Download - Cenários, tendências e o mundo do trabalho
-
Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Janana Carla Rodrigues Borsagli
-
1 Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
SumrioUNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO 2
1.1 Os Cenrios Atuais 21.2 A era da informao 21.3 A sociedade da informao 51.4 Importncia da Tecnologia da Informao para as organizaes 7REFERNCIAS 13
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO 14
2.1 A inteligncia empresarial como vantagem competitiva 142.2 A criao do conhecimento organizacional 172.3. Aprendizagem Organizacional e Gesto do Conhecimento 18REFERNCIAS 25
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS 27
3.1 Panorama geral 273.2 Aprendizado, conhecimento, inovao e criatividade 303.3 O processo criativo individual e organizacional 313.4 Conhecimento tcito e intuio 35REFERNCIAS 41
UNIDADE 4: A REESTRUTURAO DO MUNDO DO TRABALHO: APRENDIZAGEM E GESTO DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAES QUE APRENDEM 43
4.1 Organizaes que aprendem 434.2 Capital intelectual 52REFERNCIAS 55
UNIDADE 5: GESTO DO CONHECIMENTO: UM NOVO CENRIO DE REDES DE COOPERAO E INOVAO ORGANIZACIONAL 57
5.1 Um novo cenrio 575.2 A transferncia do conhecimento inserida no contexto da gesto contempornea 63REFERNCIAS 67
-
2 Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
1.1 Os Cenrios AtuaisAtualmente o cenrio mundial demonstra significativas transformaes tecnolgicas,
organizacionais, informacionais, culturais e sociais. Com o objetivo de entender as particularidades
da nova ordem mundial, autores de diferentes reas vm desenvolvendo formas de categoriz-
la. Tais esforos tendem sempre a refletir as prprias preocupaes e enfoques particulares das
reas a que tais autores pertencem.
A diversidade da caracterizao e interpretao dessa nova ordem proporcional variedade
de abordagens de autores de diferentes reas. Assim, economistas vm dando maior
destaque dimenso econmica, socilogos, social, administradores, administrao
moderna e assim por diante. Como decorrncia, tambm diversas designaes e descries
tm sido utilizadas para caracterizar a atual nova ordem mundial, as quais tm sido
impregnadas por tais influncias. Dentre outras, destacam-se as seguintes: Era, Economia ou
Sociedade da Informao ou do Conhecimento.
Para melhor apreender a essncia e alcance das atuais transformaes, mostra-se oportuno
conhecer a importncia da informao, do conhecimento e da tecnologia da informao na
nova ordem em conformao.
1.2 A era da informaoAs empresas esto a meio caminho de uma transformao revolucionria. A competio da era
industrial est transformando-se na competio da era da informao.
Durante a era industrial, de 1850 at cerca de 1975, o sucesso das empresas era determinado
pela maneira como se aproveitavam dos benefcios das economias de escala e do escopo.
A tecnologia era importante, porm as empresas bem-sucedidas eram sempre aquelas que
incorporavam as novas tecnologias aos ativos fsicos que permitem a produo em massa
eficiente de produtos padronizados. (KAPLAN, 1997).
-
3UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
Entretanto, o advento da era da informao nas ltimas dcadas do sculo XX tornou obsoletas
muitas das premissas fundamentais da concorrncia industrial. As empresas no conseguem
mais obter vantagens competitivas sustentveis apenas com a rpida alocao de novas
tecnologias a ativos fsicos. O impacto da era da informao ainda mais revolucionrio para
as empresas de servios do que para as indstrias. O ambiente da era da informao, tanto
para as organizaes do setor de produo quanto para as do setor de servios, exige novas
capacidades para assegurar o sucesso competitivo. A capacidade de mobilizao e explorao
dos ativos tangveis ou invisveis tornou-se muito mais decisiva do que investir e gerenciar ativos
fsicos tangveis. Segundo Kaplan (1997), os ativos intangveis permitem que uma empresa:
desenvolva relacionamentos que conservem a fidelidade dos clientes existentes e permitam que novos segmentos de clientes e reas de mercado sejam atendidos com
eficcia e eficincia;
lance produtos e servios inovadores desejados por seus clientes alvo;
produza bens e servios customizados de alta qualidade a preos baixos e com ciclos de produo mais curtos;
mobilize as habilidades e a motivao dos funcionrios para a melhoria contnua de processos, qualidade e tempos de resposta;
utilize tecnologia da informao, bancos de dados e sistemas.
O autor ressalta que as empresas da era da informao esto baseadas em um novo conjunto
de premissas operacionais.
Processos interfuncionais - as empresas buscam vantagens competitivas atravs da especializao de habilidades funcionais nas reas do conhecimento, administrao,
marketing e tecnologia. Essa especializao gera benefcios substanciais, mas, com
o passar do tempo, a maximizao da especializao funcional provocou enormes
ineficincias, troca de documentos internos entre departamentos e lentido nos processos.
A empresa da era da informao opera com processos de negcios integrados que
abrangem todas as funes tradicionais, combinando os benefcios da especializao
funcional com a agilidade, a eficincia e a qualidade da integrao dos processos.
Ligao com clientes e fornecedores - manter clientes e fornecedores a uma distncia segura. A tecnologia da informao permite que as empresas de hoje integrem os
processos de suprimentos, produo e entrega, de modo que as operaes sejam
puxadas pelos pedidos dos clientes, e no por planos de produo que empurrem bens
-
4 Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
e servios pela cadeia de valores abaixo. Um sistema integrado permite que todas as
unidades organizacionais formadoras da cadeia de valores obtenham grandes melhorias
no que diz respeito a custo, qualidade e tempos de respostas.
Segmentao de clientes - as empresas prosperavam oferecendo produtos e servios a preos baixos, porm padronizados. As empresas da era da informao devem aprender
a oferecer produtos e servios customizados aos seus diversos segmentos de clientes,
sem serem penalizadas nos custos por operaes de alta variedade e baixo volume.
Escalas globais s fronteiras nacionais - a concorrncia de empresas estrangeiras mais eficientes e geis deixa de ser um obstculo. As empresas da era da informao concorrem
com as melhores empresas do mundo e os grandes investimentos necessrios para o
lanamento de novos produtos e servios podem exigir a busca de clientes no mundo
inteiro para gerar o retorno adequado. Essas empresas devem combinar as eficincias
e a agressividade competitiva do mercado global com a sensibilidade s expectativas
dos clientes locais.
Inovao - os ciclos de vida dos produtos continuam diminuindo. A vantagem competitiva numa gerao da vida de um produto no garante a liderana na prxima plataforma
tecnolgica. As empresas que competem em setores de rpida inovao tecnolgica
devem dominar a arte de prever as necessidades futuras dos clientes, idealizando
produtos e servios radicalmente inovadores, e incorporando rapidamente novas
tecnologias de produto para dar eficincia aos processos operacionais e de prestao
de servios (KAPLAN, 1997).
Trabalhadores de conhecimento (Knowledge Workers) - as empresas criam fortes distines entre dois grupos de funcionrios. A elite intelectual gerentes e engenheiros
utilizava suas habilidades analticas para projetar produtos e processos, selecionar e
gerenciar clientes e supervisionar operaes do dia a dia. A fora do trabalho direto
era o principal fator de produo nas empresas da era industrial, porm s utilizava a
capacidade fsica, no o intelecto, desempenhando tarefas e processos sob a superviso
de engenheiros e gerentes.
Segundo Kaplan (1997), no final do sculo XX, a automao e a produtividade reduziram o
percentual de funcionrios que desempenham funes tradicionais, enquanto a demanda
competitiva aumentou o nmero dos que desempenham funes analticas: engenharia,
marketing, gerenciamento e administrao. A funo das pessoas pensar, solucionar
problemas, garantir a qualidade.
-
5UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
As pessoas so vistas como solucionadoras de problemas, no como custos variveis.
Devem agregar valor pelo que sabem e pelas informaes que podem fornecer.
Investir, gerenciar e explorar o conhecimento passou a ser fator crtico de sucesso para as
empresas da era da informao.
1.3 A sociedade da informao A expresso sociedade da informao passou a ser utilizada, nos ltimos anos do sculo
XX, como substituta para o conceito complexo de sociedade ps-industrial e como forma de
transmitir o contedo especfico do novo paradigma tcnico-econmico.
A realidade que os conceitos das cincias sociais procuram expressar refere-se s
transformaes tcnicas, organizacionais e administrativas que tm como fator-chave no
mais os insumos baratos de energia como na sociedade industrial mas os insumos
baratos de informao propiciados pelos avanos tecnolgicos na microeletrnica e
telecomunicaes. Essa sociedade ps-industrial ou informacional, como prefere Castells
(2000), est ligada expanso e reestruturao do capitalismo desde a dcada de 1980
do sculo passado. As novas tecnologias e a nfase na flexibilidade ideia central das
transformaes organizacionais tm permitido realizar com rapidez e eficincia os processos de
desregulamentao, privatizao e ruptura do modelo de contrato social entre capital e trabalho
caractersticos do capitalismo industrial.
As transformaes em direo sociedade da informao, em estgio avanado nos
pases industrializados, constituem uma tendncia dominante mesmo para economias
menos industrializadas e definem um novo paradigma, o da Tecnologia da Informao,
que expressa a essncia da presente transformao tecnolgica em suas relaes
com a economia e a sociedade. Esse novo paradigma tem, segundo Castells (2000),
as seguintes caractersticas fundamentais:
A informao sua matria-prima - as tecnologias se desenvolvem para permitir ao homem atuar sobre a informao propriamente dita, ao contrrio do passado, quando
o objetivo dominante era utilizar informao para agir sobre as tecnologias, criando
implementos novos ou adaptando-os a novos usos.
Os efeitos das novas tecnologias tm alta penetrabilidade porque a informao parte integrante de toda atividade humana, individual ou coletiva e, portanto, todas essas
atividades tendem a ser afetadas diretamente pela nova tecnologia.
-
6 Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Predomnio da lgica de redes - essa lgica, caracterstica de todo tipo de relao complexa, pode ser, graas s novas tecnologias, materialmente implementada em
qualquer tipo de processo.
