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    In forme Agropecur io , Belo Hor izonte,v .23, n .214/215, 713, j an . /abr . 2002

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    Anlise agroeconmica do caf orgnico:Anlise agroeconmica do caf orgnico:Anlise agroeconmica do caf orgnico:Anlise agroeconmica do caf orgnico:Anlise agroeconmica do caf orgnico:

    definies, anlise de mercadodefinies, anlise de mercadodefinies, anlise de mercadodefinies, anlise de mercadodefinies, anlise de mercadoe viabilidade econmicae viabilidade econmicae viabilidade econmicae viabilidade econmicae viabilidade econmica11111Resumo- Adaptao do documento prepa-

    rado pela Junta Executiva do Conselho da

    Organizao Internacional do Caf, que trata

    do tema caf orgnico. Contm definies

    desse tipo de caf, anlise de seu mercado e

    sua viabilidade econmica, com informaes

    teis sobre potencialidades econmicas, carac-

    tersticas deste mercado, limitaes e propos-tas desse tipo de cafeicultura nos mtodos

    adotados pela agricultura orgnica.

    Palavras-chave: Cafeicultura orgnica; Ma-

    nejo orgnico; Comercializao; Certificao;

    Mercado orgnico.

    1Adaptao de: ORGANICAZAO INTERNACIONAL DO CAF. Anlise agroeconmica do caf cultivado organicamente ou caf orgnico.Londres, 1997. 19p.

    In forme Agropecur io , Belo Hor izonte,v .23, n .214/215, p .713, j an . /abr . 2002

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    DEFINIO DECAF ORGNICO OUEM SISTEMA ORGNICODE CULTIVO

    Antes de caracterizar o caf orgnico, preciso definir o que se entende por agri-

    cultura orgnica.

    Agricultura orgnica

    A definio de agricultura orgnica, co-mo se costuma denominar o processo decultivar organicamente, assim como sualegitimidade, tem sido e continuar sendoobjeto de grande polmica.

    Isso se deve a vrios fatores: o primeiroe menos transcendental est ligado varia-da terminologia que se utiliza para expressar

    os conceitos pertinentes em diferentesidiomas, que introduz novas palavras esignificados no vocabulrio existente. Vemda a dificuldade em encontrar equivalnciae preciso nos termos utilizados paraexpressar os conceitos de orgnico, ecol-gico, biolgico, convencional, tradicionale, mais recentemente, um termo mais damoda, como sustentvel ou durvel.

    Os economistas rurais, que se interes-sam em observar os sistemas agrrios por

    uma tica microeconmica, prefeririamvaler-se dos adjetivos tradicional e conven-cional ou empregar termos como empequena escala, familiar, de subsistncia,industrial ou tecnificado. Falariam de pa-dres da produo e distinguiriam umaestrutura economicamente auto-suficientede uma estrutura econmica, em que osmeios de produo orientam-se para a me-canizao, a diviso do trabalho e a especi-alizao da produo para gerar economiasde escala. Tambm incluiriam em sua lingua-gem termos como: fatores de produo,aludindo ao solo, mo-de-obra e ao capi-tal. Em seu vocabulrio, os aspectos eco-nmicos da agricultura orgnica seriamconsiderados no contexto de medidasdestinadas a manter a fertilidade do fatorde produo solo pelo uso de tcnicas a-propriadas e a empregar intensivamente ofator de produo mo-de-obra, utilizandoo fator capital de forma menos intensivaque nas estruturas mais mecanizadas, que

    requerem grandes quantidades de ferti-lizantes concentrados de alta solubilida-de.

    Os agricultores, os mais importantespersonagens no aspecto em que essa defi-nio controversa caracteriza, absorveriamos diversos discursos e adotariam e adapta-riam mtodos, tcnicas e idias prove-nientes de outros, atravs de um processode tentativa e erro. Isso nos leva a conside-rar o segundo fator que causa diferenasde opinio e ambigidades, quando seprocura definir agricultura orgnica.

