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    EXPANSO URBANA E ESTRUTURA SOCIOESPACIALEM PAULNIA, SO PAULO, BRASIL

    Cinthia de Almeida Galindo1

    Ederson Nascimento2

    Lindon Fonseca Matias3

    RESUMOO objetivo deste trabalho consistiu em investigar o processo de expanso horizontal urbanano municpio de Paulnia por intermdio de mapeamentos temticos e anlises a respeito dadistribuio espacial dos diversos segmentos populacionais, bem como salientar as principais implicaes sobre a atual configurao socioespacial da cidade. A metodologiautilizada fundamentou-se no emprego de tecnologias de geoprocessamento para elaboraode mapas e subsdio s anlises acerca da estruturao socioespacial. A distribuio dos

    segmentos populacionais foi realizada a partir do tratamento estatstico-espacial de dadossociodemogrficos. Ademais, trabalhos de campo e entrevistas foram realizados com ointento de conhecer e registrar informaes localizadas. Evidenciou-se nos mapas temticoso acelerado processo de expanso urbana. J o padro do espraiamento horizontal da reaurbanizada concatenado distribuio diferencial da populao revelam o modo como vemsendo produzido este espao urbano, o que corrobora na identificao de um cenrio decrescente segregao socioespacial.

    INTRODUO: INDUSTRIALIZAO E EXPANSO URBANA

    A anlise da expanso urbana por meio da incorporao de novas reas aoespao da cidade muito importante para a compreenso da configurao do espaourbano. Tal investigao fornece elementos que permitem caracterizar, entre outrosaspectos, a evoluo da diferenciao espacial interna, com a conformao dosdiferentes espaos de produo econmica e de acumulao do capital, assim comoavaliar a distribuio dos segmentos sociais e, por conseguinte, a prpria reproduo dasrelaes sociais na cidade (CORRA, 1995; LEFEBVRE, 2001).

    No espao urbano, a concentrao espacial de pessoas na forma de fora detrabalho e de mercado consumidor, aliada concentrao dos meios de produo, permite que as foras produtivas alcancem um elevado grau de desenvolvimento,

    1 Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Estadual de Campinas, SoPaulo/Brasil. E-mail: [email protected] Professor Assistente de Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul,Campus Chapec, SantaCatarina/Brasil. Doutorando no Programa de Ps-graduao em Geografia da Universidade Estadual deCampinas, So Paulo/Brasil. E-mail: [email protected] Professor Doutor no Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Campinas, SoPaulo/Brasil. E-mail: [email protected].

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    acelerando assim a realizao da mais-valia e a reproduo do capital e, ao mesmotempo, levando a uma concentrao populacional ainda maior. Portanto, a urbanizaoreflete a dinmica de acumulao e concentrao do capital na cidade e reproduz aaglomerao ao demandar cada vez mais espao. Mas a cidade, mais do que um local de

    produo e consumo de mercadorias e de habitao, tambm um importante lcus davivncia humana em sua dimenso plena, e seu espao reflete e condiciona as diversasestratgias engendradas pelos diferentes agentes sociais na criao e apropriao dariqueza (produo e comercializao de mercadorias), da reproduo da fora detrabalho e do desenrolar da vida cotidiana como um todo (educao, consumo,atividades culturais, lazer etc.) (SOUZA, 2003).

    As dinmicas de expanso horizontal e estruturao interna do espao dacidade esto vinculadas ao processo mais amplo de (re)produo do espao urbano,

    sendo concretizados a partir de conflitos e contradies no mbito da sociedade,representados, de um lado, pelos diferentes interesses do capital, que apropriam-se doespao da cidade e utilizam-no como fora social produtiva (RIBEIRO, 1997) e, deoutro, pelas necessidades da sociedade em geral, que concebem a cidadefundamentalmente como um [...] meio de consumo coletivo (bens e servios) para areproduo da vida dos homens (CARLOS, 2001, p. 46).

