositário, sob pena de se transmudar em outra modalidade contratual. Se for por tempo indeterminado, o depositante poderá a qualquer tempo pleitear a entrega do bem notificando o depositário, e vice-versa. c) Unilateral: só há obrigação para o depositário, que é a guarda e restituição do bem. - Mas é possível que surja para o depositante a obrigação de ressarcir o depositário por prejuízos extraordinários decorrentes da guarda do bem (bilateral imperfeito).

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- É possível ainda que haja remuneração em favor do depositário, passando a ser bilateral. d) Quanto à gratuidade: não é da essência do contrato, podendo ser oneroso quando houver remuneração em favor do depositário. e) Polêmica a respeito do caráter intuito personae: autores defendem que o depósito perdeu esse caráter, pois é comum que o depositário seja um profissional desconhecido do depositante. 3. Pressupostos e requisitos: a) Pressupostos subjetivos: basta a capacidade genérica de exercício. - A incapacidade superveniente do depositário implica na resolução do contrato, devendo o administrador dos bens daquele que se tornou incapaz deve restituir imediatamente o depósito, ficando responsável pela integridade do mesmo até a efetiva restituição do bem ao depositante. Se houver recusa injusta do depositante em receber, o administrador dos bens do incapaz deverá promover o depósito público ou a nomeação de outro depositário. - Não é necessário ser proprietário do bem para fazer o depósito, pois não implica em transferência de domínio. No entanto, sendo a coisa depositada no interesse de terceiro, o depositário não se exonerará restituindo o bem ao depositante sem a anuência do terceiro, desde que o depositário tenha sido notificado pelo depositante de que o depósito é feito no interesse de terceiro.

b) Elementos constitutivos: I. Forma e prova do contrato de depósito: não há forma determinada, mas deve ser escrito para que se prove o depósito voluntário. Já o depósito necessário prova-se por todos os meios admitidos em direito. O depósito judicial prova-se mediante o termo assinado pelo depositário. II. Objeto do contrato de depósito: restringe-se o depósito para bens móveis. O depósito de bens imóveis é aceito na possibilidade do sequestro, hipótese em que o bem móvel, imóvel ou semovente é litigioso (discute-se a propriedade do mesmo). Esses objetos ficam depositados até que se obtenha a decisão judicial determinando a quem o bem deve ser entregue, fica em poder de terceiro. O depósito pode consistir em coisas corpóreas e em coisas que se corporificam em títulos.

4. Espécies de depósito: a) Depósito voluntário: quando decorre da manifestação livre e consciente de vontade das partes.

b) Depósito necessário: independente das vontades das partes, ocorrendo em duas hipóteses: depósito legal (imposição legal) ou depósito miserável (realizado em virtude de calamidade). Presume-se oneroso.

c) Depósito gratuito e depósito oneroso: - O depósito voluntário presume-se gratuito (celebrado em favor do depositante), mas nada impede que seja estabelecida uma quantia a título de remuneração em favor do depositário (deve ser feita de forma expressa). - O depósito necessário presume-se oneroso ou salariado. Quando o depositário exercer essa atividade como sua profissão ou como atividade negocial a lei entende que tal depósito seja oneroso (armazéns-gerais, estacionamentos, instituições financeiras). - Não havendo estipulação do valor da remuneração serão aplicadas as regras dos usos e costumes do local em que se efetuou o depósito. Não havendo acordo, será arbitrado o valor, por forma arbitral ou judicial.

d) Depósito regular e depósito irregular: - Regular: objeto = bem infungível e não consumível, em que o bem deverá ser restituído pelo depositário. - Irregular: objeto = bem fungível e consumível, em que o depositário deverá restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade, aplicadas as regras de mútuo. * A diferença do depósito irregular para o mútuo é que o primeiro é feito no interesse do depositante e o segundo no interesse do mutuário. Não basta que o bem seja fungível para caracterizar o depósito irregular, devendo haver cláusula que estipule que o depositário pode restituir outro objeto, desde que seja do mesmo gênero, na mesma quantidade e contenha as mesmas qualidades.

e) Depósito resultante de contrato de hospedagem: os hospedeiros são considerados como depositários por disposição legal (depósito necessário legal). - Trata-se de depósito oneroso, os valores pelo depósito estão inclusos no que é cobrado pelo contrato de hospedagem. Também se incluem nessa categoria os contratos pelos quais se guardam veículos em estacionamentos e garagens.

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- Os hoteleiros respondem pelos danos decorrentes de furtos e roubos em seu estabelecimento. A exclusão desta responsabilidade legal só é permitida se o hoteleiro provar que o evento danoso não poderia ser evitado. Só respondem por coisas que se leva habitualmente (joias, por exemplo, é controverso). - Não tem efeito a disposição unilateral do hoteleiro que estabelece a exclusão de sua responsabilidade pelos objetos deixados no hotel (cláusula abusiva e nula de pleno direito).

f) Depósito judicial: decorre de imposição do juiz. Além das hipóteses de arresto, sequestro e penhora, também pode haver depósito judicial quando o depositante não quiser receber de volta o bem; quando o depositário se tornar incapaz; quando houver suspeita de que o bem é objeto de furto ou roubo. - O depositário é nomeado pelo juiz que expede mandado para ser cumprido pelo oficial de justiça. O depositário que aceitar o encargo assina um termo de compromisso. * É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito (súmula 25, STF).

