Download - Cantigas de Roda
PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE EDUCAÇÃO
BRINCADEIRAS DE RODA, CANTIGAS E PARLENDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
AVARÉ
2011
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BRINCADEIRAS DE RODA, CANTIGAS E PARLENDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
AVARÉ
2011
Monografia apresentada à Faculdade da Aldeia de Carapicuíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Arte Educação.
Orintador (a) Prof (a):
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Brincadeiras de Roda, Cantigas e Parlendas na Educação Infantil/ XXXXXXXXXXXXXXXXXX – Avaré, 2011, 42 pg.
Monografia – Faculdade da Aldeia de Carapicuíba. Pós-graduação. Arte Educação.
Orientador(a):
1. (Brincadeira) 2 (educação) 3 (professor)
BRINCADEIRAS DE RODA, CANTIGAS E PARLENDAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Aprovada em ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
ORIENTADOR
_____________________________________________
PROFESSOR
______________________________________________
PROFESSOR
“A educação qualquer que seja ela é sempre uma teoria do conhecimento
posto em prática”.
Paulo Freire
RESUMO
Vemos atualmente cada vez mais crianças miniaturizadas, pequenos adultos, estimulados ao consumismo, conectados passando mais tempo em frente aos computadores que em sala de aula. Nossa educação tem demonstrado problemas graves na formação dos alunos, problemas disciplinares, dificuldades de alfabetização e aprendizado são uma constante dentro da escola pública. Falar de cantigas e brincadeiras na educação quando a realidade nos mostra dificuldades graves de relacionamentos entre professor e educando, parece uma solução quase abstrata, incapaz de resolver ou melhorar essa dura realidade. As brincadeiras, sempre vistas como forma de divertimento, são também formas de evolução física, emocional e cognitiva da criança, que através do ato de brincar encontra seu equilíbrio e desperta suas ideias, criatividade e fantasia. Assim nos dias atuais existe a necessidade de se resgatar antigas tradições, como as cantigas, brincadeiras de roda e parlendas que tanto animaram o imaginário de nossos pais e avós, uma tradição tão antiga mesclando história e folclore, realidade e fantasia, lendas indígenas com européias. Se considerarmos a escola como fonte base da socialização e desenvolvimento da criança com relação à realidade, é preciso buscar o desenvolvimento de novos instrumentos com base na ludicidade das brincadeiras e jogos, cantigas e parlendas, como forma de renovação do aprendizado. Redescobrir a alegria de brincar, despertar a fantasia sufocada pela pesada influencia das mídias, perdida no cotidiano apressado de pais e professores. O resgate do lúdico dentro da escola, no ensino fundamental e principalmente na educação infantil com certeza vem contribuir para a melhora dessa realidade, desse aprendizado dificultoso, talvez não neste momento, mas a médio e longo prazo. Não apenas como entretenimento, as brincadeiras criam uma forma de cooperação ensino-aprendizagem, real-imaginário, trazendo para o cotidiano da criança algo que ela conhece e faz muito bem, desenvolvendo sua curiosidade, comunicação, interação com o meio e com os colegas. Resgatando o folclore estamos renovando nossa cultura, fortalecendo nossa história nossas raízes. Nossa educação já teve momentos mais completos, quando contava até mesmo com a disciplina de Educação Musical em seu currículo, quando nossa cultura se destacava, os professores eram chamados de mestres e tinham por função formar indivíduos cultos e capazes. Precisamos de uma educação voltada para a infância, com brincadeiras e jogos que estimulam o
desenvolvimento dos alunos, facilitam a transição do ambiente familiar para o escolar, superando as dificuldades de adaptação encontradas muitas vezes nessa mudança. As Cantigas de Roda e Parlendas formam uma proposta pedagógica completa capaz de melhorar o aprendizado da criança, desenvolver sua escrita e sua compreensão de textos, a coordenação motora e sua capacidade de se relacionar e interagir em grupo e em sociedade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................7
CAPITÚLO I.............................................................................................................................10
1 CANTIGAS, BRINCADEIRAS DE RODA, EDUCAÇÃO MUSICAL E NOSSA HISTÓRIA.............................................................................................................................10
2 CANTIGAS, BRINCADEIRAS DE RODA E A FAMÍLIA.............................................13
CAPÍTULO II............................................................................................................................19
1 VIVÊNCIA DO FOLCLORE MUSICAL NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO INFANTIL...............................................................................................................................................19
2 CANTIGAS E BRINCADEIRAS DE RODA E A PRÁTICA DE ENSINO..................23
3 TRABALHANDO AS CANTIGAS DE RODA E PARLENDAS...................................29
CAPÍTILO III.............................................................................................................................35
1 TIPOS DE CANÇÕES, CANTIGAS E BRINCADEIRAS DE RODA..........................35
1 1 Acalantos....................................................................................................................35
1 2 Parlendas...................................................................................................................35
1 3 Brincadeiras de Escolha e Pegador.......................................................................35
1 4 Rodas Cantadas........................................................................................................36
1 5 Ladainhas para saltar corda....................................................................................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................38
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INTRODUÇÃO
O brincar é sem dúvida um meio pelo qual os seres humanos exploram
uma multiplicidade de experiências nas mais variadas situações e propósitos.
O presente trabalho além de buscar uma compreensão melhor da autora
com relação ao aprendizado infantil também deseja avaliar a importância da
educação lúdica dentro do ambiente escolar, como as brincadeiras de roda,
cantigas e parlendas, e os benefícios de uma educação musical para a criança
ainda no inicio da aprendizagem, bem como a abrangência e o resgate do
contexto histórico cultural.
Abordando o mérito no ensino de música mesclado ao brincar e ao
desenvolvimento infantil na escola, levando em consideração juntamente aos
benefícios das manifestações culturais transmitidas por seus pais e avós no
cotidiano familiar e social em que elas estão inseridas. A cultura é a
decorrência da construção histórica da humanidade, suas origens e raízes,
baseando em sua habilidade de expressão por mais simples que pareça.
A criança em seu desenvolvimento precisa aliviar de alguma forma toda
a sua energia, precisa explorar sua criatividade impulsiva e pulsante. Para isso
são necessárias atividades capazes de estimular essa imaginação tornando a
mais produtiva, incitar o ato de brincar, de redescobrir o mundo ao seu redor e
de se relacionar com seus colegas. Fazê-la participar dos acontecimentos e
dos movimentos como a dança, seja em grupos ou em momentos individuais,
descobrir ou construir novos elos sociais.
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Entendendo que a premissa do papel da escolar é sempre visto como o
de garantir o aprendizado seja ele qual for, mediante um espaço apropriado
para as atividades destinadas, tanto dentro como fora de sala de aula. Assim
por essa definição a escola tem como função básica e social de prestar
serviços educativos com o uso desse espaço e de procedimentos que
permitam que a criança aproveite sempre ao máximo esse ambiente. Esse
trabalho foi baseado em pesquisa realizado junto aos estudos publicados por
educadores, especialistas e profissionais, os quais tem tido a escola como
objeto de estudos cada vez mais frequentes em nosso país, com uma gama
variada de enfoques e problemáticas. Através do estudo de temas como os
apresentados no VIII Simpósio de Pedagogia aonde o resgate das cantigas de
roda e jogos infantis foi discutido como objeto de palestras, onde também
foram realizadas pelos alunos da FEF inúmeras atividades que envolveram os
acadêmicos e profissionais presentes e que também participavam do evento,
mostrando que a preocupação com esse tipo de educação tem crescido e vem
ganhando novas formas, mesmo ainda estando distante do ideal.
