Download - Compêndio psicologia do esporte
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VIVA O BASQUETEBOL
(http://vivaobasquetebol.wordpress.com)
Psicologia do Esporte
Prof. Dante De Rose Junior
São Paulo
Outubro- 2013
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Amigos do basquetebol, este compêndio traz os textos divulgados no
blog Viva o Basquetebol e que abordaram temas relacionados à Psicologia do
Esporte.
Os posts foram organizados na ordem em que foram publicados.
Espero que gostem e que possam aproveitar.
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Motivos que levam à prática esportiva
27/11/2010
Amigos do basquetebol
Seguindo na linha de apresentar textos, ou resumos de textos, já produzidos, envio a todos um trabalho
feito com jovens atletas de basquetebol, abordando os motivos que levam à prática esportiva.
Esse texto foi compilado do artigo:
MOTIVOS QUE LEVAM À PRÁTICA DO BASQUETEBOL: UM ESTUDO COM JOVENS ATLETAS
BRASILEIROS,publicado na Revista de Psicologia del Deporte, v. 10, p. 293-304, 2001.
Autores: Dante De Rose Junior, Roberto R. Campos e Marcelina Tribst.
A maioria dos jovens tem seu primeiro contato com uma modalidade esportiva na infância ou no início da
adolescência através das aulas de educação física ou da escolinha de esporte da escola ou de um clube.
Desta forma, o professor/técnico deve saber o que levou este jovem a procurar esta modalidade esportiva
ou o que o faz praticar, ou seja, deve identificar os motivos para a prática.Conhecer esses motivos pode
instrumentalizar os profissionais que trabalham no esporte para reduzir aspectos que podem causar
impacto negativo no jovem praticante.
A motivação está ligada a fatores de personalidade e variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo
quando uma pessoa dedica-se a uma tarefa na qual está sendo avaliada, entra em competição com
outros ou tenta atingir algum nível de excelência, pois nestas ocasiões é assumido que o indivíduo é
responsável pelo resultado da tarefa e que algum nível de desafio é inerente a ela. A motivação é
responsável pela escolha, persistência e rendimento numa atividade.
Os jovens possuem vários motivos para o ingresso na prática esportiva. De forma muito genérica, os
motivos podem ser intrínsecos (quando emanam das necessidades e expectativas da própria pessoa)
ou extrínsecos(determinados por influências externas como meio ambiente, pessoas influentes, modelos,
etc..).
A iniciação em uma determinada modalidade esportiva pode estar baseada em inúmeros motivos que vão
desde a perspectiva de ser um ídolo (motivos intrínsecos) até a vontade unicamente vinda dos pais, seja
por razões educacionais, de saúde, desejos pessoais ou pela busca de ascensão social (motivos
extrínsecos). Logo, os fatores que levam uma criança a prática de alguma modalidade esportiva podem
estar relacionados a suas competências físicas, pressões externas, necessidade de pertencer a um grupo
e razões sociais.sses motivos são relatados em diferentes estudos encontrados na literatura internacional.
De forma geral, os resultados apontam para alguns fatores como sendo os mais significativos na escolha
de uma determinada modalidades esportiva:
diversão
relacionamento com outras pessoas
competição
melhora das capacidades físicas e habilidades motoras
modelos esportivos
experimentar novos desafios
Esses estudos também apontam que questões culturais e ambientais são importantes para a definição
dessa escolha. Exemplo: em um local onde um determinado esporte é predominante, será bastante
provável que um jovem o escolha para iniciar sua prática. Aqui podemos citar como exemplo a cidade de
Franca onde o basquetebol é o esporte preferido. Isto certamente infouenciará a escolha de um jovem.
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No estudo que gerou este texto, foram avaliados 135 jogadores de basquetebol sendo 74 do sexo
masculino e 61 do feminino na faixa etária de 15 a 18 anos da Região da Grande São Paulo. Para
participar da pesquisa foram estabelecidas duas condições: estar registrado como atleta na Federação
Paulista de Basketball e ter participado de competições oficiais nos 6 meses que antecederam a
pesquisa. Os atletas responderam à seguinte questão: O que o (a) levou a iniciar a prática do
basquetebol?
Os motivos intrínsecos foram divididos em quatro categorias:
Aspiração: ser um bom (boa) jogador (a); ser bom profissional na área (professor ou técnico)
Necessidades cognitivas e emocionais: desenvolver inteligência; desafios; queria fazer um esporte;
necessidade de desenvolver o raciocínio; forma de se livrar de outros problemas
Prazer pela modalidade: sempre ter feito vários esportes; por ser um esporte competitivo; prazer e
diversão; contato físico
Percepção das qualidades individuais: por ser alto (a); por se destacar nos jogos da escola.
Os motivos extrínsecos foram divididos em duas categorias:
Pessoas significativas: família, amigos, modelos e professor/técnico
Ambiente social: escola, clube e outros
Nos 135 formulários respondidos foram identificadas 225 manifestações sobre motivos de prática
do basquetebol, sendo 156 por parte dos rapazes e 69 por parte das moças. Dessas manifestações,
94 estavam relacionadas a motivos intrínsecos (41,8%) e 131 a motivos extrínsecos (58,2%).
39% dos meninos e 49% das meninas apontaram os motivos intrínsecos como fator principal
para a escolha da modalidade
61% dos meninos e 51% das meninas apontaram os motivos extrínsecos como fator principal
para a escolha da modalidade
Dos motivos intrínsecos, o prazer pela modalidade foi o mais apontado (58% dos meninos e 62%
das meninas).
Dos motivos extrínsecos, as pessoas significativas foram as mais apontadas (78% dos meninos
e 72% das meninas)
Para os meninos, a família foi o fator principal para a escolha da modalidade (32%). Idem para
as meninas (40%). O incentivo da família e familiares que já haviam praticado a modalidade foram os
mais citados
Os professores e técnicos foram apontados por 14% dos meninos e 23% das meninas como
sendo importantes por seu incentivo
Para finalizar, o professor/técnico consciente dos principais motivos que levam um jovem a prática
esportiva pode utilizá-los como principio para tornar a prática da modalidade muito prazerosa sem tirar-lhe
o aspecto competitivo. Deve-se ressalvar que professores e técnicos também são citados em vários
estudos como um dos principais fatores de abandono da prática esportiva por jovens.
Os professores/técnicos devem também compreender que os pais e outras pessoas têm uma grande
influência na vida da criança e suas futuras escolhas. Portanto, é de responsabilidade deles orientar
essas pessoas da importância do seu papel na vivência deste jovem no esporte, tendo em vista que a
família pode cooperar para que esta experiência seja algo menos estressante devido às exigências que o
esporte impõe aos seus praticantes.
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Situações de jogo que podem causar stress no basquetebol
01/12/2010
Amigos do basquetebol
Este texto mostrará situações específicas de jogo que podem causar stress no basquetebol. Ele foi
complicado do artigo:
O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil - publicado na Revista Portuguesa de
Ciências do Desporto, v.1, n.2, p. 36-44, 2001.
Autores: Dante De Rose Junior e Paula Korsakas
O basquetebol pode ser considerado um esporte complexo, que envolve um processo dinâmico e
contínuo de situações específicas. Para atingir um nível de execução considerado adequado os atletas
devem estar preparados fisicamente, tecnicamente e taticamente. Esses fatores, aliados aos aspectos
psicológicos envolvidos na prática de qualquer esporte competitivo, são decisivos na determinação do
desempenho dos atletas e, até mesmo, na definição dos resultados dos jogos.
Entre os aspectos psicológicos que fazem parte de qualquer contexto competitivo, o stress pode ser
considerado um dos fatores preponderantes na determinação do desempenho, não se desprezando a
influência da ansiedade, da motivação, da agressividade, da concentração, da atenção e da coesão de
grupo, entre outros.
Pode-se imaginar que atletas experientes, com grande número de participações em eventos
internacionais, tenham melhores condições de lidar com as situações causadoras de stress próprias de
uma competição e possam manter seus níveis de ansiedade dentro de padrões aceitáveis. No entanto, a
pressão dessas competições pode provocar rupturas nesses comportamentos, pelas consequências que
o fracasso nessas situações pode gerar. Imagina-se também que atletas em início de carreira, apesar de
participar de eventos menos tensos e com consequências não tão importantes, tenham dificuldades em
lidar com as situações do contexto competitivo ou externas a ele e que levem a um desempenho
inadequado, exatamente pela falta de experiência.
No estudo que se segue procurou-se identificar as situações próprias de jogo que podem causar stress
elevado em atletas de basquetebol de categorias de base (cadetes, infanto-juvenis e juvenis), classificar
essas situações de acordo com a incidência de respostas dadas pelos atletas ao instrumento utilizado
para a finalidade e comparar essa classificação em função do gênero.