5. Dos riscos: o depositário não indeniza os danos quando o perecimento ou a deterioração do depósito ocorreu por força maior ou caso fortuito, salvo se estiver em mora. O depositário tem o dever de entregar ao depositante o valor recebido a título de indenização pelo perecimento do bem. O depositário deve ceder ao depositante eventuais ações que possa ter contra o terceiro responsável. 6. Obrigações e direitos decorrentes do contrato de depósito: a) Obrigações e direitos do depositante:

I. Pagar o valor devido a título de remuneração, quando for o caso, podendo o depositário reter o bem até que receba a retribuição devida, se líquidas. II. Pagar as despesas com a guarda do depósito, bem como os prejuízos que eventualmente o depositário sofreu. O depositário pode exercer o direito de retenção até que receba os valores devidos (quando líquidos) ou a caução (se ilíquidos) ou ainda a remoção da coisa ao depósito público.

III. Deve custear as despesas com a restituição do bem.

b) Obrigações e direitos do depositário: I. Obrigação principal: guarda e conservação do bem com cuidado e diligência.

II. Deve entregar o depósito, com todos os frutos e acrescidos, a qualquer momento em que o depositante o reclame.

III. Deve restituir o bem no lugar em que tiver de ser guardado, mas as partes podem estipular de forma diversa (obrigações se transmitem aos herdeiros do depositário).

IV. Sendo o depósito fechado, colado, selado ou lacrado, o depositário deve manter neste estado o bem, sob pena de indenizar por eventuais danos;

V. Deve entregar ao depositante a quantia que tenha recebido pela perda total do bem, e ceder-lhe as ações contra o terceiro que deu causa ao perecimento;

VI. Obrigações negativas: deve abster-se de usar o bem depositado, sob pena de responder por perdas e danos.

VII. Havendo mais de um depositante: 1. Se o objeto do depósito for divisível, o depositário entrega para cada um a parte que lhe cabe, desde que não haja a solidariedade entre eles. 2. Se indivisível, o depositário deve entregar a coisa conjuntamente a todos os depositantes ou entregar apenas a um deles obtendo caução de ratificação dos demais; 3. Havendo solidariedade entre os depositantes, o depositário pode entregar a qualquer um deles, sendo o objeto do depósito divisível ou indivisível.

VIII. O principal direito do depositário é o jus retentionis (direito de retenção) que cabe: 1. Para obter o reembolso das despesas com a manutenção do bem; 2. Até ser ressarcido dos prejuízos sofridos com o depósito do bem (por vícios ocultos); 3. Quanto o objeto do depósito estiver judicialmente embargado; 4. Quando pender execução sobre o objeto do depósito; 5. Quando houver suspeita de que o objeto do depósito foi obtido dolosamente.

7. Prisão do depositário infiel: o CC 2002 traz a possibilidade de prisão civil do depositário que intimado a entregar a coisa depositada, não cumpre essa obrigação. Contudo, o Brasil assinou o Pacto de San José da

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Costa Rica que veda a prisão por dívida e, pela Emenda 45/2003, a CF diz que os tratados internacionais sobre direitos humanos, desde que aprovados por determinado quórum, equivalem à emenda constitucional. - A Súmula Vinculante 25 do STF considera essa prisão do depositário infiel inconstitucional, dizendo que é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.

Mandato 1. Conceito: é o contrato pelo qual a parte interessada (mandante) na consecução de determinado negócio jurídico não pode ou não quer praticá-lo, incumbindo a outrem (mandatário) de fazê-lo através desse tipo contratual. A procuração é o instrumento do mandato.

2. Classificação: a) Unilateral: obrigações apenas para o mandatário, que deve zelar pelos interesses do mandante. Pode, eventualmente, virar um contrato bilateral imperfeito, com alguma obrigação ao mandante. b) Gratuito: gratuidade é presumida, mas nada impede que seja oneroso, que se verifica quando: houver cláusula expressa que fixe remuneração ao mandatário; ou quando o mandato decorrer da própria atividade profissional do mandatário. c) Consensual: basta que as partes acordem sobre os termos do mandato para que ele se aperfeiçoe. d) Intuitu personae: a confiança em determinada pessoa é da essência do contrato de mandato. e) Não solene: forma livre – o contrato pode ser expresso ou tácito, verbal ou escrito, sendo que a procuração é o instrumento do contrato de mandato.

