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  • Caos, complexidade e LingsticaAplicada: dilogos transdisciplinares

    Antnio Carlos Soares MartinsUniversidade Estadual de Montes Claros

    Jnia de Carvalho Fidelis BragaUniversidade Federal de Minas Gerais

    RESUMO: Neste texto, apresentamos um panorama de estudos na rea daLingstica Aplicada que discutem questes relativas ao processo dedesenvolvimento de segunda lngua, bem como aspectos relacionados aosambientes interacionais de aprendizagem na perspectiva das teorias doCaos e Complexidade. Para isso, discutimos as principais noes daperspectiva da complexidade, retomando alguns aspectos da fsica clssicae contempornea.

    PALAVRAS CHAVE: teorias do caos e da complexidade; lingstica aplicada;transdisciplinaridade; aprendizagem de lnguas.

    ABSTRACT: In this paper, we present a panorama of studies in the area ofApplied Linguistics that discuss questions regarding second languagedevelopment as well as aspects related to interactional learning environmentsin the light of Chaos and Complexity theories. To accomplish this, we discussthe main notions of complexity through the rethinking of some aspects ofclassic and contemporary physics.

    KEY-WORDS: chaos and complexity theories; applied linguistics;transdisciplinarity; language learning.

    Surgida inicialmente nas cincias naturais, a teoria da complexidadetem sido cada vez mais utilizada para a compreenso de sistemas humanose sociais. Como destaca Morin (1990), a vida humana um fenmeno deauto-eco-organizao extraordinariamente complexo e, portanto, osfenmenos antropossociais no podem obedecer a princpios deinteligibilidade menos complexos do que aqueles requeridos para osfenmenos naturais.

    Nesse sentido, apresentamos contribuies na rea da LingsticaAplicada que compartilham o pensamento de que existem similaridadesentre as proposies das teorias do caos e da complexidade e os fenmenos

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    que se manifestam no processo de desenvolvimento1 de uma segundalngua.2

    Compartilhamos a idia de Demo (2002) de que o conhecimento e aaprendizagem so considerados atividades imbudas de processos nolineares, tanto em seu processo de formao e reconstruo quanto em suatessitura interna, uma vez que sinalizam fenmenos tipicamente complexos,porque no se exaurem em alinhamentos lgicos.

    O que a complexidade?

    primeira vista, a complexidade um fenmeno que acolhe umaextrema quantidade de interaes e de interferncia entre um grande nmerode unidades. Porm, a complexidade no compreende apenas quantidadesde unidades e interaes que desafiam at mesmo as possibilidades declculo; a complexidade compreende, efetivamente, o tecido deacontecimentos, aes, interaes, retroaes, determinaes, acasos queconstituem o nosso mundo fenomenal (MORIN, 1990, p. 20).

    Na cincia, a complexidade ainda um campo novo, abrangente,sem uma definio exata e limites palpveis, o que se d, principalmente,devido ao fato de a pesquisa nessa rea tentar explicar questes que desafiamtodas as categorias convencionais (WALDROP, 1992). Algumas dessasquestes, levantadas por Waldrop (1992), esto aqui resumidas em:

    1 Embora o termo aquisio seja consagrado nos estudos em Lingstica Aplicada,preferimos, neste trabalho, utilizar os termos aprendizagem, desenvolvimento eemergncia, que nos parecem mais adequados a uma perspectiva terica queconsidera toda a complexidade desses processos. Mantemos o termo aquisio aoreferirmo-nos a outros trabalhos que utilizam esse termo.2 Neste trabalho, utilizamos o termo segunda lngua para referirmo-nos a qualqueroutra lngua aprendida subseqentemente lngua materna. Reconhecemos asdistines e dualidades existentes na literatura da rea, mas alinhamo-nos a umaperspectiva terica que utiliza o termo segunda lngua para referir-se, de formageral, ao desenvolvimento de outras lnguas alm da lngua materna (ELLIS, 2003).Utilizamos o termo lngua estrangeira apenas em momentos particulares, quandofor relevante marcar que se trata de aprendizagem por meio de instruo formalem sala de aula em contexto em que a lngua em desenvolvimento no faladacomo lngua materna.

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    Por que a hegemonia poltica da Unio Sovitica entra em colapso em1989? Por que o colapso do comunismo foi to completo e to rpido?

    Por que o mercado de aes caiu mais de 500 pontos em um nico diaem outubro de 1987? Muitos culpam transaes comerciais realizadaseletronicamente, mas os computadores j eram utilizados h muitos anos.Alguma razo especfica para a queda da bolsa ter acontecido naqueladata em especial?

    Por que as espcies ancestrais e ecossistemas permanecem estveis emestado fssil por milhes de anos?

