CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA
GABINETE DO CORREGEDOR 1
GD-A8
Processo nº: 2017/1302.
Requerente: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível e da Infância e Juventude da
Comarca de São Miguel dos Campos.
Requerido: Cartório de Registro Civil do 3º Distrito.
SERVENTIA EXTRAJUDICIAL.
COMUNICAÇÃO DE SUPOSTA INFRAÇÃO
ADMINISTRATIVA COMETIDA PELA TABELIÃ
DO CARTÓRIO DE REGISTRO CIVIL DO 3º
DISTRITO. MORTE SUPERVENIENTE.
INTERINA RESPONDE SOMENTE PELOS ATOS
PRATICADOS APÓS A DELEGAÇÃO.
INCIDÊNCIA DO ART. 24, DA LEI 8.935/94.
PARECER PELO ARQUIVAMENTO.
ACOLHIMENTO.
DECISÃO
Trata-se de expediente encaminhado a esta
Corregedoria-Geral da Justiça pela Dra. Luciana Josué Raposo Lima, Juíza de Direito
da 1ª Vara Cível e da Infância e Juventude da Comarca de São Miguel dos Campos, por
meio do qual remete cópia da Sentença prolatada nos autos do Processo nº 0700854-
35.2015.8.02.0053, que determinou “... a anulação do registro de nascimento da
autora, de fls. 134, do livro A85, matrícula 002279 01 552002 1 00084 134 0078334 07,
feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais da Comarca de Maceió-AL, no
bairro Bebedouro. ...” (= sic) págs. 02/03 – especialmente pág. 03 – dos autos.
Via de consequência, em razão da duplicidade de
registro, a MM. Juíza encaminhou o Of. N º 06/17, a fim de dar “... conhecimento
acerca do fato do Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais de Maceió do bairro do
Bebedouro, averiguando se houve infração administrativa cometida pelo mesmo. ...” (=
sic) pág. 01 dos autos.
Devidamente notificada, a Oficiala Interina, Adriana
Costa Moreira da Silva, aduziu, em síntese, que, verbis:
“… não houve qualquer cometimento de ato infracional
pela peticionante, pois o genitor no dia 20.12.1994
compareceu ao cartório de registro civil e solicitou a
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lavratura da certidão de nascimento (…) a primeira
certidão foi lavrada em 20.12.1994 pelo Sr. Givanildo da
Silva e a grafia do nome foi JÉSSYCA CRISTINA DA
SILVA, (…) posteriormente (03.09.2002) a genitora, Srª
Waldinez Cristina Nunes da Silva e solicitou a lavratura
de outra certidão de nascimento, sem o conhecimento do
cartório, omitindo ardilosamente o nome do genitor (…)
apresentou nome diverso do anteriormente registrado,
qual seja: JÉSSICA CRISTINA NUNES DA SILVA … “
(= sic) (ID. nº 261653).
Adiante, além das suso mencionadas certidões de
Jéssyca Cristina da Silva e Jéssica Cristina Nunes da Silva, a Oficiala Interina do
Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais e Óbito do 3º Distrito juntou a Certidão
de Óbito da então Delegatária Sra. Aldacy Costa Moreira da Silva. (ID nº 295131).
Na sequência, o Juiz Auxiliar desta Corregedoria-Geral
da Justiça, à época, Dr. Geraldo Cavalcante Amorim, ofereceu parecer (ID nº 295521),
nos seguintes termos:
“… Necessário ser consignado, que a época da lavratura
do ato reclamado (03/09/2002), a Unidade era gerida
pela então Delegatária Aldacy Costa Moreira da Silva, a
qual faleceu em 18/09/2015, conforme Certidão de Óbito
acostada aos presentes autos, documento de Id 295131.
Como forma preliminar do mérito, necessário se faz
trazer a baila o conteúdo da legislação pertinente a
matéria. A Lei nº 8.935/94, que regulamentou o art. 236
da Constituição Federal, no seu art. 22, assevera que:
Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão
pelos danos que eles e seus prepostos causem a
terceiros, na prática de atos próprios da serventia,
assegurado aos primeiros o direito de regresso no
caso de dolo ou culpa dos prepostos.