Esses novos enfoques reconhecem o brincar no processo de
musicalização, assim como a musica dentro das brincadeiras da criança, ainda
no ensino fundamental, como etapas basilares na viabilidade e na utilização
dos elementos da cultura tradicional. Vendo nas cantigas de roda e parlendas a
capacidade de levar a criança a um estado intermediário entre a ilusão e a
realidade, desenvolvendo a expressão oral e escrita, a audição e o ritmo,
experimentando novas formas de pensar, desempenhando personagens
diferentes da normalidade, elaborando durante o brincar novas atitudes e
virtudes.
Sendo assim a educação musical depende dos diversos aspectos das
condições escolares, das concepções extraclasses que fazem parte do
cotidiano das crianças, suas vivências com a musicalidade, interatividade e
manifestações com a cultura popular. Dentre as atividades musicais que são
realizadas nas escolas, descobre-se que poucas delas envolvem o folclore,
concentrando-se mais no âmbito das brincadeiras praticadas de forma coletiva.
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As tradicionais canções que compõem as cantigas e brincadeiras de
roda, durante tanto tempo serviram de porta de entrada para o conhecimento
popular e para uma primeira e inesquecível aventura pelos campos da prosa e
verso. Simplesmente saíram de cena, ou melhor, foram tiradas primeiramente
da cena principal da vida das famílias e consequentemente do âmbito escolar.
Vemos o grande problema que acontece hoje, onde novos processos
como os jogos eletrônicos, TV, e principalmente a internet ocupam o tempo
livre da criança, causando o afastamento das tradicionais brincadeiras, dos
relacionamentos com os demais indivíduos de mesma idade, prendendo-as em
frente aos monitores em suas salas e quartos. Mesmo o ritmo de estudo atual
colocado pelos pais como cursos de inglês, informática, academias são
exemplos de atividades quase individuais que muitas vezes tornam a criança
tímida e fechada em seu mundo, adiando muitas vezes sua socialização, ou
mantendo-as em um pequeno circulo restrito de amizade.
Nossa escola atual parece não ter mais tempo para brincadeiras e
espaço para essas artes, isso fez com que as cantigas de roda, jogos e
parlendas fossem abandonados, com pesar, juntamente com o corpo a corpo
das crianças e os tradicionais métodos de ensino, assim considerados
ultrapassados.
Este trabalho pretende mostrar em conceitos simplificados, um estudo
de algumas propostas de ensino lúdico, mostrando como a influencia da
musica e das brincadeiras podem ser capazes de enriquecer a identidade da
criança, que neste período precisa aprender a dissociar suas fantasias de sua
realidade com segurança e firmeza sem perder a firmeza das relações.
O uso de música, danças, folclore e literatura encarada como atividades
lúdicas, vêm de encontro a concepção de grande parte dos alunos, que em
muitos casos consideram o folclore como lendas, algo registrado apenas nos
livros, uma tradição regional sem ser capaz de encantar ou estimular seu
crescimento intelectual. Infelizmente entre eles predomina a ideia de folclore
como cultura antiga, estático e sem movimento, até mesmo em algumas
instituições o folclore é passado como um aspecto não cultural, distante da vida
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normal das pessoas, algo em desuso com o qual o aluno não consegue se
identificar.
A proposta de uma educação mais folclórica com brincadeiras e danças
busca a idealização de um professor com conhecimento sobre o folclore
regional, da história e lendas comuns ao nosso povo, das cantigas, parlendas e
brincadeiras de roda. Prática nas atividades lúdicas, compreensão de seus
benefícios à criança dentro do ambiente escolar e fora dele, no lar e na
comunidade e no amadurecimento que eles proporcionam à vida de uma
criança.
Conhecendo o brincar em situações educacionais proporcionando não
somente um meio de aprendizagem para a criança, mas uma forma de outros
educadores e professores com percepção aprenderem mais sobre as próprias
crianças e o meio em que elas estão inseridas, suas capacidades e
motivações.
No contexto escolar isso significa professores capazes de compreender
a realidade da aprendizagem do aluno e seu desenvolvimento geral, como
ponto de partida para promover novas formas de conhecimento, para formar
indivíduos capazes, com caráter crítico e com moral elevada. Devolver a
escolar à qualidade de formar pessoas e não apenas números.
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CAPITÚLO I
1 CANTIGAS, BRINCADEIRAS DE RODA, EDUCAÇÃO MUSICAL E NOSSA HISTÓRIA.
Desde que se começou a estudar a história da humanidade, observa-se
que a música sempre fez parte da vida do homem utilizando-se dela como
forma de interação e comunicação desde seus primórdios, em qualquer parte
do mundo, e por todas as épocas, reproduzindo os sons ouvidos na natureza,
até ser capaz de criar e definir um padrão de comunicação.
A dança traz no homem o sentido de movimento, as cantigas de roda
simbolizam a união, dançar juntos de mãos dadas em círculos onde rege a
igualdade, ninguém é mais que ninguém.
A Educação Musical já era considerada fundamental para a formação
dos futuros cidadão na Grécia Antiga. A música está presente em todas as
culturas, das mais simples até a mais desenvolvida, diferenciadas talvez
apenas por uma questão de ritmos e de linguagem.
As cirandas, cantigas e brincadeiras de roda, assim como as parlendas
e canções de ninar e demais lendas tem em grande parte sua origem nos
costumes de nossos colonizadores europeus, que aos poucos foram se
misturando as lendas indígenas encontradas em nosso território, combinando
as diferentes culturas e uma miscelânea folclórica que hoje se divide pelo vasto
território brasileiro.
12
Nereida Chilro (2011) afirma que:
“as rodas são muito antigas e eram brincadas por
crianças nas aldeias da Europa, nos tempos da Idade
Média. Na roda cantada ou brinquedo cantado as crianças
dão se as mãos, formando uma roda, e caminham em
círculos, numa mesma direção, cantando ou não, e é
comum entre os adultos, principalmente da região
nordeste, em praças das cidades, cantando e girando por
horas a fio.”
O povo brasileiro por de fazer parte de uma miscigenação de raças e
culturas tem como característica mais marcante sua musicalidade, uma
verdadeira “ciranda” de tons e ritmos como a Bossa, o Choro, o Samba,
reconhecidos mundialmente, cantados naturalmente em todos os lugares, por
crianças e adultos, homens e mulheres, seu folclore regional é extremamente
rico variando apenas de região para região e atraindo os olhares do mundo
para nossa nação.
Em todas as regiões encontramos relações entre a dança e a música
como parte do cotidiano social, das Cirandas no Nordeste, do Catira no
Sudeste e da rica Tradição do Sul, aos costumes indígenas duramente
mantidos pelos remanescentes das grandes tribos, mostrando que dessa forma
o brincar acompanha a história de nosso povo desde o inicio mesmo antes da
colonização, e se mantém bravamente. A linguagem musical é lúdica onde se
vivencia um sonho ou se reconta uma realidade, cantando, dançando ou
jogando em rituais já vividos como guerra, caça e até mesmo a saudade e o
amor, seja de pessoas ou lugares.
É de grande responsabilidade a tarefa que cabe a todos nós de defender
a cultura e fazê-la participar adequadamente do processo de desenvolvimento
e inclusão social. Nossa cultura está enraizada na alma do povo, somos uma
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fonte abundante de criatividade, que ainda busca aprimorar-se enquanto
população.
Mas mesmo a música fazendo parte de nossa história, o ensino musical
não teve o mesmo sucesso dentro da instituição escolar no Brasil. Segundo
Fonterrada, 2005, somente em 1854 o ensino musical foi instituído nas escolas
públicas brasileiras.
Eis que em meio à era Vargas surge o chamado Movimento Orfeônico
idealizado por nada menos que o grande Mestre Heitor Villa Lobos que
sonhava com um ensino repleto de musicalidade. O Movimento orfeônico tinha
o intuito de promover o civismo e a disciplina, tendo a música como fonte de
organização. Seu projeto de educação musical esperava levar música a todas
as escolas do país, mostrando sua preocupação com a importância do ensino
lúdico e o desenvolvimento adequado das crianças. Porém as dificuldades
sociais da época e a grandeza do território brasileiro acabaram por minar as
estruturas do programa, que nem de perto conseguiu atingir as expectativas de
seu idealizador.
