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Page 1: Como funciona a Memória de Trabalho? Influências na

CorrespondenciaLarissa Wagner Zanella.

Escola de Educação FísicaLaboratório de Pesquisa – LAPEX, Sala 206.

Rua: Felizardo, 750 Jardim Botânico,CEP 90690-200, Porto Alegre-RS, Brasil

Recebido em 13/10/2014Aprovado em 06/08/2015

REVISÃO

Medicina (Ribeirão Preto) 2016;49(2):160-174

1. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências doMovimento Humano, Escola de Educação Física, Universida-de Federal do Rio Grande do Sul – Suporte financeiro: Capes

2. PhD. em Comportamento Motor, Professora da Escola de Edu-cação Física, Fisioterapia e Dança, Universidade Federal doRio Grande do Sul

Como funciona a Memória de Trabalho? Influências naaprendizagem de crianças com dificuldades de apren-dizagem e crianças com desordem coordenativadesenvolvimental

How the Working Memory functioning? Influences in learning of children with typicaldevelopment and development coordination disorder

Larissa W. Zanella1, Nadia C. Valentini2

RESUMO

Crianças com dificuldades de aprendizagem podem apresentar limitações na capacidade de armazenare/ou organizar informações processadas de forma adequada e precisa para a execução de tarefasescolares e/ou motoras. A memória de trabalho, também chamada de memória de curto prazo, é umavariável de cognição amplamente investigada nos últimos anos. Os objetivos desta revisão sistemáticade literatura foram: (1) verificar a função dos componentes da memória de trabalho; (2) verificar ainfluência da memória de trabalho no desempenho cognitivo e nas dificuldades de aprendizagem decrianças em idade escolar; (3) verificar as limitações da memória de trabalho em crianças com Desor-dem Coordenativa Desenvolvimental. A busca por artigos ocorreu entre fevereiro e maio de 2013.Foram utilizadas as bases de dados PubMed e EBSCO, resultando em um total de 60 artigos incluídos. Amemória de trabalho repercute na aprendizagem e déficits específicos são observados em criançasescolares com dificuldades de aprendizagem bem como em crianças com Desordem CoordenativaDesenvolvimental.

Palavras-Chave: Memória de Trabalho. Transtornos das Habilidades Motoras. Transtornos deAprendizagem. Criança.

ABSTRACT

Children with learning disabilities may have limitations on the ability to store and / or organize informa-tion properly handled and need for implementation of school and / or motor tasks. Working memory,also called short-term memory, cognition is a variable widely investigated in recent years. The objec-tives of this systematic literature review were: (1) verify the function of the components of workingmemory in school-age children; (2) verify the influence of working memory in cognitive performance

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IntrIntrIntrIntrIntroduçãooduçãooduçãooduçãoodução

A memória de trabalho, também chamada dememória de curto prazo, tem recebido a atençãode pesquisadores em decorrência de seu impactona aprendizagem.12,3 A memória de trabalho é umsistema de capacidade limitada que permite o ar-mazenamento e a manipulação temporária de in-formações verbais ou visuais necessárias para ta-refas complexas, como a compreensão, aprendiza-do, raciocínio e planejamento.4,5,6 O sistema da me-mória de trabalho pode ser exemplificado com oprocesso de compreender uma palavra pronuncia-da. Quando o indivíduo ouve uma palavra, o som éencaminhado para a memória sensorial, as experi-ências com a língua permitem que a pessoa reco-nheça o padrão de sons, em seguida a palavra éencaminhada para memória de trabalho onde a in-formação será processada. Entretanto, o processode reconhecer o significado da palavra é desenvol-vido na memória de longo prazo (local de armaze-namento permanente de informações).7 O proces-so de resgatar informações da memória de longoprazo e estabelecer associações com as novas in-formações é o motivo pelo qual a memória de curtoprazo é denominada memória de trabalho.5

O armazenamento de informações acontecede forma dinâmica na consciência. A capacidade demanipular e manter informações (por exemplo, asinstruções de uma tarefa) é crucial para a expansãode conhecimento. Consequentemente, o desempe-nho da memória de trabalho é um requisito essenci-al para a aprendizagem,8 tornando-se um dos res-ponsáveis no desenvolvimento de habilidades cog-nitivas, como a aritmética;9,10,11 resolução de proble-mas,12,13 leitura e compreensão.1,14,15 Estudos repor-tam a memória de trabalho como um fator preditordo desenvolvimento da leitura e escrita16 da lógicamatemática9,10 e de compreensão de linguagem.17,18

O desenvolvimento de novas habilidades cog-nitivas, associado à memória de trabalho, é garan-tido graças ao aumento da eficácia operacional, davelocidade de processamento de informação e umamaior utilização de estratégias nas resoluções deproblemas. O processamento de informações ocor-re mais rapidamente e de forma automática, o quepermite ao indivíduo lidar com um grande númerode informações ao mesmo tempo.19 Indivíduos va-riam amplamente em sua capacidade de memóriade trabalho, essas variações individuais tem conse-quências importantes na competência para adqui-rir conhecimentos, desenvolver novas habilidadese na prontidão para engajar em operações cogniti-vas complexas.