Flexibilidade - a tecnologia favorece processos reversveis; permite modificao por reorganizao de componentes e tem alta capacidade de reconfigurao.
Crescente convergncia de tecnologias - principalmente a microeletrnica, telecomunicaes, optoeletrnica, computadores, mas tambm e, crescentemente, a
biologia. O ponto central que trajetrias de desenvolvimento tecnolgico em diversas
reas do saber tornam-se interligadas e transformam-se as categorias segundo as quais
so pensados todos os processos.
O foco sobre a tecnologia pode alimentar a viso ingnua de determinismo tecnolgico, segundo
a qual as transformaes em direo sociedade da informao resultam da tecnologia, seguem
uma lgica tcnica e, portanto, neutra e esto fora da interferncia de fatores sociais e polticos.
Nada mais equivocado: processos sociais e transformao tecnolgica resultam de uma
interao complexa em que fatores sociais preexistentes, a criatividade, o esprito empreendedor,
as condies da pesquisa cientfica afetam o avano tecnolgico e suas aplicaes sociais.
Assim, importante reproduzir um comentrio de Castells:
provvel que o fato da constituio desse paradigma tenha ocorrido nos EUA e, em
certa medida, na Califrnia e nos anos 70, tenha tido grandes conseqncias para
as formas e a evoluo das novas tecnologias da informao. Por exemplo, apesar
do papel decisivo do financiamento militar e dos mercados nos primeiros estgios da
indstria eletrnica, da dcada de 40 de 60, o grande progresso tecnolgico que se
deu no incio dos anos 70 pode, de certa forma, ser relacionado cultura da liberdade,
inovao individual e iniciativa empreendedora oriunda da cultura dos campi norte-
americanos da dcada de 60 [...] meio inconscientemente, a revoluo da tecnologia
da informao difundiu pela cultura mais significativa de nossas sociedades o esprito
libertrio dos movimentos dos anos 60 (CASTELLS, 2000, p. 25).
Alm do indevido determinismo, incorre-se muitas vezes tambm em despropositado
evolucionismo na discusso do novo paradigma tecnolgico, quando a sociedade
da informao vista como etapa de desenvolvimento. Como muito bem alerta
Guevara (2000), melhor seria referir-se a sociedades da informao, no plural, para identificar,
numa dimenso local, aquelas nas quais as novas tecnologias e outros processos sociais
provocaram mudanas paradigmticas.
-
7UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
A expresso sociedade da informao, no singular, seria mais bem utilizada, numa dimenso
global (ou mundial), para identificar os setores sociais que participam como atores de processos
produtivos, de comunicao, polticos e culturais que tm como instrumento fundamental as
Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) e se produzem ou tendem a produzir-se
em mbito mundial (GUEVARA, 2000, p. 4).
O determinismo e o evolucionismo distorcem a anlise do complexo processo de mudana
social e alimentam uma atitude passiva, contemplativa, em relao a esse processo. Tais
posturas impedem ou ignoram que a sociedade, especialmente por intermdio do Estado, tem
desempenhado, no decorrer da histria, um papel muito ativo tanto para promover quanto para
sufocar o desenvolvimento tecnolgico e suas aplicaes sociais. Isso particularmente claro
no que se refere s novas tecnologias. O avano tecnolgico no novo paradigma foi em grande
parte o resultado da ao do Estado, e o Estado que est frente de iniciativas que visam ao
desenvolvimento da sociedade da informao nas naes industrializadas e em muitas daquelas
que ainda esto longe de ter esgotado as potencialidades do paradigma industrial.
Adotando a sugesto de Guevara (2000), um olhar sobre a experincia concreta das sociedades
de informao permite revelar como a reestruturao do capitalismo e a difuso das novas
tecnologias da informao lideradas e/ou mediatizadas pelo Estado esto interagindo com as
foras sociais locais e gerando um processo de transformao social. Em termos gerais,
consenso entre analistas que a realizao do novo paradigma se d em ritmo e atinge nveis
dspares nas vrias sociedades. Junto com o jargo da sociedade da informao j lugar
comum a distino entre pases e grupos sociais ricos e pobres em informao.
1.4 Importncia da Tecnologia da Informao para as organizaesA invaso das mquinas na era industrial pode ser comparada invaso da tecnologia na
atualidade. O cotidiano atual demanda uma grande necessidade de interao dos homens em
relao s mquinas, como na era industrial, no entanto a tecnologia de interao de outra
ordem. No preciso deslocar-se a uma unidade fabril para acess-la ou para interagir com ela,
isso pode ser feito de qualquer lugar e com resultados, em termos de produtividade, de alto nvel.
Essa adaptao utilizao da tecnologia s necessidades do mundo moderno no aconteceu
repentinamente e talvez nunca seja concluda, at mesmo pela atualizao constante da prpria
tecnologia nos dias atuais. Ainda existe muito presente a questo da excluso digital, o que
interfere no s no acesso da tecnologia, mas tambm no entendimento da sua utilizao.
-
8 Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Em um mundo competitivo, a utilizao da tecnologia torna-se cada vez mais ativa e decisiva
para o desenvolvimento de processos operacionais e gerenciais. As pessoas tiveram que
aprender a conviver em um mundo tecnolgico, de acesso imediato informao, porm, sem
saber lidar diretamente com essa tecnologia e nem transformar informaes em conhecimentos.
Esse movimento de transformao da informao em conhecimento revela a mudana dos
conceitos atuais em termos do favorecimento da autonomia do pensar do homem moderno. As
ferramentas disponveis no mundo social, no cenrio atual, demonstram a necessidade de uma
atualizao constante e que denote um envolvimento desse sujeito, no somente com as novas
tecnologias, mas tambm com a necessidade de conhecer e de envolver-se com as mudanas
sociais, ambientais e at mesmo organizacionais.
Hoje, de forma mais ampla e profunda, a informtica desempenha papel principal no
desenvolvimento de novos produtos, na sustentao das vendas e servios, na construo
de uma inteligncia de mercado (SIQUEIRA, 1996). As tecnologias de informao disponveis
podem produzir altos ganhos produtivos se comparadas aos padres de desempenho das
geraes anteriores. No entanto, esse ganho s ser possvel quando a dimenso da interao
entre homem e tecnologia acontecer de maneira suficientemente interessante para os envolvidos
nesse processo.
As geraes anteriores no necessariamente vivenciaram um processo de adaptao s novas
tecnologias. A tecnologia disponvel era o maquinrio industrial do cotidiano, em contexto de escala
de produo. A adaptao comea a surgir quando os microcomputadores, e posteriormente
os notebooks, comeam a fazer parte do cenrio organizacional, inclusive dando foco ao poder
de possuir esse equipamento como ferramenta de trabalho.
Inovaes no uso de computadores, da comunicao em rede e das redes sociais devem
ser combinadas com inovaes em como a informao estruturada e utilizada. A grande
questo da utilizao da tecnologia da informao nos ambientes atuais a possibilidade de
disponibilizar a informao e favorecer sua transformao em conhecimento.
Por muito tempo, a tecnologia da informao foi considerada um mero item de suporte
organizao, um centro de custo que, a princpio, no gerava qualquer retorno para o negcio.
Mas as aplicaes da tecnologia da informao foram crescendo e se ampliando nos meios
sociais. Se antes a tecnologia era usada apenas para automatizar tarefas e eliminar o trabalho
humano, aos poucos ela comeou a enriquecer todo o processo organizacional, auxiliando na
otimizao e administrao da empresa, eliminando barreiras de comunicao, favorecendo as
aes de capacitao e de treinamento, e assim por diante.
-
9UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
E, nesse novo cenrio, a tecnologia comeou a assumir um papel muito mais importante nas
organizaes: o de fator de crescimento de lucros, de reduo de custos operacionais e de
aprendizagem (STONER, 1999). Segundo esse autor, a TI pode ser decisiva para o sucesso de
uma organizao, contribuindo para que ela seja gil, flexvel e robusta. A fim de garantir esse
resultado, necessrio traduzir a viso da empresa e sua estratgia em objetivos menores, para,
ento, identificar as iniciativas de TI que melhor podem contribuir para alcan-los.
Davenport e Prusak (2000) ressaltam que o modo como os aspectos especficos da situao
dos negcios afetam as iniciativas informacionais varia para cada empresa ou setor. Mas,
sejam quais forem essas especialidades, os gerentes precisam prestar ateno estratgia
de negcios, aos processos de negcios, estrutura/cultura organizacional e orientao
dos recursos humanos. Um investimento global em tecnologia afetar tambm o ambiente
organizacional, mas o fator crtico o simples acesso informao.
No contexto do ambiente externo, as empresas precisam de informaes sobre o mundo exterior.
Segundo Davenport (2000), o ambiente exterior consiste em informaes sobre trs tpicos:
Mercados de negcios: criam condies gerais de negcios, o que afeta a capacidade de as empresas adquirirem e gerenciarem informao, bem como optar pelo tipo de
informao de que precisam.
Mercados tecnolgicos: onde so compradas e vendidas as tecnologias disponveis que podem afetar o mundo informacional.
Mercados da informao: todas as coisas, de tendncias industriais a malas-diretas, so negociadas. As empresas enfocam o tipo de informao que deve ser comprada desse
mercado e avalia as maneiras de vender as informaes.
No mbito das funes dos executivos, Stoner (1999) destaca que no existe no mundo dos
negcios um consenso sobre as funes a serem exercidas pelo executivo de TI, no havendo
dvida de que essas funes esto evoluindo para um novo modelo, em consequncia das
mudanas ocorridas no ambiente corporativo nos ltimos anos.
Para Stoner, a informao, para a maioria das empresas, o principal ativo e um elemento
fundamental para a tomada de deciso rpida e eficaz. Por isso, as decises de TI, que antes
podiam ser tomadas isoladamente no mbito da unidade de tecnologia da informao, precisam
agora ser consideradas no contexto do negcio da empresa, suas peculiaridades e prioridades,
visando sobrevivncia num mercado cada vez mais exigente e competitivo.