Participaram do estudo 136 jogadores de basquetebol (75 rapazes e 61 moças) com idade variando entre
15 e 19 anos, todos atletas de clubes filiados à Federação Paulista de Basketball, disputando
regularmente campeonatos organizados pela entidade. A média de idade do grupo foi igual a 17 anos e 6
meses. Os atletas responderam ao Formulário para Identificação de Situações de Stress no Basquetebol
(numa escala de 0 a 5). Os principais resultados são mostrados nas tabelas abaixo:
Tabela 1: 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordo com a opinião dos jogadores
(valores percentuais relacionados ao número de respostas)
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Clas. Situação Valor %
1 34- Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.3
2 25- Perder jogo praticamente ganho 68.9
3 31- Repetir os mesmos erros 68.0
4 50- Arbitragem que te prejudica 64.0
5 24- Perder para equipe tecnicamente inferior 62.7
6 33- Cometer erros em momentos decisivos 61.3
7 68- Técnico que privilegia determinado jogador 60.0
8 60- Companheiro egoísta 58.7
9 30- Jogar abaixo de seu padrão normal 56.0
10 69-Técnico que só critica 54.7
10 70- Técnico que não reconhece o esforço do jogador 54.7
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Tabela 2: 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordo com a opinião das jogadoras
(valores percentuais relacionados ao número de respostas)
Clas. Situação Valor %
1 31- Repetir os mesmos erros 88.1
2 60- Companheiro egoísta 80.3
3 25- Perder jogo praticamente ganho 77.1
4 34- Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.0
5 63- Companheira que cobra ou reclama muito 73.8
6 30- Jogar abaixo de seu padrão normal 77.1
7 37-Ser excluída do jogo 70.5
8 24- Perder para equipe tecnicamente inferior 70.1
9 68- Técnico que privilegia determinado jogador 65.6
10 70- Técnico que não reconhece o esforço do jogador 64.0
Como era de se esperar, as ocorrências de jogo são muito marcantes, pois têm uma influência direta no
resultado e na avaliação a qual os atletas são submetidos. Ou seja, o que acontece em jogo é muito mais
evidente do que aquilo que acontece em treinamento ou em qualquer outra situação na qual o atleta não
esteja exposto diretamente.
Além disto, verificou-se que a incidência das respostas nos níveis mais elevados de stress foi
significativamente maior nas meninas.
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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 1
16-03-2011
Nesta série de mini artigos, o tema abordado será a Motivação. Serão dois posts falando desse
importante componente psicológico e de estudos específicos sobre os motivos que levam os jovens a
praticar uma modalidade esportiva, especificamente o basquetebol.
Eles se baseiam no artigo elaborado por Dante De Rose Junior, Roberto Ramos de Campos e
Marcelina Tribst, publicado na Revista de Psicologia Del Deporte, v.10, p. 293-304, 2001.
Introdução
A motivação está ligada a fatores de personalidade e variáveis sociais e cognitivas que entram em jogo
quando uma pessoa dedica-se a uma tarefa na qual está sendo avaliada, entra em competição com
outros ou tenta atingir algum nível de excelência, pois nestas ocasiões é assumido que o indivíduo é
responsável pelo resultado da tarefa e que algum nível de desafio é inerente a ela. A motivação é
responsável pela escolha, persistência e rendimento numa atividade.
A maioria dos jovens tem seu primeiro contato com uma modalidade esportiva na infância ou no início da
adolescência através das aulas de educação física ou da escolinha de esporte da escola ou de um clube.
Desta forma, o professor/técnico deve saber o que levou este jovem a procurar esta modalidade esportiva
ou o que o faz praticar, ou seja, deve identificar os motivos para a prática.
A iniciação em uma determinada modalidade esportiva pode estar baseada em inúmeros motivos que vão
desde a perspectiva de ser um ídolo até a vontade unicamente vinda dos pais, seja por razões
educacionais, de saúde, desejos pessoais ou pela busca de ascensão social. Logo, os fatores que levam
uma criança a prática de alguma modalidade esportiva podem estar relacionados a suas competências
físicas, necessidade de pertencer a um grupo, razões sociais, pressões internas e externas.
A motivação possui duas importantes fontes, uma intrínseca relacionada a pessoas que gostam de
competir, procuram divertir-se e aprender; e outra extrínseca ligada a fatores externos e que são
estimuladas por reforços positivos e negativos. os fatores intrínsecos estão ligados a indivíduos que
gostam de ação, diversão e percebem que são bons em algumas habilidades. Os extrínsecos são
representados por recompensas externas, como elogios ou premiações. Os jovens possuem vários
motivos para o ingresso na prática esportiva, contudo, o que mais aparece nas pesquisas é a diversão
proporcionada por ela.
Algumas investigações sobre os motivos que levam jovens atletas a participar de uma modalidade
esportiva identificam categorias relacionadas aos motivos intrínsecos e extrínsecos:
Motivos Intrínsecos:
1. Aspiração: jovens que almejam atingir o nível mais elevado dentro da modalidade e, além disso,
pretendem ter destaque nas suas carreiras quando atingirem o profissionalismo;
2. Necessidades cognitivas e emocionais: perceber a modalidade como uma tarefa que possa
contribuir nos aspectos cognitivo e emocional.
3. Prazer pela modalidade: é uma recompensa vivenciada na própria prática sendo um
comportamento motivado intrinsecamente. Ou seja, a prática esportiva é a prória fonte de prazer.
4. Percepção das qualidades individuais: é a percepção que a pessoa tem a respeito de sua
habilidade no esporte ou mesmo de ser diferenciada nos aspectos social, biológico, cognitivo e motor,
sendo que sucesso e fracasso são avaliados pelas pessoas significativas;
Motivos extrínsecos:
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1. Pessoas significativas: são os adultos, pais, professores, entre outros, que interagem com o
jovem influenciando suas ações.
2. Ambiente Social: instituições que contribuíram à prática da modalidade, como a escola e o clube,
além da cidade que possibilitou e foi percebida como facilitadora para seu acesso no basquetebol.
É importante que o professor/treinador conheça os motivos pelos quais um jovem é levado a praticar uma
modalidades esportiva, pois através deste conhecimento ele poderá criar ambientes adequados de
trabalho, levando seus atletas a uma satisfação que o mantenha na atividade e tenha sempre vontade de
voltar e continuar com o mesmo entusiasmo.
Na segunda parte deste mini artigo, serão mostrados resultados de um estudo realizado com jovens
brasileiros praticantes de basquetebol.
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Motivos que levam à prática do basquetebol: parte 1
16-03-2011
Nesta segunda parte do mini artigo, serão apresentados os resultados obtidos com um estudo realizado
com jogadores de basquetebol de 15 a 18 anos que participaram de competições oficiais da Federação
Paulista de Basketball no ano de 2004.
Foram avaliados 135 jogadores: 74 do sexo masculino e 61 do feminino.
Para a coleta de dados foi utilizado o “Formulário para Identificação de Situações de Stress no
Basquetebol” (FISSB) criado por DE ROSE Jr. (1999). Este instrumento possui três partes. Uma ficha de
identificação do atleta que visa obter algumas informações pessoais do mesmo, bem como dados básicos
da sua vida esportiva. Uma segunda parte composta por 162 questões, sendo que para cada uma o atleta
tem a opção de dar uma única resposta numa escala de 0 a 5 (nenhum stress à stress muito elevado). E
a última com quatro perguntas abertas em que o atleta pode discorrer livremente em função das questões
sobre motivos, objetivos, importância do esporte e situação crítica de stress.
Este estudo baseou-se na primeira pergunta aberta do formulário, “O que o levou a iniciar a prática do
basquetebol?”.
Foram consideradas todas as respostas, mesmo quando um determinado atleta manifestava-se mais do
que uma vez.
Além disso, foi feita uma distribuição da frequência (absoluta e relativa) de cada resposta e dos motivos
categorizados para cada sexo.
A partir da análise indutiva, procurou-se agrupar as respostas dos atletas, identificando categorias gerais
e específicas para cada grupo de motivos, partindo-se do conceito geral de motivos intrínsecos e
extrínsecos.
Nos 135 formulários respondidos foram identificadas 225 manifestações sobre motivos de prática do
basquetebol, sendo 156 por parte dos rapazes e 69 por parte das moças. Dessas manifestações, 94
estavam relacionadas a motivos intrínsecos (41,8%) e 131 a motivos extrínsecos (58,2%).
A partir desses dados e das características das respostas foi feita a categorização das mesmas, sendo
que para os motivos intrínsecos foram determinadas 4 categorias gerais (aspirações; necessidades
cognitivas e emocionais; prazer pela modalidade e percepção das qualidades individuais) e para os
motivos extrínsecos foram determinadas 2 categorias gerais (pessoas significativas e ambiente social).