* É valido entre as partes sem forma, mas para valer perante terceiros precisa da procuração. O instrumento da procuração pode ser particular (partes capazes), dependendo de reconhecimento de firma só se o terceiro exigir. Pode ser ainda por procuração pública, que goza de fé pública. Não há necessidade de reconhecimento de firma em contratos de mandato de advogado (procuração ad judicia). f) Preparatório: visa a habilitar o mandatário a praticar certos atos, em nome e por conta do mandante, especificados por ele no instrumento do mandato. 3. Elementos da relação contratual: partes e objeto a) Partes: devem ser capazes no tempo da formação do contrato (pessoas maiores ou emancipadas, no gozo dos seus direitos civis). Se o mandante era incapaz, os atos decorrentes do mandato são nulos ou anuláveis, não se convalidando com a superveniência da aquisição da capacidade pelo mandante. Deve ter ainda legitimidade (inexistência de qualquer impedimento entre o mandante e o mandatário). * Se os relativamente incapazes (menores) forem mandatários, o mandante não terá ação contra o menor, salvo as que decorrerem das regras sobre as obrigações contraídas por menores. * Relativamente incapazes podem ser mandatários desde que assistidos por seu representante e mediante instrumento público. Já absolutamente incapazes não podem, já que é seu representante que celebra o mandato por si. b) Objeto: quaisquer negócios jurídicos desde que não sejam personalíssimos. (A exceção é o casamento, que é personalíssimo, mas pode se realizar por mandato por instrumento público com poderes especiais).

I. Mandato especial: o objeto é um ato jurídico determinado pelo mandante (poder específico). II. Mandato geral: mandante outorga ao mandatário poderes para diversos negócios que pode gerir.

4. Mandato versus prestação de serviços: a) Quanto à representatividade: no mandato, é essencial; já na prestação de serviços, não existe. b) Quanto ao objeto do contrato: no mandato, é a autorização para realizar qualquer ato ou negócio jurídico; na prestação de serviços, é a autorização a realização de um determinado trabalho, material ou imaterial. c) Quanto à atuação das partes: no mandato, o mandatário pode deliberar e querer conforme o legítimo interesse do mandante; na prestação de serviços, o prestador de serviços limita-se a executar o ato exigido de suas aptidões ou habilidades. OBS.: advogados são, simultaneamente, mandatários e prestadores de serviços.

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5. Requisitos da procuração: a) Instrumento particular: nome e qualificação do mandante, o objeto do mandato, data e assinatura do mandante.

b) Instrumento público: feito pelo Tabelião de Notas (o tabelião reduz a termo a procuração que fica registrada em um livro próprio).

6. Substabelecimento: - Conceito: negócio unilateral pelo qual o mandatário (procurador) transfere ao substabelecido, no todo ou em parte, os poderes que lhe foram conferidos pelo mandante (outorgante). - Espécies de substabelecimento:

I. Com reserva de poderes: o substabelecente (mandatário) permanece como procurador, cumulando os poderes recebidos com o substabelecido. II. Sem reserva de poderes: os poderes conferidos ao mandatário são transferidos definitivamente para o substabelecido, ficando responsável se o mandante não anuiu com o substabelecimento.

- Forma do substabelecimento: pode ser por instrumento público ou particular, independente do mandato.

7. Ratificação ou impugnação: os atos praticados pelo mandatário poderão ser impugnados ou ratificados pelo mandante, expressa ou tacitamente. Se ratificados, o mandatário ficará exonerado de responsabilidade; se impugnados, o mandatário é obrigado a indenizar os danos imediatos.

8. Aceitação do mandato: sem o consenso das partes não há formação do contrato. Pode haver aceitação expressa ou tácita (resulta do começo da execução do contrato pelo mandatário). 9. Obrigações do mandatário: a) Execução do mandato: com diligência habitual e fidelidade aos poderes que lhe foram conferidos. b) Prestação de contas: mandatário deve prestar contas ao mandante e transferir-lhe todas as vantagens decorrentes do mandato, pois atuou em nome e em proveito do mandante (se não o fizer incorrerá na obrigação do pagamento de juros desde o momento que os utilizou, sem necessidade de interpelação). c) Obrigações conexas:

I. Morte, interdição ou alteração do estado do mandante: mandatário deve concluir o negócio jurídico já começado se tiver perigo na demora em se celebrar novo mandato com o inventariante ou representante legal. II. Se mandatário comprar algo para si que deveria ter sido comprado em nome do mandante: mandante tem ação para obrigar o mandatário a entregar a coisa comprada. III. Não são compensáveis os prejuízos causados pelo mandatário com os proveitos por este granjeado. IV. O mandatário deve provar a terceiros com quem realize negócios jurídicos os poderes que lhe forem outorgados. V. Deveres de informação, lealdade, honestidade e cooperação: deveres anexos da boa-fé objetiva. VI. Na pluralidade de mandatários, pode ser estipulado que realizem negócios jurídicos distintos, atuando separadamente; ou pode-se estipular que podem atuar em conjunto.

10. Obrigações do mandante: a) Em relação ao mandatário:

I. O mandante deve cumprir todas as obrigações contraídas pelo mandatário: bem como fornecer-lhe as importâncias para a execução do mandato (adiantamento ou por reembolso imediato). II. Mandante deve pagar a remuneração ajustada ao mandatário, independente do resultado, se não houve culpa do mandatário. III. Mandante deve ressarcir os prejuízos sofridos pelo mandatário decorrentes do exercício do mandato. IV. Mais de um mandante, eles são solidariamente responsáveis pelo adimplemento dos encargos.

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b) Em relação a terceiros: I. O mandante deve adimplir as obrigações contraídas pelo mandatário perante terceiros; II. O mandante responde pelas obrigações contraídas contrariamente às instruções dadas, cabendo ação de indenização por perdas e danos contra o mandatário; III. Se o mandante ratificar os atos praticados além dos poderes do mandato, fica responsável pelas obrigações desta forma contraídas.

