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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO DE 2013 Caderno 2 C9

Cinema 37ª Mostra

● ‘Que Estranho Chamar-seFederico – Scola contaFellini’, de Ettore ScolaNão poderia haver melhor esco-lha para encerrar a Mostra 2013.Ettore Scola revive sua amizadecom Federico Fellini justamenteno dia em que se completam20 anos da morte do diretorde A Doce Vida e Amarcord.

● ‘Grigris’, deMahamat-Saleh HarounComovente, mas nunca piegas,a história de amor entre umrapaz e uma garota de programa,em meio à violência do Chade.Direção seca e segura.

● ‘Chaika’, de MiguelÁngel JimenezChaika era o apelido da primeiracosmonauta russa e também deuma cazaque que não se confor-ma com as limitações de sua al-deia e sai para tentar a vida. Tor-na-se prostituta, mas encontraum protetor inesperado. Dramavigoroso ambientado nas estepesda Geórgia, pois o diretor não pô-de filmar no Cazaquistão. / L. Z. O.

‘Centro Histórico’, a magia deGuimarães por quatro diretores

NA WEB

Um espaço para a tolerância de todosAmos Gitai comenta seu ‘Ana Arábia’, mistura arquitetura e cinema e define o que é, afinal, o ideal de arte e mundo

estadao.com.br/e/dicasdamostra

CENTROHISTÓRICOEspaço Itaúde CinemaFrei Caneca– 22h30

ANA ARABIACinusp. Hoje, 19h

O que ver. Osfilmes imperdíveis

da programação

Luiz Carlos Merten

Amos Gitai esteve no começoda semana na Mostra, apresen-tando seu filme Ana Arabia e de-batendo-o com o público. On-tem, foi a Porto Alegre, num ba-te e volta, a convite do governa-dor Tarso Genro, para discutirum projeto, sobre o qual des-conversa. Hoje, ele volta a SãoPaulo para o encerramento da37.ª Mostra – o júri internacio-nal outorga o Troféu BandeiraPaulista à noite, no Cinesesc – eamanhã retorna a Paris. Esse é oritmo de Gitai.

É um cidadão do mundo. Fi-lho de arquiteto, ele próprioPh.D. em Arquitetura pela Ber-keley, Gitai descobriu que suavocação é o cinema, mas é o pri-meiro a reconhecer que o usodo espaço lhe deu ferramentasmuito importantes. Em cercade 40 anos de carreira – fez 63anos em 11 de outubro –, já fezmais de 90 filmes e instalações.Não contabiliza sua obra, masvai ter de contar. Vivendo entreHaifa e Paris, Gitai ganha nestefinal de ano uma retrospectivacompleta no Museu Reina So-fia, em Madri. Depois, em feve-reiro – após o Festival de Berlime até Cannes, ele relaciona a du-ração do evento aos grandes fes-tivais de cinema –, haverá outraretrospectiva em Paris.

Ele se sente em casa, na Mos-tra. Fala com carinho de LeonCakoff, de Renata Almeida. Con-corda com o repórter, que consi-dera Ana Arabia seu melhor fil-me em anos, talvez desde Ked-ma, em 2002. Embora nunca te-nha parado com elas, Gitai reto-ma com força as pesquisas esté-ticas e faz o filme todo num úni-co plano-sequência de 81 minu-tos. Mas os personagens são tãofortes que o espectador nem sedá conta do virtuosismo do pro-cesso (e da câmera). “É o maiorelogio que me fazem. Fiz o filmedesse jeito, mas ficaria decep-cionado se as pessoas só me fa-lassem da estética de Ana Ara-bia. Fiz desse jeito porque era amelhor maneira de contar essahistória, não para chamar a aten-

ção para a técnica.”E o curioso é que Ana Arabia

nasceu meio a contragosto doautor. Sua roteirista, a francesaMarie-Jose Sanselme, falava-lhe dessa mulher extraordiná-ria, dizia que daria um belo fil-me e que Gitai deveria conhecê-la. Ele relutava – de novo as ten-sões entre israelenses e palesti-nos. “Nãããoooo.” Mas aí ouviuas histórias, conheceu o entor-no e se apaixonou. “Tenho tra-balhado com documentário eficção nos últimos 30 anos oumais, e são esses fragmentos dehistórias que me me interes-sam. Sou um colecionador dascontradições humanas e sociais

e, muitas vezes, tenho a impres-são de que a região (o OrienteMédio) mergulha numa selvage-ria tão forte que é preciso ques-tionar, indagar. Minha ferra-menta é o cinema e eu só possofazer isso por meio dos filmes.”

Convencido de que o cinematem de andar com os própriospés, Gitai preocupa-se com oconteúdo, mas também com aforma, que, para ele, tem de evi-tar o didatismo. O verdadeirocriador, e é o que aspira, tem dese ocupar da narrativa, propon-do um sentido para o que estáfazendo, mas só o sentido nãobasta. “O cinema tem uma lin-guagem que é preciso explorare desenvolver. Posso misturarlinguagens e gêneros, mas o de-safio é estar sempre à frente,harmonizando forma e conteú-do.” Essas lições de harmonia –

para pegar carona no título deum filme do Casaquistão pré-se-lecionado pelo público paraconcorrer ao Troféu BandeiraPaulista – não precisam ser ne-cessariamente palatáveis.

