Como Jogou o Campeão Cruzeiro
João Vítor Assis
VERSÃO GRATUITA
Sumário Introdução ..................................................................................................................................... 5
1- Cruzeiro no Brasileirão e na temporada ............................................................................... 6
1.1- O Cruzeiro em números ......................................................................................................... 7
2- O que é modelo de jogo ........................................................................................................ 9
2.1- Sistema de Jogo .................................................................................................................... 11
2.2- Momentos/Fases de Jogo .................................................................................................... 12
2.3- Princípios de Jogo ................................................................................................................. 14
2.4- Subprincípios e sub dos subprincípios ................................................................................. 15
2.5- Modelo de jogo e a Periodização Tática .............................................................................. 18
Modelo de Jogo do Cruzeiro E.C. ................................................................................................ 20
3.1 – Sistema de Jogo Cruzeiro E.C. ............................................................................................ 21
3.2- Fase Ofensiva ....................................................................................................................... 23
3.3- Fase transição Ataque-Defesa.............................................................................................. 31
3.4- Fase Defensiva ..................................................................................................................... 35
3.5- Fase transição Defesa-Ataque ............................................................................................. 43
3.6 Bolas Paradas .............................................................................Erro! Indicador não definido.
3.6.1- Ofensivas ................................................................................Erro! Indicador não definido.
3.6.2- Defensivas ..............................................................................Erro! Indicador não definido.
Referências .......................................................................................Erro! Indicador não definido.
Introdução Após 10 anos o Cruzeiro Esporte Clube volta a conquistar o Campeonato
Brasileiro. Diferentemente do último título em que também levou a Tríplice Coroa,
o time mineiro em 2013 conquistou o brasileirão de forma histórica com um
desempenho muito acima dos seus adversários. Mais vitórias, mais gols, título
com várias rodadas de antecedência, etc. O detalhe é que a equipe foi
praticamente toda remontada de 2012 para 2013 e ganhou destaque pelo futebol
mostrado por um time organizado em menos de um ano sob o comando de um
treinador que ainda vinha crescendo no cenário brasileiro, Marcelo de Oliveira.
Esta obra pretende mostrar como jogou o time do Cruzeiro. Como foi
organizada a equipe que encantou os torcedores e todos os críticos com um
estilo de jogo moderno, ofensivo e objetivo. Dividido em três capítulos, o primeiro
aborda o que o Cruzeiro conseguiu neste ano, com o seu elenco e os números
no Brasileirão e na temporada. O segundo explica o que se entende por Modelo
de Jogo e organização de uma equipe de futebol, tratando das organizações
coletivas assumidas por um time durante a partida. Por fim o terceiro capítulo
mostra em detalhes como jogou o Cruzeiro, como foi organizado o time para a
conquista desse título de uma forma tão merecida e convincente.
1- Cruzeiro no Brasileirão e na temporada O time montado pelo técnico Marcelo Oliveira possui um modelo de jogo
que agradou a todos pelo futebol envolvente, dinâmico, criativo e vitorioso. A
forma coesa e coletiva de jogar favoreceu para que a equipe celeste conseguisse
o título nacional de forma histórica. Embora tenha sido eliminado no Campeonato
Estadual e na Copa do Brasil, o time celeste se comportou em todo ano de 2013
com uma forma específica de jogar. E o diferencial da raposa, além do título
nacional, é a coletividade do elenco e a união de um grupo mesclado com bons
jogadores experientes e jovens atletas de alto potencial. O que mais
impressionou no time de Marcelo Oliveira é a rapidez como o modelo de jogo do
treinador deu “liga” na equipe, que foi praticamente remontada de 2012 para
2013, foram 16 contratações, e em menos de um ano a equipe conseguiu se
organizar de tal forma que parecia que já estavam juntos há um bom tempo.
Em todos os jogos do cruzeiro no Campeonato brasileiro foi possível
identificar que Marcelo Oliveira e seus comandados são fiéis ao seu estilo e à
sua ideia de jogo. O treinador, por sua vez, tem um histórico em montar equipes
compactas com modelo de jogo bem definidos. Em sua última equipe, o Coritiba
em 2011 e 2012, conseguiu criar uma forma de jogar capaz de levar a equipe
paranaense a duas finais de Copa do Brasil consecutivas.
