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consensoConsenso Sobre Diabetes Gestacional eDiabetes Pré-Gestacional

Maria I. SchmidtAngela J. Reichelt,

pelo Grupo de Trabalho emDiabetes e Gravidez

Endereço para Correspondência:Angela J. ReicheltAv. Alegrete, 507/70190460-100 Porto Alegre - RSEmail: [email protected]: (051) 3308440Fax: (051) 3338750

RESUMOO Grupo de Trabalho em Diabetes e Gravidez, reunido durante o XI Con-gresso Brasileiro de Diabetes, em 1997, elaborou normas para o manejodo diabetes gestacional e pré-gestacional. O rastreamento do diabetesgestacional deve ser seletivo, isto é, dirigido a gestantes com fatores derisco. Para tanto, é sugerido o emprego da glicemia de jejum a partir da20a semana de gestação. Pontos de corte de 85mg/dl ou 90mg/dl sãosugeridos para classificação de rastreamento positivo, que indica anecessidade de um teste oral de tolerância com 75g de glicose. Esse testedeve ser interpretado de acordo com os critérios sugeridos pela Organi-zação Mundial da Saúde (glicemia de jejum ³126mg/dl ou glicemia de 2h³140mg/dl). São apresentadas também estratégias de manejo metabóli-co e obstétrico do diabetes gestacional e do diabetes pré-gestacional.

Unitermos: diabetes gestacional, diabetes e gravidez, rastreamento,diagnóstico, tratamento

ABSTRACTClinical guidelines for the management of gestational diabetes andpregestational diabetes were prepared by the Diabetes and PregnancyWorking Group, during the XI Brazilian Diabetes Congress, held in 1997.Selective screening of pregnant women based on the presence of riskfactors is advised beginning at the 20th week of gestation, using a fast-ing plasma glucose. Cut points of 85mg/dl or 90mg/dl are used to classi-fy a positive screening. A 75g oral glucose tolerance test is performed ifthe screening test is positive. Diagnostic cut points suggested by theWorld Health Organization are endorsed (fasting plasma glucose³126mg/dl or 2h plasma glucose ³140mg/dl). Endocrine and obstetricmanagement of gestational diabetes as well as a review on pre-gesta-tional diabetes management are also presented.

Keywords: gestational diabetes, diabetes and pregnancy, screening,diagnosis, treatment

DIABETES GESTACIONAL

Conceito

É A INTOLERÂNCIA AOS CARBOIDRATOS, de graus variados de intensidade,diagnosticada pela primeira vez durante a gestação, podendo ou não

persistir após o parto (1, 2).

Fatores de risco• Idade superior a 25 anos• Obesidade ou ganho excessivo de peso na gravidez atual• Deposição central excessiva de gordura corporal• História familiar de diabetes em parentes de 1o grau• Baixa estatura• Crescimento fetal excessivo, polidrâmnio, hipertensão ou pré-eclâmpsia

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na gravidez atual• Antecedentes obstétricos de morte fetal ou neona-

tal, macrossomia ou diabetes gestacional

RastreamentoGestantes que não apresentam qualquer um dosfatores de risco enumerados acima são consideradas debaixo risco, não requerendo procedimentos de rastrea-mento do diabetes gestacional (2).

Nos demais casos, o rastreamento do diabetesgestacional inicia na primeira consulta de pré-natalcom a solicitação de uma glicemia de jejum. O pontode corte pode ser estabelecido em 85 ou 90 mg/dl(3), dependendo das prioridades locais de cada serviçode saúde e dos recursos disponíveis para a detecção etratamento do diabetes gestacional. A adoção do valorde 85mg/dl encaminhará um número maior de ges-tantes à realização do teste diagnóstico, mas, aomesmo tempo, conseguirá detectar um número maiorde casos de diabetes gestacional.