-
10
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Se, em dcadas passadas, o gerente de TI podia concentrar-se apenas nas necessidades
internas do seu departamento, o foco agora na transformao de aplicaes tecnolgicas em
fonte de renda para a organizao, o que exige um conjunto de habilidades e competncias
que vai alm do conhecimento puramente tecnolgico. Independentemente da rea de atuao
da empresa, entretanto, o aumento da complexidade do ambiente de TI tem influenciado
significativamente o perfil esperado do gerente de TI.
A necessidade de incorporar rapidamente novas tecnologias e os altos custos de se manter
internamente pessoal qualificado, entre outros obstculos, tm levado a maioria das empresas
a procurar parcerias e a terceirizar servios considerados no-essenciais para o negcio. Nesse
contexto, o gerente de TI passa a atuar menos como um especialista em tecnologias e mais
como um gestor dos projetos e contratos que devero proporcionar os recursos e servios de
TI necessrios para a realizao de objetivos de negcio.
Segundo Siqueira (1996), os profissionais precisam desenvolver uma competncia de interseco
com as diversas funes organizacionais. No podem continuar a ser o especialista restrito aos
limites de sua especializao, mas o generalista capaz de integrar a sua rea ao universo da
organizao, indo muito alm dos espaos estreitos de sua formao tcnica especfica.
Precisam compreender, para antecipar ou contorn-las, at as reaes dos dirigentes de linha
contra quaisquer aumentos de custos produzidos pela implantao da TI. Por conviver no seu
cotidiano com o lgico da operao de dados, precisam igualmente vencer uma verdadeira
incapacidade treinada para vislumbrar e focar claramente as reais necessidades das organizaes.
A TI muda com grande rapidez e continuadamente fornece capacitaes que possibilitam tirar
vantagens das mudanas em um negcio. Em geral, uma nova tecnologia sempre est alguns
passos frente da habilidade de utiliz-la e, como tal, requer dos gerentes competncia para
administrar situaes que repercutem nos usurios. Portanto, qualquer proposta de investimento
em TI deve ocasionar a reduo das relaes organizacionais, a melhoria dos processos de
trabalho e da estruturao corporativa, e no adicionar maior complexidade operacional ou
simplesmente fazer melhor o que j feito.
Nesse sentido, verifica-se que sero cada vez menores os investimentos em computao
propriamente dita, e maiores em comunicaes ou TI. Torna-se tambm necessrio perceber as
TI pelo que elas so exatamente: um recurso decisivo que afeta a estrutura e o funcionamento
das organizaes, as formas como atuam e atendem seus clientes e como se comunicam
interna e externamente.
-
11
UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
Tais ideias de Siqueira (1996) avanam em um novo paradigma, segundo o qual so positivas
as expectativas sobre a sociedade da informao. Em primeiro lugar, a substituio de insumos
baratos de energia por informao como fator-chave do novo paradigma representa, para a
sociedade, uma sada inesperada para a questo estrutural da degradao do meio ambiente.
Se a penetrabilidade das novas tecnologias pode, por um lado, elevar o temor com possveis
efeitos negativos e at reforar a inevitabilidade das transformaes que acarreta, por outro
lado, fundamenta a concepo da sinergia capaz de conferir dinamismo ao processo de
mudana desde que deflagrado, refora a ideia da impossibilidade de integrao parcial ao
novo paradigma e d suporte s iniciativas que visam preparar a sociedade como um todo para
enfrentar e tomar partido das tendncias de transformaes tcnico-econmicas.
Porque permite implementar materialmente a lgica de redes, a tecnologia permite tambm
modelar resultados imprevisveis da criatividade que emana da interao complexa, desafio
quase intransponvel no padro tecnolgico anterior. Se isso d vazo aos sonhos mais delirantes
no mbito das cincias bsicas, das aplicaes tecnolgicas avanadas e da estratgia, no
deixa tambm de alimentar sonhos mais prosaicos e no menos significativos como o
de finalmente permitir a integrao ensino/aprendizagem de forma colaborativa, continuada,
individualizada e amplamente difundida.
Segundo Siqueira (1996), a convergncia tecnolgica refora os efeitos da sinergia decorrente da
penetrabilidade das tecnologias na sociedade da informao. Assim, torna-se fcil compreender
a fascinao (e o temor) com uma utpica sociedade informatizada em que o desenvolvimento
tecnolgico parece no ter limites nem desacelerar e, dessa forma, alterar continuamente todos
os processos que afetam a vida individual e coletiva.
Nesse sentido, v-se que, exageros especulativos parte, preciso reconhecer que muitas das
promessas do novo paradigma tecnolgico foram e esto sendo realizadas, particularmente no
campo das aplicaes das novas tecnologias educao, principalmente na administrao.
Educao a distncia, bibliotecas digitais, videoconferncia, correio eletrnico, grupos de bate-
papo, e tambm voto eletrnico, comrcio eletrnico, trabalho a distncia, so parte integrante
da vida diria na maioria dos grandes centros urbanos no mundo.
A satisfao com tais avanos, no entanto, no deve impedir de identificar reas de preocupao
com a direo e o ritmo da mudana. A sociedade vem observando, com ateno, a evoluo
histrica do novo paradigma da informao e externando, em cada etapa desse desenvolvimento,
suas preocupaes reais ou infundadas com as implicaes sociais das novas tecnologias.
Independentemente de aceitar ou no a concepo da neutralidade ou ambivalncia da
tecnologia, no se pode ignorar as questes ticas relacionadas a ela.
-
12
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Para Stoner (1999), os desafios da sociedade da informao so inmeros e incluem desde os
de carter tcnico e econmico, cultural, social e legal, at os de natureza psicolgica e filosfica.
No campo da administrao dos pases em desenvolvimento, decises sobre investimentos
para a incorporao da informtica e da telemtica implicam tambm riscos e desafios. Ser
essencial identificar o papel que essas novas tecnologias podem desempenhar no processo
de desenvolvimento da administrao e, isso posto, resolver como utiliz-las de forma a facilitar
uma efetiva acelerao do processo em direo administrao para todos, ao longo da vida,
com qualidade e garantia de diversidade. As novas tecnologias de informao e comunicao
tornam-se, hoje, parte de um vasto instrumental historicamente mobilizado para a administrao.
Cabe a cada sociedade decidir que composio do conjunto de tecnologias mobilizar para
atingir suas metas de desenvolvimento.
-
13
UNIDADE 1: CENRIOS ATUAIS E TRANSFORMAES SOCIAIS: MUDANAS ECONMICAS, TECNOLGICAS E DE GESTO
REFERNCIASCASTELLS, Manuel. A era da informao: economia, sociedade e cultura. In: CASTELLS, Manuel.
A Sociedade em rede. So Paulo: Paz e Terra, 2000.
DAVENPORT, T.; PRUSAK, L. Ecologia da informao. So Paulo: Atlas, 2000.
GUEVARA, lvaro Agudo. tica en la sociedad de la informacion: reflexiones desde Amrica
Latina. In: Seminario Infoetica, Rio de Janeiro, 2000.
KAPLAN, Robert S. Estratgia em ao: balanced scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
SIQUEIRA, Wagner. Tecnologia de informao. Revista Brasileira de Administrao,
ano VI, n. 18, nov. 1996.
STONER, James. Administrao. Rio de Janeiro: Prince Hall, 1999.
-
14
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
2.1 A inteligncia empresarial como vantagem competitiva Grande parte das anlises objetivando entender e caracterizar a nova ordem mundial ressalta,
por um lado, o esgotamento do padro de acumulao anterior e, por outro lado, o advento (e
rpida difuso) de um novo padro criando novas possibilidades de crescimento.
Harvey (1996), ao discutir as origens de tais transformaes, aponta para a necessidade de
entender tal processo dentro de um quadro amplo em que se articulam mudanas tcnicas,
organizacionais e institucionais aos nveis micro, meso e macroeconmico, salientando os
aspectos sociais, econmicos e polticos envolvidos.
So diversas as contribuies que apontam para essa transio de regime (padro ou paradigma)
de acumulao, a qual se apoia em uma revoluo informacional. Tal revoluo vista como
engendrando transformaes comparveis quelas ocorridas em fases anteriores de mudanas
radicais no padro de acumulao capitalista e, em particular, denominada Revoluo Industrial
do final do sculo XVIII. No entanto, nota-se, com frequncia, que os impactos econmicos e
sociais esperados da atual ordem mundial em conformao so considerados como at mais
importantes que aqueles gerados pela Revoluo Industrial.
Portanto, trata-se, como resumido por Gmez (1997), de uma revoluo que agrega novas
capacidades inteligncia humana e muda o modo de se trabalhar e viver junto. Informao
e conhecimento passam a assumir papel ainda mais visvel e estratgico na nova ordem
estabelecida, baseando e alavancando as novas possibilidades de crescimento.
Como uma consequncia das transformaes, refora-se o papel da gesto estratgica da
informao econmica e do conhecimento como ferramenta fundamental para o crescimento
econmico. Conforme, por exemplo, apontado por Passos (1997), o desenho de sistemas de
inteligncia econmica (ou inteligncia competitiva) tanto em nvel privado quanto pblico,
global ou localizado ganhou destaque ainda maior nas estratgias de diferentes instituies.
-
15
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
Tais sistemas procuram equacionar a necessidade de promover tambm a gerao de
conhecimentos que permitam utilizar as informaes disponibilizadas, por meio de estratgias
que se autoalimentam. Novos modelos de gesto so desenvolvidos tanto nas esferas da
pesquisa e desenvolvimento, produo e comercializao de bens e servios, quanto nas
esferas de planejamento estratgico. Tais processos privilegiam a agilidade na tomada de
decises e na incorporao de mudanas e visam a adaptar as organizaes nova realidade
(ARRUDA, 1997; PASSOS 1997; LEMOS, 1997).
Como outra marcante caracterstica associada a essa transio, as empresas e demais
instituies vm reestruturando suas funes e atividades, assim como vm definindo e
implementando novas estratgias de administrao, desenvolvendo e adotando novos
desenhos organizacionais, novos instrumentos e metodologias operacionais. Esses novos
formatos organizacionais enfatizam a descentralizao, a terceirizao e a interao interna e
com parceiros de todos os tipos. Tais formatos apoiando-se e beneficiando-se dos meios
tcnicos atualmente disponveis para veicul-los igualmente se baseiam crescentemente em
informao e conhecimento.
