Universidade Cândido Mendes
Instituto A Vez do Mestre
Pedagogia Empresarial
COMPETIÇÃO X COOPERAÇÃO
UMA PESQUISA SOBRE A DIALÉTICA DA COMPETIÇÃO COM A COOPERAÇÃO,
VERIFICANDO A IMPORTÂNCIA DE UMA PRÁTICA EMPRESARIAL MAIS
HUMANA.
CLARA FERNANDES ALECRIM
Niterói
2009
2
CLARA FERNANDES ALECRIM
COMPETIÇÃO X COOPERAÇÃO
UMA PESQUISA SOBRE A DIALÉTICA DA COMPETIÇÃO COM A COOPERAÇÃO,
VERIFICANDO A IMPORTÂNCIA DE UMA PRÁTICA EMPRESARIAL MAIS
HUMANA.
Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia Empresarial do Instituto A Vez do Mestre
da Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para a obtenção do diploma de
pós-graduação lato senso.
Orientadora: Profª Maria Esther
Niterói
2009
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me ajudar a vencer mais uma etapa de minha vida, e
por reger minha vida e da minha família cada vez mais.
Também sou grata a meu marido Sergio por me apoiar mais uma vez nos meus estudos e
por ser um amigo fiel e dedicado.
Obrigada aos meus filhos por existirem e fazerem minha vida alegre e movimentada.
Amo vocês Matheus e Pedro.
Agradeço meu amado pai Marco por ter pago meus estudos, me emprestado livros e por
ser um pai maravilhoso, escolhido por Deus pra me educar.
Obrigada à minha mãe por ser minha amiga, minha secretária, babá dos meus filhos e uma
mãe excepcional.
Quero também aqui agradecer o professor Paulo José que sem saber, me influenciou na
escolha do tema de minha monografia por trazer um pouco de humanidade nas relações
empresarias. Pois suas aulas nos permitiam enxergar um novo ideal de empresa, mais
cooperativo e humanizado.
Enfim obrigada a todos que de alguma forma colaboraram para que eu chegasse até aqui.
4
RESUMO
O homem motivado pelo capitalismo, altamente competitivo, tem se desumanizado
cada vez mais. Com o objetivo de vencer e se destacar, muitas vezes não se importa com os
que os cercam.
A competição excessiva traz consigo uma série de conseqüências destrutivas como a
violência e a desigualdade. A presente pesquisa descreve a competição e a cooperação e
destaca a diferença e a semelhança presente nesses dois modelos de atuação.
A competição desde a infância e posteriormente no meio empresarial é pensado como
algo que acarreta conseqüências das mais diversas, dentre elas a violência.
A adoção de uma prática mais humana, cuja cultura organizacional se baseia na
cooperação interna e externa das relações empresariais, é um fator que vem despertando
interesse dos mais diversos setores e se tornando um diferencial competitivo, uma vez que
esses conceitos são paradoxais, porém paralelos.
Palavras-chaves: competição, cooperação, cultura organizacional.
5
METODOLOGIA
O referente estudo tem como base, a pesquisa de revisão bibliográfica. Usando como
metodologia a investigação teórica alicerçada por diversos autores conceituados como
Leonardo Boff, Pierre Weil, Michael Porter e Bettlheim adotando uma abordagem
científica com a finalidade de atender aos objetivos propostos.
6
SUMÁRIO
Introdução -----------------------------------------------------------------------------------7
Capítulo I-Entendendo a dicotomia cooperação X competição-----------------------8
I-1 -O que é competição?-------------------------------------------------------9
I-2 - O que é cooperação?-------------------------------------------------------11
Capítulo II – Competição na infância----------------------------------------------------15
II-1 – Modelo empresarial competitivo---------------------------------------19
II-2 – Conseqüências da excessiva concorrência----------------------------25
Capítulo III - Mudança de paradigma, adotando o modelo cooperativo-------------30
Considerações finais ------------------------------------------------------------------------38
Bibliografia-----------------------------------------------------------------------------------39
7
INTRODUÇÃO
O mundo nos últimos anos vem sofrendo muitas transformações em uma velocidade de
tempo muito rápida. Os valores se transformaram e o sistema social está cada vez mais
excludente. A luta desenfreada por conquistas sejam elas de status ou de bens materiais,
está formando pessoas insensíveis e gananciosas ao extremo. Mas uma corrente de
pensamento e atitudes vem se destacando por trazer um pouco de humanidade e resgate aos
valores até então adormecidos.
Essa pesquisa começa caracterizando a competição e a cooperação enquanto sistemas que
apesar de diferentes tem seu ponto de intercessão.
No capítulo dois discuti-se a questão da competição na infância, formando adultos
altamente competitivos, o que leva a uma consciência equivocada de vitória. Dentro do
mesmo capítulo a presente pesquisa descreve como funciona o modelo empresarial
competitivo, como as empresas estão formando alianças, agindo em cooperação para obter
vantagem competitiva. As conseqüências da excessiva concorrência na empresa e na vida
em geral encerram o segundo capítulo mostrando como caminhamos para uma sociedade de
vencedores em um mundo deserto e sem valores morais. Reforçando a idéia de que a
competição excessiva leva a destruição, violência, dentre outras coisas.
E depois de verifica-se como se estabelece relações de concorrência, de busca pelo
sucesso e de vitória em detrimento do fracasso alheio, o crescimento de uma nova cultura
organizacional que visa a cooperação e a ética, vem sendo discutida, possibilitando uma
análise de práticas e um repensar de atitudes não só nas empresas como nas relações sociais
e pessoais.
8
Capítulo 1- Entendendo a dicotomia cooperação X competição
.
Esse capítulo tem como objetivo fazer entender como ocorre a dicotomia competição X
cooperação e explicá-los para que se compreenda como funciona cada processo.
Para muitos, competição é algo que não tem ligação alguma com a cooperação, são
coisas distintas e conflitantes. Porém com base em teorias e estudos verifica-se que as duas
concepções caminham lado a lado, são conceitos dicotômicos, porém paralelos.
No universo empresarial assim como em toda relação social, há um fator que é o
princípio básico instituído, que é a hierarquia. Ela está presente nas relações familiares,
sociais, religiosas, de trabalho, da vida como um todo. Desde o momento em que nos
damos conta de que vivemos em um sistema hierárquico, começamos a competir. Seja
consciente ou inconscientemente traçamos metas mentais para sobreviver e nos destacar no
que colocamos como meta em nossa vida. As personalidades diferem, uns tem
características mais passivas, outras de liderança, cada um a seu modo procura
reconhecimento e para tanto pensa ser necessário competir para vencer, pois na sociedade
em que vivemos as pessoas só se destacam pela vitória, mesmo que essa venha de um
modelo cooperativo.
Nas empresas o modelo cooperativo se destaca pala sua característica humanista o que
acaba por elevar seu poder de competição perante as demais empresas que não adotam esse
modelo e utilizam de estratégias mercadológicas “politicamente incorretas”.
“Sem resultados, a empresa acaba. Sem a fidelidade do consumidor, a
organização não resiste ao tempo e não adiciona valor aos acionistas. A
concorrência tem apetite por mais e mais fatias de mercado. Os funcionários
querem ter orgulho da organização para a qual trabalham (é a garantia de
emprego futuro). A sociedade está atenta à responsabilidade pública das
empresas. A ética nos negócios e o exercício de cidadania têm níveis de
exigências crescentes. Os produtos e serviços entregues devem ser confiáveis e a
prova de falhas. (ovamente os concorrentes lançam produtos com tecnologia e
facilidades que mudam o tom da competição. E não podemos limitar a medir o
sucesso por intermédio do pioneirismo de uma dada época, dos produtos
desenvolvidos ou das modernas instalações. Um cliente do varejo não abre
9
conta em um banco só porque foi certificada ISO 9000, por exemplo. Abrimos
uma conta, e a mantemos, porque convém e atende às nossas necessidades. (o
período de relacionamento, estamos constantemente notando as diferenças entre
a entrega efetiva do produto (ou serviço) e a expectativa criada durante a
compra, ao mesmo tempo que somos influenciados pela concorrência.”
J. Claudio Cinelli (http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/artigosout.htm)
I-1- O que é competição?
Competição é a interação de indivíduos da mesma espécie ou espécie diferentes
(humana, animal ou vegetal) que disputam algo. Esta disputa pode ser pelo alimento, pelo
território, pela luminosidade, pelo emprego, pela fêmea, pelo macho, etc. Logo, a
competição pode ser entre a mesma espécie (intra-específica) ou de espécie diferente
(interespecífica). Em ambos os casos, esse tipo de interação favorece um processo seletivo
que culmina, geralmente, com a preservação das formas de vida mais bem adaptadas ao
meio ambiente, e com a extinção de indivíduos com baixo poder
adaptativo.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Competi%C3%A7%C3%A3o)
Esse ponto da pesquisa descreve a competição em suas diversas vertentes, para isso é
necessário que se coloque em pauta primeiramente a teoria de Charles Darwin sobre a
seleção natural, mecanismo pelo qual a natureza seleciona organismos mais capacitados a
sobreviver em determinado ambiente. Segundo Adler, 1986 a teoria diz que ocorre no
ambiente em que vive um grupo de organismos, entre os indivíduos do mesmo grupo, seja
por disputas de alimentos, seja por disputa de parceiro sexual, ou seja, por disputa de
abrigos (de predadores ou de forças da natureza). Desse modo ela seleciona um organismo,
que geneticamente tem vantagem sobre outro, a permanecer na natureza, enquanto o outro,
como menos adaptado ao ambiente, morre. A competição é, portanto algo inerente à
manutenção do sistema que rege a natureza. Este é um conceito base da origem das
espécies. A competição, é portanto, necessária para sobrevivência das espécies e até mesmo
a vida.