Os motivos apontados e as categorias aos quais estão associados são apresentados a seguir:
Motivos Intrínsecos:
1. Aspiração: Ser um bom jogador ; ser um grande profissional da área
2. Necessidades cognitivas e emocionais: Desenvolver inteligência; enfrentar desafios; querer
praticar um esporte; necessidade de desenvolver o raciocínio e forma de se livrar de outros problemas
3. Prazer pela modalidade: Sempre fiz vários esportes e optei pelo basquetebol; por ser uma
modalidades competitiva; por gostar muito do basquetebol e por diversão
4. Percepção das qualidades individuais: por ser alto; por me destacar nos jogos
Motivos extrínsecos:
1. Pessoas significativas:
influência da família; tio árbitro
modelos: primos que jogavam; pai jogador; tios jogadores; ver a Paula jogar
influência do professor/técnico: convite para jogar; apoio do professor de educação física
1. II. Ambiente Social: ver jogos pela TV; único esporte praticado na escola; clube perto de casa;
assistir jogos ao vivo
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O prazer pela modalidade esportiva aparece como um dos principais motivos para a prática do esporte,
sendo que esta intimamente ligado a motivação intrínseca.
As pessoas significativas são consideradas como as que tiveram maior importância para o início da
prática do basquetebol e também a mais importante na classificação geral. Nessa categoria geral a família
e o professor/técnico destacam-se pela frequência das respostas.
Os modelos e os amigos tiveram destaque apenas para os rapazes. Já o ambiente social foi citado pelos
jovens de ambos os sexos como importante para o ingresso na modalidade.
Entende-se que o professor/técnico deve introduzir uma metodologia de trabalho que perpetue o prazer
pela modalidade ao longo da vida esportiva do jovem. As cobranças dos professores/técnicos por
resultados e títulos pode tornar a vivência no esporte muito estressante para o jovem, diminuindo ou até
mesmo ausentando de prazer toda a sua experiência na modalidade.
O professor/técnico consciente dos principais motivos que levam um jovem a prática esportiva, pode
como pessoas significativas que também o são, utilizá-los como principio para transformá-los em prazer
pela modalidade, sabendo que este é decisivo para a continuidade do jovem na vida esportiva.
Compreender também que os pais e outras pessoas que possuem influência na vida da criança é
essencial para os professores/técnicos nas categorias de base, pois é de responsabilidade deles orientar
os pais da importância do seu papel na vivência deste jovem no esporte, tendo em vista que a família
pode cooperar para que está experiência seja algo menos estressante do que já é por se tratar das
exigências que o esporte impõe aos seus praticantes.
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O esporte e a “saúde psicológica”
12-05-2011
Texto apresentado em evento realizado pelo Instituto Ayrton Senna, em 2005
Este tema desta mesa aborda aspectos da saúde e suas relações com as atividades físicas e o esporte.
Várias são as questões inerentes ao tema. Uma delas é o velho chavão “ Esporte é saúde”.
Inicialmente seria importante traçar o limite entre atividade física e esporte. Há sempre uma grande
confusão entre esses dois termos. Em alguns casos eles são colocados como sinônimos, em outros o
esporte é tido como uma das atividades físicas e há ainda correntes que os colocam em posições
diametralmente opostas.
Em nosso caso tentaremos abordar o esporte como uma atividade física que tem algumas características
bem definidas, conforme aponta Barbanti (2005). Para o autor, esporte não tem uma definição precisa,
pois há grande diversidade de significados para o fenômeno. No entanto, esporte nos remete a uma
atividade física institucionalizada que envolve esforço físico vigoroso, uso de habilidades motoras
relativamente complexas e que exige motivação dos indivíduos para participar. Seu objetivo é comparar
rendimentos e a competição é fator inerente à sua prática.
Esse “esporte” exige do atleta o cumprimento de uma lista enorme de exigências para poder atingir seus
objetivos e, principalmente, manter-se nesse status. São muitas horas de treinamento intensivo, jogos e
viagens permeadas por problemas pessoais e de relacionamento com colegas, técnicos e dirigentes,
lesões e, principalmente, as pressões naturais da competição a que são submetidos frequentemente.
No caso dos atletas de alto nível e, em algumas vezes para aqueles que estão iniciando sua carreira, a
dedicação deve ser total. Na atual conjuntura do esporte não se pode imaginar o atleta em meio período
ou treinando duas ou três vezes por semana (como era comum há alguns anos). Os atletas abdicam,
muitas vezes, de suas preferências pessoais, de seus relacionamentos e de sua vida social em prol de
uma causa que eles (ou que outros) julgam plenamente justificável.
Pensando em todo esse esforço e sacrifício, podemos imaginar um terrível paradoxo. Ou seja: para
agüentar essa demanda os atletas são preparados e, consequentemente, gozam de uma saúde de ferro.
No entanto, essa mesma preparação, aliada a todos os fatores inerentes à prática esportiva de alto nível
pode provocar um desequilíbrio nos diferentes fatores que fazem parte da preparação de um atleta: físico,
técnico, tático e psicológico. Esse desequilíbrio, de certa forma, pode afetar a saúde desse atleta trazendo
conseqüências de ordem física, psicológica e social.
Dentre esses três fatores, abordarei de forma mais direta o psicológico e mais especificamente o stress
provocado pelo processo competitivo ao qual esses atletas são submetidos (entenda-se como processo
competitivo toda a preparação individual e coletiva e a competição propriamente dita).
Dentre os fatores de stress mais comuns em um processo competitivo encontramos os fatores
competitivos e os fatores extra-competitivos. Dos fatores competitivos podem ser ressaltados
os estados psicológicos (medos, preocupações, expectativas e inseguranças); situações de
jogo (situações específicas de cada esporte, arbitragem, técnicos, torcida, adversários); preparação da
equipe (treinamento e infra-estrutura); planejamento e organização (federações, calendários); pressões
externas. Dos fatores extra-competitivos podem ser destacados os relacionamentos, problemas com
escola, trabalho e financeiros e os fatores sociais (amizades e vida social).
O trabalho de planejamento das atividades (treinamento e jogos) é primordial no combate a esse stress,
pois se os atletas não tiverem momentos de descanso poderão apresentar respostas inadequadas que
poderão variar desde respostas físicas/fisiológicas, psicológicas (emocionais e cognitivas) e sociais. O
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conjunto desses fatores atuando sobre o atleta pode levá-lo a uma situação de sobrecarga de trabalho
que seguramente afetará sua saúde, por mais bem preparado que possa estar.
Portanto, a atenção ao estado de saúde do atleta deve ser constante, desde o período de iniciação
esportiva, quando as crianças começam a tomar contato com o esporte e, principalmente, com a
competição. Neste caso o processo de formação e especialização esportiva deve ser considerado a partir
das características do praticante, suas necessidades e expectativas. Cuidar para que o treinamento seja
introduzido gradativamente, sem exageros e pressões pode garantir uma vida longa para o futuro atleta
mas, principalmente, uma qualidade de vida adequada para que ele continue praticando o esporte de
forma saudável e prazerosa, mesmo que não consiga atingir os altos níveis de competição e sucesso.
Imaginar que a prática esportiva massiva, com treinamentos intensivos pode levar a uma condição de ser
inatingível pelas doenças que são comuns somente aos “seres humanos” é um terrível engano. Atletas,
antes de mais nada, são pessoas comuns, que têm habilidades diferenciadas, mas que sentem dor,
emocionam-se e sofrem como qualquer cidadão comum.
Referência bibliográfica
Barbanti, V.J. Dicionário de Educação Física e Esporte (2ª. Ed). São Paulo, Manole, 2005, p.228.
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Amigos do Basquetebol
16-06-2011
Estudar o stress competitivo sempre fez parte da minha vida acadêmica. O estudo abaixo relatado foi
realizado em 1999 para cumprir uma das exigências do concurso de Livre Docência da USP. Ele foi
realizado com 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro (10 rapazes e 9 moças).
O stress é um dos fatores psicológicos mais frequentes no esporte competitivo, qualquer que seja o nível
do atleta nele envolvido. Vários autores citam sua importância , colocando-o, inclusive, como o fator
determinante do desempenho entre esses atletas. O basquetebol, por reunir uma grande variedade de
características pessoais e situacionais, é um esporte potencialmente gerador de stress.
Com o objetivo de detectar as situações causadoras de stress no basquetebol de alto nível e classificá-las
em fontes e fatores, este estudo foi desenvolvido com 19 atletas do basquetebol brasileiro (10 rapazes e 9
moças), com participação efetiva em, pelo menos, uma das duas últimas edições das competições
internacionais: Jogos Olímpicos e/ou Campeonatos Mundiais.
Para a pesquisa os atletas foram entrevistados tendo como base as seguintes questões: “Quais as
situações direta ou indiretamente relacionadas à competição que causam stress durante um jogo?” e
“Qual a situação mais crítica de stress em sua carreira?”
Foram identificadas 126 situações específicas de stress no basquetebol, classificadas em fontes
específicas e fatores específicos de stress que foram reduzidos a 4 fatores gerais: competitivo individual,
competitivo situacional, extracompetitivo pessoal e extracompetitivo social.
De todos os fatores, os competitivos situacionais representaram a maioria das situações (90,5%), com
destaque para as “situações de jogo”, “influência de pessoas importantes – técnico e companheiros de
equipe “, “competência” e “planejamento e organização”.