    Neste contexto, as reas urbanizadas, isto , a poro do territrio organizado eutilizado para a implantao de atividades eminentemente urbanas (desenvolvimento de

    atividades produtivas ou a implantao de reas habitacionais e de lazer) estendem-seem direo a terras at ento utilizadas para fins agropecurios, medida que aconverso de seu uso de rural para urbano atenda, de modo satisfatrio, a uma gama deinteresses diversos, muitas vezes conflituosos e contraditrios: a) do capital industrial ecomercial, interessados no uso produtivo que a terra, atravs de sua localizao, podefornecer; b) da populao em geral, na condio de fora de trabalho e de consumidores,interessados nos meios necessrios ao desenvolvimento da vida (oferta de infraestrutura,acessibilidade a bens e servios, conforto, segurana etc.) e; c) dos proprietriosfundirios e do capital imobilirio, os quais veem nesta converso de uso sua prpriafonte de riqueza, atravs do parcelamento e da venda da terra na forma de lotes ou deempreendimentos habitacionais (conjuntos residenciais, condomnios exclusivos etc.).

    As condies que impulsionam essa expanso urbana dependem, porm, do processo geral de urbanizao, resultante da configurao territorial da produoeconmica, promovida pelo capital e mediada pelo Estado. Sendo assim, destacam-se as

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    reas onde a dinmica de industrializao mais acentuada, j que a indstria acaba por acentuar a urbanizao nos pontos do territrio onde esta se desenvolve (SANTOS,1993), atravs da concentrao de infraestrutura (vias de transporte, sistema detelecomunicaes etc.), de atividades econmicas complementares (empresas

    fornecedoras de materiais, prestadoras de servios, parceiras comerciais, financeiras,entre outras) e de populao, na forma de fora de trabalho e de mercado consumidor (CARLOS, 1988).

    A cidade de Paulnia, objeto de estudo neste trabalho, tem se destacado nocenrio de industrializao e urbanizao no estado de So Paulo e no Brasil. Omunicpio, que possui uma populao de 82.150 habitantes e taxa de urbanizao de99,9%4, localiza-se em uma das regies urbano-industriais mais dinmicas do pas,sendo parte do espao metropolitano nucleado por Campinas (municpio vizinho ao

    sudeste) e situado a 115 km da Regio Metropolitana de So Paulo (Figura 1).Paulnia tem se notabilizado devido a um intenso processo de expanso urbana,

    desencadeado a partir da implantao, em seu territrio, da Refinaria de Paulnia(Replan) em 1972. A implantao desta refinaria atraiu a instalao de outras diversasempresas do setor de petrleo e derivados, configurando o que viria a se tornar um dosmais importantes polos petroqumicos da Amrica Latina. Com a prosperidadeeconmica gerada pela economia industrial, a rea urbanizada do municpio passou aser ampliada rpida e continuamente, atravs da interveno do poder pblico com

    ampliaes significativas do permetro urbano municipal, e concretizada principalmente por agentes privados (proprietrios de terras e incorporadoras), na forma de loteamentose reas condominiais voltadas aos segmentos de poder aquisitivo mais elevado.

    Neste trabalho, realiza-se o mapeamento e anlise da expanso urbana ocorridano municpio de Paulnia, abordando as principais condicionantes do processo, assimcomo suas principais implicaes sobre a configurao socioespacial atual da cidade.

    A EVOLUO URBANA DE PAULNIA: BASES HISTRICO-GEOGRFICAS

    Entender a cidade de hoje, apreender quais processos do conformao complexidade de sua organizao [...], exige uma volta s suas origens e a tentativa de

    4 Dados do Censo Demogrfico 2010, do IBGE.

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    recons tru ir, a inda que de forma s int tica, a sua tra jet r ia (SPOSITO, 2000, p. 11). Nocaso de Pau lnia, como j adian tamos, a conf i urao soc ioespac ial atua l da c idademan t m es treita re lao com a d inm ica de urban i ao impu lsionada sobre tudo por suaeconom ia indus tr ial.

    Fi ura 1 : Loca li ao do mun ic pio de Pau lnia.

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    At 1964, Paulnia se manteve parte do territrio do municpio de Campinas, primeiramente como bairro com o nome de So Bento e, a partir de 1944, como distritointitulado Jos Paulino. Apesar da centralidade econmica exercida por Campinas nocontexto regional, caracterstica que se mantm at os dias atuais, j no incio da dcada

    de 1940 a economia do ento bairro j comeara a se destacar, com a implantao, emseu territrio, da primeira grande unidade industrial, a Companhia Qumica RhodiaBrasileira, em 1942 (MLLER; MAZIERO, 2006). A instalao desta indstria elevouconsideravelmente a arrecadao fiscal originada no local, fato este que seria o principalelemento motivador para o crescimento de movimentos em prol da emancipao emrelao a Campinas, ainda mais aps a elevao do bairro categoria de distrito, umavez que este no recebia recursos do distrito-sede na mesma proporo em que propiciava arrecadao (BRITO, 1972).