    Este segundo fator subjacente dificul-dade de definir agricultura orgnica atravsde critrios claros, especficos e imutveis a constatao de que cultivar um pro-cesso ligado a uma dada rea geoecolgica

    e, sendo um processo, est sujeito evo-luo. As tcnicas agronmicas emprega-das vo mudando, proporo que a difu-so das informaes e do conhecimentose amplia graas transferncia de tecno-logia e sua adaptao atravs da transmis-so do saber-tudo isso num contexto eco-nmico, social e poltico. O ritmo da adoodos modelos de cultivo depende das con-dies geogrficas, ecolgicas e climticas,assim como das limitaes econmicas dos

    produtores.Os mtodos de agricultura orgnica no

    escapam desta generalizao e isso estclaro para quem tenha tido o privilgio deexplorar as razes desses conhecimentos ea histria da migrao das idias.

    Os pases de tradio anglo-saxnicaadotaram o termo orgnico, que reflete umaviso holstica, porm mecanicista do mun-do. A perspectiva mecanicista permite esta-belecer uma relao de causa e efeito entre

    as partes do sistema agrcola, a partir daqual possvel elaborar receitas e produtosfitossanitrios.

    Os pases de tradio e fala francesapreferem enfatizar o carter vivo dos fen-menos agronmicos observados e denomi-nam o emprego desses mtodos de agricul-tura biolgica.

    Com efeito, a definio de agriculturaorgnica complexa, no bastando descre-v-la como a ausncia de emprego de subs-tncias qumicas, pois esta uma expres-

    so restrita, que pode levar a erros de apre-ciao por quem no esteja familiarizadocom a qumica, a fsica ou a agronomia. Pa-ra melhor compreender o que constitui aagricultura orgnica, propomos uma anliseque inclui trs nveis de definio: tcnico-

    agronmico, econmico e cientfico-filo-sfico.No nvel tcnico-agronmico, descre-

    vem-se os mtodos utilizados na seleode sementes, germinao, preparo e manu-teno dos solos, plantio, proteo fitos-sanitria, fertilizao e, no caso do caf,processamento e armazenamento. A nfaseno na produo e uso de novos fertili-zantes, produtos fitossanitrios ou outrosaditivos, mas no respeito a uma srie deprincpios, que ser enunciada ao des-crever-se o terceiro nvel.

    No nvel econmico, promovem-seestratgias de produo e de comercializa-o que se adaptam ao sistema capitalistaou dele divergem, segundo a regio. Paraos pases da Europa Ocidental ou da Am-rica do Norte, com sistemas de produoaltamente mecanizados e pouca mo-de-obra, a agricultura orgnica no propeuma estrutura de organizao diferente dosistema produtivista desenvolvido desdeos anos 50. A diferena proposta pelos agri-cultores e consumidores de produtos org-nicos que se procure reduzir o excessode intermedirios, para que haja uma rela-o direta, mais socivel e humana, entreprodutores e consumidores.

    Nos pases onde a estrutura de produoassenta-se numa fartura de mo-de-obrafamiliar, mais fcil vender diretamente acomerciantes que garantem um preo jus-to aos produtores e incentiva-se a conser-vao de um sistema, na medida do poss-vel, auto-suficiente ou autrquico. A auto-suficincia s conseguida quando osagricultores so capazes de produzir suasprprias sementes, selecionadas de acordocom a localidade, seus prprios fertili-zantes, seus prprios recursos fitossani-trios e remdios para uso em seus ani-mais, s dependendo, em pequena escala,de distribuidores externos para a obtenode alguns insumos. Em casos extremos,

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    regressaramos s estruturas de policulturafamiliares.

    A base cientfica e filosficada prticada agricultura orgnica foi implantada nosanos 30, em parte como conseqncia dadifuso do conhecimento das cincias na-turais e em parte como reao tendncia mecanizao e especializao na orga-nizao das empresas. Este terceiro nvelcompreende os seguintes princpios:

    a) solo no um substrato inerte, maso habitatde mltiplos organismose microrganismos, que funcionamcomo agentes transformadores dosnutrientes, tornando-os solveis edisponveis s plantas;

    b) desequilbrio nutricional das plantas

    ou do meio ambiente reduz a defesadas plantas e propicia o aparecimen-to de pragas tornando-as mais vul-nerveis s doenas;

    c) fertilizantes de origem mineral, porsua natureza inerte, devem ser evita-dos, pois no tm os mesmos efeitosque o adubo lquido ou o compostobem preparado;

    d) as plantaes devem formar um todoorgnico, para alcanar a maior auto-

    suficincia possvel.