Na década de 60, porém o Canto Orfeônico deu lugar a Educação
Musical, sem se diferenciar muito da proposta anterior, acontecendo mesmo
ainda de forma fragmentada devido à imensidão do território brasileiro,
continuava priorizando o ensino do civismo e da organização. Até que, com a
imposição da Ditadura Militar aconteceu a substituição da disciplina de
Educação Musical pela de Educação Artística encerrou com o processo de
educação diretamente através da música nas escolas públicas brasileiras, pois
não priorizava uma arte mas tentava englobar o todo. Assim os professores
que eram especialistas em música foram sendo substituídos por outros com
aptidões mais amplas. Assim o ensino de música que não era interessante
para o governo passou para um segundo plano, até praticamente deixar de
existir.
As cantigas, brincadeiras de roda e parlendas são de extrema
importância para a nossa cultura local. Através delas são passados os
costumes, o cotidiano das pessoas de outrora, festas típicas, comidas,
costumes, crenças e até mesmo a fauna e a flora da região. Trás aos poucos,
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as tradições trazidas de outros locais, se mesclando com o passar do tempo as
características oferecidas pelo costume local.
É com base nesse conhecimento que ao falarmos de ensino lúdico
através de cantigas e brincadeiras imaginamos uma renovação nos conceitos
de educação. Buscando transformá-lo em conceito pedagógico podemos
oferecer às crianças uma alternativa à atual cultura consumista e de massa
imposta pela mídia. Queremos trazer os pequenos não para dentro da sala de
aula, mas para dentro das matas, dos costumes do povo e rodas centenárias
dançadas e cantadas, fugindo do individualismo e renovando os laços
fraternos.
2 CANTIGAS, BRINCADEIRAS DE RODA E A FAMÍLIA
Como falar em brincadeiras de roda na educação nos dias atuais, onde
as manifestações populares e a própria cultura folclórica estão cada vez mais
reduzidas, condicionadas a datas específicas, ou transformadas em palco para
milhares de pessoas.
Expostas aos apelos consumistas da mídia, principalmente TV ou
internet, as crianças vivem uma infância cada vez mais curta, sendo levada
precocemente a tornarem-se consumistas em potencial. Cada vez mais cedo
são lançados produtos e marcas visando esses pequeninos consumidores, a
moda se transforma com o vai e vem de personagens das mídias, novelinhas
infantis, desenhos animados, criam personagens rasos que são esquecidos ou
substituídos tão rapidamente como são criados, programas pseudo-infantis que
tratam das crianças como objetos.
Criam-se músicas de má qualidade, com conteúdo inadequado, que
deturpam valores como amizade, solidariedade ou respeito, desprezando a
família e os amigos com comportamentos rebeldes e individualistas,
radicalizando a vida normal em bases absurdas.
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Em nossa sociedade sem dúvida o papel da escola é o de auxiliar a
família como um segundo lar, deve sugerir ganhos de valores morais de caráter
familiar, criar espaço e tempo para que as crianças possam viver sua infância,
descobrir e ampliar sua criatividade, para que não se torne apenas reprodutor
de comportamentos alheios. Para que possam adquirir uma bagagem cultural,
moral e ideológica que lhes permitam formar uma sociedade crítica e capaz de
transmitir o legado cultural e folclórico de uma nação.
Existem amplas evidências desta dificuldade nas escolas de educação
infantil e de ensino fundamental onde o brincar está frequentemente relegado a
um segundo plano, apenas de diversão ou distração do educando. Porém se
formos buscar o inicio desse mal vamos retroceder a outro ambiente, o familiar
e social, de onde partiram não somente essas crianças, mas muito dos
professores e pais, que hoje deixam de lado sua própria cultura em nome do
corre-corre do dia a dia, das facilidades da modernidade.
Hoje a lista de pretextos que distanciam as cantigas e brincadeiras de
roda das brincadeiras infantis é enorme e cheia de atrativos. Os edifícios com
pequenas áreas para recreação destituíram os antigos quintais cercados por
muros onde vizinhos se viam e se cumprimentavam e as crianças tinham
espaço para se divertir. As ruas cada vez mais inseguras prenderam as
crianças dentro dos lares, afastando as do convívio umas das outras e das
brincadeiras livres nas calçadas, o futebol transformou-se apenas em esporte,
brincadeiras como queimada, taco desapareceram do cotidiano das crianças.
Hoje são poucas ou quase nenhuma as crianças que ainda sabem ou
mesmo ouviram cantigas simples como Marcha soldado, Fui no Itororó,
Ciranda cirandinha, que traziam a riqueza do imaginário popular com
simplicidade, ritmos e palavras em melodias seculares. Talvez por que seus
próprios pais também tenham deixado de conhecer ou mesmo esquecido as
antigas canções e brincadeiras vistas na infância, em meio a falta de recursos,
frente as dificuldades financeiras, das injustiças sociais, a violência, etc.
Perderam-se juntamente com a simplicidade, a amizade, levados
inconscientemente pela dureza da vida atual, não só nas capitais ou grandes
cidades, mas mesmo nos pequenos centros e cidades encontramos essa
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mesma realidade, assim como a modernidade tecnológica, TV e internet,
programas sem conteúdo ou redes sociais.
É comum que os pais e muitos dos professores de hoje não sejam ou
não se sintam capazes de enxergar o que as crianças realmente fazem, porque
apenas esperam que elas simplesmente se expressem, e que também o façam
do mesmo modo, não se importando que a época seja outra. Na falta de uma
orientação melhor as crianças não tem alternativa a não ser a de seguir os
padrões impostos, enquanto seus pais e educadores apenas se lamentam por
não encontrarem uma saída.
Sabe-se que a criança passa a ter contato com o som ainda na fase
uterina, e ao nascer entra em contato direto com ele sendo capaz de
reconhecer as vozes ouvidas intra-uterinamente. Sua condição natural de
comunicação é lúdica, um aspecto autêntico do seu comportamento, assim
como tocar os objetos ao seu alcance, brincar com eles, explorá-los escutando
o resultado sonoro de sua ação, demonstra preferências ou aversões.
As crianças evoluem por influência de suas próprias descobertas,
brincadeiras e invenções, iniciando e ampliando assim sua percepção do
mundo, conhecendo os seus limites e os que o cercam. O faz de conta, como
brincar de casinha, escolinha, correr com um pedaço de madeira imaginando-o
ser um cavalo, marchar com chapéus de jornal como soldados, são exemplos
de partes do processo de transformação da fantasia em realidade e vice-versa.
Brincadeiras simples que a criança antes vivia no ambiente familiar e trazia
para a escola, mas que agora são desconhecidos dando lugar a tecnologias
que já substituem até mesmo os animais de estimação.
O Brasil como um país rico em diversidades e em culturas folclóricas,
sempre teve isso presente dentro do ambiente familiar e social. Assim sendo as
crianças não precisam reinventar cantigas e brincadeiras de roda, parlendas e
lendas, mediante tão vasto repertório, não precisam buscar mais que dentro
das próprias origens, basta apenas explorar suas raízes.
As cantigas de roda e parlendas eram constantes no repertório comum
das brincadeiras infantis e das famílias de um passado não muito distante,
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promovendo o bem-estar emocional e físico dos indivíduos. É no desenrolar
dessas brincadeiras, no convívio proporcionado por elas que a criança começa
a desenvolver a se familiarizar com seus próprios sentimentos, medo, alegria,
ciúmes, raiva, inicialmente dentro do convívio com pais e parentes, em
preparação para um contato social mais apurado do mundo real.