O bom entrosamento e o modo de jogar ofensivo e direto, fez a equipe ser
muito forte jogando em casa, situação em que foi derrotada apenas duas vezes
na temporada jogando em seus domínios, sendo 1 derrota (para o Bahia) após
já ter conquistado o título nacional. A força fora de casa também foi importante,
o equilíbrio de jogar da mesma forma dentro e fora de Belo Horizonte possibilitou
a boa campanha com a conquista dos dois turnos do Campeonato e o título de
campeão com quatro rodadas de antecedência igualando ao recorde do São
Paulo campeão em 2007.
1.1- O Cruzeiro em números Em números o Cruzeiro conseguiu no Campeonato Brasileiro 76 pontos,
23 vitórias, 7 empates e 8 derrotas em 38 jogos, sendo 2 derrotas já após o título
do campeonato conquistado na 33ª rodada. Foram marcados os incríveis 77 gols
o melhor ataque disparado, com 47 marcados em casa e 30 gols marcados fora,
média de 2,03 gols por jogo. Marcou gols em 33 das 38 rodadas. Sofreu apenas
37 gols ficando entre as melhores defesas. Conseguiu 8 vitórias consecutivas e
chegou a ficar 12 jogos seguidos sem perder. Foi a equipe que mais venceu por
3 ou mais gols de diferença, no total foram 9 goleadas. Foi um time disciplinado
tomou apenas 3 cartões vermelhos durante o campeonato. Liderou o Brasileirão
por 27 rodadas, sendo 23 rodadas seguidas na liderança, a partir da 16ª rodada
o Cruzeiro se manteve até o fim na ponta da tabela. Terminou o campeonato há
11 pontos de distancia do vice-campeão, diferença que chegou a ser de 16
pontos. Foi campeão do turno e do returno, fazendo 40 pontos no turno e 36 no
returno. (GloboEsporte.com, 2013)
O sucesso só não foi maior durante a temporada porque o Cruzeiro foi
eliminado da Copa do Brasil e do Estadual por detalhes, perdendo apenas 1
partida em cada competição. Mesmo assim conseguiu o feito de 42 vitórias, 8
empates e 10 derrotas em 60 jogos no ano. Marcou 132 gols e sofreu 53. Em
apenas 8 jogos no ano o cruzeiro não marcou gols e dos 60 jogos, 52 o time
mineiro balançou as redes. (Ogol.com, 2013)
Tecnicamente a raposa mostrou ser uma equipe que finaliza muito, no
Brasileirão foi o time que mais finalizou a gol com 266 finalizações certas. Dos
77 gols da equipe celeste 64 foram marcados dentro da área. O Cruzeiro em
quase todos os jogos deteve a maior posse de bola que o adversário, um time
com atletas de potencial que se destacaram muito pelo excelente entrosamento.
Taticamente o Cruzeiro se superou como uma equipe envolvente, rápida no setor
ofensivo, com um quarteto diferenciado e habilidoso. Um time forte nas bolas
paradas, ótima marcação no meio campo e nas alas, laterais muito ofensivos e
volantes que deram força e consistência ao meio campo, além de ter uma defesa
sólida com muita força na bola área. Everton Ribeiro além de eleito o craque do
campeonato foi o jogador que deu mais assistências no Brasileirão com 11,
enquanto Egídio foi um dos melhores ‘roubadores’ com 82 roubadas de bola.
(Footstats, 2013)
A ajuda da torcida foi também importante para a conquista. No
Campeonato Brasileiro o Cruzeiro teve a melhor média de publico com 28.851
torcedores em casa, bem acima da média do campeonato que foi de 14.969
torcedores.
Em um campeonato tão longo como o Brasileirão, a montagem de um
elenco com jogadores que potencial para suprir as necessidades da equipe
principal como lesões, suspensões e desgastes foi um fator importantíssimo para
vencer um campeonato de pontos corridos.
Na sequencia abordaremos o que necessariamente se entende por
modelo de jogo dentro de uma equipe e posteriormente como foi o modelo de
jogo vitorioso implantado por Marcelo Oliveira no Cruzeiro que ficou evidente
durante as partidas do clube mineiro no Campeonato Brasileiro 2013.