Um resultado inferior a 85 ou 90mg/dl é consi-derado como rastreamento negativo. Todavia, na pre-sença de dois ou mais fatores de risco para diabetesgestacional (vide acima), é recomendável repetir aglicemia de jejum a partir da semana 20 de gestaçãoou, se a medida inicial tiver sido realizada nesse perío-do, um mês após o primeiro teste.

Um resultado maior ou igual a 85 ou 90 mg/dl éconsiderado como rastreamento positivo e indica a

necessidade de um teste diagnóstico. A escolha doteste depende do grau da hiperglicemia de jejum.Glicemias mais altas (110 mg/dl ou mais) requeremconfirmação imediata, o que é feito mais facilmentecom a repetição da glicemia de jejum. Um segundovalor a partir de 110 mg/dl, assegurado o jejum de 8horas, define o diagnóstico de diabetes gestacional (verseção "Diagnóstico", abaixo). Para todos os demaiscasos, o teste diagnóstico é um teste padronizado detolerância com 75g de glicose em 2 horas, solicitadoentre as semanas 24 e 28 de gestação.

O rastreamento com glicose plasmática 1 hora apóssobrecarga com 50g de glicose no momento da con-sulta vem sendo adotado em vários serviços. Aquelesque optarem por manter esse procedimento recomen-da-se empregar o ponto de corte de 140 mg/dl (2).

DiagnósticoO procedimento diagnóstico preconizado pela Organi-zação Mundial da Saúde (1) e, agora, também pela Asso-ciação Americana de Diabetes (4) é o teste de tolerânciacom sobrecarga oral de 75g de glicose. Para minimizar avariabilidade desse teste, ele deve ser aplicado de formapadronizada (vide Quadro 1), de acordo com a norma-lização da Organização Mundial da Saúde, entre 24 e 28semanas de gestação. Se o rastreamento for positivo noprimeiro trimestre, ou a gestante apresentar vários fatoresde risco, o teste diagnóstico é realizado mais precoce-mente, em geral a partir da semana 20.

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Para o diagnóstico do diabetes gestacional, a Orga-nização Mundial da Saúde preconiza o uso das gli-cemias de jejum e de 2 horas, empregando-se os mes-mos pontos de corte sugeridos para fora da gravidez.O ponto de corte para a glicemia de jejum é 126mg/dl; e para a glicemia de duas horas, é o da to-lerancia à glicose alterada fora da gestação - 140mg/dl (1). O IV Workshop de Diabetes Gestacional(4) adota, para a sobrecarga com 75g de glicose ospontos de corte de Carpenter e Constan (jejum: 95mg/dl; 1h: 180 mg/dl; 2h: 155 mg/dl).

Uma categoria intermediária entre normalidade ediabetes para a glicemia de jejum (³110 mg/dl) - aglicemia de jejum alterada - foi recentementerecomendada fora da gravidez (2). O Grupo de Estu-do de Diabetes Gestacional recomenda o diagnósticoda glicemia de jejum alterada na gravidez (glicemia dejejum ³110 mg/dl), por analogia com o diagnósticoda tolerância alterada à glicose (glicemia de 2 horas³140 mg/dl).

Um teste com todos os valores abaixo desses pon-tos de corte descarta o diagnóstico. Se houver umaforte suspeita de diabetes na gestação atual - comocrescimento fetal exagerado ou presença de polidrâm-nio -, pode-se repetir o teste de 75g ao redor da 32a

semana de gestação, ou, a critério do serviço, realizarum perfil glicêmico (glicemia de jejum e 2 horas pós-prandiais).

TratamentoO tratamento inicial consiste de uma dieta para dia-betes que permita ganho adequado de peso de acordocom o estado nutricional da gestante avaliado peloíndice de massa corporal pré-gravídico (Tabela 1).