O funcionamento inadequado de um ou maiscomponentes da memória de trabalho está asso-ciado/relacionado com as dificuldades de aprendi-zagem e ao baixo rendimento escolar.19 Crianças queenfrentam dificuldades de aprendizagem podemapresentar limitações na capacidade de armazenare/ou organizar informações processadas de formaadequada e precisa para a execução de tarefasacadêmicas19 e/ou motoras.20 Pesquisas eviden-ciam estreitas associações entre a capacidade decrianças em idade escolar em armazenar e mani-pular conteúdo relativo a memória de trabalho e oprogresso escolar nos domínios da linguagem, ma-temática.15,21–24

Estudos têm também voltado sua atenção paraa memória de trabalho de crianças com dificuldadesde aprendizagem na escola,25,26 as quais não temum diagnóstico específico mas apresentam dificul-dades na compreensão,14 leitura3 muitas vezes sen-do referenciadas pelas escolas como crianças comnecessidades educacionais especiais.21 Outros estu-dos tem investigado crianças com Desordem Coor-denativa Desenvolvimental (DCD) uma vez que estadesordem tem se estabelecido como de proporções

and learning difficulties of children of school age; (3) verify the limitations of working memory in chil-dren with Developmental Coordination Disorder. The search for articles occurred between February andMay 2013. The PubMed and EBSCO data, resulting in a total of 60 included articles were used. Workingmemory affects the learning and specific deficits are observed in school-age children with learningdifficulties as well as in children with Developmental Coordination Disorder.

Keywords: Memory, Short-Term. Motor Skills Disorders. Learning Disorders. Child.

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intensas acometendo entre 5 e 19 % da populaçãomundial27 e estabelecendo desafios para a educa-ção uma vez que estas crianças apresentam desem-penhos escolares comprometidos.28,29,30 Ainda mais,estudos têm reportado que crianças com DCD po-dem ter suas dificuldades motoras e/ou cognitivasrelacionadas à memória de trabalho. Essa relação égerada pelas dificuldades em planejar, organizar,executar e/ou modificar seus movimentos.31 Comoresultado desse processo, as crianças não reconhe-cem facilmente seus erros, tem dificuldades emaprender com esses erros ou corrigir os seus movi-mentos.32 Em função destas características, pesqui-sadores sugerem que as dificuldades motoras dascrianças com atrasos motores e com DCD podemnão estar apenas em aprender a movimentarem-se, mas também em aprender a utilizar das estra-tégias para encontrar soluções de resolução dosproblemas nas tarefas motoras.33,34

Portanto, os objetivos desta revisão sistemá-tica de literatura foram: (1) verificar qual a funçãodos componentes da memória de trabalho reporta-das na literatura; (2) verificar as influências da me-mória de trabalho no desempenho cognitivo de crian-ças em idade escolar; e (3) verificar as dificuldadesna memória de trabalho em crianças com DCD.

FFFFFonte dos dadosonte dos dadosonte dos dadosonte dos dadosonte dos dados

Foram consultadas as bases de dados PubMede EBSCO. As palavras-chave utilizadas para a buscados artigos foram Working Memory, Short-Term,Memory Disable Children e DevelopmentalCoordination Disorder, de forma combinada ou iso-lada. Não foram limitados idiomas e ano de publi-cação. A busca por artigos ocorreu entre fevereiroe maio de 2013. Apenas artigos que investigaramos princípios básicos do Modelo de Memória de Tra-balho de BADDELEY e HITCH (1974) e BADDELEY(2000) em crianças foram incluídos. Os artigos quenão estavam diretamente relacionados com a me-mória de trabalho ou seus componentes e/ou quecontinham amostras com deficiências ou diagnósti-co de patologias foram excluídos.

AAAAAvvvvvaliação e seleção dos estudosaliação e seleção dos estudosaliação e seleção dos estudosaliação e seleção dos estudosaliação e seleção dos estudos

Foram encontrados 412 artigos referentes aotema abordado (Figura 1). Após considerar os cri-

térios de inclusão, 60 artigos de pesquisa forammantidos (Tabela 1). Esse material foi caracteriza-do por abordar a memória de trabalho de criançascom desenvolvimento típico e com DCD, relaciona-da ou não com as dificuldades de aprendizagem.Com base nesses trabalhos, a síntese dos dados foiorganizada em três fases: (1) Qualidade dos estu-dos e característica dos estudos; (2) uma breveexposição (itens “I” e “Ia”) sobre o Modelo de Me-mória de Trabalho de Baddeley; e (3) o resultadoda revisão sistemática de literatura (itens “II” e“IIa”) que contempla as relações entre a memóriade trabalho e as dificuldades de aprendizagem decrianças com desenvolvimento típico e a relação damemória de trabalho e as dificuldades enfrentadaspelas crianças com DCD.

Os sessenta estudos selecionados foram ava-liados quanto a sua qualidade, de acordo com oscritérios apresentados na tabela 2.

