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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO RURAL

Resumo O presente artigo faz uma revisão da literatura acerca dos temas turismo, turismo rural, sustentabilidade, teoria dos stakeholders e seus impactos no desenvolvimento do turismo sustentável. Faz-se mister demonstrar que o turismo pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento de comunidades rurais de forma que os preceitos da sustentabilidade sejam contemplados, gerando equilíbrio ambiental, social, econômico e cultural. À luz dos teóricos o presente trabalho tece o cenário e as formas que o turismo e seus atores sociais podem vislumbrar seu desenvolvimento de forma harmônica. Desta forma conclui-se que o planejamento de áreas rurais para o desenvolvimento turístico, em especial no caso do Turismo Rural na Agricultura Familiar, deve levar em consideração as questões de sustentabilidade respeitando os stakeholders envolvidos no processo.

Palavras Chave: turismo rural, sustentabilidade, agricultura familiar.

CENÁRIOS DO TURISMO

O Estado do Paraná conta com os requisitos necessários para a atração de turistas,

em especial em ambientes rurais, por apresentar uma oferta turística diversificada:

florestas, cataratas, montanhas, rios, praias, caminhos históricos, grandes fazendas,

uma agricultura altamente competitiva, ilhas, animais exóticos, um patrimônio

exuberante, uma rica cultura e facilidade em receber e tratar bem aos turistas, além

de dispor de instalações e equipamentos adequados para atender a esta demanda.

Dentre as segmentações que compõe a atividade turística, o turismo praticado em

ambientes rurais, tem figurado como uma das mais importantes. Segundo Beni

(2001) turismo rural é a “denominação dada ao deslocamento de pessoas a espaços

rurais, em roteiros programados ou espontâneos, com ou sem pernoites para fruição

dos cenários e instalações rurícolas.” (BENI, 2001 p. 428)

O turismo rural possui caráter relevante na esfera social sendo fonte de benefícios

diretos e indiretos, como o aproveitamento dos recursos locais, valorização da

cultura, difusão de novos conhecimentos, geração de renda e emprego, fixação do

homem no campo - evitando o êxodo rural -, exploração de recursos humanos e

materiais locais, aproveitamento do patrimônio humano e cultural existente ligado a

atividades rurais e agropastoris objetivando o desenvolvimento da qualidade de vida

dos habitantes das zonas rurais, em especial dos municípios paranaenses.

Porém assim como em quaisquer outras atividades econômicas, o turismo gera

impactos ambientais, os quais serão analisados no presente artigo à luz dos

conceitos de sustentabilidade. O impacto ambiental “deve ser entendido com um

desequilíbrio provocado por um choque, um trauma ecológico, resultante da ação do

homem sobre o meio ambiente.” (SENE, 1998 p. 88)

Esta influência provocada no meio ambiente deve ser analisada privilegiando o ator

social que nele vive, ou seja, a realidade que rodeia o homem é definitivamente, a

realidade social, ponto que são sociais as organizações, as motivações e as

manipulações que provocam a contaminação e a degradação dos ambientes.

(OLIVA e GIANSANTT, 1995) No turismo, explorado como atividade econômica, e

especialmente no turismo rural, “o entorno, no qual se realiza é obrigatoriamente

afetado.” (Sancho 2001)

“...a utilização de recursos naturais é fato determinante para o sucesso ou não de uma viagem. O turismo depende da qualidade do

ambiente natural, das pessoas e dos recursos. Sem a devida integração desses fatores, dificilmente haverá desenvolvimento sustentável, na perspectiva de que, pelo próprio exemplo as atividades realizadas na natureza possam ser entendidas como ecológicas.” (MARINHO e BRUHNS, 2003 p. 131)

A sustentabilidade das organizações, do meio ambiente e da sociedade é alvo de

discussões que perpassam os interesses econômicos ou sociais, que, no entanto,

afetam diretamente a qualidade de vida e a sobrevivência dos seres humanos.

SUSTENTABILIDADE

O conceito de sustentabilidade, na primeira década do século XXI está em constante

discussão e mutação, devido às interferências sofridas pelos atores envolvidos com

o meio ambiente.

Desta forma, demonstrar uma conceituação que se adapte a todas as esferas que o

tema sustentabilidade perpassa é algo desafiador. A complexidade do termo em

pauta remete os pesquisadores a tratar de adaptar os conceitos aos fins de pesquisa

desejados.