Para tanto, o valor calórico diário da dieta pode sergenericamente calculado multiplicando-se o coefi-ciente médio de atividade física de 30kcal/kg pelopeso ideal pré-gravídico (Tabela 2) de cada gestante eacrescentando, a partir do segundo trimestre, 300kcal/dia (5). Os adoçantes artificiais não calóricospodem ser utilizados (5,6), evitando-se aqueles à basede sacarina (6).

A atividade física deve fazer parte da estratégia detratamento do diabetes gestacional. Pacientes seden-tárias podem ser orientadas a iniciar um programa decaminhadas regulares e/ou de exercícios de flexão dosbraços. Gestantes que já praticavam exercícios regular-mente podem manter atividades físicas habituais, evi-tando exercícios de alto impacto (7,8).

O controle glicêmico deve ser feito com umaglicemia de jejum e duas pós-prandiais semanais, medi-das em laboratório. A monitorização domiciliar dasglicemias capilares pode ser realizada de 3 a 4 vezespor dia, nas gestantes em uso de insulina, de acordocom as características e disponibilidades de cadaserviço. Avaliar a possibilidade de emprestar gli-cosímetros e fornecer tiras reagentes. A medida da gli-cosúria não é indicada para o controle metabólico nagravidez.

Se após duas semanas de dieta os níveis glicêmicospermanecerem elevados - jejum maior ou igual a 105mg/dl e 2 horas pós-prandiais maior ou igual a 120mg/dl -, recomenda-se iniciar tratamento com insuli-na (9). A dose inicial deve ser em torno de 0,5U/kg,aplicadas em uma ou mais doses diárias (10). Senecessário, associar insulinas de ação intermediária erápida, dando preferência ao emprego de insulinahumana. As necessidades insulínicas tendem a aumen-

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tar progressivamente durante a gravidez, um sinalclínico indireto de funcionamento placentário. Osantidiabéticos orais são contra-indicados.

Para indicar a insulinoterapia, além do grau de con-trole glicêmico, o critério de crescimento fetal tambémpode ser utilizado. Entre 29 e 33 semanas de gestaçãoas pacientes em geral realizam uma ecografia obstétri-ca. Quando a medida da circunferência abdominalfetal for maior ou igual ao percentil 75, o tratamentoinsulínico também está recomendado (11).

Para avaliação de bem-estar fetal recomenda-se quea própria paciente realize a contagem dos movimentosfetais, diariamente, a partir de 36 semanas de gestação.Se a instituição possuir aparelho para monitorizaçãoanteparto (MAP), iniciar os registros semanalmenteapós as 32 semanas nas pacientes em uso de insulina. Aavaliação por meio do perfil biofísico-fetal com ultra-som também está indicado nesse grupo de gestantes,semanalmente, ou mais freqüentemente se necessário.Naquelas controladas apenas com dieta, iniciar a mo-nitorização após as 40 semanas de gestação.

Parto e Pós-partoAs gestantes com ótimo controle metabólico e que nãoapresentem antecedentes obstétricos de morte perinatalou macrossomia, ou complicações associadas, como hi-pertensão, podem aguardar a evolução espontânea para oparto (8,12,13). O diabetes gestacional não é uma indica-ção para cesariana e a via do parto é uma decisão obstétri-ca, sendo necessária a avaliação da permeabilidade dabacia materna e de sua proporção com o tamanho fetal.Em partos com evolução prolongada, cuidadosa reavali-ação das proporções feto-pélvicas deve ser feita no senti-do de se evitar a distocia de ombro (14). Se forem obser-vados sinais de desproporção, deve ser indicada cesariana.

Se for programada a interrupção da gestação antesde 39 semanas, é necessário realizar amniocentese eavaliação da maturidade pulmonar com dosagem defosfatidilglicerol e avaliação da relação entre lecitina eesfmgomielina (15).

No parto programado, a gestante deve permanecerem jejum, a dose diária de insulina suspensa ou admi-

nistrada em um terço de sua dose matinal, e umasolução de glicose a 5 ou 10% deve ser administrada,com controle da glicemia capilar de 4 em 4 horas; senecessário, administrar insulina de ação rápida (regular).