2- O que é modelo de jogo Uma equipe de futebol precisa ter uma atitude coletiva que lhe permita
executar de forma eficiente e conjunta as adversidades de uma partida em todos
os momentos durante o jogo. Essa organização é necessária, pois cria uma
identidade na forma de jogar, e o treinador é o responsável pela criação desse
modelo.
Segundo Oliveira Apud Silva (2008), o modelo de jogo é um aspecto
fundamental de todo o processo de treino na orientação e direcionamento do que
o treinador quer para sua equipe, e deve ser feito dia a dia para os jogadores
desenvolverem essa forma de jogar. Ele ainda afirma que se um treinador reunir
um grupo de jogadores e colocá-los para jogar, mesmo se ele não disser nada,
com o tempo os atletas criam as suas próprias rotinas e um entrosamento
natural. Mas essa identidade natural pode não ser natural, isto é, o treinador
pode fazer com que eles criem uma identidade conjunta, específica e melhor o
mais cedo possível de acordo as ideias de jogo do comandante. Esse é o
trabalho de um treinador, criar na sua equipe um modelo de jogo capaz com que
os jogadores reconheçam e consigam colocá-los em prática de forma coletiva.
A criação de um modelo de jogo faz parte também da análise do ambiente
do clube, das características do elenco e da filosofia interna da instituição. Alguns
treinadores tem liberdade para montar seus elencos, optando por atletas que
venham a se encaixar à sua ideia de jogo. Outros treinadores chegam a equipes
no meio da temporada onde já possui elencos já definidos e tem o trabalho de
criar um modelo a partir do atual momento da equipe e de todo o universo em
que se encontra o clube.
Tamadarit (2007) afirma que o modelo de jogo é um conjunto de
comportamentos que o treinador pretende que sua equipe manifeste de forma
regular sistemática nos quatro momentos reconhecidos do jogo (Organização
ofensiva, Organização defensiva, e as fases de transição)
Pivetti (2012) define o modelo de jogo como o sentido de orientar as
decisões dos jogadores ao propósito de jogo estabelecido, fazendo que as suas
ações contribuam para gerir de boa maneira a imprevisibilidade relacionada às
características de um jogo de futebol.
A seguir um esquema da complexidade de situações que formam a
criação do modelo de jogo de uma equipe.
2.1- Sistema de Jogo A organização do sistema de jogo dentro de um modelo de jogo adotado
se caracteriza como um processo estrutural. Segundo Silva (2008) o sistema de
jogo é o ponto de partida na configuração dinâmica do jogar, mas a
funcionalidade compreende as características dos jogadores, os princípios de
ação em determinados momentos do jogo e as estratégias de resolução em
determinados contextos. O sistema de jogo está presente no sentido
organizacional do time na esquematização do posicionamento do setor de
defesa, meio campo e ataque. E serve para iniciar a modelagem de como estará
disposta a equipe na execução dos princípios de jogo durante os momentos que
regem a partida de futebol.
Pivetti (2012) afirma que a organização de um jogo tem como ponto de
partida o sistema de jogo, mas que vai muito além, pois uma mesma estrutura
gera dinâmicas, evoluções e padrões diferentes. Existem equipes que jogam no
mesmo sistema estrutural, mas a organização se diferencia em relação aos
jogadores e a execução de seus princípios em vários momentos da partida. Ou
seja, apenas a distribuição tática dos jogadores seja ela no sistema 1-4-4-2; 1-
4-3-3; 1-3-5-2; 1-4-3-2-1, com linhas de 4, linhas de 3, losangos ou quadrados,
etc., não esclarece a funcionalidade da equipe, mas apenas a sua disposição
estrutural em campo.
2.2- Momentos/Fases de Jogo Mais importante que o sistema de jogo, é criar na equipe a consciência
dos princípios de jogo a serem aplicadas dentro das Fases/Momentos de jogo.