11. Teoria "ultra vires": o mandatário só pode agir validamente dentro dos poderes da outorga que recebera. Se agir extrapolando essa limitação, os atos praticados ultra vires mandati são inválidos (atos ultra vires – realizados com excesso de poder). Mas, esses atos podem ser validados se houver a ratificação pelo mandante (expressa ou tácita - conduta inequívoca do mandante que demonstra sua anuência com o ato praticado).

12. Direito de retenção: direito de retenção dos honorários advocatícios, por exemplo. Direito do mandatário de reter até ser reembolsado do que despendeu no desempenho do encargo e quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência do mandato.

13. Responsabilidade do mandatário nas hipóteses de substabelecimento: a) Havendo proibição expressa no mandato de substabelecer: o mandatário responde pela escolha, ainda que o dano ocorra por caso fortuito, só se eximindo da responsabilidade se provar que os danos ocorreriam ainda que não tivesse substabelecido. Além disso, os atos praticados pelo substabelecido não obrigam o mandante, mas podem ser ratificados, obrigando-o.

b) Havendo permissão expressa no mandato quanto à possibilidade de substabelecer: o mandatário somente responde se comprovada culpa in eligendo.

c) Omissão no mandato quanto à possibilidade de substabelecer: o mandatário responde pelos danos sofridos pelo mandante, desde que se comprove culpa do substabelecido.

14. Extinção do mandato: ou por vontade das partes ou em virtude de evento que determine sua extinção. a) Revogação: mandante decide cessar os poderes outorgados ao mandatário, sem necessidade de motivação. Mandante deve comunicar ao mandatário a revogação, que pode ser expressa (comunicada ao mandatário e a terceiros) ou tácita (quando se constitui novo mandatário para a prática dos mesmos atos ou negócios jurídicos). Se não notificar terceiros (pode ser judicial ou extrajudicial), pode valer o mandato preservando o terceiro de boa-fé. Se houver cláusula de irrevogabilidade, o mandante deverá pagar perdas e danos.

b) Renúncia: o mandatário pode renunciar os poderes que lhes seriam conferidos pelo mandante, bastando dar ciência ao mandante através da notificação judicial ou extrajudicial (sempre expressa).

c) Morte do mandatário: os herdeiros só podem atuar em negócios já iniciados pelo de cujus (pendentes), não podendo atuar como se fossem mandatários, em novos atos.

d) Mudança de estado: é causa de extinção do mandato a circunstância que atinja a capacidade para dar ou receber procuração, ressalvados os direitos dos terceiros de boa-fé (Ex.: casamento).

e) Decurso do prazo ou conclusão do negócio: em ambos os casos, o mandato celebrado a termo é extinto.

15. Mandato com cláusula em "causa própria": - Conceito: cláusula que libera o mandatário para atuar em seu próprio interesse, em seu nome e por sua conta. Descaracteriza o mandato, transformando-o em transferência de crédito. (Ex.: atuação dos bancos). - Regras específicas aplicáveis ao mandato com cláusula em "causa própria": sua revogação é ineficaz; não se extingue com a morte das partes; não exige prestação de contas do mandatário; autoriza transferência do bem.

16. Mandato judicial: os dispositivos do CC são aplicáveis supletivamente às normas específicas a respeito. - Conceito: contrato que tem por objeto a representação em juízo do mandante para a defesa de seus interesses e direitos pelo mandatário (geralmente o advogado contratado).

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- Especificidades do mandato judicial: a habilitação legal dá-se com a devida aprovação no exame de ordem, a inscrição na OAB e outorga de mandato escrito, salvo exceções:

* Advogado nomeado pela Assistência Judiciária ou pelo juiz. * Em caso de urgência, mediante caução, obrigando a exibir a procuração regular dentro do prazo fixado pelo juiz. * Casos de representação ex officio, conferida por lei.

- Pode ser feito por instrumento público ou particular (sem firma). - Podem outorgar mandato judicial todas as pessoas maiores e capazes ou emancipadas, que estejam na livre administração de seus bens. Quando forem dois ou mais mandatários eles são solidariamente responsáveis. - O substabelecimento pode ser feito com reserva de poderes ou sem reserva de poderes. - O mandato judicial é presumidamente oneroso, com honorários pactuados ora pelas partes ora pelo juiz.

Contrato de transporte 1. Introdução: modalidade contratual que se tornou cada vez mais relevante na sociedade pós-moderna que em seu desenvolvimento econômico prestigia a circulação de pessoas, bem como de mercadorias. 2. Conceito: negócio jurídico bilateral celebrado entre o condutor ou transportador, que assume a obrigação de deslocar pessoas (passageiros) até o destino convencionado, ou mercadoria mediante remuneração. No transporte de mercadoria, a remuneração é designada como frete e a pessoa que contrata o transportador é denominada expedidor ou remetente, que indica no contrato de transporte a relação de mercadorias que serão transportadas por meio dos documentos (conhecimentos), bem como o destinatário ou consignatário das mesmas. O destinatário não é parte no contrato de transporte, mas tem alguns direitos. 3. Classificação: a) Bilateral ou sinalagmático: transportador e passageiro (remetente) são devedores e credores recíprocos. b) Consensual: firma-se pela vontade das partes. c) Oneroso: o contrato de transporte gratuito desinteressado (carona) não é contrato de transporte; assim, aplicam-se as regras da responsabilidade extracontratual (deve-se comprovar o dolo ou culpa grave do transportador). 4. Espécies: pode ser terrestre, aquático e aéreo (quanto ao meio empregado); e de pessoas ou de coisas (quanto ao objeto). a) Transporte de pessoas:

I. Obrigações e direitos do transportador: transportador obriga-se aos horários e itinerários ajustados na contratação, sob pena de responder por perdas e danos, exceto em alteração por força maior. Mas ainda que por força maior, o transportador deve providenciar a continuação do transporte em outro veículo da mesma categoria e responde pelas despesas com estada e alimentação do passageiro durante a espera de novo transporte. - O transportador não pode recusar passageiros, salvo por razões de higiene ou saúde do passageiro. - Os direitos do transportador são o recebimento da remuneração ajustada e o direito de retenção de bagagens dos passageiros para garantir o recebimento da passagem se não for paga no início do percurso.

II. Obrigações e direitos do passageiro: o passageiro se obriga a seguir as condições gerais de contratação, geralmente impressas na passagem e não pode praticar atos que danifiquem o veículo ou dificultem a execução do serviço. Se o passageiro sofrer algum dano por não ter seguido as instruções do transportador, o juiz reduz (não exclui) equitativamente o valor da indenização. - O passageiro tem direito de rescindir o contrato de transporte:

A. Antes de iniciada a viagem: passageiro tem direito de ser restituído do valor da passagem desde que comunique a rescisão em tempo hábil para que seja revendida;

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B. Depois de iniciada a viagem: o passageiro perde o valor devido pelo trecho, a menos que prove que outra pessoa viajou em seu lugar, sendo que o ônus da prova é do passageiro.

- Em caso de atraso, o passageiro perde o valor da passagem. E em todas as hipóteses, o transportador tem direito de reter 5% do valor da passagem por multa compensatória.

b) Transporte de coisas: tem regras específicas, porque o objeto é uma mercadoria que deve ser transportada incólume, sob pena de responsabilização.

I. Obrigações e direitos do transportador: - Dever de diligência do transportador, que deve conduzir a coisa com as cautelas necessárias e observando o prazo ajustado. - O transportador deve emitir o conhecimento do transporte, onde deve ser especificado o objeto do transporte. O transportador tem direito de ser indenizado se as informações prestadas pelo expedidor forem incorretas, ajuizando a ação de reparação civil no prazo decadencial de 120 dias. - O transportador tem a faculdade de recusar a coisa se a embalagem estiver inadequada; ou se a coisa oferecer risco à saúde das pessoas ou danificar o veículo e outros bens. - O transportador tem o dever de recusar a coisa cuja comercialização não seja permitida; e desacompanhada dos documentos exigidos por lei (nota fiscal, por exemplo). - Se o transporte não puder ser feito ou for interrompido, o transportador deve solicitar novas instruções ao remetente, respondendo pelo perecimento ou deterioração da coisa, ressalvada se por motivo por força maior. Para evitar isso, o transportador deve vender a coisa ou depositá-la em juízo, desde que a interrupção ou impossibilidade não tenha sido causada por ele. Ressaltando-se que somente poderá vender a coisa se for perecível, correndo as despesas do depósito por sua conta. - Também é obrigação do transportador o dever de informação da venda ou do depósito. - O transportador deve depositar em juízo a coisa havendo dúvida quanto ao destinatário.

II. Obrigações e direitos do expedidor ou remetente: - O expedidor deve caracterizar a mercadoria explicitando sua natureza, valor, peso, quantidade, nome e endereço do destinatário. Deve prestar as informações com lealdade e honestidade. - O remetente pode rescindir o contrato, pedindo a coisa de volta até a sua entrega. - O remetente pode alterar o destinatário, se pagar despesas e perdas e danos eventuais.

III. Obrigações e direitos do destinatário (decorre do poder de disposição que lhe é dado pelo expedidor): o destinatário pode ingressar contra o transportador na hipótese de perecimento ou deterioração da mercadoria, desde que o faça no prazo decadencial de 10 dias a contar da entrega.

5. Responsabilidade do transportador: há a possibilidade de transporte cumulativo (aquele efetuado sucessivamente por vários transportadores), nesse caso há solidariedade entre os transportadores, entretanto, cada transportador responde pelos danos causados no respectivo percurso. O transportador que indenizar a vítima terá ação regressiva contra o transportador que efetivamente responde pelos danos causados no trecho a que se vinculou pelo contrato de transporte (regra reafirmada no transporte de coisas). a) Responsabilidade no transporte de pessoas: o transportador assume o dever de segurança e responde por danos causados às pessoas transportadas e à sua bagagem. A culpa é presumida e a única excludente é motivo de força maior. - Quanto à indenização pelo extravio das bagagens do passageiro, o transportador pode exigir uma declaração do valor para limitar sua responsabilidade. Se houver acidente por culpa de terceiro, o passageiro ingressa com ação de reparação por danos contra o transportador, mas este tem ação regressiva contra o terceiro culpado. b) Responsabilidade no transporte de coisas: o transportador responde pela perda ou deterioração da coisa até o momento da entrega. O valor a ser indenizado será aquele declarado no conhecimento de transporte.