Quando o parto for de início espontâneo e ainsulina diária já tiver sido administrada, recomenda-se a manutenção de um acesso venoso com infusãocontínua de solução de glicose, além da monitoriza-ção da glicemia.

Durante o trabalho de parto, os níveis de glicemiadevem ser mantidos abaixo de 120 mg/dl; monito-rização fetal intra-parto é recomendada; é fundamentala presença de neonatologista na sala de parto.

Pós-partoObservar os níveis de glicemia nos primeiros dias apóso parto. A maior parte das mulheres não mais requer ouso de insulina.

O aleitamento natural deve ser estimulado (16,17),e, caso ocorra hiperglicemia durante esse período, ouso de insulina está indicado.

O estado de regulação da glicose deverá ser reavali-ado a partir de 6 semanas após o parto, empregando-se a glicemia de jejum (2) ou o TTG-75g (1). A clas-sificação do estado de regulação da glicose poderá serfeita de acordo com as categorias diagnósticas indi-cadas na Tabela 3 (1,2).

Nas revisões ginecológicas anuais é fundamentalrevisar as orientações sobre dieta, atividade física econtrole do peso. Incluir a medida da glicemia dejejum nos acompanhamentos anuais.

As recomendações para o planejamento familiardevem ser discutidas amplamente com a paciente para

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escolha do melhor método anticoncepcional. Podemser utilizados métodos de barreira, anticoncepcionaishormonais ou esterilização, quando indicada. Os con-traceptivos orais são largamente utilizados e recomen-da-se avaliar a presença de outros fatores de risco paracomplicações vasculares, como tabagismo e hiperten-são, evitando-se seu uso nesses casos.

REFERÊNCIAS

1. Alberti KGMM, Zimmet PZ for the WHO Consultation.Definition, Diagnosis and Classification of DiabetesMellitus and its Complications. Part 1: Diagnosis andClassification of Diabetes Mellitus. Provisional Reportof a WHO Consultation. Diabetic Medicine 1998;15:539-553.

2. The Expert Committee on the Diagnosis and Classifica-tion of Diabetes Mellitus. Report of the Expert Commit-tee on the Diagnosis and Classification of Diabetes Mel-litus. Diabetes Care 1997;20:1183-1197.

3. Reichelt AJ, Spichler ER, Branchtein L, Nucci LB, FrancoLJ, Schmidt Ml for the Brazilian Study of Gestational Dia-betes (EBDG) Working Group: Fasting plasma glucose isa useful test for the detection of gestational diabetes.Diabetes Care 1998;21:1246-1249.

4. Metzger BE, Coustan DR and the Organizing Commit-tee: Summary and Recommendations of the FourthInternational Workshop-Conference on Gestational Dia-betes Mellitus. Diabetes Care 1998;21(Suppl 2):B161-B167.

5. Franz MJ, Horton ES, Bantle JP, et al: Nutrition Principlesfor the Management of Diabetes and Related Compli-cations. Diabetes Care 1994;17(5):490-518.

6. The American Dietetic Association: Position of The Ame-rican Dietetic Association: Use of nutritive and non-nutri-tive sweeteners. J Am Diet Assn 1998;98:580-587.

7. Bevier Wc, Jovanovic-Peterson L, Peterson CM: Pancre-atic disorders of pregnancy. Diagnosis, management,and outcome of gestational diabetes. EndocrinolMetab Clin N Amer 1995;24:103-138.

8. American College of Obstetricians and Gynecologists:Diabetes and Pregnancy. Technical Bulletin n.200, 1994.

9. Metzger BE and the Organizing Committee: Summaryand Recommendations of the Third International Work-shop-Conference on Gestational Diabetes Mellitus. Dia-betes 1991;40(Suppl 2):197-201.

10. Hadden DR: When and how to start insulin treatment ingestational diabetes. Sessão Meet the Professor. XI Con-gresso Brasileiro de Diabetes, 1997.