Portanto, no de espantar o exponencial desenvolvimento e difuso de redes de diferentes
tipos e formas reunindo atores espalhados pelo mundo inteiro. Nesse caso, salienta-se
especialmente que: 1) a constituio de redes considerada como a mais importante inovao
organizacional associada difuso do novo paradigma tcnico-econmico das tecnologias da
informao; 2) a competitividade das organizaes passa a estar relacionada abrangncia
das redes em que esto inseridas, assim como a intensidade do uso que fazem delas
(BAPTISTA, 1997; LEMOS, 1997).
Assim que autores como Castells (2000) vm inclusive denominando a nova ordem como
sociedade rede (network society): resultante da revoluo das tecnologias da informao
e da reestruturao do capitalismo. A nova ordem , ento, caracterizada pelo formato
organizacional interativo, pela transformao das bases materiais da vida, do espao
e do tempo, bem como pela cultura da realidade virtual construda por um sistema de mdia
interconectado e diversificado.
Portanto, alm de conter um componente importante e transitrio de ajuste s novas exigncias,
o padro atualmente em difuso implica maior necessidade de capacitao e, ao mesmo
tempo, vem exigindo dinmica recapacitao para que os indivduos e instituies mantenham-
se constantemente atualizados (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
-
16
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
Segundo Davenport & Prusak (2000), as organizaes, s nos ltimos anos, passaram a
valorizar a experincia e o know-how de seus funcionrios isto , seu conhecimento. Isso
porque as empresas estavam perdendo milhes de dlares com a demisso ou aposentadoria
de seus funcionrios, uma vez que levavam consigo todo o conhecimento construdo, ou seja,
todo aquele conhecimento subjacente s rotinas e prticas da produo (de bens e servios)
e ao relacionamento (com clientes e com fornecedores). Da o desafio de criar e implantar
processos que gerem, armazenem, organizem, disseminem e apliquem o conhecimento
produzido e utilizado na empresa de modo sistemtico, explcito, confivel e acessvel
comunidade da organizao.
Conforme Sveiby (1998), o termo epistemologia teoria do conhecimento provm da palavra
grega episteme, que significa verdade absolutamente certa. A sociedade do conhecimento
(DRUCKER, 2000), difere fundamentalmente da Era Industrial porque os recursos no so mais
materiais, mas intelectuais.
O conceito Nonaka e Takeuchi (1997), da espiral de criao do conhecimento, tambm ajuda a
compreender a questo do equilbrio. A espiral refere-se a diferentes modos de converso de
conhecimento que ocorrem atravs de interaes entre o conhecimento tcito de um indivduo
(pessoal, especfico do contexto e difcil de ser articulado) e seu conhecimento explcito
(transmissvel em linguagem sistmica formal), que compartilhado nos nveis de grupo,
organizacional e interorganizacional.
A espiral do conhecimento de Nonaka e Takeuchi demonstra que os novos conhecimentos
sempre se originam nas pessoas. Um pesquisador brilhante tem um insight que redunda em
nova patente. A criao de novos conhecimentos envolve tanto ideais quanto idias e auxilia na
compreenso da questo do equilbrio.
Michael Polanyi desenvolveu sua teoria do conhecimento tcito no final da dcada de 1940
e incio da de 1950. Tendo vivido na poca em que a teoria da informao e a ciberntica j
existiam, ele demonstrou suas teorias com exemplos retirados das profisses cientficas. Em
sua teoria, Polanyi (1940) v o conhecimento como algo pessoal, isto , formado dentro de uma
coletividade. Seu conceito de conhecimento est baseado em trs teses principais:
1. A verdadeira descoberta no resulta de um conjunto de regras articuladas ou algoritmos.
2. Conhecimento , ao mesmo tempo, pblico e, em grande parte, pessoal (isto , por ser construdo por seres humanos, contm emoes, ou paixo).
3. Conhecimento subjacente ao conhecimento explcito mais fundamental; todo conhecimento tcito ou tem razes no conhecimento tcito, ou seja,
tem razes na prtica.
-
17
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
Conforme o autor, o conhecimento no privado ou subjetivo. Embora pessoal, ele construdo
tambm de forma social. O conhecimento transmitido socialmente se confunde com a experincia
que o indivduo tem da realidade.
Comparada nossa mente subconsciente, nossa mente consciente um processador de
informaes irremediavelmente ineficiente. Estudos como Nrretranders (1992) mostram que a
mente consciente pode processar de 16 a 40 bits de informao por segundo, enquanto que
a mente subconsciente capaz de lidar com 11 milhes de bits por segundo (SVEIBY, 1998).
O pensamento consciente desgastante e ineficiente, mas tambm muito flexvel. Pode mudar
conscientemente (ou ser desviado de forma inconsciente) em uma frao de segundos.
O conhecimento composto de experincias tcitas, ideias, insights, valores e julgamentos
de pessoas. dinmico e somente pode ser acessado atravs de colaborao direta e de
comunicao com pessoas que detm o conhecimento.
O explcito adquirido principalmente pela educao formal e envolve conhecimento dos
fatos. Muitas vezes chamado de informao, o nico elemento da competncia. Conforme
Sveiby, em grande parte a competncia depende do ambiente. Isso vale principalmente para os
componentes empricos e para rede social da competncia. Experincias explcitas ou informao
so tipicamente armazenadas em um contedo semiestruturado, como documentos, correio
eletrnico, correio de voz e multimdia. Informao o produto de captura e fornecimento de
contexto a experincias e ideias. A principal atividade para construo de valores em torno da
informao gerencia o contedo de forma a facilitar a localizao, a reutilizao e o aprendizado
a partir de experincias, para que os erros no se repitam e o trabalho no seja dobrado.
2.2 A criao do conhecimento organizacional Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que a criao do conhecimento deve ser entendida como um
processo que amplia organizacionalmente o conhecimento criado por indivduos. Eles defendem
que o que impulsiona o processo de criao decorre dos quatro modos de converso do
conhecimento criados a partir da interao entre o conhecimento tcito e o conhecimento explcito.
1. Do tcito para o tcito: esse processo definido como um compartilhamento de experincias e, a partir da, como a criao do conhecimento tcito, como modelos
mentais ou habilidades tcnicas compartilhadas. Assim, a experincia o principal fator
para a aquisio do conhecimento tcito.
-
18
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
2. Do tcito para o explcito: trata-se de um processo de articulao do conhecimento
tcito em conceitos explcitos. Os autores definem como sendo um processo de criao
do conhecimento perfeito, pois se torna conhecimento explcito, expresso na forma de
metforas, analogias, conceitos, hipteses ou modelos. O modo de externalizao
provocado pelo dilogo ou pela reflexo coletiva.
3. Do explcito para o explcito: processo de sistematizao de conceitos em um sistema
de conhecimento que envolve a combinao de conjuntos diferentes de conhecimento
explcito. A combinao realizada por meio de documentos, reunies, conversas ao
telefone ou redes de comunicao computadorizada. A reconfigurao das informaes
atravs da classificao, do acrscimo, da combinao e da categorizao do
conhecimento explcito pode levar a novos conhecimentos.
4. Do explcito para o tcito: deduo o processo de incorporao do conhecimento
explcito no conhecimento tcito. Est relacionado com o aprender fazendo.
2.3. Aprendizagem Organizacional e Gesto do Conhecimento Senge (1999) explica que a palavra learning (aprender) derivada do indo europeu leis, um
termo que significa trilha ou sulco na terra. To learning significa aumentar sua capacidade
atravs da experincia ganha por seguir uma trilha ou disciplina. A aprendizagem ocorre sempre
com o tempo e em contextos da vida real, e no em sala de aula ou sesses de treinamento.
Esse tipo de aprendizagem pode ser difcil de controlar, mas gera conhecimento que perdura:
maior capacidade de ao eficaz em contextos relevantes para aquele que aprendeu.
Diz Klein (1998) que, para gerir seu capital intelectual de forma mais sistmica, a empresa
dever elaborar uma pauta com o intuito de se transformar de uma organizao que
simplesmente compreende indivduos detentores de conhecimento numa organizao
focalizada em conhecimento, que cuida da criao e do compartilhamento de conhecimento
em e atravs de funes internas, de negcios e que orquestra o fluxo de know-how
de e para empresas externas.
A trama de tal pauta compreende muitas interligaes: pessoas, incentivos, tecnologia,
processos e outros elementos, que precisam ser tecidos cuidadosamente de forma compatvel
com as estratgias, cultura, capacidades e recursos da empresa. Embora o programa de cada
uma v ser igualmente singular, com conjunto comum de temas, questes e desafios, subjazem
os objetivos e a implementao de tais programas.
-
19
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
J Davenport & Prusak (1998) afirmam que uma das razes pelas quais o conhecimento
valioso que ele est prximo, mais que dados e informaes, da ao. O conhecimento
pode e deve ser avaliado pelas decises ou tomadas de ao s quais ele pode levar.
O conceito de gesto do conhecimento surgiu no incio da dcada de 1990 e, segundo Sveiby
(1998, p. 3), a Gesto do Conhecimento no mais uma moda de eficincia operacional.
Faz parte da estratgia empresarial. Para compreender gesto do conhecimento, deve-se
iniciar descrevendo os conceitos de dado, informao, conhecimento, chegando, por fim, ao
processo de gesto do conhecimento.
Dado pode ter significados distintos, dependendo do contexto no qual a palavra utilizada.
Para uma organizao, dado o registro estruturado de transaes. Genericamente, pode ser
definido como um conjunto de fatos distintos e objetivos, relativos a eventos (DAVENPORT &
PRUSAK, 1998, p. 2). informao bruta, descrio exata de algo ou de algum evento. Os dados
em si no so dotados de relevncia, propsito e significado, mas so importantes porque so
a matria-prima essencial para a criao da informao.
Informao uma mensagem com dados que fazem diferena, podendo ser audvel ou visvel,
e onde existe um emitente e um receptor. o insumo mais importante da produo humana.