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- No caso de deterioração deve-se apurar o valor devido em relação à diminuição do valor do objeto de transporte. O transportador responde, salvo por força maior. - Nos contratos de transporte é inoperante a cláusula de não indenizar. No entanto, a cláusula que limita a responsabilidade do transportador é válida, desde que a limitação não implique em indenização insignificante, mas ainda, em se tratando de relação de consumo, o CDC impõe a reparação integral ao consumidor.

Doação 1. Conceito e natureza jurídica: o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. 2. Classificação: a) Unilateral: só o doador se obriga, devendo transferir a propriedade do bem doado ao donatário. Mesmo nas “onerosas”, o encargo é apenas o modo. b) Gratuito: expressa uma liberalidade c) Formal: forma escrita (escritura pública ou instrumento particular). Admite-se doação verbal para bem móvel de pequeno valor, sendo necessária a tradição logo em seguida (doações manuais).

3. Espécies de doação: a) Doação pura: doador movido por exclusiva liberalidade. O doador não responde pela evicção nem pelos vícios redibitórios. (a causa da liberalidade é um sentimento interno, individual) b) Doação remuneratória: há causa para a doação, e tal causa se revela no mundo fático. O doador visa a recompensar os serviços prestados pelo donatário, que são passíveis de estimação econômica, mas não são exigíveis judicialmente. (a causa da liberalidade se manifesta, trata-se de recompensar serviços) c) Doação com encargo ou modal: o doador sujeita o donatário a certo encargo em benefício do próprio doador ou de terceiros, ou ainda, em benefício de interesse social e coletivo, se este quiser aceitar a doação. * Essas duas últimas são doações onerosas, sendo aplicáveis os vícios redibitórios.

4. Aceitação: pode ser expressa ou tácita ou presumida: a expressa é aceita por escrito, verbal ou mesmo por gestos. A tácita é pelo comportamento do donatário. A presumida é no caso do silêncio para aceitação em doação pura ou no caso de doação pura para absolutamente incapazes. - A doação feita em contemplação de casamento futuro não pode ser impugnada por falta de aceitação, pois a lei presume a aceitação se estas pessoas casarem. A doação pura pode ser aceita pelo representante legal do nascituro. Se ele nascer morto, a doação se resolve.

5. Restrições à liberdade de doar: a) Doação universal: o doador não pode doar todos os seus bens, ele deve assegurar o mínimo para sua própria subsistência. A doação universal é nula. b) Doação inoficiosa: é nula a doação de mais da metade de seus bens, protegendo o interesse de seus herdeiros necessários (legítima). c) Doação colacionável: é a doação feita aos herdeiros e que importa em adiantamento da legítima. d) Doação fraudulenta: o doador não pode doar bens de forma a prejudicar seus credores. O doador não pode doar seus bens se for insolvente ou se por isso se tornar insolvente. É anulável. - A doação feita pelo cônjuge adúltero a seu cúmplice é anulável, podendo o outro cônjuge (ou seus herdeiros necessários quando morrer) pleitear ação revocatória com prazo decadencial de 2 anos após a dissolução da sociedade conjugal. e) Doação em forma de subvenção periódica: o doador obriga-se a prestar periodicamente algo ao donatário. É personalíssima e extingue-se com a morte do donatário ou por outras circunstâncias estipuladas no contrato.

6. Cláusula de reversão: o doador estipula que os bens doados voltem ao seu patrimônio se ele sobreviver ao donatário (propriedade resolúvel dos bens). - Opera com uma condição resolutiva, ocasionando o desfazimento dos atos realizados pelo donatário com a consequente restituição do bem doado. Essa cláusula deve estar expressa.

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7. Doação a casal e doação entre cônjuges: o ascendente não necessita do acordo dos demais para doar a um descendente, mas tal comportamento é presumido por lei como antecipação da legítima. - É vedada doação de um cônjuge a outro em separação obrigatória de bens (burla a lei) e em comunhão total de bens (não altera o patrimônio). A doação feita ao casal é em partes iguais, e se um morrer, a parte que lhe cabe não se transfere aos seus herdeiros, e fica para o outro cônjuge. 8. Nulidades e ineficácias da doação: todos os vícios e defeitos do negócio jurídico são aplicáveis à doação. - Será nula se for feita por absolutamente incapaz; se não observar a forma legal; se for de todos os bens; se for mais de 50% do patrimônio, é nula quanto ao excedente de 50% que ultrapassou (doação inoficiosa). - Será anulável quando feita por doador insolvente ou que se torne insolvente; ou se cônjuge adúltero doar ao seu cúmplice. - Há caducidade da doação feita para entidade futura se esta não se constituir em dois anos. 9. Revogação por ingratidão: em regra é irrevogável, mas a lei permite que seja revogada por motivo de ingratidão do donatário (medida de caráter excepcional, depende da análise de cada caso concreto). - A revogação justifica-se para proteger o interesse do credor e da sociedade, pois o donatário ingrato é um mal à sociedade. É proibida a renúncia antecipada do direito de revogar a doação por ingratidão do donatário. - Só pode ser revogada a doação pura. É irrevogável a doação remuneratória, a doação cujo encargo já foi cumprido, aquela feita em cumprimento de obrigação natural, e a doação para contemplação de casamento. - Casos de ingratidão: donatário que atenta contra a vida do doador, comete ofensa física, injúria ou calúnia grave, ou se nega a ministrar alimentos ao doador é considerado ingrato. - Para revogar a doação por ingratidão deve-se propor a ação revocatória. Apenas o doador pode propô-la, mas os herdeiros podem continuar a ação iniciada pelo de cujus. Se houver homicídio doloso do doador, os herdeiros poderão entrar com essa ação, exceto se o doador o tiver perdoado antes de morrer. - Prazo decadencial de um ano a contar do conhecimento do doador do fato que autoriza a revogação da doação por ingratidão. Se o bem doado revogado por ingratidão tiver sido vendido, o terceiro será proprietário perfeito do bem, restando ao doador reclamar perdas e danos contra o donatário.