Estabeleceu, assim, o dispositivo acima transcrito, a
responsabilidade civil dos oficias e tabeliães, devendo
estes responder pelos prejuízos causados a terceiros por
atos praticados pessoalmente ou por seus prepostos ou
substitutos que foram indicados pelo oficial. A
responsabilidade recai na pessoa do próprio oficial,
afastando a responsabilização da serventia extrajudicial,
pois que a delegação é outorgada direta e pessoalmente
ao particular, denominado delegatário, não havendo
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delegação à serventia extrajudicial. Esta é instituição
administrativa, que não possui personalidade jurídica
nem tampouco patrimônio próprio. Por outro vértice de
análise, a responsabilidade do oficial, além de ser
pessoal, é apurada no momento da prática do ato, ou seja,
a penalidade a ser aplicada em decorrência da má
prestação de serviços notariais somente poderá recair na
pessoa do oficial à época dos fatos, não se
transmitindo aos oficiais sucessores a
responsabilidade pelas práticas irregulares. Este é o
entendimento pacificado dos Tribunais Pátrios, inclusive
do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO
REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.
TABELIONATO. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE
JURÍDICA. RESPONSABILIDADE DO TITULAR DO
CARTÓRIO À ÉPOCA DOS FATOS.
1. O tabelionato não detém personalidade jurídica,
respondendo pelos danos decorrentes dos serviços
notariais o titular do cartório na época dos fatos.
Responsabilidade que não se transfere ao tabelião
posterior. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 624.975/SC, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
21/10/2010, DJe 11/11/2010)
Diante do caso concreto, OPINO pelo arquivamento do
presente processo administrativo.
É a síntese dos fatos.
De início, impende registrar a competência desta
Corregedoria-Geral da Justiça para fiscalizar as atividades jurisdicionais e auxiliares da
justiça, nos termos do art. 41 da Lei Estadual nº 6.564/2005 - Código de
Organização Judiciária de Alagoas – COJAL –, in verbis:
“Art. 41. Compete ao Corregedor-Geral da Justiça
dirigir, coordenar, supervisionar e avaliar as
atividades da Corregedoria-Geral da Justiça, órgão
de orientação, fiscalização e disciplina das atividades
jurisdicionais e auxiliares da justiça, com jurisdição
abrangente de todo o território estadual.”
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GABINETE DO CORREGEDOR 4
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Além disso, disciplina o art. 37, da Lei nº 8.935, de 18
de novembro de 1994 – que dispõe sobre serviços notariais e de registro –, que
compete ao Poder Judiciário fiscalizar os atos dos notários e registradores:
“Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e
de registro, mencionados nos arts. 6º a 13, será
exercida pelo juízo competente, assim definido na
órbita estadual e do Distrito Federal, sempre que
necessário, ou mediante representação de qualquer
interessado, quando da inobservância de obrigação
legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou
de seus prepostos.” (sem grifos no original).
Assim sendo, impende registrar a norma insculpida no
art. 22, da suso mencionada Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994, verbis:
“ Art. 22. Os notários e oficiais de registro
responderão pelos danos que eles e seus prepostos
causem a terceiros, na prática de atos próprios da
serventia, assegurado aos primeiros o direito de
regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos.”
No ponto, do atento exame dos autos, constata-se que o
Ato, supostamente ilegal, praticado pelo Cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais
e Óbito do 3º Distrito, ocorreu em 02 de setembro de 2002 (ID nº 261653), período no
qual a serventia extrajudicial era delegada à Sra. Aldacy Costa Moreira da Silva.
Mas, não é só. Consoante atesta e revela a Certidão de
Óbito juntada aos autos (ID nº 295131), a Sra. Aldacy Costa Moreira da Silva faleceu
em 18 de setembro de 2015; e, foi substituída pela Sra. Adriana Costa Moreira da Silva,
por meio do Ato nº 31, de 25 de julho de 2016, originário da presidência do Egrégio
Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas. (ID nº 434557)
Nessa trilha, porque de inteira aplicação à hipótese
vertente, imprescindível trazer à lume o preceituado no art. 24, da Lei nº 8.935, de 18
de novembro de 1994, verbis:
“Art. 24. A responsabilidade criminal será
individualizada, aplicando-se, no que couber, a
legislação relativa aos crimes contra a administração
pública. .” (sem grifo no original).
