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Campanha de Manutenção e Construção de Ninhos Artificiais para a Cagarra na Ilha da Berlenga

Miguel Lecoq & Nuno Oliveira

Dezembro 2011

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Campanha de Manutenção e Construção de Ninhos Artificiais para a Cagarra na Ilha da Berlenga

Miguel Lecoq & Nuno Oliveira

Dezembro 2011

Ninho artificial para cagarra na llha Berlenga @ Nuno Oliveira

A parceria do projecto FAME - Future of the Atlantic Marine Environment (n.º 2009-1/089) envolve 5 países europeus e 7 parceiros: Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), BirdWatch Ireland (BWI), Ligue pour la Protection des Oiseaux (LPO), Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), Sociedad Española de Ornitologia (SEO/BirdLife), Universidade do Minho (UMinho) e Wave Energy Centre (WavEC). Para além destes, integra também 3 parceiros associados: Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem (SPVS), Agence des aires marines protégées e Martifer. Este projecto é co-financiado pelo Programa Espaço Atlântico.

CHE FE

DE F IL A:

PARC E IROS

ASSOC IADOS:

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Trabalhar para o estudo e conservação das aves e seus habitats, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações futuras.

A SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves é uma organização não governamental de ambiente que trabalha para a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções. Faz parte de uma rede mundial de organizações de ambiente, a BirdLife International, que actua em mais de 100 países e tem como objectivo a preservação da diversidade biológica através da conservação das aves, dos seus habitats e da promoção do uso sustentável dos recursos naturais.·

www.spea.pt

www.fameproject.eu/pt

www.facebook.com/spea.Birdlife https://twitter.com/spea_birdlife

Campanha de Manutenção e Construção de Ninhos Artificiais para a Cagarra na Ilha da Berlenga. Relatório da Acção A – Actividade 2. Projecto FAME Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, 2011

Direcção Nacional: Maria Clara Ferreira, José Manuel Monteiro, Michael Armelin, Adelino Gouveia, José Paulo Monteiro e Jaime Ramos

Direcção Executiva: Luís Costa

Coordenação do projecto: Iván Ramírez e Joana Andrade

Coordenação técnica: Miguel Lecoq

Agradecimentos: O sucesso desta campanha ficou a dever-se sobretudo à colaboração de um grande número de voluntários: Cristina Maldonado, Iván Ramírez, Joana Costa, Joana Ramírez, Joana Soares, Lucas Vinhas, Luís Avelar, Nádia Sousa, Nélia Mestre, Ophélie Reis, Otília Tavares e Sérgio Correia. Participaram ainda na campanha José Pedro Granadeiro e Teresa Catry. Foram também muitos os amigos que nos acompanharam durante o trabalho de campo aos quais aqui agradecemos. O Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, na pessoa da Eng.ª Sofia Castel-Branco Silveira, autorizou e apoiou logisticamente toda a intervenção. Os Vigilantes da Natureza Eduardo Mourato, Tiago Menino e Paulo Crisóstomo apoiaram o trabalho tendo tornado a nossa estadia muito mais agradável. A Capitania do Porto de Peniche forneceu alojamento e apoio logístico durante as deslocações entre a ilha da Berlenga e Peniche. A campanha contou ainda com o importante apoio do Grupo Jerónimo Martins através da cedência de diversos bens alimentares.

Citação: Lecoq, M. & N. Oliveira. 2011. Campanha de Manutenção e Construção de

Ninhos Artificiais para a Cagarra na Ilha da Berlenga. Relatório da Acção A –

Actividade 2. Projecto FAME. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa (relatório não publicado).

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ÍNDICE

RESUMO/SUMMARY 05

1. NOTA INTRODUTÓRIA 06 1.1 Introdução 06 1.2 Objectivos 06

2. METODOLOGIA 07 2.1 Área de Estudo 07 2.2 Logística 07 2.3 Selecção dos ninhos artificiais e dos locais de construção 07

3. RESULTADOS 08 3.1 Divulgação, recrutamento de voluntários e preparação da logística 08 3.2 Manutenção e construção de ninhos artificiais 08

4. DISCUSSÃO 11 4.1 Divulgação, recrutamento de voluntários e preparação da logística 11 4.2 Manutenção e construção de ninhos artificiais 11 4.3 Acções a realizar nas próximas épocas de reprodução 11

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12

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RESUMO

As Berlengas constituem o único local conhecido na costa continental portuguesa para a nidificação da Cagarra Calonectris diomedea borealis. A reduzida dimensão da sua população no final da década de 1980 e na década de 1990, levou a SPEA, juntamente com a Reserva Natural das Berlengas, a realizar uma campanha de conservação em 1999. Face ao sucesso desta campanha, que consistiu essencialmente na construção de ninhos artificiais (os quais foram posteriormente ocupados), foi realizada uma segunda campanha em Agosto de 2011, no âmbito do projecto FAME (Future of the

Atlantic Marine Environment). Nesta campanha participaram 12 voluntários que colaboraram na construção de 50 novos ninhos e na manutenção de 34 ninhos artificiais.

