Download - Comunicação e Oratória
Graduação a Distância
Teologia
COMUNICAÇÃO E ORATÓRIA
Professor Dr. José Roberto Cristofani
Apresentação do docente
Queridos Participantes!
Sou o professor José Roberto Cristofani. Pastor Presbiteriano hávinte e cinco anos e tenho Doutorado em Antigo Testamentopela Escola Superior de Teologia (EST/UFRGS). Gosto delecionar Antigo Testamento e as disciplinas a ele relacionadas.Fiz um curso de Pós-Graduação em “Informática na Educação –EAD” na Universidade Estadual de Londrina, e me apaixoneipor tecnologia educacional, tanto que desenvolvo uma “Cartilhade Alfabetização em Hebraico Bíblico”, com muitos recursosmultimídia, no meu programa de Pós-Doutorado em LinguísticaAplicada pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Espero que vocês também se apaixonem pelo Antigo Testamento e pelo Ensino a Distância. Estareisempre à disposição de vocês.
Um forte abraço!Com carinhoPastor Cristofani
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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Introdução
Queridos,
Gostaria de iniciar nosso curso com uma reflexão acerca da Pregação. O texto abaixo
é uma carta enviada ao periódico “Heartcry Journal” de autoria de alguém que subscreve
apenas com o nome de Kenny.
O texto, intitulado “Uma Súplica aos Pastores”, revela um problema que afeta a
Pregação em muitos lugares hoje e a preocupação de quem ouve a Pregação.
Prezados Pastores e Pregadores,
Recentemente, ouvi um pastor (não da minha igreja) pregar um sermão sem vida,
sem paixão, sem objetivo, destituído de poder ou fogo. Quando me refiro a fogo, não estou
falando a respeito de pregações animadas, que incitam a audiência a imitar aulas de exercícios
aeróbicos. (Conheci Vance Havner, por exemplo, um grande pregador que falava com poder,
paixão e fogo, embora sua voz fosse monótona e seu estilo de pregação bem estático.) Mas
a mensagem que ouvi esse dia foi uma perda de tempo para mim, o que me levou a expressar
os seguintes pensamentos aos pregadores em geral:
Nós, o povo de Deus, temos sede e temos fome. Estamos machucados e precisamos
de ajuda. Precisamos do fogo de Deus e precisamos do poder de Deus. E, para isso,
precisamos de você, pregador. Você tem um chamado especial na sua vida e Deus o escolheu
para ser a voz dele.
Porém, não precisamos de mais pregações “engraçadinhas” ou engenhosas, por
mais que ilustrações e eloqüência possam ser eficazes na comunicação de uma mensagem.
Não precisamos de pregações didáticas, com três pontos, seis subdivisões e uma história
comovente no final, embora todas essas coisas possam ajudar a transmitir uma idéia. Não
precisamos de mais piadas e brincadeiras inúteis para entreter-nos durante os cultos. Não
precisamos que você constantemente faça referência a si mesmo enquanto prega. E não
precisamos ouvir mais pregações de segunda mão, encontradas na Internet ou em algum
livro adquirido numa feira promocional.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Precisamos é de pregadores que tenham o fogo de Deus. Precisamos é de pregadores
que tenham o poder de Deus. Precisamos é de pregadores que tenham paixão pelas mensagens
que proclamam. Precisamos é de pregadores que nos alimentem da Palavra escrita de Deus
e que depois nos apontem para o Verbo vivo de Deus. Precisamos é de pregadores que
sejam consumidos pelo fogo do céu para que nós também sejamos consumidos por Deus.
Precisamos é de pregadores que sejam inflamados por sua paixão pela Palavra de Deus.
Por favor, ajudem-nos, pregadores! Sabemos que temos uma responsabilidade
pessoal por nosso próprio caminhar com Deus. Mas precisamos de ajuda. Somos fracos,
somos frágeis, somos esquecidos. Precisamos ouvir do céu. Não precisamos ouvir sobre
pescarias ou viagens turísticas nas pregações. Não precisamos ouvir sobre festas ou
confraternizações na igreja. Não precisamos ouvir sobre nosso time favorito de futebol.
Não precisamos ouvir sobre suas realizações, premiações ou qualificações profissionais.
O que precisamos ouvir é que você foi autorizado por Deus para proclamar a palavra da
vida para nós.
Estamos desfalecendo aqui nos bancos da igreja, desfalecendo porque há pouca ou
nenhuma visão de Deus na maioria dos púlpitos. Estamos cansados de ouvir o texto de
Provérbios 29.18 (“Não havendo profecia [ou visão] o povo se corrompe [ou dispersa]”)
interpretado erroneamente como uma exortação a planejamento de longo prazo. Nós, o povo,
estamos perecendo porque não há visão de Deus.
Levantem-se! Tomem sua posição! Não aceitem mediocridade! Não aceitem algo
inferior! Busquem tudo que puderem de Deus, transmitam-no para nós e depois voltem para
buscar mais. Persigam a Deus com paixão. Não subam ao púlpito enquanto não tiverem uma
mensagem da parte dele para nos transmitir. Não preguem enquanto não souberem que estão
bem com Deus. Não subam ao púlpito enquanto não tiverem convicção de que foram ungidos
por Deus e que têm o fogo de Deus.
Com sinceridade,
Kenny
PS: Dizem que onde há fumaça, há fogo. Infelizmente, porém, a fumaça também
pode ser um indício de que o fogo que outrora ardia já se apagou.1
Ouçamos Kenny e façamos deste curso uma oportunidade de aprendizagem e
aprofundamento naquilo que Karl Barth denomina de “terceira forma da Palavra de Deus = a
Pregação”
1 http://www.revistaimpacto.com.br/arauto/ler_mat.php?idmat=160. Publicado originalmente no periódico “Heartcry Journal”, edição33, 2005. Mais informações sobre essa publicação: www.LifeAction.org
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Aula 01
HOMILÉTICA - DEFINIÇÕESE CONCEITUAÇÃO
A preparação da pregação deve ser o dever primordial do pastor.
Karl Barth
A Homilética é ciência e pode ser considerada sob diversos pontos de vista: históricos,
psicológicos e sociais. Pode-se dizer que é Arte quando considerada nos seus aspectos
estéticos, a beleza do conteúdo e da forma, organização, criatividade e imaginação no sermão.
Considerada Técnica quando utiliza as técnicas de oratória e retórica. Designada Edificação
quando focada em sua função espiritual, ou seja, adoração, poder, transformações,
manifestações espirituais, etc.
Homilética é a arte de preparar e pregar sermões, sendo a transliteração do grego
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“homileu” com o sentido básico de “conversar com”. Como aparece em alguns textos do
Novo Testamento:
E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. (Lucas 24.14)
Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper
da alva. E, assim, partiu. (Atos 20.11)
[..] esperando também, ao mesmo tempo, que Paulo lhe desse dinheiro; pelo que,
chamando-o mais freqüentemente, conversava com ele. (Atos 24.26)
Em 1 Coríntios 15.33 o Apóstolo Paulo utiliza a palavra derivada “homilia” para se
referir à associação (= companhia) que deve ser evitada:
Não vos enganeis: as más conversações [homilia = companhia] corrompem os bons
costumes.
Esse sentido de “homilia” alarga a compreensão de “homilética”, que podemos dizer
seria: “conversar em companhia de várias pessoas”.
No dicionário encontramos a seguinte definição de “Homilia”:
Prática que instrui os fiéis sobre a religião, principalmente com respeito aos Evangelhos:
as homilias dos Padres da Igreja.
As seguintes definições podem ajudar a esclarecer a natureza, a função e os objetivos
da Homilética, que aqui é tomada como extensão e sinônimo de Pregação.
É a apresentação da verdade através da personalidade; é a comunicação da verdade
aos homens mediante o homem. (Phillips Brooks)
É a proclamação da graça de Deus, sob a autoridade do trono de Deus, visando
atender as necessidades humanas. (G. Campbell Morgan)
É a verdade de Deus apresentada por uma personalidade escolhida, para ir ao
encontro das necessidades humanas. (Andrew W. Blackwood)
Essas três primeiras opiniões sobre a Homilética (= Pregação) ressaltam, cada uma
a seu modo, a mediação da Palavra de Deus por um agente humano especialmente escolhido
para isso, ou seja o “Pregador”, a “Pregadora”.
É uma manifestação do Verbo Encarnado desde o Verbo escrito e por meio do verbo
falado. (Bernard Manning)
É a proclamação pública da verdade divina baseada nas Escrituras, por uma
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personalidade escolhida, com o propósito de satisfazer às necessidades humanas.
(Jesse C. Northcutt)
As duas citações acima destacam o conteúdo da Pregação, isto é, as Escrituras –
base sobre a qual cada pessoa responsável por proclamar o Evangelho deve usar.
Já as duas próximas referências englobam a natureza mesma da Pregação, sua tarefa,
seus objetivos e, sobretudo, seu motivador: o Espírito Santo.
A pregação expositiva é a comunicação de um conceito bíblico, derivado de e
transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem
no seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e
experiência do pregador e depois, através dele, aos seus ouvintes. (Haddon W.
Robinson)
É a fiel exposição do sentido correto de um ou mais textos da Bíblia, ilustrando a
exposição e aplicando-a à vida dos ouvintes, envolvendo-os de tal maneira que são
satisfeitas as suas necessidades, sendo que esta comunicação é feita por uma pessoa
com experiência real com Cristo e guiada pelo Espírito Santo. (Jerry Key)
É necessário ter em mente que Homilética e Pregação são interdependentes, se
justapõem, mas são distintas em certos aspectos.
A Homilética tem como fim auxiliar a pessoa na confecção de sermões para uma
pregação mais eficiente, que beneficie a ambos, Pregador e audiência.
Assim, a Homilética ajuda a construir discursos religiosos com ordem, com exposição
clara de idéias e com um sentido lógico e certo.
Lembre-se das palavras de John F. MacArthur:
Não é a engenhosidade de nossos métodos, nem as técnicas de nosso ministério, nem
a perspicácia de nossos sermões que trazem poder ao nosso testemunho. É a obediência
a um Deus santo e a fidelidade ao seu justo padrão em nosso viver diário.
O Sermão, definido como: Discurso sobre tema religioso pregado do púlpito, em
que o pregador proclama as verdades cristãs; prática, prédica. Admoestação com o fim de
moralizar. Censura enfadonha, repreensão, é o resultado final da preparação da pessoa que
irá pregar.
O Professor Dr. Jean Lauand1 destaca a função educadora do Sermão e o valor
pedagógico da memória na pregação. Em suas palavras:
Atualmente, a palavra “sermão” já se pode entender simplesmente como um
“arrazoado longo e enfadonho com que se procura convencer alguém”. Nosso tempo,
mais voltado para o visual, para os “efeitos especiais”, para o imediato, e menos
1 Jean Lauand (org.) Cultura e Educação na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 1998.
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propenso ao ouvir e à reflexão, mal pode imaginar o que representavam para o povo
os sermões de pregadores geniais como Agostinho, Crisóstomo, Bernardo, Tomás de
Aquino e outros grandes mestres antigos e medievais.[...] O principal interesse do
bispo de Hipona era pastoral e não retórico, embora, precisamente por isso,
apresentasse discursos de inesquecível beleza. Voltava-se para o homem comum,
apoiando-se - aliás, como fazia todo o educador da época - na sensibilidade e na
memória de seus ouvintes. Ao contrário da pedagogia atual, que não valoriza e até
chega a desprezar a memória, Agostinho e todos os grandes medievais sabiam
reconhecê-la como o tesouro por excelência, como um precioso dom de Deus. A
memória, muito mais do que a mera faculdade natural de “lembrar-se” ou o exercício
de habilidades mnemônicas, era vista como a base de todo o relacionamento humano
com a realidade. “A memória é, para S. Agostinho, a primeira realidade do espírito,
a partir da qual se originam o pensar e o querer; e assim constitui uma imagem de
Deus Pai, de quem procedem o Verbo e o Espírito Santo”.
Doutra maneira, pode-se dizer que a eficácia da palavra depende do pregador
(persuadindo), do ouvinte (entendendo) e de Deus (alumiando com sua Graça). É o pregador
quem falha quando o ouvinte não entende. E a maior falha está em pregar uma coisa e praticar
outra. Deduz-se, então, que a eficácia da comunicação, no sermão, não é apenas uma questão
de argumentação teórica, mas de coerência entre o que se prega e o que se pratica. Corre-
se o risco de confundir o rebanho, mais do que esclarecê-lo e orientá-lo, aquele que prega
sem fé, sem estudo, sem profundidade.
ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 02
TIPOLOGIA DE SERMÕES
Qualquer que seja o seu método, o homem prudente começará com alguma
necessidade humana e tentará ir ao encontro dela com a verdade divina.
A. W. Blackwood
A classificação dos sermões em tipos pode variar de acordo com a sua estrutura,
variar conforme os objetivos a serem alcançados e variar consoante à percepção ou opinião
de cada autor.
A forma clássica de classificar os sermões segue, invariavelmente, o critério
do uso que se faz da Escritura, ou seja, do modo como a pessoa que vai pregar lida
com o texto bíblico.
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Assim, essa classificação tem três tipos de sermões:
SERMÃO TÓPICO OU TEMÁTICO
A característica fundamental desse tipo é tratar sobre um determinado tópico ou
assunto que derive de um texto bíblico, mas do qual as divisões não se encontram no texto.
O tema é extraído de um texto e as divisões de outros. Assim, a sua idéia central é decorrente
do texto lido; no entanto, a argumentação é buscada em outros textos bíblicos.
Há autores que indicam as seguintes vantagens desse tipo de sermão:
a) Possibilita o aperfeiçoamento da retórica. É o sermão típico dos grandes oradores;
b) É fácil de elaborar, porque a unidade é construída conforme o desejo do pregador;
c) Possibilita que se aprofunde um assunto tratando-o de forma completa;
e) Permite a discussão de qualquer assunto, pois as idéias vêm de fora do texto.
Todavia, o mesmo tipo de sermão apresenta algumas “armadilhas” que devem ser
evitadas pela pessoa que vai utilizá-lo. Por exemplo, a pessoa pode:
a) ... negligenciar a exegese da palavra de Deus não aplicando-a;
b) ... atrair a atenção para si mesma, pois é a inteligência, argumentação e oratória
que está em primeiro lugar;
c) ... tratar do tema de forma pessoal, esquecendo-se do ponto de vista bíblico.
Para evitar essas armadilhas a pessoa pode seguir as seguintes dicas:
a) Tratar de um tema claro, específico e expressivo;
b) Organizar os argumentos de maneira lógica e progressiva;
c) Esquematizar as divisões em uma das seguintes maneiras: explanação, prova,
argumentação, aplicação.
Exemplo1 de Sermão Temático
Que acreditam nas flores vencendo os canhões
Cântico dos Cânticos 8.6-7
“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, Porque o
amor é forte como a morte, E inexorável como o Sheol à paixão, Sua chama é chama de fogo
1 Todos os sermões aqui transcritos são de minha autoria, salvo indicação em contrário.
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Veementes labaredas de Javé As muitas águas não poderiam apagar o amor, Nem os rios
afogá-lo; Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo
desprezado”
“que acreditam nas flores vencendo os canhões.”
Este verso faz parte da bem conhecida canção de Geraldo Vandré – “Prá não dizer
que não falei de flores”. Canção de protesto e de luta. Uma canção de resistência.
Flores e canhões.
Flores são a maneira silenciosa e carinhosa de expressar o amor. Os canhões, por
sua parte, o poder.
Queremos meditar brevemente sobre o tema: Amor e Poder.
Amor entendido como sendo mais que um sentimento. Uma relação. Relação de
dois iguais, mulher e homem, garoto e garota.
Poder compreendido, não como uma dominação aberta, declarada, porém,
sutil, velada.
E isso no livro de Cantares.
Nele entramos pela porta dos fundos, como quer o verso 7b
“Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo
desprezado”
Esse aforismo é a janela na qual debruçaremos para olhar essa coleção de poemas.
Esse dito é meditação de sábio que redatou o livro de maneira a construir uma instrução
sobre o amor enquanto relação.
Tal instrução quer mostrar a beleza exultante do amor entre homem e mulher e o
poder que ameaça de contínuo essa relação.
O amor é descrito de forma poética, romântica, terna. É um exagero que não pode
ser expresso nem com “mil rosas roubadas”. É a convivência apaixonada da mulher com o
homem, do garoto com a garota.
“Eu sou para meu amado e seu ardente desejo o traz a mim. Vem, ó meu amado,
saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos cedo de manhã para ir às
vinhas; vejamos se já florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; dar-te-
ei ali meu amor.” 7.11-13
Numa paisagem bucólica e afrodisíaca, o encantamento mútuo destila toda emoção,
prazer e sensualidade que pode existir num leito à relva, na penumbra dum quarto.
A paixão da relação chega às raias dos sonhos, devaneios:
“sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, pois desfaleço de amor.” 2.5
A imaginação rompe as barreiras do impossível, atravessa os vales do insondável e
vai repousar sobre o corpo da amada, do amado.
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É a linguagem do amor. Amor criado com carinho, alimentado com paixão. É o amor
conquistado com palavras doces e suaves, mágicas, buquê de flores, gestos amenos.
Poesia e sedução, alegria e emoção. Que rio pode afogá-lo? Que águas apagá-lo?
Entretanto, à espreita está o poder, a dominação sutil e cotidiana.