Para Belen (2005) há uma grande diversidade de definições acerca do tema, porém

sua primeira definição data de 1980 no documento chamado World’s Conservation

Strategy que afirma que “para que o desenvolvimento seja sustentável devem-se

considerar aspectos referentes às dimensões social ecológica, bem como fatores

econômicos, dos recursos vivos e não vivos e vantagens de curto e longo prazo de

ações alternativas”. (BELEN, 2005 p. 23). Ao mesmo tempo, a preocupação com a

preservação do meio ambiente conjugada com a melhoria das condições

socioeconômicas da população fez surgir o conceito de ecodesenvolvimento, depois

substituído pelo de desenvolvimento sustentável. (MONTIBELLER-FILHO, 2001)

Porém o elemento humano somente é inserido na conceituação a partir de 1987,

sendo que a partir de então, passou a possuir uma grande importância no que tange

à sustentabilidade. “Os seres humanos são o centro de preocupação do

desenvolvimento sustentável. Tem o direito a uma vida saudável e produtiva em

harmonia com a natureza.” (SACHS, 2000 apud SAMPAIO 2001 p.36)

Ainda para Sachs, a sustentabilidade é definida por seis eixos básicos que são:

• Sustentabilidade social;

• Sustentabilidade econômica;

• Sustentabilidade ecológica;

• Sustentabilidade espacial;

• Sustentabilidade cultural;

• Sustentabilidade política.

Tais eixos norteadores da sustentabilidade propostos pelo autor, são facilmente

visualizados na atividade turística, já que os consumidores dos serviços turísticos

estão vivenciando durante a prestação do serviço as experiências ecológicas,

espaciais, culturais, favorecendo para a sustentabilidade social e econômica e

política das localidades receptoras.

Para a compreensão do conceito de sustentabilidade da atividade turística praticada

em meios rurais, tendo em vista todas as nuances que envolvem turistas e

pequenos empreendedores rurais, pode-se dizer que:

El concepto de sostenibilidad, como ocurre a todos aquellos que van ocupando posiciones estratégicas relevantes en las Ciencias Sociales, adolece de una serie de problemas de interpretación que, si no le damos un tratamiento previo adecuado, pueden terminar por vaciarlos de contenido, o, peor aun, hacerlos inoperantes para planteamientos de carácter científico.(ALLENDE LANDA, 1.995 p. 211)

Tal sustentabilidade tem como elemento chave, a necessidade de preservar o meio

ambiente, pois a atividade turística praticada em meio natural como é o turismo rural,

faz com que seja elemento de sobrevivência de tal atividade econômica, a existência

de paisagens e recursos naturais em condições razoáveis de conservação.

São visíveis os sinais de esgotamenteo de recursos naturais e de agravamento dos problemas ambientais em todas as escalas geográficas que ameaçam a integridade deste grande sistema ecológico é a ecosfera. É a desertificação, a poluição dos solos, do ar e da água, a perda da biodiversidade, as mudanças climáticas e diminuição da camada de ozônio da estratosfera. São sinais que indicam, de um lado, que o planeta Terra corre perigo e que sua capacidade de suporte é limitada, e, de outro, que vivemos uma crise ambienta. Que é, a um só tempo, generalizada e global. É a crise do modelo de crescimento econômico predatório, baseado no uso ilimitado dos recursos naturais. (SILVEIRA, 1999. p. 45)

Tais fatos incitam que as organizações necessitem criar formas de adaptabilidade ás

situações adversas encontradas. O meio ambiente e as organizações necessitam de

uma interação positiva para o estabelecimento de relações que beneficiam os

cidadãos que nelas habitam.

Hay que partir de la idea de que la sostenibilidad es un concepto complejo e integral que aglutina diversas pretensiones, por lo que es natural que en el aparezcan ideologías diferentes, y enfoques científicos. Por lo tanto, no solo ha de entenderse desde un punto de vista medioambiental, sino también económico, social y cultural referido a cualquier actividad productiva incluida la turística. (ALLENDE LANDA, 1.995)

Tais reflexões levam a acreditar que o turismo rural sem um adequado planejamento

de longo prazo, participação das comunidades locais, apoio e participação pública e

privada com financiamentos e investimentos, não consegue sustentar-se como uma

opção diversificada aos pequenos produtores que optam por possuir mais de uma

fonte de renda em uma pequena propriedade, frente ao mercado globalizado e

altamente competitivo existente no campo paranaense.