So dados interpretados, dotados de relevncia e propsito (DRUCKER, 1999, p.32).
um fluxo de mensagens, um produto capaz de gerar conhecimento. um meio ou material
necessrio para extrair e construir o conhecimento. Afeta o conhecimento acrescentando-lhe
algo ou reestruturando-o (MACHLUP, 1983).
O conhecimento deriva da informao e, assim como esta, dos dados; no puro nem
simples, mas uma mistura de elementos; fluido e formalmente estruturado; intuitivo
e, portanto, difcil de ser colocado em palavras ou de ser plenamente entendido em
termos lgicos. Ele existe dentro das pessoas e por isso complexo e imprevisvel.
Segundo Davenport e Prusak (1998, p. 6), o conhecimento pode ser comparado a um
sistema vivo, que cresce e se modifica medida que interage com o meio ambiente.
Os valores e as crenas integram o conhecimento, pois determinam, em grande parte, o que o
conhecedor v, absorve e conclui a partir das suas observaes.
Gesto do conhecimento , portanto, o processo sistemtico de identificao, criao,
renovao e aplicao dos conhecimentos que so estratgicos na vida de uma organizao.
a administrao dos ativos de conhecimento das organizaes; o que permite
organizao saber o que ela sabe. A gesto do conhecimento leva as organizaes a mensurar
-
20
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
com mais segurana a sua eficincia, a tomar decises acertadas com relao melhor
estratgia a ser adotada em relao aos seus clientes, concorrentes, canais de distribuio
e ciclos de vida de produtos e servios, a saber identificar as fontes de informaes, a
administrar dados e informaes, a gerenciar seus conhecimentos. Trata-se da prtica
de agregar valor informao e de distribu-la.
H alguns desafios a vencer na gesto do conhecimento: influenciar o comportamento
do trabalhador, considerado o maior deles; fazer com que as lideranas da organizao
comprem a ideia e, por fim, determinar como classificar o conhecimento. Para desenvolver
os sistemas de conhecimento, necessrio ter foco externo (benchmarking da
concorrncia), tecnologias facilitadoras (groupware), gesto de performance (mensurao,
recomendao, recompensas para equipes, obrigaes contratuais) e gesto de pessoas
(equipes virtuais, comunidade de prtica, coordenadores de conhecimento, busca do perfil do
disseminador do conhecimento).
H quatro dcadas, Drucker (1999, p. 40) j alertava para o fato de que o trabalho se tornava cada
vez mais baseado no conhecimento. Somente a organizao pode oferecer a continuidade
bsica de que os trabalhadores do conhecimento precisam para serem eficazes. Apenas a
organizao pode transformar o conhecimento especializado do trabalhador do conhecimento
em desempenho. Apesar disso, avanou-se muito pouco sobre como se deveria gerenciar os
knowledge workers.
No Brasil, para transformar as empresas em empresas que aprendem sero necessrias
profundas revises nos valores das lideranas empresariais nacionais. Esse o primeiro passo,
e talvez o mais importante. Os knowledge workers, segundo Terra (2000, p. 203), tm algumas
questes e desafios a vencer:
Como mapear o conhecimento (competncias individuais) existentes nas empresas?
Onde se encontram as expertises e habilidades centrais da empresa relacionadas s core competences?
Como facilitar e estimular a explicitao do conhecimento tcito dos trabalhadores?
Como manter o equilbrio entre o trabalho em equipe e o trabalho individual e entre o trabalho multidisciplinar e a requerida especializao individual?
Como utilizar os investimentos em informtica e em tecnologia de comunicao para aumentar o conhecimento da empresa e no apenas acelerar o fluxo de informaes?
-
21
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
Quais sistemas, polticas e processos devem ser implementados para moldar comportamentos relacionados ao estmulo criatividade e ao aprendizado?
Como incentivar e premiar o knowledge sharing (compartilhamento de conhecimento) e desencorajar o knowledge holding (que as pessoas guardem o conhecimento para si
prprias)?
Como tornar a empresa aberta ao conhecimento externo?
Como ampliar e capturar o fluxo de conhecimentos, insights e ideias provenientes de clientes, parceiros, fornecedores e da comunidade em geral?
Alm disso, um dos principais problemas na gesto do conhecimento a tendncia das
pessoas de reter seus conhecimentos. Mesmo as que no o fazem intencionalmente, podem
simplesmente no estar motivadas a mostrar o que sabem. Para que a gesto do conhecimento
produza efeitos prticos nas empresas, deve estar plenamente ancorada pelas decises
e compromissos da alta administrao a respeito das iniciativas necessrias em termos de
desenvolvimento estratgico e organizacional, investimento em infraestrutura tecnolgica e
cultura organizacional, que celebre o trabalho em conjunto e o compartilhamento.
A gesto do conhecimento, ainda segundo Terra (2000), tem um carter universal, ou seja, a
criao de novos modelos organizacionais (estruturas, processos, sistemas gerenciais), novas
posies quanto ao papel da capacidade intelectual de cada funcionrio e uma efetiva liderana,
disposta a enfrentar, ativamente, as barreiras existentes ao processo de transformao. A gesto
do conhecimento um processo corporativo, focado na estratgia empresarial e que envolve
a gesto das competncias, a gesto do capital intelectual, a aprendizagem organizacional, a
inteligncia empresarial e a educao corporativa.
O tema central da gesto do conhecimento aproveitar os recursos que j existem na
organizao para que as pessoas procurem, encontrem e empreguem as melhores prticas em
vez de tentar criar algo que j havia sido criado. Cuida de agregar valor s informaes, filtrando,
resumindo e sintetizando-as e, dessa forma, desenvolvendo um perfil de utilizao pessoal que
ajuda a chegar ao tipo de informao necessrio para passar ao. Atravs da aprendizagem
contnua, a organizao exercita a sua competncia e inteligncia coletiva para responder ao
seu ambiente interno (objetivos, metas, resultados) e externo (estratgia). Nas organizaes
que aprendem as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar resultados que
elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar so encorajadas, onde
a aspirao coletiva livre, e onde as pessoas esto constantemente aprendendo a aprender
coletivamente (SENGE, 1999, p. 21).
-
22
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
A organizao que aprende possui a capacidade de, continuamente, criar o futuro que realmente
deseja. Para isso, reflete sobre o desempenho atual e os fatores que o geram, pensa sobre os
diversos futuros possveis e qual entre eles o desejado, e planeja e implementa as aes
para se mover da situao atual para a desejada. De forma customizada e flexvel, mede seus
resultados a partir de um conjunto consistente de indicadores e medidores de aprendizagem
organizacional. medida que se olham os fatores de tomada de deciso e se reflete sobre os
seus resultados, pode-se notar os erros e acertos, e tomar decises mais acertadas, deixando o
processo mais transparente para os envolvidos com as aes de aprendizagem da organizao.
Nessas organizaes, as habilidades mnimas sero substitudas por habilidades pessoais e
interpessoais. As organizaes que aprendem ou organizaes baseadas no conhecimento
so mais flexveis, adaptveis e mais capazes de se reinventarem.
A aprendizagem organizacional , portanto, o processo contnuo de detectar e corrigir erros.
Errar significa aprender, envolvendo a autocrtica, a avaliao de riscos, a tolerncia ao fracasso
e a correo de rumo, at alcanar os objetivos. a capacidade das organizaes em criar,
adquirir e transferir conhecimentos e em modificar seus comportamentos para refletir esses
novos conhecimentos e insights, conforme Senge (1999).
Isso implementa um mecanismo pelo qual os trabalhadores contribuem para o desempenho da
empresa por meio da aplicao dos seus conhecimentos e habilidades em resolver problemas
e de inovar constantemente. Cria-se a organizao que aprende e que gera conhecimento. No
entanto, nenhuma mudana organizacional significativa pode ser realizada sem que se efetuem
profundas mudanas nas formas de pensar e interagir das pessoas.
A base de ideias que sustenta as organizaes que aprendem estabelece o pensamento
sistmico, os modelos mentais, o domnio pessoal, a viso compartilhada, a aprendizagem em
grupo e o dilogo como elementos inevitveis do seu desenvolvimento, cada um proporcionando
uma dimenso vital na construo de organizaes realmente capazes de aprender, de ampliar
continuamente sua capacidade de realizar suas mais altas aspiraes.
Pensamento sistmico o pensamento voltado para o todo, em que nenhuma ao
empreendida sem se considerar seu impacto em outras reas da organizao e da sociedade.
o quadro de referncia conceitual, o conjunto de conhecimentos e ferramentas desenvolvidos
para esclarecer os padres como um todo e ajudar a ver como modific-los efetivamente.
Domnio pessoal a disciplina de, continuamente, esclarecer e aprofundar a viso pessoal,
de concentrar as energias, de desenvolver pacincia e de ver a realidade objetivamente.
a participao por escolha prpria de compartilhamento livre de informaes e conhecimentos,
pedra de toque essencial para a organizao que aprende seu alicerce espiritual.
-
23
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
Modelos mentais so pressupostos profundamente arraigados, generalizaes ou mesmo
imagens que influenciam nossa forma de ver o mundo e de agir. So as imagens internas do
mundo. Podem ser simples generalizaes ou teorias complexas. So ativos, pois modelam o
modo de agir e influenciam o que se v. Viso compartilhada (objetivo comum) o interesse das
pessoas em compartilhar conhecimento, envolvidas para uma viso comum. Pode ser inspirado
por uma ideia, mas, assim que ganha impulso, deixa de ser uma abstrao, transformando-
se em algo concreto. a resposta pergunta: O que queremos criar? Proporciona o foco
e a energia para o aprendizado. Envolve as habilidades de descobrir imagens de futuro
compartilhadas que estimulem o compromisso genrico e o envolvimento em lugar da mera
aceitao. Aprendizagem em grupo (ou em equipe) o processo de alinhamento (grupo
de pessoas atuando como um todo) e desenvolvimento da capacidade de um grupo criar
os resultados que seus membros realmente desejam. Comea pelo dilogo, capacidade
dos membros de deixarem de lado as ideias preconcebidas e participarem de um verdadeiro
pensar em conjunto. Os principais resultados advindos da adoo de prticas voltadas para a
aprendizagem organizacional so:
a. incremento da qualidade do planejamento operacional e estratgico;
b. agilidade no processo de tomada de decises;
c. maior eficincia na previso de mudanas e nas aes evitando-se surpresas;
d. encorajamento de inovaes e incremento na qualidade dos produtos;
e. eliminao da obteno e processamento da mesma informao em duplicidade;
f. incremento do compartilhamento da informao entre toda a organizao;
g. aprendizado abrangendo toda a organizao, inclusive a administrao;
h. aumento da competitividade e melhoria dos resultados.