A competição intra-específica está muito relacionada com as mudanças evolutivas, pois é
este tipo de competição que regula o tamanho da população, fazendo com que os indivíduos
10
que têm fatores genéticos mais eficientes na própria maneira de explorar recursos, possam
produzir mais descendentes. Quanto mais superlotada uma população, mais forte é a
competição entre os indivíduos. Um exemplo de competição intra-específica é a que ocorre
com beija-flores da mesma espécie que se atacam.
A competição interespecífica é causadora de efeito mutuamente depressor nas
populações de ambos os competidores, uma vez que cada espécie contribui para a sua
própria regulação populacional e regulação da outra espécie também, o que pode acarretar
na eliminação da alguma das espécies.
(http://cdcc.sc.usp.br/ciencia/artigos/art_35/atualidades.html)
A origem da competição está associada diretamente à concorrência. É conhecida desde
que o primeiro espermatozóide chegou ao útero de uma fêmea, transformando-se na
primeira vida. Desde então, ela não parou mais de acontecer e está em todos os lugares.
Animais machos competem para liderar o bando ou acasalar com uma fêmea. Humanos
competem entre si para ocuparem lugar de destaque. A competição pode ser pacífica ou
não, dependendo de quem está competindo e está presente em todas as ações onde mais de
dois seres querem ocupar o mesmo espaço. Pode ser positiva, incentivando a busca pelo
aprimoramento e perfeição ou negativa, gerando disputas desonestas e violentas em busca
de poder.
As competições podem ser comerciais, afetivas, religiosas, políticas e esportivas, onde a
vitória é representada pela conquista desejada ou através de recompensas, prêmios, títulos
ou símbolos como troféus e medalhas. Souza,2008 subdivide em:
Competições comerciais: São geradas por mecanismos avançados de marketing, vendas,
concorrência de preços e melhores serviços.
Competições afetivas: São aquelas em existem disputas de atenção ao ser pretendido,
colocando em prática todas as habilidades que se julgarem necessárias para a referida
conquista. Nos primórdios, os homens duelavam até a morte para conquistarem suas damas.
11
Competições religiosas: Não são poucas as divergências existentes entre as religiões, que
as levam a disputar seus membros com todo tipo de argumentos. Além da filosofia de cada
uma, a competição entre os segmentos é realizada através de festas, campanhas para
angariar fundos, construção de templos e técnicas de marketing avançadas. Sem falar as
disputas internas entre os suplentes à liderança.
Competições políticas: Iniciaram desde que os primeiros reis resolveram conquistar outros
territórios, gerando guerras e conflitos, tornam-se democráticas com o tempo. Hoje em dia
são realizadas verdadeiras competições em busca de votos. Associados às ferramentas
disponíveis de acordo com o poder aquisitivo de cada um, as competições políticas são
realizadas de maneira criativa.
Competições esportivas: De todos os gêneros, desde competições olímpicas até aquelas
que decidem quem come a maior quantidade de pizza, estão presentes na atualidade e não
param de surgir novas modalidades a todo tempo.
1.2- O que é Cooperação?
Cooperação é um processo de interação social, onde os objetivos são comuns, as
ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.(De Vries, 1991)
Um teórico chamado Alfred Adler, fundador do sistema holístico da psicologia
individual, influenciado pela teoria da evolução das espécies de Darwin acreditava que
a inferioridade orgânica pode ser um estímulo para consecuções superiores, ao invés de
causar necessariamente uma derrota na luta da vida.Adler argumentava que, no
processo da evolução humana, a cooperação e o sentimento comunitários são mais
importantes que a luta competitiva.
“A luta pela perfeição é inata no sentido de que faz parte da vida; uma luta, um impulso,
um algo sem o qual a vida seria inimaginável”.(Adler, apud Fadiman, 1986 pág.75).
12
Adler diz, que um aspecto importante do interesse social é o desenvolvimento do
comportamento cooperativo. De um ponto de vista evolutivo, a habilidade para cooperar na
colheita de alimentos, na caça e na defesa contra predadores tem sido um dos fatores mais
importantes na sobrevivência da raça humana e a forma mais efetiva de adaptação ao meio
ambiente.
Ele acreditava que somente através da cooperação com o outro, e operando como um
valioso e cooperativo membro da sociedade, podemos superar nossas inferioridades reais
ou nossos sentimentos de inferioridade. Ele escreveu que aqueles que tem dado as mais
valiosas contribuições para a humanidade são os indivíduos mais colaboradores e o trabalho
dos grandes gênios sempre tem uma orientação social. (Fadiman, 1986).
Fadiman, 1986, relata que Ruth Benedict, antropóloga, professora do psicólogo
Abraham Maslow usa a nomenclatura sinergia para se referir ao grau de cooperação e
harmonia interpessoal numa sociedade. Sendo Benedict uma antropóloga ela tinha
consciência dos perigos de algumas afirmações que ela fazia quanto ao desenvolvimento
das estruturas sociais que regiam cada cultura. E constatou que as sociedades que utilizam
dessa sinergia social, proporciona sentimentos positivos entre os indivíduos e ajuda a
minimizar as discórdias e os conflitos.
Maslow (apud, Fadiman) também escreve a respeito da sinergia em indivíduos, dizendo
que se o sucesso do outro for fonte de satisfação genuína para o indivíduo, então a ajuda é
oferecida livre e generosamente. Em certo sentido, motivos egoístas e altruístas fundem-se.
Ajudando o outro, o indivíduo também busca sua própria satisfação. Reforçando a idéia de
que competição e cooperação estão interligadas.
Na área individual, a cooperação gera um estado físico de saúde estimulando um
funcionamento glandular harmonioso, pois gera sentimentos e emoções altamente
construtivas tais como o amor, a compaixão, a alegria e a equanimidade; as gera ou resulta
delas. No plano da mente, a cooperação estimula a dissolução da dualidade que se opõe o
"eu" e o "outro". Na cooperação há momentos em que se constata que só há um espírito o
qual é integrado pelos espíritos individuais em aparência separados. O espírito de mutirão
existe até em animais; basta lembrar as migrações de pássaros, a construção dos ninhos, os
13
formigueiros e as colméias de abelhas. Estas últimas são até citadas muitas vezes como
exemplos de sociedade cooperativas.
A cooperação é realmente programada, faz parte da informática da natureza. Pode se
dizer o mesmo da comunicação musical entre animais que é também um modo de
cooperação. Podemos até nos perguntar até que ponto a cadeia alimentar evocada como
exemplo de competição, não seria, visto de um plano de preservação do todo, como uma
forma de cooperação (forçada...) para a preservação deste?
Convém ainda assinalar, no plano da cooperação para a preservação da vida, o
respeito que tem os animais que nunca atacam um outro animal indefeso da sua espécie: há
o caso do lobo que mesmo numa luta pela fêmea, nunca ataca um lobo ferido e caído no
chão. É sabido que a melhor forma de se defender contra o ataque de cachorros agressivos é
deitar no chão.( http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-16.htm )
Com relação ao mundo dos negócios, a criação de empresas multinacionais tende a
reforçar os blocos econômicos e transnacionais, tornando as guerras uma ameaça a sua
própria existência. Mesmo a competição entre os blocos econômicos já começa a serem
substituídos por esforços de cooperação. O termo parceria virou até moda nos meios
empresariais. Começam a aparecer iniciativas ainda inconcebíveis há uma década atrás;
carroceria de uma empresa equipada com motor de automóvel de outra empresa.
No plano das microempresas, cooperativas criam união provocada pela cooperação
facilitando o escoamento dos produtos. Existem até redes de empresários cujo objetivo é,
através da cooperação evitar a destruição da vida no planeta e preservar o meio ambiente.
Um exemplo desse movimento para evitar o hiperconsumismo, surgiu nos USA, é um
movimento espontâneo de simplicidade voluntária; milhões de norte-americanos reduzem
voluntariamente o seu consumo de roupas, móveis de madeira, sapatos, gasolina, dentre
outros.
14
Verificamos em alguns segmentos da vida e das relações em geral, a iniciativa para
romper com esta lógica férrea da excessiva competição. Resgatando e dando centralidade
àquilo que outrora nos fez dar o salto da animalidade à humanidade. O que nos fez deixar
para trás a animalidade foi o princípio de cooperação e de cuidado. Nossos ancestrais
antropóides saiam em busca de alimento. Ao invés de cada qual comer sozinho como os
animais, traziam ao grupo e repartiam solidariamente entre si. Dai nasceu a cooperação, a
socialidadade e a linguagem. Por este gesto inauguramos a espécie humana. Face aos mais
fracos, ao invés de entregá-los à seleção natural, inventamos o cuidado e a compaixão para
mantê-los vivos entre nós.
