DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO RURAL
Resumo O presente artigo faz uma revisão da literatura acerca dos temas turismo, turismo rural, sustentabilidade, teoria dos stakeholders e seus impactos no desenvolvimento do turismo sustentável. Faz-se mister demonstrar que o turismo pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento de comunidades rurais de forma que os preceitos da sustentabilidade sejam contemplados, gerando equilíbrio ambiental, social, econômico e cultural. À luz dos teóricos o presente trabalho tece o cenário e as formas que o turismo e seus atores sociais podem vislumbrar seu desenvolvimento de forma harmônica. Desta forma conclui-se que o planejamento de áreas rurais para o desenvolvimento turístico, em especial no caso do Turismo Rural na Agricultura Familiar, deve levar em consideração as questões de sustentabilidade respeitando os stakeholders envolvidos no processo.
Palavras Chave: turismo rural, sustentabilidade, agricultura familiar.
CENÁRIOS DO TURISMO
O Estado do Paraná conta com os requisitos necessários para a atração de turistas,
em especial em ambientes rurais, por apresentar uma oferta turística diversificada:
florestas, cataratas, montanhas, rios, praias, caminhos históricos, grandes fazendas,
uma agricultura altamente competitiva, ilhas, animais exóticos, um patrimônio
exuberante, uma rica cultura e facilidade em receber e tratar bem aos turistas, além
de dispor de instalações e equipamentos adequados para atender a esta demanda.
Dentre as segmentações que compõe a atividade turística, o turismo praticado em
ambientes rurais, tem figurado como uma das mais importantes. Segundo Beni
(2001) turismo rural é a “denominação dada ao deslocamento de pessoas a espaços
rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoites para fruição
dos cenários e instalações rurícolas.” (BENI, 2001 p. 428)
O turismo rural possui caráter relevante na esfera social sendo fonte de benefícios
diretos e indiretos, como o aproveitamento dos recursos locais, valorização da
cultura, difusão de novos conhecimentos, geração de renda e emprego, fixação do
homem no campo - evitando o êxodo rural -, exploração de recursos humanos e
materiais locais, aproveitamento do patrimônio humano e cultural existente ligado a
atividades rurais e agropastoris objetivando o desenvolvimento da qualidade de vida
dos habitantes das zonas rurais, em especial dos municípios paranaenses.
Porém assim como em quaisquer outras atividades econômicas, o turismo gera
impactos ambientais, os quais serão analisados no presente artigo à luz dos
conceitos de sustentabilidade. O impacto ambiental “deve ser entendido com um
desequilíbrio provocado por um choque, um trauma ecológico, resultante da ação do
homem sobre o meio ambiente.” (SENE, 1998 p. 88)
Esta influência provocada no meio ambiente deve ser analisada privilegiando o ator
social que nele vive, ou seja, a realidade que rodeia o homem é definitivamente, a
realidade social, ponto que são sociais as organizações, as motivações e as
manipulações que provocam a contaminação e a degradação dos ambientes.
(OLIVA e GIANSANTT, 1995) No turismo, explorado como atividade econômica, e
especialmente no turismo rural, “o entorno, no qual se realiza é obrigatoriamente
afetado.” (Sancho 2001)
“...a utilização de recursos naturais é fato determinante para o sucesso ou não de uma viagem. O turismo depende da qualidade do
ambiente natural, das pessoas e dos recursos. Sem a devida integração desses fatores, dificilmente haverá desenvolvimento sustentável, na perspectiva de que, pelo próprio exemplo as atividades realizadas na natureza possam ser entendidas como ecológicas.” (MARINHO e BRUHNS, 2003 p. 131)
A sustentabilidade das organizações, do meio ambiente e da sociedade é alvo de
discussões que perpassam os interesses econômicos ou sociais, que, no entanto,
afetam diretamente a qualidade de vida e a sobrevivência dos seres humanos.
SUSTENTABILIDADE
O conceito de sustentabilidade, na primeira década do século XXI está em constante
discussão e mutação, devido às interferências sofridas pelos atores envolvidos com
o meio ambiente.
Desta forma, demonstrar uma conceituação que se adapte a todas as esferas que o
tema sustentabilidade perpassa é algo desafiador. A complexidade do termo em
pauta remete os pesquisadores a tratar de adaptar os conceitos aos fins de pesquisa
desejados.