Dos fatores competitivos individuais, “medo e insegurança” foram os fatores específicos mais citados.
Das situações críticas, sete atletas referiram-se a fatos ocorridos durante jogos, cinco citaram problemas
de contusão, três apontaram “estados psicológicos” e dois as relacionaram com “pessoas importantes”.
“Planejamento e organização” e “problemas pessoais” foram identificados por um atleta cada.
A partir deste resumo enviarei posts especificando as situações relacionadas a cada um desses fatores.
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Stress no Basquetebol: os fatores competitivos individuais
26-06-2011
Dando continuidade ao post publicado em 16 de junho, vamos abordar os fatores de stress identificados
no estudo realizado com 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro. A partir das situações relatadas
pelos atletas foram definidos dois fatores gerais: competitivos (individuais e situacionais) e extra-
competitivos (pessoais e sociais).
Neste post, serão abordados os fatores competitivos individuais.
Os fatores competitivos são aqueles que estão diretamente relacionados ao contexto da competição,
tanto no âmbito individual quanto no situacional.
Das 126 situações identificadas pelos atletas como causadoras de stress, 20 foram englobadas no fator
competitivo.
Os Fatores Individuais, foram definidos a partir de fontes de stress dependentes do próprio atleta e de
suas condições individuais para interpretá-las e lidar com elas. Foram identificados 2 fatores específicos:
estados psicológicos: cujas fontes específicas são as seguintes: medo/insegurança,
expectativas/objetivos e pressões internas. Neste caso foram identificadas 16 situações (80% de
todos os fatores individuais). As situações de stress relacionadas a esse fator foram as seguintes:
Medo/insegurança: não saber lidar com o erro, falta de experiência em seleção
brasileira, inexperiência no começo da carreira, medo de decepcionar os companheiros de equipe
e as pessoas em geral, não saber se a equipe continuaria no final da temporada, futuro incerto e
renovação de contrato
Expectativas/objetivos: definição irreal de objetivos, necessidade de manter-se em alto
nível, pensar constantemente no sucesso e necessidade de sempre jogar bem
Pressões Internas: medo de perder, auto-cobrança exagerada, pensamentos negativos
sobre a carreira, ter a todo momento que provar seu valor
aspectos físicos: são as situações que envolvem a preparação individual e lesões. Esse fator
foi representado por 4 situações (20% do fatores específicos individuais)
Estar mal preparado fisicamente
Falta de repouso
Tensão pré menstrual
Lesões
É importante ressaltar que, apesar de terem sido identificadas somente 20 situações relacionadas a
fatores individuais (entre as 126 situações competitivas), o impacto dessas situações pode ser tão ou
mais importante que as demais.
Isto ficou marcado pelo fato de que oito atletas apontaram como momentos críticos de stress em suas
carreiras, situações ligadas a esses fatores competitivos individuais:
Estados psicológicos (insegurança):
1ª participação em Jogos Olímpicos
Neste caso, além da insegurança natural por ser a primeira grande competição internacional a qual o
atleta em questão participava, houve também uma sensação de euforia e conquista do grande objetivo da
carreira.
Retorno às atividades após longo período de ausência.
Isto aconteceu às vésperas de uma competição importante causando muita expectativa e insegurança
quanto ao desempenho.
Estados psicológicos (expectativas/objetivos):
Ser titular nos primeiros Jogos Olímpicos que participou.
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Da mesma maneira que no caso anterior, também houve uma grande sensação de objetivo conquistado,
além de uma euforia natural.
Aspectos físicos (lesões):
Contusão grave e longo afastamento (3 casos)
Contusão grave e briga com médico
Contusão grave e falta de respaldo da equipe
A contusão é um fator importante na vida de um atleta, pois pode causar problemas sérios, colocando em
risco a continuidade de sua carreira. Todos os atletas que sofreram lesões graves e ficaram afastados por
longo período, declararam ter tido, em algum momento, pensamentos negativos quanto à sua
continuidade no esporte. Chamou a atenção a reação de uma atleta que, passada a fase crítica da
contusão, declarou que aquele momento havia sido muito importante, pois somente naquela circunstância
ela pode realizar diversas atividades que em situação normal nunca poderia ter feito. Essa atleta chegou
a declarar que a contusão havia se transformado em algo positivo para que ela pudesse ter possibilidade
de aproveitar situações de uma vida normal.
No próximo post sobre o assunto, serão abordados os fatores competitivos situacionais.
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Situações de stress no basquetebol: fatores situacionais
3-07-2011
Continuando a série sobre stress e basquetebol, neste post abordaremos os fatores
competitivos situacionais.
Normalmente o termo “competição” refere-se à ocasião no qual o atleta tem a oportunidade de
demonstrar seus atributos, seja em um jogo, uma prova ou um confronto entre dois ou mais
competidores. Na sua forma mais simples de interpretação a competição esportiva pode ser
considerada como o momento em que indivíduos ou equipes se confrontam para buscar um
mesmo objetivo, ou seja, a vitória. No entanto, para se chegar a ele existem vários fatores que
fazem parte de todo um processo.
Esse processo inclui aspectos relacionados ao planejamento da equipe (incluindo-se o treinamento, os
jogos preparatórios, condições de local, equipamento e material), o planejamento geral da competição
(calendário, viagens, etc..), aspectos administrativos (registro de jogadores, patrocinadores, contratos,
etc..) e muitos outros fatores (imprensa, torcida, etc..) que somados formam um processo complexo e
difícil de ser administrado sem que haja uma organização adequada.
Os Fatores Situacionais, foram definidos como aqueles que acontecem a partir de situações que são
comuns ao contexto competitivo. Foram 94 situações causadoras de stress englobadas nessa categoria,
divididos nos seguintes fatores específicos:
situações de jogo: cujas fontes específicas são: importância e dificuldade da tarefa,
competência, estado físico do atleta, adversários, arbitragem, torcida, companheiros de equipe,
técnico e infra-estrutura de local e material. Foram identificadas 44 situações causadoras de stress
preparação da equipe: aspectos relacionados ao treinamento e à infra-estrutura de local e
material. Foram identificadas 7 situações
pessoas importantes: relação do atleta com todas as pessoas que fazem parte do contexto
competitivo: companheiros de equipe, técnico, imprensa, dirigentes/patrocinadores e outros. 26
situações fizeram parte desta categorização
planejamento e organização da equipe e das entidades: aspectos organizacionais das
equipes e das entidades que controlam o basquetebol. Nessa categoria foram identificadas 14
situações
avaliação social: Referem-se a pressões externas advindas da condição (status) do atleta,
principalmente a atletas ligados a seleções nacionais. Foram identificadas 3 situações
Como era de esperar o jogo é a maior fonte de stress no basquetebol. As principais situações citadas
pelos atletas e que se enquadram na categoria acima citada foram:
-Perder jogo praticamente ganho, errar em momentos decisivos, perder de equipe tecnicamente inferior,
repetir erros, não tentar (omitir-se no jogo), jogar em mau estado físico ou contundido, adversário desleal,
arbitragem prejudicial, companheiro de equipe que não se esforça ou egoísta, treinador que comete
injustiças e treinador que grita muito e que não deixa o jogador à vontade
Em relação à preparação da equipe as situações mais citadas foram:
- local inadequado para jogos e treinos, treinamento inadequado ou rotina de treino e falta de repouso.
As situações de stress relacionadas ao fator “pessoas importantes” mais citadas foram:
-Falta de confiança dos colegas, companheiro de equipe desleal, pessoas com pensamentos negativos,
falta de confiança do técnico, jornalistas que não conhecem o esporte, desvalorização por parte de
dirigentes, falta de apoio a jogadores contundidos.
Quanto aos planejamento e organização, podemos citar as seguintes situações:
18
-Atrasos de salário, falta de planejamento da equipe, problemas de viagens, hospedagem e alimentação,
calendário inadequado de competições,.
E, finalmente, as pressões sociais por serem atletas diferenciados também representam uma fonte de
stress consideável.
Lembrando que a pesquisa foi realizada com 19 atletas olímpicos brasileiros (10 rapazes e 9 moças).
No próximo post abordaremos as questões extra-competitivas, também muito importantes nesse contexto
esportivo.
19
Situações de stress no basquetebol: os fatores extracompetitivos
7-07-2011
Dando sequência ao tema “Stress no basquetebol” este último post abordará os fatores de stress
extracompetitivos, de acordo com a opinião de 19 atletas olímpicos do basquetebol brasileiro que
participaram da pesquisa desenvolvida em 199.
Fatores Extracompetitivos
Os fatores extracompetitivo são aqueles adjacentes ao processo competitivo, de acordo. Eles são
gerados a partir de situações causadoras de stress que fazem parte da vida de todo cidadão comum e
que, no caso dos atletas, pode interferir em seu desempenho esportivo.
Utilizando o mesmo critério de similaridade das situações, os fatores específicos foram agrupados em
dois fatores gerais de stress extracompetitivos: fatores pessoais e fatores sociais.