Os estudos foram avaliados em 6 critérios,cada critério contendo de 2 a 6 itens. A pontuaçãode cada critério foi realizada analisando se o estudoapresentava ou não determinado item. Entretanto,em cada critério apenas um item poderia ser marca-do. Por exemplo, a dimensão “método de análise”possui de 1 a 6 itens para serem observados quantoaos procedimentos estatísticos, se o estudo utilizas-se ANOVA (escore 2) e apresentasse effect size (es-core 5), sua pontuação seria referente ao escore maisalto, neste caso 5 correspondente ao effect size. Ositens foram somados gerando um escore total dequalidade, o escore máximo possível é 14.

Síntese dos dadosSíntese dos dadosSíntese dos dadosSíntese dos dadosSíntese dos dados

Características dos estudos

Dos sessenta estudos incluídos, vinte e cincoforam publicados entre 1974 e 2004, destes, cincoeram relacionados a teoria da memória de traba-lho, dezenove estudos eram relacionados aos pro-cessos de aprendizagem e 1 era relacionado à De-sordem Coordenativa Desenvolvimental (DCD). Vin-te e quatro estudos foram publicados entre 2005 e2010, destes, três estudos eram relacionados a teo-ria da memória de trabalho, quatorze buscaramestudar a relação entre a memória de trabalho e osprocessos de aprendizagem e sete investigaram arelação entre a memória de trabalho e DCD. Onze

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estudos foram publicados 2011 e 2013, destes, umestudo era direcionado a teoria da memória de tra-balho, oito estudos investigaram a relação entre amemória de trabalho e os processos de aprendiza-gem, e dois estudos investigaram a relação entre amemória de trabalho e a DCD.

Qualidade dos estudos

Os critérios utilizados para avaliar a qualida-de do estudo foram adaptados do sistema de pon-tuação criado por Goodson, Buhi e Dunsmore 66 apre-sentados na tabela 2. Os estudos avaliados apre-sentaram a média 4,03 de um total de 14 pontos.Nenhum estudo recebeu a pontuação máxima. Vin-te e cinco estudos apresentaram pontuação superi-or a média de 4 pontos. Desses estudos duas ca-

racterísticas estavam ausentes em praticamentetodos: longitudinalidade e randomização.

I- O modelo de multicomponentes

A apresentação do modelo de multicompon-tentes foi abordado em nove estudos incluídos nes-sa pesquisa.4,5,6,35–39 Um artigo apresentou a me-mória de trabalho e os seus primeiros componen-tes.4 Quatro estudos5,36,37,39 apresentaram ou revi-saram especificamente cada um dos componentesda memória de trabalho. Três estudos6,35,38 realiza-ram uma análise acerca da memória de trabalhopara delinear os avanços do modelo. Um estudo 19

desenvolveu uma revisão de literatura sobre os prin-cipais marcos da memória de trabalho em relação aaprendizagem escolar.

BUSCA DE ARTIGOS

Bases de dados

32.000 artigos

31.588 estudos não selecionados

412 estudos selecionados

347 estudos excluídos 60 estudos incluídos

41 es tudos sobre aprendizagem

10 estudos sobre DCD

9 estudos: definição memória de trabalho carac terísticas e apresentação memória

Figura 1: Processo de seleção de estudos

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REVISÃO DE LITERATURASOBRE MEMÓRIA DE TRABALHO

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ívei

s de

inte

ligên

cia

med

idas

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ificu

l-da

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lect

uais

lev

es,

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erad

ase

grav

es)

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gem

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Cri

ança

s co

m n

eces

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des

educ

a-ci

onai

s es

peci

ais

(12)

(13)

(14)

(15)

(16)

(17)

(18)

(20)

(21)

(22)

(23)

(24)

(25)

(26)

75 353

E1:

28E2

: 32

E1:

28

87 54 102

48 709

57 83 194

63 66 46

(con

tinu

ação

) T

ab

ela

1:

Desc

riçã

o d

os

est

ud

os

incl

uíd

os

na r

evis

ão

sis

tem

áti

ca

Refe

rên

cia

Gru

po

NFaix

a e

tári

aO

bje

tivo

MEMÓRIA DE TRABALHO E APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS

Page 7: Como funciona a Memória de Trabalho? Influências na

166 http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br

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Medicina (Ribeirão Preto) 2016;49(2):160-74

Forn

ecer

um

a vi

são

gera

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apre

ndiz

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mot

ora,

mem

ória

de

trab

alho

vis

ual e

o p

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mem

ória

de

trab

alho

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apre

ndiz

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mem

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nho

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Expl

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ção

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para

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mem

ória

de

trab

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ar a

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ção

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iona

l da

mem

ória

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trab

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ades

cog

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s.In

vest

igar

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ribu

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s do

s co

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nent

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lógi

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cent

ral e

xecu

tiva

par

a as

hab

ilida

des

de c

ompr

eens

ão o

ral.

Con

trib

uiçõ

es d

a m

emór

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onol

ógic

a pa

ra o

pro

cess

amen

to d

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rific

ar o

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nho

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ia e

m r

elaç

ão à

s ha

bilid

ades

de le

itur

a e

escr

ita.