Aprendizagem , ento, o resultado de um processo que comea com a coleta de dados.
Esses dados so organizados e transformados em informao que, depois de analisada e
contextualizada, se transforma em conhecimento ou inteligncia. Esta, por sua vez, quando
aplicada a processos de deciso, gera vantagem competitiva para a organizao. Assumiu-
se conceituar inteligncia como sabedoria, segundo a hierarquia do conhecimento dados,
informao, conhecimento explcito, conhecimento tcito, sabedoria, inteligncia. Cumpre
destacar que o processo de aprendizagem organizacional no se restringe a um mero
-
24
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
sistema de informaes, ou um data warehouse, uma intranet, uma atividade ou funo, um
servio de informaes, um mercado de pesquisa para fins especficos ou uma ferramenta de
anlise, porm, segundo Tyson (1997), a adoo de uma ferramenta que viabilize, de forma
sistematizada, a coleta, anlise e disseminao (ou compartilhamento) do conhecimento torna-
se fundamental para que os usurios possam tomar aes a partir dele. Deve contemplar
informaes sobre funcionrios, concorrentes, clientes, fornecedores, terceiros e alianas
estratgicas e incluir eventos econmicos, reguladores e polticos que tenham impacto
sobre os negcios da empresa.
-
25
UNIDADE 2: A INTELIGNCIA EMPRESARIAL COMO VANTAGEM COMPETITIVA AOS CENRIOS MODERNOS DO MUNDO DO TRABALHO
REFERNCIASARRUDA, M. C. C. Revoluo informacional, globalizao e as mudanas na capacitao
profissional. Informare, vol. 3, n.1-2. Rio de Janeiro: PPCI/IBICT, 1997.
BAPTISTA, R. F. Os novos paradigmas da sociedade da informao e os modelos de plos e
parques cientficos e tecnolgicos. Informare, vol. 3, n.1-2. Rio de janeiro: PPCI/IBICT, 1997.
CASTELLS, Manuel. A era da informao: economia, sociedade e cultura.
In: A Sociedade em rede. So Paulo: Paz e Terra, 2000.
DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial: como as organizaes gerenciam
seu capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
DAVENPORT, T.; PRUSAK, L. Ecologia da informao. So Paulo: Atlas, 2000.
DRUCKER, P. Desafios gerenciais para o sculo XXI. So Paulo: Pioneira, 1999.
DRUCKER, P. E-ducao. Revista Exame. So Paulo, v. 34, n. 12, 2000, p. 67-67.
GOMEZ, M. N. G. A globalizao e os novos espaos da informao. Informare, vol. 3, n.1-2.
Rio de Janeiro: PPCI/IBICT, 1997.
HARVEY, D. Condio ps-moderna. So Paulo: Edies Loyola, 1996.
KLEIN, David A. A gesto estratgica do capital intelectual: recursos para economia baseada em
conhecimento. Rio de Janeiro: Quallitymark, 1998.
LEMOS, C. R. Redes locais de informao para inovao face globalizao. So Paulo:
Atlas, 1997.
MACHLUP, F.; MANSFIELD, U. (Ed.). The study of information: Interdisciplinary messages. New
York, NY: Wiley, 1983.
NONAKA I. & TAKEUCHI, H. Criao de conhecimento na empresa: como as empresas
japonesas geram a dinmica da inovao. Trad. Ana Beatriz Rodrigues, Priscilla Martins Celeste.
Rio de janeiro: Campus, 1997.
PASSOS, C. K. O novo paradigma produtivo e as informaes. Informare, vol. 3, n.1-2.
Rio de Janeiro: PPCI/IBICT, 1997.
-
26
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte, teoria e prtica da organizao de aprendizagem. So
Paulo: Best Seller, 1999.
SENGE, P.M. A quinta disciplina - Caderno de Campo. Rio de Janeiro: Ed. Qualitymark, 2000.
SVEIBY, K. E. O que conhecimento? O que competncia? In: A nova riqueza das
organizaes: gerenciando e avaliando patrimnios de conhecimento. Rio de Janeiro:
Campus, 1998.
TERRA, J. C. Gesto do Conhecimento. 2. ed. So Paulo: Negcio Editora, 2000.
TYSON, Kirk W. M. Competitor intelligence manual and guide: gathering, analysing and using
business intelligence. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1990.
-
27
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
3.1 Panorama geralExpresses como Capital Intelectual e Inteligncia Competitiva esto constantemente presentes
na literatura tcnica do final do sculo XX e incio do XXI e caracterizam os novos rumos da
administrao das organizaes. Nesse perodo, o grande fascnio est em compreender o
fator humano e gerenciar o seu potencial, unindo agilidade aos valores em busca dos melhores
resultados tanto organizacionais quanto profissionais.
No contexto apresentado, a tecnologia, as ferramentas, os mtodos e os sistemas de uma
empresa, aliados ao talento e produtividade de seus empregados, propiciam a circulao
do conhecimento em nome da eficincia e do sucesso nos negcios. Para Nonaka e Takeuchi
(1997), o conhecimento um processo humano dinmico; estabelece-se atravs da relao
do indivduo com ele mesmo, com seus objetivos e com os objetivos dos grupos em relao
aos seus desejos e expectativas. Esses autores definem o conhecimento em explcito
(externo) e tcito (interno).
O primeiro trata do conhecimento passvel de transmisso em linguagem formal e sistemtica,
o segundo pessoal, especfico e difcil de ser comunicado. Para converter o tcito em
explcito, deve haver o seu processamento em forma espiral. A socializao, a externalizao,
a combinao e a internalizao so formas de circulao das informaes para a inovao;
segundo os autores, na difuso intraorganizacional do conhecimento, a inteno organizacional
agir como mecanismo, como mola propulsora, para que esse repasse possa acontecer.
A criao do conhecimento organizacional (que produz a inovao) seria uma interao contnua
e dinmica entre o conhecimento tcito e explcito. Para que a transferncia do conhecimento
acontea, considera-se que, antes, o conhecimento gerado contextualmente na estrutura da
empresa e que esse conhecimento corporativo o mais difcil de ser transferido.
H uma exigncia no sentido de geri-lo de forma eficaz na sua aquisio, transferncia e
mensurao, para que no se perca na complexidade j inerente estrutura organizacional.
Segundo os autores acima citados, as abordagens feitas sobre a substituio da tecnologia pelo
-
28
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
conhecimento humano tm fomentado o interesse das organizaes nos processos de criao
e transferncia do conhecimento e na respectiva eficcia da gesto. A grande questo dos
cenrios organizacionais atuais transformar a capacidade de discernimento e a intuio dos
interesses, dos valores e crenas de seus membros em aes prticas que gerem resultados
para as organizaes e que garantam a sua sustentao.
Sobre a aquisio do conhecimento, Davenport & Prussak, citados por Murici (2001, p.12),
lembram que a compra do mesmo considerada a maneira mais eficaz, ao adquirir uma
empresa ou contratar pessoas que o possuam. Pode ser tambm alugado atravs de
instituies voltadas para pesquisa, desenvolvimento e ainda ser terceirizado em sua gerao,
na forma de contratao de um expert no assunto pretendido. Para tudo isso necessrio
administrar a forma dessa aquisio. Mesmo com esses mecanismos, a maior dificuldade est
em como promover a transferncia do conhecimento. Preocupa mais ainda quando se trata do
conhecimento tcito, j que este de domnio da pessoa, faz parte da sua individualidade e,
mesmo assim, deve ser avaliado pela empresa como ativo, como fator de competitividade ou,
at mesmo, como vantagem competitiva.
Para Stewart (1998), o desafio como utilizar o conhecimento de cada trabalhador, faz-
lo circular e transform-lo em lucros para a empresa na forma de inovao. No processo de
fomento, controle e reteno do conhecimento, h a necessidade de facilitar a expresso
do saber, pois ele de propriedade do grupo social que produziu o conhecimento, e no
somente da empresa ou do empregado. Considerando o conceito de capital intelectual, Stewart
(1998, p. 23) o identifica como a matria intelectual conhecimento, propriedade intelectual,
experincia e que pode ser utilizada para gerar riqueza.
Assim, o intelecto considerado um ativo na estrutura financeira de uma empresa. Ele
encontrado nas pessoas, nas estruturas e nos clientes, de forma intercambiada para que sua
ao possa alcanar o resultado nos negcios de forma eficaz. essencial conhecer, ento,
as tcnicas, as ferramentas e os indicadores para mensur-lo e compreender os processos de
gesto de conhecimento. Nesse tipo de gesto, considerando o capital intelectual, possvel
ter tambm o capital estrutural, que funciona como uma espcie de amplificador. Ele no
somente criado a partir do capital humano, estrutural e do cliente, mas do intercmbio entre eles.
relativamente difcil encontrar um denominador comum ou mesmo estabelecer limites para a
forma como os termos conhecimento, competncia e habilidade, criatividade, capital intelectual,
capital humano, tecnologia, capacidade inovadora, ativos intangveis e inteligncia empresarial,
entre outros, so utilizados e definidos na literatura. Essa dificuldade, contudo, ao invs de ser um
-
29
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
problema, aponta antes para a riqueza do tema em questo. So diversos os focos de estudos
cincias econmicas, administrao geral, administrao de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),
organizao do trabalho, engenharia de produo, psicologia, entre outros, cujas concluses se
superpem, se complementam e, s vezes, se contrapem (TEIXEIRA, 2000).