Com efeito, a responsabilidade criminal é pessoal =
personalíssima; e, portanto, restringe-se ao autor do suposto ato ilícito, uma vez
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GABINETE DO CORREGEDOR 5
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comprovada a sua materialidade.
Por conseguinte, no caso dos autos, a prática do ato de
registro civil, em duplicidade, ocorreu durante a gestão da Sra. Aldacy Costa Moreira da
Silva, que veio a falecer em 18.09.2015.
A respeito do tema, ao tratar da responsabilidade por atos
do oficial de registro antecessor, Denise Heuseler, Gisele Leite, José Domingues Filho
e Mario do Carmo Ricalde lecionam que:
“... Se o fato danoso se deu quando quando a
titularidade pelo cartório era de outro serventuário, forçoso se impõe o
reconhecimento da ilegitimidade ad causam do titular atual da serventia, para
responder por ato pretérito, cuja responsabilidade era do anterior notário’
Sobretudo porque ‘seria injusto que o novo tabelião ou registrador empossado
suportasse o ônus de responder pela má gestão anterior da serventia, podendo
inclusive colocar em risco a nova gestão que se inicia’.
Não cabe ao ‘sucessor, atual titular da serventia,
responder pelo ato ilícito praticado pelo sucedido – antigo titular. Entender
diferente seria dar margem à teoria do risco integral, o que não pode ser entendido
de forma alguma a teor dos artigos 236 da CF, art. 28 da Lei n. 6.015/73 e 22 da Lei
n. 8.935/94’.
Responde ‘pelos danos decorrentes dos serviços
notariais o titular do cartótio na época dos fatos. Responsabilidade que não se
transfere ao tabelião posterior.’
Com efeito. ‘Em princípio, a responsabilidade dos
titulares de Cartório Extrajudicial é pessoal e intransmissível.’ ...” (= HEUSELER,
Denise et. al.Manual dos Notários e Registradores. 1ed. Campo Grande:
Contemplar, 2018. pp. 629-630)(grifei).
Em acréscimo, enfatizam que a responsabilidade criminal
possui âmbito mais restrito que a responsabilidade criminal, verbis:
“... Conceptivamente, ‘a responsabilidade é um
mecanismo de resposta a uma determinada falha comportamental, a qual culmina
com a imposição de uma sanção, de uma pena. A responsabilidade jurídica,
especialmente, possui duas nuances de estudo de maior relevo: a responsabilidade
civil e a responsabilidade penal. Cumpre lebrar que essas categorias jurídicas
gozam de uma natureza comum. A diferença entre elas reside na origem da norma
jurídica violada e a consequente obrigação de reparar, bem como o diâmetro e a
forma de repercussão dos seus efeitos. A responsabilidade civil possui o diâmetro
que a penal. Somente as condutas humanas mais graves, que atingem bens sociais
de maior relevância, são sancionadas pela lei penal. No que diz respeito à forma de
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repercussão, a responsabilidade civil se recompõe, quanto possível, pela
indenização, ao passo que a responsabilidade penal se restaura com a pena. ...” (=
HEUSELER, Denise et. al.Manual dos Notários e Registradores. 1ed. Campo
Grande: Contemplar, 2018. p.626) (grifei).
Nessa esteira, sobre o princípio da responsabilidade
pessoal, Guilherme de Souza Nucci esclarece:
“... A medida exata e justa da punição somente pode
concentrar-se na pessoa do autor do ilícito, sem se expandir para outros indivíduos,
por mais próximos que sejam ou estejam do criminoso. A pessoalidade do abono ao
direito individual é contraposta à justeza da punição do infrator. Por isso,
‘nenhuma pena passará da pessoa do condenado (...) (art. 5º, XLV, CF). ...” (=
NUCCI, Guilherme de Souza. Princípios constitucionais penais e processuais
penais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 153)(grifei).
De arremate, oportunas as lições de Luiz Guilherme
Loureiro:
“ … Nosso ordenamento jurídico – ao contrário do
tratamento legal da responsabilidade civil em que se admite, ainda que
excepcionalmente, a responsabilidade sem culpa – não concebe a figura da
responsabilidade infracional (e penal) objetiva: a pena, seja ela administrativa ou
criminal, não pode passar da pessoa do agente ( pessoalidade) e não prescinde do
elemento subjetivo do tipo. ...”(= Registros Públicos: Teoria e Prática – 7ª edição –
editora Jus Podivm – Salvador – 2016 – págs. 396)(grifei).