Experimentando seu corpo, desembaraçando os movimentos,
descobrindo linguagens e palavras através da dança e do canto. Brincando a
criança explora suas necessidades vitais, da vazão aos seus impulsos de
compreender o mundo e a sociedade, firmar sua existência dentro da
realidade.
Do ponto de vista pedagógico as parlendas e cantigas de roda, assim
como as demais manifestações de cultura podem e devem ser consideradas
como completas, ou seja, são capazes de desenvolver o raciocínio, a memória,
exercitam o corpo, além de introduzir na criança o gosto por elementos
singulares como a própria poesia e a música.
“O brincar é fundamental para o desenvolvimento e é a
principal atividade das crianças quando não estão
dedicadas às suas necessidades de sobrevivência”.
(Macedo, Pett & Passos, 2005, p. 13).
É histórico que as canções infantis são compostas de poucas e simples
notas, marcadas pelo caráter festivo e pela intensa alegria de cantar. Ao longo
do tempo esses passatempos conduziram histórias, lendas e a nossa cultura
de modo simples e direto, consolidando entre gerações afetividade e amizade
ao se darem as mãos, cantarem e dançarem unidas por uma mesma
linguagem, apesar da distância dos anos que muitas vezes as separavam.
Assim as cantigas de roda e as parlendas representaram pontes que
ligavam gerações, avós cantando e ensinando seus a netos versos e passos
de roda, formando um ciclo, brincando com símbolos, adquirindo para si papéis
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adversos a sua realidade, experimentando novos anseios, ou representando
personalidades inesperadas, levando a criança a construir sua própria
identidade. Com as mãos dadas dançando em círculos simbólicos, que no
decorrer da vida se tornarão mais amplos e generalizados desde família,
escola, faculdade, trabalho, etc.
As mudanças sociais fizeram com que pais e educadores
desacreditassem da eficiência do próprio saber. Felizmente hoje já se vê
mudanças de pensamento. O resgate da tradição cultural e do folclore infantil
presente nas cantigas, parlendas e brincadeiras de roda é, para educadores e
estudiosos do assunto o resgate de um tesouro constituído ao longo dos
séculos.
“as Cantigas de Roda dificilmente desaparecem e são das
mais admiráveis constantes sociais, transmitidas oralmente,
abandonadas em cada geração e reerguidas pela outra, numa
sucessão ininterrupta de movimentos e de canto”. Câmara
Cascudo (1972).
Buscando novos meios de dar vazão a suas necessidades, meninos e
meninas passaram a ficar mais tempo isolados em frente aos monitores,
primeiro dos jogos eletrônicos na TV, que depois passaram para os
computadores. Com o advento da internet e suas facilidades logo trouxeram
uma gama de outras “atrações”, arrastando a criança para longe de um
crescimento social de interação mais adequado, transformando tudo em em
redes sociais em realidade apenas virtual.
Segundo Vygotsky a criança usa as interações sociais como formas
privilegiadas de acesso as informações. Em sua visão social ele cita a
brincadeira como uma atividade específica da infância que através dela a
criança recria a realidade usando sistemas simbólicos, nos quais a fantasia se
mistura e interage a esta, produzindo novas possibilidades de interpretação, de
expressão e de interação social com outros sujeitos.
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Observa-se então que as crianças nunca deixaram de cantar, apenas
estão cantando outras coisas, novos modelos embutidos no dia a dia, nos
sucessos das mídias. Sem tempo para elaborar seus sentimentos, sem saber
como descrevê-los as crianças apenas se sacodem, giram e pulam, dando
aparência de felicidade, sob o jugo das canções que hoje embalam sua
infância e não dão lugar para as representações espontâneas. As expressões
tão comuns nas cantigas e cirandas como acalanto e cuidado, se perderam,
dando lugar as expressões de sentido duvidoso e movimentos de cunho
sensual.
A necessidade da comunicação continua o que mudou foram às letras e
os movimentos, as brincadeiras coletivas dão espaço a individualidade dos
artistas nos quais as crianças se espelham. Na falta de uma melhor orientação,
de melhores exemplos os indivíduos ainda em formação tendem a seguir os
padrões que veem constantemente na internet e TV.
É preocupante não só o modo como às crianças estão expressando a
imitação de seus ídolos, mas a forma como principalmente os pais exibem
essas pequenas “cópias” em vanglória a falta de cultura e dessocialização do
indivíduo.
As crianças ainda pequenas, sem pré-conceitos, sem maldades, são
capazes de responder aos estímulos de qualquer arte, ou cultura apresentadas
a ela, principalmente as verbais como a música. Para Piaget a criança é um ser
pensante, que tem uma forma própria de raciocínio e, portanto tem direito a
viver com plenitude cada instante de sua vida.
“A construção das relações semióticas, do pensamento e
das conexões interindividuais interioriza os esquemas de
ação, reconstruindo-os no novo plano de representação e
das estruturas de cooperação” (Piaget 1986, p129)
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Aí a importância da educação baseada na cultura e no folclore ainda na
pré-escola e no ensino fundamental, quando a criança ainda se apresenta
aberta e disposta a receber toda e qualquer informação.
Vale a pena trazer as cantigas e parlendas para a educação infantil por
uma série de fatores sociais, pois são fatos vividos também por nossos avos,
que receberam de seus avós que já faziam rodas e se davam as mãos
cantando belas e tradicionais cantigas, cheias de elementos importantes e
significativos do nosso folclore. As cantigas são como baús cheios de tesouros
das mais variadas formas e valores, brilhos e requintes, esperando apenas
para serem abertos e divididos.
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CAPÍTULO II
1 VIVÊNCIA DO FOLCLORE MUSICAL NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO INFANTIL
A palavra Educação muitas vezes nos leva a considerar que a escola é
o principal sítio de ensino, responsável por formar as atitudes da criança e seu
senso crítico como novo cidadão.
A iniciação musical deve ter como objetivo, durante a idade pré-escolar,
em estimular na criança a capacidade de percepção, sensibilidade,
imaginação, bem como agir como uma recreação educativa, socializando,
disciplinando e desenvolvendo sua atenção.
A preocupação maior para o ensino de educação musical, porém é a de
conhecer e compreender a grande diversidade de aspectos da vida do aluno
fora do ambiente escolar. Sua formação dentro do ambiente escolar necessita
muito de sua identidade cultural, buscando as particularidades de cada
indivíduo.
Esse primeiro contato na fase pré-escolar deve simbolizar a preensão de
certos movimentos corporais, acompanhamentos de sons, balanços,
sapateados, além de permitir o aguçamento da audição e emissão de sons,
cujas habilidades são imprescindíveis para a apreciação musical.
Houve um tempo em que o ensino não respeitava o repertório do aluno
e muito menos eram respeitados os conhecimentos trazidos por ele.
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O papel da escola é fundamental em salvaguardar o que resta da cultura
das cantigas de roda e preservação do folclore. O professor tem a dura missão
de perpetuar rimos e cantos, assim como os significados das brincadeiras. O
folclore como forma de manifestação cultural e experimental para a criança tem
tido um aumento significativo de estudo sobre o assunto, mesmo assim a
prática real dentro dos currículos ainda é pequena.
As cantigas e brincadeiras de roda fazem parte da tradição cultural. Para
Cascudo a cultura é transmitida através dos tempos, sendo mantida nesse ato
de herança, passando de pai para filho.
“Entende-se que a cultura era um exercício da inteligência
aplicado a um esforço para a finalidade determinada e
única. Nunca o geral, o conjunto, a totalidade (...). Para
fins primários de impressão poder-se ia dizer que a
cultura é o conjunto de técnicas de produção, doutrinas e
atos, transmissível para convivência e ensino, de geração
em geração” (Cascudo, 1983, p. 39)
As vivências folclóricas ainda se concentram mais no campo das
brincadeiras por elas praticadas, principalmente de forma coletiva, no dia-a-dia
dos alunos. Segundo Wolffenbüttel e Del Ben, 2005 “Essas se dividem
em brincadeiras com cantoria e brincadeiras sem cantoria".