“Hoje como outrora são os valores ligados à cooperação, ao cuidado e à
compaixão que limitarão a voracidade da concorrência, desarmarão os
mecanismos do ódio e darão rosto humano e civilizado à fase planetária da
humanidade. Importa começar já agora para que não seja tarde demais”
(BOFF, Http: //alainet.org/active/6444&lang=es)
Contudo, verifica-se a importância de atentar para o real significado e descrição das
coisas. Competição tem diversas definições seja no campo da biologia, da empresa, da vida.
E a cooperação pode sim ser um ideal a se atingir. Mas o que se entende é que ambas tem
características que devem ser estudadas com cautela e atenção, se quisermos enxergar a
possibilidade de um novo paradigma. E se puder começar a distinguir esses modelos de
prática não só empresarial como de vida, desde criança, a base cresce mais sólida e com um
senso crítico maior. E é esse o ponto que será abordado a seguir.
15
2. - Competição na infância
"A família moderna retirou da vida comum não apenas as crianças, mas uma grande parte
do tempo e da preocupação dos adultos" (Áries. 1981, p. 278).
Na maioria das vezes, o que rege a educação, tanto na escola como na família, é a
competição. É comum, nos dias atuais, vermos crianças, desde muito pequenas, sendo
obrigadas a chegarem ao limite de suas forças, cumprindo uma agenda carregada de
atividades programadas para um único dia. Escola, natação, inglês, reforço escolar, balet,
futebol e tantas outras atividades que acabam por roubar seu direito de ter uma infância
preservada, e, por conseqüência, retirando-lhes um tempo precioso de brincar e de serem
elas mesmas – CRIANÇAS. É o mundo adulto prevalecendo sobre o mundo infantil,
ditando suas regras, suas normas, seus costumes e valores, regulados pela competição.
Há também a questão dos brinquedos, como por exemplo, os jogos eletrônicos que tem
influenciado o comportamento infantil, a questão dos esportes, que quando mal
direcionados tornam-se realização dos pais nos filhos, ao invés de uma cultura de saúde.E
fator determinante nos dias atuais, a influência da mídia na formação da personalidade das
crianças.
É possível com isso observar as conseqüências desastrosas dessa violência cada vez
mais presentes no cotidiano das crianças, que sucumbindo a tanta pressão, emitem sinais de
alerta, por meio de reações físicas, emocionais ou psíquicas, tais como: crianças
hiperativas, com o conhecido “déficit de atenção” ou crianças agressivas e violentas;
crianças com diversas doenças como alergias, problemas digestivos, obesidade, depressão,
ansiedade, apatia, tristeza permanente, desestimuladas e com problemas de sono.
Na guerra pelo consumo infantil e infanto-juvenil, a indústria lança brinquedos cada
vez mais descartáveis, cujo objetivo é depois de um tempo o jogo sempre se tornar
obsoleto, despertando nas crianças e adolescentes o desejo por obter uma versão mais
16
atualizada e com maior grau de dificuldades. Até então o fator violência se restringe às
empresas, porém se analisarmos os jogos veremos as conseqüências desses jogos na
mentalidade e no comportamento das crianças. Há um tempo, nas brincadeiras antigas de
mocinho e bandido, um eliminava o outro. Mas uma questão intrigante aparecia nesta
opção entre ser mocinho ou bandido: a criança definia o bem ou o mal como referência de
valores morais (Bettelheim, 1987); hoje, ela escolhe o personagem eletrônico
aleatoriamente, de acordo com valores como força, beleza e capacidade de matar (Zanolla,
1999).
Definições como bem e mal geralmente não fazem parte dessas escolhas. Uma dualidade
necessária, segundo Bettelheim (1987), para que a criança desenvolva a sua formação
moral. Na maioria das brincadeiras e histórias antigas, era possível perceber essa dualidade
como fator importante para dotar de significados elementos como perplexidade perante o
mal, angústia da morte e reconhecimento da importância do convívio social. A célebre e
conhecida frase o crime não compensa, pode não corresponder à realidade, mas constituía
para a criança mais que um dilema, um princípio a ser alcançado. Segundo Bettelheim, os
dilemas nos contos de fadas demonstram a importância da criação de valores antagônicos.
O conceito de moral aqui utilizado tem o sentido amplo de "Ética, como teoria dos valores
que regem a ação ou conduta humana, tendo um caráter normativo, ou prescritivo (...)"
(Japiassú & Marcondes, 1996, p. 187).
Isso gera indagações: Em uma brincadeira cujo objetivo maior é ganhar pontos
matando o inimigo, qual é o lugar da angústia da morte, sentimento que, segundo
Bettelheim (1987, p. 187), é fundamental para que a criança elabore valores? Poderíamos
responder a isso de forma objetiva, com base na análise do relatório final (Zanolla, 1999),
no qual percebemos que o objetivo de ganhar realiza-se na eliminação de provas ou etapas,
correspondentes a matar inimigos cada vez mais fortes, de acordo com o domínio das fases
mais difíceis, o que faz com que outro elemento apareça de maneira destacada: o tempo.
Conceito que rege a sociedade capitalista competitiva.
No jogo eletrônico violento, uma das regras básicas é: quanto mais se avança nas
consecutivas fases, mata-se mais e ganha-se maior tempo para efetivar com êxito a tarefa.
17
O tempo toma uma dimensão importante no combate ao inimigo, tornando-se aliado e, ao
mesmo tempo, empecilho para a tarefa de ganhar. O que podemos observar é que isso gera
na criança um comportamento de angústia e ansiedade. Não se pode prever ou afirmar que
exista uma compulsão por matar o inimigo, mas, como a vida deste constitui ameaça à
sobrevivência do personagem escolhido, matar é a meta.
A violência faz parte do cotidiano da vida da criança, mas sua banalização não deveria
fazer. Como afirma Bettelheim (1987), o conflito entre o certo e o errado contempla o
direito às escolhas que a criança tem de fazer. O que se precisa estudar é de que maneira as
histórias são processadas pela criança a partir do conteúdo do jogo eletrônico, fazendo com
que ela assimile comportamentos trazidos por valores morais, e, a partir disso, como se
codifica a questão da violência desse conteúdo. Isso poderia confirmar ou não se, nesse
universo, violência e diversão se confundem, favorecendo a banalização da agressividade.
Se olharmos as crianças brincando na praça. Apostam corridas, criando as suas
próprias regras de jogo. Tudo funciona bem e elas mesmas resolvem os problemas e
sozinhas até elegem líderes de grupo. Tudo funciona enquanto os pais não se metem
tomando partido. "Meu filho chegou na frente do seu”.
As competições infantis geralmente seguem um fundamento e modelo profissional de
incentivo ao desenvolvimento motor e à socialização. A grande maioria das crianças não
será campeã olímpica simplesmente porque esse talento esportivo é para poucos iluminados
pela genética, mesmo que desesperadamente os pais e alguns treinadores queiram. Esses
fundamentos adquiridos nas competições são transportados para o dia-a-dia e servem de
lição na vida adulta. A ousadia, o desafio para coisas novas, o relacionamento com
subordinados, colegas de trabalho e chefias fazem parte do mundo moderno.
Ansiedade e frustração. Já se conseguiu mostrar em estudos de campo que a ansiedade
pré-competitiva é muito maior nos esportes individuais de curta duração, especialmente a
natação e o atletismo, onde o resultado depende única e exclusivamente do atleta. Qualquer
vacilo na largada não dá para recuperar. Mais uma boa razão para que os competidores
mirins sejam devidamente preparados psicologicamente sem serem cobrados ao extremo.
18
Muitos valores são perdidos em qualquer modalidade esportiva por causa da obrigação da
vitória e onde a derrota é encarada como sofrimento ou uma coisa ruim.
Existem também outros dois tipos de pais cobradores: os que projetam os seus sonhos
frustrados nos filhos e os ex-atletas desejando um sucesso não alcançado por ele mesmo.
Esses pais fazem dos filhos, "trofeuzinhos". Essa cobrança costuma gerar ansiedade
negativa, levando-as ao fracasso. Alguns pais dizem dar o maior apoio aos seus filhos...
Quando vencem. Diante do fracasso, basta um olhar de decepção para desenvolver no
próprio filho um sentimento de inferioridade.
Segundo os especialistas, a chamada "segunda infância", 6 a 12 anos, é uma das mais
importantes, quando as crianças necessitam da aprovação dos pais para as tarefas diversas.