O sábio sabe da ameaça e procura divisá-la. E o faz tomando Salomão como figura
idealizada daqueles que exercem o poder como determinante das relações.
“Cântico dos Cânticos sobre Salomão.” 1.1a
Os Cânticos não são de Salomão, nem para ele, senão sobre Salomão, isto é, o
cantar dos Cantares é uma veemente crítica ao modo como “Salomão” trata o amor, como
“ele” age numa relação a dois.
“O rei me introduziu nas suas recâmaras.” 1.4b
O ato de introduzir requer uma certa imposição. A moça foi levada à força para os
aposentos do rei, que depois de possuí-la, lança-a no harém, lugar de esquecimento aonde
vão as mulheres não amadas, compradas, exigidas como tributo, exibidas como troféu.
“Sessenta são as rainhas, oitenta as concubinas e as virgens sem número.” 6.8
Tal é o harém!
“Que é isso que sobe pelo deserto ... É a liteira de Salomão; sessenta valentes estão
ao redor dela ... Todos sabem manejar a espada. O rei fez para si um palanquim de madeira
do Líbano ... colunas de prata, assento de púrpura e tudo interiormente ornado com amor
pelas filhas de Jerusalém.” 3.6-10
O tirano não sabe amar, ter uma relação de diferentes-iguais. Empreende um desfilar
de seus dotes e bens, de sua bem equipada e treinada guarda pessoal. Exibe seu poder, sua
sedução está na força. Tudo pelo amor. Inútil! Tais lisonjas não se coadunam com a
expectativa da outra pessoa que quer se deixar conquistar, seduzir, não ser conquistada,
seduzida à força.
A estratégia não sensibiliza a moça, antes, causa uma resistência:
“O meu amado é meu e eu sou dele ...” 2.16a
A resistência vem em forma de amor. É amando espontânea, sincera e
verdadeiramente que se faz resistência ao poder e brutalidade da tirania sutil que assalta toda
relação a dois. A ela se responde com um amor suave e delicado, forte como a morte.
O mais sublime dos Cânticos é uma canção de resistência, como o é a canção de
Vandré. Resistência ao poder sorrateiro que quer impor uma relação e impor-se na relação.
Contra tal:
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“há que endurecer, porém sem perder a ternura.” (Chê)
O perfume exalado de uma relação de diferentes-iguais estão nas flores às vossas
mãos. Às mãos daqueles que:
”acreditam nas flores vencendo os canhões”
SERMÃO TEXTUAL
Este tipo versa sobre um determinado texto bíblico tirando dele suas divisões para a
exposição, mas não “expõe” o texto bíblico em si.
Desse modo, as divisões podem ser as palavras do próprio texto ou o sentido das
palavras do texto em termos diferentes. O tema e as divisões estão no texto ou são derivados
dele. Nesse caso, o texto utilizado é pequeno, não devendo ultrapassar 4 versículos. Aqui, o
texto é que controla todos os pontos a serem tratados no sermão.
A vantagem desse tipo de sermão é que possibilita aos ouvintes a oportunidade
de acompanhar, passo a passo, a exposição do sermão.
Exemplo de Sermão Textual
Desafio para fazer teologia
Daniel 12.1-4
1 Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu
povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele
tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no
livro. 2 Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e
outros para vergonha e horror eterno. 3 Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o
fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e
eternamente. 4 Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim;
muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.
Introdução
Tornou-se lugar comum, nos dias de hoje, fazer distinção entre o labor “Teológico”
e a tarefa “Pastoral“. Estabeleceu-se, sem nenhuma razão, uma dicotomia entre a tarefa de
elaborar teologia e o trabalho pastoral. A primeira, atribui-se aos “teólogos”, isto é, aos
professores dos Seminários e aos Doutores da Igreja. A segunda, delega-se aos “pastores”,
ou seja, aos que labutam na Igreja local.
Com uma aura de verdade tal dicotomia é reforçada pelo discurso de todos aqueles
que, por motivos variados, insistem em que haja tal separação entre trabalho pastoral e
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produção teológica. Discurso que, consciente ou não, encobre, muitas vezes, uma teologia
inconsistente, pois que a pregação, os estudos bíblicos, o aconselhamento são “teologia”
formulada por quem está na lida pastoral. Pena que o mais das vezes uma má teologia.
Por isso o desafio de se “fazer teologia”. Contudo, uma teologia que tenha três
elementos, ao que parece, fundamentais:
Primeiro, uma teologia engajada. Segundo, uma teologia fundamentada na tradição
bíblica. Terceiro, uma teologia relevante para as necessidades do povo.
I. Uma teologia engajada
O texto de Daniel 12.1-4 é a conclusão da grande visão iniciada no capítulo 10. Tal
capítulo narra em forma de “profecia ex eventu” a situação de perseguição de parte do povo
judeu por Antíoco IV. Este rei destrói o santuário,abole a circuncisão, os dias festivos e
tortura e mata as pessoas que permanecem fiéis à Aliança de Javé.
O texto em tela trata da ressurreição dos “muitos” (não de todos) dos fiéis e dos
infiéis e mostra a sorte que cabe a cada grupo.
A formulação desta doutrina da ressurreição é resposta ao sofrimento e morte dos
fiéis que não podem aceitar que Javé os tenha abandonado. É um grito de esperança e
resistência contra o opressor.
Na perícope em pauta (v.3), são mencionados os Maskilim (entendidos) que,
conforme 11.33,são os responsáveis por ensinar o povo, nutrindo a confiança em Javé, como
pastores às suas ovelhas.
Não há dúvida de que foram esses Maskilim que formularam a teologia da ressurreição
que aqui encontramos. E como formularam?
Primeiro, de uma maneira engajada, isto é, eles estavam participando da luta de sua
comunidade, seu grupo. Não eram meros espectadores, porém ativos lutadores.
II. Uma teologia bíblica
Segundo, de uma maneira bíblica, pois para formularem a teologia da ressurreição
foram beber de fontes bíblicas (Isaías 26.19 - menção da ressurreição), em mananciais de
firme tradição (Ezequiel 37.1-14 - vale dos ossos secos). Não estavam elaborando algo
totalmente novo, porque enraizado na tradição bíblica. Mas, nem por isso, apenas repetiam
a tradição, porquanto avançaram em relação a ela, formando um elo que ligaria essa teologia
à teologia da ressurreição em o Novo Testamento.
III. Uma teologia relevante
Terceiro, de maneira relevante, ou seja, estavam respondendo às necessidades do
momento, daquela comunidade específica. Estavam oferecendo respostas, saídas, referenciais,
sentido, enfim, aos questionamentos daquele grupo.
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Conclusão
Por isso, o desafio de fazer teologia é o desafio de romper com a dicotomia entre
trabalho pastoral e labor teológico. E todos somos responsáveis por isso; nós alunos, nós
professores, nós pastores, pois um(a) pastor(a) é um(a) teólogo(a) e um(a) teólogo(a) é
um(a) pastor(a).
Quem assim não se considerar não merece o título de pastor nem de teólogo.
Portanto, assumamos o desafio de “fazer teologia”. Todavia, uma teologia que tenha
três elementos fundamentais: que seja engajada, fundamentada na tradição bíblica e relevante
para as necessidades do povo.
SERMÃO EXPOSITIVO
Como o próprio título sugere, o sermão expositivo desenvolve seu assunto na
exposição de um determinado texto bíblico, tendo suas divisões e argumentos nele
baseados. Em uma palavra: Sermão expositivo consiste na explicação ou explanação de
um trecho das escrituras.
Basicamente o que o distingue do sermão textual é a extensão do texto bíblico
utilizado. Alguns pregadores pensam que pregar expositivamente significa comentar todo o
texto lido, como se estivesse fazendo um comentário bíblico, catalogando fatos, versículo
após versículo.
As vantagens desse tipo são muitas, por exemplo:
a) É fácil de manter o foco no assunto tratado, pois o texto é o “guia” do Pregador
naquele assunto;
b) Exige estudo sério da palavra de Deus, é necessária a exegese do texto;
c) Permite realizar uma série completa sobre determinados textos bíblicos;
d) É necessário determinar o texto. O texto precede o sermão. Diferença de um
sermão temático e um expositivo, nesse sentido.
Exemplo de Sermão Expositivo
Pequenas Línguas, Grandes Estragos
Tiago 3.1-18
3:1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de
receber maior juízo. 2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça
no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo. 3 Ora, se pomos freio na
boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro. 4 Observai,
igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro. 5 Assim, também a língua, pequeno
órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!
6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de
nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência
humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. 7 Pois toda espécie de
feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero
humano; 8 a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado
de veneno mortífero. 9 Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela,
amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. 10 De uma só boca procede bênção
e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. 11 Acaso, pode a
fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? 12 Acaso, meus irmãos, pode
a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar
água doce. 13 Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria,
mediante condigno proceder, as suas obras. 14 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração
inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.
15 Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. 16
Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. 17
A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável,
plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. 18 Ora, é em paz que se
semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.
Introdução
Todos conhecemos o programa “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”. Este
slogan inspirou a IPIB a criar o projeto denominado “Pequenas Igrejas, Grandes Ministérios”.
Quem lê o versículo 5 do texto proposto, não pode deixar de lembrar tanto do programa da
TV, quanto o projeto da IPIB. Assim, propomos o tema: Pequenas Línguas, Grandes
Estragos.
O trecho inicia com uma exortação àqueles que almejam ser Mestres (dida,
skaloi- v.1) na comunidade destinatária da carta, advertindo-os que serão alvos de mais
rigoroso juízo.
I. Perfeito em proclamar a Palavra da verdade (vv.2-8)
O verso 2 diz que quem não tropeça na “Palavra” (evn lo,gw|), isto é, na Palavra da
verdade (cf. 1.18,21,22 e 23) é capaz de refrear todo o corpo. Seguem-se duas ilustrações
disso: Primeira, o cavalo tem freios (v.3). Segunda, os navios têm lemes (v.4). Em ambos os
casos o que está em vista é a pequenez do freio e do leme que são responsáveis pela condução
do corpo do cavalo e do navio, respectivamente. Assim é a língua, pequena e se gaba de
grandes feitos (v.5a). Duas outras comparações são propostas: A da fagulha que põe em
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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chamas toda a floresta e a dos animais que são domados (vv. 5b-8). Assim, no primeiro
caso, a língua é vista como um fogo abrasador que põe em chamas toda a existência humana.
Já no segundo caso, a língua é vista como indomável, pois nenhum homem a conseguiu domar.
Dessa forma, a fala do “mestre” é capaz de dirigir todo o corpo da Igreja, visto estar
colocada no meio da congregação. Portanto, cabe ao que almeja este encargo ser perfeito
no uso da palavra.
II. A palavra de benção e de maldição (vv. 9-12)
A narrativa prossegue mostrando que com a língua é possível bendizer ao Senhor
e maldizer aos homens feitos à imagem de Deus, isto é, dela procede “benção” e “maldição”
(vv.9-10). A exortação do apóstolo é que isso não deve ser assim, e ilustra com duas
figuras: A fonte, que não pode jorrar água doce e amarga e as árvores, que produzem
conforme sua espécie.
A palavra de “maldição” provém de um coração invejoso e amargurado, cheio de
sentimento faccioso (v.14). Onde há esses sentimentos, aí há confusão e toda espécie de
coisas ruins (v.16). E isso é o grande estrago que a pequena língua pode causar, pois ela é
um “mundo de iniqüidade” (v.6), “um mal incontido, carregado de veneno mortífero” (v.8).
III. A sabedoria do alto torna o mestre perfeito (vv. 13-18)
Diante do quadro tão sombrio esboçado acima, qual é a saída para que os
proclamadores da Palavra possam ser perfeitos?
A resposta a essa pergunta encontra-se nos versículos 13 e 17. No v.13 os
“mestres” são exortados a mostrar a sabedoria mediante o condigno proceder. Já o capítulo
1.5-8 havia mostrado como conseguir a sabedoria. Aqui é o exercício da mesma que
está em questão.
No trecho, a sabedoria do “alto” (v.17) é contraposta à sabedoria que “não desce lá
do alto” (v. 15), pois esta é terrena, animal e demoníaca, enquanto aquela é pura, pacífica,
indulgente, tratável, cheia de misericórdia e bons frutos, imparcial e sem fingimento.
Portanto, os mestres devem buscar a sabedoria que vem do alto, e não a que procede
de seu próprio coração.
Conclusão
Aqui no Seminário há muitos de nós que desejamos ser mestres na Igreja de Cristo,
proclamadores da Palavra de Deus para os irmãos e irmãs. É necessário lembrar, porém, da
exortação do apóstolo Tiago de que o juízo será muito mais severo para nós que temos a
responsabilidade de guiar o Corpo de Cristo.
Assim, tenhamos isso em mente e nos esforcemos por vigiar nosso falar de tal maneira
que nossa pequena língua não faça grandes estragos.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Outras possibilidades de classificar os sermões podem ser apresentadas. Mas uma,
porém, é o suficiente: Classificação conforme os objetivos gerais do sermão, conforme Crane.
(El sermon eficaz pg. 57-75):
1. Sermão evangelístico
Sua finalidade é persuadir os perdidos a aceitarem Jesus Cristo como Senhor e
Salvador. Infelizmente, os sermões evangelísticos são, hoje, repletos de frases feitas: “Deus
te ama”, “Você pode morrer esta noite”, “Vem agora”, etc.
2. O sermão doutrinário
Sua finalidade é instruir os crentes sobre as grandes verdades da fé e como aplicá-
las, portanto, é didático. O dom de ensino era muito difundido no cristianismo nascente.
Jesus era intitulado de “Mestre” e os seus seguidores de “discípulos”.
3. O sermão devocional
Sua finalidade é desenvolver nos crentes um sentimento de amorosa devoção para
com Deus, despertando sentimento de louvor.
4. O sermão de consagração
Sua finalidade é estimular os crentes a dedicarem talentos, tempo, bens, influência,
vida, etc, ao serviço de Deus. Estimula a igreja para vocação, abertura de novos trabalhos,
ofertas missionárias, etc.
5. O sermão ético ou moral
Sua finalidade é orientar os crentes para pautarem suas condutas diárias e relações
sociais de acordo com os princípios cristãos. Assuntos que cabem aqui: Matrimônio, adultério,
divórcio, justiça social, racismo, dignidade da pessoa.
6. O sermão de alento (ou pastoral)
Sua finalidade é fortalecer e alertar os crentes no meio de crises pessoais ou
comunitárias. Focalizam o cuidado de Deus para com o seu povo e o livramento que o
Senhor opera.
Além dos tipos apresentados acima, qualquer pessoa pode desenvolver seu próprio
método de pregação. Abaixo um exemplo de um método que eu mesmo criei que chamo de
“Literário-Narrativo”, isto é, mesclo a exposição do texto bíblico com uma “pitada” intuição
espiritual e muita, muita imaginação.
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Exemplo de Sermão Literário-Narrativo
A história de nossa marca! (Gênesis 4:1-16)
1. Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim;
então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR. 2. Depois, deu à luz a Abel, seu
irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. 3. Aconteceu que no fim de uns tempos
trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. 4. Abel, por sua vez, trouxe das
primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua
oferta; 5. ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira,
Caim, e descaiu-lhe o semblante. 6. Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e
por que descaiu o teu semblante? 7. Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se,
todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti
cumpre dominá-lo. 8. Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no
campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou. 9. Disse o SENHOR
a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu
irmão? 10. E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim.
11. És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos
o sangue de teu irmão. 12. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo
e errante pela terra. 13. Então, disse Caim ao SENHOR: É tamanho o meu castigo, que já
não posso suportá-lo. 14. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de
esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará. 15.
O SENHOR, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E
pôs o SENHOR um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o
encontrasse. 16. Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao
oriente do Éden.
Muito prazer: Meu nome é CAIM!
Peço licença para contar minha história. Na verdade a história desta marca que
trago em meu corpo. Peço quinze minutos da sua amável atenção.
Meu nome é Caim mesmo. Sou filho de Adão e Eva e tinha um irmão de nome Abel.
Mas uma desgraça se abateu sobre nossa família.
Hoje, debaixo desta árvore, protegido pelo céu, contemplando o rebanho que
pasta tranqüilamente nesta campina, ainda continuo meditando nas lembranças que esta
marca em minha mão, feito tatuagem, evoca, lembranças da tragédia que mudou
completamente nossas vidas.
Papai já havia saído do Éden e, junto com mamãe, se estabeleceram numa região na
qual podia, não apenas criar seu rebanho, mas também cultivar seu pomar.
Mamãe contava, para mim e meu irmão, como nós nascemos. Você sabe, essas
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
histórias de cegonha para crianças. Mamãe disse que durante minha gravidez recebeu auxílio
de Javé. E eu nasci saudável. Javé, se você não sabe, é o nome do nosso Deus, meu e de
minha família.
Éramos uma família feliz. Felicidade que aumentou ainda mais quando Abel, meu
irmão, nasceu.
Lembro bem que papai e mamãe passavam os dias cuidando de tudo. Papai cuidava
do pomar e do rebanho. Mamãe, da casa e dos animais domésticos que tínhamos.
Quando meu irmão e eu ficamos maiorzinhos também ajudávamos nos afazeres do
lar. Papai me ensinava a cuidar das frutas e orientava meu irmão a cuidar dos carneirinhos.