Para Belen (2005) há uma grande diversidade de definições acerca do tema, porém
sua primeira definição data de 1980 no documento chamado World’s Conservation
Strategy que afirma que “para que o desenvolvimento seja sustentável devem-se
considerar aspectos referentes às dimensões social ecológica, bem como fatores
econômicos, dos recursos vivos e não vivos e vantagens de curto e longo prazo de
ações alternativas”. (BELEN, 2005 p. 23). Ao mesmo tempo, a preocupação com a
preservação do meio ambiente conjugada com a melhoria das condições
socioeconômicas da população fez surgir o conceito de ecodesenvolvimento, depois
substituído pelo de desenvolvimento sustentável. (MONTIBELLER-FILHO, 2001)
Porém o elemento humano somente é inserido na conceituação a partir de 1987,
sendo que a partir de então, passou a possuir uma grande importância no que tange
à sustentabilidade. “Os seres humanos são o centro de preocupação do
desenvolvimento sustentável. Tem o direito a uma vida saudável e produtiva em
harmonia com a natureza.” (SACHS, 2000 apud SAMPAIO 2001 p.36)
Ainda para Sachs, a sustentabilidade é definida por seis eixos básicos que são:
• Sustentabilidade social;
• Sustentabilidade econômica;
• Sustentabilidade ecológica;
• Sustentabilidade espacial;
• Sustentabilidade cultural;
• Sustentabilidade política.
Tais eixos norteadores da sustentabilidade propostos pelo autor, são facilmente
visualizados na atividade turística, já que os consumidores dos serviços turísticos
estão vivenciando durante a prestação do serviço as experiências ecológicas,
espaciais, culturais, favorecendo para a sustentabilidade social e econômica e
política das localidades receptoras.
Para a compreensão do conceito de sustentabilidade da atividade turística praticada
em meios rurais, tendo em vista todas as nuances que envolvem turistas e
pequenos empreendedores rurais, pode-se dizer que:
El concepto de sostenibilidad, como ocurre a todos aquellos que van ocupando posiciones estratégicas relevantes en las Ciencias Sociales, adolece de una serie de problemas de interpretación que, si no le damos un tratamiento previo adecuado, pueden terminar por vaciarlos de contenido, o, peor aun, hacerlos inoperantes para planteamientos de carácter científico.(ALLENDE LANDA, 1.995 p. 211)
Tal sustentabilidade tem como elemento chave, a necessidade de preservar o meio
ambiente, pois a atividade turística praticada em meio natural como é o turismo rural,
faz com que seja elemento de sobrevivência de tal atividade econômica, a existência
de paisagens e recursos naturais em condições razoáveis de conservação.
São visíveis os sinais de esgotamenteo de recursos naturais e de agravamento dos problemas ambientais em todas as escalas geográficas que ameaçam a integridade deste grande sistema ecológico é a ecosfera. É a desertificação, a poluição dos solos, do ar e da água, a perda da biodiversidade, as mudanças climáticas e diminuição da camada de ozônio da estratosfera. São sinais que indicam, de um lado, que o planeta Terra corre perigo e que sua capacidade de suporte é limitada, e, de outro, que vivemos uma crise ambienta. Que é, a um só tempo, generalizada e global. É a crise do modelo de crescimento econômico predatório, baseado no uso ilimitado dos recursos naturais. (SILVEIRA, 1999. p. 45)
Tais fatos incitam que as organizações necessitem criar formas de adaptabilidade ás
situações adversas encontradas. O meio ambiente e as organizações necessitam de
uma interação positiva para o estabelecimento de relações que beneficiam os
cidadãos que nelas habitam.
Hay que partir de la idea de que la sostenibilidad es un concepto complejo e integral que aglutina diversas pretensiones, por lo que es natural que en el aparezcan ideologías diferentes, y enfoques científicos. Por lo tanto, no solo ha de entenderse desde un punto de vista medioambiental, sino también económico, social y cultural referido a cualquier actividad productiva incluida la turística. (ALLENDE LANDA, 1.995)
Tais reflexões levam a acreditar que o turismo rural sem um adequado planejamento
de longo prazo, participação das comunidades locais, apoio e participação pública e
privada com financiamentos e investimentos, não consegue sustentar-se como uma
opção diversificada aos pequenos produtores que optam por possuir mais de uma
fonte de renda em uma pequena propriedade, frente ao mercado globalizado e
altamente competitivo existente no campo paranaense.