Segundo Oliveira (2003) existe quatro grandes fases/momentos de jogo e todas
essas fases/ momentos devem ter relações muito estreitas entre si. São
classificadas em: Fase Ofensiva, Fase Defensiva, Fase de Transição Ataque-
Defesa, Fase de Transição Defesa-Ataque. Mendonça (2013) defende que ainda
há de se considerar a importância de outro momento que podemos incluir como
esquemas estratégicos defensivos e ofensivos, como as Bolas Paradas. Silva
(2008) complementa afirmando que apesar de ser possível diferenciar os
momentos de jogo, eles se sucedem continuamente sem uma ordem pré-
definida. Vamos caracterizar cada Fase/Momento de Jogo.
A Fase Ofensiva é caracterizada pelo momento de organização em que a
equipe detém a posse de bola e possui seus jogadores dispostos para o ataque.
(Pivetti, 2012)
A Fase de Transição Ataque-Defesa segundo Pivetti (2012) se dá no
momento em que a equipe perde a posse de bola e nesse intervalo deve criar
uma transição de jogo que proporcione mudar de atitude, saindo do momento
ofensivo entrando no momento defensivo. O objetivo nesse contexto de jogo é
disponibilizar ações defensivas imediatas no intuito de recuperar a posse de bola
da maneira mais rápida e eficiente.
A Fase Defensiva precede o momento de transição, e é condicionada
pela necessidade urgente de recuperação da posse de bola, pois nesse
momento a equipe adversária adquire a posse e passa a assumir a iniciativa
ofensiva de jogo. (Pivetti, 2012)
A Fase de Transição Defesa-Ataque como afirma Pivetti (2012) se dá no
momento em que a equipe recupera a posse de bola e inicia as ações ofensivas.
Durante esse período a equipe deve mudar seu pensamento saindo da situação
defensiva transitando para a atitude ofensiva, em que irá novamente se organizar
para iniciar o ataque.
Esses quatro momentos regem a funcionalidade dinâmica do jogo de
futebol e partir deles é possível criar uma forma de jogar para atuar dentro
dessas situações. A seguir exemplificamos essas quatro fase/momentos em um
modelo de jogo.
Adaptado (Mendonça, 2013)
2.3- Princípios de Jogo Segundo Campos (2008) qualquer que seja o modelo de jogo criado, ele
será constituído sempre pelos quatro momentos/fases do jogo e dentro desses
momentos a organização através de princípios que ditam a forma de alcançar o
que é esperado pela equipe. Ou seja, dentro de cada situação ou momento de
jogo, a equipe deve se desenvolver de uma forma através de um principio
estabelecido. A definição de princípios de jogo, segundo Oliveira (2003) afirma
ser o inicio de um comportamento que um treinador quer que a equipe assuma
de forma coletiva e os jogadores em termos individuais dentro de um momento
do jogo. Um exemplo, uma equipe na Fase Ofensiva tem como característica o
princípio de manter a posse de bola circulando entre o setor defensivo-médio até
criar espaços no setor de ataque.
Pivetti (2012) define os princípios de jogo como linhas orientadoras do
pensamento tático dos jogadores da equipe na resolução operacional, tático-
técnico das diversas situações de jogo. Os princípios de jogo permitem ao
treinador desenvolver determinadas maneiras de organizar as relações e as
interações dos diferentes jogadores do grupo, de modo que tudo esteja
referenciando o modelo de jogo proposto.
Faria apud Campos (2008) defende que a repetição sistemática de forma
específica dos princípios de Jogo é fundamental para conseguir a organização e
o sucesso, pois quanto mais organizada for a equipa mais probabilidade de
sucesso haverá na execução dos princípios durante a partida.
Por fim Oliveira apud Silva (2008) entende o Modelo de Jogo como uma
ideia de jogo constituída por princípios, subprincípios, subprincípios dos
subprincípios, representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se
articulam entre si, manifestando uma organização funcional própria, ou seja, uma
identidade.