10. Revogação por não cumprimento do encargo: a doação com encargo é mista (liberalidade/onerosidade), assim, o doador pode resolver a doação onerosa se o donatário não cumprir o encargo a ele imposto. É necessário pedir em juízo a resolução da doação.

Contrato de Troca ou Permuta e Contrato Estimatório 1. Introdução: o surgimento da moeda tornou a troca obsoleta, e o legislador determinou que aplicam-se ao contrato de troca as mesmas regras do contrato de compra e venda, ressalvadas certas regras do art. 533, CC.

2. Conceito: troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. A única diferença do contrato de troca para o de compra e venda é a falta do preço, valor em moeda.

3. Troca entre bens de valores desiguais: se o valor de torna (quando o valor da coisa for maior, a diferença é o valor de torna) for superior ao objeto da troca, configurando-se a prestação principal, é compra e venda. Mas apenas o motivo de haver valor de torna não desfigura o contrato de troca.

4. Classificação do contrato de permuta: a) Bilateral ou sinalagmático: há obrigações para ambas as partes. b) Oneroso: há alteração no patrimônio de ambos os permutantes c) Comutativo: se sabe de antemão os direitos e obrigações recíprocos. d) Consensual: forma-se com o consentimento dos permutantes. O contrato por si só não transfere a propriedade da coisa. e) Forma: liberdade de forma a depender dos objetos a serem trocados (imóvel superior a 30 SM é por escritura pública)

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5. Regras especiais do contrato de permuta: - As despesas são divididas entre os permutantes, mas as partes podem estipular de maneira diversa. - A troca realizada entre ascendentes e descendentes sem a anuência destes e do cônjuge é anulável. 6. Obrigações e direitos dos co-permutantes: os direitos e obrigações decorrentes do contato de troca são os mesmos da compra e venda, a saber: - Os co-permutantes têm as mesmas obrigações do vendedor quanto à garantia pela evicção; - Respondem, também, pelos vícios ocultos das coisas permutadas; - Antes da entrega da coisa, os riscos correm por conta dos co-permutantes que detêm a coisa; - As proibições de venda e de compra vigoram para a permuta.

Contrato Estimatório 7. Conceito: negócio jurídico bilateral celebrado entre o consignante que entrega o bem móvel ao consignatário para que este o venda pelo preço estimado no prazo estipulado entre as partes ou devolva a mercadoria caso não a venda (venda em consignação). a) Características do contrato estimatório: consignação do objeto (entrega para o outro vender); o objeto é coisa móvel; a determinação de um preço estimado; a condição de devolver o bem caso não o venda; a determinação do prazo; a impossibilidade do consignante vender o bem antes de ser restituído ou comunicado de sua restituição pelo consignatário (deve respeitar o prazo para que possa vender por conta própria). b) Natureza jurídica do contrato estimatório: espécie de contrato de compra e venda. c) Dos riscos da coisa entregue em consignação: o consignatário responde pela perda ou deterioração da coisa consignada ainda que a devolução desta tenha se impossibilitado por caso fortuito ou força maior. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora nem sequestro pelos credores do consignatário, pois este não tem a propriedade da coisa consignada, mas apenas a obrigação de vendê-la ou devolvê-la.

Contratos Eletrônicos 1. Conceito: Contrato eletrônico é definido como contrato celebrado por meio de programas de computador ou aparelhos com tais programas. São contratos caracterizados pelas vendas à distância pela internet. - Comporta duas espécies: contratos informáticos (têm por objeto bens ou serviços de informática) e contratos telemáticos (são celebrados utilizando a informática como meio de comunicação). - Alto nível de despersonalização: o fornecedor não aparece ou nem ao menos existe física ou territorialmente.

2. Software como objeto do contrato eletrônico ou informático: o regime jurídico que regulamenta o software é o mesmo do direito autoral, já que há a criação pelo autor que desenvolve o software (direito moral do autor - indisponível), autorizando a exploração de sua obra (direito patrimonial – disponível).

3. Inexistência de lei específica para regulamentar os contratos eletrônicos: apesar de não haver lei que regule esses contratos, pela liberdade contratual eles são válidos. Não há regra fixa que determine se o contrato telemático é entre presentes ou entre ausentes, devendo ser analisado caso a caso.