A categoria das brincadeiras com cantoria inclui as cantigas de
roda citadas, como “Ciranda, cirandinha”, “Atirei o pau no gato”,
“Marcha soldado”. Já nas brincadeiras sem cantoria aparece “Pega-
pega”, “Esconde-esconde”, “Pular corda”, entre os mais referidos.
Já para Veríssimo (1948) a classificação das cantigas se dá em
cinco grupos: amorosas, imitativas, dramáticas, satíricas e religiosas,
existindo em nosso país ainda alguns grupos que não se encaixam
em nenhum desses grupos.
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Essa vivência musico - folclórica surgiu em maior parte em momentos
lúdicos das crianças, sendo quase sempre durante as brincadeiras com
cantoria, no cotidiano extraclasse, sendo constado que no cotidiano escolar
ainda não se aplica essas vivências, talvez pela falta de um ensino musical
como parte do plano de ensino moderno.
“Brincando de roda, a criança exercita o raciocínio e a
memória, estimula o gosto pelo canto e desenvolve
naturalmente os músculos ao ritmo das danças ingênuas.
As artes da poesia, da música e da dança uniran-se nos
brinquedos de roda infantis, realizando a síntese
magnífica de elementos imprescindíveis à educação
escolar.” (Melo, 1984, p. 165)
A estimulação, a variedade, o interesse, a concentração e a motivação
são igualmente proporcionados pela situação lúdica, já que segundo Oliveira
(2000) principalmente na escola é improvável que as crianças consigam se
expressar de forma tão competente como o fazem em seus lares.
Dessa forma o estudo em questão sugere que o resgate das cantigas e
brincadeiras de roda aconteça principalmente na educação infantil, auxiliando
na interação e socialização do educando, dessa forma causando a interação
desses com a sua cultura. Levando em consideração que cada indivíduo traz
consigo um conhecimento pré-estabelecido dentro da própria família. A escola
tem por processo ampliar as atividades culturais através da prática pedagógica.
Infelizmente em muitos casos o folclore é visto como algo registrado
apenas em livros, estático e pertencente ao passado.
“Crianças vêm para a escola com uma vida de fantasias
vibrante, uma mente curiosa e um corpo elegante, todos
os elementos da vida artística já em lugar, e nós lhe
24
dizemos para se sentar e tirar a folha de atividades”
(Goodkin, 2006, p. 3).
Ao se ouvir a palavra lúdico (jogo) a tendência é a de se associar
significados comuns como brincadeira, passatempo, recreio, e outras mais
interpretações. Porém essa aliança entre lúdico e educação não nasceu hoje,
contudo esse processo não era visto como uma atividade capaz de melhorar o
desempenho no âmbito educativo.
O brincar por si mesmo é agradável para qualquer idade, contudo para a
criança é uma necessidade, um modo de ver a vida dos adultos. A entrada da
criança no mundo do faz de conta marca uma nova fase para sua capacidade
para lidar com a realidade, seus pensamentos evoluem em consequencia de
suas ações, proporcionando uma vivencia plena interagindo entre si sentimento
e pensamento.
Piaget e Vygostsky defendiam que o brincar (jogo) é responsável pelo
desenvolvimento de várias capacidades da criança, evoluindo à medida que
brinca. Para Piaget cada período do desenvolvimento da criança se dá de
acordo com um conjunto de fatores biológicos, sociais e educacionais. Já
Vygostsky defendia que as brincadeiras dependiam da necessidade da criança
em alcançar o mundo adulto.
Cabe aos professores à dura missão de apresentar esse aprendizado
aos pais, mostrar que os educandos além de aprenderem, estão sendo
capacitados em um nível mais elevado de conhecimento.
25
2 CANTIGAS E BRINCADEIRAS DE RODA E A PRÁTICA DE ENSINO
Entende-se por Cantigas de Roda um tipo de canção popular que está
diretamente relacionada com brincadeira de roda. Prática muito comum até
algum tempo atrás em todo o Brasil, consiste em formar um grupo com várias
crianças, dar as mãos e cantar um música com características próprias, como
melodia e ritmo equivalente a cultura local, letras de fácil compreensão e temas
referentes à realidade da criança e seu universo imaginário, geralmente com
coreografias.
Segundo Câmara Cascudo (1988), autor que se destaca pelo brilhante
estudo e empenho a respeito do assunto, as cantigas de roda têm um caráter
constante “(...) apesar de serem cantadas uma dentro das outras e com as
mais curiosas deformações das letras, pela própria inconsciência com que são
proferidas pelas bocas infantis.” (ibid, p. 146)
“as rodas infantis que se apresentam no Brasil tem origem
portuguesa, francesa e espanhola, abrasileiradas,
variadas conforme regiões e por se ouvir e cantar muito,
parecem aqui ter nascido e que existem variações, como
os brinquedos de roda assentada, de fileira, de marcha,
de palma, de pegar, de esconder, incluindo também as
chamadas para brinquedos e as cantigas para
selecionarem jogadores”. (Michelles, apud, 2005 p. 4 e 5).
Elas também podem ser chamadas de cirandas, e têm caracteres
folclóricos, pouco praticados hoje em dia na realidade infantil como
antigamente, é geralmente usada para entretenimento de crianças de todas as
idades. As cantigas hoje conhecidas no Brasil têm origem européia, o que não
se faz notável, pois as mesmas já se adaptaram tanto ao folclore brasileiro que
são um retrato do país.
26
De acordo com a literatura específica da área de estudos de linguagem
e aprendizado de línguas, o desenvolvimento da linguagem oral de inicia
mesmo antes das crianças entrarem na escola, acontecendo na interação
cotidiana.
O indivíduo se comunica sob o domínio da linguagem oral,
essencialmente na participação social, para obter informação, expressar e
compartilhar seus pontos de vista e conhecimentos. Se levarmos em questão
que o homem é um ser falante e não escritor, vamos refletir sobre a
importância da prática pedagógica baseada nas cantigas e brincadeiras de
roda como contribuição do crescimento desse indivíduo.
Vemos comumente nas salas de aula a oralidade largamente difundida
por ser um ato natural e não planejado de intercâmbio entre as pessoas e as
situações comuns, onde quase sempre se fala mais que se escreve.
Reservando ao ensino a predominância da escrita em suas atividades,
bastando uma pequena observação e estudo do cotidiano em salas de aula.
(...) o papel da escola é levar os alunos a ultrapassar as
formas de produção oral cotidianas para os confrontar
com outras formas mais institucionais (...) Sheneuwly E
Dolz, 2004, pg. 175
Uma das características comum nas cantigas de roda são as letras,
quase sempre de caráter simples e fáceis de memorizar, recheadas de rimas,
repetições e trocadilhos, fazendo da música uma brincadeira.
Grande parte dessas letras fala da vida dos animais, usando episódios
fictícios, que comparam a realidade humana com a realidade da espécie citada,
fazendo com que a atenção da criança fique presa à história contada pela
música, o que estimula sua imaginação e memória. Ao acompanhar a canção a
criança dá inicio ao reconhecimento dos símbolos da comunicação escrita, a
formação das palavras e de textos, até mesmo da interpretação e
compreensão da narrativa.
Tendo em vista que a escrita determina o ritmo de vida atual e assume
papel indispensável para a convivência social, a aquisição do código escrito faz
27
parte do aprendizado da criança. Por ser uma atividade lúdica e que apresenta
jogos ritmados, a criança participa de situações de leitura e escrita mais
facilmente dentro das cirandas. Assim partindo de uma brincadeira onde o
professor trabalha a oralidade o aluno também é iniciado nas práticas sociais
da escrita, acreditando-se que o aluno se apropria do princípio da escrita
usando como base o uso real da linguagem no decorrer da brincadeira.