2.4- Subprincípios e sub dos subprincípios Ainda dentro dos Princípios de jogo, existe a necessidade da criação dos
subprincípios e dos sub dos subprincípios. Que são hierarquizados segundo as
diversas possibilidades de funcionamento da equipe a partir de determinado tipo
de principio em um momento/fase de jogo. Segundo Campos (2008) os
subprincípios e os sub dos subprincípios dão corpo aos grandes princípios e
devem reger-se por regras de continuidade e na definição de cada um deles
devam estar presentes os demais. Um exemplo é a equipe que na Fase de
Transição Defesa-Ataque, tem o Principio de recuperar a posse de bola de forma
mais rápida possível. Dentro desse principio, um dos subprincípios é o da
pressão intensa no homem da bola, e ao mesmo tempo uma marcação individual
intensa em todos os jogadores próximos para que a equipe recupere a posse de
bola ainda no seu campo ofensivo. E o sub do subprincípio é que a equipe deve
realizar uma marcação próxima à zona da bola que não permita ser ultrapassado
pelo adversário.
Pivetti (2012) classifica os subprincípios como partes intermediárias que
suportam e dão corpo aos princípios de jogo. Já os sub dos subprincípios dão
aspectos referentes aos pormenores desconhecidos, pois surgem pela dinâmica
do processo e emergem sobre os níveis de maior complexidade sem a perda de
identidade do modelo de jogo da equipe.
Mas o modelo de jogo não é algo estanque, o treinador deve entender que
os jogadores devem atuar de forma livre aproveitando suas características
individuais, mas sempre respeitando os princípios que regem a forma de jogar
da equipe. Como defende Campos (2008), a intervenção do treinador tem que
ser baseada no plano macro do modelo de jogo, ou seja, mediante os princípios
e subprincípios estabelecidos e treinados, e deve deixar o jogador a liberdade
de saber agir de acordo com isso. Pois na constituição da equipe os jogadores
assumem funções diferenciadas, mas reconhecemos que os comportamentos
nos momentos defensivos, ofensivos e nas transições dependem da forma de
como é o modelo de jogo da equipe. Em concordância Oliveira apud Silva (2008)
afirma que em circunstância alguma devemos esquecer que os padrões de
comportamento dos jogadores e da equipe não devem limitar a criatividade
individual e coletiva, mas incentivar comportamentos criativos que se enquadrem
nos padrões de comportamento desejados.
Resumo
de uma
estrutura na criação de modelo de jogo.
MODELO DE JOGO
Estrutura Organizacional
SISTEMA DE JOGO
Estrutura Funcional
MOMENTOS DO JOGO
Organização
Ofensiva
Transição
Ataque/Defesa
Organização
Defensiva
Transição
Defesa/Ataque
PRINCÍPIOS DE JOGO
SUBPRINCÍPIOS DE JOGO
SUB – SUBPRINCÍPIOS DE JOGO
Organização de um modelo de jogo de uma equipe de futebol. (Oliveira, 2003)
2.5- Modelo de jogo e a Periodização Tática A ideia de modelo de jogo muito se aplica à metodologia de organização
e treinamento criada por Vítor Frade, a Periodização Tática, que tem como base
a modelação de toda equipe e suas condicionantes de acordo com o jogar da
equipe centralizando a tática como conceito a ser seguido.
A Periodização Tática é uma concepção metodológica que regula o
desenvolvimento do jogar de uma equipe, se pautando pela organização do
modelo de jogo em razão da dimensão tática que coordena o processo de treino.
(Pivetti, 2012).
Tamaradit (2007) defende a Periodização tática como uma metodologia
de treinamento cuja preocupação está no jogar que a equipe pretende e pelo
modelo de jogo que se assume como guia de todo processo. Produzindo uma
modelação através dos Princípios, subprincípios e sub dos subprincípios de jogo,
respeitando o modo de jogar da equipe. É uma concepção de treino focado na
operacionalização de um “jogar” através da criação e desenvolvimento. Neste
contexto a periodização e programação do processo confere primazia à tática,
ou seja, regula-se no desenvolvimento de uma organização coletiva que sobre
condiciona a variável física, técnica e psicológica. O processo centra-se na
aquisição de determinadas regularidades no “jogar” da equipa através da
operacionalização dos princípios de jogo.
Mendonça (2013) define esse método em Periodização, como a ideia de
jogo idealizada pelo treinador e irá levar o seu tempo a ser adquirida pelos
jogadores (através do treino e jogo) e a definição de Tática, onde tudo deve ser
feito tendo em conta a Ideia de Jogo pretendida e a sua operacionalização.