A corroborar a procedência da argumentação aqui
esposada, cumpre destacar a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a seguir
decotada:
“... CIVIL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO
SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. VIOLAÇÃO DO ART. 284 DO
CPC/73. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 282 E 356 DO
STF. CARTÓRIO. ILEGITIMIDADE PASSIVA.
AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA E
JUDICIÁRIA. PRECEDENTES. AGRAVO
CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL
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CONHECIDO EM PARTE E, NESSA EXTENSÃO,
NÃO PROVIDO. ...” (= STJ, AREsp 1190368, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, Decisão monocrática,
DJe 27/04/2018).
“... TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. TABELIONATO.
AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA.
PRECEDENTES.
1. A jurisprudência do STJ é no sentido de que os
serviços de registros públicos, cartorários e notariais
não detêm personalidade jurídica, de modo que quem
responde pelos atos decorrentes dos serviços notariais
é o titular do cartório. Logo, o tabelionato não possui
legitimidade para figurar no polo passivo da
demanda repetitória tributária. Precedentes: AgRg
no REsp 1.360.111/SP, Rel. Ministro Mauro Cambpell
Marques, Segunda Turma, DJe de 12/05/2015; AgRg
no REsp 1.468.987/SP, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe de 11/03/2015; AgRg
no AREsp 460.534/ES, Rel. Ministro Sidnei Beneti,
Terceira Turma, DJe 28/4/2014. 2. Agravo interno
não provido. ...” (= STJ, AgInt no REsp 1441464/PR,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe
28/09/2017).
“... AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO
EXTRAJUDICIAL. ATOS PRATICADOS NO
ÂMBITO DA SERVENTIA.
RESPONSABILIDADE DO DELEGATÁRIO À
ÉPOCA DOS FATOS.
1.- A atual jurisprudência desta Corte orienta que "o
tabelionato não detém personalidade jurídica,
respondendo pelos danos decorrentes dos serviços
notariais o titular do cartório na época dos fatos.
Responsabilidade que não se transfere ao tabelião
posterior" (AgRg no REsp 624.975/SC, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe 11/11/2010).
2.- O Agravo não trouxe nenhum argumento novo
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capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se
mantém por seus próprios fundamentos.
3.- Agravo Regimental improvido. ...”
(=STJ, AgRg no AREsp 460.534/ES, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
27/03/2014, DJe 28/04/2014)
“... AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO
ESPECIAL. TABELIONATO. AUSÊNCIA DE
PERSONALIDADE JURÍDICA.
RESPONSABILIDADE DO TITULAR DO
CARTÓRIO À ÉPOCA DOS FATOS.
1. O tabelionato não detém personalidade jurídica,
respondendo pelos danos decorrentes dos serviços
notariais o titular do cartório na época dos fatos.
Responsabilidade que não se transfere ao tabelião
posterior. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento. ...”
(AgRg no REsp 624.975/SC, Rel. Ministra MARIA
ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado
em 21/10/2010, DJe 11/11/2010)
“... AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL.
MULTA APLICADA ADMINISTRATIVAMENTE
EM RAZÃO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL.
EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA EM FACE DO
ADQUIRENTE DA PROPRIEDADE.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. MULTA COMO
PENALIDADE ADMINISTRATIVA, DIFERENTE
DA OBRIGAÇÃO CIVIL DE REPARAR O DANO.