Deste modo compreende-se o importante papel do professor, como
formador de conceitos e elemento de ligação entre educando e a linguagem de
representação da fala.
As cantigas de roda e parlendas fazem parte do gênero das tradições
orais, canções e melodias que despertam a atenção e o interesse das crianças
através da sua letra e ritmo, fazendo com que o aluno acompanhe com gestos
e movimentos.
Dessa forma a criança tem facilidade para assimilar e compreender as
atividades, brincando com a música, ela tem oportunidade de incorporar,
representar e transmitir as mensagens expressas no texto da canção. Desta
forma uma criança mesmo ainda em faze de alfabetização com o domínio das
letras e algumas palavras, através da repetição consiga acompanhar os versos
e aos poucos reconhecer no texto as palavras referentes a certas passagens
ou mesmo algumas frases repetitivas da canção.
A integração da criança com o coletivo, mostrando que ela também é
importante, e em determinados momentos ela se torna o centro da brincadeira,
alternando com os outros indivíduos, mostrando seu valor. A criança aprende
em contato com os outros, sendo o grupo no qual está inserida, o grande
responsável pelas conquistas que realiza. As trocas sociais são facilitadas
durante o canto em conjunto, pelo poder que este tem de aproximar as
pessoas.
As cirandas baseadas em letras simples, com rimas e trocadilhos, quase
sempre narram passagens da vida de personagens muitas vezes inanimados,
ou mesmo dos animais, comparando os episódios fictícios com a realidade
28
humana, prendendo a criança na história, com melodia alegre, estimulando a
imaginação.
“O cravo Brigou com a rosa, debaixo de uma sacada. O
cravo saiu ferido e a rosa despedaçada.”
A cultura é capaz de repassar para o cotidiano escolar suas ações, seja
na linguagem, formas de organização e gestão, seja na composição do sistema
curricular e seus ritos. A escola deve promover a incorporação de valores com
o objetivo de criar práticas competentes e criativas no que se refere à formação
desses indivíduos.
As respostas de uma aprendizagem por meio das brincadeiras, em
destaque as cantigas de roda, de inicio podem não ser compreendidas em seu
significado, porém se avaliarmos a proposta pedagógica será possível valorizar
os discursos das crianças, introduzir o gosto pela leitura e estabelecer vínculos
afetivos no desenvolvimento da linguagem.
A utilização de atividades pertencentes à cultura popular na prática
pedagógica é fundamentada, entre outros motivos, pela importância da
preservação da cultura como elemento de identificação de um povo e pela
concepção metodológica que considera relevante o conhecimento que a
criança já possui ao chegar à instituição escolar.
Discursos e formas de comunicação como aspectos fundamentais do
cotidiano do educando, uma cultura institucionalizada, com processos e
normas, valores e significados que tornam a escola uma instituição impar.
A escola deve vivenciar a música em sua plenitude, partindo do
pressuposto da corporeidade e promover condições para que os pequenos
comecem a descobrir sua capacidade de autoprodução, criar, brincar, pensar e
humanizar, em um processo de aprendizado coletivo, que não inviabiliza o
sujeito ou sua individualidade, garantida como parte do coletivo.
29
A bagagem cultural, em nível de jogos e brincadeiras, que a criança traz
incorporada é bastante significativa, e a escola cabe seu resgate e ampliação.
O encontro na escola, de atividades que lhe são familiares, pode abrandar a
quebra brusca da atividade informal até então realizada pela criança. É
importante que ela continue a brincar; assim, o professor enfatizará os
aspectos lúdicos de todas as propostas de trabalho, e estará com sua atenção
pedagógica voltada para os objetivos a serem alcançados.
Cantando e brincando as crianças desenvolvem o raciocínio, memória e
imaginação. O educador deve entender o grupo como uma rede de interações,
perceber o jogo de ideias, intervindo junto ao coletivo, respeitando a
individualidade, trabalhando com canções que são facilmente memorizáveis e a
criança participa em situações de leitura e escrita com facilidade.
Para dar vazão a sua criatividade a criança deve vivenciar suas
expectativas, não somente a partir das ideias do educador ou partindo de
modelos prontos, permitindo assim uma livre construção do que se aprende
dentro da sala de aula com o aprendizado implícito no pequeno aprendiz.
Paralelamente as atividades, o professor deve solicitar aos seus alunos
que apresentem jogos, cantigas e brincadeiras diferentes que conheçam,
causando numa troca de informações possibilitando o aumento desse
conhecimento lúdico.
Na essência das interações sociais e as diferentes linguagens, corporal,
musical e cênica, permitem a aprendizagem afetiva, cognitiva e social em
diferentes áreas do conhecimento.
Pesquisar é a condição da criança para que possa reconstruir seus
conceitos, mesclados aos novos preceitos que lhe são apresentados no
ambiente escolar, seguindo um sistema de aprendizado, defendido por um
plano de aulas pré-estabelecido. Neste fluxo de reconstrução de saberes,
vemos crianças brincando e mesmo assim sem perder a ânsia das novas
descobertas.
O professor tem participação efetiva nos processos de aprendizagem,
agindo como facilitador, encontrando situações pedagógicas oportunas para o
30
desenvolvimento das capacidades ainda não aproveitadas de seus educando,
muitas vezes ocultas e desconhecidas deles próprios.
“Quando assume sua prática pedagógica exercitando
essa postura, o educador contribui para que aquele a
quem educa seja sujeito do próprio processo de vida e de
aprendizagem e, por conseguinte, seja fazedor de cultura
e de história, bem com produtor de conhecimento (...)”
(Dowbor, 2007, p. 67)
O papel do educador é o de diagnosticar o que e como a criança
aprendeu, como observador e avaliador é sua responsabilidade manter,
intensificar ou estimular esse sistema de ensino.
Segundo Rosa e Silva, (2005), em seu trabalho Gêneros Orais e Ensino:
Cantigas de Roda “(...) cantigas de roda, pôde-se observar que essa
modalidade do gênero oral, apesar de bastante trabalhada nas salas de aula
de alfabetização observada, serviu mais como pretexto para atividades que
testaram a escrita dos alunos”.
Defendemos com essa proposta de não se criar um “show” com as
cantigas de roda através do ensino musical nas escolas e sim criar indivíduos
que se autoconheçam, confiantes e seus próprios potenciais plenos de
conhecimento de si mesmos. A musicalidade desenvolvida na escola é levada
para outros ambientes, desenvolvendo a medida que a criança também vai
alcançando sua maturidade, dividindo prazerosamente seus conhecimentos.
31
3 TRABALHANDO AS CANTIGAS DE RODA E PARLENDAS
Esse estudo sobre a importância das cantigas, cirandas e jogos na
formação infantil vem também resgatar nos pais e educadores o compromisso
de compartilhar os aspectos culturais de suas vidas com suas crianças e
educandos. Mostrando o lugar privilegiado que essas atividades ocupam
enquanto forma de expressão das necessidades cognitivas, afetivas e sociais
do ser humano.
A cultura e a tradição implícitas nas eternas cantigas de roda são
recursos didáticos que fazem falta às aulas de hoje. Sua magia, ritmo e
harmonia têm um efeito de grande importância no aprendizado e no
relacionamento entre os alunos.
“A ideia de que o valor da música e da educação musical
sofre modificações a cada período histórico mobiliza a
necessidade de refazer o percurso do pensamento em
diferentes épocas em busca dessas transformações (...)”.
Fonterrada (2005, p. 17)
As cantigas são canções utilizadas em brincadeiras de roda cantadas
em forma de recreação, muitas conservam resquícios de sua origem européia,
fragmentos de romances e relatos do cotidiano, lendas e mitos.