A criação do modelo de jogo de uma equipe pode ser desenvolvida e
trabalhada pelo treinador a partir de qualquer metodologia de treinamento. O
mais importante é a equipe criar um jogar coletivo voltado para os mesmos
objetivos e organizados de uma forma sequencial que permita desenvolver as
situações de jogo de forma mais eficiente possível.
Modelo de Jogo do Cruzeiro E.C. Baseado nos jogos do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro de 2013,
acerca dos princípios de jogo do clube mineiro, será detalhado o modelo de jogo
que Marcelo Oliveira aplicou no sucesso da conquista do histórico título nacional
de acordo com o jogar da equipe. Independentemente da metodologia utilizada
pelo treinador, este estudo teve como referencia os jogos da equipe mineira, em
que foi possível identificar o perfil e a maneira pela qual a equipe foi direcionada
a jogar durante o Brasileirão e em toda temporada.
Os princípios de jogo adotados pelo time celeste durante o campeonato
ficaram bem visíveis em todas as partidas da competição. E dentro dos quatro
momentos de jogo (Fase ofensiva, Fase defensiva, Fase de Transição Ataque-
Defesa e Fase de Transição Defesa-Ataque) analisaremos a forma como atuou
o time do Cruzeiro para conseguir o título no Campeonato Brasileiro de 2013.
3.1 – Sistema de Jogo Cruzeiro E.C. Organização no esquema 1-4-2-3-1, com alas bem ofensivos, ‘meias’ abertos
fazendo a função de pontas no setor ofensivo e dois volantes que auxiliam o
meia central. Em alguns momentos a equipe fazia o 1-4-4-2, com o recuo dos
‘pontas’ e o adiantamento do ‘meia’ central.
1-4-2-3-1
1-4-4-2
3.2- Fase Ofensiva O principio de jogo: Manter a posse de bola com circulação pelos 3
corredores tendo apoio sempre ao homem da bola, passes rápidos e objetivos
para conseguir finalizar. Utilizar bolas longas apenas em situações de pressão
intensa do adversário com objetivo de ganhar as “segundas bolas”.
Subprincípios :
Saída de bola com volantes, laterais bem abertos e avançados.
Em situações em que a equipe adversária se encontrava recuada a saída
de jogo era com os volantes saindo com qualidade no passe.
Passes em circulação no setor defensivo para atrair a marcação
e jogar bola no espaço vazio no meio campo.
Passes em circulação com a presença dos laterais e volantes, para poder
atrair a equipe adversária a subir no campo de jogo e com isso criar
espaços no setor de meio campo para a equipe sair jogando.
Apostar em bolas longas para pivô ou meia central em situação
de pressão adversária.
Aproveitar as segundas bolas em caso de pressão intensa do adversário.
Criação de apoio com triângulos no setor de criação no meio
campo
Característica principal da equipe, o próprio esquema celeste ajuda na formação
de triângulos e losangos com apoio de pelo menos 2 jogadores ao homem da
bola garantindo a manutenção e velocidade na posse de bola.
Linhas próximas
Facilitou a circulação de bola e também permitiu uma boa recuperação
em caso da perda da posse.
Boa mobilidade no setor ofensivo com trocas de posicionamento
Grande movimentação do setor ofensivo, um quarteto ofensivo muito
habilidoso e inteligente garantia um ataque mortal com a boa
movimentação.
Passes rápidos, tabelas e infiltração dentro da área.
Qualidade principal e responsável pela maioria dos gols celestes. A equipe utiliza
ataques rápidos com tabelas e jogadas individuais pelo interior da defesa
adversária.
Lançamentos na paralela ou em diagonais para pontas e laterais,
utilizando bolas cruzadas com bom posicionamento dentro da
área.
Aproveitamento de situações de bola no fundo e bom posicionamento na
área. A velocidade e habilidade individual dos “pontas” e alas fizeram
muita diferença.
3.3- Fase transição Ataque-Defesa Princípio: Sempre roubar a bola do adversário pressionando o homem com
bola e os jogadores próxima à zona de jogo. E ao mesmo tempo fechando todos
os espaços defensivamente. Subprincípios:
Pressão no homem da bola ao perder a posse.
Evitar ser ultrapassado pelos jogadores adversários próximos ao setor
onde se encontra a bola.