Os Fatores Pessoais referem-se às ocorrências cotidianas que estão presentes na vida de qualquer
cidadão comum e que não seriam diferentes para os atletas. Nove situações podem ser enquadradas
neste conceito e elas referem-se a família, relacionamentos, escola e dinheiro:
Brigas e discussões com familiares
Doença em família
Morte em família
Ficar muito tempo longe de casa
Discussão com amigos
Discussão com parceiro (a)
Relacionamentos amorosos
Problemas escolares
Problemas financeiros
Já, Fatores Sociais referem-se a questões relacionadas à inserção e à participação do indivíduo ao seu
meio social e que podem tanto sofrer influências do processo competitivo, quanto influenciá-lo, através de
comportamentos dos atletas. Somente 3 situações representam fontes de stress associadas a esta
característica. Foram situações relacionadas a amizades e à vida social do atleta.
Perda de vínculos de amizade
Não ter vida social
Não poder sair e frequentar, festas, cinemas, teatro, etc..
Como se percebe, os fatores extracompetitivos são importantes na composição dos níveis de stress de
um atleta. Sua vida cotidiana não pode ser ignorada no seu processo de formação e manutenção em
altos estágios de desempenho.
Conhecer essa realidade pode auxiliar os treinadores e comissões técnicas e entender melhor
determinados comportamentos que poderão ser limitantes do desempenho dos atletas.
20
Stress e arbitragem no basquetebol
16-07-2011
Seguindo na linha dos estudos sobre stress e basquetebol, apresento neste post um estudo realizado em
2002, como parte de um trabalho de iniciação científica das alunas Fabiana Pereira Pinheiro (atualmente
árbitra do quadro da Federação Paulista de Basketball) e Roberta Freitas Lemos, do curso de
Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP. O trabalho completo foi
publicado na Revista Paulista de Educação Física (2002, v.16, p. 160-173).
O estudo está sendo novamente desenvolvido com outro grupo de árbitros da FPB também como parte
de trabalho de iniciação científica da aluna Liz Imyrá Oliveira do Curso de Ciências da Atividade Física da
Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
A arbitragem é, sem dúvida, um dos aspectos mais polêmicos de uma competição esportiva. Citados por
atletas e técnicos como os responsáveis por seus insucessos e como fonte de stress durante os jogos, os
árbitros têm sido pouco estudados e, portanto, pouco se sabe sobre como eles observam e se sentem
nesse processo competitivo e quais as situações de jogo que lhes causam stress.
No estudo desenvolvido em 2002 com 20 oficiais do basquetebol brasileiro (10 árbitros e 10 mesários),
todos atuando em nível nacional e internacional, procurou-se identificar quais as situações de jogo eram
causadoras de stress.
Foi utilizado o Formulário para Identificação de Situações de Stress no Basquetebol, adaptado para
arbitragem. Nesse formulário a escala de respostas varia de 0 (nenhum stress) a 5 (alto stress) e para a
obtenção das situações que mais causavam stress nos oficiais foram consideradas as respostas nos
níveis 4 e 5. Além disto, foram identificadas as situações de stress mais críticas na carreira desses
oficiais.
Os resultados mostraram que as situações envolvendo agressões ou tentativa de agressões foram as
mais frequentes, seguidas por situações envolvendo fatores de desempenho no jogo. As situações mais
críticas de stress citadas também envolveram as agressões, questões éticas e atuação no jogo.
Essas foram as situações consideradas mais estressantes pelos oficiais que participaram do estudo:
Colega de arbitragem sofrer agressão física
Sofrer agressão física
Cometer erro(s) que provoca(m) a derrota de uma equipe
Cometer erros em momentos decisivos
Atrasar para jogo
Repetir os mesmos erros
Ameaças de agressão física por parte da torcida
Estar atuando abaixo de seu padrão normal
Ameaças de agressão física por parte do técnico
Técnico que incita a violência em quadra
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Em relação às situações mais críticas na carreira
Agressão/Tentativa de agressão por parte da torcida
Atitude anti-ética de colega de arbitragem
Atuar em jogo importante
Colega sofrer agressão de torcedores
Sair escoltado(a) do ginásio
Cometer erro(s) que provoca(m) a derrota de uma equipe
Tentativa de agressão por parte de dirigente
Cometer erro(s) em momento(s) decisivo(s)
Crítica de companheiro de arbitragem
Espera de resultado de avaliação para árbitro(a) internacional/ mesário(a) especial
Ser suspenso(a) injustamente
O estudo que vem sendo desenvolvido atualmente, ainda incompleto, aponta para as mesmas situações.
A partir dessa análise pretende-se ampliar o conhecimento de alguns aspectos da arbitragem do
basquetebol e aplicá-lo ao cotidiano, visando o constante aperfeiçoamento do trabalho desenvolvido pelos
árbitros nesta e em outras modalidades esportivas.
Entretanto, ainda são necessários muitos estudos tratando do tema para que se preencha as
necessidades existentes nesta área de pesquisa.
22
Esporte na infância: stress ou divertimento?
9-10-2012
Amigos do Basquetebol
Trago a vocês um artigo de minha autoria que foi publicado em 1997 nos Anais do III Simpósio Mineiro De
Psicologia do Esporte, realizado em Juiz de Fora. Acredito que apesar dos 15 anos que separam a
publicação original deste post, o assunto é atual e pode servir de orientação aos profissionais que
trabalham nas divisões formativas do nosso basquetebol.
Esporte na infância: stress ou divertimento?
O esporte vem ocupando um espaço sempre maior na vida das crianças e jovens. A influência dos
eventos esportivos divulgados com grane frequência pelos meios de comunicação, a identificação com
ídolos, a pressão dos pais e amigos, fazem com que um número crescente de crianças iniciem a prática
esportiva cada vez mais novos.
Treinar, competir, vencer, prêmios, são palavras comuns no cotidiano desses jovens que praticam esporte
ou que o vislumbram como grande possibilidade de sucesso e ascensão social.
Como qualquer atividade do ser humano, o esporte e a competição podem também ser geradores
potenciais de stress se não forem adequados às necessidades e potencialidades de seus praticantes.
Toda competição, qualquer que seja seu nível evidencia quatro fatores:
Confronto: entre dois ou mais indivíduos ou equipes
Demonstração: das capacidades e habilidades aprendidas e desenvolvidas nos treinamentos e ao longo
da vida esportiva do atleta
Comparação: em função de um padrão próprio ou pré estabelecido. Ela pode acontecer em relação ao
próprio desempenho ou ao desempenho de um colega ou adversário
Avaliação: que pode ser quantitativa (evidenciada em números e que prioriza o produto final) ou
qualitativa (quando evidencia o processo e/ou a qualidade do movimento realizado).
Esses fatores poderão afetar diretamente o comportamento dos jovens, dependendo do nível de
prontidão em que se encontrem. Esta prontidão inclui componentes físicos, fisiológicos, psicológicos e
sociais.
Na maioria das vezes, as crianças são levadas a praticar um determinado esporte ou competir muito
antes de terem atingido etapas importantes na solidificação de sua prontidão esportiva. Não são raras as
vezes em que são expostas a situações complexas muito antes de atingir estágios básicos de
desenvolvimento motor, exigindo-se delas comportamentos que não são adequados à sua capacidade de
realização.
Um comportamento esportivo adequado e competir de maneira mais formal exige um equilíbrio dos
fatores de desenvolvimento e maturação e as demandas das tarefas. Nas fases em que este equilíbrio
ainda não está presente, recomenda-se que as atividades competitivas sejam suaves, sem cobranças
exageradas e inadequadas para a capacidade de realização da criança. Segundo autores especialistas
no assunto este equilíbrio varia de pessoa a pessoa, mas ocorrer geralmente entre os 12 e 14 anos de
idade.
Quando a criança se depara com situações complexas e que excedam sua capacidade de enfrentá-las,
as situações passarão a representar uma fonte de stress exagerado e que poderá trazer consequência
indesejáveis para o jovem esportista, como o fracasso e a frustração. Ideal seria que a tarefa competitiva
tivesse a conotação de desafio, possível de ser enfrentado com os recursos que a criança dispõe, de
acordo com seu nível de desenvolvimento esportivo.
Algumas causas do stress excessivo em situações competitivas complexas para crianças:
Complexidade da tarefa maior que os recursos da criança
23
Pressões exercidas por adultos: pais e treinadores
Definição de objetivos irreais e inatingíveis
Comportamento dos adultos
Nível de expectativa exagerado – pessoal e dos outros
Neste caso, o stress manifesta-se através de alguns sintomas como:
Ansiedade excessiva
Nervosismo
Distúrbios do sono
Distúrbios de apetite
Preocupações com o desempenho
Preocupações com o resultado
Medo dos adversário
Medo de cometer erros
Medo de decepcionar as pessoas
O resultado desta situação pode provocar atitude de fuga, evitação e abandono da atividade, além de
contribuir para baixar a auto-estima e o nível de motivação da criança.
