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Criatividade e dedicação:Da palha de carnaúba ao artesanato

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1797

Dezembro/2014

Jaicós

Mulheres da Associação de Várzea Queimada desenvolvem trabalho artesanal feitos da palha de carnaúba em obras de artes

“O artesanato nos proporcionou uma melhora financeira, e com a valorização dos produtos que nos trouxe autoestima. Apesar de ser um trabalho cultural, que vem passando de geração em geração, nos não reconhecíamos como artesanato. Antes produzíamos esteiras, hoje, fazemos tapete, varias peças decorativas, nos orgulhamos do que produzimos e buscamos novas ideias. Nos classificamos como artesãos não só as sócias mas, todas as pessoa da comunidade que fazem essa atividade” Marcilene Barbosa, presidente da associação.

Várzea Queimada fica localizada na zona rural de Jaicós. A comunidade vem há mais de séculos desenvolvendo um trabalho artesanal com a palha da carnaúba e pneus velhos. Trabalho esse que foi ensinado e repassado de pais e mães para filhos e filhas, desde pequenos/as.

O nome da marca e do espaço onde as mulheres se reúnem para a produção das peças é TOCA. “Escolhemos esse nome por compreender que seu significado esteja relacionado com algo que se tocava e que ia pra frente. Ela teve início com a fundação de uma associação que tinha começado, veio a acabar e depois as mulheres se uniram, se reorganizaram e fundaram outra associação”, explica a presidente.

Com a fundação desta nova associação, o SEBRAE já conhecendo o trabalho das mulheres com o artesanato, trouxe o design Marcelo Rosenbaum, que fez uma visita a Várzea Queimada e em mais nove comunidades. Uma das dez comunidades foi escolhida para implantar o Projeto A Gente Transforma – AGT, cuja finalidade era gerar renda para a comunidade e dar visibilidade a produção artesanal local.

Pois bem, a escolhida foi a Várzea Queimada. No inicio de 2002, o designer retornou a comunidade com uma equipe de 50 pessoas, entre eles: arquitetos e estudantes, que

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juntamente com a população construíram o espaço TOCA, e ensinaram novas técnicas para a produção de peças artesanais, comercializadas hoje nas feiras por todo o Brasil.

O trançado da palha de carnaúba é um trabalho secular, que a comunidade já vinha fazendo de forma individual. Os primeiros habitantes já trabalhavam com a palha e isso virou uma tradição que vem dos seus antepassados.

“Nós já vivíamos disso, antes mesmo de acontecer o projeto. Só que agora melhorou 100% com a valorização do produto. Tudo o que nós produzimos hoje, praticamente 80%, como as cestarias, já eram produtos que minhas bisavós, tataravós produziam e usavam no dia a dia em suas casas, como objeto de uso. Isso foi transformado, foi dado um novo design em cima do produto de uso e hoje está sendo comercializado”, conta Marcilene.

“Desde quando a gente nasce, a gente já vive nessa arte aqui. A gente espera que o povo dê mais valor ao nosso produto. O que eu espero é um dia nós sobreviver somente do artesanato”, Antonia Dilma Araújo, sócia.

Atualmente a associação conta com a participação de 30 mulheres, que se reúnem para adquirirem a matéria prima e trabalharem juntas e em coletivo. A terra aonde é produzida a palha é arrendada, a associação paga a terceiros com o lucro do pó, ficando apenas com a matéria prima que é a palha e o olho da carnaúba.

Os produtos são divididos por peças, em quantidades iguais com as sócias. Cada uma recebe a mesma quantidade, porém se uma trabalhar menos que a outra, elas dão o desconto e dividem o que foi descontado com as outras que tiveram a mão de obra maior.

Os homens por sua vez também têm o seu trabalho reconhecido, pois há mais ou menos três décadas eles reciclam a borracha de pneus para confeccionar terços, colares, anéis e sandálias. Já os tapetes, caldeirões, bogoiós, bolsas, luminárias, chaveiros, sacolas e chapéus, são algumas obras de artes, produzidas pelas mulheres e vendidas em São Paulo, Brasília, Rio de janeiro, Goiânia, Mato Grosso e até no exterior.

Essas mulheres, além de dedicarem tempo e força ao artesanato, ainda encontram tempo para trabalhar em casa e na roça, plantando e criando animais. São mulheres corajosas e guerreiras que fazem tudo isso com muito orgulho, amor e satisfação. Elas, assim como os homens têm o prazer de ajudar na economia da casa.

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