    De acordo com Waldrop (1992), num primeiro momento, as questessupracitadas tm a mesma resposta: ningum sabe. Algumas dessasquestes nem mesmo parecem questes cientficas. Entretanto, se analisadascriteriosamente, percebe-se que tm muito em comum: todas elas se referema um sistema complexo, considerando-se que muitos dos agentesindependentes interagem uns com os outros de diversas maneiras; em todosos exemplos, a riqueza das interaes permite que o sistema como um todopasse por uma auto-organizao espontnea.

    Inspirados nos estudos de Cameron (1999), Finch (2001, 2004), Larsen-Freeman (1997, 2000, 2002a), Paiva (2002, 2005, 2006), Bowsfield (2004),Parreiras (2005) e Van Lier (1996, 2002), que utilizam a teoria da complexidadepara iluminar seus estudos e reflexes sobre questes relacionadas ao ensinoe aprendizagem de lnguas, propomos o seguinte desafio para a rea daLingstica Aplicada:

    por que to difcil prever resultados de aprendizagem em uma salade aula presencial ou virtual onde os alunos aparentemente usufruemdas mesmas condies: professor, instituio, nvel social, materiais,recursos tecnolgicos, abordagem pedaggica etc.?

    O pensamento cientfico: do clssico ao contemporneo3

    Um dos primeiros movimentos cientficos no Mundo Ocidentalcomeou com a necessidade de explicar a natureza com base no menornmero possvel de elementos, representado pela escola de Pitgoras com

    3 As consideraes sobre o pensamento cientfico aqui apresentadas foram elaboradasa partir dos estudos de MacGill (2005), Rossi (2001) e Prass (2005).

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    promissores estudos como os de Euclides, na rea de geometria, deAristteles, na gravidade, entre outros.

    Tais iniciativas cientficas tiveram um declnio na Idade Mdia, masforam redescobertas com a conquista de novos mundos, dando origem aoMovimento Renascentista. Ren Descartes, um dos expoentes dessemovimento no campo das cincias naturais, prope pela primeira vez ummtodo que estabelece regras formais de investigao cientfica, retomandoo legado grego. A revolucionria proposta de Descartes conta com o apoioe adeso da comunidade cientfica da poca, marcando o incio dasistematizao da pesquisa cientfica. Como exemplo de estudos que aderiram metodologia cartesiana, podem-se citar os estudos sobre mecnica, deGalileu Galilei, os quais abrem novos horizontes para a matemtica modernae para a fsica experimental, servindo de fundamentao para estudosexpressivos na fsica como, por exemplo, os estudos de Newton.

    Foi com Newton, entretanto, que a cincia clssica chega ao seu apogeu.Newton, usando a intuio de Galileu de abstrair o que relevante do mundofsico, o mtodo de Descartes como guia metodolgico de investigao, ea metodologia axiomtica de Euclides para sistematizar suas descobertas,apresenta comunidade cientfica os princpios matemticos da filosofianatural.

    O extraordinrio sucesso dos trabalhos de Newton provocou umaprofunda mudana na viso de mundo, o que Kuhn (2005)4 chamaria dequebra de paradigma, com seus conceitos de espao e tempo absoluto, quepreviam a existncia do espao, independente do observador e de um tempoque flui, homogeneamente, tambm desvinculado do observador. Essesprincpios, associados obra Princpios Matemticos da Filosofia Natural,desenvolvida posteriormente por Newton, marcam o incio de uma visocientfico-filosfica de mundo, conhecida como determinismo mecanicista.

    Um dos desdobramentos dessa viso a tentativa de se descrever otodo reduzindo-o investigao das partes isoladas, dando origem ao quese denomina reducionismo. A ttulo de exemplo, basta pensarmos nas idiasnewtonianas de que o Universo um grande relgio (big clock), fazendoaluso ao fato de que para que possamos entender o funcionamento deum relgio, se faz suficiente estudar isoladamente suas partes constituintes.

    4 Thomas Kuhn, em seu texto seminal publicado inicialmente em 1962, foi oresponsvel por cunhar a expresso quebra de paradigma.

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    a era quntica, todavia, que desponta no fim do sculo XIX e queconduz a fsica sua fase contempornea. As possveis interpretaes damecnica quntica fazem florescer correntes cientfico-filosficas que doincio s novas vises de mundo, gerando hipteses que buscam a descrioda realidade objetiva.

    Das correntes atuais encontradas na fsica contempornea, pode-semencionar a Cincia da Complexidade, que inova ao propor uma visoholstica que incorpora a no-linearidade, a imprevisibilidade, o dinamismoda relao entre as partes, a alta sensibilidade s condies iniciais e auto-organizao de um fenmeno.