Aprovação significa incentivo ao desafio desde que a criança seja bem recebida na família
independente do resultado alcançado. Não pelo que ela fez, mas pela ousadia de ter
tentado.(Revista contra o relógio)
Um ambiente de competitividade, de violência e de agressividade gera uma tensão
psíquica que paralisa qualquer tentativa de desenvolver um processo adequado de
aprendizagem. Estes fatores desestabilizadores do processo ensino-aprendizagem se
detectam com facilidade em grande quantidade de centros educativos. A ignorância conduz
os responsáveis pela educação escolar a erros irreparáveis com os que obtêm resultados
totalmente opostos aos desejáveis. Insistimos. pois. em que uma personalidade violenta é o
resultado conseqüente de uma concepção pedagógica autoritária que logicamente produz
homens agressivos e autoritários. É sabido que somente quem está privado de algo é
precisamente quem tem o impulso e o desejo de privar. A educação agressiva e autoritária
tem.privado o indivíduo, que agora é autoritário e violento, do necessário equilíbrio interno
para que atualize suas potencialidades e sentimentos de solidariedade e cooperação.
Situação que. por outra parte, se encontra reforçada por uma sociedade competitiva e
igualmente não solidária.
Para Baudrillard (2004), as novidades de consumo são produtos das novas tecnologias,
do crescimento das religiões, da transformação dos modelos familiares e do culto da beleza
e da saúde. O consumo é próprio do modelo capitalista (BAUDRILLARD, 2005) referindo-
se à infância, uma fase tão peculiar, especialmente porque a formação emocional,
19
personalidade e corpo, estão em formação. Em especial, para as crianças, a questão do
consumo ultrapassa o fator comportamental de comprar e interfere na formação dos jovens,
não apenas mexendo na saúde, mas na educação e nos valores e juízos da sociedade do
futuro (LINN, 2006).
A mídia sem dúvida nenhuma, também tem um poder de influência muito grande na
formação da personalidade das crianças que ficam expostas à televisão, muitas vezes por
tempo indeterminado.
As propagandas que tem como público alvo às crianças, cada vez mais se especializam
em incutir na mente desses seres em formação tão influenciáveis, valores de competição e
consumo, banalizando a violência e incentivando a eterna busca pelo novo, formando a
concepção de que o velho, não serve mais e o novo é que importa e é bom.
2.1- Modelo empresarial competitivo
A fim de enfrentar as ameaças da competitividade global às suas economias e promover
sua inserção na economia mundial, os países vêm se organizando em blocos econômicos –
como a União Européia, a NAFTA, o MERCOSUL e outras. Além disso, são incentivados
inúmeros acordos bilaterais sobre ciência e tecnologia, logística, normas de qualidade,
facilidades comerciais, trabalho, imigração, educação e outros fatores de competitividade
da sociedade. Para as empresas esses esforços significam muitas vezes um doloroso, mas
promissor processo de mudança e adaptação.
No ambiente empresarial a competitividade vem se intensificando significativamente ao
longo dos anos. O grande número de concorrentes inseridos no mercado e as
transformações que ocorrem rapidamente em todo mundo são alguns dos fatores que
afloram a necessidade das empresas buscarem alternativas de vantagem competitiva para se
manterem no mercado. Segundo Porter (1999), há algumas décadas atrás a concorrência era
praticamente inexistente em quase todo o mundo, existia uma grande proteção por parte dos
governos às empresas e a formação de grandes cartéis colaboravam para a quase
inexistência de competitividade. Após o final da segunda guerra mundial o acirramento da
competitividade se desenvolveu em virtude do progresso econômico da Alemanha e Japão.
20
Atualmente ser competitivo é fundamental para as organizações sobreviverem no mundo
globalizado. Segundo Ferraz (1997), existem duas linhas de pensamento que conceituam a
competitividade. Na primeira a competitividade é vista como desempenho, onde é expressa
na participação do mercado, alcançada por uma firma em determinado mercado em um
certo tempo. A outra linha de pensamento trata a competitividade como eficiência. Para
esta linha de pensamento a competitividade é relacionada com a capacidade de se converter
os insumos em produtos com o máximo de rendimento. Entretanto nestas duas visões são
utilizados enfoques limitados por serem estáticos, pois, analisam a competitividade apenas
pelos indicadores. Para FERRAZ (1997, p. 03), “a competitividade é a capacidade da
empresa formular e implementar estratégias concorrências, que lhe permitam ampliar ou
conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado”.
Possuir uma visão de futuro se torna fundamental para as empresas serem competitivas.
Não basta apenas ser competitivo no presente, é necessário olhar para o futuro e estar
preparado para as novas oportunidades. Conforme Hamel e Prahalad (1997), a competição
não esta baseada apenas no presente, ela deve ser vista como a competição pelo futuro,
onde a competição é avaliada pela participação nas oportunidades e não apenas pela
participação do mercado. Neste sentido torna-se fundamental que a organização desenvolva
fortemente seu capital intelectual.
Para Porter (1990), a vantagem competitiva surge do valor que a empresa consegue criar
para seus clientes e que este valor ultrapasse o custo de fabricação. Existem dois tipos
básicos de vantagem competitiva, a liderança de custo e a diferenciação. Já segundo Hamel
e Prahalad (1997), a competitividade não é apenas em nível de produto versus produtos ou
negócios versus negócios e sim entre empresas. Com esta visão, Ferraz (1997), coloca que
a competitividade entre as empresas depende da capacidade delas conseguirem se
aproximar de seus clientes e fornecedores, a fim de desenvolverem produtos e
compartilharem informações e tecnologias.
A elaboração de estratégias competitivas é fundamental para a competitividade
organizacional. Porter (1991), analisa a estratégia competitiva como uma das atividades
21
essenciais para as organizações obterem uma posição lucrativa no mercado o qual estão
inseridas.
Para Ferraz (1997, p. 09):
“a vantagem competitiva pode ser obtida de diversas fontes, em geral estão
relacionadas às especificações dos produtos, ao processo de produção, às vendas, à
gestão, às escalas produtivas, aos tamanhos dos mercados, às relações com
fornecedores e usuários, aos condicionantes da política econômica, ao
financiamento da empresa ou de sua clientela, às disponibilidades de infra-
estrutura, a aspectos de natureza legal, entre outras”.
Segundo Porter (1991), Em uma estratégia de vantagem competitiva a empresa necessita
observar vários fatores importantes para seu desenvolvimento. A influencia dos
fornecedores, a organização interna da empresa, os canais de distribuição e o comprador
são agentes importantes para o desenvolvimento de uma estratégia de vantagem
competitiva. Estes elementos compõem o chamado sistema de valores onde cada um destes
agentes influencia no desempenho geral da organização. A obtenção da vantagem
competitiva depende da observação de toda a cadeia de valores desde os fornecedores até
os compradores. A empresa não pode apenas analisar a sua cadeia de valor
individualmente, sendo que as cadeias de valores dos outros elementos podem influenciar
significativamente a organização para a obtenção de vantagem competitiva.
No ambiente competitivo as organizações a todo o momento buscam desenvolver
estratégias que as tornem mais competitivas. Em conseqüência deste mercado globalizado o
aspecto competitivo das empresas de pequeno e médio porte torna-se fragilizado pela
concorrência global.
Segundo Casarotto (1998), com a globalização cada vez mais acentuada os riscos para as
pequenas e médias empresas estão aumentando rapidamente. Causados pela globalização
da economia e os crescentes avanços tecnológicos, principalmente pela tecnologia da
informação, onde facilmente grandes empresas localizadas em diferentes partes do mundo
podem oferecer concorrência para as empresas locais. Com isto, dificilmente as empresas
22
de pequeno e médio porte conseguiram se manterem competitivas no mercado atuando
isoladamente.
Este ambiente é analisado por Porter (1992) no modelo de estratégia competitiva baseada
curva “U” de rentabilidade x fatia de mercado. Nesta definição as empresas que estiverem
nas extremidades da curva “U” normalmente terão boa rentabilidade e as que se
posicionarem no meio-termo terão baixa rentabilidade. Isto se justifica pelo posicionamento
das empresas em relação à diferenciação de produtos e a liderança de custos, assim a
empresa pequena poderia se posicionar na diferenciação do produto, implicando na ênfase
de produtos sob encomenda ou com grande nobreza. Já a empresa de grande porte se
posicionaria na competição pela liderança de custos, ou seja, produzir em larga escala,
padronizando seus produtos e com baixo custo final. Nesta visão estratégica as empresas
pequenas poderiam apenas obter rentabilidade fabricando produtos diferenciados para um
limitado nicho de clientes. Já as empresas que estão posicionadas na curva inferior do “U”,
como as médias empresas teriam baixo poder competitivo e baixa rentabilidade.
No cenário globalizado em que vivemos ser competitivo é fundamental para as empresas
manterem-se e evoluírem nos mercados onde estão inseridas. A todo o momento empresas
de grande porte fazem fusões e alianças com a finalidade de tornarem-se mais competitivas.
A competitividade enfrentada pelas empresas nos últimos anos esta colaborando para o
surgimento de um novo modelo organizacional, onde o individualismo, observado em
várias décadas atrás, está sofrendo uma profunda mudança para a era das alianças
estratégicas (Castells, 1999).
Neste novo ambiente competitivo, as empresas de pequeno e médio porte, por sua vez,
estão a cada momento mais vulneráveis a este novo modelo organizacional, pois, a
concorrência em que algumas décadas atrás era praticamente local passa a ser global. As
novas tecnologias de informação disponíveis nos últimos anos são instrumentos
fundamentais para que a competição entre as empresas se torne mais ágil.