    Mtodos daagricultura orgnicaaplicados ao cultivoe processamento de caf

    O cafeeiro Coffea o principal gneroda famlia das Rubiceas, que inclui maisde 6 mil espcies. Hoje, s duas espciesdo gnero Coffea tm importncia econmi-ca: Coffea arabica (70% da produo mun-

    dial) e Coffea canephora ou robusta (30%da produo mundial). Ambas so culturasarbreas, que comeam a produzir trs ouquatro anos aps o plantio e tm uma vidaeconmica de 20 a 30 anos. Embora s pros-perem em zonas tropicais e subtropicais(temperaturas entre 18oC e 26oC), as duasespcies exigem diferentes condies decultivo. O caf no resiste a temperaturasabaixo de zero e requer uma precipitaode mais de 1.500mm por ano.

    Nas modernas propriedades, para que

    o cafeeiro cresa, utilizam-se maiores quan-tidades de fertilizantes minerais e irrigao.Essas tcnicas aumentam substancialmen-te os custos e s so viveis em reas deprodutividade e rendimento elevados. Por-tanto, so propriedades mais vulnerveisaos efeitos dos baixos preos do mercadodo que aquelas tradicionais, onde os pro-dutores limitam-se a fazer a limpeza, a podae a colheita.

    Assim, embora a maioria das tcnicaspropostas pela agricultura orgnica pos-sa ser aplicada ao cultivo do cafeeiro, aoadaptar as mais pertinentes preciso terem conta as caractersticas ecoclimticasda regio, as estruturas econmica e socialda localidade e, naturalmente, as condiesdo mercado (preos).

    Fertilizao e

    manuteno do solo na

    cafeicultura orgnica

    Os mtodos propostos pela agriculturaorgnica do grande nfase conserva-o dos solos e s adubaes, valendo-seda fauna e da flora e recorrendo aos co-nhecimentos da cincia dos solos.

    O argumento cientfico contra o uso defertilizantes de origem mineral baseia-se no

    fato de que esses fertilizantes, sendo maissolveis, podem propiciar um desequilbrionutricional nas plantas, quando o agricultoremprega frmulas j preparadas sem levarem conta as necessidades especficas dolocal. Alm disso, solubilizam-se rapida-mente e, quando no so absorvidos pelasplantas, desperdiam-se e contribuem paraacidificar os solos ou acumulam-se nos len-is freticos, contaminando os recursoshdricos. Trata-se de um srio problema que

    ameaa a sade humana, e tem sido expos-to sobretudo na Europa e na Amrica doNorte.

    Tcnicas de reciclagem de matria org-nica vegetal ou animal (por exemplo o adubolquido ou o sangue), usadas como ferti-lizantes, tm sido muito difundidas, nos nas propriedades que afirmam estarproduzindo caf orgnico. Entre outrassubstncias vegetais, a polpa de caf podeser reciclada e utilizada como adubo. Naliteratura consultada, no foram encontra-

    das recomendaes especficas sobre aelaborao de composto base de polpade caf. Como se sabe, na Amrica Latina,este procedimento est cada vez mais difun-dido.

    Outra tcnica importante para assegurara fertilidade a da associao de culturas.Da cuidadosa escolha das plantas ou rvo-res para plantio com o cafeeiro dependero xito da devoluo ao solo do nitrog-nio e dos elementos essenciais para a nutri-o do cafeeiro. Esta tcnica pode ser com-binada com outras de cultivo intercalar,usadas para manter a fertilidade do solo.As plantas utilizadas para este fim, comoas leguminosas, proporcionam benefcioseconmicos e, ao mesmo tempo, fixam o ni-trognio. o caso da Crotolaria ochroleuca,

    produzida na Tanznia.Na Colmbia, estudaram-se outras vari-

    edades de leguminosas cultivadas de formaintercalar ao cafeeiro, para favorecer a fixa-o de nitrognio e a conservao do solo,utilizando seis leguminosas, exclusiva-mente ou em combinao com gramneas.No estudo em questo, as plantas tambmforam inoculadas com estirpes de bactriado gneroRhizobium. No entanto, impor-tante a realizao de uma pesquisa mais

    ampla sobre a fixao simbitica de nitrog-nio no cultivo de cafeeiro (estudos bem-sucedidos j foram realizados sobre o usode bactrias fixadoras de nitrognio paraoutras culturas, tais como o arroz e o milho)