    A emancipao do municpio viria a se concretizar em 28/02/1964. Porm, onovo municpio ainda tinha a atividade agrcola exercendo participao importante emsua base econmica. De acordo com Matias (2009), em 1964 cerca de um tero daextenso territorial de Paulnia era utilizado para o cultivo da cana-de-acar, sendogrande parte dessa produo processada pela indstria Rhodia para a produo de lcooletlico. Alm da cana de acar, outros 23% do territrio paulinense eram ocupados por culturas agrcolas, com destaque para o caf e o algodo. A populao rural ainda predominava no municpio, sendo em 1969 de aproximadamente 65,5% da populao

    total (SOARES, 2004). Na dcada de 1970, a partir da inaugurao da Replan, a configurao

    econmica e territorial do municpio passa a ser alterada rapidamente de rural-agrcola para urbano-industrial. A implantao da petroqumica foi promovida pelos governoslocal e federal, mediante alianas entre segmentos das elites locais e setores do capitalmultinacional, tendo um papel duplamente estratgico: do ponto de vista do GovernoFederal, minimizar a dependncia das importaes de petrleo, e na viso das elites e polticos locais, promover o crescimento e a modernizao da cidade (BARBOSA,1994; MLLER; MAZIERO, 2006). Esta modernizao do espao da cidade, atravsda dotao de infraestrutura, era em si mesma condio necessria para a instalao docomplexo petroqumico e consolidao de um parque industrial. Para isso, segundoMatias (2009, p. 27), [...] houve uma importante atuao do Estado que desempenhouo papel de efetivo agente produtor de acumulao, atravs da tributao direta e doendividamento externo.

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    Com a implantao da Replan, Paulnia passou a abrigar, ainda na dcada de1970 e na seguinte, outras unidades industriais, sobretudo do setor petroqumico, o queajudou a consolidar seu parque industrial, alm de causar efeitos multiplicadores sobre oseu setor tercirio, especialmente o comrcio. Para tanto, o municpio se beneficiou do

    processo de desconcentrao industrial a partir da Regio Metropolitana de So Pauloem direo ao interior paulista, o qual foi promovido atravs de incentivosgovernamentais (GONALVES; SEMEGHINI, 2002).

    O rpido processo de industrializao passou a acelerar tambm o crescimentoda cidade. A zona rural oficial foi em grande parte suprimida, principalmente a partir de1975, em decorrncia da aprovao de leis municipais que estenderam gradativamente o permetro urbano que atinge na atualidade mais de 90% da rea municipal (MATIAS,2009). Alm disso, a instalao do parque industrial contribuiu para tornar a

    configurao socioespacial da cidade mais heterognea. Conforme Barbosa (1994), ainstalao das indstrias deu origem a uma comunidade diretamente vinculada zonaindustrial, com a disponibilidade de tecnologias avanadas de instalao e construo,alm de um conjunto de servios urbanos (gua, luz, transportes), que no foramtotalmente disponibilizados para a comunidade local.

    A economia urbano-industrial aquecida tambm fez de Paulnia um importantecentro polarizador de populao. Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que astaxas de crescimento demogrfico do municpio se mantiveram sempre elevadas desde a

    dcada de 1970, sendo que o maior crescimento, em termos relativos, ocorreu no perodo 1970-1991, quando sua populao total mais do que triplicou, passando de 10,7mil para 36,7 mil habitantes.

    TABELA 1 POPULAO E TAXA DE CRESCIMENTO DEMOGRFICO EM PAULNIA

    Ano PopulaoTotalCrescimento Relativo no

    Perodo (%)1970 10.7081980 20.755 93,91991 36.706 76,92000 51.163 39,42010 82.150 60,6

    Fonte: IBGE (Censos Demogrficos 1970-2010).