Segundo Mcfarlan (1998), as novas tecnologias da informação são capazes de alterar a
competição entre as empresas. Com a crescente redução nos custos da tecnologia da
23
informação as organizações deixam de utilizar esta tecnologia apenas como apoio a
escritórios e passam a utilizá-la na obtenção de vantagem competitiva.
Para Castells (1999), a informação e o conhecimento são fatores importantes para o
desenvolvimento. Através das tecnologias de informação as organizações geram
conhecimentos que aumentam sua eficiência produtiva e competitiva.
Neste cenário a informação se torna fator essencial para que as organizações consigam
manter-se competitivas. Segundo Castells (1999, p.88), “nos últimos anos está surgindo
uma nova economia, chamada por ele de economia informacional, onde se forma uma
economia em rede capaz de aplicar seu progresso em tecnologia, conhecimentos e
administração da própria tecnologia”.
A partir deste novo ambiente competitivo as empresas de pequeno e médio porte, muitas
vezes fragilizadas pelos recursos escassos, necessitam buscar alternativas para serem
competitivas. Segundo Casarotto, (1998), sem dúvida nenhuma a globalização veio para
ficar, colaborando para que a qualquer momento uma empresa possa ver surgir um
concorrente produzindo melhor e mais barato. Segundo o autor a forma de se diminuir os
riscos das pequenas e médias empresas é a formação de alianças estratégicas.
Para Thompson e Formby (1998), as alianças estratégicas são acordos entre empresas
onde o objetivo é a cooperação de conhecimentos para a obtenção de vantagem competitiva
sustentável. Com a formação de alianças estratégicas as empresas conseguem competir em
escala global preservando suas individualidades. Já para Berney e Hesterly citados em
Cabral (1999), existem dois tipos de alianças estratégicas: as alianças contratuais e as joint
ventures. Nas alianças contratuais as relações entre os parceiros são realizadas através de
contratos, cujo propósito é desenvolver, planejar, comprar, comercializar, etc. produtos ou
serviços com a finalidade de cooperação entre as partes, sem com isto perder suas
individualidades com a formação de uma nova firma. Já nas Joint ventures os parceiros
fornecem capital e recursos tendo como objetivo a criação de uma nova empresa que deverá
gerir estes recursos.
24
A formação de alianças estratégicas possibilita que as organizações compartilhem seus
conhecimentos individuais e tornem-se mais competitivas no cenário global. Para Porter
(1990), as inter-relações entre empresas possibilitam a obtenção de vantagem competitiva,
pois compartilham atividades nas cadeias de valores, reduzindo assim seus custos,
aumentando a diferenciação e transferindo know-how gerencial entre as cadeias de valores
individuais.
Mas como vimos no capítulo 1, a competição não se dissocia da cooperação, a aliança
desses dois modelos de atuação, faz as empresas se fortalecerem e sobreviverem no sistema
competitivo globalizado atual. Em uma aliança estratégica a colaboração é um importante
fator para as empresas construírem vantagem competitiva sustentável em seu setor.
Segundo Bleeke e Ernst (2001), a concorrência predatória e os outros tipos de competição
baseadas no individualismo das empresas não mais garantem a melhoria de seus produtos e
serviços para a obtenção de lucratividade. A formação de parcerias com a função de
cooperar para competir é um das formas que as firmas do mesmo setor possuem para
compartilhar conhecimentos e com isto serem competitivas de forma duradoura.
O compartilhamento e aquisição de conhecimentos são fatores importantes para o
aprendizado organizacional. Com a formação de alianças estratégicas as organizações
criam um ambiente favorável à aquisição e troca de conhecimentos, pois, compartilham
suas diversas competências. Segundo Senge (1990), o processo de aprendizagem
organizacional a partir de seus conhecimentos adquiridos ou compartilhados colabora para
a empresa ser competitiva de forma duradoura. O sucesso das organizações está na
capacidade de aprenderem mais rápido do que seus concorrentes e assim obter vantagem
competitiva sustentável. O aprendizado organizacional é um importante fator a ser
considerada para as alianças estratégicas tornarem-se competitivas, pois tornam as
organizações capacitadas a desenvolver sua criatividade e de transferir e adquirir
conhecimentos a partir das relações com outras organizações. (FLEURY, M. 1997).
Esta troca de conhecimentos entre empresas participantes de alianças estratégicas se
tornou viável a partir das novas tecnologias de informação. Na visão de Porter (1990) a
tecnologia afeta a vantagem competitiva em uma empresa se estiver relacionada ou a
25
redução de custos ou o processo de diferenciação. Os avanços tecnológicos podem tornar
viáveis as inter-relações entre organizações, pois especificamente a tecnologia da
informação poderá afetar a redução de custos e flexibilidade de troca de informações entre
organizações participantes de uma aliança.
O ambiente altamente competitivo observado nos últimos anos tem sido um dos principais
fatores que levaram as empresas de um modo geral a buscar qualificações e conhecimentos
capazes de transformarem-nas mais competitivas.
Quanto a adoção de um modelo competitivo, para a manutenção de empresas e por
conseqüência geração e manutenção de empregos e de uma economia crescente, que foi o
que verificamos no decorrer do capítulo 2-1, a competição é justificável. Porém o que se
destaca nesse processo de luta pela manutenção em um mundo competitivo globalizado é
justamente para onde caminhamos e de que forma. O mundo atual preza pela
adaptabilidade, pela fragmentação e caminhamos para uma lógica de sobrevivência sobre
qualquer preço. Outro fator verificável é como lidamos com esse modelo empresarial na
sua estrutura. Pois vimos que a cooperação é aliada à competição para um bem comum,
mas dentro dessas empresas muitas vezes vemos práticas autoritárias e individuais que nada
se parecem com a noção que temos de cooperação.
O que se percebe é a exaltação da “esperteza” em lugar do equilíbrio e da ponderação, ou
do espírito de conquista a qualquer preço e sob qualquer condição em lugar de um espírito
de luta. No mundo dos negócios percebe-se, em nome da competitividade, uma lógica
semelhante, enfatizando que só o indivíduo ou a organização respondem pela própria
vitória, escamoteando assim as condições externas tanto no que respeita à organização no
jogo de mercado, quanto ao indivíduo no interior da organização.
2.2- Conseqüências da excessiva concorrência.
Para Pierre Weil, educador e psicólogo francês, em seu artigo DA COMPETIÇÃO À COOPERAÇÃO: UMA EVOLUÇÃO INDISPENSÁVEL A NOSSA SOBREVIVÊNCIA E PAZ (http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-16.htm) , a competição cria um ambiente
26
espiritual bastante pesado e denso.
No plano da economia, o espírito de competição virou o lema do neocapitalismo que
reza por mercados competitivos e empresas competitivas. Esta mentalidade é responsável
indireta e subconsciente do hiperconsumo que gera a destruição da vida no planeta. A
competição econômica, através do desemprego está criando gerações de excluídos vivendo
numa miséria intolerável. A competição entre mercados nacionais é um dos fatores gerando
bem conhecidos de guerras, sem falar da desonestidade da espionagem econômica.
No plano da vida sócio-política a competição entre partidos políticos e ideologias
religiosas é um dos grandes fatores geradores de conflitos violentos e de guerras civis ou
internacionais. Estas competições ideológicas tendem a estabelecer ditaduras e oligarquias.
Certas ditaduras como a nazista, contribuiu pelo aumento planejado da população
germânica, para ter mais Combatentes para a guerra.
Os partidários deste tipo de competição afirmam que as sociedades competitivas e os
mercados competitivos são os que sobreviveram e que a competição entre empresas
aumenta a população e melhora a qualidade dos produtores e serviços.
No plano cultural dos valores éticos, a competição gera uma cultura de trapaça, jogos de
poder, esperteza, desonestidade, fraude e corrupção. A fantasia da separatividade se torna
um consenso; todo mundo acredita em separatividade e separação entre disciplinas
científicas. Os partidários da competição afirmam que ela estimula o progresso cultural e
científico.
Enfim na área do meio ambiente, a competição é responsável pelo suicídio coletivo da
humanidade e pela destruição definitiva das espécies vivas, resultado de grande parte do
processo que descrevemos mais acima. Os partidários da competição faz parte da ordem
natural: cadeia alimentar em que todos os seres vivos se consomem entre si, competição
dos machos pela posse da fêmea, observações teológicas de Konao Lorenz (apud Weil) do
aumento da agressividade e violência quando a densidade populacional aumenta. Mas será
que a natureza do homem não é justamente de transcender a sua própria constituição
27
instintiva animal, cultivando os altos valores construtivos entre os quais a cooperação?
Questiona Weil.
Leonardo Boff em seu artigo: Competição ou cooperação?
(http://alainet.org/active/6444&lang=es) diz que há um fato que faz pensar: a crescente
violência em todos os âmbitos do mundo e da sociedade. Mas há um que é perturbador: a
exaltação aberta da violência, não poupando sequer o universo do entretenimento infantil.