Veri

ficar

a c

ontr

ibui

ção

da m

emór

ia d

e tr

abal

ho p

ara

solu

cion

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oble

mas

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emát

ica.

Iden

tific

ar a

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trib

uiçã

o do

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cen

tral

par

a di

fere

ntes

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ões

e ve

rific

ar a

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trib

uiçã

o pa

ra a

s ha

bilid

ades

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rita

e ar

itm

étic

a.In

vest

igar

o p

roce

ssam

ento

de

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fas

de m

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ia d

e tr

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hove

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.In

vest

igar

a r

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ão e

ntre

leitur

a, m

emór

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e tr

abal

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hab

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espo

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eis

sobr

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cri

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s co

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eter

min

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con

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um

ins

trum

ento

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mem

ória

par

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ção

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cri

ança

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A/H

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sord

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itur

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bos.

Veri

ficar

o d

esem

penh

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de

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ória

ver

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e le

itur

a, c

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por

idad

e de

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ncia

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leitur

a e

por

idad

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ono-

lógi

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*

E1:

9 à

13 a

nos

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idem

E1:

M 1

1,52

DP

3,19

E2:

M 1

2,86

DP

2,77

8 à

17 a

nos

4 à

6 an

os

5,5

à 9,

5 an

os

E1:

M 4

,6 a

nos

DP

4,28

E2:

M 5

,2 D

P 3,

657

à 8

anos

6 à

10 a

nos

8 à

10 a

nos

6 à

12 a

nos

7,6

à 9,

6 an

os

*

7,9

à 9,

7 an

os

*

E1:

40E2

: 36

E1:

36E2

: 42

108

633

180

E1:

30E2

: 61

389

69 141

65 69 291

48

(40)

(41)

(42)

(43)

(44)

(45)

(46)

(47)

(48)

(49)

(50)

(51)

(52)

(53)

* E1:

cria

nças

com

e s

em d

isle

xia

E2:

idem

Cri

ança

s co

m d

efic

iênc

ia v

isua

l

Cri

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s co

m e

sem

des

orde

m d

oes

pect

ro a

utis

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rian

ças

com

DT

Cri

ança

s co

m D

T

E1:

Cri

ança

s co

m D

TE2

: id

emC

rian

ças

com

DT

Cri

ança

s co

m D

T

Cri

ança

s co

m D

T

Cri

ança

s co

m D

T

Cri

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s id

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adas

sem

difi

cul-

dade

s, d

ificu

ldad

es m

oder

adas

ou

grav

es e

m le

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a

Cri

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s co

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itur

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cria

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e e

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(con

tinu

ação

) T

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ela

1:

Desc

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o d

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ud

os

incl

uíd

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evis

ão

sis

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rên

cia

Gru

po

NFaix

a e

tári

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bje

tivo

Page 8: Como funciona a Memória de Trabalho? Influências na

http://www.revistas.usp.br/rmrp / http://revista.fmrp.usp.br 167

Zanella LW, Valentini NC. Memória de Trabalho: influência naaprendizagem e na Desordem Coordenativa Desenvolvimental

Medicina (Ribeirão Preto) 2016;49(2):160-74

Veri

ficar

se

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ifere

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leitor

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gir

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ia d

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cri

ança

s co

m d

ificu

ldad

es d

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itur

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elaç

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cri

ança

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rific

ar a

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s ex

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ivas

e m

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abal

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ças.

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ória

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I em

cri

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ificu

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e m

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abal

ho,

dese

mpe

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êmic

o e

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siqu

iátr

icos

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Com

para

r as

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des

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guag

em d

e cr

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CD

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nças

com

difi

culd

ades

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cas

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Expl

orar

a r

elaç

ão e

ntre

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unçã

o ex

ecut

iva

e ha

bilid

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ora.

Com

para

r as

hab

ilida

des

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emór

ia d

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ho e

m c

rian

ças

com

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rden

s de

des

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óstico

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nas

habi

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e m

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ia.

Com

para

r a

mem

ória

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alho

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cria

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cri

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dade

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Com

para

r a

mem

ória

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trab

alho

de

cria

nças

com

DC

D e

cri

ança

sco

m d

ificu

ldad

es e

spec

ífica

s de

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guag

em.

Inve

stig

ar o

s m

ecan

ism

os s

ubja

cent

es a

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abal

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DC

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stig

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ória

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emór

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ança

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ança

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ança

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nos

6 à

11 a

nos

6 à

11 a

nos

M 1

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M 8

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3 à

14 a

nos

M 1

0,4

anos

DP

2,2

mes

es

57 36 38 64 55 22 201

163

40 34 24 55 155

91 195

(54)

(55)

(56)

(57)

(58)

(59)

(60)

(30)

(28)

(29)

(61)

(62)

(63)

(64)

(65)

(con

tinu

ação

) T

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ela

1:

Desc

riçã

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incl

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ão

sis

tem

áti

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Refe

rên

cia

Gru

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NFaix

a e

tári

aO

bje

tivo

MEMÓRIA DE TRABALHO DE CRIANÇAS COM DCD

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Medicina (Ribeirão Preto) 2016;49(2):160-74