“Um filme é o que é”, Gitaigosta de dizer, e ele tem conse-guido financiamento para fazero que quer, como quer. JeanneMoreau, “a atriz mais inteligen-te que conheço”, e Juliette Bino-che, “a mais humana”, atendema seu chamado, e isso serve deatrativo para os produtores e opúblico. Da mesma forma, em-bora seja visceralmente críticocom as políticas de Israel em re-lação aos palestinos, o governoda vez não mexe com ele, quetem o respaldo da sua projeçãoartística em todo o mundo. E seo pai arquiteto foi uma referên-cia – e Gitai já fez um filme so-

bre ele, além de ter escrito umaelegia (Lullaby for My Father) –,a mãe não foi menos decisiva.

Aristocrata e progressista,aproximou o jovem Amos dostrabalhistas israelenses. De-pois, quando os pais foram parao exterior – a mãe ficou um tem-po em Londres –, Gitai foi paraum kibutz. A experiência foi de-cisiva em sua formação, essecontato com o outro que abriuseus olhos e o transformou nocidadão do mundo que é. FilmarAna Arabia num plano sequên-cia envolveu muita preparação

(e logística). “Tivemos de filmarmais de uma vez, mas não mui-tas. Já havia feito filmes com ce-nas em plano-sequência, mas,desta vez, é todo o conceito, to-do o processo. Dei-me conta deque ia precisar do ‘one shot’ paracriar o ritmo necessário a estahistória,masconsidero umcum-primento quando as pessoasnem percebem. É sinal de que atécnica não prevaleceu.” A loca-ção na região fronteiriça entreJaffa e Bat Yam foi decisiva. Éum raro enclave em que árabes ejudeus conseguem viver. Comoarquiteto, Gitai sabe que cons-truir um espaço não é só design.“É preciso criar um espaço agra-dável para o convívio social e noqual as pessoas possam viver.Meu ideal de mundo é meu idealde arquitetura e cinema – um es-paço de tolerância para todos.”

Comovente. Erice filma classe trabalhadora

OS MELHORES DO DIA

Luiz Zanin Oricchio

Esse filme de nome banal – Cen-tro Histórico – é uma pequenamaravilha composta de quatrojoias. Parte do evento que tor-nou a cidade portuguesa de Gui-marães a capital cultura da Eu-ropa em 2012, Centro Históricocompõe-se de episódios dirigi-dos por Aki Kaurismäki, PedroCosta, Victor Erice e Manoelde Oliveira.

Aki Kaurismäki é finlandês,mas mora há 20 anos em Portu-gal. Filma, com imenso sensode nostalgia (sentimento co-nhecido de perto pelos portu-gueses), uma velha tasca lusita-na, estabelecimento possivel-mente em via de desaparição. Odono, ou garçom do local, prepa-ra laboriosamente um caldo ver-de enquanto espera por clien-tes raros. O fado acompanha es-sa delicada peça de câmera.

Em seu episódio, o portuguêsPedro Costa convoca seu ator/personagem fetiche, Ventura, ocabo-verdiano sempre às voltascom suas lembranças. Ele “con-tracena”, em um elevador trans-formado em palco, com a sotur-na estátua de um soldado colo-nizador. São ecos da colônia etambém da pobreza do antigobairro das Fontainhas (demoli-do), onde moravam os imigran-tes africanos em Lisboa.

A preciosidade maior fica porconta do espanhol Victor Erice(de O Espírito da Colmeia), comseu estudo sobre a classe traba-lhadora portuguesa através dafoto de refeitório de uma fábri-ca de tecidos fundada no século19 e que fechou as portas em2002. Antigos operários são ou-

vidos e confronta-se a sua falaatual com o que dizem, de for-ma muda, porém muito expres-siva, aqueles rostos dos traba-lhadores do passado congela-dos na fotografia. Comovente.

A parte final leva a assinaturado mestre Manoel de Oliveira.Com sabedoria centenária, elecomenta o fato de as pessoas te-rem perdido a capacidade de en-xergar. Seu neto, Ricardo Trê-pa, interpreta o guia que con-duz um grupo de turistas pelasruas de Guimarães até a estátuade Affonso Henriques, funda-dor da nação lusitana. Todos sa-cam de suas câmeras, mas nãoconseguem enxergar o que têmdiante dos olhos. Vão ver de-pois, talvez, quando chegaremàs suas casas. É a cegueira con-temporânea, que o velho cineas-ta detecta. Cegueira causada pe-la banalização das imagens.

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Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Programa de Ação Cultural 2013

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Atividades gratuitas do PROJETO MOZARTEUM: Clube do Ouvinte 20h no próprio teatro . Masterclasses 05 de novembro das 10h às 13h

04 e 05 nov I 21h Sala São PauloBENOIT FROMANGER regenteERIK SCHUMANN violinoDvorák, Tchaikovsky

Pesquisaestética.‘Ana’ é plano-sequência de81 minutos

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