    Os elevados nveis de crescimento demogrfico verificados no perodoanalisado foram sustentados por contnuos fluxos migratrios, em sua ampla maioriadirecionados para a rea urbana do municpio. De um modo geral, esta populao atuou

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    no suprimento de mo de obra, principalmente especializada para trabalho naconstruo civil e tambm de cargos nas prprias empresas do complexo petroqumico.Alm disso, outra parcela dos migrantes tambm foi atrada no contexto do altodesenvolvimento econmico do municpio e da elevada arrecadao de impostos, que

    conferia a possibilidade de bons empregos, salrios e assistncia pblica (educao,sade e transporte) (CUNHA; DUARTE, 2000). Assim, o contingente de migrantes quese instalou na cidade assume um perfil socioeconmico diversificado, sendo constitudotanto por segmentos com elevada escolaridade e nvel de renda, como por pessoasempobrecidas e com baixa qualificao profissional.

    Em funo desses elementos apresentados, Paulnia figura como uma cidadeque apresenta uma dinmica socioeconmica e espacial bastante intensa, sendo um deseus principais desdobramentos o rpido processo de expanso urbana, bem como as

    diversas alteraes vivenciadas em sua configurao espacial e em seu contedo social.

    METODOLOGIA DA PESQUISA

    A metodologia adotada na pesquisa consistiu no estudo e reviso de bibliografia especfica e no emprego de tecnologias de geoprocessamento com vistas realizao do mapeamento da expanso horizontal da rea urbanizada de Paulnia, bemcomo para subsidiar a anlise da estrutura socioespacial atual da cidade. Foram

    compilados diversos dados estatsticos e cartogrficos e produtos de sensoriamentoremoto, os quais foram estruturados na forma de uma base de dados georreferenciados,construda a partir do encaminhamento metodolgico apresentado por Zeiler (1999), e processados com o programa de geoprocessamento ArcGis10 (ESRI, 2006).

    Foram mapeadas as reas urbanizadas referentes a trs momentos histricos:1965 , logo aps a emancipao do municpio em relao a Campinas;1986 , momentointermedirio do intervalo pesquisado, cujo mapeamento visou registrar a expansourbana verificada na dcada de 1970 e princpio da de 1980, diretamente relacionada implantao da Replan e consolidao do polo petroqumico, e;2009 , visando captar adinmica mais recente do processo de expanso urbana. Foram consideradas comourbanizadas as terras nas quais foram identificadas formas espaciais tipicamenteurbanas, tais como arruamentos, edificaes ou outras construes, ou onde soidentificados usos tipicamente urbanos, como parques e chcaras de lazer e glebas parceladas/loteadas. As reas foram registradas atravs da interpretao de produtos de

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    sensoriamento remoto diretamente sobre a tela do computador, utilizando a tcnica devetorizao manual (SHANER; WRIGHTSELL, 2000), isto devido s especificidadesconstatadas na configurao das reas urbanizadas, o que inviabilizou o uso de tcnicasde classificao automatizada de alvos.

    Para o mapeamento referente ao ano de 1965, foram utilizadas 22 fotografiasareas, com escala aproximada de 1:30.000, obtidas junto ao Instituto Agronmico deCampinas (IAC), alm de cartas topogrficas da rea mapeada, em escala 1:50.000. J para 1986, utilizou-se uma imagem multiespectral do satlite Landsat 5, sensor TM,resoluo espacial de 30 metros, passagem em 19/06/1986, disponibilizada peloInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Por sua vez, o mapeamento referentea 2009 foi realizado com base em duas imagens do satlite ALOS, uma cenamultiespectral AVNIR, passagem em 23/09/2008, e outra pancromtica PRISM,

    passagem de 08/08/2009, com resolues espaciais de 10 e 2,5 metros respectivamente,ambas adquiridas junto ao IBGE.

    Para a anlise da distribuio espacial dos segmentos populacionais, efetuou-seo tratamento estatstico-espacial de dados sociodemogrficos em ambiente SIG, a partir de variveis do censo demogrfico de 2000, agregadas por setores censitrios urbanos.

    A metodologia da pesquisa contou ainda com a realizao de trabalhos decampo (efetuados entre 2009 e 2010) para observaes e registro fotogrfico-documental da configurao socioespacial da cidade, alm de entrevistas com agentes

    chaves, visando conhecer melhor a dinmica de expanso horizontal e de estruturaosocial do espao urbano em Paulnia.