As pesquisas que investigam a memória detrabalho são fortemente influenciadas pelo modelode multicomponente de memória de trabalho deBaddeley e Hitch (1974). 4 Esse modelo expande anoção de memória passiva de curto prazo para umsistema ativo que fornece a base para as capacida-des cognitivas complexas. 35 Estudos na área dacognição 9,11,57 e do comportamento motor 40 têm sebeneficiado do uso desse modelo desenvolvendo etestando sistemas cognitivos funcionais que pos-sam explicar as capacidades e propriedades doscomponentes da memória de trabalho em crianças.Consequentemente a memória de trabalho se tor-nou uma parte importante no estudo do sistemacognitivo, uma vez que proporciona ao indivíduo acapacidade para manter e manipular informaçõesno processo de orientar e executar tarefas cogniti-vas complexas. 35 O modelo de multicomponentes

pode ser investigado de forma fracionada com pro-cessos independentes ou pode ser descrito comoum sistema global constituído por um número deprocessos que fornecem controle da atenção sobreos outros componentes.

Inicialmente Baddeley e Hitch (1974) 4 pro-puseram um modelo de memória de trabalho com-posto por um componente executivo central e doissistemas de apoio denominados de (1) alça fonoló-gica e (2) visuoespacial. Mais tarde, Baddeley (2000)5 aperfeiçoou esse modelo adicionando mais umcomponente, o buffer episódico. Dessa forma, omodelo de memória de trabalho é composto porquatro componentes especializados no armazena-mento de informações em domínios específicos ena capacidade de modificação, atualização e inibi-ção de informações. 5 A seguir cada componente domodelo será discutido brevemente.

Tabela 2: Critérios de avaliação da qualidade e pontuação dos estudos

Não - 0Sim - 1Transversal - 0Longitudinal - 1Não apresenta coeficiente - 0Apresenta coeficientes apenas para parte dos dados - 1Apresenta coeficientes de outros estudos ou da própriavalidação do instrumento - 2Apresenta coeficientes de todos os instrumentos validadosna própria amostra - 3

Qualitativo - 0Estatística Univariada/ Descritiva - 1Estatística Bivariada/ ANOVA - 2Regressão multipla/logística - 3Estatística Multivariada (análise de função discriminante,pathanalysis, structural equation model) - 4Algum tipo de effect size é apresentado (eta square, R2,intervalo de confiança) - 5

Pequena >100 - 0Média 100-300 - 1Grande <300_ 2

Conveniência/não probabilística - 0Randômica não representativa nacionalmente - 1Randômica representativa nacionalmente - 2

0 (0)60 (100)56 (93,3)4 (6,7)

47 (78,3)2 (3,3)

1 (1,7)

6 (10)

19 (31,7)4 (6,7)

16 (26,7)12 (20)

1 (1,7)

11 (18,3)

44 (73,3)12 (20)4 (6,7)

54 (90)4 (6,7)2 (3,3)

Usa Teoria ou Modelo Expli-citamenteDelineamento do EstudoValidade dos Instrumentos

Método de Análise

Tamanho da Amostra

Seleção da Amostra

Nota: Sistema de pontuação adaptado66,67

Distribuição dascaracterísticas entre os60 estudos avaliados

Critérios Pontuação n (%)

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Zanella LW, Valentini NC. Memória de Trabalho: influência naaprendizagem e na Desordem Coordenativa Desenvolvimental

Medicina (Ribeirão Preto) 2016;49(2):160-74

Ia- Componentes executivo central, alça fono-lógica, visuoespacial e buffer episódico

O sistema executivo central controla o fluxode informação da memória incluindo a ativação tem-porária da memória de longo prazo.36 Esse compo-nente é sustentado pelos componentes subordina-dos: alça fonológica, visuoespacial e buffer episódi-co.5 O executivo central possui quatro funções prin-cipais: (1) coordenar a performance em duas tare-fas ou operações distintas (ex.: armazenamento eprocessamento da informação); (2) optar entre ta-refas, estratégias de recuperação ou operações; (3)selecionar uma informação específica e inibir infor-mações irrelevantes; e (4) ativar e recuperar infor-mações da memória de longo prazo com o suportedo buffer episódico.36 São funções complementaresdo sistema executivo central o planejamento43 e aten-ção.42 Nessa abordagem multifacetada da memóriade trabalho é necessário ainda definir se será maisapropriado considerar o executivo como um sistemaunificado com múltiplas funções ou como um con-junto de processos de controle independentes eminteração.36