No final do dia mamãe nos esperava na varanda com um suco de frutas e um bolo de fubá e
ali ficávamos ouvindo, de papai, as histórias sobre a criação e aquelas histórias que nos ligam
uns aos outros.
Aprendemos muitas coisas de papai e mamãe. Eu e Abel, meu irmão, tivemos
uma infância feliz. Corríamos atrás das ovelhas, subíamos em árvores, tomávamos banho
num riacho próximo de casa, brincávamos com nossos gatos e com os brinquedos que
papai fazia.
Lembro bem, como se fosse hoje, que meu irmão e eu estávamos catando abacate,
quando Abel, que estava em cima da árvore, soltou uma fruta e ela caiu nas minhas costas,
pois eu estava abaixado arrumando as que nós já tínhamos apanhado. Lembro que gritei com
meu irmão e o xinguei. Mas você sabe, irmão é irmão, e saímos dali dando boas risadas do
que tinha acontecido.
Passaram-se os anos, Abel e eu crescemos. Eu cuidava do pomar, meu irmão do
rebanho.
Certo dia, trouxemos para o culto, uma oferta cada um. Abel trouxe algo do rebanho.
Eu trouxe algo do campo. Não sei qual o motivo a oferta do meu irmão foi aceita e a minha
não. Naquele dia aconteceu algo muito triste. Sem ter controle das minhas emoções, fiquei
sobremodo irado com o acontecimento. A tal ponto foi minha ira que meu semblante se
desfigurou. Eu podia sentir aquela chama, aquele fogo embraseando meu rosto. Saí daquele
lugar arrasado. Mas antes que saísse ouvi uma voz no profundo do meu ser. Sabia que era o
Senhor que estava dizendo:
— Caim meu filho; por que estás tão irado? Por que teu rosto está tão desfigurado?
Por que tanta amargura no coração? Não há motivo para tu estares assim Caim.
E continuou:
— Olha Caim, há dentro de ti duas forças, como se fossem dois cães: aquele que tu
alimentares vai prevalecer. São duas opções: aquela que escolheres é a que determinará tua
aceitação ou não, perante mim. Por isso reflitas nisto: Se procederes pelo bem, tu serás
aceito, todavia se procederes pelo mal eis o pecado à porta do coração: Portanto, cabe a ti
dominar os desejos que estão contra ti. E lembra-te sempre Caim: não é a religiosidade das
ofertas que me agradam, mas, sim, um coração sincero, um desejo puro.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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Aquelas palavras ainda ressoam forte dentro de mim. É como se o Senhor as estivesse
falando hoje.
Descobri estarrecido, naquele dia, que há algo de monstruoso dentro do ser humano,
algo de demência que assombra todos nós. Você não se sente assim de vez em quando?
Você às vezes não fica irado, nervoso ... querendo matar meia dúzia de políticos?
É ... isso é uma tragédia por si só!
Mas minha história não pára por aí. Ela se agravou até a desgraça completa. Deixa-
me contar a parte mais triste.
Certa ocasião, chamei meu irmão para irmos ao campo, e num ato de pura violência
e loucura, deixei-me dominar pelo meu lado obscuro, pelo meu desejo do mal, e feri meu
irmão de morte. Por um instante fiquei ali, inerte, paralisado, olhando o corpo do meu irmão
estendido ali no chão, o sangue escorrendo pela terra ...
Fugi, apavorado. No caminho, outro encontro com o Senhor, que me perguntou:
— Caim, onde está teu irmão?
Sabia que nada podia esconder de Javé, sabia que o Senhor nos acompanha aonde
quer que nós iremos. Porém, no auge do meu desespero tentei um último ardil dizendo:
— Não sei onde está meu irmão. Acaso sou cuidador do meu irmão?
Em vão minhas palavras. A quem estava eu querendo enganar, senão a mim mesmo?
Conturbado e a sós com Deus ouvi-o dizer em tom de lamento:
— Que fizeste Caim?! O sangue do teu irmão clama da terra para mim. A voz do teu
irmão grita da terra regada com o sangue dele. A terra abriu a boca para receber a vida do
teu irmão. Agora és maldito sobre essa terra que não mais dará o sustendo quando a lavrares.
E Deus continuou dizendo ao meu coração:
— Serás andarilho sem rumo pela terra.
Mesmo que eu tivesse tapado os ouvidos naquele momento, teria ouvido essas duras
e assustadoras palavras, pois elas iam direto ao coração e, como cravos na madeira,
penetravam meu ser e ficaram fixadas para sempre.
Vivi um verdadeiro inferno existencial, um sofrimento tão intenso que não podia
suportar ... então clamei ao Senhor:
— Senhor meu castigo é tão grande que não posso suportá-lo, pois me lanças da tua
face e tenho que me esconder da tua presença e ando fugitivo e errante...
E completei a frase chorando amargurado:
— ... E quem me encontrar, certamente me matará.
Disse isso, pois temia receber na mesma moeda o castigo pelo meu pecado, por ter
tirado a vida do meu irmão.
Foram dias de profundo sofrimento. O fato de ter tirado a vida do meu irmão tirava
meu sono. Não conseguia dormir pensando no que fizera, pensando na dor de mamãe, pensando
na tristeza de papai, pensando na destruição que causei na minha família.
Sim. Você não pode imaginar a dor, a tristeza, a angústia, o desespero, a solidão
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que enchiam meus dias.
Ainda sob o domínio do medo e do pânico ouvi o que o Senhor Javé falou:
— Caim: qualquer pessoa que tirar a tua vida será vingado sete vezes. Mas eu, o
Senhor Deus, coloco em ti um sinal, uma marca bem visível para que qualquer pessoa que te
encontrar não te fira de morte. Esta marca te protegerá pelo resto de tua vida e será uma
lembrança de que sempre estarei ao teu lado a proteger-te.
Deus falou, e assim se fez. No dorso da minha mão direita surgiu esta marca, parecida
com uma tatuagem, que me identifica como um protegido de Javé. Essa marca que você vê
em minha mão é a lembrança de uma tragédia familiar, mas é, ao mesmo tempo, um sinal de
proteção.
Eu sei que parece estranho eu dizer isso, pois você deve ter ouvido uma outra versão
da minha história. Entretanto, você pode consultar o livro Sagrado e comprovar o que estou
dizendo.
Assim, quando você olhar para esta marca em minha mão, saiba que é um sinal com
dois significados: um externo e outro interno. Um invisível e outro visível. A marca invisível é
a lembrança do meu pecado. A marca visível é a lembrança da proteção que recebi do Senhor.
Pense nisso: Se você não soubesse da história do meu pecado só veria a marca
visível e saberia que Javé me protege, e não saberia o que fiz.
Portanto, você que ouve a minha história tenha sempre na mente e no coração a
certeza de que, apesar do nosso pecado, seja ele qual for, nunca será tão grande que o
Senhor não possa perdoá-lo e isso por um motivo bastante simples: Jesus, o filho de Deus,
nosso irmão mais velho, derramou seu sangue para nossa remissão, para nossa proteção.
Assim, você também carrega uma marca que lembra o seu pecado, mas que também
lembra o perdão de Javé.
Essa é a história da nossa marca!
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ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 03
ESTRUTURA DO SERMÃO
A pregação não é um exercício de oratória para o pregador, mas um elemento
essencial no crescimento espiritual do Corpo de Cristo.
John F. MacArthur
A importância da estrutura de um sermão é diretamente proporcional ao impacto
que o mesmo deve causar na memória do ouvinte. Um discurso bem estruturado ficará gravado
de forma duradoura na platéia.
Podemos chamar a Estrutura de uma Prédica de “Esboço” ou “Plano” dentro do
qual o material deve ser disposto em ordem. Isso exige talento e treino. É necessária a
imaginação construtiva. Mas, uma estrutura é indispensável, pois para o pregador é importante
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ter os pensamentos nos lugares certos e para os ouvintes uma boa estrutura ajuda na
compreensão. Ademais, a falta de um plano, quase sempre leva o Pregador à digressão, à
repetição e à falta de clareza.
Uma boa estrutura se constitui de vários elementos. Por exemplo: Unidade, que
diz respeito a coerência temática, centrada em uma única mensagem. Ordem, que diz
respeito à coesão onde as idéias têm uma seqüência, início meio e fim, caminhando para
o clímax. Equilíbrio, que diz respeito à proporcionalidade e simetria entre as partes que
compõem o discurso. Elas devem ter tamanhos semelhantes para que uma parte não se
sobressaia à outra.
DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO1
O desenvolvimento da Homilia deve acompanhar sua estrutura, que em geral pode
ser dividido em três partes: Exórdio (Introdução), Argumentação, Peroração (Conclusão).
Vejamos cada parte em separado.
Exórdio
Também chamado de “Introdução”, é a parte introdutória do sermão, ou seja, é o
processo pelo qual o pregador procura preparar a mente dos ouvintes e causar um interesse
para com a mensagem e o mensageiro. O Exórdio tem como objetivo fundamental preparar o
ouvinte para receber a mensagem, para entender o assunto e o propósito do sermão, pois a
platéia não sabe de antemão o tema do que será pregado. Assim, a finalidade é conquistar a
atenção dos ouvintes e despertar o seu interesse pelo tema da prédica e torná-lo atento e
disposto a ouvir.
Por isso, deve empreender um esforço para atrair a atenção (direção ou concentração
da mente num objeto), despertar o interesse (o interesse alimenta a atenção, apresentar algo
que se mostre digno de ser ouvido) e conquistar a simpatia (qualquer afetamento ou atitude
pretensiosa, além de inadequado, poderá criar um clima de antipatia por parte dos ouvintes)
do povo a sua mensagem.
Assim, uma boa introdução deve ser interessante (os primeiros minutos do sermão
são muitíssimo importantes. É aqui que o pregador ganha ou perde a atenção do ouvinte. Se
inicialmente for monótono, marcante ou trivial, provavelmente afetará a recepção da mensagem
pelos ouvintes); breve (convém que o pregador passe logo à parte principal da mensagem.
Uma introdução demasiadamente elaborada mata o sermão. O ideal é usar 10% do tempo
do sermão); clara (a linguagem deve ser natural e inteligível); modesta (evitar o pedantismo e
o exibicionismo de qualquer forma, pois a impressão egoísta no exórdio do sermão mata o
efeito de todo o discurso e cria antipatia ao pregador); e apropriada (à ocasião, à mensagem,
1 Para o que segue veja: http://revistadominical.sites.uol.com.br/homiletica.htm
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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ao lugar, narrativa interessante, descrição bem feita, são elementos fundamentais para estimular
a imaginação e por os ouvintes a pensar antes de chegar ao corpo do sermão). Clareza sem
antecipar os fatos. A cordialidade é um elemento fundamental no exórdio, pois conquista a
emoção do ouvinte que permanecerá atento até o final da pregação.
É preciso evitar tornar a Introdução algo sensacionalista, exagerado e
antecipatória, apresentando todo o sermão logo no início ou prometendo mais do que
realmente pode alcançar.
Um Exórdio pode tomar diversas formas. Pode ser uma:
Introdução textual, na qual se procede a leitura de um texto, explicando os fatores
importantes relacionados ao mesmo.
Introdução contextual, na qual o contexto da passagem é explicado, como no caso
da parábola do filho pródigo que é antecedida por duas outras com o mesmo tema.
Introdução descritiva, na qual se faz uma descrição dramática da situação do texto
base da pregação.
Introdução temática, na qual o tema ou assunto é esclarecido por definições de
termos ou imagens presentes no texto, explicação de palavras que apresentem, à primeira
vista, um sentido obscuro, ambíguo ou que tenham um sentido bíblico peculiar, bem diferente
do de hoje.
Introdução problema, na qual um determinado problema é apresentado inicialmente
e a argumentação propõe uma solução plausível a ele.
Introdução ilustrativa, na qual se apresenta uma ilustração da própria Bíblia, da
literatura universal, das artes em geral, dos telejornais, de experiências de vida, etc.
Introdução inquiritiva, na qual se formula uma pergunta incisiva e relevante à platéia
e busca-se respondê-la ao longo da homilia.
Ao final do Exórdio é preciso fazer uma transição para o corpo do sermão. Essa
transição pode ser feita pela chamada “proposição” do sermão, isto é, levantar a tese
fundamental que será discutida ao longo da prédica.
Proposição é uma declaração simples do assunto que o pregador se propõe
apresentar, desenvolver, provar ou explicar.2
2 James Braga, Como Preparar Mensagens Bíblicas, p. 99.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
A ‘proposição’ é aquela oração afirmativa que contém a substância do discurso.3
Lembremos as palavras de John Jowett:
Estou convicto de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, nem pronto
para ser publicado, enquanto não nos for possível expressar o seu tema numa breve e
fecunda sentença, tão clara como cristal. Para mim, a conquista de tal sentença é o
mais difícil, exigente e frutuoso trabalho no meu gabinete. (...) Segundo o meu modo de
ver, nenhum sermão devia ser pregado, nem mesmo escrito, enquanto a sentença
expressiva não emergisse, clara e lúcida como o luar sem nuvens.4
Argumentação
Essa parte do sermão recebe vários nomes, tais como: corpo do sermão, discussão,
argumento, desenvolvimento. A argumentação exige uma atenção especial, visto que o que
precedeu foi um preparo para este momento, e o que virá após será uma questão apenas de
fechamento do assunto.
Já aludimos, anteriormente, aos tipos de sermão conforme o modo com que cada
tipo aborda o texto bíblico.
Agora, aqui no tópico “argumentação” é importante ressaltar que os argumentos
devem ser extraídos da Bíblia. Daí a necessidade de selecionar os textos bíblicos que devem
ser o alicerce da nossa pregação.
As divisões são as seções principais do corpo de um sermão bem ordenado (esboço).
Quer sejam enunciadas durante a entrega, quer não, um sermão corretamente planejado será
dividido em partes distintas que contribuirão para sua unidade.
As divisões esclarecem os pontos do sermão. É muito mais fácil para o ouvinte
quando as idéias principais são ordenadas e proferidas claramente porque permite acompanhar
e entender uma mensagem. Além disso, as divisões ajudam a recordar, a recapitular os aspectos
principais do sermão. Muitas vezes, as pessoas que se dizem abençoadas pelo sermão, quando
perguntadas pelo teor da mensagem já não se lembram, ou apenas vagamente. Pode até ser
falha de memória, no entanto, na maioria dos casos, foi falta de didática do pregador.
Não há um número definido de divisões em um sermão, mas deve haver quantas
forem necessárias para o bom desenvolvimento do tema proposto. Em geral três ou quatro
seções são suficientes, pois mais que isso, muito provavelmente daria mais que um sermão.
Porém, é necessário ressaltar que cada divisão deve conter um argumento próprio e
distinto das demais, doutra forma não se justificam. Pois como diz Lloyd-Jones:
Nunca forcemos uma divisão. E nem se adicione alguma divisão meramente
3 A. W. Blackwood, A Preparação de Sermões, p. 132.4 John H. Jowett, O Pregador, Sua vida e obra, pp. 89-90.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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tendo em vista completar o conceito que tivermos em mente, ou a fim de nos
conformarmos à prática usual. As divisões devem ser naturais, e aparentemente
inevitáveis.5
Conservando a linha mestra do pensamento deve haver dependência de cada ponto.
Às vezes, em um grupo muito grande de divisões ou subdivisões nota-se apenas repetições
com palavras diferentes apenas.
O corpo do sermão deve ser arquitetado de acordo com um plano ou esboço
definitivo. Não se pode denominar de sermão aquilo que não apresenta um plano definitivo.
As divisões devem ser claras e simples, livres de pontos obscuros, idéias vagas ou expressões
indefinidas, assim como de qualquer preocupação com efeitos sensacionalistas.
As divisões devem promover a unidade de pensamento. A unidade é essencial à
construção da mensagem e, assim, ajudar o pregador a descobrir o tratamento correto
de um assunto.
Por isso, devem ser elaboradas harmonicamente. Use três afirmações, três
exclamações, três interrogações, mas nunca misture uma afirmação com uma interrogação ou
uma exclamação com uma pergunta, observando o progresso gradativo até o clímax.
Um aspecto fundamental é o elo entre as divisões. É essencial para o progresso
harmônico do sermão que cada divisão seja entrelaçada a outra de forma natural e lógica.
Para isso usamos a chamada “transição”, ou seja, uma frase que resuma o que foi dito na
divisão anterior e introduza a divisão posterior.
É sempre bom lembrar que a platéia não tem diante de si o esboço do sermão para
segui-lo. Seu único meio de acompanhar a seqüência da mensagem é o pensamento do
pregador e suas próprias palavras.
A transição deve ser feita de modo a permitir a passagem suave e fácil de idéias de
uma parte para outra, do sermão.
Peroração
Peroração é o termo técnico para “Conclusão”. Sua importância não pode ser
menosprezada sob o risco de se perder todo o sermão por causa de uma conclusão mal feita.
É o ponto de decisão e, muitas vezes, o auditório vê o sermão se esfumaçar no fim ou, o que
é pior, o Pregador ficar dando voltas sem conseguir concluir a prédica.
Por isso, os grandes oradores gregos e romanos davam especial atenção as suas
pregações, parecendo sentir e deixando transparecer que a Conclusão era a batalha final que
decidiria a guerra e, assim, reuniam todas as suas forças para um esforço supremo.
A conclusão é sem dúvida, o elemento mais poderoso de todo o sermão. Se não for
bem executada pode enfraquecer ou até mesmo destruir as partes anteriores da mensagem.