SUMMARY

The Berlengas archipelago constitutes the single site for breeding Cory´s Shearwaters Calonectris

diomedea borealis in mainland Portugal. The relatively low numbers breeding in the end of the 1980s and during the 1990s, leaded SPEA, together with the Berlengas Nature Reserve, to the implementation of a conservation campaign in 1999. The main objective was the construction of artificial nests (that were later massively occupied by the shearwaters). In order to continue this work, a second campaign was set in August 2011 under the FAME (Future of the Atlantic Marine Environment) project. The participation of 12 volunteers was crucial to carry out the construction of 50 new nests and the maintenance of a further 34 artificial nests previously built.

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1. NOTA INTRODUTÓRIA

1.1 Introdução

A Cagarra Calonectris diomedea é uma ave marinha migradora que nidifica no Atlântico Nordeste e nas ilhas do Mediterrâneo (Cramp & Simmons 1977) e que passa o inverno no Atlântico Sul (Dias et

al. 2011). As Berlengas constituem o único local conhecido na costa continental portuguesa para a nidificação desta espécie. A população reprodutora na ilha da Berlenga foi estimada em 300 casais reprodutores em 2005 (Lecoq et al. 2010).

Devido à reduzida dimensão da sua população, estimada em pouco mais de 100 casais reprodutores no final da década de 1980 (Granadeiro 1991), a SPEA, em Setembro e Outubro de 1999, com o apoio da Reserva Natural das Berlengas, realizou uma acção de conservação com vista a melhorar as condições de nidificação da Cagarra na ilha da Berlenga, nomeadamente através da construção de ninhos artificiais (Lecoq & Duque 1999).

O sucesso desta medida parece ter sido grande, tendo em conta que no período entre 2000 e 2009 mais de 80% do ninhos foram utilizados pelo menos uma vez e que ca. 65% dos ninhos terão sido utilizados em três ou mais ocasiões (Lecoq 2010). De facto, em 2005, aproximadamente um terço da população reprodutora da ilha nidificava em ninhos artificiais (Lecoq et al. 2010).

Nesse sentido, em Agosto de 2011, no âmbito do projecto FAME - Future of the Atlantic Marine

Environment (n.º 2009-1/089) foi efectuada uma nova intervenção com vista a dar continuidade ao trabalho iniciado 12 anos antes. Neste relatório são apresentados os resultados dessa intervenção.

1.1 Objectivos Os principais objectivos foram:

1. Efectuar uma acção de manutenção dos ninhos artificiais construídos na campanha de 1999 na ilha da Berlenga.

2. Construir 40 ninhos artificiais em locais com elevado potencial de ocupação pelas cagarras na ilha da Berlenga.

3. Contribuir para a formação e sensibilização de voluntários, a recrutar no âmbito da presente campanha, nos domínios da ecologia e da conservação de aves marinhas.

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2. METODOLOGIA 2.1 Área de Estudo

O trabalho de campo decorreu na ilha da Berlenga (Reserva Natural das Berlengas) em duas sub-colónias – Melreu e Capitão – onde tinham sido construídos ninhos artificiais em 1999. Adicionalmente foi efectuada uma pequena intervenção no Furado Seco.

Perspectiva da llha da Berlenga observada a partir dos Farilhões @ Joana Andrade

2.2 Logística

A campanha decorreu entre 12 e 24 de Agosto de 2011. O número de voluntários foi limitado a 12 devido aos constrangimentos logísticos, à necessidade de minimizar a eventual perturbação nas colónias, assim como de manter a eficácia da gestão dos voluntários in loco. Os voluntários trabalharam em grupos de 2 pessoas. Sempre que se justificou, fosse devido às condições do local ou à tipologia dos ninhos, alguns voluntários trabalharam isoladamente ou em grupos maiores.

2.3 Selecção dos ninhos artificiais e dos locais de construção

Antes do início da campanha foi efectuado um levantamento dos ninhos artificiais construídos em 1999 que se verificou necessitarem de manutenção. Do mesmo modo foram seleccionados os locais potenciais para a construção dos novos ninhos.

Ninhos artificiais na colónia do Melreu, Ilha da Berlenga

@Joana Andrade

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3. RESULTADOS

3.1 Divulgação, recrutamento de voluntários e preparação da logística

A divulgação desta acção foi efectuada recorrendo essencialmente à difusão de mensagens electrónicas, à utilização da página da internet da SPEA e à afixação de cartazes em diversos locais. Foram seleccionados 12 voluntários.

Antes da partida para a ilha da Berlenga foi efectuada uma reunião preparatória para apresentação, definição de objectivos e planeamento da logística. Houve ainda oportunidade para fazer uma apresentação sobre diversos aspectos da biologia e ecologia da Cagarra com enfâse para a sua conservação.

Os voluntários foram divididos em dois grupos de seis. O primeiro grupo esteve na ilha de 12-16 Agosto e o segundo grupo de 16-24 de Agosto.

3.2 Manutenção e construção de ninhos artificiais

No total foram melhorados 34 ninhos artificiais e construídos 50 ninhos artificiais distribuídos por três sub-colónias (tabela I).