Dentro desse contexto, as pequenas propriedades, por mais produtivas que sejam,
não conseguem fazer frente e competir em grandes escalas de produção com as
grandes propriedades rurais, que trazem um sistema de produção baseado no
ganho de monoculturas altamente produtivas, sistema em escala, tecnologia de
produção e voltado para exportação.
AS ORGANIZAÇÕES E A SUSTENTABILIDADE
A inteiração entre empresas e natureza, desde a revolução industrial tem causado
impactos que, em grande parte dos casos não há reversão, trazendo à tona
questões referentes ao desenvolvimento sustentável destas organizações dentro de
um ambiente frágil.
“A organização deve ser visualizada como um conjunto de partes em constante
interação, constituindo-se em um todo orientado para determinados fins, me
permanente relação de interdependência com o ambiente externo.” (Andrade, 2002
p. 90). Suas considerações revelam que a organização não é um elemento alheio ao
ambiente e sim uma parte que completa o funcionamento da sociedade.
Para Tachizawa (2002) as organizações precisam se munir de estratégias
empresariais no que tange a inter relação com o meio ambiente, sendo que estes
são basicamente meios eficazes de se alcançar a sustentabilidade, com menor
agressão ao ambiente, levando em conta a influência dos stakeholders.
Tais organizações são atores sociais que compõe a sociedade que interferindo e
proporcionando parâmetros para os quais as empresas precisam seguir e respeitar,
tais atores são conhecidos como stakeholders, os quais cada vez mais são
influentes nos rumos que as empresas vêm seguindo.
Sob este prisma, traz-se à cena discussões acerca da teoria dos stakeholders, que é
um conceito que esclarece quem são os atores que têm interesse nas operações e
decisões de uma empresa e que devem ser consideradas nas orientações da
organização relativas à sustentabilidade. Dentre estes atores, encontram-se:
acionistas, consumidores, funcionários, fornecedores, comunidade e grupos sociais
ativistas, podendo também ser definido conforme Ansoff & Macdonnell (1993) como
grupos de interesse afetados diretamente pelo comportamento da empresa.
Tais atores têm papel fundamental para que o desenvolvimento sustentável possa
ser concretizado como filosofia de gestão nas organizações e que efetivamente
possa fazer parte de seus planejamentos, objetivando não somente as finalidades
de cunho econômico, mas também a responsabilidade perante a sociedade
contemporânea.
Faz-se necessário compreender que os atores envolvidos na questão ambiental,
levam ao surgimento de novas alternativas de relacionamento da sociedade
contemporânea com seu ambiente, procurando reduzir os impactos que ela produz
sobre o meio que a cerca, incluindo-se neste rol as empresas prestadoras de
serviços turísticos.
O turismo é um ramo econômico do setor terciário, composto por organizações de
poder público e privado que fomentam o desenvolvimento econômico e social das
localidades, por meio da valorização dos atrativos naturais, históricos e culturais que
possuem. Desta forma os elementos que impulsionam a atividade turística são
organizações, que da mesma forma que em outros ramos da economia, possuem
interferência com ambientes naturais e stakeholders.
TURISMO SUSTENTÁVEL
O conceito do Turismo Sustentável foi desenvolvido para evitar os riscos que a
condução inadequada da atividade pode provocar no meio ambiente. Segundo
Krippendorf (1988) o turismo sustentável é visto como a perfeita triangulação entre
as destinações (seus habitats e habitantes), os turistas e os prestadores de
facilidades para os visitantes.
O turismo sustentável procura adequar os interesses de cada um dos parceiros
desse triângulo, minimizando as tensões e buscando um desenvolvimento a longo
prazo, pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e as necessidades de
conservação do meio ambiente, protegendo a cultura e as características das
comunidades receptoras, estimulando com isso, a qualidade da experiência vivencial
buscada pelos visitantes. Contudo, a proteção da originalidade desses meios
dependerá do tipo de desenvolvimento proposto para a área, que segundo a
pesquisadora Doris Ruschmann (in Almeida 2001), “uma área de desenvolvimento
só será sustentável se for voltada para a valorização do homem do campo, para sua
autenticidade e para a estabilidade ecológica do meio natural onde este está
inserido”. (ALMEIDA 2001, p. 71)
Porém ainda segundo a mesma autora, existem impactos dentro do qual o conceito
de sustentabilidade é tido como ambíguo, pois envolve os interesses
mercadológicos das organizações, desta forma deve-se observar os impactos
negativos e positivos da atividade, sendo que faz-se necessário encontrar o
equilíbrio.