11. Buchanan T, Kjos SL, Montoro MN et al: Use of fetal ultra-sound to select metabolic therapy for pregnanciescomplicated by mild gestational diabetes. DiabetesCare 1994;17:275-283.

12. London MB, Gabbe SG: Antepartum fetal surveillancein gestational diabetes mellitus. Diabetes 1985;34(Suppl2):50-54.

13. Coustan DR: Gestational diabetes. Diabetes Care1993;15(Suppl 3):8-15.

14. Keller JD, Lopez-Zeno JA, Dooley SL, Socol ML: Shoulderdistocia and birth trauma in gestational diabetes: a fiveyear experience. Am J Obstet Gynecol 1991;165:928-930.

15. Ojomo EO, Coustan DR: Absence of evidence of pul-monary maturity at amniocentesis in term infants of dia-betic mothers. Am J Obstet Gynecol 1990;163:954-957.

16. Pettitt DJ, Forman MR, Hanson RL, Knowler WC, BennettPH: Breastfeeding and incidence of non-insulin-depen-dent diabetes mellitus in Pima Indians. Lancet1997;350:166-168.

17. Pettitt DJ, Knowler WC: Long-term effects of theintrauterine environment, birth weight, and breast-feed-ing in Pima Indians. Diabetes Care 1998;21(Suppl2):B138-B141.

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DIABETES PRÉ-GESTACIONAL

ConceitoÉ o diabetes diagnosticado previamente - tipo 1, tipo2, ou outros -, complicado pela gravidez.

PlanejamentoO atendimento à mulher com diabetes que desejaengravidar deve ser multiprofissional. Programas deeducação que permitam a integração da paciente coma equipe de saúde, possibilitando o planejamentocuidadoso da gravidez, devem ser implementados.

A anticoncepção deve ser orientada cuidadosa-mente, sendo permitidos os métodos anticon-cepcionais usuais: anticoncepcionais orais, métodos debarreira ou dispositivo intra-uterino, desde que super-visionados pela equipe de saúde. Atenção especial deveser dada ao emprego dos anticoncepcionais orais emmulheres com outros fatores de risco para doença car-diovascular.

A gravidez deve ser planejada para quando o dia-betes estiver bem compensado - hemoglobina gli-cosilada normal. O bom controle metabólico objetivaa prevenção de malformações fetais, especialmentecardíacas, renais e do tubo neural, que ocorrem nasprimeiras semanas de gestação.

O emprego do ácido fólico em gestantes diabéticaspara prevenção de malformações fetais ainda é contro-vertido.

TratamentoO tratamento é feito com prescrição de dieta alimen-tar, segundo orientações descritas acima para o mane-jo do diabetes gestacional e com aumento do aportede nutrientes a partir de segundo trimestre. O uso deadoçantes artificiais não calóricos é permitido. Ativi-dades físicas poderão ser mantidas durante a gravidez,porém com intensidade moderada.

Os antidiabéticos orais não devem ser utilizados nagravidez, sendo recomendado o uso de insulina para ocontrole glicêmico. Deve-se optar por preparaçõespurificadas e, sempre que possível, por insulinashumanas. Em gestantes que já a utilizavam não hánecessidade de troca do tipo de insulina. O uso doanálogo da insulina, Lispro, não está liberado na ges-tação, por falta de informações sobre potenciais efeitosadversos para o feto.

Os esquemas de aplicação da insulina são intensifi-cados, e ao menos duas doses de insulina de ação inter-mediária (NPH ou Lenta) devem ser recomendadas(manhã e noite). Nas gestantes que não usavam insu-lina, a dose inicial pode ser calculada como

0,5U/kg/dia. O emprego de insulinas de ação curta(regular) antes das refeições principais pode ser re-comendado, especialmente se houver a possibilidadede monitorização domiciliar.