Chegamos a um ponto culminante com a construção do princípio da autodestruição.. Mas
há uma estrutura, erigida em princípio, que explica em grande parte a atmosfera geral de
violência: a competitividade ou a concorrência sem limites.
Ela vigora primariamente no campo da economia capitalista de mercado. Comparece
como o motor secreto de todo o sistema de produção e consumo. Quem for mais apto
(forte) na concorrência quanto aos preços, às facilidades de pagamento, à variedade e à
qualidade, esse vence. A competitividade opera implacável darwinismo social: seleciona os
mais fortes. Estes, diz-se, merecem sobreviver, pois dinamizam a economia. Os mais fracos
são peso morto, por isso são incorporados ou eliminados. Essa é a lógica feroz.
A competitividade invadiu praticamente todos os espaços: as nações, as regiões, as
escolas, os esportes, as igrejas e as famílias. Para ser eficaz, a competitividade deve ser
agressiva. Quem consegue atrair mais e dar mais vantagens? Não é de admirar que tudo
passe a ser oportunidade de ganho e se transforme em mercadoria, do eletrodoméstico à
religião. Os espaços pessoais e sociais que têm valor, mas que não têm preço, como a
gratuidade, a cooperação, a amizade, o amor, a compaixão e a devoção, ficam cada vez
mais acantonados. Mas esses são os lugares onde respiramos humanamente, longe do jogo
dos interesses. Seu enfraquecimento nos faz anêmicos e nos desumaniza.
Na medida em que prevalece sobre outros valores, a competitividade provoca mais e mais
tensões, conflitos e violências. Ninguém aceita perder nem ser engolido pelo outro. Luta
defendendo-se e atacando. Ocorre que após a derrocada do socialismo real, com a
homogeneização do espaço econômico de cunho capitalista, acompanhada pela cultura
política neoliberal, privatista e individualista, os dinamismos da concorrência foram
levados ao extremo. Em consequência, os conflitos recrudesceram e a vontade de fazer
28
guerra não foi refreada. A potência hegemônica, os Estados Unidos, é campeã em
competitividade, usando todos os meios, inclusive armas, para sempre triunfar sobre os
outros.
Como romper essa lógica férrea? Resgatando e dando centralidade àquilo que outrora nos
fez dar o salto da animalidade à humanidade. O que nos fez deixar para trás a animalidade
foi o princípio de cooperação e de cuidado. Nossos ancestrais antropóides saíam em busca
de alimento. Ao invés de cada qual comer sozinho como os animais, traziam ao grupo e
repartiam solidariamente entre si. Daí nasceram a cooperação, a sociabilidade e a
linguagem. Por esse gesto inauguramos a espécie humana. Face aos mais fracos, ao invés
de entregá-los à seleção natural, inventamos o cuidado e a compaixão, para mantê-los vivos
entre nós.
Hoje como outrora são os valores ligados à cooperação, ao cuidado e à compaixão que
limitarão a voracidade da concorrência, desarmarão os mecanismos do ódio e darão rosto
humano e civilizado à fase planetária da humanidade.
O fato de que os seres humanos são capazes de concordar minimamente entre si sobre
princípios como justiça, igualdade, dignidade etc., cria oportunidades para que esses
princípios possam vir a ser postos em prática.
A ética se baseia no exercício da razão, não na esperança de uma recompensa ou no medo
de um castigo, Se nós entendemos por que é preciso fazer isto ou não podemos fazer aquilo,
nossa ética será muito mais forte do que a imposta.
No mundo dos negócios os homens podem ser analisados por suas ações e seu
comportamento, tendo-os como base, ou seja, cada indivíduo é a representação viva de seus
atos e comportamento, que resultam em credibilidade - reflexo da prática de valores como a
integridade, honestidade, transparência, qualidade do produto, eficiência do serviço e
respeito ao consumidor e/ou cliente -; um excelente fator de competitividade agregando
valor à imagem das empresas.
29
Verificamos nesse capítulo que a competição vem sendo trabalhada desde a infância
tomando um caráter cada vez mais desviante, onde a noção de certo e errado está cada vez
mais se escamoteando e como conseqüência disso, as crianças estão se tornando jovens e
adultos mais competitivos, individualistas e cheios de conflitos internos mal resolvidos.
A sociedade como verificamos, está caminhando para a autodestruição, a violência e a
desigualdade social. Alguns modelos empresariais já conseguem adotar um modelo de
cooperação como diferencial competitivo. Há ainda os que defendam a competição como
garantia de qualidade de produtos e serviços. Em um mundo altamente globalizado,
justifica-se a luta por sobrevivência, desde que alicerçada por uma cultura de cooperação e
humanidade.
Enfim um modelo empresarial que rompa com as práticas fordistas e que desenvolva uma
estrutura de trabalho em equipe é o que veremos no terceiro capítulo.
30
Capítulo 3- Mudança de paradigma, adotando o modelo cooperativo.
A globalização estimula a extinção progressiva de milhares de espécies animais e
vegetais. O mundo compete. As civilizações dominantes lutam entre si por mercados e
hegemonia cultural. Hitler é um exemplo desta imposição pela soberania de uns ditos
superiores em detrimento dos ditos inferiores. E isso aparenta ser parte de um processo
iniciado na Antiga Grécia. Naquela época, o filósofo Platão, talvez impressionado com as
construções do Antigo Egito, esboçou uma idéia que descrevia o significado da forma
piramidal. Ele relacionou a ponta superior da pirâmide com o monoteísmo. A existência de
um ser superior se encaixou perfeitamente com a competição. E com o passar do tempo
esse texto de Platão foi sendo rescrito, revisado, adaptado e ampliado por estudiosos
subseqüentes. Na Idade Média, foi aperfeiçoado por Agostinho e Tomás de Aquino, que
logo se tornaram santos da igreja católica. O texto foi base para o primeiro livro impresso
em série, a bíblia.
Surgiu a imprensa. A fé começou a substituir a filosofia. Enquanto isso Gutemberg, que
significa boa montanha, grava em 1474 a sua histórica e lendária assinatura nas páginas da
recém criada imprensa. O resultado foi a grande expansão do catolicismo, do judaísmo e de
filhotes dessa mesma idéia que continuam se multiplicando até hoje em centenas de
religiões e seitas monoteístas. A índole competitiva, onde o subir na vida e o vencer se
constituem num único valor, se cristaliza no dia-a-dia.
A escola reproduz o modelo e as televisões incentivam os jogos competitivos como
olimpíadas, futebol, tênis, vôlei, carros de corrida, campeonatos de boxe, quebra de
recordes e muitos outros. Ganhar uma competição passa a ser sinônimo de sucesso, fama e
fortuna. Esse modelo foi imposto, aqui no Brasil, por brancos que vieram da Europa e
31
instalaram em 1530 a primeira escola. Uma escola jesuítica para perpetuar o modelo de
vida europeu entre os imigrantes, enquanto impunha uma dieta principal à base de carne de
gado, trigo e vinho. Até a chegada dos competitivos europeus na região do Himalaia,
nenhum asiático havia se preocupado em escalar ou conquistar o monte Everest. A
competição resulta em exclusão de muitos e gera as classes sociais. E essa mesma
civilização que se ilude com o resultado de seu progresso a ida à Lua, acaba escondendo de
si mesma a degradação irreversível do meio ambiente e a extinção de milhares de espécies
de animais e microorganismos. Proporciona inclusive o surgimento de soluções excludentes
espontâneas como a dos meninos, alunos de conceituadas escolas católicas, que
incendiaram um índio da tribo pataxó em Brasília.
O vencer e a vontade de dominar, de querer cada vez mais, acaba despertando a cobiça e
a inveja. Isso induz às armas, aos exércitos e aos equipamentos para exterminações em
massa. O poder sempre acaba gerando algum tipo de violência. Quem perde é desligado,
excluído, morre. Ou pior, é extinto. Como aconteceu com os astecas, maias e Incas que
foram exterminados por militares, colonizadores e catequizadores espanhóis. Foi o
genocídio e a destruição de uma civilização que já havia desenvolvido e aprimorado a
qualidade de uma série de alimentos como o milho, o abacate e o cacau. Além de criarem
um sistema de numeração, uma simbologia, um tipo de escrita, esculturas e experiências
genéticas que ainda não sabemos para que servem, como por exemplo, o minúsculo
cachorro chiauaua. Da História pouco sabemos com exatidão, pois mentiras acabam sendo
editadas e reeditadas em conceituados livros acadêmicos de capas duras e impressão de
altíssima qualidade.
Os noticiários mostram que a História foi e ainda é escrita e publicada pelos vencedores.
E os poderosos quando não mentem para atender a interesses próprios, por vergonha ou
desprezo, pouco ou nada revelam sobre a verdade de quem perdeu ou foi vencido. Esse
genocídio que aconteceu nas Américas resultou quando os europeus se decidiram pela
conquista do novo mundo. Estavam competindo Portugal, Espanha, França, Inglaterra e
Holanda para obterem mais poder. E assim foram dominando lugares paradisíacos plenos
de riquezas, ouro e pedras preciosas. Saquearam, escravizaram e catequizaram indígenas
enquanto propagavam a fé cristã e a cultura da Europa renascentista.