Atos Unilaterais de Vontade: Promessa de Recompensa e Gestão de Negócios 1. Promessa de recompensa: a) Conceito: declaração de vontade feita mediante anúncio público que vincule o indivíduo a gratificar aquele que preencher a condição determinada ou prestar o serviço estipulado. Aquele que preencher a condição ou desempenhar o serviço pode exigir o cumprimento da promessa. A promessa de recompensa se torna obrigatória no momento em que se torna pública. b) Requisitos: capacidade do policitante; licitude e possibilidade do serviço exigido ou da condição determinada; publicidade do conteúdo da promessa de recompensa. c) Efeitos: a promessa de recompensa pode ser revogada desde que se dê a mesma publicidade dada ao anúncio. Mas se o terceiro de boa-fé executou o serviço, ele fará jus ao reembolso.

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- Da promessa de recompensa surge àquele que preencheu a condição ou executou o serviço o direito de receber a gratificação prometida. d) Condição preenchida ou execução dos serviços por duas ou mais pessoas: a gratificação será devida àquele que primeiro preencheu a condição ou executou o serviço. Se for impossível determinar a anterioridade ou se a execução for simultânea, a gratificação é dividida em partes iguais entre todos. e) Promessa de recompensa mediante concurso: o policitante oferece a gratificação para aquele que desempenhar melhor determinada tarefa. Nessa modalidade a promessa de recompensa é irrevogável, pois se deve fixar um prazo de vigência. O julgamento das tarefas cabe ao policitante ou a nomeados por ele. - Se houver empate é devido a quem primeiro executou e se for simultâneo será dividido de forma igualitária.

* Da titularidade das obras premiadas: exemplo do policitante que dará uma viagem para quem pintar o melhor quadro. O quadro será do policitante se for veiculado que a titularidade da obra caberá a ele. Se não, a obra pertence ao seu criador intelectual.

2. Gestão de negócios: a) Conceito: é a administração oficiosa (voluntária) de interesses alheios pelo gestor de negócios sem que o dono do negócio tenha lhe outorgado poderes específicos para tanto através de uma procuração. - O gestor de negócios atua tendo em vista o interesse presumível do dono do negócio e responde perante terceiros e perante o dono do negócio. Se a gestão se der contra a vontade do dono do negócio ou de maneira contrária aos seus interesses legítimos o gestor responde mesmo por caso fortuito ou força maior, a menos que prove que o dano ocorreria ainda sem sua intervenção. O dono do negócio pode exigir do gestor a restituição das coisas ao status quo ante. b) Natureza jurídica da gestão de negócios: modalidade de atos unilaterais. c) Pressupostos: não pode haver qualquer ajuste entre o dono do negócio e o gestor do negócio; ausência de proibição expressa ou oposição da intervenção oficiosa pelo dono do negócio; a vontade do gestor em administrar negócio alheio; a intervenção deve ser necessária e útil ao dono do negócio; a licitude e fungibilidade do objeto de negócios; a limitação do gestor à prática de atos patrimoniais. c) Efeitos jurídicos da gestão de negócios:

I. Obrigações do gestor de negócios perante o dono do negócio: - O gestor deve administrar coisa alheia segundo o interesse do dono; - Comunicar o dono da obra a sua administração oficiosa imediatamente; - Zelar pelo adequado cumprimento da gestão até que receba instruções do dono do negócio (se falecer, os herdeiros passam as instruções); - Atuar com diligência habitual na administração do negócio alheio, devendo ressarcir qualquer prejuízo que eventualmente causar ao dono do negócio; - Se o gestor de negócios se fizer substituir por outrem, ele responde pelos danos causados pelo substituto, havendo dois ou mais, respondem solidariamente; - O gestor de negócios responde ainda se fizer operações arriscadas; - Prestar contas de sua gestão se ratificada pelo dono do negócio. II. Direitos do gestor de negócios perante o dono do negócio: - Reembolso das quantias desembolsadas na administração oficiosa; - Ressarcimento do que pagou, ainda que não haja ratificação, quanto às despesas de enterro, a menos que se demonstre que estes gastos foram feitos por caridade; - Se o gestor pagou alimentos devidos a uma pessoa dependente do dono do negócio, ele tem direito de ser restituído. III. Obrigações do dono do negócio perante o gestor: - Obrigação do dono do negócio de reembolsar o gestor quanto às despesas feitas na gestão oficiosa;

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- Indenizar o gestor pelas despesas na gestão necessária, bem como quanto aos proveitos auferidos na gestão proveito, mas em ambas o valor não deve exceder as vantagens obtidas com a gestão; - O gestor atua no interesse do dono do negócio, por isso, este se obriga a substituir o gestor perante terceiros nos vínculos assumidos durante a administração oficiosa. IV. Direitos do dono do negócio perante o gestor: - Exigir que o gestor restitua as coisas ao status quo ante quando for possível; - Ratificar ou impugnar os atos praticados pelo gestor após ter conhecimento deles, os efeitos da ratificação retroagem ao início da gestão. - O direito de ratificação é limitado, pois o dono do negócio só pode se negar a ratificar os atos praticados pelo gestor se demonstrar que foram praticados contrariamente a seus interesses.


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