Após o exposto resta-nos perguntar: Competir é prejudicial à criança?
E a resposta é : não.
Não, desde que sejam respeitados seu estágio de desenvolvimento, seu nível de expectativas e suas
necessidades.
Não, desde que os adultos entendam a competição sob o ponto de vista da criança e não do seu ponto de
vista e desde que entendam que a criança é um ser em desenvolvimento e não uma miniatura
compensadora dos anseios de adultos frustrados esportivamente.
A competição faz parte da vida em qualquer segmento. A criança compete na escola, em sua casa, com
seus amigos e em todas as atividades que realiza. Muitas ela faz com prazer e outras encara com
preocupação. Cabe a nós, adultos, adequar as situações e proporcionar às crianças condições de
competir de forma adequada e progressiva, preparando-as para atividades futuras que serão comuns em
sua vida pessoal.
24
O treinador como fator de stress no esporte infanto-juvenil
2-11-2012
Amigos do Basquetebol
Segue um breve relato de resultados de pesquisas realizadas no Brasil, com atletas infanto-juvenis de
várias modalidades esportivas coletivas par apontar fatores provocadores de stress em situação de jogo.
Essas pesquisas foram realizadas através da aplicação de um questionário denominado “Formulário
para Identificação de Situações de �Stress� em Jogo” desenvolvido por mim e pelos componentes do
extinto Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia do Esporte que atuou durante cerca de 15 anos na
Escola de Educação Física e Esporte da USP.
Foram entrevistados 417 atletas de três modalidades esportivas coletivas (Basquetebol, Handebol e
Voleibol) com idade variando entre 14 e 19 anos. Os resultados apontaram diversas situações que
provocavam stress nesses atletas durante as partidas de suas respectivas modalidades esportivas.
Dentre elas podemos destacar: errar em momentos decisivos, cometer erros que provocavam a derrota
da equipe, cometer os mesmos erros, arbitragem prejudicial à sua equipe, jogar contundido,
companheiros egoístas, perder para equipe tecnicamente inferior, perder jogo praticamente ganho e jogar
contundido.
Além dessas situações, que foram as mais frequentes, chamou a atenção o fato de que, entre as 15 mais
frequentes, 5 situações se referiam aos treinadores como fatores provocadores de stress.
treinador que não reconhece o esforço do atleta
treinador injusto
treinador que só critica
treinador que só enxerga o lado negativo
treinador que grita muito
Esses resultados relativos à atuação do treinador durante os jogos nos levam a refletir sobre o
comportamento que deve ser adotado durante esses jogos e que devem ser voltados à orientação dos
atletas para que possam resolver situações críticas em determinados momentos dos jogos.
Principalmente, ao lidarmos com jovens em fase inicial de aprendizagem, o comportamento deve ser
sempre no sentido de mostrar-lhes caminhos e não, simplesmente, apontar os possíveis erros que
estejam cometendo. É isso que o jovem atleta espera de seu treinador (orientador).
O treinador, nessas faixas etárias deve saber equilibrar suas críticas e nunca expor seus atletas a
constrangimentos, exibindo publicamente suas deficiências. Isto, a competição por si só se encarrega,
pois o atleta está sendo observado em ambiente público e aberto. Qualquer crítica mais direta deve ser
feita de forma discreta sem comparações com outros atletas. Devemos lembrar que os atletas estão em
fase de desenvolvimento e é impossível se encontrar duas pessoas com as mesmas características
físicas, motoras e, principalmente, psicológicas.
De que adianta gritar o tempo todo sem que se apresente uma solução plausível para um determinado
problema de jogo?
Portanto, o que se espera de um treinador de equipes de base é o equilíbrio necessário para que seus
atletas o tenham como uma referência e não como alguém que vai lhes trazer insegurança e, até mesmo,
medo de tentar realizar algo. Espera-se que o treinador de categorias de base seja um orientador, pronto
a intervir nos momentos críticos, com atitudes assertivas (o que não significa passar a mão na cabeça dos
atletas).
O texto completo da pesquisa pode ser acessado através do endereço abaixo
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-
55092004000400007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
25
A Relevância da Intervenção Psicológica no Esporte
9-11-2012
Amigos do Basquetebol
Envio a todos o texto produzido pela psicóloga Silvia Regina Deschamps – Doutora em Educação
Física e Esporte/USP e Psicóloga do Esporte e do Exercício e Coaching.
A Psicologia do Esporte tem buscado sua afirmação no meio esportivo, através da participação de
especialistas que têm procurado diagnosticar, analisar e pesquisar aspectos psicológicos e estabelecer
relações entre eles e as diferentes variáveis que podem interferir no desempenho de atletas e equipes.
É inegável que, ao longo das últimas décadas, esse trabalho tem sido reconhecido, haja vista a
quantidade de publicações (em forma de livros ou artigos) produzidas em todo o mundo. No entanto,
pode-se considerar que essa evolução, na quantidade e qualidade de produção na área da psicologia
esportiva, ainda não é transferida adequadamente para a prática, na forma de intervenção junto a atletas,
equipes, comissões técnicas e todo o contexto das atividades esportivas, principalmente no âmbito
competitivo de alto nível.
Em alguns países, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e vários da Europa, a intervenção psicológica
é parte integrante do planejamento das equipes e a presença do profissional da psicologia do esporte é
tão comum quanto à do técnico, assistente técnico, preparador físico e médico.
A intervenção psicológica, via de regra, não está inserida no programa de periodização do treinamento,
ou seja, no planejamento em longo prazo do trabalho realizado pela maioria das comissões técnicas de
equipes, normalmente, é lembrada somente em momentos de emergência ou quando o atleta apresenta
um desempenho inadequado e que coloca em risco o resultado positivo de equipe.
Essa realidade e a falta de informação sobre a importância do trabalho psicológico em equipes esportivas,
ainda são motivos para que haja muita resistência, por parte dos atletas e da comissão técnica com
relação à inserção do trabalho psicológico. Muitas vezes, o psicólogo é visto como um concorrente – e
não um aliado -, e é desconsiderado o fato do trabalho ser um instrumento auxiliar na busca de um melhor
rendimento do atleta.
Cada etapa da preparação psicológica deve ser específica, considerando-se as características e
demandas desse público e, também da modalidade esportiva em foco e o momento da preparação na
qual se encontra a equipe. O trabalho deve possuir objetivos claros e bem definidos, sendo essas
informações transmitidas aos participantes do processo, procedimento este importante para a boa
aceitação do psicólogo esportivo na equipe.
Para fazer parte do ambiente da competição de alto nível, o atleta precisa ser um competidor assíduo e
dedicado, e para se destacar, deve superar níveis de exigências técnicas, táticas, físicas e psicológicas,
para que se possa garantir a plena realização de uma carreira esportiva. É preciso, portanto, que haja um
planejamento, em longo prazo, dos treinamentos físico, técnico, tático e psicológico, para que, o
desportista tenha uma boa sustentação, durante um ano inteiro de desgaste do corpo e da mente, já que
o calendário de jogos e competições não é favorável. Infelizmente, alguns atletas, também, não tem
consciência de que vida de atleta exige: sacrifícios, transpiração e cuidados com sua rotina alimentar, de
treinos e de hábitos de vida. Acabam enveredando para um estilo de vida incompatível com o necessário,
como: noitadas, drogas e alimentação não saudável.
Competições importantes como uma Copa do Mundo ou Olimpíadas, são umas panelas de pressão,
exigindo do atleta que participa, habilidades psicológicas bem desenvolvidas. Em especial nas fases
finais, os erros devem ser minimizados ao máximo, com um nível de eficiência elevado. Cada vez mais
26
uma partida pode ser definida em detalhes, e o preparo psicológico é fundamental, especialmente, nas
fases decisivas dos jogos. Por isso, a importância do psicólogo que vai trabalhar com uma equipe, é
entender o que pode acontecer com um atleta sob pressão, já que é muito comum, ele experimentar,
mesmo tendo experiência, bloqueio mental, e isso repercutir negativamente em seu desempenho. Posso
garantir que o profissional de psicologia do esporte, capacitado e habilitado, pode e muito auxiliar a
comissão técnica e a equipe, com um trabalho realizado anterior e durante a competição. A competição é
um processo dinâmico, com mudanças no estado mental, e isso não é o problema, mas sim quando o
atleta não se dá conta, a respeito, e não faz algo para mudar. O atleta que vai se sair bem numa
competição de alto nível é aquele que conseguir lidar de forma eficiente e positiva com as adversidades
desta.
As inúmeras pesquisas e as experiências na área têm comprovado que atletas realizadores e bem
sucedidos, realmente, fazem parte de um grupo de pessoas, que possui uma mente, coração e alma
diferenciados. E a sensação que experimentam quando conseguem chegar lá, no objetivo atingido, é algo
muitas vezes indescritível. Com a prática é possível observar no campo, nas quadras quando o atleta está
conseguindo dar o seu melhor, o seu 100%, e desse jeito é inevitável que o resultado seja a vitória! E ela
se torna ainda mais especial quando esse atleta reconhece o verdadeiro valor das conquistas, que é o
que está por trás delas e o que realmente dá sentido às suas realizações pessoais.