Tabela I. Ninhos artificiais construídos e alvo de manutenção (melhorados) na ilha da Berlenga em Agosto de 2011. São indicadas as sub-colónias onde decorreu a intervenção. SUB-COLÓNIA NINHOS Melhorados Novos TOTAL Melreu 24 42 66 Capitão 8 8 16 Furado Seco 2 0 2 TOTAL 34 50 84

Para a construção dos ninhos foram utilizadas essencialmente pedras soltas encontradas nas imediações de cada colónia minimizando dessa forma o uso de materiais externos à ilha. Nalguns ninhos, foi ainda utilizada uma estrutura de madeira, tendo-se para tal construído uma caixa (semelhante a uma caixa de transporte de fruta), que facilita a instalação de ninhos em locais onde o número de pedras é escasso. No final os ninhos foram devidamente renaturalizados.

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Perspectiva anterior (acima) e posterior (abaixo) à construção de ninhos artificiais, Ilha da Berlenga @Nuno Oliveira

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Sessão de demonstração de construção de um ninho artificial, Ilha da Berlenga@Nuno Oliveira

Perspectiva anterior (esquerda) e posterior (direita) à recuperação de um ninho artificial, Ilha da Berlenga@Nuno Oliveira Ninho artificial visitado por cagarra após ter sido recuperado,

Ilha da Berlenga@Nuno Oliveira

Montagem de caixas de madeira, Ilha da Berlenga, @Nuno Oliveira

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4. DISCUSSÃO 4.1 Divulgação, recrutamento de voluntários e preparação da logística

O envolvimento de voluntários foi crucial para o sucesso da campanha. A reunião preparatória foi importante de forma a planear os diversos aspectos logísticos, envolvendo desde logo os participantes. É de salientar o bom ambiente em que decorreram os trabalhos e o excelente desempenho de todos, apesar da exigência das tarefas. Ao longo da campanha foi evidente a aquisição de conhecimentos por parte dos participantes e a crescente autonomia de cada grupo. O diagnóstico, o planeamento e a avaliação de cada intervenção, efectuada com os membros de cada equipa, revelaram-se extremamente úteis ao longo da campanha. 4.2 Manutenção e construção de ninhos artificiais

O trabalho de construção e manutenção de ninhos artificiais decorreu principalmente na colónia do Melreu. A boa acessibilidade desta colónia facilita muito a logística associada a uma intervenção desta natureza. Além disso, reúne boas condições de segurança, tendo ainda um grande número de locais disponíveis para a colocação de novos ninhos. Adicionalmente foram melhorados e construídos ninhos no Capitão e melhorados dois ninhos no Furado Seco. Nesta última colónia optou-se por não colocar mais ninhos novos tendo em conta a dimensão relativamente reduzida do local.

Embora a maior parte dos ninhos construídos em 1999 apresentasse um bom estado de

conservação, houve a necessidade de efectuar acções de manutenção em pelo menos 34 ninhos. Alguns ninhos, que ficaram inutilizados ao longo dos anos, nomeadamente devido a derrocadas, foram reconstruídos. Globalmente, a campanha de manutenção consistiu na melhoria de ca. 75% dos ninhos artificiais construídos em 1999.

A construção de novos ninhos, 50 no total das duas colónias, aumentou significativamente o número

de cavidades para reprodução. A ocupação dos novos ninhos dependerá de um grande número de factores, sendo de esperar que comecem a ser colonizados já na época reprodutora de 2012.

4.3 Acções a realizar nas próximas épocas de reprodução

Futuramente é importante continuar com a monitorização da ocupação e do sucesso reprodutor nos ninhos artificiais de modo 1) a averiguar anualmente o sucesso desta campanha e 2) a proceder à manutenção dos ninhos artificiais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cramp, S. & K.E. Simmons. 1977. Handbook of the Birds of Europe, the Middle East and

North Africa: The Birds of the Western Palearctic. Vol 1. Oxford University Press. Dias, M.P., Granadeiro, J.P., Phillips, R.A., Alonso, H. & P. Catry. 2011. Breaking the routine: individual Cory’s shearwaters shift winter destinations between hemispheres and across ocean basins. Proceedings of the Royal Society B, 278, 1786–1793. Granadeiro, J.P. 1991. The breeding biology of Cory's Shearwater Calonectris diomedea

borealis on Berlenga Island, Portugal. Seabird 13: 30-39. Lecoq, M & A. Duque. 1999. Improvement of Nesting Conditions for Cory’s Shearwaters

Calonectris diomedea in Berlenga Island (Portugal). Relatório final de projecto. SPEA/RSPB. Lecoq, M. 2010. Melhoria das condições de nidificação da cagarra na ilha da Berlenga: um balanço passados 10 anos. Pardela 37: 8-9. Lecoq, M., Catry, P. & J.P. Granadeiro. 2010. Population trends of Cory’s Shearwaters Calonectris diomedea borealis breeding at Berlengas Islands, Portugal. Airo 20:36-41.


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