POSITIVOS
• Constituir a chave na revitalização dos recursos naturais, culturais e históricos de
uma área rural;
• Promover e estimular a renovação nas localidades envolvidas;
• Estimular a preservação de recursos naturais com valor excepcional.
NEGATIVOS
• Diminuir a qualidade de áreas naturais e históricas pelo número excessivo de
turistas e d equipamentos específicos;
• Aumentar os ruídos e efluentes líquidos e sólidos;
• Iniciar e desenvolver um programa de turismo em uma área rural constitui um
desafio altamente gratificante, principalmente porque a comunidade local tem o
poder e a habilidade de decidir sobre o seu desenvolvimento futuro, o que nem
sempre ocorre. (ALMEIDA, 2000 p. 71)
Já para Mathieson e Wall (1992) apud Mendonça et al (2000) os aspectos positivos
assinalam-se:
• A melhoria da infra-estrutura pública – Melhoria na infra estrutura local como
saneamento, estradas, equipamentos de saúde, dentre outros;
• Melhores investimentos em educação – a atividade turística demanda de mão
de obra qualificada, sendo necessária uma boa educação formal.
• Crescimento da oferta de empregos em tempo parcial e maior absorção da
mão de obra feminina – em comunidades menos favorecidas é um fator de
impacto positivo para o desenvolvimento da comunidade.
Quanto aos impactos sociais negativos, ainda para Mathieson e Wall (1992) apud
Mendonça et al (2000) os maiores efeitos são:
• Efeito demonstração – O turismo insere novos comportamentos nas
comunidades receptoras;
• Alterações na moralidade - estímulo à prostituição, ao uso de drogas, a
crimes e jogos, sobretudo em comunidades com baixos níveis de renda e
educação;
• Surge o neocolonialismo a partir do turismo – as decisões locais passam
depender de operadores turísticos.
O equilíbrio de tal dicotomia – impactos positivos e negativos - presente na atividade
relacionada ao turismo rural, poderá fazer com que se consiga alcançar índices de
sustentabilidade condizentes com o que se espera de qualquer outra atividade
econômica, fazendo com que esta segmentação de mercado turístico, possa ajudar
a elucidar a compreensão do conceito de sustentabilidade aplicada ao turismo.
Já para a Organização Mundial do Turismo, o turismo sustentável é definido à
luz da gestão de recursos disponíveis no meio ambiente:
Desde una perspectiva más estricta y refiriéndonos al caso que nos ocupa, para la OMT el turismo sostenible es aquel que “satisface las necesidades de los turistas actuales y de las regiones de destino, al mismo tiempo que protege y garantiza la actividad de cara al futuro. Se concibe como una forma de gestión de todos los recursos de forma que las actividades económicas, sociales y estéticas puedan ser satisfechas al mismo tiempo que se conserva la integridad cultural, los procesos ecológicos esenciales, la diversidad biológica y los sistemas que soportan la vida. (OMT, 1.993, pag. 22)
Uma postura sustentável baseia-se em alguns fatores dos quais asseguram a
preocupação com o comportamento ambiental, e o respeito aos valores culturais das
comunidades receptivas, pois para Almeida (2001) o turismo rural não representa a
solução para os problemas do campo, mas pode trazer efeitos econômicos positivos,
conseguindo contrabalançar uma eventual desintegração das atividades tradicionais.