    So vrios os mtodos utilizados paraevitar a eroso, como a caixa de contenopara recebimento de guas pluviais, osbons sistemas de drenagem, o plantio dervores para evitar o desgaste de origemelica em reas demasiadamente expostas

    ao vento etc. Tcnicas de policultura, quecombinam o plantio de diversas variedadesde arbustos de sombra entre as leiras decafeeiros, tambm so utilizadas. As folhase ramos mortos podem ser utilizados comofertilizante e como cobertura morta que seespalha ao redor dos cafeeiros para prote-g-los contra as plantas espontneas.

    Medidas de controle fitossanitrio

    na cafeicultura

    Dos dois primeiros princpios enuncia-

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    dos que orientam as prticas de controlefitossanitrio, o combate a pragas, doenase plantas espontneas baseia-se sobretudonas seguintes medidas preventivas:

    a) controle natural;

    b) controle biolgico, que inclui o bio-

    controle por meio de biotecnologiase da seleo de plantas naturalmenteresistentes;

    c) uso de outras variedades de plantasnaturalmente resistentes. No combates plantas espontneas tambm utili-zam-se medidas que incluem um sis-tema de rotao plurianual (quandopossvel), a limpeza mecnica ou tr-mica e o uso de coberturas vegetais.

    O controle natural consiste em preservaros inimigos naturais das pragas para evitaro uso de inseticidas.

    O controle biolgico baseia-se no co-nhecimento do ciclo de vida dos inimigosnaturais das pragas do cafeeiro, bem comosua etologia ou comportamento e ciclos re-produtivos. Assim, introduzem-se inimigosnaturais, que podem ser predadores, com-petidores ou patgenos da praga.

    O biocontrole, um processo ligeiramen-te mais sofisticado do que o combate biol-

    gico, tambm se apia nos avanos doconhecimento nas Cincias Biolgicas. Umdos exemplos mais populares o empregodo fungoBeauveria bassiana no controleda broca-do-caf.

    A seleo de variedades resistentes aagentes patognicos ou insetos viveldo ponto de vista da renovao dos cafe-zais. No entanto, esta uma tcnica menoseficaz no caso do cafeeiro do que no doscultivos anuais, pois estes so plantados

    para durar muitos anos.O uso de outras variedades de plantasnaturalmente resistentes altamente reco-mendado entre os mtodos tcnico-agron-micos que a agricultura orgnica preconiza.Trata-se do emprego de inseticidas que jexistem na natureza. Substncias como opiretride ou a nicotina so inseticidas natu-rais. J a mencionadaCrotolaria ochroleuca,da Tanznia, excelente fixadora de nitrog-nio e reduz a propagao de plantas prejudi-ciais aos cafeeiros.

    Ainda so necessrias muitas pesqui-sas com vistas ampliao dos conheci-mentos agronmico e biolgico existentese difuso desses conhecimentos, para co-locar ao alcance dos agricultores mtodoseconmicos de combate a doenas, pragase plantas invasoras.

    Estratgias de comercializaono mercado de caf

    O ltimo princpio enunciado, segundoo qual as propriedades agrcolas devemconstituir um todo orgnico para alcanara maior auto-suficincia possvel, tem influ-enciado tanto as estratgias de comerciali-zao como a forma de organizao daspropriedades.

    Na comercializao, os produtores tm

    de demonstrar aos consumidores que res-peitaram os princpios e mtodos j descri-tos. Quando os consumidores vivem namesma localidade que os produtores, nocaso de produtos como verduras, legumes,frutas, laticnios ou carnes, isso requer menosesforo do que no caso de produtos comoo caf, cujos consumidores, em sua maioria,situados em lugares distantes, no fazemidia da complexidade dos processos queresultam numa xcara de caf.

    Quanto ao caf orgnico, no s os pro-dutores, mas tambm os processadores, se-jam eles torrefatores ou armazenadores eempacotadores, devem respeitar os princ-pios da agricultura orgnica. Isso nos levaao exame da funo da certificao e da de-terminao dos padres a respeitar, paraque um produto produzido como orgnicono perca essa especificao.