32
A ambição pela criação de colônias sempre foi parte integrante dessa cultura. No ano de
1835, por exemplo, numa conferência em Berlim, os europeus resolveram entre eles a
divisão da África. Enquanto isso, o modo de viver tribal foi cedendo lugar à família. Hoje,
o espírito competitivo, embasado no racionalismo e no positivismo, está mais do que
presente na mídia. A propaganda em televisões, jornais, músicas e filmes influenciam o
comportamento das pessoas que incorporam esses valores, idéias, costumes e modas. Na
ânsia pelo lucro imediato obrigam e induzem ao consumo de produtos que muitas vezes
poluem o meio ambiente e exterminam micro organismos indispensáveis para que haja
ciclo biológico. Isso acontece, por exemplo, quando o sabão, que quebra a tensão
superficial da água, é jogado em rios e lagoas. Insetos que precisam caminhar sobre a água
acabam afundando e morrem.
Na plenitude da civilização a solidariedade tende a desaparecer enquanto a competição
cresce. A teoria da evolução das espécies, citada no capítulo 1, onde só os mais fortes
sobrevivem é aplicada com espantosa naturalidade hegemônica em nosso dia-a-dia. A idéia
está presente no trânsito quando um motorista tenta mostrar que tem uma máquina mais
potente ou que dirige um carro melhor e mais rápido. O outro será sempre um adversário ou
simplesmente mais um competidor que precisa ser vencido ou eliminado. Logo após a
Segunda Grande Guerra Mundial foi criado um organismo internacional, a Organização das
Nações Unidas (ONU), supra governamental para resolver os conflitos entre países e etnias.
A História mostra a quase destruição total em duas guerras mundiais. Um conflito sem
fim que parece perdurar indefinidamente. Numa economia globalizada, onde grandes
grupos econômicos disputam para serem os maiores e melhores, apenas algumas pessoas
controlam a economia da metade da população mundial.
(http://www.marel.pro.br/compet.htm )
Chung, (2002) no livro: Qualidade começa em mim, diz que o que está fazendo com que
as pessoas desse novo mundo saiam da zona de conforto e se aventurem em novos
territórios e ações novas, é a questão da empregabilidade. O que antes era uma vantagem
competitiva, o raciocínio lógico-matemático, a busca pelo controle e previsibilidade, no
33
paradigma cultural atual os homens precisam desenvolver seu potencial intuitivo
empreendedor, funções superiores da mente humana.
Hoje, fazemos parte de um mundo físico mais integrado, graças a informatização e à
moderna tecnologia disponível. Neste mundo, as máquinas estão se desenvolvendo e
substituindo rapidamente os seres humanos. No entanto, os homens estão muito atrasados e
ainda sem nenhuma referência clara, na busca dos recursos e benefícios do novo paradigma
da cultura globalizada.
Percebemos que as exigências, principalmente as profissionais, são outras, nunca
imaginadas e ainda bem pouco conhecidas. A nova onda global nos exige fazer algo
diferente, coisas que os computadores e os sistemas operacionais modernos não conseguem
fazer: maior produtividade com inovação e intuição; uma exigência que só pode ser
realizada por pessoas melhor capacitadas e mais realizadoras. As mudanças estão mais
rápidas; o volume informacional cada vez mais complexas e díspares, o que significa que
está cada vez mais difícil ter controle total das situações e que temos que usar recursos
superiores da nossa mente, como a intuição, para a tomada de decisões, e fé na execução
dos novos planos. Significa que temos que aprender a desaprender mais rapidamente (os
velhos hábitos, crenças limitantes, pressupostos improdutivos) para dar lugar a novos
conhecimentos.
De um modo ou de outro, nos últimos 60 anos trocamos, confusamente, o campo pela
fábrica, pelos escritórios e pelo mundo; a antiga simplicidade dos impulsos é substituída
por experimentações intelectuais caóticas e complexas. Tudo tem que ser sistematicamente
pensado e agregado a um volume significativo de preocupações, desde a “fórmula”
artificial de alimentação de nossas crianças, as “calorias” e “vitaminas” dos nutricionistas,
até os esforços erráticos dos governantes para coordenar e dirigir a política e a economia
nacional.
Somos seres vivos que não conseguem mais caminhar instintiva e naturalmente, mas
pensando com exagero nas próprias pernas.
Nas empresas, a ênfase foi sempre dada aos processos ou técnicas isoladas, específicas.
Poucos percebem a organização empresarial em termos de organismos dinâmicos, vivos,
34
interagindo interna e externamente com o meio ambiente. Perdemos, com isso, o senso do
propósito e a nossa competência a longo prazo. Com esta perda, somos hoje fragmentados
de homens nada mais. Confusos e amedrontados. Estressados, ansiosos e incongruentes.
Mais do que nunca, precisamos despertar os poderes de comunicação e de liderança da
própria vida e buscar uma sadia unidade, alinhamento entre espírito, mente e corpo.
O conhecimento sem qualidade e sem valores que o orientem, pode nos destruir. Pode
nos embebedar com a ilusão do poder e da certeza. A solução está na sabedoria, isto é, no
uso eficaz desses conhecimentos nos contextos adequados. (Chung, 2002).
No espaço empresarial a competição está se intensificando. Mas precisamos pensar nela
diferentemente. O modo tradicional de ver a competição é em termos de produtos e
mercados. Seu produto ou serviço avança contra o de seu competidor e um vence. Isto
ainda é importante, mas este ponto de vista ignora o contexto -o ambiente -no qual o
negócio existe. Empresas necessitam se co-desenvolver com outras no ambiente, um
processo que envolve cooperação tanto quanto conflito.
É necessário gerar visões compartilhadas, formar alianças, negociar acordos e
administrar relações complexas.Quando as empresas observam o conjunto, quando elas
compreendem que às vezes é melhor co-expandir que competir com um rival, isto pode
fazer todas as partes mais fortes.
Portanto, há indícios de que nem sempre a eliminação do concorrente se evidencia como
o principal objetivo das empresas no jogo competitivo do mercado atualmente. Outro
aspecto é que numa corrida por recursos naturais, por exemplo, os competidores não
concordam de antemão em começar ao mesmo tempo, do mesmo lugar, e cobrir a mesma
distância. Num jogo não existem ganhos materiais ou acumulação de riqueza, e a
eliminação ou ganho tem efeito somente durante determinados períodos de tempo. Aqueles
que não jogam honestamente são constantemente rejeitados pelo grupo e nem mesmo têm
chance de competir. (Kamii, 1991: 278).
De fato, esta é uma diferença significativa entre a competição em jogos e a competição no
mercado. Ao partirmos da premissa de que a competição integra um continuum
cujas gradações e nuances conduzem, ou podem se mesclar à cooperação, é importante
deter-se sobre o seu significado. Em algumas ocasiões é comum escutarmos algo do tipo:
“espera-se a sua cooperação” E isso pode ser comum nas relações chefe-subordinado para
35
indicar de forma não diretamente imperativa uma escolha a ser feita por nós ou naquelas
circunstâncias em que se espera nossa adesão a algo já decidido sem a nossa participação.
Nestes casos, geralmente está implícito para nós que o nosso consentimento ou
concordância estão sendo esperados. Este é o significado costumeiro relacionado a
consentimento, expectativa de adesão a uma causa ou a comprometimento de nossa parte ao
que está em questão, seja uma tarefa ou uma decisão já tomada.
Entretanto, como bem alertam Kamii e De Vries (1991:21) quando Piaget usa o termo
“cooperação” quer dizer “cooperar” (com um hífen na palavra), “operar junto” ou
“negociar” para chegar a um acordo que pareça adequado a todos os envolvidos. Isso não
significa a ausência de rusgas. A cooperação às vezes implica em conflitos e brigas. Mas,
segundo Piaget, o importante é que a cooperação com outros indivíduos permite o
desenvolvimento da moralidade e da autonomia, condições para que se estabeleça um
relacionamento de respeito mútuo entre as partes.
Referindo-se ao modo como as crianças constroem a cooperação, estas autoras apontam
para o fato que, se houver este relacionamento de respeito mútuo entre as partes, crianças
barulhentas poderão, no momento da disputa, voluntariamente construir uma regra para
ficarem razoavelmente quietas. E, como é que elas constroem a cooperação com o grupo?
Elas constroem uma regra para si mesmas quando chegam às suas próprias conclusões por
descentração e por conseguir ver os pontos de vista de outras pessoas.
Quando o conhecimento e os valores morais são apreendidos não por interiorização de
elementos externos ao sujeito, mas por uma construção interior desencadeada pela interação
do sujeito com o meio ambiente, estamos diante do construtivismo - o princípio mais
fundamental que podemos extrair da teoria de Piaget. Ao contrário, quando regras prontas
como “não falar” são impostas e forçadas, elas permanecem externas, algo a ser obedecido
somente quando alguém as reforça com sanções. A versão de Piaget sobre o aprendizado é
que o novo conhecimento se desenvolve pela modificação ativa que a criança faz do seu
próprio conhecimento anterior, e não por um processo aditivo semelhante a um
empilhamento de tijolos (Kamii e De Vries, 1991:18-19).