Com suas variações regionais, as cantigas traduzem tradição, cultura e
conferem uma grande carga afetiva ao brinquedo. Quando a criança participa
das brincadeiras de roda representa espontaneamente o enredo contado
expressando seus sentimentos. De tanto ouvir e repetir os ritmos
característicos destas rodas cantadas, a criança via assimilando e marcando
com traços regionais a sua musicalidade, e a produção musical de sua região
ou país.
As cantigas de roda estimulam a criatividade, a partir delas novas
cantigas são criadas e sobrevivem como herança através das gerações. O
movimento é um fator que envolve todas as brincadeiras de roda e faz com que
a criança sinta-se estimulada a participar dançando e experimentando
32
naturalmente, absorvendo a aprendizagem ainda mesmo sem significados no
momento.
A criatividade está situada no domínio cognitivo, mas exerce uma
influência mais forte sobre o sentimento da afetividade, tendo relação com a
expressão e a interpretação das emoções e pensamentos. Para Oliveira (2000,
p. 36) “a criatividade é a capacidade de responder emocional e intelectual a
experiências sensoriais”.
É sabido que a arte seja ela qual for, favorece o desenvolvimento das
atividades escolares dando um contexto cultural ao invés das matérias formais
aplicadas normalmente nas salas de aula.
Ingenuamente as cantigas de roda se recobrem de ensinamentos,
prazerosas ao se utilizarem de poesias e textos figurativos sendo capazes de
mitigar a linguagem pesada e muitas vezes enfadonha do aprendizado das
matérias comuns.
Infelizmente mesmo existindo nas cantigas de roda todo esse potencial
didático, elas estão relegadas a um segundo plano como se fossem atividades
ultrapassadas.
A partir das cantigas de roda as crianças são estimuladas a guardar
informações por meio de registros, pensar e expressar seus conhecimentos,
ideias e experiências de forma oral e escrita, iniciando assim sua
conscientização do sistema oral e escrita, como função social de comunicação
e convivência.
Ao se trabalhar uma cantiga ou parlenda seguimos o que Wallon discutiu
em sua teoria de que, o desenvolvimento intelectual envolve muito mais que o
aprendizado “cerebral”, a memorização e gravação de fatos e saberes.
Seguindo sua teoria, Wallon disse que a cantiga pode ser trabalhada
objetivando o movimento, que para ele, faz parte dos quatro elementos básicos
que se comunicam o tempo todo. Considerando o movimento como atividade
essencial no favorecimento social da criança, eliminando a timidez e as
inibições.
33
O trabalha com as brincadeiras de roda, através do movimento, torna o
aprendizado espontâneo e dinâmico, a avaliação pela atividade lúdica é uma
das formas que possibilitam observar como a criança inicia naturalmente seu
processo de adaptação à realidade com a conquista física, despertando na
criança de forma intencional sua própria organização motora.
Aprendendo com o corpo em movimento, a criança se situa, avança,
volta, se afasta e se liberta, aprende as relações fundamentais que necessitará
para estabelecer seu pensamento critico.
Há também o fator da afetividade despertada durante a interatividade da
brincadeira, tanto nas relações entre o professor e os alunos como entre os
próprios alunos, despertando o entrosamento nas atividades da dança e das
canções, além de expandir a amizade criando um elo mais forte, demonstrando
a que a escola deve ser uma extensão da família. As brincadeiras aprendidas
dentro da sala de aula em geral são levadas para as ruas, quintais, parques ou
áreas de laser, unindo vizinhos e despertando afetos na convivência diária.
Enquanto gira, dança e canta, a criança organiza seus movimentos com
relação ao espaço, promove o desenvolvimento das estruturas temporais que
regem o presente e futuro, sem as quais ela será incapaz de expressar ou se
situar na realidade social. Um ambiente onde prevalece a ludicidade, a beleza,
a alegria proporciona a criança um clima de harmonia facilitando a
aprendizagem e melhorando a espectativa com relação às tentativas e erros do
educando.
É possível trabalhar com as cantigas de roda em aula sob a forma de
dramatização, diálogos, canto, etc. Além de liberar as crianças para usar sua
criatividade na criação de novas letras e ritmos já conhecidos, liberando o tema
para criarem novas historietas. A linguagem melódica das músicas expressa
sentimentos individuais e coletivos, a formação em fileiras ou círculos explora o
espaço interno ou externo, trabalhando a literalidade, a sensibilidade corporal,
a sequência e coordenação motora.
Durante as brincadeiras de roda e cantigas o educando se movimenta
porque carece de aprender, e aprende porque se movimenta, em um padrão de
34
integração entre corpo, grupo e aprendizagem. Os movimentos realizados
durante as Cantigas e Brincadeiras refletem um esforço interior de exercitar a
coordenação de pensamentos
Nas cantigas de roda as crianças transportam para o mundo encantado
as diversas tipologias textuais, conceitos sociais, matemáticos e naturais, desta
forma ela passa a ter contato tanto com o processo mecânico de ler e escrever,
como com a linguagem corporal da música e da dança.
Seguindo os grupos descritos por Veríssimo existe uma grande
diversidade de cantigas, lendas e parlendas que podem ser trabalhadas,
carecendo apenas de um pouco de criatividade por parte do educador para
serem utilizadas de forma totalmente pedagógica e eficiente.
A formação em círculos são as primeiras experiências coletivas de
exploração dos espaços internos e externos. Funcionam como fronteiras dando
noções que se desenvolvem a partir da determinação do dentro e fora.
Para o trabalho em sala o professor pode optar por apresentar as
crianças as cantigas e parlendas, tentando descobrir qual o grau de
reconhecimento das mesmas. Basta uma breve conversa para se descobrir
qual será a escolhida, dando inicio a uma leitura compartilhada da canção,
tendo cada criança uma cópia do texto. Mesmo que algumas não dominem as
palavras escritas, serão motivadas a acompanhar reconhecendo os símbolos
foneticamente no texto.
As crianças são levadas a perceber que a cantiga possui personagens e
um enredo, mesmo que simples, sendo lhes proposto que realizem a atividade
de interpretar a cantiga. Para isso se propõe alguns tipos de descrição da
atividade, primeiro a criança deve representar graficamente a cantiga como
imaginou as passagens e as personagens. Essa diferença de papéis se faz
presente no faz de conta das narrativas cantadas, imitando e recriando os
personagens.
Uma segunda atividade seria a de fazer a criança refletir sobre a canção
em descrever o ambiente, ou como ela gostaria que fosse a canção,
representando da mesma forma gráfica. Podendo ainda fazer com que os
35
educandos busquem novas problemáticas para o mesmo enredo, inserção de
personagens por eles imaginados, entre outras práticas. A fantasia é o
elemento primordial dentro dessa interação do real com as lendas e mitos
contados nas cantigas.
Os textos e o esquema de repetições das cantigas de roda oferecem
uma vivência muito rica da estrutura da língua, diferente da linguagem corrente.
Aspectos culturais perpassam os textos e decidem a configuração melódica
das canções, imprimindo significados aos sons, a criança vai aprendendo
formas de utilizar essa linguagem comum, seja para repassar a cantiga, sejam
para expressar seus pensamentos ou enriquecer sua identidade.
É importante ressaltar que os alunos ao escreverem um texto costumam
trazer as marcas da oralidade para a forma escrita, já que trazem para a escola
experiências com a linguagem oral e necessitam descobrir que ao escreverem
deverão acatar a outros atributos.
Nesse espaço a leitura, as produções de textos irão aos poucos fazendo
com que a criança se adéque a essa nova forma de comunicação. Cabe ao
professor mostrar que as regras da linguagem oral não são as mesmas na
linguagem escrita, que esta envolve certa estrutura mais elaborada.
O resgate dessas cantigas é extremante relevante para o sistema
educacional tão necessitado de relacionamentos mais afetivos, as crianças
precisam conhecer novas formas de ensino, compreender que o lúdico não é
uma simples brincadeira, mas uma forma de questionar e fazer despertar
conhecimentos esquecidos. Fugindo das aulas tradicionais, presas as
mesmices e as mesmas regras de sempre.