    CERTIFICAO DOSPRODUTOS ORGNICOS,ENTRE ELES O CAF

    A certificao surgiu como resposta auma necessidade de validar os esforos demuitos e para garantir aos consumidoresque o produto que eles tencionam consumirfoi produzido de acordo com normas dequalidade precisas e definidas. Alm disso,ela cumpre uma funo de difuso de in-formaes e de educao do pblico, aogeneralizar e divulgar os mtodos utilizadose padres observados.

    A certificao, porm, cria custos adi-cionais para os produtores, que tm de des-pender somas considerveis para assegu-rar que, aps dois ou trs anos, suas proprie-dades sejam aprovadas como orgnicas.

    Agncias e instituiesinternacionais relacionadascom a certificaoda agricultura orgnica

    O primeiro organismo internacional deapoio harmonizao das normas da pro-duo, processamento e comercializaofoi aInternational Federation of Organic

    Agriculture Movements (Ifoam). Criadaem 1972, a Ifoam hoje trabalha de formamuito dinmica para, atravs de uma redemundial, promover uma vasta gama de ati-

    vidades que compreendem a promoo, acoordenao de medidas destinadas a in-fluenciar decises parlamentares, a coope-rao, a educao e a divulgao.

    A Ifoam publica e revisa periodicamenteuma srie de Padres Bsicos da Agricultu-ra e Processamento Orgnicos.A revisode 1976 incluiu as diretrizes para a produ-o e o processamento do caf, do cacau edo ch. Convm observar porm, que essasdiretrizes tm carter bastante indicativo e

    que ainda se est trabalhando na harmoni-zao de critrios mnimos.

    Associaes europias

    As principais entidades encarregadasde conceder certificao ao caf orgnicona Europa so a Naturland Association,oInstitut fr Marktkologie e, em algunscasos, aDemeter. Esta ltima, encarrega-se sobretudo de certificar produtos biodi-nmicos, cujos princpios seguem os ensi-

    namentos de Rudolf Steiner, difundidos naAlemanha e na Sua, a partir dos anos 30ANaturlandfoi criada em 1982 por um

    grupo de cientistas ligados agricultura econsumidores e, em 1989,comeou a ofere-cer servios de certificao no Mxico. Ho-

    je, ela certifica mais de 20 cooperativas, quecongregam mais de 15 mil pequenos produ-tores, e podem ser encontradas no Mxico(desde 1989), na Guatemala (1992), no Peru(1993), na Costa Rica (1996), na Bolvia(1992) e em Camares (1997).

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    Associaes nos Estados Unidos

    Nos Estados Unidos, h 33 associaescertificadoras de produtos orgnicos. Se-gundo informaes recebidas, as agnciasmais importantes no que diz respeito ao cafso a Organic Crop Improvement Association

    International (Ocia) e a Organic Growersand Buyers Association (OGBA). A Ociarene cerca de 40 mil membros produto-res distribudos em 35 pases. Cerca de 40%desses membros esto nos chamados pa-ses em desenvolvimento.

    Agncias certificadoras nacionais

    Alm dessas entidades europias enorte-americanas reconhecidas, comeama surgir instituies locais, como por exem-plo o Centro Nicaraguense para a Investi-gao e a Promoo da Agricultura Ecol-gica (Cenipae). Trata-se de entidades quecertificam na regio e que, em alguns casos,dependem das instituies internacionaispara garantir a viabilidade dos produtoresnos mercados europeu e americano.

    Processos para obtera certificao deagricultura orgnica

    A certificao observa uma srie de pro-cedimentos rigorosos. A entidade certifi-cadora estipula normas relativas a cada as-pecto da produo, controle fitossanitrio,controle de pragas, embalagem, processa-mento, armazenamento, transporte, comer-cializao e etiquetagem, empregando umcomit independente para deferir ou inde-ferir os pedidos de certificao. Uma vezconcedida a certificao, visitas anuais decontrole so organizadas para asseguraruma estrita obedincia s normas.