Dentro desse contexto, as pequenas propriedades, por mais produtivas que sejam,

não conseguem fazer frente e competir em grandes escalas de produção com as

grandes propriedades rurais, que trazem um sistema de produção baseado no

ganho de monoculturas altamente produtivas, sistema em escala, tecnologia de

produção e voltado para exportação.

AS ORGANIZAÇÕES E A SUSTENTABILIDADE

A inteiração entre empresas e natureza, desde a revolução industrial tem causado

impactos que, em grande parte dos casos não há reversão, trazendo à tona

questões referentes ao desenvolvimento sustentável destas organizações dentro de

um ambiente frágil.

“A organização deve ser visualizada como um conjunto de partes em constante

interação, constituindo-se em um todo orientado para determinados fins, me

permanente relação de interdependência com o ambiente externo.” (Andrade, 2002

p. 90). Suas considerações revelam que a organização não é um elemento alheio ao

ambiente e sim uma parte que completa o funcionamento da sociedade.

Para Tachizawa (2002) as organizações precisam se munir de estratégias

empresariais no que tange a inter relação com o meio ambiente, sendo que estes

são basicamente meios eficazes de se alcançar a sustentabilidade, com menor

agressão ao ambiente, levando em conta a influência dos stakeholders.

Tais organizações são atores sociais que compõe a sociedade que interferindo e

proporcionando parâmetros para os quais as empresas precisam seguir e respeitar,

tais atores são conhecidos como stakeholders, os quais cada vez mais são

influentes nos rumos que as empresas vêm seguindo.

Sob este prisma, traz-se à cena discussões acerca da teoria dos stakeholders, que é

um conceito que esclarece quem são os atores que têm interesse nas operações e

decisões de uma empresa e que devem ser consideradas nas orientações da

organização relativas à sustentabilidade. Dentre estes atores, encontram-se:

acionistas, consumidores, funcionários, fornecedores, comunidade e grupos sociais

ativistas, podendo também ser definido conforme Ansoff & Macdonnell (1993) como

grupos de interesse afetados diretamente pelo comportamento da empresa.

Tais atores têm papel fundamental para que o desenvolvimento sustentável possa

ser concretizado como filosofia de gestão nas organizações e que efetivamente

possa fazer parte de seus planejamentos, objetivando não somente as finalidades

de cunho econômico, mas também a responsabilidade perante a sociedade

contemporânea.

Faz-se necessário compreender que os atores envolvidos na questão ambiental,

levam ao surgimento de novas alternativas de relacionamento da sociedade

contemporânea com seu ambiente, procurando reduzir os impactos que ela produz

sobre o meio que a cerca, incluindo-se neste rol as empresas prestadoras de

serviços turísticos.

O turismo é um ramo econômico do setor terciário, composto por organizações de

poder público e privado que fomentam o desenvolvimento econômico e social das

localidades, por meio da valorização dos atrativos naturais, históricos e culturais que

possuem. Desta forma os elementos que impulsionam a atividade turística são

organizações, que da mesma forma que em outros ramos da economia, possuem

interferência com ambientes naturais e stakeholders.

TURISMO SUSTENTÁVEL

O conceito do Turismo Sustentável foi desenvolvido para evitar os riscos que a

condução inadequada da atividade pode provocar no meio ambiente. Segundo

Krippendorf (1988) o turismo sustentável é visto como a perfeita triangulação entre

as destinações (seus habitats e habitantes), os turistas e os prestadores de

facilidades para os visitantes.

O turismo sustentável procura adequar os interesses de cada um dos parceiros

desse triângulo, minimizando as tensões e buscando um desenvolvimento a longo

prazo, pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e as necessidades de

conservação do meio ambiente, protegendo a cultura e as características das

comunidades receptoras, estimulando com isso, a qualidade da experiência vivencial

buscada pelos visitantes. Contudo, a proteção da originalidade desses meios

dependerá do tipo de desenvolvimento proposto para a área, que segundo a

pesquisadora Doris Ruschmann (in Almeida 2001), “uma área de desenvolvimento

só será sustentável se for voltada para a valorização do homem do campo, para sua

autenticidade e para a estabilidade ecológica do meio natural onde este está

inserido”. (ALMEIDA 2001, p. 71)

Porém ainda segundo a mesma autora, existem impactos dentro do qual o conceito

de sustentabilidade é tido como ambíguo, pois envolve os interesses

mercadológicos das organizações, desta forma deve-se observar os impactos

negativos e positivos da atividade, sendo que faz-se necessário encontrar o

equilíbrio.