Na gesto do conhecimento, a palavra conhecimento tem um carter mais abrangente e
interdisciplinar. Os termos aprendizado e criatividade, embora bastante populares recentemente,
no contexto organizacional, tm suas razes muito mais fortemente ancoradas na psicologia. J
o termo inovao seria aquele com maior tradio na teoria organizacional. Dessa forma, ser
utilizado, principalmente, quando a discusso gira em torno de prticas gerenciais. Entretanto,
medida que a gesto do conhecimento ultrapassa as fronteiras, fica claro que tericos
organizacionais devem se apropriar, e de fato tm se apropriado, das contribuies advindas
desse campo de estudo.
Nesse mesmo sentido amplo, Chaparro (1998) tambm chama a ateno para o fato de que a
gesto do conhecimento vai alm da gesto da inovao de produto e processo, incluindo a
gesto do conhecimento sobre mercados, sobre tendncias nos processos de desenvolvimento
tecnolgico, sobre legislao relacionada empresa e outros fatores que determinam a vantagem
competitiva. Apesar do enorme desafio que a gesto pr-ativa do conhecimento representa
para os praticantes e estudiosos da administrao empresarial, so relativamente poucos os
esforos de pesquisa que tm avaliado esse tema sob uma perspectiva abrangente, histrica
e, principalmente, emprica.
Menos frequentes ainda, em particular, so os trabalhos que levam em considerao os vrios
campos de estudo que tratam da contribuio e participao intelectual dos trabalhadores. Isso
representa um risco importante. Abordagens reducionistas, e especialmente as prescritivas,
acabam por gerar solues simplistas, pouco eficazes e algumas vezes at prejudiciais
compreenso dos fenmenos organizacionais. H que se levar em considerao alguns
aspectos muito importantes:
1. Os eventos histricos, assim como as concepes passadas a respeito do mundo e do
ser humano, determinam, de certa maneira, a realidade atual.
2. As empresas so sistemas sociais abertos sujeitas a uma grande influncia
interna e externa.
3. Apesar da crescente importncia dos sistemas de informao, como repositrios do
conhecimento organizacional, so, principalmente, as pessoas que aprendem, criam,
detm e transmitem o conhecimento mais relevante para o sucesso das empresas.
-
30
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
evidente que a teoria organizacional, de certa maneira, na esteira das transformaes
econmicas e sociais, tambm evoluiu consideravelmente, tanto em suas concepes sobre
as lgicas organizacionais, como em termos de sua compreenso da natureza humana. De
fato, a formulao de teorias organizacionais parece estar caminhando, cada vez mais, para
uma anlise profunda da relao entre estas trs variveis: ambiente econmico, lgica
organizacional e natureza humana. A gesto do conhecimento pode ser concebida como um
processo da criao, da organizao e da transferncia do conhecimento para as pessoas que
dele necessitam na organizao (MURICI, 2001).
Ao longo dos anos, o conhecimento da empresa, da competio, dos processos, do ramo
de negcio, enfim, tem estado por trs de milhes de decises estratgicas e operacionais.
As pessoas tm usado conhecimento nas organizaes h muito tempo, mas s atualmente
foi verificada a sua real valorizao. A constatao de que o conhecimento um recurso que
precisa ser gerenciado recente.
A gesto do conhecimento vista como uma coleo de processos que governam a criao,
disseminao e utilizao do conhecimento para atingir plenamente os objetivos da organizao
uma rea nova na confluncia entre a avaliao dos diferenciais entre a mquina e o homem,
tecnologia da informao e administrao voltada para projetos e potenciais humanos, um novo
campo entre a estratgia, a cultura e os sistemas de informao.
3.2 Aprendizado, conhecimento, inovao e criatividadeAs abordagens mais tradicionais sobre aprendizado e criatividade nas organizaes advm da
psicologia e dos estudos sobre inovao. Ambas, por sua vez, so fundamentais para uma
melhor apreenso das teorias sobre aprendizagem organizacional e para embasar teoricamente
as prticas das organizaes inovadoras. No campo da pesquisa psicolgica, incluem-se as
relativas psicologia experimental, psicossocial e ocupacional, entre outras.
J a pesquisa sobre inovao tem sido tratada primordialmente por estudiosos da teoria
administrativa e, mais especfica e originalmente, por pesquisadores ligados administrao de
Pesquisa e Desenvolvimento. Frequentemente, o aprendizado individual ou, mais constantemente
ainda, a criatividade associada ao ponto de partida do processo de inovao ou ao conceito
de inveno. Esse ltimo conceito, entretanto, tem estado bastante associado a descobertas
e ideias tecnolgicas, sendo, por isso mesmo, mais estudado por aqueles cujo foco o da
-
31
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
administrao de Pesquisa e Desenvolvimento. J o estudo do aprendizado e da criatividade,
mesmo no ambiente empresarial, tem-se realizado em contextos muito mais amplos e envolvidos
em vrias abordagens distintas.
Na associao entre os temas criatividade, aprendizado e conhecimento a novidade criadora
emerge em grande parte do remanejo de conhecimento existente remanejo que , no fundo,
acrscimo ao conhecimento (KNELLER, 1978, p.16). Ao se analisar os modelos de aprendizado
organizacional, importante levar em considerao os principais conceitos sobre aprendizado e
criatividade individual e conhecimento humano, pois estes, embora no levem necessariamente
ao aprendizado e conhecimento organizacional, certamente os antecedem.
Tais aproximaes de campos de estudos, porm, nem sempre so realizadas da melhor
maneira. King & Anderson (1995), por exemplo, observam que o campo de estudo da inovao
organizacional se utiliza, em vrios casos, erroneamente, de conceitos, modelos e teorias
resultantes de pesquisas psicolgicas sobre criatividade. Sugo (1996), por sua vez, ao estudar
a questo da cognio institucional nas organizaes, deixa em evidncia o trabalho de Ramos
(1983), que j apontava os principais problemas da aplicao de conceitos da psicologia em
estudos na rea de administrao.
3.3 O processo criativo individual e organizacionalVerifica-se que o estudo da criatividade envolve tanto abordagens cientficas como intuitivas,
assim como a avaliao dos processos mentais de pessoas comuns e de grandes
personalidades (artistas e cientistas) reconhecidamente criativas. Entre as vrias teorias e
abordagens que contribuem para o entendimento do processo criativo individual, incluem-se
a psicanlise, a neurofisiologia, a gentica, a anlise transacional, as teorias sobre Gestalt, o
estudo das necessidades de autorrealizao, as explicaes filosficas e simbolgicas, entre
outras (KNELLER, 1978; MIRSHAWKA; MIRSHAWKA, 1992).
De certa maneira, essa diversidade de abordagens e combinao de abordagens cientficas
e intuitivas seria inevitvel em funo da complexidade do tema (KNELLER, 1978). possvel,
entretanto, separar as correntes de pesquisa cientfica que mais tm contribudo para o
entendimento desse assunto. Assim, entre as teorias e correntes de estudos todas dentro do
campo da psicologia as mais importantes, em ordem cronolgica, seriam as seguintes:
-
32
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
Associacionismo, cujas razes se encontram no sculo XIX, nos trabalhos de John Locke, e que explica as novas ideias a partir de novas associaes de velhas ideias conseguidas atravs de processos de tentativas e erros.
Gestalt: o pensamento criativo resultado da resoluo de tenses geradas pelas tentativas de reconstruo ou configuraes estruturalmente deficientes.
Psicanlise: segundo a linha freudiana, tanto a criatividade como a neurose se originam a partir de conflitos do inconsciente (o id); as pessoas mais criativas seriam as de esprito mais independente, ou seja, aquelas que melhor sabem lidar com as restries impostas pelo superego.
Reao ao freudianismo: esses autores mostram que a relao do homem com o meio ambiente importante para o processo criativo e, tambm, que a criatividade resultado da necessidade do homem de se autorrealizar e transformar-se em suas potencialidades (SCHACHTEL; ROGERS; MASLOW).
Anlise fatorial: iniciada com os estudos de J. P. Guilford, que props a diviso da mente ou do intelecto em capacidades de memria cognitivas (reconhecimento da informao), produtivas (gerao de novas informaes) e avaliativas (do reconhecimento e da gerao da informao). As capacidades produtivas podem ainda ser convergentes ou divergentes. Essas ltimas, medidas por diversos tipos de testes de flexibilidade, fluncia
e originalidade, estariam associadas criatividade (KNELLER, 1978).
Apesar desse grande nmero de abordagens, alguns elementos do processo criativo
parecem ganhar mais destaque do que outros, tanto nos estudos de psiclogos, como nos
de tericos organizacionais. O aspecto emocional um desses elementos de destaque.
De fato, assinala Kneller (1978, p. 60), a tendncia mais recente dos estudos sobre criatividade
a de analis-la como um processo mental e emocional. Sua prpria descrio do processo
criativo deixa isso bem evidente:
Para que a criao ocorra, a pessoa criativa h antes de ser frustrada e perturbada por
um problema ou uma situao que ela no pode manobrar. O cientista, por exemplo,
tem de ser mentalmente dilacerado por fatos que ele no consegue explicar, o artista
por emoes que ele no consegue exprimir pelas convenes artsticas a que est
acostumado. A pessoa criativa regride, pois, a uma regio menos consciente, menos
diferenciada de sua mente, na qual possa gerar-se a soluo de seu problema.
Os estudos sobre criatividade profissional ou no ambiente de trabalho so mais recentes, mas
parecem, de maneira geral, se apoiar nos mesmos princpios acima. Von Fange (1961), por
exemplo, um dos precursores e, provavelmente, um dos autores mais citados na literatura sobre
-
33
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
criatividade profissional, tambm chama a ateno para a importncia do aspecto emocional
no processo de criao. E, nesse sentido, destaca o seguinte comentrio de outro importante
pesquisador sobre o assunto, Dr. William H. Easton:
Pois [a obra criadora] requer, do indivduo, no s uma grande energia para mant-la
dentro da mais rdua espcie de trabalho mental como, tambm, inteira confiana em
sua capacidade para atingir o xito [...] Ele deve ter entusiasmo, devoo e paixo.