5 D.M. Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, pp. 150-151.
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Alguns pregadores se esquecem da importância da conclusão e, como resultado, seus sermões
fracassam no ponto crucial. Em vez de concentrarem o material em um foco de calor e poder,
permitem que a corrente de pensamento no final se dissipe em observações fracas, vagas ou
sem importância.
Lembremos que a conclusão não é uma parte que adicionamos ao sermão, e sim
parte orgânica dele, ou seja, que completa sua forma e seu efeito. A conclusão deve ocupar
cerca de 10% do tempo total do sermão. Nela devemos fazer a recapitulação e aplicação.
Na peroração podemos fazer um breve resumo do que foi dito e aplicar a mensagem
ao ouvinte, uma aplicação pessoal, pois cada ouvinte deve saber que está se falando para
ele. Deve o ouvinte se perguntar: “Muito bem, à luz disso, que devo fazer?” Evite o festival
de banalidades: “que possamos ser crentes melhores”, “que Deus nos abençoe”. Isso não
quer dizer nada.
Alisto abaixo algumas sugestões para uma conclusão bem sucedida:
• Deve ter uma finalização natural e apropriada ao sermão como um todo. Por isso
deve-se evitar toda e qualquer matéria nova ou estranha.
• Deve ser viva e enérgica. Uma reprodução forte e vívida do pensamento principal
do sermão, como pregos bem cravados no coração de cada ouvinte.
• Deve ser precisa, definida e clara nos pensamentos e na expressão. Se há uma
parte do sermão que exija maior clareza e conselhos definidos e objetivos, é justamente a
conclusão.
• Cuidado com gestos que distraem: olhar o relógio, fechar a Bíblia, recolher o esboço,
falar enquanto folheia o hinário, buscar um hino a ser cantado, etc.
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ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 04
ESTRUTURA TEXTUAISE HOMILÉTICA
DE SERVA A SENHORA
Quando deixamos o Seminário para assumirmos um campo, presumimos, muitas
vezes, que sabemos o suficiente a respeito das disciplinas estudadas e não nos damos conta
que a nossa preparação acadêmica foi o primeiro dos impulsos em direção a novos estudos.
Assim, ao nos voltarmos para um estudo mais atencioso dos textos bíblicos vamos,
inevitavelmente, descobrir aspectos estruturais que jogam, repetidas vezes, nossos
pressupostos homiléticos por terra.
Aprendemos no Seminário a estruturar nossos sermões e estudos conforme as regras
observadas nos grandes pregadores do passado. Regras que cientificamente denominam-se
“regras homiléticas”.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Não há nada de mal, em si, o uso de tais regras, se forem empregadas para servir o/
a ministro/a, como entendo que sejam. Entretanto, de serva a homilética passou a ser senhora,
e senhora tal que não permite ao expositor bíblico respeitar as estruturas que encontramos
nos textos.
Portanto, quero mostrar que os textos bíblicos obedecem a certas estruturas naturais
e que podemos utilizá-las para ministrar a palavra.
AS ESTRUTURAS TEXTUAIS
Denomino “estrutura textual” à forma como aparecem dispostos os elementos dentro
de padrões nos textos. Na análise dos textos bíblicos, temos que notar a disposição natural
de tais elementos. Tal disposição é uma imposição interna que o autor colocou e quer que
seja considerada por aqueles que lerão o texto, pois a distribuição dos elementos obedeceu
a uma intenção didática, não foi feita à revelia deste propósito.
Vou tomar dois textos como amostra para exemplificar suas respectivas estruturas.
Amós 1.3-5
3 Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Damasco e por quatro, não
sustarei o castigo, porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro. 4 Por isso, meterei fogo à
casa de Hazael, fogo que consumirá os castelos de Ben-Hadade. 5 Quebrarei o ferrolho de
Damasco e eliminarei o morador de Biqueate-Áven e ao que tem o cetro de Bete-Éden; e o
povo da Síria será levado em cativeiro a Quir, diz o SENHOR.
Inicialmente, demarca-se os limites do texto. Esse processo consiste em encontrar o
início e o fim do texto considerado. (Obs. considera-se, para esse fim, o texto sem as divisões
em capítulos e versículos).
Nesse caso, o texto tem seu início com as palavras – Assim diz o Senhor –, e tem
seu término com – diz o Senhor –. Assim, o trecho de Amós 1.3-5 pode ser tomado como
um parágrafo em si.
Para confirmar essa afirmação, basta olhar para o contexto e verificar que outros
textos semelhantes a este, em função (profecia contra uma nação) também se iniciam e
terminam do mesmo modo. Por exemplo, a profecia contra Gaza inicia-se com – Assim diz
o Senhor – e termina com – diz o Senhor –. Do mesmo modo ocorre com as profecias
contra Amom, Moabe e Israel. E ainda, com uma pequena variação no final, com as profecias
contra Tiro, Edom e Judá.
Feita a demarcação dos limites do texto, passa-se a verificar qual a estrutura da
perícope.
O trecho começa de uma forma autoritativa – Assim diz o Senhor –, à qual chamo
de “Fórmula do Mensageiro”.
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O segundo elemento que se percebe é uma “Acusação” – Por três transgressões
de Damasco, e por quatro, não susterei o castigo –.
Um terceiro elemento decorre naturalmente do segundo, pois o castigo tem que ter
um motivo. Assim, esse elemento é o que chamo de “Base do Castigo”, isto é, a explicação
do “porquê” – Porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro –.
Ainda, um quarto elemento deste trecho é a “Descrição do Castigo”, iniciada por
uma conjunção conclusiva por isso. Este elemento também decorre do anterior: – Por isso
meterei fogo ... será levado cativo a Quir ... – .
Finalmente a unidade é encerrada com uma “Fórmula Conclusiva”, abreviada da
introdução – diz o Senhor –.
Em resumo, a estrutura de Amós 1.3-5 é a seguinte:
I. Fórmula do Mensageiro 3 Assim diz o SENHOR:
II. Ameaça de Castigo Por três transgressões de Damasco e por quatro, não sustarei o castigo,
III. Base do Castigo porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro.
IV. Descrição do Castigo 4 Por isso, meterei fogo à casa de Hazael, fogo que consumirá os castelos
de Ben-Hadade. 5 Quebrarei o ferrolho de Damasco e eliminarei o morador
de Biqueate-Áven e ao que tem o cetro de Bete-Éden; e o povo da Síria será
levado em cativeiro a Quir,
V. Fórmula Conclusiva diz o SENHOR.
As outras sete profecias que se seguem, salvo pequenas variações, possuem a mesma
estrutura textual.
Mateus 6.2-4
2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade
vos digo que eles já receberam a recompensa. 3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a
tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua esmola fique em secreto;
e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
Usando o mesmo procedimento é preciso, além de demarcar o trecho, identificar os
elementos da sua estrutura textual.
Primeiramente delimita-se o texto. O parágrafo inicia-se com um advérbio temporal
– Quando – e encerra-se com a palavra – recompensará –. (OBS: o v.1 é tomado como
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
introdução geral para as três unidades que se seguem; esmola, oração e jejum).
Esse trecho será tomado como uma unidade completa em si.
Esta afirmativa é claramente comprovada com uma simples olhada no contexto (cf.
vv. 5 e 6; 16 e 18); versos que encerram uma estrutura textual idêntica.
Uma vez delimitado o texto, passa-se a determinar a estrutura.
Nesse trecho os elementos estão dispostos de tal maneira a formarem duas partes:
Na primeira parte existe uma introdução que é feita com uma menção do assunto – Quando,
pois, deres esmola –.
O segundo elemento constitui-se numa “Advertência” aos discípulos para não agirem
conforme hipócritas – não toques trombeta ... –.
O elemento que se segue é uma “Explicação da Advertência”, iniciada por uma
conjunção explicativa, omitida neste parágrafo, mas subentendida conforme vv. 5 e 16. Assim,
o texto pode ser lido – porque dão esmola nas sinagogas ... –.
O último elemento da primeira parte é a “Conclusão” – já receberam a recompensa
– (passado).
A introdução da segunda parte, iniciada por uma conjunção adversativa, “Contrapõe”
o ensino, fazendo uma menção do assunto – tu, porém, ao dares a esmola –.
Em segundo lugar aparece um “Ensino”, seguindo imediatamente a frase adversativa
– ignore a tua esquerda ... –.
A conclusão da segunda parte é feita com uma promessa no futuro, fechando assim
a unidade completa.
Resumindo a estrutura textual de Mateus 6.2-4.
1ª PARTE
I. Introdução 2 Quando, pois, deres esmola,
II. Advertêncianão toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas
e nas ruas,
III. Justificativa da Advertência para serem glorificados pelos homens.
IV. Conclusão (passado) Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
2.ª PARTE
I. Contraposição do Ensino 3 Tu, porém, ao dares a esmola,
II. Ensinoignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua
esmola fique em secreto;
III. Conclusão (futuro) e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
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Os outros dois parágrafos (oração e jejum) seguem a mesma estrutura.
É bom ressaltar que Mateus aduz ao parágrafo da oração, um ensino complementar
(vv. 7-15).
Com tais amostras é possível comprovar que os textos respeitam, dentro do seu
gênero, certas estruturas textuais.
À guisa de exercício de fixação pode-se tentar estabelecer a disposição dos elementos
dos seguintes trechos: As 7 cartas do apocalipse, os AIS de Mateus 23.13ss; os cânticos de
Lucas; as antíteses de Mateus 5.21-47 e assim por diante.
A QUESTÃO
Tendo descrito as estruturas acima, surge a questão:
Como se comportam as regras homiléticas nesses casos?
A experiência tem demonstrado que a homilética não respeita os elementos naturais
do texto. Padronizou-se ministrar (sermões e estudos) com três ou quatro divisões. Não que
as divisões homiléticas sejam más em si, mas tais regras muitas vezes, forçam a ver divisões
onde não há ou omiti-las de um texto.
No caso de Amós 1.3-5, caberia uma divisão homilética tradicional (três divisões,
introdução e conclusão).
Contudo, no caso de Mateus 6.2-4, a mesma divisão homilética não teria lugar, sem
violar as divisões naturais impostas pela estrutura textual.
CONCLUSÃO
Com essas breves considerações, gostaria de propor uma inversão de posição, isto
é, devolver à homilética o seu lugar de serva e considerar os textos sob a perspectiva de suas
estruturas naturais.
Se a homilética tem por objetivo colocar de maneira clara e didática a ministração
da palavra, as estruturas textuais se prestam a isso muito mais.
Afirmo isso porque podemos utilizar as divisões dos textos segundo os padrões
impostos internamente, isto é, pelos padrões estruturais do próprio autor que pretendeu, no
mais das vezes, ser claro, conciso e didático.
Portanto, digo que não devemos nos prender cegamente aos padrões impostos ao
texto externamente, isto é, às leis homiléticas.
Façamos a experiência, usemos as estruturas textuais na ministração da palavra.
Veja o exemplo abaixo:
De um mesmo e só Espírito!
No princípio criou Deus os céus e a terra. Na vastidão inócua e informe, na
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
deformidade caótica de um mundo sem encanto, passou a dizer palavras de encantamento e
ternura... E eis a luz, e as trevas abissais se dissiparam, e o dia e a noite. E eis o firmamento,
e as águas, acima e abaixo, e também um torrão de terra seca, os continentes, terra e mar,
ilhas e nascentes, poeira e águas correntes. E a relva, a erva, a árvore, sementes, flores,
frutos, florestas, bosques e jardins. Exuberante arrebenta a flora vicejando vida em solo
bruto... E eis no céu o sol, e a lua e as estrelas aos milhares, e as constelações e galáxias e
todo o exército dos céus marchando na precisão de suas órbitas, alumiando dias e noites,
separando luz e trevas, compassando tempos e estações... E eis as águas embaixo povoadas
de seres marinhos, e os céus em cima repletos de seres alados, e a terra, no meio, tomada de
seres sem conta, animais de toda espécie. A vida extravasa em rica fauna. E aos peixes, aves,
répteis ordenou:
— Enxameai terra e céus e mares... E eis que tudo, tudo, tudo era muito bom. E num
momento de suprema e infinita inspiração criou Deus o ser humano, homem e mulher os
criou, e como uma coroa de rosas o colocou sobre toda sua criação que com carinho fizera.
E disse mais:
— Não fiquem sozinhos, façam amor, e que desse amor multipliquem-se em iguais e
povoem o planeta!
Ótimo! Tudo perfeito! Tudo tão bom! Bom de se olhar, bom de se tocar, bom de se
saborear! Tudo muito bom!
E assim se fez, e nos amamos e geramos tantos outros seres humanos e tomamos
todos os recantos da terra, e habitamos os vales, as campinas, as montanhas... Entretanto,
para aonde fomos Deus não nos deixou só, mas assoprou um mesmo e só espírito nos Poetas,
nos Profetas e nos Pastores. Os primeiros para cantar o encantamento da criação, os segundos
para promover o cuidado com a criação e os últimos para cuidar da coroa da criação. Deu-
nos as Poetizas para cantar a nossa relação com Ele mesmo. Concedeu-nos as Profetizas
para promover nossa relação com a Natureza. E ofertou-nos as Pastoras para cuidar da
nossa relação com nossos semelhantes.
Assim, o espírito que habita poetas e poetizas canta:
Foi Deus quem fez o céu e o luxo das estrelas, fez também um seresteiro para
conversar com elas, fez a lua que prateia minha estrada de sorrisos. Foi Deus quem fez
o vento que sopra os teus cabelos, foi Deus quem fez o orvalho que molha o teu olhar.
Foi Deus quem fez a noite, e um violão plangente, foi Deus quem fez a gente somente
para amar, só para amar1.
Salmo 104:1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu
és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, 2 coberto de luz como de um manto. Tu
estendes o céu como uma cortina ,3 pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as1 Luiz Ramalho.
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nuvens por teu carro e voas nas asas do vento. 4 Fazes a teus anjos ventos e a teus ministros,
labaredas de fogo. 5 Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não vacile em tempo
nenhum. 6 Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste; as águas ficaram acima das montanhas;7 à tua repreensão, fugiram, à voz do teu trovão, bateram em retirada. 8 Elevaram-se os montes,
desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado. 9 Puseste às águas divisa que não
ultrapassarão, para que não tornem a cobrir a terra. 10 Tu fazes rebentar fontes no vale, cujas
águas correm entre os montes; 11 dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos
selvagens matam a sua sede. 12 Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a
ramagem, desferem o seu canto. 13 Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se
do fruto de tuas obras. 14 Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço
do homem, de sorte que da terra tire o seu pão, 15 o vinho, que alegra o coração do homem,
o azeite, que lhe dá brilho ao rosto, e o alimento, que lhe sustém as forças. 16 Avigoram-se as
árvores do SENHOR e os cedros do Líbano que ele plantou, 17 em que as aves fazem seus
ninhos; quanto à cegonha, a sua casa é nos ciprestes. 18 Os altos montes são das cabras
montesinhas, e as rochas, o refúgio dos arganazes. 19 Fez a lua para marcar o tempo; o sol
conhece a hora do seu ocaso. 20 Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os
animais da selva. 21 Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento; 22 em vindo
o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis. 23 Sai o homem para o seu trabalho e
para o seu encargo até à tarde. 24 Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com
sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. 25 Eis o mar vasto, imenso, no qual
se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes. 26 Por ele transitam os navios e o
monstro marinho que formaste para nele folgar. 27 Todos esperam de ti que lhes dês de comer
a seu tempo. 28 Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens. 29 Se
ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó.30 Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra. 31 A glória do
SENHOR seja para sempre! Exulte o SENHOR por suas obras!
Água que nasce na fonte serena do mundo, e que abre o profundo grotão. Água
que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão. Águas escuras dos rios que
levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população.
Águas que caem das pedras, no véu das cascatas, ronco de trovão e depois dormem
tranqüilas no leito dos lagos. Água dos igarapés onde mãe d’água, é misteriosa canção.
Água que o sol evapora, pro céu vai embora virar nuvens de algodão. Gotas de água da
chuva, a legre arco- ír is sobre a plantação. Gotas de água da chuva,
tão tr is tes são lágrimas na inundação. Águas que movem moinhos
são as mesmas águas que encharcam o chão e sempre voltam humildes pro fundo da
terra. Terra planeta água.2
2 Guilherme Arantes.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Há um mesmo e só Espírito na alma das poetizas e poetas que cantam e louvam, por
nós, o Criador pela beleza da criação.
Assim, o mesmo espírito que também habita profetas e profetizas exorta:
Gênesis 2 15 Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do
Éden para o cultivar e o guardar.
Gênesis 2 19 Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais
do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria;
e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20 Deu nome
o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos...
..., tudo é azul, terra azulada, verde-azul, azul (e céu) tudo é azul, lago e lagoas
azuis e, quanto mais distante a terra, mais azul, ilhas azuis em lago azul. Este é o rosto
da terra libertada. Para nos amarmos numa terra bela, muito bela, não só por ela
senão pelos homens nela, sobretudo pelos homens nela. Esta terra, Deus nos deu bela
por isso, para a sociedade nela.3
Romanos 8:19-24 19 A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos
de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele
que a sujeitou, 21 na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22 Porque sabemos que toda a
criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. 23 E não somente ela, mas também
nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a
adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
Há um mesmo e só Espírito na alma dos profetas e profetizas que nos exortam ao
cuidado terno com a criação do magnificente Criador.