A procura pela visitação de ambientes naturais em meio rural é notado pelas estatísticas dos órgãos responsáveis já que: O crescimento da demanda de turismo rural deve inscrever-se dentro do amplo fenômeno de conscientização e reinvidicação ecológica em que vivem as sociedades avançadas e altamente urbanizadas (...) é um fenômeno de resposta à degradação do meio ambiente em escala planetária e de marginalização do não-urbano. (ALMEIDA et al. 2000 p.17)
Outro fator de extrema importância para a caracterização da atividade com base na
sustentabilidade é o envolvimento de uma rede de pequenos produtores que não
estarão recebendo diretamente o turista, mas terá o turismo como atividade de
complementação de renda. Artesãos e outros micro-produtores da localidade são
exemplos dessa situação que contribuirão para a prática de atividades pertencentes
a essa segmentação econômica dentro do turismo, tais como hospedagem,
alimentação, recepção à visitação em propriedades rurais, recreação,
entretenimento e atividades pedagógicas vinculadas ao contexto rural, artesanato,
gastronomia, educação ambiental, outras atividades complementares às acima
listadas, desde que praticadas no meio rural, que existam em função do turismo ou
que se constituam no motivo da visitação.
Dessa forma, o uso do meio natural pelo turismo rural com base na sustentabilidade
da atividade turística contribui com o processo de valorização da cultura dos
elementos envolvidos, conservação do meio ambiente natural, além de ser uma
estratégia interessante de agregação de renda, gerando outras externalidades
positivas ao produtor rural como, por exemplo, a redução do fluxo do êxodo rural,
decorrente das baixas oportunidades no meio rural.
O TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR NO PARANÁ: EM BUSCA DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Dentro das segmentações do mercado turístico, o chamado turismo rural merece
lugar de destaque, devido ao grande número de propriedades que vem
desenvolvendo já nos primeiros anos do século XXI.
O conjunto das transformações estruturais do sistema capitalista impactou fortemente o sistema agroalimentar, tanto em termos das relações de produção como em termos do papel reservado ao espaço rural. O uso intensivo do capital na agricultura tornou os agricultores mais dependentes de fatores não-agrícolas (máquinas, equipamentos e insumos químicos), ao mesmo tempo que integrou a agricultura aos complexos agroindustriais, alterando progressivamente o seu papel na dinâmica produtiva das áreas rurais. (MATEI, 2005)
Devido às dificuldades de geração de renda dos pequenos proprietários rurais frente
a grandes propriedades altamente sofisticadas, as alternativas de sobrevivência
destas propriedades rurais, ficam cada vez mais escassas, sendo que em muitos
casos, o turismo rural na agricultura familiar, tem sido a alternativa.
Dentre as atividades que envolvem a prática do turismo rural pode-se considerar:
pousadas, pesque-pague, restaurantes típicos, venda direta de produtos
industrializados nas propriedades, atividades de lazer associadas à paisagem
natural, atividades baseadas nos elementos culturais de um local e/ou região e
atividades ecológicas.
No Estado do Paraná, assim como em todo o Brasil, o número de propriedades
rurais que vêm desenvolvendo atividades ligadas ao turismo, aumenta ao passo que
a atividade turística no Estado se desenvolve.
Segundo dados da Secretaria de Estado do Turismo, o Paraná recebeu o fluxo de
5.552.244 turistas no ano de 2002, o que gerou uma renda de U$ 899.463.470,00,
sendo que 48% são provenientes do mesmo Estado, 17% estrangeiros e 35% de
outras regiões do Brasil.
De acordo com a Deliberação Normativa n° 432/02 da EMBRATUR1, existem no
Estado do Paraná 128 municípios prioritários para o desenvolvimento da atividade
turística. Fazendo parte destes municípios que vem desenvolvendo atividades
turísticas no Estado do Paraná, vale ressaltar os roteiros de turismo rural, que são
circuitos integrados, onde propriedades rurais desenvolvem atividades turísticas já
possuem considerável relevância, sendo a região metropolitana de Curitiba,
detentora de vários destes circuitos no Estado do Paraná. Tal fator demonstra o
grande interesse dos proprietários rurais em desenvolver, bem como o interesse dos
turistas em buscar este tipo de turismo.
A atividade turística em meio rural passou a ganhar destaque nas discussões sobre
alternativas para a agricultura familiar, especialmente quando se trata do problema
de renda e emprego. Esta visão acabou influenciando as próprias políticas públicas,
de tal modo que no mês de setembro de 2003, o Governo Federal lançou, através
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), uma
linha de crédito, chamada de "PRONAF Turismo Rural", para apoiar os agricultores
familiares que pretendem implementar atividades turísticas no âmbito das unidades
familiares de produção.