(...) Esta Corte Superior possui entendimento pacífico
no sentido de que a responsabilidade civil pela
reparação dos danos ambientais adere à propriedade,
como obrigação propter rem, sendo possível cobrar
também do atual proprietário condutas derivadas de
danos provocados pelos proprietários antigos. Foi
essa a jurisprudência invocada pela origem para
manter a decisão agravada. 6. O ponto controverso
nestes autos, contudo, é outro. Discute-se, aqui, a
possibilidade de que terceiro responda por sanção
aplicada por infração ambiental. 7. A questão,
portanto, não se cinge ao plano da responsabilidade
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civil, mas da responsabilidade administrativa por
dano ambiental. 8. Pelo princípio da intranscendência
das penas (art. 5º, inc. XLV, CR88), aplicável não só
ao âmbito penal, mas também a todo o Direito
Sancionador, não é possível ajuizar execução fiscal em
face do recorrente para cobrar multa aplicada em
face de condutas imputáveis a seu pai. Documento:
21581971 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado -
DJe: 17/04/2012 Página 1 de 3Superior Tribunal de
Justiça 9. Isso porque a aplicação de penalidades
administrativas não obedece à lógica da
responsabilidade objetiva da esfera cível (para
reparação dos danos causados), mas deve obedecer à
sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a
conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor,
com demonstração de seu elemento subjetivo, e com
demonstração do nexo causal entre a conduta e o
dano. 10. A diferença entre os dois âmbitos de
punição e suas consequências fica bem estampada (...)
12. Em resumo: a aplicação e a execução das penas
limitam-se aos transgressores; a reparação ambiental,
de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os
poluidores, a quem a própria legislação define como
"a pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental" (art.
3º, inc. V, do mesmo diploma normativo). 13. Note-se
que nem seria necessária toda a construção
doutrinária e jurisprudencial no sentido de que a
obrigação civil de reparar o dano ambiental é do tipo
propter rem, porque, na verdade, a própria lei já
define como poluidor todo aquele que seja
responsável pela degradação ambiental - e aquele
que, adquirindo a propriedade, não reverte o dano
ambiental, ainda que não causado por ele, já seria um
responsável indireto por degradação ambiental
(poluidor, pois). 14. Mas fato é que o uso do vocábulo
"transgressores" no caput do art. 14, comparado à
utilização da palavra "poluidor" no § 1º do mesmo
dispositivo, deixa a entender aquilo que já se podia
inferir da vigência do princípio da intranscendência
das penas: a responsabilidade civil por dano
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GABINETE DO CORREGEDOR 10
GD-A8
ambiental é subjetivamente mais abrangente do que
as responsabilidades administrativa e penal, não
admitindo estas últimas que terceiros respondam a
título objetivo por ofensa ambientais praticadas por
outrem. 15. Recurso especial provido. ...” (=STJ -
RECURSO ESPECIAL Nº 1.251.697 - PR
(2011/0096983-6) - SEGUNDA TURMA - MINISTRO
MAURO CAMPBELL MARQUES – Ac. Unânime de
12/04/2012 – DJE de 17/04/2012)
Nesse cenário, a atual Interina da Serventia Extrajucial
em testilha não pode ser penalizada por ato praticado pela antiga delegatária do
Cartório. Ou seja, a Sra. Adriana Costa Moreira da Silva não pode ser penalizada
administrativamente por ato praticado por outrem.
Por fim, não há alegações de danos na esfera civil
pendentes de reparo. Além disso, a anulação do registro duplicado foi objeto da decisão
proferida pela Juiza de Direito Emanuela Bianca de Oliveira Porangaba, nos autos da
Ação de Anulação de Registro Civil, sob o nº 0700854-35.2015.8.02.0053, adiante
transcrita:
“... Cuida-se de ação de anulação de registro civil
formulada por JESSICA CRISTINA NUNES DA SILVA,
qualificada nos autos, por intermédio de advogado
legalmente constituído, a fim de anular uma certidão de
nascimento feita após a original. Alega a autora, em
suma, que sua genitora, após uma discussão com seu
genitor, dirigiu-se ao cartório e solicitou uma nova
certidão de nascimento da mesma, retirando da nova, o
nome do genitor da requerente, e de seus avós paternos.
Aduz ainda, que data, mês e ano estão corretos em
ambas, porém requer a anulação da segunda, pois tem
conhecimento que a duplicidade de registros é crime, e
está impossibilitada de tirar a segunda via da sua cédula
de identidade e do seu CPF.A inicial veio instruída de
documentos, às fls. 05/09.Parecer Ministerial, à fl. 12/14.
Assim, vieram-me os presentes autos conclusos para
decisão. É o que importa a relatar. Fundamento e decido.