Da mesma forma que habita com poetas, profetizas, poetizas e profetas, o mesmo
espírito faz morada com pastores e pastoras.
Porém, dos pastores não temos discursos para mostrar, e das pastoras não há palavras
para falar, pois sua tarefa impõe, por si, uma atitude e não palavra.
Portanto, são vidas que falam pelas pastoras: Jesus de Nazaré, Francisco de Assis,
Dietrich Bonhoeffer... e pelos pastores: Maria de Nazaré, Teresa de Ávila e Teresa de Calcutá,
e todos os anônimos pastores e pastoras anônimas que se fizeram poesia e profecia a favor
dos seus irmãos e irmãs.
Maria de Nazaré, mãe do Senhor, acolheu em seu ventre o lógos, o poema completo
de Deus. E com um cuidado maternal cumpriu a dolorosa e gratificante missão de ser a mãe
3 Ernesto Cardenal.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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do Salvador de toda criação de Deus Pai.
Junto aos irmãos e irmãs da comunidade estendeu a todos, sem distinção, os segredos
guardados em seu coração de mãe, confortando e animando, como uma pastora, o rebanho
de Deus.
Teresa de Ávila, mística e religiosa espanhola, fundadora da comunidade das
Carmelitas Descalças, reforçou o cumprimento rigoroso das primitivas e severas regras da
Ordem. Foi a primeira mulher a ser proclamada doutora da Igreja. Teresa purificou a vida
religiosa espanhola do início do século XVI, contribuindo para fortalecer as reformas na
Igreja numa época em que o Protestantismo estendia-se pela Europa.
São dela as seguintes palavras ditas para suas pupilas:
É aqui, minhas filhas, que o amor será achado - não escondido pelos cantos,
mas em meio de ocasiões pecaminosas. E me acreditem, embora possamos falhar
freqüentemente e cometer pequenos erros, nosso ganho será incomparavelmente muito
maior.
E ainda...
Compreendi que o amor encerra todas as vocações e que o amor é tudo, abraça
todos os tempos e todos os lugares.
Teresa de Calcutá, albanesa, abre-se à vocação divina e, aos trinta e oito anos,
abandona o convento e vai viver nas periferias de Calcutá (Índia) com os pobres dos pobres,
como ela mesma dizia. O cuidado com os pobres ela o transformou em um quarto voto às
suas seguidoras nos seguintes termos: “dedicar-se de todo coração e livremente a serviço
dos mais pobres dos pobres.”
Ao fundar a “Casa dos Moribundos” passa a acolher os miseráveis que viriam a
morrer nas ruas caso não fossem recolhidos.
Uma das frases mais marcantes desta Pastora do rebanho de Deus é a seguinte: “Dá
Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesma e, ao fazê-lo, usa as tuas mãos.” E o
carisma fundamental aparece na exortação ao cuidado com os pobres: “toca-os, lava-os,
alimenta-os.”
Essas mulheres-pastoras falam, ainda hoje, com suas vidas, do cuidado com o povo
de Deus.
Outro tanto se pode ver nas vidas de Jesus de Nazaré, de Francisco de Assis e
Dietrich Bonhoeffer.
Jesus de Nazaré, o supremo Pastor, ungido pelo mesmo espírito, deixou Nazaré ...
Mateus 4:13-17 13 ... foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de
Zebulom e Naftali; 14 para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías:
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
15 Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios!16 O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte
resplandeceu-lhes a luz. 17 Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos,
porque está próximo o reino dos céus.
Compreendendo sua missão entre os pobres e miseráveis, Jesus de Nazaré, de
passagem por este mundo, olhando ...
Mateus 9:36-10:1 36 ... as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas
e exaustas como ovelhas que não têm pastor. 37 E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara,
na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Rogai, pois, ao Senhor da seara
que mande trabalhadores para a sua seara.
Dietrich Bonhoeffer, além de pastor, teólogo, foi escritor e poeta. Um dos fundadores
da chamada “Igreja Confessante” organizada em Maio de 1934 em Barmen, Alemanha. Sua
experiência à frente da igreja em Finkenwalde gerou dois livros O Preço do Discipulado e
Vida em Comunidade, que, somado a um terceiro livro, Cuidado Espiritual sobre o ministério
pastoral, usava para preparar pastores para a Igreja Confessante.
A partir de 1934, já perseguido, exerce clandestinamente seu ministério na Alemanha,
até ser preso em 1943, acusado de envolvimento num plano para assassinar Hitler.
Dietrich Bonhoeffer amou a igreja do seu tempo, sofreu com ela e por ela, mas
também participou ativamente do destino da sua pátria, e quando viu que a sua igreja silenciou
diante de tanta injustiça, que os cristãos não levantaram suas vozes em favor
... dos irmãos mais fracos e indefesos de Jesus Cristo (os judeus e os 200.000
considerados indignos de viver, entre eles os deficientes físicos e mentais, todos estes
condenados a eutanásia, mais os milhares de ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová
levados para os campos de extermínio)...
... não calou e nem desistiu mesmo sabendo o risco que iria correr se fosse adiante
pela causa.
Em um sermão de fevereiro de 1933, logo após a ascensão de Hitler ao poder,
Dietrich declara:
Na Igreja temos um único altar, o altar do Altíssimo, diante do qual todas as criaturas
devem dobrar os joelhos.
Francisco de Assis, um jovem de boa condição econômica e bem situado socialmente
com um futuro promissor, tem uma profunda experiência espiritual com o Senhor e, movido
pelo espírito de Deus, abandona tudo e passa a viver com as pessoas mais desprezadas da
sua época.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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Vive, a partir daí, junto aos leprosos, aos pobres e inicia um movimento de
restauração de vidas humanas.
Francisco inunda seu mundo de amor e fraternidade e desenvolve uma compreensão
de comunhão do homem com a criação que transborda em poesia e cuidado para com tudo
e para com todos.
Ao explicar a um noviço a loucura do Evangelho, Francisco de Assis diz:
O Evangelho me confere a liberdade dos loucos e das crianças. A liberdade
evangélica, meu irmão, te permite jejuar e interromper o jejum para comer com o irmão
que grita à noite “morro de fome”, te convida a apreciar a tradição e a abrir caminhos
novos, a falar com os ricos e a beijar os leprosos. Meu irmãozinho, só viverás a liberdade
do Evangelho se acreditares no sonho, se alimentares em ti a ternura para com todas as
coisas e se te dispuseres a sofrer com alegria. Não deixes, irmão, de sonhar o sonho de
Jesus Cristo.4
Finalmente, as palavras de irmão Francisco ressoam claras e fortes:
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que
estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque por vossa santa cruz redimistes o mundo.
Eterno Deus onipotente, justo e misericordioso, concedei-nos a nós míseros praticar
por vossa causa o que reconhecermos ser a vossa vontade e querer sempre o que vos
agrade, a fim de que, interiormente purificados, iluminados e abrasados pelo fogo do
Espírito Santo, possamos seguir as pegadas de vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo,
e por vossa graça unicamente chegar até vós, ó Altíssimo, que em Trindade perfeita e
Unidade simples viveis e reinais na glória como Deus onipotente por toda a eternidade.5
Deus não nos deixou sozinhos no mundo, mas nos deu os poetas e poetizas para
cantar a beleza da criação, legou-nos os profetas e profetizas para nos exortar ao cuidado
da Natureza e nos presenteou com os pastores e pastoras para que fossemos cuidados por
eles.
Ao insuflar um mesmo e só espírito em todas elas e em todos eles o Senhor nos
concede sempre fruir da companhia dessas pessoas e entre nós, hoje, estão os pastores e as
pastoras para cuidar da coroa da criação.
Salmo 104 Senhor envias o teu Espírito e fazes a teus ministros e ministras, labaredas
4 Francisco de Assis.5 Francisco de Assis.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
de fogo.
Amém!
Lembre-se: Todo e qualquer intérprete deve preparar mensagens de maneira
inteiramente pessoal. Mas deveria estabelecer uma regra sem exceções: ‘começa,
prossegue e termina com oração’. (A.W. Blackwood).
ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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Aula 05
DESENVOLVIMENTO DO SERMÃO
O QUE FALAR
“Além de falar melhor é imprescindível ter o que falar.”
Você provavelmente já foi convidado, sem que esperasse, para fazer uma saudação
a um grupo ou teve que apresentar, de surpresa, uma homenagem a alguém num aniversário
ou numa reunião social ou mesmo já foi convidado, com antecedência, para fazer um discurso,
ministrar uma aula, dar uma palestra.
Qual foi sua reação? Aceitou? Recusou? Por quê?
Talvez uma das causas por que tenha recusado seja a falta de ter o que falar,
conseqüentemente, o despreparo para “improvisar”.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Tendo estudado as técnicas de falar em público, resta, agora, saber o que falar.
DEFINIR O OBJETIVO
A primeira coisa que você deve ter em mente quando for falar em público é: saiba o
que vai dizer. Uma apresentação só terá sucesso se tiver um objetivo claramente determinado.
O que você tem para dizer a seu público? Antes de começar a se preparar para uma
apresentação, decida aonde quer chegar com ela.
Concentre-se em seu objetivo a cada passo da preparação, a fim de garantir que ela
seja útil e eficaz. Analise o que você quer.
Antes de qualquer coisa, defina o que você quer dizer ao seu público e qual a melhor
forma de se comunicar com ele. Sua estratégia dependerá de três aspectos: tipo de mensagem,
tipo de público e instalações do auditório.
Repasse consigo mesmo o objetivo de sua apresentação e questione-se: é
suficientemente simples ou complexa demais? Imagine quem poderia estar na platéia e como
seu discurso seria recebido por essa pessoa. Em seguida, veja se essa é a forma como você
gostaria que ele fosse recebido. Se não for, modifique sua estratégia.
Ao perguntar pelo objetivo de uma fala, estamos, na verdade, perguntando pelo tipo
de apresentação requerida. A que propósito servirá minha fala?
Dentre os vários tipos de apresentação, alistamos os seguintes:
Informativa
Quando se deseja simplesmente dar esclarecimentos, prestar informações sobre
mudanças, pressupondo que o público desconhece ou conhece pouco sobre o assunto.
Também pode ser chamada de explicativa.
Persuasiva
Tem como objetivo persuadir, envolver, fornecer dados para o público tomar decisões
ou modificar o seu ponto de vista, suas crenças, valores ou opiniões.
Motivacional
Tem como meta promover mudanças de atitudes e comportamentos do público, tais
como comprar, vender, votar, participar, escolher, influenciando-o para essas mudanças.
Discursos de Entretenimento
Nessa situação, encontramos o bate-papo informal após um evento, com o objetivo
de aumentar a alegria do ambiente ou criar uma situação mais favorável. Cabem aqui também
aqueles “improvisos” sem maiores compromissos.
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Discursos de Cortesia
Encontram-se nessa categoria as falas de agradecimento, de homenagens, de
despedida, de boas vindas, de congratulações e todas as orações que expressem gentilezas
ou cortesias.
Analisar o Público-Alvo
Para transmitir sua mensagem com eficácia, você deve levar em consideração os
valores culturais e opiniões do seu público.
Nesse tópico, obtêm-se todos os dados pertinentes das pessoas que estarão ou
poderão estar presentes na apresentação.
Perguntas como essas deverão ser respondidas:
1. Quantas pessoas estarão presentes?
2. Qual é, efetivamente o seu público alvo?
3. Como o público se sente em relação ao seu assunto?
4. As pessoas têm conhecimentos sobre o que você irá abordar?
5. O que você espera que as pessoas façam a partir da sua apresentação?
6. O que o público precisa conhecer sobre o seu tema?
7. O que há de interessante, para o público, no assunto a ser abordado?
8. Quais seriam as perguntas mais prováveis que as pessoas poderiam fazer?
9. Qual o perfil etário do grupo?
10. Qual a quantidade de homens e de mulheres?
Outro fator importante em relação ao público-alvo é a imagem que se quer deixar.
A primeira impressão é a que fica, e é muito difícil mudá-la. Sinais podem ser captados
muito depressa pela maneira como a pessoa se veste e fala e até mesmo pelo modo como
caminha. Antes que você chegue ao palco, a platéia terá formado uma opinião baseada nessas
primeiras impressões. É importante decidir de antemão que imagem você deseja passar para
o público. Causar a melhor primeira impressão pode ser vital para o sucesso de sua palestra.
Portanto, vista-se adequadamente e caminhe, fale e posicione-se com segurança e naturalidade.
Sua imagem será mais bem recebida se a platéia puder se identificar com você.
Assim, é sempre importante estar ciente de qual imagem é esperada pelo público. Será mais
fácil “escolher” a imagem sabendo um pouco sobre seus espectadores. Não se esqueça:
estilos de vestir podem comunicar mensagens específicas para cada tipo de platéia.
Lembre-se, nunca faça uma apresentação sem conhecer essas informações básicas:
para quem você vai falar, o que esse público quer ouvir, quanto tempo você terá, se você
será o único orador, qual a ordem das apresentações, se haverá um período para perguntas
e respostas, se você vai falar durante uma refeição, o local da apresentação, que instrumentos
estarão à sua disposição (retroprojetor, computador com programa para fazer apresentações,
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televisão, vídeo, lousa, etc). Com isso em mente você evita cair em armadilhas e sente mais
segurança.
O SERMÃO/DISCURSO
Qualquer que seja o tipo de apresentação é necessário que tenha início, meio e fim.
O discurso pode ser dividido em três partes:
I. Introdução
II. Desenvolvimento
III. Conclusão
I. Introdução do Sermão/Discurso
A Introdução do Discurso é sua parte mais importante, pois nela se ganha ou se
perde a atenção dos ouvintes.
Três elementos compõem a Introdução
a. Fazer o Vocativo
b. Captar a Atenção
c. Preparar o Assunto Central
a. Fazer o Vocativo
Vocativo é uma expressão usada para chamar a atenção dos ouvintes colocando-
nos em evidência em relação ao auditório.
O vocativo demarca o início da fala indicando ao público que o discurso vai começar.
É o momento em que o auditório volta olhos e ouvidos ao orador. É o instante em que cada
ouvinte diz a si mesmo: “Vai começar”.
Exemplos de vocativos:
1. Caros amigos, irmão, irmãs
2. Senhoras e senhores
3. Brasileiras e brasileiros
4. Digníssimo senhor
5. Minha gente
6. Prezado auditório
b. Captar a Atenção
A receptividade do público tem relação direta com a feliz ou infeliz forma que o
orador escolher para captar a atenção. A primeira oração é o momento supremo da conciliação
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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de interesses entre o orador e o público. Um discurso bem começado abre todas as chances
de o orador conseguir seu objetivo.
Existem procedimentos que o orador deve usar para começar um discurso e outros
que ele não deve usar.
Alguns dos recursos sugeridos para captar a atenção são os seguintes:
1. Cite um fato surpreendente que cause impacto
2. Pergunte algo ao auditório
3. Saliente que o assunto beneficiará o ouvinte
4. Refira-se à ocasião ou à circunstância
5. Faça uma ilustração
6. Mostre que o assunto é importante
7. Comece com humor
8. Encene algo engenhoso
9. Faça uma citação adequada
10. Lisonjeie o público
c. Preparar o Assunto Central
Preparar o Assunto Central significa comunicar ao público qual será o assunto de
sua palestra. Você estará, de fato, esboçando um resumo do que vai dizer. O seu objetivo,
nesta parte, é fazer com que o público pense: “Ah! Estou sabendo o que ele vai dizer”.
Preparar o Assunto Central pode significar também criar expectativa em relação ao
Assunto Central, sem que, neste caso, o público perceba o que vem a seguir.
Sem perder de vista a importância da brevidade e da objetividade e para que o tema
penetre na mente do ouvinte, você pode utilizar-se de um ou mais dos seguintes recursos:
1. Explicar, através de uma ou duas orações curtas e precisas, o conteúdo do tema
a ser desenvolvido.
2. Enriquecer essa parte do discurso com uma narração, uma história, que facilite a
compreensão da próxima parte do discurso.
3. Fornecer ao auditório a informação de que o assunto central será dividido em
partes, esclarecendo quais serão estas partes.
De acordo com sua conveniência, os recursos acima podem ser excludentes ou não,
isto é, você poderá utilizar-se de um deles separadamente ou de um deles conjugado ao
outro.
O tempo da Introdução
O conjunto dos subitens da “Introdução”, sem ser regra fixa, ocupa geralmente 20%
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do tempo despendido no discurso.
O orador não deve ficar preso ao cumprimento invariável dessa distribuição do tempo.
Não existem leis ou regras que substituem a análise e decisão pessoal baseada no bom senso.
II. Desenvolvimento do Sermão/Discurso
O Desenvolvimento do Discurso é a parte na qual devem ser apresentados os
argumentos que confirmarão o assunto central e refutarão as posições contrárias a ele. Assim,
confirmar e refutar são as duas partes do Desenvolvimento do Discurso.
Confirmar
Confirmar um assunto é apresentar de forma lógica e concatenada os argumentos
que sustentam a idéia central do discurso. Confirmar é mostrar os pontos positivos de
determinado assunto.
A confirmação pode ser feita através de argumentos lógicos, testemunhos, citações,
circunstâncias, entre outros.
Refutar
Refutar não é polemizar. Refutar é responder as objeções que possam ser levantadas
pela audiência.