    EXPANSO HORIZONTAL E ESTRUTURA SOCIOESPACIAL URBANA EMPAULNIA: PRINCIPAIS CARACTERSTICAS

    Os mapas temticos elaborados evidenciam a rapidez da expanso territorial darea urbanizada ocorrido nas ltimas quatro dcadas. Em 1964, com a emancipao domunicpio de Paulnia, constatou-se uma mancha urbana pouco expressiva, atingindoaproximadamente 6 km, ocupando cerca 4% da rea municipal. Neste momento, amancha urbana corresponde principalmente ao ncleo urbano original, localizado nas proximidades da Avenida Jos Paulino, onde atualmente se encontra o centro da cidade.A essas se somam duas reas residenciais situadas na poro oeste da poro central, e

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    outra a leste, s margens do rio Atibaia, que corresponde s instalaes da indstriaRhodia (Figura 2).

    Figura 2: Evoluo da rea urbanizada no municpio de Paulnia (1965, 1986 e 2009).

    No ano de 1986, observou-se que a cidade se expandiu rapidamente, ocupandouma rea de 23 km (15% do territrio municipal). A ampliao da rea urbanizadaconstatada no perodo se deve principalmente implantao da Replan e demaisunidades industriais, somadas ainda criao de alguns loteamentos. A rea urbanizadaneste momento compreende principalmente a rea central do municpio, numa expanso

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    no sentido sudeste-noroeste, e a presena do complexo industrial da Replan, maisdistante, separado da mancha principal na poro nordeste, ao norte do rio Atibaia.

    Chama a ateno o padro espraiado da mancha urbana assumido no perodo1965-1986, configurado pela expanso descontnua da rea urbanizada para as direes

    sul e noroeste, acompanhando a rodovia SP-332 e outras estradas. Este espraiamentourbano contribuiu para um aumento da especulao fundiria da cidade, uma vez que permitiu a valorizao de amplas glebas mantidas desocupadas nos espaosintermedirios entre a rea central e as novas reas urbanizadas.

    Depois de 1986 prosseguiu a rpida incorporao de terras cidade, de modoque em 2009 a rea urbanizada representa cerca de 34% de toda extenso territorial,totalizando 47,4 km. Observa-se que a rea urbanizada se expandiu para praticamentetodas as direes, com maior intensidade para sudeste em direo a Campinas, e para

    norte, ocupando vrias das glebas que apareciam como ociosas no perodo anterior.Em termos espaciais, a expanso ps-1986 deu-se principalmente na forma de

    novas reas habitacionais. Surgem no perodo vrios bairros com caractersticas ditaspopulares, voltados s camadas de menor poder aquisitivo e situados em sua maioriaem reas perifricas da cidade. Tais bairros predominam nas pores norte-nordeste dacidade, em direo ao municpio de Cosmpolis, e principalmente na poro oeste emdireo a Sumar, local onde se verifica inclusive uma avanada conurbao com bairros do municpio vizinho, com reas residenciais de padro espacial e

    socioeconmico semelhante aos encontrados do lado paulinense.Paralelamente, destaca-se no perodo o crescimento expressivo de outra

    modalidade de uso habitacional do espao: os condomnios exclusivos. Estes semultiplicaram pela rea urbanizada de Paulnia, atendendo a uma demanda formada por segmentos da elite regional. Essas reas enobrecidas concentram-se principalmente na poro meridional, nas proximidades das vias de acesso metrpole de Campinas(FARIAS, 2010).

    neste contexto que a segregao socioespacial parece se aentuar no mbito da produo do espao urbano em Paulnia. Ao mesmo tempo em que as reascondominiais exclusivas se tornam numerosas, constituindo, no dizer de Caldeira(1997), verdadeiros enclaves fortificados que projetam a cidade cada vez mais paradentro, interiorizando as relaes e restringindo o uso coletivo do espao, multiplicam-se tambm as reas habitacionais de concentrao de populao pobre, algumas delas

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    deficientes em infraestrutura bsica e servios, no obstante a elevada arrecadao deimpostos fornecida pelo polo petroqumico de que dispe o municpio.