    A nova cincia

    Os conceitos bsicos que fundamentavam a concepo clssica domundo encontraram, hoje, seus limites num processo terico que oscientistas naturais no hesitam em chamar de metamorfose (PRIGOGINE;STENERS, 1984; PRIGOGINE, 1996). Essa concepo que prev a reduode um conjunto de processos naturais a um pequeno nmero de leis foiabandonada. No so mais as situaes estveis e permanentes queinteressam, mas as evolues, as crises e as instabilidades. Os pesquisadoresdas cincias naturais no esto mais interessados apenas no estudo do quepermanece, mas tambm no estudo do que se transforma, das perturbaesgeolgicas, climticas, da evoluo das espcies, da gnese, das mutaesdas normas que interferem nos comportamentos sociais.

    Waldrop (1992) defende que a viso mecnica do universo foiconsiderada inadequada para descrever fenmenos complexos uma vezque o universo, ao mesmo tempo em que integrado, incompreensvelem termos da mecnica e do pensamento linear,5 acolhendo, dessa forma,a inovao, a aprendizagem e a adaptao.

    Waldrop afirma, ainda, que um sistema complexo no sentido emque muitos agentes independentes esto interagindo um com o outro emum grande nmero de formas e, no mesmo pargrafo, ele inclui nosexemplos os milhes de indivduos mutuamente interdependentes queformam uma sociedade humana (WALDROP, 1992, p. 11, traduo nossa).Assim, um sistema complexo composto de elementos cuja interao

    5 Entende-se por pensamento linear as idias que consideram causa e efeitodiretamente proporcionais.

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    produz um evento global que diferente da soma de suas aes individuais(LEWIN, 1994; WALDROP, 1992).

    Nos sistemas adaptativos complexos (SACs), no possvel realizarprevises de longo prazo, mas podem ser encontrados padres quepermitem, com certo grau de possibilidade de acerto, realizar previses acurto prazo. A meteorologia, por exemplo, tendo como base padresobservados, realiza previses para uma semana com uma margem de errorazoavelmente pequena. Previses para meses ou anos so realizadas, masa possibilidade de erro bem maior, considerando que estmulos pequenospodem levar a conseqncias dramticas (LEWIN, 1994, p. 23).

    Alm disso, esses tipos de sistemas possuem a capacidade de adaptao,o que leva auto-organizao e, conseqentemente, emergncia de novospadres e comportamentos (HOLLAND, 1997). Um SAC composto deagentes que interagem dinamicamente e adaptam-se uns aos outros e aoambiente, pois so sensveis ao feedback e procuram acomodao mtuapara obter a otimizao dos benefcios que garantiro a sua sobrevivncia.Essas interaes e adaptaes possibilitam que os agentes de um sistemase auto-organizem, criando novos padres e comportamentos. Uma outracaracterstica dos SACs a capacidade dos agentes de antecipar eventoscom base em experincias anteriores. Segundo Holland (1997, p. 25),

    a infinidade de interaes, modificaes por alteraes aprendidas, dorigem capacidade nica que candeos, felinos, primatas e outrosmamferos possuem de anteciparem as conseqncias das suas aesatravs da modelao dos respectivos mundos.

    Essa capacidade de antecipao, no entanto, no uma especificidadedos mamferos, mas uma caracterstica geral dos SACs. Uma bactria, porexemplo, capaz de se mover na direo de um gradiente qumico,prevendo implicitamente que a comida se encontra nessa direo(HOLLAND, 1997, p. 57).

    A teoria da complexidade apia-se na idia de que a ordem emergedas interaes entre os organismos ou agentes. Embora essas interaesentre os agentes possam seguir regras simples, sistemas complexos socapazes de inovao por meio dos processos de adaptao e auto-organizao que levam emergncia de novos padres.

    No contexto educacional, dentro dessa perspectiva, cabe questionarcomo pode o pensamento complexo contribuir para a pesquisaeducacional e como a pesquisa educacional contribui para o pensamento

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    complexo (DAVIS; SUMARA, 2006, p. 8, traduo nossa). As discussespropostas neste trabalho seguem a idia defendida por Davis e Sumara deque o pensamento complexo no surge sobre, mas surge entre outrosdiscursos e impulsionado por atitudes de investigao que consideramque as aes de alguns sistemas contribuem para a transformao de suasprprias possibilidades (DAVIS; SUMARA, 2006, p. 8, traduo nossa).