POSITIVOS

• Constituir a chave na revitalização dos recursos naturais, culturais e históricos de

uma área rural;

• Promover e estimular a renovação nas localidades envolvidas;

• Estimular a preservação de recursos naturais com valor excepcional.

NEGATIVOS

• Diminuir a qualidade de áreas naturais e históricas pelo número excessivo de

turistas e d equipamentos específicos;

• Aumentar os ruídos e efluentes líquidos e sólidos;

• Iniciar e desenvolver um programa de turismo em uma área rural constitui um

desafio altamente gratificante, principalmente porque a comunidade local tem o

poder e a habilidade de decidir sobre o seu desenvolvimento futuro, o que nem

sempre ocorre. (ALMEIDA, 2000 p. 71)

Já para Mathieson e Wall (1992) apud Mendonça et al (2000) os aspectos positivos

assinalam-se:

• A melhoria da infra-estrutura pública – Melhoria na infra estrutura local como

saneamento, estradas, equipamentos de saúde, dentre outros;

• Melhores investimentos em educação – a atividade turística demanda de mão

de obra qualificada, sendo necessária uma boa educação formal.

• Crescimento da oferta de empregos em tempo parcial e maior absorção da

mão de obra feminina – em comunidades menos favorecidas é um fator de

impacto positivo para o desenvolvimento da comunidade.

Quanto aos impactos sociais negativos, ainda para Mathieson e Wall (1992) apud

Mendonça et al (2000) os maiores efeitos são:

• Efeito demonstração – O turismo insere novos comportamentos nas

comunidades receptoras;

• Alterações na moralidade - estímulo à prostituição, ao uso de drogas, a

crimes e jogos, sobretudo em comunidades com baixos níveis de renda e

educação;

• Surge o neocolonialismo a partir do turismo – as decisões locais passam

depender de operadores turísticos.

O equilíbrio de tal dicotomia – impactos positivos e negativos - presente na atividade

relacionada ao turismo rural, poderá fazer com que se consiga alcançar índices de

sustentabilidade condizentes com o que se espera de qualquer outra atividade

econômica, fazendo com que esta segmentação de mercado turístico, possa ajudar

a elucidar a compreensão do conceito de sustentabilidade aplicada ao turismo.

Já para a Organização Mundial do Turismo, o turismo sustentável é definido à

luz da gestão de recursos disponíveis no meio ambiente:

Desde una perspectiva más estricta y refiriéndonos al caso que nos ocupa, para la OMT el turismo sostenible es aquel que “satisface las necesidades de los turistas actuales y de las regiones de destino, al mismo tiempo que protege y garantiza la actividad de cara al futuro. Se concibe como una forma de gestión de todos los recursos de forma que las actividades económicas, sociales y estéticas puedan ser satisfechas al mismo tiempo que se conserva la integridad cultural, los procesos ecológicos esenciales, la diversidad biológica y los sistemas que soportan la vida. (OMT, 1.993, pag. 22)

Uma postura sustentável baseia-se em alguns fatores dos quais asseguram a

preocupação com o comportamento ambiental, e o respeito aos valores culturais das

comunidades receptivas, pois para Almeida (2001) o turismo rural não representa a

solução para os problemas do campo, mas pode trazer efeitos econômicos positivos,

conseguindo contrabalançar uma eventual desintegração das atividades tradicionais.

A procura pela visitação de ambientes naturais em meio rural é notado pelas estatísticas dos órgãos responsáveis já que: O crescimento da demanda de turismo rural deve inscrever-se dentro do amplo fenômeno de conscientização e reinvidicação ecológica em que vivem as sociedades avançadas e altamente urbanizadas (...) é um fenômeno de resposta à degradação do meio ambiente em escala planetária e de marginalização do não-urbano. (ALMEIDA et al. 2000 p.17)

Outro fator de extrema importância para a caracterização da atividade com base na

sustentabilidade é o envolvimento de uma rede de pequenos produtores que não

estarão recebendo diretamente o turista, mas terá o turismo como atividade de

complementação de renda. Artesãos e outros micro-produtores da localidade são

exemplos dessa situação que contribuirão para a prática de atividades pertencentes

a essa segmentação econômica dentro do turismo, tais como hospedagem,

alimentação, recepção à visitação em propriedades rurais, recreação,

entretenimento e atividades pedagógicas vinculadas ao contexto rural, artesanato,

gastronomia, educação ambiental, outras atividades complementares às acima

listadas, desde que praticadas no meio rural, que existam em função do turismo ou

que se constituam no motivo da visitação.