Há duas formas básicas de refutar: a negação e a defesa. A negação é demonstrar
que determinados fatos, idéias ou doutrinas, estão fundados em argumentos falsos ou
simplesmente inexistem. A defesa é mais positiva, pois trata de enfraquecer as bases ou
princípios sobre tal e qual fato, idéia ou doutrina se sustêm.
O tempo do desenvolvimento
O desenvolvimento ocupa, via de regra, 70% do total do tempo disponível para o
discurso. Porém, vale aqui, a mesma regra aplicada ao tempo da Introdução do Discurso,
isto é, somente uma avaliação conjunta do discurso poderá determinar o tempo do
desenvolvimento.
III. Conclusão do Sermão/Discurso
A Conclusão do Discurso nada mais é do que a repetição enfática da idéia central
do discurso e um resumo dos argumentos usados para sustentá-la.
Assim, pode-se concluir um discurso das seguintes maneiras:
1. Recapitular o assunto central e seus argumentos
2. Dizer uma frase forte e objetiva
3. Convidar o auditório a se posicionar em relação ao assunto
4. Desafiar o público a agir conforme a idéia apresentada
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O tempo da Conclusão
O tempo despendido na Conclusão deve girar em torno de 10% do total gasto no
Discurso. Nessa parte, a regra é mais rígida, pois se o orador não conseguir concluir nesse
tempo, provavelmente não conseguirá concluir em tempo algum.
Em todo caso seja breve. Não canse o seu público. Ele vai ficar inquieto, vai começar
a conversar, a levantar, e você vai ficar inseguro. O ex-presidente americano Lyndon Johnson
costumava recomendar: “Saiam sempre no auge da festa”. Com isso ele queria dizer que,
onde quer que esteja você deve parar de falar quando seus ouvintes esperam e desejam que
você continue.
Assim, a duração do discurso deve variar dependendo das circunstâncias, pois
ninguém vai guardar tudo o que você disser. Observe que em 1 hora de discurso só 50% vão
ser realmente ouvidos. São 30 minutos. Desses, só 50% serão realmente entendidos. São 15
minutos. Desses, as pessoas só vão acreditar em 50%. São 7,5 minutos. E desses só 50%
serão lembrados. São 3,75 minutos. Portanto, a maior parte do que você falar não será
compreendida. A concisão é uma grande virtude numa apresentação.
ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 06
TÉCNICAS PARA UMABOA ORATÓRIA
INTRODUÇÃO
“Falar em público está entre os maiores temores da humanidade. Como se pode
ver, não estamos sozinhos.”
O horror de ter que enfrentar uma platéia, seja de que tamanho for, tem sido o maior
fator de fracassos na vida profissional e pessoal de milhares de pessoas.
Esse medo paralisa as pessoas diante das grandes oportunidades que têm de mostrar
suas habilidades e seus conhecimentos, causando um prejuízo, não apenas pessoal e
profissional, mas, sobretudo, emocional, pois alguém que tenha desperdiçado uma única chance
de falar em público pode ter assinado sua sentença de permanecer no ostracismo social.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Você já passou por essa experiência? Tem medo de passar?
Não se desespere, pois o medo de falar em público é comum a todos nós. Ninguém
nasce um orador ou uma oradora, como diz Quintiliano: “Os poetas nascem, os oradores se
fazem.”
Dentre os fatores que geram medo, os psicólogos apontam o fato de que, o mais das
vezes, recebemos uma educação que gera essa situação de pavor de enfrentar um auditório.
A boa notícia, entretanto, é que existem técnicas eficientes para que possamos superar,
de forma eficaz, o medo de falar em público.
Assim, este curso se destina àquelas pessoas que desejam desenvolver suas
potencialidades de falar em público, sem medo e com correção.
FALAR EM PÚBLICO
“O medo de falar em público não pode ser extirpado, apenas controlado. E
nisso reside sua real força.”
É inútil tentar eliminar o medo de falar em público. Primeiro porque é impossível não
sentir aquele “friozinho” na barriga diante da platéia. Segundo porque é no controle e
direcionamento do medo que se pode canalizar o potencial emotivo de um discurso,
apresentação ou saudação.
Portanto, a melhor estratégia para manter sob controle o medo de falar em público
é conhecer as causas e os efeitos do medo.
Dicas para superar o medo de falar
Tendo estabelecido as prioridades em relação às suas capacidades, o passo
seguinte é iniciar o processo de superação do medo de falar em público.
As seguintes dicas de Reinaldo Polito devem servir de guia.
1. Saiba exatamente o que vai dizer no início, quase palavra por palavra, pois
neste momento estará ocorrendo maior liberação da adrenalina.
2. Leve sempre um roteiro escrito com os principais passos da apresentação,
mesmo que não precise dele. É só para dar mais segurança.
3. Se tiver que ler algum discurso ou mensagem, imprima o texto em um cartão
grosso ou cole a folha de papel numa cartolina, assim, se as suas mãos tremerem um
pouco o público não perceberá e você ficará mais tranqüilo.
4. Ao chegar diante do público não tenha pressa para começar. Respire o mais
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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tranqüilo que puder, acerte devagar a altura do microfone (sem demonstrar que age
assim de propósito), olhe para todos os lados da platéia e comece a falar mais lentamente
e com volume de voz mais baixo. Assim, não demonstrará a instabilidade emocional
para o público.
5. No início, quando o desconforto de ficar na frente do público é maior, se
houver uma mesa diretora, cumprimente cada um dos componentes com calma. Dessa
forma, ganhará tempo para superar os momentos iniciais tão difíceis. Se entre os
componentes da mesa estiver um conhecido aproveite também para fazer algum
comentário pessoal.
6. Antes de falar, quando já estiver no ambiente, não fique pensando no que vai
dizer, preste atenção no que as outras pessoas estão fazendo e tente se distrair um
pouco.
7. Antes da apresentação evite conversar com pessoas que o aborreçam, prefira
falar com gente mais simpática.
8. Antes de fazer sua apresentação, reúna os colegas de trabalho ou pessoas
próximas e treine várias vezes. Lembre-se de exercitar respostas para possíveis perguntas
ou objeções. Com esse cuidado não se surpreenderá diante do público.
9. Se der o branco, não se desespere. Repita a última frase para tentar lembrar a
seqüência. Se esse recurso falhar, diga aos ouvintes que mais a frente voltará ao assunto.
Se ainda assim não se lembrar, provavelmente ninguém irá cobrar por isso.
10. Todas essas recomendações ajudam no momento de falar, mas nada substitui
uma consistente preparação. Use sempre todo o tempo de que dispõe.
Não custa lembrar que não existe uma fórmula mágica para se falar em público.
Existem, sim, técnicas que uma vez dominadas nos ajudam a não apenas perder o medo de
falar em público, como também a falar bem e melhor.
Por isso, nada substitui o conhecimento dessas técnicas, sua utilização correta e
muito treino na sua aplicação. Sem esses requisitos não será possível aprender, aperfeiçoar
ou praticar a arte de falar em público.
Se encontrar um atalho para perder o medo de falar em público saiba que ele poderá
levá-lo exatamente no sentido contrário ao pretendido.
Portanto, resista às “fórmulas mágicas” que prometem fazê-lo perder o medo de
falar em público, pois são o “canto da sereia” no campo da oratória.
FALAR MELHOR
“Não é suficiente perder o medo de falar em público, é indispensável falar
melhor.”
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
A arte de falar em público exige o domínio de técnicas simples, mas eficazes. E é o
pleno domínio delas que fará a diferença entre a pessoa que fala em público e aquela que é
de fato uma oradora.
É Reinaldo Polito, novamente, que tem as melhores orientações neste sentido:
1. A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa comunicação
a. Se você cometer alguns erros técnicos durante uma apresentação em público,
mas comportar-se de maneira natural e espontânea tenha certeza de que os ouvintes ainda
poderão acreditar nas suas palavras e aceitar bem a mensagem.
b. Entretanto, se usar técnicas de comunicação, mas apresentar-se de forma artificial,
a platéia poderá duvidar das suas intenções.
c. A técnica será útil quando preservar suas características e respeitar seu estilo de
comunicação.
d. Apresentando-se com naturalidade, irá se sentir seguro confiante e suas
apresentações serão mais eficientes.
2. Não confie na memória - leve um roteiro como apoio
a. Algumas pessoas memorizam suas apresentações palavra por palavra imaginando
que assim se sentirão mais confiantes. A experiência demonstra que, de maneira geral, o
resultado acaba sendo muito diferente. Se você se esquecer de uma palavra importante na
ligação de duas idéias, talvez se sinta desestabilizado e inseguro para continuar. O pior é que
ao decorar uma apresentação você poderá não se preparar psicologicamente para falar de
improviso e ao não encontrar a informação de que necessita, ficará sem saber como contornar
o problema.
b. Use um roteiro com as principais etapas da exposição, e frases que contenham
idéias completas. Assim, diante da platéia, leia a frase e a seguir comente a informação,
ampliando, criticando, comparando, discutindo, até que essa parte da mensagem se esgote.
Depois, leia a próxima frase e faça outros comentários apropriados à nova informação,
estabeleça outras comparações, introduza observações diferentes até concluir essa etapa do
raciocínio.
c. Aja assim até encerrar a apresentação.
d. Uma grande vantagem desse recurso é que você se sentirá seguro por ter um
roteiro com toda a seqüência da apresentação, ao mesmo tempo em que terá a liberdade
para desenvolver o raciocínio diante do público.
e. Se a sua apresentação for mais simples poderá recorrer a um cartão de notas,
uma cartolina mais ou menos do tamanho da palma da mão, que deverá conter as palavras-
chave, números, datas, cifras, e todas as informações que possam mostrar a seqüência das
idéias.
f. Com esse recurso você bate os olhos nas palavras que estão no cartão e vai se
certificando que a seqüência planejada está sendo seguida.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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3. Use uma linguagem correta
a. Uma escorregadela na gramática aqui, outra ali, talvez não chegue a prejudicar
sua apresentação. Afinal, quem nunca comete erros gramaticais que atire a primeira pedra.
Entretanto, alguns erros grosseiros poderão prejudicar a sua imagem e a da instituição que
estiver representando.
b. Tenho relacionado alguns erros comuns cometidos até por aqueles que ocupam
posições hierárquicas importantes e sinto que as platéias que os ouvem duvidam da formação
e da competência de quem os comete.
c. Os mais graves são: “fazem tantos anos”, “menas”, “a nível de”, “somos em seis”,
“meia tola”, entre outros.
d. Mesmo que você tenha uma boa formação intelectual, sempre valerá a pena fazer
uma revisão gramatical, principalmente quanto à conjugação verbal e às concordâncias.
4. Saiba quem são os ouvintes
a. Se você fizer a mesma apresentação diante de platéias diferentes talvez até possa
ter sucesso, mas por acaso. A previsão, entretanto, é de que não atinja os objetivos
pretendidos.
b. Cada público possui características e expectativas próprias que precisam ser
consideradas em uma apresentação.
c. Procure saber qual é o nível intelectual das pessoas, até que ponto conhecem o
assunto e a faixa etária predominante dos ouvintes. Assim, poderá se preparar de maneira
mais conveniente e com maiores chances de se apresentar bem.
5. Tenha começo meio e fim
a. Guarde essa regrinha simples e muito útil para organizar uma apresentação: Anuncie
o que vai falar, fale e conte sobre o que falou.
b. Depois de cumprimentar os ouvintes e conquistá-los com elogios sinceros, ou
mostrando os benefícios da mensagem, conte qual o tema que irá abordar.
c. Ao anunciar qual o assunto que irá desenvolver, a platéia acompanhará seu
raciocínio com mais facilidade, porque saberá aonde deseja chegar.
d. Em seguida, transmita a mensagem, sempre facilitando o entendimento dos ouvintes.
Se, por exemplo, deseja apresentar a solução para um problema, diga antes qual é o problema.
Se pretender falar de uma informação atual, esclareça inicialmente como tudo ocorreu até
que a informação nova surgisse.
e. Use toda argumentação disponível: pesquisas, estatísticas, exemplos, comparações,
estudos técnicos e científicos, etc.
f. Se, eventualmente, perceber que os ouvintes apresentam algum tipo de resistência,
defenda os argumentos refutando essas objeções.
g. Finalmente, depois de expor os argumentos e defendê-los da resistência dos
ouvintes, diga qual foi o assunto abordado, para que a platéia possa guardar melhor a mensagem
principal.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
6. Tenha uma postura correta
a. Evite os excessos, inclusive das regras que orientam sobre postura.
b. Alguns, com o intuito de corrigir erros, partem para os extremos e condenam até
atitudes que, em determinadas circunstâncias, são naturais e corretas.
c. Assim, cuidado com o “não faça”, “não pode”, “está errado” e outras afirmações
semelhantes. Prefira seguir sugestões que dizem “evite”, “desaconselhável”, “não é
recomendável”, e outras que se pareçam com essas.
d. Portanto, evite apoiar-se apenas sobre uma das pernas e procure não deixá-las
muito abertas ou fechadas. É importante que se movimente diante dos ouvintes para que
realimentem a atenção, mas esteja certo de que o movimento tem algum objetivo, como por
exemplo, destacar uma informação, reconquistar parcela do auditório que está desatenta,
etc. Caso contrário é preferível que fique parado.
e. Cuidado com a falta de gestos, mas seja mais cauteloso ainda com o excesso de
gesticulação.
f. Procure falar olhando para todas as pessoas da platéia, girando o tronco e a
cabeça com calma, ora para a esquerda, ora para a direita, para valorizar e prestigiar a
presença dos ouvintes, saber como se comportam diante da exposição e dar maleabilidade
ao corpo, proporcionando, assim, uma postura mais natural.
g. O semblante é um dos aspectos mais importantes da expressão corporal, por isso
dê atenção especial a ele. Verifique se ele está expressivo e coerente com o sentimento
transmitido pelas palavras. Por exemplo, não demonstre tristeza quando falar em alegria.
h. Evite falar com as mãos nos bolsos, com os braços cruzados ou nas costas. Também
não é recomendável ficar esfregando as mãos, principalmente no início, para não passar a
idéia de que está inseguro ou hesitante.
7. Seja bem-humorado
a. Nenhum estudo comprovou que o bom-humor consegue convencer ou persuadir
os ouvintes. Se isso ocorresse os humoristas seriam sempre irresistíveis. Entretanto, é óbvio
que um orador bem-humorado consegue manter a atenção dos ouvintes com mais facilidade.
b. Se o assunto permitir e o ambiente for favorável, use sua presença de espírito
para tornar a apresentação mais leve, descontraída e interessante.
c. Cuidado, entretanto, para não exagerar, pois o orador que fica o tempo todo
fazendo gracinhas pode perder a credibilidade.
8. Prepare-se para falar
a. Assim como você não iria para a guerra municiado apenas com balas suficientes
para acertar o número exato de inimigos entrincheirados, também para falar não deverá se
abastecer com conteúdo que atenda apenas ao tempo determinado para a apresentação.
Saiba o máximo que puder sobre a matéria que irá expor, isto é, se tiver de falar 15 minutos,
saiba o suficiente para discorrer pelo menos 30 minutos.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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b. Não se contente apenas em se preparar sobre o conteúdo, treine também a forma
de exposição. Faça exercícios falando sozinho na frente do espelho, ou se tiver condições,
diante de uma câmera de vídeo. Atenção para essa dica - embora esse treinamento sugerido
dê fluência e ritmo à apresentação, de maneira geral, não dá naturalidade. Para que a fala
atinja bom nível de espontaneidade fale com pessoas. Reúna um grupo de amigos, familiares
ou colegas de trabalho, ou de classe, e converse bastante sobre o assunto que irá expor.
c. Acredite, se conseguir falar de maneira semelhante na frente da platéia será um
sucesso.
9. Use recursos audiovisuais
a. Esse estudo é impressionante - se apresentar a mensagem apenas verbalmente,
depois de três dias os ouvintes irão se lembrar de 10% do que falou. Se, entretanto, expuser
o assunto verbalmente, mas com auxílio de um recurso visual, depois do mesmo período, as
pessoas se lembrarão de 65% do que foi transmitido. Mais uma vez, tome cuidado com os
excessos. Nada de Power Point acompanhado de brecadinhas de carro, barulhinhos de
máquina de escrever, e outros ruídos que deixaram de ser novidade há muito tempo e por
isso podem vulgarizar a apresentação.
b. Um bom visual deverá atender a três grandes objetivos: destacar as informações
importantes, facilitar o acompanhamento do raciocínio e fazer com que os ouvintes se lembrem
das informações por tempo mais prolongado. Portanto, não use o visual como “colinha”, só
porque é bonito, para impressionar, ou porque todo mundo usa. Observe sempre se o seu
uso é mesmo necessário.
c. Faça visuais com letras de um tamanho que todos possam ler.
d. Projete apenas a essência da mensagem em poucas palavras.
e. Apresente números em forma de gráficos.
f. Use cores contrastantes, mas sem excesso.
g. Posicione o aparelho de projeção e a tela em local que possibilite a visualização
da platéia e facilite sua movimentação.
h. Evite excesso de aparelhos. Quanto mais aparelhos e mais botões maiores as
chances de aparecerem problemas.
10. Fale com emoção
a. Fale sempre com energia, entusiasmo, emoção. Se nós não demonstrarmos
interesse e envolvimento pelo assunto que estamos abordando, como é que poderemos
pretender que os ouvintes se interessem pela mensagem?
b. A emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos
ouvintes.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
FALAR BEM
“Além de falar melhor é imprescindível falar bem.”