    Estudos na Lingstica Aplicada sob a perspectiva da complexidade

    As teorias do caos e da complexidade tm sido foco de crescenteinteresse na rea de Lingstica Aplicada (LA) e, mais especificamente, nosestudos sobre ensino e aprendizagem de lnguas. A publicao do artigode Larsen-Freeman (1997) Chaos/Complexity Science and SecondLanguage Acquisition na Applied Linguistics tem sido considerada comoo marco da entrada dessas teorias no campo da LA. De fato, esse foi oprimeiro trabalho especialmente devotado s teorias do caos e dacomplexidade como metfora para a compreenso dos processosenvolvidos na aprendizagem de lnguas, publicado em um grande peridicoespecializado da rea de LA.

    No entanto, outros trabalhos anteriores j haviam refletido sobre algunsaspectos da teoria do caos como Bowers (1990), Diller (1990), Lewis (1993),Taylor (1993) e da complexidade por Syverson (1994), Connor-Linton (1995)e Van Lier (1996) e suas implicaes para o ensino e para a aprendizagemde lnguas.

    O trabalho de Bowers, apresentado em 1990 na GeorgetownUniversity Round Table on Language and Linguistics, levanta algumasquestes que a teoria do caos pode trazer para as pesquisas em ensino eaprendizagem de lnguas. Bowers tem sido citado por outros autores,particularmente, no que se refere ao uso de metforas advindas da teoriado caos para iluminar questes de interesse da Lingstica Aplicada. Esseautor ressalta a importncia das metforas, afirmando que voc no valgo at que tenha as metforas corretas para perceb-lo (BOWERS, 1990,p. 132, traduo nossa). Ele afirma que as metforas dominantes naspesquisas em ensino e aprendizagem de lnguas so essencialmentehierrquicas e lineares. Segundo ele as metforas ao mesmo tempo guiame restringem a nossa maneira de pensar sobre ensino, aprendizagem,avaliao, lngua, o professor, o aluno (BOWERS, 1990, p. 128, traduonossa).

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    Diller (1990) e Lewis (1993), fundamentando-se na teoria do caos,incorporam o princpio da no-linearidade s suas discusses sobre o ensinoe a aprendizagem de lnguas. Diller discute a aprendizagem de lnguas comfoco nos mtodos de ensino, enquanto Lewis concentra-se no desenvolvimentoda sua abordagem lexical de ensino de lnguas.

    Taylor (1993) utiliza em sua tese a teoria do caos e a geometria fractalpara analisar a escrita de alunos de ingls como segunda lngua emconferncias sincrnicas on-line. Esse autor ressalta que, em seu estudo,os mtodos de anlise no foram diretamente importados da teoria do caos.Essa teoria utilizada essencialmente como uma metfora para a anlisedos textos eletrnicos. Segundo ele apropriaes responsveis de teoriacientfica requerem que o pesquisador esclarea se a teoria est sendo usadametafrica ou metodologicamente (TAYLOR, 1993, p. 148, traduo nossa).

    Isso, no entanto, no desvaloriza, segundo o autor, a aplicao demetforas advindas das cincias naturais a outras reas. De fato, asmetforas da cincia influenciam a construo de conhecimento na culturamais ampla, e grandes metforas culturais influenciam como os cientistasconstroem suas pesquisas (TAYLOR, 1993, p. 148-149, traduo nossa).

    O autor conclui que o caos parece ter ocupado a posio de se tornara metfora dominante que tanto cria quanto gerencia a complexidade nacultura ps-moderna.

    A tese de Syverson (1994) , segundo Nelson (2002), a primeiraaplicao emprica da teoria da complexidade nos estudos sobre odesenvolvimento da escrita. Sua anlise pauta-se pelas prticas de escritade um poeta, de acadmicos e pesquisadores em uma lista de discussovia e-mail e de estudantes de um curso de escrita em lngua inglesa. Essapesquisadora prope o termo ecologia da composio como umaunidade diferente de anlise que envolve a compreenso dos escritores,dos textos e da audincia e observa que o indivduo e o ambiente seinfluenciam mutuamente em um processo interconectado de adaptaoatravs do tempo.

    Connor-Linton (1995) retoma e estende o modelo de Bowers,apoiando-se em Waldrop (1992) para abranger questes mais amplas dacomplexidade, como adaptao e auto-organizao, no consideradas notrabalho de Bowers. Tambm percebe, aps descobrir a literatura popularsobre a pesquisa em complexidade, que muitos aspectos descobertos pelospesquisadores da cincia da complexidade proporcionavam um novo olhar

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    sobre a linguagem e surpreendeu-se por essa noo, aparentemente, noestar sendo aplicada linguagem (WALDROP, 1992). Porm, aps aapresentao oral do seu trabalho, muitos lingistas lhe informaram quetrabalhavam com a noo de complexidade.