Dessa forma, o uso do meio natural pelo turismo rural com base na sustentabilidade

da atividade turística contribui com o processo de valorização da cultura dos

elementos envolvidos, conservação do meio ambiente natural, além de ser uma

estratégia interessante de agregação de renda, gerando outras externalidades

positivas ao produtor rural como, por exemplo, a redução do fluxo do êxodo rural,

decorrente das baixas oportunidades no meio rural.

O TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR NO PARANÁ: EM BUSCA DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Dentro das segmentações do mercado turístico, o chamado turismo rural merece

lugar de destaque, devido ao grande número de propriedades que vem

desenvolvendo já nos primeiros anos do século XXI.

O conjunto das transformações estruturais do sistema capitalista impactou fortemente o sistema agroalimentar, tanto em termos das relações de produção como em termos do papel reservado ao espaço rural. O uso intensivo do capital na agricultura tornou os agricultores mais dependentes de fatores não-agrícolas (máquinas, equipamentos e insumos químicos), ao mesmo tempo que integrou a agricultura aos complexos agroindustriais, alterando progressivamente o seu papel na dinâmica produtiva das áreas rurais. (MATEI, 2005)

Devido às dificuldades de geração de renda dos pequenos proprietários rurais frente

a grandes propriedades altamente sofisticadas, as alternativas de sobrevivência

destas propriedades rurais, ficam cada vez mais escassas, sendo que em muitos

casos, o turismo rural na agricultura familiar, tem sido a alternativa.

Dentre as atividades que envolvem a prática do turismo rural pode-se considerar:

pousadas, pesque-pague, restaurantes típicos, venda direta de produtos

industrializados nas propriedades, atividades de lazer associadas à paisagem

natural, atividades baseadas nos elementos culturais de um local e/ou região e

atividades ecológicas.

No Estado do Paraná, assim como em todo o Brasil, o número de propriedades

rurais que vêm desenvolvendo atividades ligadas ao turismo, aumenta ao passo que

a atividade turística no Estado se desenvolve.

Segundo dados da Secretaria de Estado do Turismo, o Paraná recebeu o fluxo de

5.552.244 turistas no ano de 2002, o que gerou uma renda de U$ 899.463.470,00,

sendo que 48% são provenientes do mesmo Estado, 17% estrangeiros e 35% de

outras regiões do Brasil.

De acordo com a Deliberação Normativa n° 432/02 da EMBRATUR1, existem no

Estado do Paraná 128 municípios prioritários para o desenvolvimento da atividade

turística. Fazendo parte destes municípios que vem desenvolvendo atividades

turísticas no Estado do Paraná, vale ressaltar os roteiros de turismo rural, que são

circuitos integrados, onde propriedades rurais desenvolvem atividades turísticas já

possuem considerável relevância, sendo a região metropolitana de Curitiba,

detentora de vários destes circuitos no Estado do Paraná. Tal fator demonstra o

grande interesse dos proprietários rurais em desenvolver, bem como o interesse dos

turistas em buscar este tipo de turismo.

A atividade turística em meio rural passou a ganhar destaque nas discussões sobre

alternativas para a agricultura familiar, especialmente quando se trata do problema

de renda e emprego. Esta visão acabou influenciando as próprias políticas públicas,

de tal modo que no mês de setembro de 2003, o Governo Federal lançou, através

do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), uma

linha de crédito, chamada de "PRONAF Turismo Rural", para apoiar os agricultores

familiares que pretendem implementar atividades turísticas no âmbito das unidades

familiares de produção.

A criação do presente programa de incentivo ao pequeno agricultor se dá, mesmo o

Paraná sendo um grande produtor agrícola, segundo dados da Secretaria de Estado

do Turismo do Paraná, o Estado participa com cerca de 23% da produção brasileira

de grãos e entre seus produtos destacam-se trigo, milho, algodão, aveia, soja, feijão,

batata, mandioca, cana de açúcar e a erva mate.

Esta alta produtividade agrícola está vinculada a grandes propriedades rurais do

Estado, deixando os pequenos produtores à margem de tais índices, o que leva os

mesmos a procurarem diversificar suas atividades, dentre as quais o turismo rural

surge como alternativa viável e competitiva.