Sugere-se então que isto não acontece só com seres em formação, como as crianças. Algo
semelhante parece ocorrer também ao nível das relações entre empresas assim como no
interior das próprias organizações Por outro lado, no mundo do trabalho há numerosas
36
situações em que regras impostas arbitrariamente impulsionam comportamentos
individualistas, de estrita obediência às regras, portanto não comprometidos com os fins ou
até não cooperativos. Conclui-se que uma precondição para cooperar reside na aceitação de
regras estabelecidas de comum acordo ou, no mínimo, consentidas, como no caso de
negociações sindicais e patronais.
Coreno (1996:15-16) ilustra situações de cooperação encontre empresas competidoras,
em que o estabelecimento de acordos e compromissos entre elas levaram a novas situações
de negócio. Em outras palavras: no contexto do jogo competitivo entre as empresas, a
cooperação significou “operar junto”. e negociar regras que parecessem justas para todos. O
conceito de justiça ai é fundamental porque embasa uma regra moral. Transpondo para um
nível macro isto significa visualizar a sociedade tal como a concebe Rawls (1981): como
um sistema eqüitativo de cooperação entre pessoas livres e iguais. Tal definição implica na
idéia de que a cooperação é guiada por normas e procedimentos publicamente
reconhecidos, aceitos como mecanismos reguladores apropriados das condutas mútuas.
Termos eqüitativos na cooperação especificam a idéia de reciprocidade e mutualidade,
isto é: são termos que cada participante pode aceitar desde que todos os demais também os
aceitem. Nas sociedades humanas isto implica numa concepção de justiça política
caracterizando os termos eqüitativos da cooperação social. Como Piaget evidenciou, a
cooperação supõe a codificação de regras entre os participantes. Conseqüentemente, a
cooperação com outros indivíduos permite o desenvolvimento da moralidade e da
autonomia.
Mas o que será autonomia? Este é um ponto importante já que as empresas anunciam
desejar funcionários com iniciativa, espírito de luta, capazes de “vestir a camiseta” da
organização. Será autonomia o mesmo que independência? Segundo o construtivismo, as
pessoas autônomas têm suas próprias convicções sobre o que é certo e o que é errado dentro
de um conjunto específico de circunstâncias. Seus julgamentos não são governados por
recompensa ou punição.
A diferença entre autonomia e independência reside no fato de que o indivíduo autônomo
vai além das convenções, vendo-as como um. conjunto de regras entre muitas outras
possibilidades, e adota regras convencionais somente em certas circunstâncias, quando elas
têm sentido para ele (Kamii e De Vries, op. cit.: 20-23). Este talvez seja um dos aspectos
37
mais conflitantes entre a teoria piagetiana e o que se passa no mundo das organizações.
Nelas se preconiza a descentralização e a autonomia, porém, sabe-se que, como nos
campeonatos, há recompensas e punições para as vitórias e as derrotas. Dentre estas
últimas, nestes tempos de down siz ing, reengenharia e outras “ferramentas” de
reestruturação das empresas, a ameaça do desemprego para o indivíduo talvez seja a
punição mais drástica no cerceamento da autonomia.
Por fim, a idéia de cooperação, segundo Rawls, envolve também a idéia de vantagem
racional ou o bem de cada participante. Significa aquilo que os envolvidos na cooperação -
sejam eles indivíduos, famílias, associações, ou mesmo estados nacionais estão tentando
obter, quando o esquema é considerado do seu ponto de vista. Ora, a idéia de estar tentando
obter ganhos também está presente no jogo competitivo, o que nos leva a confirmar o inter-
relacionamento entre competição e cooperação.
Essa inter-relação acontece harmonicamente quando temos como objetivo comum a ética
e o sentimento de manutenção do respeito e da confiança.
“A moderna ética do trabalho concentra-se no trabalho de equipe. Celebra a
sensibilidade aos outros, exige” aptidões delicadas “, como ser bom ouvinte e
cooperativo; acima de tudo, o trabalho em equipe enfatiza a adaptabilidade as
circunstâncias. O trabalho de equipe é a ética do trabalho que serve a uma
economia política flexível.”
(SENNETT, 2002. pág 118)
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É com apreensão que se volta nosso olhar para o futuro. Se a sociedade humana
sobreviveu graças ao espírito de solidariedade, extinto esse, não pode-se ter muita
esperança quanto ao futuro. Se vivemos no meio de adversários, que precisamos eliminar
para vencer, vamos conquistar um mundo deserto.
É por isso que devemos estar atentos quanto a tênue linha que separa uma competição
empresarial saudável e a excessiva concorrência que utiliza qualquer meio para que ao final
se alcance a vitória e o destaque entre os demais. A cooperação enquanto prática nas
organizações se destaca até mesmo com fator de competitividade, pois se diferencia do
modelo tradicional imperativo e desleal. O que não quer dizer que não possa haver
conflitos, que de certa forma fazem parte do crescimento da equipe. Se o conflito se
estabelece em virtude do processo de mudança onde o bem comum é o objetivo, é
perfeitamente normal.
O que foi analisado neste trabalho é a escolha que se faz não só como cultura
organizacional, mas de vida, nas relações sociais, pessoais e empresariais. Se caminharmos
para um mundo onde o grau de competitividade é extremo, viveremos num mundo
habitável somente para uma minoria arrogante, soberba, ricos e insensíveis. Será que é isso
que queremos para nossos filhos? Eu não. E você?
Espero que esse trabalho sirva para despertar consciências críticas e humanizadas de um
sistema complexo, porém fantástico que é a vida.
39
BIBLIOGRAFIA
http: //alainet.org/active/6444&lang=es
http://www.pierreweil.pro.br/Novas/Novas-16.htm
http://www.marel.pro.br/compet.htm
Souza, Claudia. 2008 apud-http: //www.infoescola.com
http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/artigosout.htm
ARIÉS, F. Pequena contribuição à história dos jogos e brincadeiras. In: Áries, F. História
social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981
BARAN, Paul. SWEZZI, Paul. Capitalismo Monopolista. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
1964.
BAUDRILLARD, J. Para uma crítica da economia política do signo. Lisboa: Edições 70;
Rio de
Janeiro: Elfos, 1995.
______. À sombra das maiorias silenciosas. São Paulo: Brasiliense, 2004.
______. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 2005.
BETTELHEIM, B. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987.
BLEEKE, Joel; ERNEST, David. Colaborando para competir. In: MINTZBERG, Henry;
QUINN, James Brian. O processo de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2001.
40
CASAROTTO, Nelson Filho. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento
local: estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência
italiana. São Paulo: Atlas, 1998.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CHUNG, Tom. Qualidade começa em mim: manual neurolinguístico de liderança e comunicação. SP: Novo século editora, 2002.
CORENO, Claudia (1996), Strange bedfellows, special edition, vol. 5 iss12/v6nl, Business
Mexico.
DE VRIES, Rheta (1991), “Bons jogos em grupo: o que são eles?” cap. 1 in: Kamii, C e De
Vries, R. “Jogos em grupo na educação infantil: implicações da teoria de Piaget, São
Paulo: Trajetória Cultural.
FADIMAN, James, 1939 teorias da personalidade São Paulo: Harbra, 1986.
FERRAZ, J.C; KUPFER, B; HAUGUENAUER, L. Made in Brazil: desafios competitivos
para a indústria. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
FLEURY, Afonso Carlos Corrêa; FLEURY, Maria Tereza Leme. Aprendizagem e
inovação organizacional: as experiências de Japão e Brasil. São Paulo: Atlas, 1997.
HAMEL, Gray; PRAHALAD, C.K. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para
obter o controle do seu setor e criar mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar,
1996.
KAMII, Constance (1991), “A questão da competição”, en R. Jogos em grupo na educação
infantil:
implicações da teoria de Piaget, cap. 11, São Paulo Trajetória Cultural.
KAMII, Constance (1991), “Por que usar jogos em grupo?”, en Jogos em grupo na
educação infantil:
41
implicações da teoria de Piaget, cap. 2, São Paulo Trajetória Cultural, 1991
LINN, S. Crianças do consumo: infância roubada. Trad. Cristina Tognelli. São Paulo:
Instituto Alana,2006.
MCFARLAN, F. Warren. A tecnologia da informação muda a sua maneira de competir. In:
MONTGOMERY, Cynthia A; PORTER, Michael E. (ORG.). Estratégia: a busca da
vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
PORTER, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho
superior. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da
concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
RAWLS, J. Uma teoria da justiça. Brasília: EdUnb,1981.
SENGE, Peter. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. São Paulo:
Best Seller, 1990.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as conseqüências pessoais do trabalho no novo
capitalismo. Rio de Janeiro, Ed. Record, 2002.
ZANOLLA, S.R. A influência do videogame na formação de crianças de 3a a 4a séries: um
estudo do jogo eletrônico como mediação cultural. Goiânia: Universidade Federal de Goiás,
Pró-Reitoria de Graduação, 1999. (Relatório final de pesquisa).
42