Ganhar 2ª bolas forçando o adversário jogar longo
Aproveitou a boa qualidade aérea do setor defensivo da equipe para
recuperar a posse de bola.
Rápido retorno de marcação no lado inverso fechando espaços
Fechando espaços também no lado contrário onde se encontra a bola
com a equipe fazendo a flutuação.
Reorganização defensiva mesmo acontecendo troca de
posicionamento dos jogadores.
Independentemente de quem perca a bola, os espaços são fechados com
pressão intensa ainda no setor ofensivo, no setor lateral e na ocupação do
fechamento do meio campo.
3.4- Fase Defensiva Principio: Manutenção dos jogadores organizados todos atrás da linha da bola,
compactados sempre mantendo equilíbrio e realizando em alguns momentos
pressão na saída de bola.
Subprincípios:
Evitar bolas atrás da última linha de defesa.
Evitar com que os zagueiros e laterais sejam ultrapassados pelos atacantes
adversários em lançamentos.
Bom posicionamento da defesa em bola vindas do fundo.
O sucesso se deu pela qualidade do setor defensivo e ao mesmo tempo
a rapidez em recuperar a sobra com volantes e meias.
Pressão desde a primeira linha de ataque com 1 jogador e com 2
em alguns momentos.
A pressão intensa aconteceu em jogos principalmente em casa, ou em
momentos que a equipe necessitava reverter o placar. O quarteto
ofensivo sempre marcando de forma rápida e organizada.
Marcação intensa no corredor lateral, criando dobras nesse setor
no campo de defesa.
Qualidade que muitas equipes vitoriosas detêm são as marcações intensas dos
alas que recuam para fazer a marcação do setor lateral. No campo de defesa a
dobra de marcação e a recuperação nas alas foi fator importante para o time
celeste recuperar a posse de bola.
Ganhar segundas bolas em lances longos.
Em caso de insucesso na recuperação de bola no setor ofensivo, forçar a equipe
adversária a jogar longo fazia com que a equipe recuperasse a bola devido ao
bom posicionamento para ganhar as segundas bolas.
Forte compactação no meio campo com volantes.
Volantes e meio campos marcadores e bons no desarme garantiam o
sucesso defensivo na zona próxima a grande área.
Manter a equipe toda organizada como referência a linha da bola,
até mesmo o centro avante.
A organização defensiva da equipe se dava através de uma linha de 4 na defesa,
uma linha com 2 volantes e outra com 3 meias e alas alternando para uma linha
de 4 com a participação do centro avante. A equipe flutuava pelo campo de jogo
com uma boa aproximação das linhas de marcação.
Adiantar a equipe no terreno de jogo, fechando espaços forçando
o adversário ao erro.
A pressão na saída de bola forçava o erro do adversário e a rápida recuperação
da bola.
3.5- Fase transição Defesa-Ataque Princípio: Criar amplitude pelo campo de jogo retirando a bola da zona de
pressão, utilizando também passes em profundidade com ultrapassagens e
movimentações pelos 3 corredores do campo rapidamente.
Subprincípios:
Bolas roubadas no setor ofensivo, criação de ataque rápido com
tabelas em velocidade com ultrapassagem de jogadores a frente
da linha do homem da
A velocidade nos contra-ataques foi importante em muitas situações
de ataque.
Ataque sempre com 5 jogadores, os meias, centro avante e um
dos laterais, sempre tendo como unidade ofensiva a linha de
volantes.
A participação de um lateral e mais o quarteto ofensivo se deu na maioria
dos ataques rápidos da equipe.
Saída da Zona de Pressão em Profundidade buscando o meio
central.
No setor de defesa a bola que chegava aos volantes ou ao meia central
era condição para rápida criação de jogadas em contra-ataque.
Ocupação de todos os corredores do campo criando amplitude e
profundidade no esquema estrutural do time.
Velocidade na abertura de jogo e ocupação de espaços vazios no terreno
de jogo.
Retirar bola da Zona de Pressão para o lado fraco do adversário.
Quando não conseguia fazer a bola chegar ao setor de meio campo, a equipe
girava a bola mantendo a posse até chegar ao corredor contrário.
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