Estudos tem sido desenvolvidos com a metade melhor compreender as relações e interdepen-dência entre os componentes da memória de tra-balho. Por exemplo, em um estudo com 633 crian-ças com idade entre 4 e 6 anos realizado na Ingla-terra, investigou-se a organização funcional damemória de trabalho. Os resultados deste estudosugerem que a capacidade cognitiva não-verbal estárelativamente distinta do executivo central.44 Ao tra-tar do domínio verbal outros autores sustentam queo executivo central desempenha um papel crucialna coordenação do fluxo de informações.4,5 Interes-santemente esta suposição também tem suportede pesquisas. Por exemplo, um estudo que investi-gou a compreensão verbal relacionada com as con-tribuições da memória de trabalho (crianças comidade entre 5 a 9 anos) sugere interdependênciaentre o componente executivo central e o domínioverbal.45 Consistente com este ponto de vista, ape-sar de representar um fator distinto, a capacidadede repetição é altamente associada entre fatoresdo executivo central e a alça fonológica.46

Esta relação entre o executivo central e a alçafonológica tem se mostrado consistente em estu-dos conduzidos com crianças, muitos das quais comcrianças com deficiência.42,43 A contribuição do

executivo central apoiado no componente alça fo-nológica quanto ao desempenho da memória de tra-balho foi explorado em um estudo com crianças comdeficiência visual.42 Neste estudo, essas criançasdemonstraram vantagens em tarefas de memóriaque recorrem a recursos da alça fonológica. Estavantagem parece ser decorrente da necessidade dedesenvolverem o sentido da audição de forma maisaguçada para compensar a falta da visão.42 Em ou-tro estudo que comparou um grupo com dificulda-des de aprendizagem e outro com leitores profici-entes reporta que as crianças com dificuldades deaprendizagem apresentaram restrições no sistemaarticulatório* as quais repercutem negativamenteno processamento executivo na compreensão deleitura.1 Esses dados reforçam a necessidade doexecutivo central em apoiar-se em outros compo-nentes para que o desempenho seja satisfatório equestionam os resultados de estudos que não en-contram esta relação. Destaca-se que diferentesmetodologias tem sido empregadas nestes estudospara investigar aspectos múltiplos o que, em parte,pode explicar esses resultados.

A alça fonológica é responsável por fornecerarmazenamento temporário de material linguístico.6

Esse armazenamento é incluído em um circuito si-lencioso de repetição utilizado por exemplo, quan-do falamos conosco próprios. A alça fonológica érelacionada à aquisição de vocabulário,37 compre-ensão da leitura,41,47 escrita,24,49 habilidades aritmé-ticas e resolução de problemas matemáticos.37,48,49

As informações fonéticas codificadas são organiza-das temporal e sequencialmente, mas podem serperdidas rapidamente se a “alça articulatória” (umsubcomponente da alça fonológica) não mantiver ainformação através da reverberação.6

O principal objetivo da alça fonológica é ar-mazenar padrões sonoros desconhecidos enquantoa memória permanente de registros está sendoconstruída.37 Consequentemente a alça fonológicadesempenha um papel crucial na aprendizagem do“formato” fonológico de novas palavras. A sensibili-dade fonológica e o desempenho da recuperaçãoverbal é significativamente diminuído quando uma

* Sistema articulatório: reverberação ou ensaio articulatóriosubvocal, que permite resgatar informações verbais em declínio,mantendo-as na memória de trabalho (GATHERCOLE, 1998;BADDELEY, 2003).

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tarefa de armazenamento verbal é combinada comatividades de processamento visuoespacial.61 Issoocorre por exemplo, quando crianças necessitamguardar informações ao mesmo tempo em que seenvolvem em algum tipo de atividade. Ao apresen-tar para crianças frases em blocos e requerer querecorde das últimas palavras de cada frase, irá exi-gir que as crianças dividam a atenção entre o pro-cessamento da informação (compreensão de frase)e de armazenamento de informações (lembrar daspalavras).50 A alça fonológica desempenha um pa-pel importante no processo de guardar informaçõesque serão importantes para o processo de aprendi-zagem.

Consequentemente, pesquisas 41,51,53,54 bus-cam entender as razões para dificuldades de leituraneste componente de memória de trabalho. Quatropossíveis contribuintes para o déficit de memóriade trabalho verbal no desenvolvimento de criançascom dificuldades de leitura tem sido reportadas naliteratura: (1) consciência fonológica pobre (queafeta codificação fonológica), (2) armazenamentofonológico menos eficaz, (3) velocidade lenta dearticulação e (4) representação menor e/ou piorqualidade memória de longo prazo.

Estudos sugerem que (1) a memória de tra-balho verbal é prejudicada em crianças com dificul-dades de leitura devido à diminuição da velocidadede articulação;41 (2) indivíduos com dificuldades deleitura fazem menos uso de codificação fonológica euso ineficiente da alça fonológica; (3) o comprome-timento da alça fonológica reduz a capacidade dearmazenamento e o déficit aumenta de acordo como aumento das sequências de itens a serem lem-brados em crianças com leve déficit intelectual;24

(4) existe uma relação direta e significativa entre aconsciência fonológica e memória de trabalho afe-tando a sensibilidade fonológica em habilidades deleitura em crianças pré-escolares.2 Os dados refe-rentes à alça fonológica demonstram a grande rela-ção e influência da capacidade verbal sobre os im-portantes processos de aprendizagem.

