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CASO: SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA N. º 175

1. INTRODUÇÃO

O caso diz respeito a uma jovem, Clarice Abreu, portadora da patologia denominada NIEMANN-PICK tipo C, doença neurodegenerativa rara, que causa uma série de distúrbios neuropsiquiátricos, tais como movimentos involuntários, ataxia da marcha e dos membros, limitações de progresso escolar e paralisias progressivas. Para o seu tratamento ela precisava usar um medicamento específico, o ZAVESCA, que poderia possibilitar um aumento de sobrevida e melhora na qualidade de vida.

Entretanto, esse remédio não estava disponível no SUS e para ter acesso a esse tratamento que custava 52 mil reais por mês os quais ela não tinha condições de pagar, a jovem entrou com um pedido ao STF e enquanto não havia acontecido o julgamento o fornecimento do medicamento foi autorizado. Entretanto a União entrou com um pedido de suspensão desse recurso.

2. ARGUMENTOS

2.1 FAVORÁVEIS

2.1.1 O medicamento não tinha registro na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária) e isso proibiria sua comercialização no Brasil.

2.1.2 A liberação do medicamentos causaria grave lesão às finanças e à saúde

públicas, com o desembolso de grande quantia para a aquisição do

medicamento de alto custo, o que implicaria no deslocamento de esforços e

recursos estatais, na descontinuidade da prestação dos serviços de saúde ao

restante da população e a possibilidade de efeito multiplicador.

2.1.3 Violação do princípio da separação de poderes e as normas e regulamentos

do SUS por parte do Judiciário ao fornecer o medicamento.

2.2 CONTRÁRIOS SEGUNDO GILMAR MENDER

2.2.1 Não havia elementos fáticos e normativos que comprovassem grave lesão à

ordem, à economia, à saúde e à segurança publica, como foi alegado pela

União.

2.2.2 Existe a comprovação de que haviam provas pré-constituídas em laudo

médico realizado pelo Hospital Sarah (que é uma instituição de referência

nacional), certificando a essencialidade do medicamento para o aumento da

sobrevida e de qualidade de vida da paciente.

2.2.3 O artigo 196 da Constituição Federal que diz respeito ao Direito à Saúde

consta que é:

 “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais

e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros

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agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a

sua promoção, proteção e recuperação”. 

2.2.4 O artigo 23, inciso II, também da Constituição Federal, reforçado pelos

princípios do acesso igualitário e universal, enaltece a responsabilidade

solidária dos entes federados ao constatar que :

“é competência comum da União, do Estado, do Distrito Federal e dos

Municípios cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia

das pessoas portadoras de deficiência”.

2.2.5  O alto custo do medicamento não é, por si só, motivo para o seu não

fornecimento, visto que a Política de Dispensação de Medicamentos

excepcionais tem justamente por  objetivo dar acesso a população acometida

por enfermidades raras aos tratamentos disponíveis.

2.2.6 Caso o SUS não tenha incorporado o medicamento, ele pode fornecer um

tratamento alternativo, podendo não ser adequado a situação do paciente, ou

pode não ter nenhum tratamento especifico para determinada patologia. Diante

disso, o Poder Judiciário ou a própria Administração podem decidir que medida

diferente da custeada pelo SUS deve ser fornecida para determinada pessoa,

desde que seja comprovado que o tratamento fornecido pelo SUS não seja

eficaz no seu caso. 

3. CONCLUSÃOAnalisando ambos os lados, o ministro Gilmar Mendes negou o pedido de suspensão de tutela antecipada levando em consideração o direito à saúde assegurado pela Constituição. Ele também ressaltou que os argumentos utilizados pela União de efeito multiplicador e lesão à ordem não é pertinente, sendo preciso analisar cada caso de forma particular. Caso a decisão fosse suspensa iria ocorrer uma grave lesão em sentido inverso, ou seja, a prejudicada seria Clarice e não a União.

4. RELAÇÃO COM A DISCIPLINAA dependência de recursos econômicos para a efetivação dos direitos de caráter social, como a saúde, leva parte da doutrina a defender que as normas que consagram tais direitos assumem a feição de normas programáticas dependentes da formulação de políticas públicas para se tornarem exigíveis. Essas políticas públicas devem ser formuladas e consolidadas pelo Executivo e pelo Legislativo, porém quando há omissão desses dois poderes o Judiciário pode intervir, como ocorreu nesse processo.


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