A questão não exige maiores divagações. A requerente
pede a anulação da segunda certidão de nascimento, pois
nela não consta o nome de seu pai e de seus avós
paternos, devido ao fato de sua genitora, agindo de má-
fé, após 8 (oito) anos do primeiro registro, ter formulado
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GABINETE DO CORREGEDOR 11
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uma segunda certidão, excluindo o nome dos parentes
citados. Segue a lei 6.216/75:Art. 216. O registro poderá
também ser retificado ou anulado por sentença em
processo contencioso, ou por efeito do julgado em ação
de anulação ou de declaração de nulidade de ato jurídico,
ou de julgado sobre fraude à execução." Diante de tal
situação, segue Jurisprudência atualizada: APELAÇÃO
CÍVEL - ANULATÓRIA DE REGISTRO DE
NASCIMENTO - DUPLICIDADE DE ASSENTOS -
SEGUNDO REGISTRO EMBASADO EM FALSAS
DECLARAÇÕES - PREVALÊNCIA DO PRIMEIRO
ATO - RECURSO NÃO PROVIDO 1. Restando
incontroversa a duplicidade dos registros de nascimento
da apelante, e havendo comprovação de que o segundo
ato fora lavrado mediante falsas declarações das partes,
deve ser reconhecida sua nulidade, com a cassação dos
direitos dele decorrentes. 2. Eventual discussão acerca da
existência de paternidade socioafetiva deverá ser
proposta em demanda adequada pela parte interessada. 3.
Recurso não provido.(TJ-MG - AC:
10027040371281001 MG, Relator: Áurea Brasil, Data de
Julgamento: 22/05/2014, Câmaras Cíveis / 5ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 30/05/2014)
A anulação do registro civil, para ser admitida, deve ser
sobejamente demonstrada como decorrente de vício do
ato jurídico (coação, erro, dolo, simulação ou fraude),
não podendo ser alegada apenas a falsidade das
informações constantes no documento, portanto, no caso
em tela, deve-se anular a segunda certidão de
nascimento, pois a genitora da requerente agiu com dolo,
decorrente apenas de uma discussão.Diante do acima
exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido para
determinar a anulação do registro de nascimento da
autora, de fls. 134, do livro A85, matrícula 002279 01
552002 1 00084 134 0078334 07, feito no Cartório de
Registro Civil de Pessoas Naturais da Comarca de
Maceió-AL, no bairro Bebedouro. Os demais
documentos de identificação deverão ser solicitados
posteriormente, por iniciativa da requerente, em seus
respectivos órgãos de emissão com cópia da presente
decisão bem como da certidão de nascimento original, ou
seja, a que consta o nome de seu genitor e de seus avós
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paternos.Expeça-se o competente mandado.Por fim,
tendo em vista a possível infração administrativa,
determino, ainda, as seguintes providências: 1) Oficie-se
a Corregedoria Geral de Justiça para tomar conhecimento
do fato por parte do cartório de registro civil de pessoas
naturais; 2) Dê-se vista dos autos (mediante cópia) ao
Ministério Público da Comarca de Maceió, por ofício ao
Procurador Geral para apuração do possível cometimento
de crime. Sem custas, em face dos benefícios da
Assistência Judiciária Gratuita concedida.Publique-se.
Registre-se. Intime-se.Cumpridas as formalidades legais,
arquive-se, dando-se baixa no Sistema e no Livro de
controle competente.São Miguel dos Campos,28 de
janeiro de 2016.Emanuela Bianca de Oliveira Porangaba
Juiz(a) de Direito ...” (= sic) (sem grifos no original)
Isto posto, ACOLHO o parecer do Juiz de Direito
Auxiliar desta Corregedoria-Geral da Justiça, à época, Dr. Geraldo Cavalcante Amorim.
Ao fazê-lo, com fulcro do artigo 24, da Lei nº 8.935, de
18 de novembro de 1994; forte na ausência de responsabilidade da atual Interina do
Cartório de Registro Civil do 3º Distrito, Sra. Adriana Costa Moreira da Silva, pelos
atos praticados pela Tabeliã anterior; e, não havendo outra providência a ser adotada por
esta Corregedoria-Geral da Justiça, DETERMINO A EXTINÇÃO DO PROCESSO,
com fulcro no artigo 52, da Lei Estadual nº 6.161/2000.
Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se. Certifique-se.
Após, arquivem-se os autos.
Atraso face ao acúmulo de serviço.
Maceió, 13 de junho de 2018.
Des. Paulo Barros da Silva Lima
Corregedor-Geral da Justiça