A idia criadora no um processo apenas intelectual; ao contrrio, aquele que a
procura conceber acha-se dominado por emoes desde o incio at o fim da tarefa
(EASTON, 1996).
Outro trabalho relevante, principalmente em funo de seu impacto na teoria organizacional, o
princpio da pirmide de necessidades de Maslow. Segundo esse princpio, a criatividade est
associada ao ltimo estgio de desenvolvimento de uma pessoa, o estgio de autorrealizao
(ou autoatualizao), que s possvel com o atendimento das quatro necessidades anteriores,
ou seja, necessidades fisiolgicas, de segurana, sociais e de estima. Nesse ltimo estgio, as
pessoas se caracterizariam, entre outras coisas, por:
espontaneidade no comportamento e na vida interior,
maior concentrao nos problemas do que no eu,
capacidade de ser imparcial, ter independncia e autocontrole,
originalidade na apreciao de coisas e pessoas,
criao e resistncia ao conformismo cultural.
Por outro lado, Pereira Filho (1996) associa o processo criativo nos ambientes organizacionais ao
conceito emocional da sublimao de Freud, ou seja, o mecanismo pelo qual impulsos instintivos
so desviados da expresso direta e transformados em algo aceitvel para a sociedade. Essa
associao se tornaria relevante, argumenta o autor, na medida em que as organizaes
fossem, para a maior parcela da populao, o nico lugar na sociedade contempornea onde
os indivduos pudessem realizar seus projetos pessoais e desejos e, assim, dar vazo a grande
parte de suas necessidades instintivas.
Duailibi e Simonsen Jr. (1990) tambm destacam o contedo emocional do ato criativo. Esses
autores definem as solues criativas como uma liberao de energia necessria eliminao
de angstias. Acreditam tambm, entretanto, que o que parece um ato inexplicvel e dependente
do trabalho inconsciente impossvel, se no for precedido do trabalho consciente e rduo.
-
34
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
Essa viso , por sua vez, bastante parecida com a de Senge (1999) que, no entanto, ao invs
do termo angstia, adota o termo tenso criativa: uma fora resultante da tendncia natural dos
indivduos em buscar uma soluo para as tenses encontradas, que surgem em funo da
discrepncia entre a realidade percebida e a realidade desejada. Nesse sentido, Senge acredita
que os indivduos podem escolher dois caminhos para resolver a tenso criativa:
1. Diminuir o gap (lacuna) percebido em funo da incapacidade dos indivduos em resolver
sua tenso emocional que, normalmente, est associada tenso criativa.
2. Resolver a tenso criativa atravs da persistncia, pacincia, compromisso ferrenho
com a verdade e utilizao da fora do subconsciente desenvolvida ou treinada
pelo esforo consciente em se visualizar e caminhar at o resultado esperado.
O segundo caminho , pois, o que levaria ao aprendizado individual ou, nas palavras de
Senge, ao domnio pessoal.
Segundo esse autor, o aprendizado consciente e intencional representa apenas uma pequena
parte do processo de criao e domnio de coisas complexas. O aprendizado, entretanto,
atravs do subconsciente, s se torna eficaz na medida em que as pessoas tm uma clara
viso de aonde querem chegar e, tambm, uma real percepo da realidade. Nesse sentido,
ele argumenta que, frequentemente, o caminho para o domnio pessoal passa pelo uso de
tcnicas como meditao, criao de imagens e visualizaes, como as de Einstein, que teria
dito, por exemplo, ter descoberto o princpio da relatividade ao se imaginar viajando em um raio
de luz. Por outro lado, amplamente aceita a ideia de que o processo de criao ocorre em
fases logicamente separadas, embora raramente to distintas na realidade (KNELLER, 1978;
HESKETH, 1980 e TORRANCE, 1988). Torrance, por exemplo, considera que o processo criativo
ocorre em quatro fases:
sentir dificuldades, problemas ou gaps (lacunas, falhas) nas informaes;
adivinhar e formular hipteses sobre essas deficincias;
avaliar, testar e revisar essas adivinhaes e hipteses;
comunicar os resultados.
J Hesketh (1980), analisando os trabalhos de Dewey, Wallas, Rossman e Osborn, conclui que
estes tambm chegaram a modelos bastante semelhantes. Segundo Wallas, a produo criativa
ocorre em quatro estgios:
-
35
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
preparao - coleta de informaes;
incubao - trabalho inconsciente;
iluminao - emergncia;
verificao - a soluo testada e elaborada.
Por fim, mas no menos importantes para o entendimento do processo criativo individual, so as
concluses de que o processo criativo se beneficia, sobremaneira, de diferentes perspectivas
e, geralmente, envolve a combinao de conhecimentos de diferentes campos do saber. O
conhecimento e a criatividade s podem ser realizados a partir do estabelecimento de conexes
com o outro e com a natureza, respeitando-se as diferenas individuais e equilibrando-se as
emoes resultantes (DAMBRSIO, 1998). nesse mesmo sentido que se inclui tambm a
distino entre aprender sobre e aprender com, realizada por Cupertino (1998, p.118):
Se pela tica do aprender sobre lidarmos com outros (ou aquilo que diferente de
ns) como objetos concretos, acessveis e disponveis para manipulao, entendidos
como totalidades opostas a ns mesmos, e com quem estabelecemos uma relao
de dominao, caminho alternativo o de aceitar o que se nos oferece como estranho
atravs da capacidade de mantermo-nos suspensos diante de um nomear precipitado,
criando condies para aprender com a diferena, com aquilo que estrangeiro.
Essa posio de abandono ao diverso para que dele emerjam os sentidos possveis
mantm a possibilidade de infinitos desdobramentos desses sentidos, a virtual
possibilidade da diferena, da instituio da alteridade a partir de momentos especficos
de ruptura com o habitual, com o tradicional.
Com relao criatividade no ambiente de trabalho, preciso ressaltar ainda que, apesar de
algumas profisses oferecerem mais oportunidades para a expresso do potencial criativo, as
pesquisas demonstram que a criatividade contribui para o xito nos vrios tipos de profisses
(KNELLER, 1978).
3.4 Conhecimento tcito e intuio A importncia desse tema na literatura organizacional tem sido bem explorada, primeiramente
por Mintzenberg (1995), com seus trabalhos sobre o papel desempenhado pela intuio no
processo de tomada de deciso gerencial, e, mais recentemente, por Nonaka e Takeuchi (1995),
-
36
UNIDADE 3: O CARTER INOVADOR DAS ORGANIZAES ATUAIS
em sua obra The Knowledge-Creating Company, na qual elaboram um modelo de criao de
conhecimento baseado no crculo virtuoso da interao entre conhecimento tcito e explcito.
Polanyi introduz o tema do conhecimento tcito a partir da frase we can know more than we can
tell. Com isso, ele quer dizer que muito do que as pessoas sabem no pode ser verbalizado
ou escrito atravs de palavras. Isso fica mais claro a partir dos exemplos cotidianos e cientficos
apresentados por ele. Como exemplos mais intuitivos, ele cita:
Capacidade de as pessoas conseguirem distinguir o rosto de uma pessoa conhecida entre tantas outras, mas no serem capazes de explicitar os particulares que
compem o todo. Da os artifcios usados pela polcia que, para fazer retratos falados,
utiliza uma vasta coleo de fotos de partes especficas do rosto, como narizes,
bocas e outros detalhes.
O fato de pianistas virtuosos tenderem a ficar paralisados quando fixam sua ateno ao movimento de seus dedos.
A habilidade de pessoas cegas, que usam a bengala como uma extenso de seu corpo.
Para Polanyi, o conhecimento tcito envolve, pois, uma relao entre duas coisas: um
conhecimento especfico, como tocar piano, utilizar uma ferramenta, entre outros, que ele
chama de distal, e um outro, que ele chama de proximal, do qual s se tem conscincia
na medida em que ele serve ao anterior. Esta seria o resultado de um esforo ativo e
laborioso de busca de conhecimento, que envolveria o corpo e todos os seus sentidos.
Nesse aspecto, a aquisio de conhecimento, seja intelectual ou prtico, seria resultado de
envolvimento e compromisso pessoal.
O conceito de conhecimento tcito tambm ajudaria a explicar por que a compreenso de
assuntos complexos pode ser prejudicada, quando se busca faz-lo, primordialmente, a partir
de sua decomposio em partes e anlises estritamente racionais. No que isso no deva ser
feito para se obter um aprofundamento sobre o tema em questo. O importante no perder o
foco no todo e isso s ocorre quando a realidade interiorizada e todos os detalhes recuperam
seu significado e complexos relacionamentos. Dessa maneira, Polanyi (1997) expressa total
rejeio a qualquer noo de conhecimento absolutamente objetivo, inclusive nas cincias
naturais, pois mesmo a formulao de teorias, nesse campo, envolveria o conhecimento tcito.
Nonaka e Takeuchi (1995), por sua vez, questionam a tradio filosfica e as teorias econmicas
e organizacionais ocidentais, na medida em que estas no conseguiram criar uma sntese para
a questo da criao do conhecimento. Esses autores veem a criao de conhecimento como
-
37
Disciplina: Cenrios, Tendncias e o Mundo do Trabalho
um processo interativo entre o racional e o emprico, entre a mente e o corpo, entre a anlise e a
experincia e entre o implcito e o explcito; tambm, destacam que o principal conhecimento
o tcito. Alinhados, pois, s concluses de Polanyi (1997), descritas acima, eles acreditam que
o conhecimento tcito envolve duas dimenses:
1. uma tcnica, do tipo know-how,
2. outra cognitiva, que envolve modelos mentais, crenas e percepes.
Dessa maneira, a noo de conhecimento desses autores confere grande nfase s intuies,
ideais, valores, emoes, imagens e smbolos.
Mitzenberg (1995), por sua vez, foi, provavelmente, um dos primeiros tericos organizacionais
a trazer a questo do real processo de aprendizado individual e da intuio para o centro das
atenes da teoria gerencial. Em sua tese de doutoramento realizada nos anos 1970, ele
acompanhou o processo de tomada de deciso gerencial, seg