    Uma amostra da diviso social do espao em Paulnia pode ser obtida a partir da anlise da distribuio diferencial da populao na cidade conforme o nvel de renda

    dos chefes de famlia, retratada nos mapas adiante5. No que se refere distribuio dos

    chefes com renda mais elevada, que no exemplo aqui descrito correspondem quelescom rendimento igual ou superior a dez salrios mnimos (Figura 3), observa-se queestas camadas da populao se concentram em praticamente um nico grande setor dacidade, partindo do centro em direo s pores sul e sudeste, justamente as reasonde, nos ltimos anos, se desenvolve rapidamente a implantao de reascondominiais.

    Figura 3: Percentual de chefes de famlia com rendimento mensal de dez ou mais salrios mnimos setores censitrios urbanos de Paulnia (2000).

    5 Os indicadores de renda ora carfografados so provenientes do censo demogrfico de 2000, devido indisponibilidade dos dados do censo 2010 quando da concluso deste artigo. Apesar da defasagemtemporal, a realidade observadain loco em Paulnia nos faz acreditar que, de um modo geral, aespacializao dos grupos de renda indicada pelos dados no sofreu grandes alteraes.

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    Por sua vez, as famlias mais empobrecidas, com rendimento do chefe nosuperior a dois salrios mnimos, aparecem concentradas, em sua maioria, nas periferiasmais afastadas da zona central, nas pores nordeste, norte, noroeste e oeste (Figura 4).Parte dessas famlias mais empobrecidas aparece tambm na poro sudeste, nas

    proximidades das reas residenciais nobres, entretanto, a proximidade fsica entre asdiferentes classes sociais tolhida pelos muros dos condomnios horizontais eloteamentos fechados.

    Figura 4: Percentual de chefes de famlia com rendimento mensal de at dois salrios mnimos setores censitrios urbanos de Paulnia (2000).

    A diviso social observada, assim como o padro da expanso urbanadesenvolvida em Paulnia nas ltimas quatro dcadas evidenciam um espao urbano produzido razo de um componente segregativo, em termos espacial e social.

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    CONSIDERAES FINAIS

    O processo de urbanizao de Paulnia, especialmente associado industrializao, ocorreu de forma bastante intensa nas ltimas quatro dcadas, fato que

    pode ser comprovado mediante a expanso categrica da rea urbanizada. Alm disso,ao investigar mais a fundo o modo como este processo se delineou na realidade paulinense avista-se que houve uma primeira expanso urbana significativa, sendo estaassociada instalao do complexo petroqumico e demais loteamentos residenciais,que findou por decorrer de forma descontnua da at ento rea urbana consolidada.Mais recentemente observou-se um espraiamento urbano ainda mais expressivo,consolidado principalmente por novas glebas residenciais, notavelmente segregadasenquanto bairros populares e elitizados, sendo uma parcela deste ltimo, constituda

    pela modalidade de condomnios exclusivos.Fatos por ora apresentados contribuem para a compreenso do processo de

    produo deste espao urbano, no qual a especulao fundiria se acentua mediante umespraiamento urbano descontnuo promotor de reas de valorizao, e ainda mostra-seenquanto espao onde a segregao socioespacial vigorante e expresso de uma cidadeheterognea de espaos especialmente privilegiados em contraposio a espaoscarentes de estrutura bsica.

    A expanso urbana e a estruturao socioespacial hodierna se reportam s

    origens do processo de urbanizao da cidade que experimentou um crescimento populacional dentro de um contexto de atrao socioeconmica, e um crescimentoeconmico devido principalmente a implantao do complexo petroqumico. Estecrescimento populacional, industrial e urbano so componentes preponderantes no processo de transformao da organizao territorial, e juntos se expressam no uso quese faz do territrio enquanto forma de apropriao do espao segundo o processo deurbanizao capitalista, marcado pelas desigualdades e combinaes em nvel local eregional.

    Acredita-se que estas e outras anlises venham contribuir no entendimento daconformao da estrutura socioespacial de Paulnia, ampliando para outros perodos,indicadores e dados mais atualizados. Ainda assim, reitera-se a relevncia destainvestigao como suporte ao conhecimento das especificidades da cidade de Paulnia,sem deixar de ressaltar os processos pelos quais se produz este espao urbano,notavelmente desigual.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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