    Aps examinar as descries e exemplos de complexidade oferecidospor Waldrop (1992) e acrescentar exemplos prprios, Connor-Linton discuteas possveis conexes da teoria da complexidade com a linguagem e oensino de lnguas. Segundo esse autor, seu objetivo no construir umanova teoria da complexidade lingstica, mas sugerir o valor potencialdo construto da complexidade [...] para um nmero de questes emlingstica e em ensino de lnguas (CONNOR-LINTON, 1995, p. 596,traduo nossa).

    Na mesma direo, Van Lier (1996), em sua discusso sobre ainterao no currculo de ensino de lnguas, compreende o contextoeducacional e a sala de aula como um sistema complexo.

    Esses trabalhos apontaram para algumas contribuies das teoriasdo caos e da complexidade para o ensino de lnguas, contribuies essasque foram retomadas e ampliadas por Larsen-Freeman (1997). Embora taistrabalhos tenham tocado em alguns aspectos dessa questo, eles nocausaram, na ocasio, grande repercusso na rea. Assim, pertinente dizerque foi Larsen-Freeman (1997) quem trouxe as teorias do caos e dacomplexidade para a arena da Lingstica Aplicada. Nesse artigo, a autorachama a ateno para diversas similaridades existentes entre os sistemascomplexos encontrados na natureza e a aprendizagem de segunda lngua.

    Discutindo questes relativas interlngua, s diferenas individuais,aos efeitos da instruo, Larsen-Freeman defende que em sistemas nolineares, como a aprendizagem de segunda lngua, o comportamento dotodo emerge da interao das partes. Sendo assim, estudando as partesisoladamente, uma por uma, estaremos tratando de cada parte e no damaneira em que as partes interagem. A autora ainda nos chama a atenopara tendncia de se buscarem solues simples, prematuramente, parasistemas como a aprendizagem de segunda lngua, que contam comproblemas complexos.

    Aps a publicao do trabalho de Larsen-Freeman (2007), diversostrabalhos tm refletido sobre as implicaes da complexidade para acompreenso das relaes de ensino e aprendizagem de lnguas. Uma dasimplicaes dessa perspectiva, segundo a autora, que desencorajaexplicaes reducionistas aos eventos de ensino e aprendizagem de lnguas.

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    Van Lier (1997) apresenta a perspectiva ecolgica aprendizagemde lnguas como uma alternativa para analisar os contextos em que os usose a aprendizagem de lnguas esto situados. Sua abordagem ecolgica daeducao lingstica gira em torno de quatro perspectivas essenciais: a) asemitica, ou a cincia da comunicao e usos de signos; b) a ecologia,ou o estudo dos inter-relacionamentos complexos entre os organismos noe com o seu ambiente; c) a interao e a ao significativas comoinvestigadoras da aprendizagem; e d) as teorias do caos e da complexidadecomo modelos cientficos para estudar os processos e desenvolvimentosque esto alm dos mecanismos lineares causa-efeito ou input-output.

    A abordagem ecolgica da aprendizagem de lnguas, desenvolvidasob a perspectiva sociocultural e apoiada na teoria da complexidade,prope uma anlise dos ambientes de aprendizagem que considere asdiversas interaes entre seus componentes e com o ambiente social maisamplo (VAN LIER, 1996, 1997, 2000, 2004; TUDOR, 2001, 2003; LAM;KRAMSCH, 2003). Nesse sentido, as interaes dos estudantes com oprocesso de aprendizagem (inclusive com os demais participantes) surgemde um complexo de atitudes que so especficas a cada um como indivduo,bem como de suas relaes com o meio no qual esto inseridos (TUDOR,2001). Nessa perspectiva, a sala de aula de lnguas compreendida comoum sistema adaptativo complexo no qual interaes em um nvel local levamao surgimento de propriedades emergentes em um nvel global. Em umSAC, agentes individuais interagem entre si e adaptam-se uns aos outros eao ambiente. Isso acontece porque os agentes so sensveis ao feedback ebuscam a acomodao mtua e a otimizao dos benefcios (NELSON,2004). Essas interaes e adaptaes possibilitam que os agentes de umsistema se auto-organizem, levando, assim, emergncia de novos padrese comportamentos.