O componente visuoespacial possui funçõessemelhantes ao componente da alça fonológica;envolve informações visuais e espaciais, armaze-nando-as temporariamente de forma restrita. Estecomponente possui papel fundamental na forma-ção da imagem mental.38 Este componente é res-ponsável pela elaboração de esboços visuais que

podem armazenar imagens de objetos por perío-dos de tempo suficientes para manipulá-los com amemória visual. Tem a função de reter e processara identidade e a localização espacial de um objeto,tornando-se essencial para muitas tarefas diárias.Detectar um objeto é um sistema extremamenteeficiente e flexível que processa as informações deforma precisa e rápida durante condições de mu-dança contínua no input visual, por exemplo a posi-ção da imagem, iluminação ambiente, tamanho doobjeto.38 O componente visuoespacial interfere naorganização da escrita, leitura e de cálculos mate-máticos.15

O Buffer Episódico garante a capacidade dearmazenamento temporário e limitado das informa-ções contidas em um código multimodal 5 favore-cendo as conexões na memória de longa duraçãoem uma representação episódica unitária. Nessemodelo de memória de trabalho o Buffer Episódicotem característica contínua de natureza multicom-ponente, embora a memória de trabalho esteja in-timamente associada tanto à memória de longoprazo quanto a funções perceptual e motora, o bufferproporciona não só um mecanismo para modelar oambiente, mas também a criação de novas repre-sentações cognitivas, que por sua vez poderão faci-litar a resolução de problemas. 5

Resumindo, a memória de trabalho funcionade maneira dinâmica e a capacidade que a mesmapossui para manipular e manter as informações sãocruciais para a expansão de conhecimento. Por isso,pesquisas 26,47 identificam a memória de trabalhocomo um determinante no desenvolvimento de ha-bilidades cognitivas necessárias para a aprendiza-gem. Os prejuízos nesse sistema podem provocardéficits de aprendizagem, leitura, compreensão detextos. O desempenho inadequado de um ou maiscomponentes da memória de trabalho pode estarrelacionado diretamente com as dificuldades deaprendizagem e baixo rendimento escolar. 26 Por-tanto, a seguir serão apresentadas pesquisas atu-ais sobre este tema e relacionados também às de-sordens coordenativas do desenvolvimento.

II- Dificuldades de aprendizagem e desempenhoda memória de trabalho em crianças escolares

Trinta estudos investigaram a influência damemória de trabalho no desempenho escolar decrianças com dificuldades escolares (sem diagnós-

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tico definido) e com desenvolvimento típico.1,3,9–18,20–

24,26,44–51,53,55–57 Sete estudos investigaram as rela-ções entre a memória de trabalho e as dificuldadesde aprendizagem em grupos de crianças com dife-rentes diagnósticos, por exemplo, TDA/H8,52 edislexia.2,21,25,41,54 Dois estudos investigaram as fun-ções da memória de trabalho em crianças com de-ficiência, como autismo43 e deficiência visual;42 eoutro estudo investigou essas funções em criançascom distúrbios psiquiátricos.58

Crianças com desempenhos pobres em tare-fas relacionadas ao componente central executivodemonstram habilidades pobres nas áreas de lin-guagem, alfabetização e matemática.15,21 , O com-ponente central executivo da memória de trabalhotem sido apontado como o elemento responsávelpelo fracasso ou sucesso no desempenho esco-lar.3,26,42,59 Crianças com dificuldades em tarefas deplanejamento e atenção demonstraram menos ca-pacidade de memória de trabalho;56 ainda mais,estes resultados indicam que os problemas de me-mória de trabalho em crianças com dificuldades deleitura podem refletir um déficit no componenteexecutivo central.3 Ainda mais, crianças com idadesentre 6 e 11 anos com dificuldades de leitura, apre-sentam comprometimento na memória complexa,habilidades de linguagem e consciência fonológi-ca.26 Se estas crianças com dificuldades de leiturademonstram déficits generalizados nas tarefas sim-ples e complexas as mesmas podem apresentarmemória de trabalho mais pobre na coordenaçãode tarefas cognitivas mais exigentes.3 Esses resul-tados foram enfatizados em um estudo de metaná-lise42 com 88 pesquisas. Esta metanálise eviden-ciou que crianças com dificuldades de leitura sãoconsistentemente mais desfavorecidos nas medidasde memória verbal; o desempenho da memóriavisuoespacial nessas crianças pode modificar deacordo com as demandas da tarefa, resultando empadrões inconsistentes de desempenho.19

Os problemas na memória de trabalho emcrianças podem variar na severidade de acordo como nível de necessidades educativas.26 As criançascom problemas na memória de trabalho precisammaior esforço e foco em sala de aula, porque temdificuldades de manter a informação suficiente quelhes permita completar a tarefa. A perda de infor-mações cruciais a partir da memória de trabalhofará com que esqueçam de pontos importantes como

por exemplo, as instruções que estão tentando se-guir e os detalhes do trabalho que estão fazendo.30

Pesquisadores 30 reportam ainda que em estudo lon-gitudinal em um intervalo de 2 anos que as capaci-dades da memória de trabalho e de conhecimentode domínio específico na primeira avaliação forampreditores significativos de aprendizado na segun-da avaliação em crianças de 7 a 11 anos com difi-culdades de aprendizagem. Déficits específicos namemória de trabalho tem sido associado às dificul-dades de aprendizagem, independentemente donível de inteligência de crianças. 25

Outro fator interessante apontado na litera-tura compreende fatores psicológicos, os quais sãoassociados a memória de trabalho e dificuldadesescolares. Por exemplo, Aronen e colaboradores(2005) 58 constataram que sintomas de ansiedadee depressão podem afetar a memória de trabalho ea capacidade de concentração de crianças repercu-tindo em baixo desempenho escolar.