    Da mesma forma como os produtores,os comerciantes e os processadores (torre-fatores, empacotadores) esto obrigadosa requerer a certificao e a acolher as inspe-es e o sistema de monitoramento nos ter-mos dos contratos que eles celebram coma entidade certificadora. Alm disso, o direi-to de utilizar a marca registrada da entida-de (por exemplo, Naturland, Ocia etc.) conseguido mediante contratos, pelos quaisos requerentes comprometem-se a pagar

    direitos ou custos de licena calculadosanualmente base de porcentagem sobreas vendas dos produtos comercializadoscomo orgnicos.

    Normas para a certificaoda agricultura orgnica

    Diversos pases j adotaram ou esto-se preparando para adotar as bases da regu-lamentao da certificao e, portanto, daproduo, processamento, comercializaoe marketing (etiquetagem) dos produtosobtidos pelos mtodos de agricultura org-nica.

    Legislao europia

    A legislao europia procura harmoni-zar as iniciativas de seus vrios membros,

    em resposta a:

    a) obter um incremento da demandados consumidores por produtos or-ganicamente produzidos;

    b) assegurar uma competio saudvelentre os produtores e uma transpa-rncia no mercado, com relao produo, ao processamento e transformao de produtos, que cus-tam caro para os consumidores;

    c) proteger os consumidores do pontode vista da observncia de normas epadres mnimos nos mtodos em-pregados pela agricultura orgnica.A Comunidade Europia (CE) emitiuuma srie de normas, que apresen-tam a definio de exigncias mni-mas para os mtodos de produo eetiquetagem dos produtos orgnicosna CE (utilizando tambm termos deseus outros idiomas, como ecolgico

    em espanhol, kologischem alemo,biologiqueem francs, organicemingls e biolgico em portugus) eestabelecem o sistema de inspeodos produtos importados.

    Legislao norte-americana

    Para proteger tanto os consumidoresquanto os produtores, processadores e co-merciantes certificados como orgnicos, em1990, o Congresso dos Estados Unidosaprovou a Lei da Produo dos Alimentos

    Orgnicos - Organic Foods Production Act(OFPA). Implementada em 1996, a OFPAcontm uma srie extremamente abrangentede normas a cumprir, para que no rtulo deum produto possa mencionar que ele foiproduzido organicamente. Nota-se que a

    lei oferece uma lista completa tanto desubstncias sintetizadas quimicamente, co-mo de substncias naturais, que so inacei-tveis na produo orgnica. Entre estasltimas, encontra-se a nicotina.

    SITUAO DO MERCADODO CAF ORGNICO

    Uma anlise detalhada e profunda domercado de caf orgnico e de seu potencialpara novos mercados exigiria um conhe-

    cimento dos pases produtores, dos pasesconsumidores, dos canais de distribuiodos volumes das transaes nos ltimosanos e dos preos obtidos no mercado.

    Como as estatsticas acerca deste t-pico so quase inexistentes ou esparsas,os comentrios que so feitos baseiam-seem informaes prestadas por especialis-tas do comrcio cafeeiro e associaes cer-tificadoras. Uma pesquisa mais aprofun-dada seria necessria para completar essa

    anlise.

    Pases produtorese pases consumidores

    Os principais pases produtores de ca-f orgnico so os latino-americanos: Cos-ta Rica, Peru, Mxico, Guatemala, Nicar-gua, El Salvador, Brasil e Colmbia. Emoutras partes do mundo, tambm produzemcaf orgnico Papua-Nova Guin, Indo-nsia - na Sumatra, e em um projeto doDepartamento de Agricultura dos EstadosUnidos (USDA), no Timor - ndia, Uganda,Camares e Tanznia.

    Os principais pases consumidores decaf orgnico so os Estados Unidos, se-guidos pela Alemanha, Pases Baixos,Sua, Frana, ustria e Japo. Embora nose conhea a porcentagem do consumo quecorresponde a cada pas, sugere-se que osprincipais compradores sejam os EstadosUnidos e a Alemanha.

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    A comercializao docaf orgnico

    Diz-se que o mercado do caf orgni-co determinado pelos consumidoresconscientes em questes ligadas sade(health food market). A publicidade deste

    tipo de produto, porm, vem-se deslocandode um mercado onde os consumidores pre-ocupavam-se sobretudo com a sade, paraum mercado onde eles tm em mente ques-tes de carter ambiental e social. Este fen-meno vem ocorrendo principalmente naEuropa, onde a imagem de um comrcio ti-co, solidrio ou justo (fair trade) tem sidoligada imagem da agricultura sustentvele orgnica.