    Fundamentando-se no trabalho de Larsen-Freeman (1997) e diversosautores das teorias do caos e da complexidade, Paiva (2002) faz uma revisodos principais modelos de aquisio de segunda lngua e prope um modelobaseado na teoria dos sistemas complexos. Este foi o primeiro trabalhorealizado no Brasil na rea de Lingstica Aplicada que procuroucompreender o processo de desenvolvimento de uma segunda lngua comoum sistema complexo. O seu modelo, denominado Modelo Fractal deAquisio de Lnguas, foi desenvolvido em um trabalho posterior (PAIVA,2005b) e incorporado em suas investigaes sobre a questo da autonomia

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    de aprendizes (PAIVA, 2006) e sobre o desenvolvimento das habilidadesorais (PAIVA, no prelo). A partir de narrativas de aprendizagens deaprendizes de ingls, francs, alemo, italiano e espanhol, a pesquisadoraencontra evidncias de que a aprendizagem de uma segunda lngua umfenmeno complexo. Tambm observa que os processos de aprendizagemno so semelhantes, mas, sim, caticos e imprevisveis. O incio de tudo,segundo ela, a desordem, mas, dentro da aparente desordem, uma ordemse estabelece. A aprendizagem de lnguas, como um fenmeno complexo,est em constante evoluo e as alteraes no sistema, que acontecem deforma imprevisvel, podem promover mudanas que levaro a resultadosinesperados.

    Seguindo essa tendncia, em 2002 publicado o livro LanguageAcquisition and Language Socialization: ecological perspectives, quereuniu pesquisadores renomados em diversas reas da LA, comopsicolingstica, sociolingstica, lingstica antropolgica e lingsticaeducacional. Embora com perspectivas diversas, os trabalhos reunidos nesselivro alinham-se metfora da ecologia, procurando superar a correntedisputa entre os paradigmas da aprendizagem e da socializao. Talmetfora, que captura a interao dinmica entre os usurios de uma lnguae o ambiente como entre as partes de um organismo vivo, parece ofereceruma nova forma de reunir perspectivas de vrias disciplinas para iluminaras complexas relaes sob investigao (KRAMSCH, 2002, p. 3).

    O livro Ecology of Language Aqcuisition de Leather e Van Dam (2003)tambm agrupou pesquisadores com perspectivas diversas, porm sob aconcepo de ecologia da aprendizagem de lnguas e compreendendo osprocessos cognitivos dos indivduos como intrinsecamente interligados comsuas experincias no mundo fsico e social. Reunindo trabalhos comperspectivas mltiplas, esse livro enfoca a emergncia do desenvolvimentolingstico por meio da interao dos aprendizes (crianas ou adultos) como seu ambiente (espacial, social, educacional etc.) nos processos deaquisio de primeira lngua, de segunda lngua e, at mesmo, de aquisiode linguagem por parte de robs.

    Inspirados nas contribuies de Paiva (2002), Fleischer (2003) eParreiras (2005) incorporaram as teorias do caos e da complexidade emsuas investigaes sobre eventos de ensino e aprendizagem, especialmenteem contextos de educao on-line. Fleischer, em sua anlise dascontribuies da colaborao on-line para o desenvolvimento profissional

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    de professores de lnguas, analisa a aprendizagem a partir dos fundamentosda teoria do caos. Segundo ele, compreender a aprendizagem a partir dessaperspectiva til na medida em (sic) que se deixa de buscar ou esperarresultados lineares e que se leva em considerao o grande nmero defatores inter-relacionados ao se tentar deduzir relaes de causa e efeito(FLEISCHER, 2003, p. 18). Parreiras (2005) analisa a sala de aula on-linesob a perspectiva da teoria da complexidade e observa que os fluxosinteracionais estabelecidos nas salas de aulas digitais se caracterizam comosistemas complexos, apresentando indcios de imprevisibilidade,sensibilidade s condies iniciais, interatividade, adaptabilidade edinamismo e auto-organizao.

    Para Parreiras (2005), a sala de aula, na perspectiva dos sistemascomplexos, funciona como organismo cujos elementos so responsveispela sua evoluo, a qual se torna possvel por meio das interaes entretodos os fatores envolvidos. O autor ainda enfatiza que essa interao sed tanto internamente (na sala de aula, por exemplo) quanto em sistemasexternos (a prpria escola, comunidade, sistema educacional) de formadinmica e interdependente.

    O livro The Ecology and Semiotics of Language Learning: asociocultural perspective de Van Lier (2004), oferece uma ampla ecompreensiva abordagem da ecologia da aprendizagem, tanto em termostericos quanto em relao s suas implicaes prticas. Incluindo a teoriasociocultural, a semitica, a teoria da complexidade, entre outras, esse livrofaz uma consistente reviso das teorias de aprendizagem de lnguas eapresenta o desenvolvimento lingstico (L1 e L2) como um fenmenoemergente. Essa perspectiva ecolgica, segundo Van Lier, uma maneirade pensar sobre ensino e aprendizagem em toda a sua complexidade, umaforma de olhar para a linguagem como uma ferramenta de muitos usos ecomo uma componente chave em todas as atividades de construo desentido humanas (VAN LIER, 2004, p. 224, traduo nossa).