IIa– Crianças com DCD e as funções da memóriade trabalho

Dez estudos investigaram as funções da me-mória de trabalho em crianças identificadas comDCD.28,29,30,60,61,63,64,65 Destes, três estudos 60–62 com-pararam as funções da memória de trabalho em gru-pos de crianças com DCD e em risco de DCD, semcomparações com outros grupos. Três estudos 30,63,65

investigaram os desempenhos de crianças com DCDe grupos de crianças com outras desordens (ex.:TDA/H) ou deficiência (ex.: Síndrome de Asperger).Outros quatro estudos28,29,59,64 investigaram o de-sempenho da memória de trabalho em grupos decrianças com DCD e com dificuldades de linguageme aprendizagem.

A Desordem Coordenativa Desenvolvimental(DCD) é definida como “dificuldades significativasda coordenação motora que interferem diretamen-te na rotina da vida diária e no desempenho acadê-mico”.27 Crianças com DCD demonstram dificulda-des cognitivas de alfabetização,23 leitura26 ou lingua-gem59 e desempenhos de memória de trabalho as-sociados a dificuldades no planejamento ou com-preensão.34 Ainda mais as dificuldades de proces-samento visuoespacial61 e geral de informações,31

nos déficits cinestésicos,63 na automatização domovimento29 e nos déficits na velocidade de desem-penho63 podem ser decorrentes de menor capaci-

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dade de memória de trabalho. Devido à grandeheterogeneidade nos perfis cognitivos de criançascom DCD,64 a relação entre déficits motores e deaprendizagem ainda necessita de aprofundamentoinvestigativo.62,64

Uma das hipóteses investigadas diz respeitoao componente visuoespacial, necessário para re-solução de problemas e planejamento;29 problemasnesse componente podem ser uma possível causapara as dificuldades encontradas pelas crianças comDCD. Crianças com essa desordem apresentam tem-po de reação mais longo e menores índices de pre-cisão em tarefas visuoespaciais;61 déficits significa-tivos em memória de trabalho visuoespacial61 edéficits em todas as áreas da função de memóriade trabalho.38 Os déficits de memória de trabalhovisuoespacial são devido ao menor número de re-cursos atribuídos ao comparar as localizações es-paciais, menos esforço alocado para a seleção daresposta e menos processamento neural emprega-do durante a fase de processo de recuperação.61

Uma vez que a velocidade de processamentoneural e de seleção de resposta repercutem negati-vamente na aprendizagem escolar 28,29,62,63 as habi-lidades de leitura e matemática em crianças comDCD 62 serão afetadas pelos déficits de memória di-fundida e principalmente da visuoespacial. As crian-ças com DCD demonstram (1) déficit na memóriade trabalho, que afeta também a alfabetização e ashabilidades matemáticas;62 (2) níveis baixos emmedidas de memória verbal e visoespaciais de cur-to prazo e de trabalho;29 (3) escores mais baixosem medidas de organização perceptual, compreen-são verbal, linguagem receptiva, expressiva e tem-po de inspeção visual;64 (4) são significativamentemais lentas em tarefas escolares.65 Essas dificulda-des podem ser influenciados por diferentes meca-nismos cognitivos subjacentes e não necessariamen-te pelo atraso do desenvolvimento neurológico emgeral e/ou distúrbios clínicos relacionados.63

Portanto, crianças com DCD necessitam en-volver-se em ambientes adequados às suas neces-sidades, com estratégias eficazes que levam emconsideração essas dificuldades e problemas enfren-tados. Ao contar com estratégias específicas, ascrianças com DCD são estimuladas e incentivadasno processo de aprendizagem, que irá repercutirtambém na sua prática cotidiana e no envolvimen-to em atividades simples do dia-a-dia.

ConsiderConsiderConsiderConsiderConsiderações fações fações fações fações finaisinaisinaisinaisinais

Esta revisão sistemática de literatura apontaque dificuldades de aprendizagem em crianças po-dem ser observadas quando tarefas envolvem ha-bilidades de memória de trabalho. O bom funciona-mento da memória de trabalho torna-se essencialnos processos de aprendizagem de todas as crian-ças. Déficits específicos são observados em crian-ças com dificuldades de aprendizagem e em crian-ças com DCD. Dessa forma observamos que sãonecessárias pesquisas que incorporem a memóriade trabalho em diversas populações infantis, inclu-indo aquelas com DCD.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) peloapoio ao presente estudo.

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