Para que um time se torne efetivamente uma equipe, é preciso que haja uma boa sintonia entre a
comissão técnica e os atletas. O tipo de relação estabelecida entre a figura do técnico, incluindo seu estilo
de liderança, e seus atletas será determinante para isso. O estabelecimento de objetivos coletivos
comuns, aliado a um relacionamento interpessoal saudável e de confiança, será decisivo para o alcance
de resultados positivos de uma verdadeira equipe.
A vida de um técnico esportivo pode ser tão ou mais estressante que a de um atleta. A pressão por
resultados exercida sobre ele é grande, pois ele é o posto central da equipe. Além do mais, ele tem que
conseguir trabalhar bem as relações com seus atletas, com a própria comissão técnica e com os
dirigentes; passar todo o esquema tático e ainda fazer com que seja bem aplicado. Nas categorias de
base, exerce uma influência ainda maior, pois é um dos principais responsáveis pela qualidade das
experiências esportivas de crianças e jovens. Por isso, não é surpreendente, quando vemos alguns
técnicos tendo comportamentos extremados em campo/quadra, denotando total descontrole emocional e
mental, muito longe do ideal, e que denigre sua imagem e serve de mal exemplo para os atletas. O
psicólogo do esporte pode e deve oferecer os seus serviços e apoio, também ao técnico, ele pode ser
beneficiado e muito com o atendimento psicológico.
O treinamento psicológico no esporte pode visar ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de vários
aspectos psicológicos, dentre eles: gerenciamento de stress, estabelecimento de objetivos, aumento da
autoconfiança, atenção e concentração, autocontrole de ativação e relaxamento, utilização de
visualização e imagem, estratégias de rotinas e competitividade, elevação de motivação e
comprometimento e manutenção de níveis adequados dos estados de humor (tensão, depressão, raiva,
vigor, confusão e fadiga).
Uma das estratégias de intervenção que eu utilizo, e na qual tenho obtido ótimos resultados, é o
método Coaching que é um processo, com início, meio e fim, onde o Coach (facilitador do processo de
mudança) apóia o Cliente/coachee (agente de mudança) na identificação de metas de curto, médio e
longo prazo, desenvolvimento de competências e recursos, estratégias, ação, aprendizagens e melhoria
contínua.
O Coaching é composto de 7 elementos, são eles:
1- Situação atual, onde está;
2- Situação desejada, aonde quer chegar, objetivos e metas, valores - o que esse objetivo traz;
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3- Estratégia, como chegar lá: plano de ação, opções – escolhas; recursos - internos e externos – o que
tem e o que necessita e crenças - convicções fortalecedoras ou limitadoras – impedimentos;
4- Ações e tarefas – 1o. passo e ações continuadas;
5- Resultado;
6-Aprendizagem;
7- Melhoria Contínua (Ciclo de Excelência).
Esse método auxilia o indivíduo através do questionamento socrático (método de descoberta orientada),
uma das técnicas utilizadas, a obter uma maior conscientização de si mesmo e de seu comportamento,
facilitando o desligamento do piloto automático (conduzido pelos nossos pensamentos
automáticos). Outras técnicas eficazes utilizadas são a de solução de problemas e desafio de crencas
limitadoras, dentre outras.
Os benefícios obtidos compreendem: o desenvolvimento da capacidade de: enfrentar desafios, resolver
problemas e atitude mental positiva.
Através do Método Coaching, atletas e técnicos podem melhorar sua performance consideravelmente,
resgatando desse modo, sua autonomia pessoal e profissional.
28
Ensinando o atleta a lidar com a pressão
2-12-2012
Amigos do Basquetebol
Neste post Carla Di Pierro (Psicóloga do esporte do Time Brasil COB e coordenadora do curso de
especialização em Psicologia do Esporte do Núcleo Paradigma – São Paulo), abordará um tema
muito recorrente nos meios competitivos: como um atleta deve lidar com a pressão.
O esporte de alto rendimento tem no nome seu objetivo: rendimento.
O atleta e sua equipe precisam render vitórias, quebra de recordes, emoção para sua torcida e visibilidade
para seu patrocinador e a performance do atleta é a única capaz de realizar tudo isso.
As cobranças pelo resultado são muitas e vêm de diferentes fontes desde o treinador, a torcida, o clube,
os dirigentes, o patrocinador até a família. Mas muitas vezes a maior cobrança vem do próprio atleta, que
quer com todas as forças ser o melhor, que persegue obsessivamente o acerto e a perfeição e doa sua
juventude para isso.
Sim, os atletas são jovens, na maioria das vezes começam crianças, e na adolescência estão
completamente envolvidos nas idas e vindas dos treinos, na alimentação regrada e no sono contado.
Viajam, mas para competir, e relaxam num único day off, que às vezes acontece mensalmente. Mas na
maioria dos casos descanso mesmo é nas férias (uma semana no ano está bom?) antes da pré-
temporada, momento que começa a preparação para o início de mais um ano em busca por resultados
melhores.
Após investir toda a adolescência, fase de transição na nossa cultura para preparar melhor a criança para
enfrentar as responsabilidades da vida adulta, o atleta chega à categoria profissional. É quando a
cobrança aumenta. Já que ele é adulto e profissional deve estar preparado para enfrentar qualquer
adversário, obstáculo ou pressão de onde vier, certo?
Sim e não, eu explico.
Sim, porque o atleta profissional deve ter a habilidade de lidar com pressão. Esta habilidade é
determinante para que ele possa colocar em prática sua técnica na hora da competição, para equilibrar
seus ânimos quando é exigido pela torcida ou quando é desafiado pelos seus adversários e para lidar
com a dor e cansaço promovidos pela dura rotina de treinamento.
Não, porque o atleta, apesar de ser exigido como alguém que deve estar preparado para tudo o que vier
não é uma máquina de resultados, é uma pessoa que tem uma história, e que dedicou boa parte dela ao
esporte.
A maioria desconhece a rotina do atleta de alto rendimento pois o que mais aparece ao público em geral
são apenas algumas das consequências da alta performance: fama, vitória e sucesso. Por trás desses
resultados há também fracassos, tentativas e erros e um processo longo, desenhado através de uma
história que começou a ser escrita quando ele foi concebido e mais tarde quando a criança ou o
adolescente escolhe por uma modalidade esportiva, ou quando escolhem por ele, já que na maior parte
das vezes a escolha dos pais e o apoio deles é decisivo para que ele se torne um atleta.
É a partir do momento da escolha pela vida de atleta que a criança e o adolescente se envolvem com
uma vida diferente dos colegas, mais restrita aos treinos e ao ambiente da modalidade escolhida e abdica
de uma vida social “normal”.
Para qualquer pessoa desenvolver qualquer habilidade ela precisa de treino e isso é uma das coisas que
difere as pessoas comuns dos atletas. Além do que chamam de talento, os atletas precisam treinar duro e
por isso treinam muito desde cedo e isso os faz diferente. Mas o treino físico desenvolve a habilidades
29
físicas e o treino técnico as habilidades técnicas. Mas o que desenvolve a habilidade de enfrentar
pressão? E de solucionar problemas?
Para enfrentar pressão precisamos lidar com os sentimentos e as emoções que ela provoca, pensar,
raciocinar e decidir como enfrentá-la e isso também precisa de treino.
A resolução de um problema não se dá apenas através do pensamento ou raciocínio internamente.É um
processo que ocorre a partir de uma aprendizagem. Aquilo que aprendo em uma situação anterior posso
usar, em parte, o que funcionou para resolver um novo problema. Sendo assim a resolução de problemas
não é interna e nem aleatória , ela depende de uma história de aprendizado do atleta, ninguém neste
caso pode fazer por ele.
Muitas vezes focados no treino físico, técnico e tático, o atleta pouco desenvolve e pratica suas
habilidades psicológicas e sociais. Ele tem pouco tempo para gastar com este aprendizado que só
acontece quando ele se expõe nas relações com o mundo, quando precisa decidir, opinar, quando
precisa se relacionar e olhar para si mesmo. Por quê gastar tempo com isso se ele pode treinar?
Porque observar sensações e sentimentos e saber o que fazer com eles é treinar auto-conhecimento, é
um treino para a vida. Quanto mais o atleta se conhece, mais sabe o que quer de verdade e aonde quer
chegar, mesmo que isto custe abdicar de algumas coisas. E treinar como resolver problemas é ganhar
autonomia emocional, é ter liberdade de escolha, ter opinião e força para tomar decisões e enfrentar a
cobrança venha de onde vier.
Esta não é uma lição de casa apenas para os atletas, mas para todos envolvidos com o esporte que
acompanham atletas no dia-a-dia e o ajudam na construção desta história. São essas pessoas envolvidas
no desenvolvimento do atleta os maiores facilitadores desta aprendizagem, mas para que aconteça
precisam estar abertos a ela.