    Em 2006, a revista Applied Linguistics dedicou uma edio especialintegralmente s contribuies da Teoria da Complexidade para aLingstica Aplicada, mais especificamente compreenso da linguageme da aprendizagem de lnguas como fenmenos emergentes, partindo dapremissa de que a linguagem um sistema dinmico cujas propriedadesem interao no so redutveis soma de suas partes (COOK; KASPER,2006, p. 554, traduo nossa). Os artigos dessa edio especial, informados

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    por uma perspectiva emergentista, procuram explicar as sistematicidadesque surgem do desenvolvimento da lngua do aprendiz de segunda lngua,a criao e evoluo de redes lexicais, a adaptao dinmica que ocorredurante a interao e mesmo na evoluo e mudana da lngua (ELLIS;LARSEN-FREEMAN, 2006, p. 578, traduo nossa). Essa viso emergentistada aprendizagem de lnguas, segundo Cook e Kasper (2006), oferece umasoluo coerente para diversas questes acerca do desenvolvimentolingstico, tais como a divergncia de estratgias desenvolvimentais, comoo trabalho de Larsen-Freeman (2006), a multi-direcionalidade detransferncia lxica, como o trabalho de Meara (2006), e o problema dapobreza ou indeterminao do estmulo levantado pela teoria gerativa, comoo trabalho de Mellow (2006).

    Nesse sentido, Ellis (2007) ressalta que, se acreditarmos que asistematicidade e dinamicidade da aprendizagem de lnguas no soguiadas por uma gramtica universal nem se trata de simples imitao,precisaremos procurar explicaes emergentistas.

    Leffa (2006), apoiando-se nos trabalhos de Paiva (2002) e de Larsen-Freeman (1997), parte do pressuposto de que a aprendizagem de lnguas um sistema muito complexo para que possa ser explicado por meio deuma nica teoria de aprendizagem e prope uma abordagem transdisciplinarna pesquisa e no ensino de lnguas.

    Motivados pela nova perspectiva e pelos estudos de Larsen-Freeman(1997, 2002a, 2006), Van Lier (1996, 1997, 2000, 2002, 2004), Tudor (2001,2003), Fleischer (2003), Parreiras (2005), Paiva (2002, 2005a, 2006), entreoutros, um grupo de estudos6 em desenvolvimento vem utilizando a teoriada complexidade como base epistemolgica para a compreenso defenmenos diversos relacionados aos processos de ensino e aprendizageme, em particular, em contextos de educao on-line.

    No contexto interacional mediado pela linguagem e tecnologia essegrupo conta com dois estudos empricos voltados para a melhorcompreenso do funcionamento de comunidades de aprendizagem: oprimeiro,7 volta-se para investigaes sobre a colaborao e desenvolvimentoda reflexo crtica em grupos on-line que interagem sem a interferncia

    6 Grupo de Pesquisa do Programa da Ps-Graduao em Estudos Lingsticos daUFMG, orientado pela Prof. Dr. Vera Menezes de Oliveira e Paiva.7 Jnia de Carvalho Fidelis Braga, doutoranda do PosLin-UFMG.

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    direta do professor; e o segundo8 busca compreender os eventos interativosocorridos nas aulas on-line e face-a-face em um curso de escrita em lnguainglesa como lngua estrangeira. Em uma perspectiva ecolgica, osparticipantes so compreendidos como essencialmente interligados entresi e com o seu ambiente. Assim, o ambiente de ensino e aprendizagem delnguas configura-se como um sistema complexo e suas atividades surgeme definem-se por processos de emergncia, adaptao e auto-organizao.

    Ainda na perspectiva colaborativa on-line, um terceiro estudo9

    discute, luz da teoria scio-cultural e da perspectiva da complexidade,como o processo das trocas de e-mails provoca a dinmica no-linear deum sistema (curso virtual) de interao scio-educacional mediado porcomputador. Sua anlise visa apontar no s as evidncias que corroborama natureza complexa da dinmica no-linear (catica) dos movimentos queconfiguram o sistema do curso mas tambm os aspectos que podem seconfigurar em categorias de andaimes scaffolding conceito tomado apartir das propostas de Wood, Bruner e Ross (1976) e de Cazden (1979),providos, colaborativamente, entre os participantes.