O professor deve estar aberto a reconhecer novas formas de ministrar
os conteúdos de suas aulas, e aplicar recursos simples na vivência do aluno.
36
CAPÍTILO III
1 TIPOS DE CANÇÕES, CANTIGAS E BRINCADEIRAS DE RODA
1 1 Acalantos
Significa adormecer ao som de cantigas. É o inicio do contato da
criança, ainda em tenra idade com a música. Ao fazer com que um bebê durma
ao som de uma canção de ninar estamos repassando uma cultura folclórica
passada por gerações, repassando a criança histórias cantadas, símbolos que
ela encontrará quando começar seu desenvolvimento da comunicação.
1 2 Parlendas
São atividades rítmicas usadas com os pequeninos para desenvolver os
movimentos corporais, acuidades auditivas e visuais. São atividade que unem
sons e rimas, quando a criança já tem uma certa comunicação, e passa a
formar palavras e pequenas frases. Torna-se um estímulo as necessidades de
expressão, como forma de melhorá-la fazendo com que a criança se esforce de
maneira natural.
1 3 Brincadeiras de Escolha e Pegador
É comum entre as crianças do Ensino Fundamental a disputa para
ocupar os primeiros lugares em qualquer jogo ou brincadeira. Nestes
momentos o professor deve oportunizar situações através das quais essa
atitude venha a ser substituída por outra, na qual a criança perceba a
necessidade de alternância de papéis no grupo.
37
As crianças aceitam bem o fato de que o processo de escolha para
determinadas posições na brincadeira seja advindo também de um jogo, assim
aprendem que a maneira de escolher jogando é democrática e mais justa, além
de facilitar o trabalho do educador.
É bom salientar que, num primeiro momento, as crianças realizam a
atividade pela atividade em si, qual seja simplesmente por participar.
O professor deve conhecer bem os jogos e versos recitados (jogos de
escolher) com o objetivo de organizar o grupo desenvolvendo noções de
ordenação, associação da linguagem oral com a gestual.
Já as brincadeiras de pegador são mais tradicionais, estimulam o
desenvolvimento da velocidade e coordenação. Nas brincadeiras de pega-
pega, qualquer que seja sua variação, a criança também precisa utilizar sua
noção espacial, pois o êxito da atividade depende não só da velocidade, mas
da compreensão do espaço do jogo, de modo a permitir uma colocação que
evite o pegador. O pegador por sua vez tem que considerar o melhor possível,
os dados disponíveis a respeito do espaço, de sua própria habilidade motora,
da colocação dos companheiros, das possibilidades motoras das outras
crianças, etc.
1 4 Rodas Cantadas
A formação em círculo (roda) é a primeira forma de reunião em grupo
que deve ser utilizado pelo educador. Nela, as crianças estarão em condições
de igualdade, enxergando tudo e a todos, propiciando um sentimento de união.
As rodas cantadas têm o objetivo de desenvolver o senso rítmico, a
coordenação espaço-temporal, além de ter intenso valor socializante, pois
todas as crianças poderão assumir alternadamente papéis de destaque, desde
as mais tímidas até as mais descontraídas.
As crianças devem memorizar a letra e executar as coreografias que,
embora simples, implicam na exigência de esquemas cognitivos e motores que
serão acionados. Nas primeiras rodas, os movimentos são iguais para todos,
progressivamente a graduação em dificuldade deverá ser aumentada.
38
O melhor momento para a roda cantada é o final da aula e o professor
deve limitar sua repetição. Quanto à estratégia, o professor ensinará primeiro a
música com a letra, podendo até explicar os significados das palavras. A
seguir, explicará os movimentos aliados à música, podendo modificar os
movimentos da roda, em função de sua própria vivência e da criatividade das
crianças.
1 5 Ladainhas para saltar corda
Brincadeiras e jogos com cordas são bastante apreciados pelas
crianças. Do ponto de vista motor, as atividades com cordas promovem o
desenvolvimento de capacidades físicas, tais como a coordenação, a agilidade,
o equilíbrio, força muscular e a resistência cardiorrespiratória.
Noções relativas ao espaço e tempo são inerentes ao ato de pular
corda, e a compreensão dessas noções leva ao desenvolvimento do sentido
rítmico. A variedade de movimentos que podem ser criados com a corda é
infindável, cabe novamente ao professor estimular a criatividade das crianças.
Para ampliar o senso rítmico da criança, uma boa e interessante medida
é introduzir ladainhas a serem recitadas enquanto se realizam movimentos com
a corda, individualmente ou em grupo. A ladainha propicia a adequação do
movimento ao ritmo;
Para a execução desse trabalho combinado, é fundamental que a
criança já tenha experimentado a corda, bem como realizados alguns
exercícios antes com ela ainda estendida no chão, como forma de
aquecimento, por exemplo, pulando de um lado para o outro.
É importante que ela já tenha domínio sobre o movimento de saltar
corda propriamente dito, além de ser capaz de entrar e sair de uma corda
girando, bem como de saltar uma corda em pêndulo.
Quando as cantigas deixam de ser cantadas e brincadas, caem no
esquecimento e há um enfraquecimento dos traços culturais de nossa
sociedade. Incluir as Cantigas de Roda nas aulas significa incluir vida e
sentimento no processo de aprendizagem.
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todos os estudos afirmam que o lúdico é um grande laboratório e deve
ser explorado sem medo, experimentando suas práticas e descobertas. Pode
se considerar que o lúdico proporciona a descoberta de si mesmo (criança) e
do outro (pais, professores, colegas).
A utilização das cantigas, parlendas e brincadeiras de roda como uma
proposta pedagógica mostra segundo estudos ser completa e de grande valor
educacional, onde a criança acaba por se envolver integralmente. Uma vez que
a música, especialmente as cantigas de roda trabalham para o
desenvolvimento da linguagem oral, estimulam o movimento, a comunicação e
a participação individual e em grupo do educando.
A cantiga de roda é uma prática pedagógica de atividade lúdica na qual
todos os professores devem lançar mão, pois valoriza a fala das crianças e
leva o aluno a ter mais interesse pelas atividades escritas, desenvolvendo
assim a oralidade e a escrita. Cabe aos profissionais da educação, professores
e pais desenvolver e disponibilizar mecanismos para que filhos e alunos
estejam capacitados para a construção de um mundo melhor, equilibrado e
mais saudável.
Tendo em vista que a oralidade é primordial para haver uma
comunicação e o código escrito está presente em nosso dia-a-dia, nas ruas,
televisão, trabalho, gêneros alimentícios, percebemos como é necessário à
aquisição para a criança dessas linguagens. Daí a importância do indivíduo
aprender a ler e a escrever, para compreender o meio no qual está inserido e
assim poder agir sobre ele.
Como todo processo de aprendizado deve ocorrer o mais cedo possível,
espera-se que o individuo o adquira durante a infância uma base adequada e
conveniente com o futuro cidadão que se tem em mente para garantir nosso
desenvolvimento social. Nesse contexto, a cantiga de roda auxilia o professor a
40
criar situações de interação do aluno com a leitura e a escrita, mas traz a
cultura rica e benéfica, crítica e moral para a formação da criança.
O lúdico funciona como primeiro exercício de vida indispensável à
criança e seu desenvolvimento, proporcionando prazer na aprendizagem,
facilidade de comunicação e integração como a realidade social a que está
integrada. Com base nos estudos publicados e nas experiências realizadas em
escolas públicas por educadores sobre o folclore e o ensino de música,
constatam que esse tipo de aprendizado tem aumentado expressivamente,
porém ainda são poucos os dados de referência de como de como os alunos
se envolvem e praticam as atividades músico – folclórica em suas vidas diárias.
41
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