30
Como você lida com o sucesso?
1-06-2013
Amigos do Basquetebol
Neste post trago a colaboração do meu grande amigo e excelente profissional Hermes Balbino.
Hermes é psicólogo, Doutor em Educação Física pela UNICAMP, ex-preparador físico da seleção
brasileira feminina Campeão do Mundo (1994), Medalha de Prata em Atlanta (1996) e Medalha de
Bronze em Sydney (2000).
O Prof. Hermes nos traz um tema interessante sobre como lidar com o sucesso. Vamos ao texto:
Como você lida com o sucesso?
Chegar a um ponto máximo de uma conquista traz uma sensação indescritível, e é uma das etapas para a
realização pessoal. Consegue aceitar que merece a experiência de sentir a felicidade da realização? E
quanto custa manter-se neste nível de cumprir etapas bem sucedidas? Você está preparado para assumir
as responsabilidades que o sucesso traz?
Um fato ocorrido com o tenista John McEnroe, após vencer de maneira espetacular seu adversário Bjorn
Borg, chama a atenção para a possibilidade aparentemente impossível: o medo do sucesso. Após essa
vitória, McEnroe tornou-se o tenista número 1 do ranking mundial e confessa que a adaptação a esta
nova posição foi difícil e custosa, pois tornou-se para ele muito mais um peso do que uma conquista e
reconhecimento pelos seus esforços. Foi notório que sua técnica e seu jogo caíram sensivelmente: “eu
não conseguia ajeitar as coisas, e não sei por quê”. Os medos decorrentes das responsabilidades pela
manutenção desta posição cobravam um outro investimento de McEnroe, pois sendo o primeiro, a vista
mudara sensivelmente.
Quando vencemos um desafio, tem-se a ilusão de que este ponto é o último de uma jornada e o
descanso para desfrutar desta glória aparente será o prêmio merecido pelos investimentos de um longo
caminho. No entanto, depois dos momentos de felicidade inicial, a ilusão se desfaz.
Jerry Lynch nos ensina que assim como não devemos nos apegar às experiências frustradas pelo
insucesso, não devemos nos apegar às nossas vitórias. Os momentos de triunfo servem de apoio a novos
momentos de desafios que estão por vir. Vencer ou perder significa resultado alcançado ou não. Após
esse momento, outro ciclo se abre e devemos estar prontos e renovados para começar tudo novamente,
pois a jornada pessoal não termina com uma conquista, seja ela qual for. É ilusão para o homem ‘ter que’
manter a posição no topo, em qualquer domínio das atividades humanas, sejam esportivas ou do mundo
organizacional. Por isso, não precisamos temer o sucesso, pois ele sempre será seguido por novos ciclos
que se iniciam após alcançá-lo.
Para alguns atletas, o sucesso pode tornar-se um monstro com o decorrer do tempo, e passam a sabotar
de maneira inconsciente a possibilidade de vencer, interrompendo o fluxo de seus esforços ao adoecer ou
sofrerem com lesões surpreendentes às vésperas de grandes desafios. Associam a vitória com o enorme
estresse que o sucesso traz. Ao pensarem assim, o desempenho decai, e tornam-se susceptíveis a erros
e à inconsistência da performance. Aqui devemos lembrar que as pessoas que participam de um contexto
que exige resultados estão sujeitas a falhas, se estão dispostas a fazer coisas com qualidade. No entanto,
aprender com falhas não significa que se deve desejá-la, pois podem vir antes do tempo. O sucesso, ao
contrário do que muitos pensam, alavanca outras áreas da vida como trabalho, família, amigos, e pode
trazer à tona a possibilidade de dedicar-se mais a uma atividade em que alguém se mostra especialista
por fazer algo bem feito.
Diz a Sabedoria: “Faça o que gosta de fazer e torne-se um mestre nisso”.
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Agressividade vs. Agressão
19-08-2013
Amigos do Basquetebol
Um dos temas mais interessantes da Psicologia do Esporte diz respeito á Agressividade.
Normalmente, essa característica, que tem traços positivos, é confundida com a agressão que tem uma
conotação negativa.
Para tentar esclarecer um pouco mais sobre este assunto utilizei o livro Sport Psychology: key concepts
(Ellis Cashmore – Ed. Routledge, Londres, 2002), do qual fiz a tradução e as adaptações.
A agressão é um termo para definir comportamentos que envolvem hostilidade, violação e prejuízo
físico. Mas há controvérsias a respeito desses comportamentos. Alguns autores defendem que nem
sempre o prejuízo físico é intencional. No esporte alguém pode ferir um companheiro acidentalmente e
isto não pode caracterizar uma agressão.
Assim sendo, pode haver dois tipos de agressão:
Hostil, quando há a intenção de causar dano a alguém e Instrumental quando não há a intenção de
machucar ou causar dano, mas sim criar uma situação para dificultar a ação de um adversário ou equipe.
Exemplo no basquetebol seria a falta anti-desportiva. Ela tanto pode conter um componente hostil (com a
intenção de provocar um dano ao adversário), quanto pode servir para parar um contra-ataque sem que,
necessariamente, qualquer dano seja causado.
A linha que separa a agressão hostil da instrumental, muitas vezes, é muito tênue e difícil de ser
determinada, o que pode causar muitos problemas entre os atletas.
A agressividade, por sua vez, é a expressão de um comportamento assertivo, dominante e forte com
objetivos bem definidos, mas que não envolvem, necessariamente, a intenção de causar danos, apesar
de eventualmente isto acontecer pelo excesso de entusiasmo e força empregada.
No esporte, a agressividade é aplaudida e comemorada, enquanto a agressão carrega uma conotação
negativa.
Como a agressividade ás vezes é utilizada para justificar comportamentos agressivos e que causam
danos, autores como Husman e Silva recomendam o uso do termo “assertividade” para caracterizar o que
entendemos por agressividade.
A agressividade ou assertividade é um tipo de comportamento que envolve frequentemente o uso legal da
força física e até mesmo verbal e requer energia e esforço acima do normal. Esse comportamento não
pode ser utilizado com a intenção de prejudicar outros atletas e tampouco violar as regras do esporte.
A agressividade no esporte é totalmente instrumental pois ela tem objetivos claros que podem ser
específicos (como no caso de uma defesa pressão para retomar a posse de bola) ou gerais (como o
domínio durante um jogo todo). Ela deve ser demonstrada para que o objetivo fique claro e o adversário
tenha a chance de se prevenir, dentro das regras do jogo.
A agressividade no senso comum é relacionada à garra e à vontade de vencer. É sempre um
comportamento desejado mas que deve ser controlado para que não se torne uma agressão e prejudique
os adversários e de certa forma, também a própria equipe.
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Como lidar com o fracasso
9-10-2013
Amigos do Basquetebol
Mais uma grande colaboração do Prof. Hermes Balbino
Como você age quando se depara com algum tipo de insucesso?
A busca cega pelas vitórias e pela perfeição distorce a possibilidade de aprender com os erros. Para os
atletas vencedores, um erro ou uma derrota pode significar um resultado de um processo que precisa de
melhoria constante; ao pensarem assim, esses esportistas colocam-se na posição de eternos aprendizes.
Isso aquece a chama da constante renovação dos propósitos que os mantém motivados no cumprimento
de um objetivo maior, que está alinhado à sua Missão pessoal. Diz um provérbio budista que “a flecha que
atinge o alvo é resultado de cem erros”. Encarar o resultado mal sucedido com gosto de fim de mundo
traz angústia e sofrimento, e nos desvia do caráter mais profundo da expressão de nossos talentos.
O fracasso pode ser encarado como um sinal para reforçar o aprendizado em algum tipo de situação e
quando aparece, cria uma oportunidade de desenvolvimento em alguma área que estava necessitando de
progredir ou de algum ajuste mais detalhado. No aikidô o lutador une-se à força da oposição adversária e
move-se com ela, utilizando-a para evitar o golpe de ataque. Considera-se assim a força oponente como
um aparente revés na vida: aceitá-la e unir-se a ela, assimilando o aprendizado em benefício próprio.
Michael Jordan, o espetacular jogador de basquetebol, diz que “o insucesso nos deixa mais perto de
chegar onde se quer chegar”. Para lidar com esse tipo de situação, aconselha “sempre pensar positivo e
buscar em cada fracasso o ‘combustível’ para uma nova tentativa”.
Muitos pequenos milagres podem ocorrer em seu dia. Tome os pequenos fracassos como feedbacks para
o reajuste de rota. É possível utilizar essas situações de aparente insucesso como sinais de que o
caminho tomado precisa de outra maneira de condução. Usar a flexibilidade de comportamentos oferece
mais opções para resolver os desafios diários. Aprender com os fracassos é descobrir novas maneiras de
se aproximar de uma conquista.
Disse Paul Valéry: “A fraqueza da força é crer apenas na força”.
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