Imagine um discurso pronunciado num mesmo tom de voz, no mesmo volume.
Com muita probabilidade o auditório logo se desinteressará e o orador estará em sérias
dificuldades para veicular sua mensagem.
Para falar em público e falar bem é necessário utilizar-se de todos os recursos
disponíveis. Aqui se trata particularmente dos dotes pessoais de cada estudante, isto é, da
voz, dos gestos, da postura, da aparência, entre outros.
Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, mostra que apenas 7% do
impacto provocado no público vêm da parte verbal da apresentação. Os maiores impactos
vêm da voz (38%) e da linguagem corporal (55%). O que não quer dizer que você não deva
dar máxima atenção ao conteúdo, que é a razão de ser de qualquer apresentação.
Voz
A utilização adequada da voz é uma arma poderosa na comunicação.
Há pessoas que falam muito devagar, outras que têm dicção ruim ou falam de forma
linear ou, ainda, com volume muito baixo.
A questão é simples: como posso esperar, de fato, que alguém me compreenda ou
preste atenção no que digo se nem sequer consegue entender o que estou dizendo?
Como usar bem a voz
O tom e o volume da voz são pontos cruciais em uma apresentação.
Entender como o sistema vocal funciona - e como se pode controlá-lo para manipular
o som da voz - é parte essencial do preparo para uma apresentação de sucesso.
O som é produzido quando o ar passa pelas cordas vocais, fazendo-as vibrar. Assim,
o primeiro requisito para se falar com clareza é o bom suprimento de ar para os pulmões.
Você pode melhorar a captação de ar por meio de um exercício muito simples de respiração:
INSPIRAÇÃO - Inspirar devagar e profundamente o ar pelo nariz, até sentir o abdome
expandir. Segure a respiração até não poder mais.
EXPIRAÇÃO - expirar o ar pela boca o mais profundamente possível, forçando
todo o ar para fora à medida que o abdome se contrai.
O segundo requisito é uma laringe em boas condições, pois nela estão abrigadas as
cordas vocais. Faça um esforço para descansar sua laringe um dia antes de sua apresentação,
falando menos que o normal.
Entonação e altura
Como em português a única diferença entre uma pergunta e uma afirmação é a
entonação da frase, uma afirmação do tipo “a margem de lucro deve ser aumentada” pode
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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ser tomada por pergunta se a entonação subir nas sílabas finais. Para transmitir a mensagem
correta, sempre use cuidadosamente a entonação e a altura da voz. A platéia deve entender
o sentido exato de suas palavras.
Velocidade
Variar a velocidade da apresentação manterá a platéia interessada, mas você deve
evitar acelerações e reduções a troco de nada.
Lembre-se de dar uma pausa entre os tópicos principais e aproveitar para fazer um
contato visual com a platéia. Isso também lhe dará a oportunidade de medir as reações à sua
apresentação. Entre uma etapa e outra da palestra, fale devagar e enfaticamente, para destacar
as passagens importantes.
Dicção
Pronunciar bem as palavras, desde que com naturalidade, deve ser um anseio de
todas as pessoas. Quanto melhor for a dicção, mais facilmente os ouvintes compreenderão a
mensagem e maior será a demonstração de preparo, já que se deduz, pela maneira correta
de dizer as palavras, tratar-se de alguém que teve boa formação, boa educação e, portanto,
tem mais autoridade para abordar o assunto que expõe.
Para quem fala rápido, essa preocupação deve ser redobrada, pois, se pronunciar
muito bem as palavras, mesmo falando depressa, os ouvintes ainda assim poderão compreender
a mensagem.
Para aprender a pronunciar bem as palavras e melhorar a dicção, é possível contar
com a ajuda de um fonoaudiólogo. Entretanto, se, por algum motivo, não puder recorrer a
seu auxílio, comece fazendo exercícios de leitura em voz alta.
Dicas
1. Chupe uma bala de menta ou de mel antes da apresentação.
2. Se possível, faça exercícios para melhorar a profundidade de sua respiração.
3. Treine mudar a entonação de algumas frases.
Corpo
Cerca de dois terço da comunicação humana é não-verbal, transmitida por meio de
gestos das mãos, expressões faciais ou outras formas de linguagem.
Curiosamente, a expressão corporal assume até mais importância do que a voz e,
em alguns casos, do que o próprio conteúdo. Medo de olhar nos olhos, expressão facial
incongruente com o conteúdo, aparência mal cuidada, ausência de gestos ou excessiva
gesticulação, bem como posturas inadequadas são suficientes para tirarem o brilho de um
processo de comunicação.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Postura
A boa imagem corporal começa com a postura - o modo como você se posiciona.
A melhor postura para começar uma apresentação é a ereta, com os pés ligeiramente
afastados e o peso do corpo divido entre eles. Os braços devem estar relaxados e soltos ao
lado do corpo. Essa é a postura mais reservada e transmite neutralidade. Você pode partir
disso e criar impressões diferentes se entender os modos como as posturas são interpretadas.
Curvar-se ligeiramente para frente, por exemplo, parece positivo e amigável - como se você
estivesse envolvendo e encorajando a platéia. Curvar-se para trás, no entanto, tende a parecer
negativo e até mesmo agressivo.
Os músculos do seu corpo existem para manter o esqueleto em posição vertical. Se
você os utiliza corretamente, sua linguagem corporal vai dizer: “Eu sou uma pessoa segura e
equilibrada”.
Se você deixar os músculos relaxados demais, parecerá desleixo. Para melhorar a
postura, pratique ficar em posição vertical até que você esteja seguro de que pareça
absolutamente natural, como se essa fosse sua posição habitualmente. Imagine que você é
mais alto, ou que está sendo gentilmente puxado para cima por um fio para ajudá-lo a manter
a posição.
Dicas
1. Certifique-se de que sua linguagem corporal reflite o que está sendo dito.
2. Aprenda a relaxar os músculos faciais - e sorria.
3. Sempre calce sapatos confortáveis.
4. Não permita que o cabelo caia sobre o seu rosto.
5. Mantenha uma postura “aberta” o tempo todo, evitando cruzar os braços ou
criar uma barreira entre você e a platéia.
6. Se você estiver relaxado, sua linguagem corporal reforçará a mensagem com
naturalidade e os gestos apropriados ajudarão a disfarçar o nervosismo.
Olhos nos olhos
O contato com os olhos é uma ferramenta poderosa que estabelece uma certa
intimidade entre as pessoas. É importante criar essa intimidade em uma apresentação. Faça
uma “varredura” da platéia com olhar, lembrando de incluir as pessoas que sentam no fundo
e nas laterais, assim como as da frente. Embora seja tentador olhar com mais freqüência para
as pessoas que se demonstrem entusiasmadas e interessadas, não negligencie os que parecem
negativos ou neutros.
Dicas
1. No primeiro contato, olhe nos olhos de alguém que você imagina ser amigável.
2. Olhe direto nos olhos de alguém da platéia sempre que puder.
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Gestos
Platéias grandes vêem as coisas de um jeito, platéias pequenas vêem de outro. Por
isso, a gesticulação deve mudar de acordo com o tamanho da platéia. Grandes públicos
requerem movimentos exagerados para que se atinja o mesmo efeito visual conseguido com
gestos “normais” para um grupo pequeno. Por exemplo, um gesto que aponte dois itens
precisa começar no ombro em vez de partir do cotovelo para ter o impacto visual certo com
uma platéia grande. Embora gesticular com exagero possa à primeira vista parecer
inconveniente, para o público será natural.
Dicas
1. Utilize gestos de mãos para dar ênfase.
2. Não gesticule tanto que suas mãos se tornem uma distração.
3. Pronuncie bem as palavras - sem exagero.
4. Fale com boa intensidade - nem alto nem baixo demais - sempre de acordo
com o ambiente.
5. Fale com boa velocidade - nem rápido nem lento demais.
6. Fale com bom ritmo, alternando a altura e a velocidade da fala para manter
aceso o interesse dos ouvintes.
7. Tenha postura física correta.
8. Fale com emoção - demonstre interesse e envolvimento pelo assunto.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 07
EXERCÍCIOS DE ORATÓRIA
“Treine, treine, treine. A prática leva à perfeição. Portanto, treine.”
Os exercícios desta seção têm como alvo a aplicação das técnicas estudadas ao
longo do curso.
ENTONAÇÃO
Leia as poesias a seguir e procure dar a entonação que lhe pareça mais apropriada
à emoção ou sentimento que o poema quer transmitir.
Um Sopro de Vida
Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou sabe. Perigo de mexer no
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
que está oculto – e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em
profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que
existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue.
Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem
outras – quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.”
Clarice Lispector
Predileção
Prefiro, do fosso abissal oceânico, o frescor
à brisa do árido deserto, a tépida mornidão.
Prefiro, do cálido cadinho, o crisol abrasador
à sombra oblíqua do oásis, miragem e ilusão.
Prefiro, do furacão, a devastadora virulência
ao vento brando das tardes moles de verão.
Prefiro, do tufão, a arrasadora turbulência
ao bafejar propício, do dia findo, a viração.
Prefiro, do trovão, o ribombar ensurdecedor
ao silêncio inquietante, a mudez da cerração.
Prefiro, do relâmpago, o clarão ameaçador
à paz embaçada e melancólica da escuridão.
Prefiro, do mar, o furor espumante e revolto
à serena calma da enseada, quieta retenção.
Prefiro, da rota, a devira das amarras solto
ao rumo certo da bússola, o tino da direção.
Prefiro, da montanha, oura vertigem da altura
ao equilíbrio monótono, da planície a proteção.
Prefiro, da senda, o risco incerto da aventura
ao caminho traçado, da cartografia a exatidão.
Prefiro, em tudo, a liberdade cupida, seu amor
ao sombrio calabouço da indiferente reclusão.
Prefiro, em tudo, o êxtase, da paixão, o ardor
à frieza inerte do ostracismo, cela da solidão.
José Roberto Cristofani - In: Poemas
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Ênfase
Escolha um dos seguintes pensamentos abaixo e treine a ênfase em uma de suas
partes, por exemplo:
O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que
comete um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio
O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que comete
um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio
O que destrói a criatividade das pessoas é o senso do ridículo. Aquele que comete
um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. Confúcio
Algumas pessoas começam a falar um momento antes de pensar. Não importa o
número de vezes que se tenha caído, o importante é saber quantas vezes conseguiu
levantar. A vitória sempre foi de quem nunca duvidou dela.
Raul Follerean
O homem comum se adapta ao mundo, o homem fora do comum persiste em
fazer o mundo adaptar-se a ele, portanto, o sucesso depende de homens fora do comum.
George Bernard Shaw
Aqueles que se sentem satisfeitos, sentam e nada fazem, os insatisfeitos são os
únicos propulsores do mundo.
Walter Savage Landor
O melhor educador é aquele que conseguiu educar-se a si mesmo.
Sabedoria Oriental
O caminho mais curto para o sucesso, é sempre tentar mais uma vez.
Thomas Edson
O homem que sabe o que quer, já percorreu um longo caminho. Prefiro a angústia
da busca, do que a paz da acomodação.
Dom Resende Costa
Encontra o sucesso quem acredita nos seus sonhos e se empenha para transformá-
los em realidade. Os únicos limites do homem são: o tamanho das suas idéias e o grau
da sua dedicação.
F. Veiga
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Uma das causas do fracasso na vida é deixar para amanhã o que se pode fazer
hoje, e depois fazê-lo apressadamente.
Sabedoria Oriental
Velocidade
Leia o texto abaixo alternando a velocidade da fala conforme as exigências das frases.
A Virulência do Amor (excertos)
A virulência das ondas açoitadas pelos ventos numa visceral tempestade, tenta ser
contida pelos anseios de um fogo abrasador que se nega a ser domesticado. Estabelece-se,
assim, uma luta titânica que opõe o corpo e a alma, o espírito e a razão, devassa a ternura,
arrasa a emoção, cala a voz e, simultaneamente, pede para gritar, para amar, para,
apaixonando-se, entregar-se à solidão, aos passos lentos, às comportas...
Iça as velas, desfralda os panos e não quer o vento. Arrisca-se no mar e não suporta
o bater violento das ondas.
Mas qual mistério é mais profundo que o navegar sob torrencial chuva empunhando
um archote inflamado? Qual coração teria que sucumbir à benfazeja virulência do que chamam
amor? Quanto tempo seria necessário até que houvesse um conluio entre duas substâncias
tão opostas, tão destruidoras e autodestruidoras? O fogo, com fogo se combate? A água,
qual elemento pode retê-la? Ou seria possível colocar ambas as substâncias juntas sem o
risco de que uma devorasse a outra?
José Roberto Cristofani - Escritos Inéditos
Volume
Leia o trecho a seguir variando o volume de maneira mais adequada possível.
A Virulência do Amor (excertos)
Cobra-se do amor que ele seja paciente, compreensivo, tolerante, que supere todos
os obstáculos, que seja perdoador, longânimo e que tenha todas as qualidades e nenhum
defeito. Isso sim é idealização do amor, visto que não leva em conta quem ama. O portador
do amor é, por natureza, uma pessoa frágil, inconstante, incoerente, contraditória, vulgar,
carente, triste e alegre, cheia de desejos, ambições, pecados, erros, limites, defeitos. Sim,
pois é humano, é ser em construção em busca da superação de todas as mazelas inerentes
aos seres verdadeiramente humanos. Mesmo os poetas, categoria execrada pelos ditames
sociais, são humanos, talvez, os mais miseráveis deles, pois insistem em ver brilho nos olhos
daquelas pessoas que a dita realidade apagou. Por procurar enxergar um oásis paradisíaco
onde outros só vêem deserto abrasador. Os poetas, nem sei por que em nome deles argumento,
teimam em achar um oceano onde as pessoas comuns só podem encontrar uma torneira que
jorra minguadas gotas. Sim, o coração do poeta tem olhos que ultrapassam em visão medíocre
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
75
dos perfeitos mortais. Olha com carinho e simplicidade o mundo que o rodeia e tenta, em
vão, emprestar seus olhos para outros seres humanos afim de que possam vislumbrar além
das aparências, além do véu que tolda as mentes mesquinhas e condicionadas a ver somente
a ilusória, hipócrita e falsa realidade. Eles, os seres humanos perfeitos, chamam isso de
realidade. Quem dera fosse uma realidade menos morta, menos sem brilho, sem sonhos, sem
ilusão. Mas para quê? Para que destruam também isso? Não, não é possível, para alguém
que sabe que o amor é mais que um sentimento e ilusão, não é possível comungar com esse
estado de coisas.
Por isso a idealização do amor (perdoador, compreensivo, tolerante, superador de
todas as dificuldades, etc...) é bem mais ilusório que a própria realidade de quem ama, pois
quem ama tem na construção de seu ser uma inquietude permanente que não é boa ou má por
si, mas que se entende como limitado, imperfeito, incompleto, como humano, enfim!
José Roberto Cristofani - Escritos Inéditos
Agradecimentos
Sra. Presidente, agradecemos ao Sr. Secretário de Fazenda, Dr. Fernando Lopes,
ao mais novo Secretário de Estado e Controle, Dr. João Paulo de Andrade, e também
ao Dr. José Henrique Lacerda, Subsecretário Adjunto do Tesouro Estadual, que hoje
compareceram, às 10 horas da manhã, à Audiência Pública na Comissão de Orçamento,
Finanças, Tributação, Fiscalização Financeira e Controle. Muito obrigado.
André Luiz (03/05/2001)
Eu agradeço ao Deputado André Ceciliano, que tem tido atuação extraordinária
nesta Casa, essa concessão. Não sabemos se torcemos para que V. Exa. seja eleito Prefeito,
ou para que continue aqui.
Quero registrar que ontem foi o 122º aniversário do jornal O Fluminense. Fui
pessoalmente, hoje, levar o meu abraço ao diretor-presidente, Dr. Alexandre. Tivemos a
oportunidade de falar do interior do nosso Estado e do Estado como um todo. Esse continua
sendo um jornal importante para o nosso Estado, que pode nos ajudar a alavancar o
desenvolvimento do interior do Estado, tão abandonado nos últimos anos.
Quero também aproveitar a oportunidade para agradecer aos Srs. Deputados a
aprovação do nosso Projeto, que vai estimular a organização de cooperativas nos
municípios, com parceria das comunidades, prefeituras e Governo do Estado. Com
certeza, colheremos bons frutos. Em razão disso, agradeço aos Srs. Deputados por essa
aprovação. Muito obrigado.
Nilton Salomão (09/05/2000)
1. Agradecer a uma homenagem que recebeu, por ocasião do dia do Estudante, feita
por uma Igreja.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Convite
Sr. Presidente, eu gostaria de convidar V. Exª, Senador Jader Barbalho, as Srªs e os
Srs. Senadores para a exposição “Êxodos”, que será apresentada pelo fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado, às 18 horas e 30 minutos, no Salão Negro do Senado Federal. Aqui,
abordará a parte da exposição “Êxodos” sobre as crianças, e, no Espaço Venâncio, aqui em
Brasília, outros aspectos.
Trata-se de uma exposição comovedora, uma história perturbadora, pois poucas
pessoas abandonam a terra natal por vontade própria. Em geral, elas se tornam migrantes,
refugiadas ou exiladas, constrangidas por forças que não têm como controlar, fugindo da
pobreza, da repressão ou das guerras. Partem com os pertencem que conseguem carregar,
avançam como podem a bordo de frágeis embarcações, espremidas em trens e caminhões, a
pé. Viajam sozinhas, com as famílias ou em grupos. Algumas sabem para onde estão indo,
confiantes de que as espera uma vida melhor; outras estão simplesmente em fuga, aliviadas
por estarem vivas. Muitas não conseguirão chegar a lugar nenhum.