    Dois outros estudos esto sendo desenvolvidos com foco em ensinoe aprendizagem de lnguas. Um deles10 apia-se nas caractersticas dosSistemas Complexos, descritas por Holland (1997), e nos conceitos deAtratores Estranhos e Fractais da Teoria do Caos, de acordo com Stewart(1991), e procura entender a inter-relao entre desenvolvimento ereconstruo de identidades pela perspectiva do Caos e dos SistemasComplexos com foco na emergncia de mltiplas identidades via discursoe demonstrando como a interao entre esses mltiplos eus pode tantocontribuir quanto impedir o processo de desenvolvimento de LE entendidotambm como um sistema complexo. O outro estudo11 investiga o processode evoluo da competncia comunicativa de professores de ingls inseridos

    8 Antnio Carlos Soares Martins, doutorando do PosLin-UFMG, afiliado UniversidadeEstadual de Montes Claros e ao Centro Federal de Educao Tecnolgica de Januria,MG.9 Valdir Silva, doutorando do PosLin-UFMG, afiliado Universidade do Estado de MatoGrosso.10 Liliane Assis Sade, doutoranda do PosLin-UFMG, afiliada Universidade Federalde So Joo Del Rei, MG.11 Rita de Cssia Augusto, doutoranda do PosLin-UFMG, afiliada ao Colgio Tcnicoda Universidade Federal de Minas Gerais.

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    num contexto de educao continuada, fundamentando-se no modelo decompetncia comunicativa proposto por Bachman (1990) e nas teorias docaos e da complexidade. Sua pesquisa almeja refletir sobre alguns dadosque evidenciam a no-linearidade do processo de desenvolvimento de umalngua estrangeira.

    Consideraes finais

    As contribuies aqui discutidas parecem compartilhar o pensamentode que a perspectiva da complexidade nos encoraja a reconhecer aexistncia de relaes que sustentam os fenmenos. Muito se pode aprenderse dividirmos um determinado equipamento para vermos o que cada partefaz para que ele funcione, idia original do reducionismo. Entretanto, nemtudo pode ser examinado dessa forma. Parafraseando MacGill (2005),dissecando um rato aprendemos sobre suas partes, mas dissec-lo implicamat-lo, o que nos impede de saber o que lhe d vida. Muitas vezes, se faznecessrio tomar um posicionamento que contemple o dinamismo de umtodo para que se possa melhor entender como suas partes funcionam e oque as interaes dessas partes podem fazer emergir.

    Trazido inicialmente para o campo da LA a partir de iniciativasisoladas, o paradigma da complexidade, gradativamente, tem se firmadocomo uma base epistemolgica consistente para a compreenso doscontextos e eventos envolvidos nas atividades de ensino e aprendizagemde lnguas. Esses eventos relativos ao processo de aprendizagem de segundalngua, assim como o universo, so essencialmente complexos.

    A natureza complexa dos fenmenos levou os cientistas clssicos aestabelecer procedimentos metodolgicos que reduziam os fenmenos condio de anlise vislumbrada ento. Nas palavras de Kuhn, essasrestries, nascidas da confiana no paradigma, revelaram-se essenciaispara o desenvolvimento da cincia (KUHN, 2005, p. 5).

    Os avanos cientficos e tecnolgicos advindos desses esforosestabeleceram como paradigma confivel a viso reducionista da cinciaclssica. A emergncia de um outro olhar nos permite ver certos aspectosem um fenmeno, muitas vezes, no contemplados por um nicoparadigma. Essa idia se alinha ao pensamento de Halliday (2001) de queo ensino de uma segunda lngua demasiadamente complexo emultifacetado para ser analisado a partir de uma nica perspectiva, sejaela qual for. Nesse foco, Larsen-Freeman (2002b) ressalta que uma das

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    contribuies do paradigma da complexidade que ele possibilita no srever nossas maneiras de conceitualizao mas tambm nos permiteperceber as concepes subjacentes aos paradigmas mais tradicionais.

    Nessa direo, Lantolf (2002) nos lembra que o campo da LA est toprofundamente investido da metfora computacional que concebe a mentecomo uma mquina, herdada da lingstica chomskiana e da cincia cognitiva,que ela raramente reconhecida como metfora. As metforas, quandoamplamente operacionalizadas nas culturas de pesquisa e na cultura emgeral, acabam por se tornar invisveis. Assim, corre-se o risco de as pessoas,no vendo suas prprias metforas como tal, conceberem-nas como verdade.Essas novas metforas, portanto, podem possibilitar-nos perceber e questionarmetforas j naturalizadas em nossa tradio de pesquisa e, dessa forma,expandir a percepo da natureza complexa de nossos objetos de estudo.

    Uma vez que o panorama apresentado envolve tanto questes tericasquanto implicaes pedaggicas, esperamos que ele possa servir decontribuio para novos desafios e questes para novos estudos na reada Lingstica Aplicada.

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