Segundo o PRONAF2 o baixo nível de renda comumente constatado entre os

agricultores e a autodesvalorização dos hábitos e costumes em detrimento do ideal

urbano, tem como uma das conseqüências o êxodo rural. Diante desse quadro, o

turismo possibilita a valorização da agricultura familiar, uma vez que a sua cultura

torna-se o próprio atrativo turístico, com efeitos diretos no aumento da auto-estima

da população.1 Instituto Brasileiro de Turismo.2 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programa de Turismo Rural na Agricultura Familiar. 2003.

Os benefícios sociais refletem-se na dinamização da cultura rural, da necessidade de os agricultores familiares manterem sua identidade e autenticidade. É desencadeado um resgate de valores, costumes, códigos: orgulhar-se da sua ascendência, relembrar histórias, resgatar a gastronomia, exibir objetos antigos antes considerados velhos e inúteis, seu modo de falar, suas vestimentas, seu saber. Ressurgem, desse modo, as artes, as crenças, os cerimoniais, a linguagem, o patrimônio arquitetônico, que são restituídos ao cotidiano, transformados em atrativos típicos usados como marcas locais interessantes para o turismo. (BRASIL, 2003. Disponível em www.mda.gov.br)

Iniciativas como a criação de tal programa pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário corrobora com o objeto de estudo do presente artigo, no que tange à

relevância da atividade turística como forma de sustentabilidade ambiental,

socioeconômica e histórico-cultural, já que a visitação de destinos rurais para os

turistas faz com que se crie uma necessidade de valorização e conservação da

natureza da localidade visitada.

Os estudos acerca de tais afirmações podem ser visualizadas pelos estudos de

Krippendorf (1997) quando menciona que ao visitar e vivenciar uma localidade o

indivíduo compartilha de valores e passa a assimilar novos conhecimentos e

conceitos. Tal afirmativa demonstra a relevância da sensibilização para questões

ambientais em localidades de realização de turismo, em especial de localidades

rurais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Faz-se relevante ressaltar que quaisquer atividades turísticas realizadas em meios

naturais, necessitam de natureza e comunidade vivendo em harmonia, fazendo com

que os conceitos de turismo sustentável sejam o eixo norteador da exploração

econômica das localidades receptoras.

O desenvolvimento sustentável de organizações, comunidades e meio ambiente faz

com que fatores impactantes sobre estes três atores sejam minimizados e a

convivência entre turistas e proprietários rurais aconteça de forma a contemplar os

pilares da sustentabilidade propostos por Sachs.

No Estado do Paraná é possível visualizar o crescimento da atividade turística em

especial do turismo rural. O presente artigo pretendeu-se realizar uma análise prévia

da atividade à luz dos conceitos do desenvolvimento sustentável, objetivando a

prática do turismo, não mais como algo exploratório e sim como fator construtivo e

responsável, sendo uma forma de aproximação das mais diferentes classes sociais

e estilos de vida.

O desenvolvimento local por meio de uma atividade turística em ambiente rural é

uma alternativa de sobrevivência para os pequenos empreendedores rurais que não

conseguem se manter competitivos frente às grandes propriedades rurais, e sendo

assim questões como melhoria de renda, acesso à educação, saúde são alguns dos

quesitos que a atividade pode impactar positivamente nas pequenas organizações

rurais.

Acreditar que uma atividade econômica pode melhorar a qualidade de vida de

pequenas comunidades rurais pode parecer algo utópico ou tendencioso, porém é

certo que o desenvolvimento de tal atividade de maneira ordenada, respeitando o

meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural, bem como inserindo os atores

sociais no processo de desenvolvimento e planejamento da atividade, faz com que o

resultado alcançado seja favorável, utilizando os espaços naturais de forma a não

prejudicar/impactar gerações futuras.

REFERÊNCIAS

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BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 5. ed. São Paulo: Editora SENAC, 2001.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programa de Turismo Rural na Agricultura Familiar. 2003.

BRASIL. Ministério do Turismo. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural no Brasil, 2004.

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OLIVA, Jaime; GIANSANTT, Roberto. Espaço e modernidade: Temas da geografia mundial. São Paulo: Atual, 1995.

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SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 1998.

SILVEIRA, Marcos Aurélio T. Políticas de desenvolvimento e sustentabilidade: possibilidades e perspectivas. In. RA’E GA. O espaço geográfico em análise. n° 2ano II, Editora UFPR. Curitiba: 1999.


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