A criação do presente programa de incentivo ao pequeno agricultor se dá, mesmo o
Paraná sendo um grande produtor agrícola, segundo dados da Secretaria de Estado
do Turismo do Paraná, o Estado participa com cerca de 23% da produção brasileira
de grãos e entre seus produtos destacam-se trigo, milho, algodão, aveia, soja, feijão,
batata, mandioca, cana de açúcar e a erva mate.
Esta alta produtividade agrícola está vinculada a grandes propriedades rurais do
Estado, deixando os pequenos produtores à margem de tais índices, o que leva os
mesmos a procurarem diversificar suas atividades, dentre as quais o turismo rural
surge como alternativa viável e competitiva.
Segundo o PRONAF2 o baixo nível de renda comumente constatado entre os
agricultores e a autodesvalorização dos hábitos e costumes em detrimento do ideal
urbano, tem como uma das conseqüências o êxodo rural. Diante desse quadro, o
turismo possibilita a valorização da agricultura familiar, uma vez que a sua cultura
torna-se o próprio atrativo turístico, com efeitos diretos no aumento da auto-estima
da população.1 Instituto Brasileiro de Turismo.2 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programa de Turismo Rural na Agricultura Familiar. 2003.
Os benefícios sociais refletem-se na dinamização da cultura rural, da necessidade de os agricultores familiares manterem sua identidade e autenticidade. É desencadeado um resgate de valores, costumes, códigos: orgulhar-se da sua ascendência, relembrar histórias, resgatar a gastronomia, exibir objetos antigos antes considerados velhos e inúteis, seu modo de falar, suas vestimentas, seu saber. Ressurgem, desse modo, as artes, as crenças, os cerimoniais, a linguagem, o patrimônio arquitetônico, que são restituídos ao cotidiano, transformados em atrativos típicos usados como marcas locais interessantes para o turismo. (BRASIL, 2003. Disponível em www.mda.gov.br)
Iniciativas como a criação de tal programa pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário corrobora com o objeto de estudo do presente artigo, no que tange à
relevância da atividade turística como forma de sustentabilidade ambiental,
socioeconômica e histórico-cultural, já que a visitação de destinos rurais para os
turistas faz com que se crie uma necessidade de valorização e conservação da
natureza da localidade visitada.
Os estudos acerca de tais afirmações podem ser visualizadas pelos estudos de
Krippendorf (1997) quando menciona que ao visitar e vivenciar uma localidade o
indivíduo compartilha de valores e passa a assimilar novos conhecimentos e
conceitos. Tal afirmativa demonstra a relevância da sensibilização para questões
ambientais em localidades de realização de turismo, em especial de localidades
rurais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Faz-se relevante ressaltar que quaisquer atividades turísticas realizadas em meios
naturais, necessitam de natureza e comunidade vivendo em harmonia, fazendo com
que os conceitos de turismo sustentável sejam o eixo norteador da exploração
econômica das localidades receptoras.
O desenvolvimento sustentável de organizações, comunidades e meio ambiente faz
com que fatores impactantes sobre estes três atores sejam minimizados e a
convivência entre turistas e proprietários rurais aconteça de forma a contemplar os
pilares da sustentabilidade propostos por Sachs.
No Estado do Paraná é possível visualizar o crescimento da atividade turística em
especial do turismo rural. O presente artigo pretendeu-se realizar uma análise prévia
da atividade à luz dos conceitos do desenvolvimento sustentável, objetivando a
prática do turismo, não mais como algo exploratório e sim como fator construtivo e
responsável, sendo uma forma de aproximação das mais diferentes classes sociais
e estilos de vida.
O desenvolvimento local por meio de uma atividade turística em ambiente rural é
uma alternativa de sobrevivência para os pequenos empreendedores rurais que não
conseguem se manter competitivos frente às grandes propriedades rurais, e sendo
assim questões como melhoria de renda, acesso à educação, saúde são alguns dos
quesitos que a atividade pode impactar positivamente nas pequenas organizações
rurais.
Acreditar que uma atividade econômica pode melhorar a qualidade de vida de
pequenas comunidades rurais pode parecer algo utópico ou tendencioso, porém é
certo que o desenvolvimento de tal atividade de maneira ordenada, respeitando o
meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural, bem como inserindo os atores
sociais no processo de desenvolvimento e planejamento da atividade, faz com que o
resultado alcançado seja favorável, utilizando os espaços naturais de forma a não
prejudicar/impactar gerações futuras.
REFERÊNCIAS
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