A monitorização do controle glicêmico não deveser feita por meio da glicosúria. Perfis glicêmicosdomiciliares com ao menos 3 medidas devem ser rea-lizados, empregando tiras reagentes com ou sem leitu-ra em glicosímetro. Não sendo possível, sugere-se arealização de perfil glicêmico semanal em serviço desaúde - por exemplo, em regime de hospital-dia.

Avaliação e tratamento de complicações crônicasdo diabetes e, em especial, de hipertensão prévia, comou sem toxemia gravídica superimposta, devem serfeitos rotineiramente. O rastreamento de proteinúria(microalbuminúria ou macroproteinúria) realizadoantes de 20 semanas de gestação permite detectardoença renal subjacente prévia. Infecção urinária deveser pesquisada e tratada, mesmo se assintomática.

Na gestante hipertensa, drogas como metildopa oubloqueadores dos canais de cálcio podem ser uti-lizadas. Se necessário, o emprego de betabloqueadoresdeve se restringir aos agentes cárdio-seletivos. Osinibidores da enzima conversora da angiotensina estãocontra-indicados.

A avaliação do bem-estar fetal deve ser feita deacordo com protocolos locais. Durante a realização daecografia obstétrica, deve-se incluir o exame das cavi-dades cardíacas fetais sempre que possível.

Parto e pós-partoA conduta no planejamento e no dia do parto é seme-lhante à adotada para as mulheres com diabetes gesta-cional.

Nos primeiros dias após o parto, a necessidade deinsulina diminui, devendo ser administrado um terço dadose usual pré-gravídica. A partir daí, deve-se readaptara dose de acordo com os controles glicêmicos.

REFERÊNCIAS

1. American Diabetes Association. Medical Managementof Pregnancy Complicated by Diabetes. Clinical Educa-tion Series. 2nd ed. American Diabetes Association, Inc,1995.

2. American Diabetes Association. Preconception Care ofWomen with Diabetes. Clinical Practice Recommenda-tions 1998. Diabetes Care 1998;21(Suppl 1):S56-S59.

3. Healy K, Jovanovic-Peterson L, Peterson CM. PancreaticDisorders of Pregnancy - Pregestacional Diabetes.Endocrinol Metab Clin N Amer 1995;24:103-138.

4. American College of Obstetricians and Gynecologists:Diabetes and Pregnancy. Technical Bulletin n.200, 1994.

5. Diabetes Complicating Pregnancy. The Joslin ClinicMethod. Brown FM, Hare JW, editors. 2nd ed. New York:Wiley-Liss, 1995.

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Esse consenso é resultado da 1a. Reunião doGrupo de Trabalho em Diabetes e Gravidez, queocorreu durante o XI Congresso Brasileiro de Dia-betes, em 1997.

GRUPO DE TRABALHO

Maria I. Schmidt* (Coordenadora)Angela J. Reichelt* (Vice-coordenadora)Antônio C. LerárioAntônio R. ChacraDéa Gaio*Eni F. PessoaEthel R. Spichler*Ingeborg LaunJudith PousadaLaércio J. FrancoLaurenice P. LimaLeandro Branchtein*Lúcia lochidaLuiz C. Seligman*Margareth TeixeiraMaria C. Matos*Maria C. T. CostaMaria M. BrittoMarilza Rudge*

Rosângela RéaTsuyoshi Yamashita

* Equipe de redação

Representante do Ministério da SaúdeJanine Schirmer

Convidados internacionaisBoyd MetzgerJohn HarePatrick CatalanoThomas Buchanan

APOIOS RECEBIDOS

Essa atividade foi apoiada pela Sociedade Brasileirade Diabetes e pela Federação Brasileira de Gine-cologia e Obstetrícia e recebeu financiamentos par-ciais do Ministério da Saúde, do Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, da Fundação deAmparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul(FAPERGS), da Fundação Bristol Myers Squibb eda Becton-Dickinson do Brasil.


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