Sebastião Salgado, nesta exposição, demonstra extraordinária sensibilidade e
capacidade. Mostra o que ocorre num dos maiores divisores de fronteiras, entre os Estados
Unidos e o restante da América Latina -, por exemplo, um muro eletrificado, onde tantas
pessoas têm morrido; latino-americanos, mexicanos e outros que têm tido a vontade de obter
um lugar ao sol na América do Norte, mas que muitas vezes não conseguem; pessoas que,
nos cinco continentes, têm tido dificuldades para encontrar o direito à vida com dignidade.
Sr. Presidente, apresentamos o requerimento aqui já aprovado na tarde de hoje,
consignando um voto de louvor e congratulações ao fotógrafo reconhecido internacionalmente,
Sebastião Salgado, pela sua vida de trabalho na divulgação da condição humana. O seu
trabalho está dividido em quatro capítulos - “Migrantes e refugiados: o instinto da
sobrevivência”; “A tragédia africana: um continente à deriva”; “A América Latina: êxodo rural,
desordem urbana”; e “Ásia: a nova face urbana do mundo”. Afirmando não ser juiz para
julgar o que é bom ou ruim, o fotógrafo só quer, segundo suas palavras, “provocar um debate
sobre a condição humana do ponto de vista dos povos em êxodo de todo o mundo. Minhas
fotografias são um vetor entre o que acontece no mundo e as pessoas que não têm como
presenciar o que acontece. Espero que a pessoa que entrar numa exposição minha não saia
a mesma.”
Sebastião Salgado tem tido a colaboração de sua esposa, Lélia Wanick Salgado,
que é organizadora de seus livros e exposições.
Convidamos todos para essa homenagem.
Solicito, Sr. Presidente, que seja registrada na íntegra a justificativa do
requerimento. Muito obrigado.
Eduardo Suplicy (Senado Federal - 04/04/2001)
1. Fazer um convite de formatura para os familiares e os amigos.
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Saudação
Sr. Presidente, Senador Edison Lobão; Srªs e Srs. Senadores, tenho a satisfação de
registrar a presença aqui entre nós de alguns membros do Congresso Nacional da África do
Sul, o Sr. E. Saloojee, o Sr. M.T. Masutha, a Srª P.W. Cupido, a Srª I. Mars e o Sr. AZA van
Jaarsveld, que estão em visita ao Congresso Nacional brasileiro.
Queremos aproveitar para registrar os laços de amizade que unem o povo brasileiro
e os membros do Congresso Nacional do Brasil à África do Sul e a importância de estarmos
interagindo. S. Exªs estão aqui sobretudo para estudar o sistema previdenciário e os programas
sociais brasileiros. Quero, portanto, registrar as nossas boas-vindas a S. Exªs.
Sr. Presidente, eu gostaria ainda de me inscrever, se houver oportunidade, para,
na hora adequada, fazer uma comunicação inadiável. Muito obrigado. Eduardo Suplicy
(Senado Federal - 21/03/2001)
1. Fazer uma saudação a um/a pregador/a convidado/a.
Discurso
A REVOLUÇÃO, suas ORIGENS e seu PROGRAMA
“O programa da Revolução reflete o espírito que a inspirou e traça o caminho para
o ressurgimento do Brasil: institui o aumento da produção nacional, sangrada por impostos
que a estiolam; estabelece a organização do trabalho deixada ao desamparo pela inércia ou
pela ignorância dos governantes; exige a moralidade administrativa, conculcada pelo sibaritismo
dos políticos gozadores; impõe a invulnerabilidade da justiça, maculada pela peita do
favoristismo; modifica o regime representativo, com a aplicação de leis eleitorais previdentes,
extirpando as oligarquias políticas e estabelecendo, ainda, a representação por classes em
vez do velho sistema da representação individual, tão falho como expressão da vontade
popular; assegura a transformação do capital humano como máquina, aperfeiçoando-o para
produzir mais e melhor; restitui ao elemento homem a saúde do corpo e a consciência da sua
valia, pelo saneamento e pela educação e restabelece, finalmente, o pleno gozo das liberdades
públicas e privadas, sob a égide da lei e a garantia da justiça.
Em rápida síntese, eis os lineamentos da obra que o Governo Provisório, com a
colaboração eficiente de todos os bons brasileiros, pretende levar a efeito, usando de
poderes discricionários e tendo em vista, exclusivamente, reintegrar o país na posse de
si mesmo.” Getúlio Vargas (discurso pronunciado no banquete oferecido pelas classes
armadas em 2 de Janeiro, 1931)
1. Fazer um discurso sobre o seu plano de ministério para uma Igreja local.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
ATIVIDADESAs atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Sala Virtual - Atividades”. Após respondê-las, enviem-nas por meio do Portfólio-
ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas,
utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Aula 08
DICAS GERAIS E AVALIAÇÃO
“Somente a auto-análise poderá indicar o nível de aprendizagem.”
CONTROLE EMOCIONAL
Para dominar os nervos de forma eficiente, você precisa ser capaz de prever e
identificar os sinais de nervosismo que geralmente o afetam. Há muitos sintomas. Um dos
mais comuns é a sensação de ter um “nó no estômago”. Outros sinais incluem: secura na
boca, aparecimento de um tique no canto de um olho, mãos trêmulas, palmas suadas,
desconforto com cabelo e roupas, vontade de andar de um lado para o outro e tensão
generalizada em várias partes do corpo. Cada pessoa reage de forma diferente e é comum a
ocorrência de mais de um sintoma por vez.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Esteja atento para esses sintomas e previna-se. É importante que você mesmo
mantenha o devido controle emocional.
MINIMIZANDO AS TENSÕES
Quando você está nervoso, seus músculos ficam tensos. Isso acontece porque o
corpo está preparado para “matar ou morrer”, o instinto primário diante de qualquer perigo.
Exercícios simples podem ajudar a eliminar essa tensão.
A crescente tensão em seus músculos pode causar alguns efeitos indesejáveis durante
uma apresentação. A tensão muscular tende a prejudicar sua postura ao derrubar os ombros
e fazê-lo aparentar posição defensiva. Ela também pode inibir o funcionamento regular da
laringe, dando à voz aquele conhecido tremor identificado como nervosismo. Ficar tenso por
qualquer período de tempo, além de cansativo, pode diminuir o impacto da sua apresentação.
Exercícios simples podem ajudá-lo a reduzir a tensão e ganhar mais controle sobre seu corpo.
Por exemplo, pressão na nuca; alongamento do corpo; alongamento da espinha, entre outros.
Dicas
1. Estique-se e imagine ser mais alto do que realmente é.
2. Tente relaxar em posição ereta por 10 minutos sem se mover.
3. Force os cotovelos para trás.
CONTROLANDO O MEDO
Para fazer uma apresentação forte e eficiente você deve estar relaxado de antemão.
Mesmo que não esteja tenso, tente achar um local silencioso para juntar as idéias e relaxar
cerca de 30 minutos antes de se apresentar. Se você sabe que tem tendência a ficar nervoso,
tente rir dessa sensação - logo ela será familiar e você deve recebê-la como “velha amiga”.
Reflita sobre seu pequeno ataque de nervos e o rebatize como “expectativa”.
Dicas
1. Escreva uma lista de fatores ligados à palestra que o deixam nervoso.
2. Sorria apenas quando for espontâneo. Um sorriso forçado sempre soa falso.
3. Imagine-se fazendo um discurso de alta qualidade.
4. Use um pouco de sua “energia nervosa” para dar vida ao seu discurso.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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PREPARO X MEDO
Um dos maiores motivos do nervosismo é o medo de que algo dê errado durante a
apresentação. Ao reduzir as chances de isso ocorrer, você pode minimizar o medo e sair da
“beira de ataque de nervos”. O segredo é se preparar minuciosamente e não dar chance para
o azar.
Toda vez que você pensar em algo que gostaria de checar novamente, tome nota.
Acostume-se a usar uma lista de checagem sempre que você se prepara para fazer uma
apresentação.
Dicas
1. As páginas do roteiro ou das notas devem estar numeradas, para o caso de
caírem no chão.
2. Os recursos audiovisuais devem alcançar também o fundo do auditório.
3. Todos os equipamentos elétricos devem estar funcionando satisfatoriamente.
MOTIVAÇÃO E AUTO-ESTIMA
Motivação e auto-estima são aspectos importantes da comunicabilidade de uma
pessoa, a energia que flui sutilmente através da sua voz e do seu corpo, das palavras e da sua
postura, dos gestos e do olhar. É a expressão do seu otimismo ou pessimismo, da agressividade
ou suavidade, do nível da sua auto-estima. É a comunicação invisível, mas presente, percebida
pelos sentidos. Quão agradável é a energia que flui de pessoas otimistas, bem humoradas,
felizes, que diante das adversidades da vida encontram desafios que serão superados.
Cabe ressaltar, ainda, a sutileza da comunicação das pessoas que têm bondade no
coração, a gentileza nos gestos, beleza e doçura nas palavras.
Sensualidade, alinhamento e graça permeiam seus movimentos. Uma nobreza natural
flui silenciosa e discretamente em suas ações; há uma segurança pessoal apoiada na humildade;
uma reverência, um senso de humor mesclado com a consciência do sagrado. Essas são as
pessoas que fazem mais do que se comunicar, irradiam luz e brilho pessoal.
BONS HÁBITOS
A pregação não é apenas o sermão: é também o pregador. Alguns maus hábitos
podem comprometer o sermão. O pregador deve tomar cuidado para evitar tais costumes e
maneirismo.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
• Postura ereta. Não se deite sobre o púlpito nem se acorcunde.
• Cuidado com a aparência: O uso de óculos escuros em recinto fechado e à noite, é
triste. O pregador descabelado, com barba por fazer, colarinho virado, sapatos enlameados.
• Cultive o idioma: A pregação é comunicação oral. Conheça pelo menos o seu idioma.
É sua ferramenta
• Cuidado com regionalismo: “Botão, mucidade, cruis de Jesuis, dolze, irrael, etc”.
• Use seu próprio estilo: Seja você mesmo. Não copie.
• Fale toda a palavra: Não engula os “r” e os “s” não engula as sílabas finais. Evite as
sujeições “eles tão” ao invés de “eles estão”.
• Aprenda a ler: Pratique a pontuação correta, dê entonação, viva os diálogos do
texto.
• Fale às pessoas: Olhe para elas. Paredes, bancos, teto e chão não se convertem
nem aprendem. Nunca olhe para uma só pessoa, ainda que sinta algo diferente (de Deus) ao
olhar para essa pessoa. Lembre-se que você está pregando para todos.
• Fale com o corpo: Use expressão facial condizente. Evite a “cara de mau”. Use
ambas as mãos. Não oscile o corpo para trás e para frente. Tampouco se levante
constantemente na ponta dos pés. Evite o dedo indicador apontando para o ouvinte.
• Module a voz: Deve ser de acordo com o ambiente. Não é o grito. É a consistência
e convicção.
• Evite os vícios de linguagem: - “né”, “intão”, “é interessante notar”, “aí”, etc
• Evite chavões: Como acompanhar um sermão de 30 minutos com mais de 60
“aleluias” e “glórias a Deus?”
• Ao contar um testemunho não detalhe muito, ou então escreva um livro.
• Nunca “vença” o povo pelo cansaço. Não obrigue o povo a dar glória ou aleluia só
para satisfazer teu ego, ou para ter sensação que a tua prédica tem resultado.
• Faça o que lhe foi pedido para fazer, não invente nada.
• Não fique estático, você não é uma múmia; não fique pulando tanto, pois não é um
palhaço. A comédia tem sua hora e se for bem colocada pode até ajudar a compreensão dos
ouvintes e evitar o cansaço.
• Observe se está sendo ouvido; ser ouvido é uma coisa sendo entendido é outra.
• Nunca preencha lacunas com “amém” , “né”, ou coisa assim.
• Não pronuncie palavras feias, de baixo calão, ridículas ou indecorosas. Treine seu
vocabulário.
• Antes de iniciar, enquanto assentado no púlpito, não fique conversando com os
colegas de lado e nem escorando de um lado para o outro ou pernas abertas e, nem limpar as
narinas (isso deve ser feito em oculto, no banheiro ou secretaria). Púlpito é exemplo de
elegância e comportamento social, além de ser um lugar santo e de reverência.
• Púlpito é lugar de se pregar a Palavra de Deus, então pregue como se Deus estivesse
em seu lugar.
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
83
• O seu próximo pode ser o seu espelho. É observando que se aprende. Tenha um
espírito de crítica construtiva, e permita que o critiquem.
• Cuidado com as ondas e modismo de outros pregadores, antes de copiá-las, analise-
as pela Palavra de Deus e os costumes gerais.
• Aprenda ética ministerial para que saibas o teu limite.
• Cuidado com aqueles que gostam de dizer: “Deus falou para mim....”
• Cuidado para não dizer algo que machuque seus companheiros que estão na sua
retaguarda, afinal o pastor local, seus obreiros, é que ficam anos e anos ali enchendo o
templo para você ir lá pregar; portanto não estrague com 45 minutos o trabalho de meses ou
anos. (ousadia não é estupidez)
• Não pense que porque está ali no púlpito você é melhor que todos os obreiros
locais ou da região.
AUTO-AVALIAÇÃO
A auto-avaliação é parte essencial do processo de aquisição de conhecimentos.
Somente a partir dela é que se poderá estabelecer as prioridades da prática.
Seguem algumas avaliações para nortear a busca de aperfeiçoamento.
Avaliação do desempenho (Reinaldo Polito)
1. Como você se sente ao falar em público
( ) natural, sem tensões
( ) tenso, mas com o controle da situação
( ) muito tenso, com dificuldade para lidar eficientemente com a situação
2. Ao ser convidado para falar em público
( ) você prepara sua fala, seguindo um esquema seu, independentemente do público
que vai ouvi-lo
( ) você prepara de acordo com seus objetivos e o interesse do público
( ) você não prepara
3. Se você for convidado para falar sobre um assunto que não conhece com
profundidade
( ) você recusa
( ) você aceita, desde que tenha tempo suficiente para se preparar
( ) você aceita, mesmo sem ter tempo de preparar
4. Ao organizar sua fala, você pensa num início, meio e fim
( ) às vezes
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
( ) sempre
( ) nunca
5. Como você inicia sua fala
( ) entra direto no assunto, de forma objetiva
( ) tenta conquistar os ouvintes
( ) inicia de qualquer maneira
6. Como você encerra suas apresentações
( ) com uma frase forte, mesmo que não tenha muita ligação com o assunto
( ) recapitula a essência da mensagem e pede ação ou reflexão
( ) termina secamente, com a frase “era isso o que eu tinha para dizer, obrigado”
7. Como você estabelece a intensidade (volume) da voz diante do público
( ) de acordo com o seu potencial
( ) de acordo com o ambiente
( ) não tem nenhuma preocupação com a intensidade
8. Que tipo de vocabulário você usa
( ) o que conhece, próprio da sua profissão, atividade ou estudo
( ) simples e objetivo, de acordo com o público
( ) bem informal, até com gírias
9. Ao falar, você
( ) não gesticula, sente-se amarrado
( ) gesticula com moderação, reforçando o que está dizendo
( ) gesticula demais
10. Qual é o ritmo de sua fala
( ) nem rápido nem devagar, mas sempre com a mesma velocidade
( ) alterna, com velocidade normal, rápida e lenta
( ) fala sempre muito rápido ou muito devagar
11. Como você pronuncia as palavras
( ) corretamente, com certo exagero
( ) corretamente sem exagero
( ) suprimindo algumas letras e sílabas das palavras
12. Como é sua comunicação visual
Comunicação e Oratória [P]- José Roberto Cristofani - UNIGRAN
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( ) olha para algumas pessoas
( ) olha para todas as pessoas
( ) não olha para o auditório
13. Como você constrói suas frases
( ) saem truncadas, mas completas
( ) saem completas e ordenadas
( ) às vezes, costuma interrompê-las na metade
14. Numa reunião, como você se comporta
( ) nem sempre fala, mas fica sempre atento
( ) fala com objetividade e fica sempre atento
( ) fica calado e temeroso que peçam a sua opinião
15. Qual é seu estilo de comunicação
( ) controlado, objetivo, sem grandes emoções
( ) natural, com emoção
( ) afetado
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utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar com o professor.
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Comunicação e Oratória [P] - José Roberto Cristofani - UNIGRAN
Conclusão
Ao concluir este curso, a única certeza que podemos ter é a de que todo esforço despendido até aqui, na aprendizagem e aperfeiçoamento das técnicas de falar em público, somente serão úteis se praticadas à exaustão.
Não pode haver ilusão maior do que achar que já se alcançou a meta proposta para ter uma boa oratória.
Decorre da constatação acima que é necessário, é imprescindível mesmo buscar o constante aperfeiçoamento da arte da oratória. Uma busca incessante, permanente, tenaz que molda o bom orador, que talha as melhores oradoras, que transforma, enfim, uma pessoa que fala em público em uma verdadeira oradora.
O domínio da técnica é necessário. Contudo, será na persistente e contínua prática que se revelarão os grandes oradores e oradoras.
Referências
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