    Como ocorre com outros produtos pos-tos venda como orgnicos, o caf orgni-co vendido aos consumidores com a ga-rantia de que provm de fonte segura, con-fivel e direta, sem passar pelas mos demltiplos comerciantes e distribuidores. Is-so significa que uma grande proporo doprmio que os consumidores esto dispos-tos a pagar ir favorecer o meio ambiente echegar diretamente aos produtores, contri-buindo para uma maior eqidade socioeco-nmica atravs da prtica do comrcio soli-drio (fair trade).

    Uma lista dos fornecedores de cafs fi-nos nos EUA, publicada em novembro de1994, mostra que apenas 25 firmas, dentreas 400 citadas, ofereciam caf orgnico. Estedado coerente com a afirmao de quemilhares de produtores podem ter conse-guido certificados da Ocia, mas s pertode uma dzia de firmas (torrefatoras princi-palmente) e alguns comerciantes estorecebendo certificao da entidade. Essasfirmas tm um papel decisivo na promoo

    do consumo do caf certificado como org-nico. O sistema repousa na confiana que osconsumidores depositam nos comerciantesque adotam a estratgia de lidar diretamentecom cooperativas de pequenos produto-res, para evitar problemas no trato com umaregulamentao cada vez mais severa.

    Para atender s exigncias administrati-vas do monitoramento pelas organizaescertificadoras e para fortalecer seu poder denegociao, os pequenos produtores tendema se associar em cooperativas.

    O caf orgnicocomo parte de ummercado segmentado

    O caf orgnico tem um potencial devendas num pequeno nicho do mercado,visto por alguns analistas como um seg-

    mento da qualidade gourmet. Para outros,o caf orgnico no pode ser associadoaos cafs especiais, pois dentro dessa cate-goria encontram-se diferentes qualidades.

    No mercado dos cafs especiais, afirma-se que o caf orgnico tem grande potencialeconmico. Sua incluso na categoria nopode ser atribuda a uma melhora inevitvelde sabor resultante da utilizao de mto-dos da agricultura orgnica em sua produ-o, mas ao fato de que, sendo caf Arbica, possvel inclu-lo em mesclas que podemser vendidas como caf gourmet sempreque, aps ter sido certificado como orgni-co, ele satisfaa a preferncia dos consumi-dores por um produto de qualidade superior.

    O diretor da Associao dos Cafs Fi-nos dos EUA, Ted Lingle afirma que, se-gundo estimativas, at 1999 o caf cultiva-do organicamente foi responsvel por 5%das vendas de cafs finos no mercado norte-americano, respondendo por um volume de,aproximadamente, 80 mil a 100 mil sacas.

    Volume real

    O consumo de caf certificado comoorgnico e que cumpria o Regulamentono2.072/91 da Comunidade Europia (CE),em 1991, respondia por apenas 0,12% doconsumo total dos principais pases consu-midores da CE, ou seja, por um volume de2.240 toneladas ou 24 mil sacas.

    Em 1996, os membros da Naturlandvenderam um total de 1.800 toneladas na

    Alemanha, Pases Baixos, ustria e Sua.Segundo estatsticas da Organizao Inter-nacional do Caf (OIC), o consumo nessespases colocou-se na ordem de 1,14 milhode toneladas. Isso significa que os mem-bros daNaturland venderam, aproximada-mente, 0,16% do caf consumido nos qua-tro pases.

    Volume potencial dasvendas de caf orgnico

    No dispomos de cifras exatas sobre os

    volumes vendidos por outros canais (aDemeter, outras agncias certificadoras) e,portanto, no estamos em condies de citarneste trabalho o volume efetivo ou estima-do das vendas de caf orgnico. AWet CoffeeProcessors Association (WCPA), da Ugan-da, tencionava colocar aproximadamen-te 5 mil toneladas de caf Arbica no mer-cado europeu.

    No Timor, 7 mil agricultores produziram450 toneladas em 1996, e estimava-se que8.500 produtores estariam participando doprojeto do USDA e exportando de 600a 800 toneladas para o mercado norte-americano, em 1997.

    Observamos com grande ateno que, paraprodutores em algumas regies onde o cafeeiro cultivado sem fertilizantes ou pesticidas

    sintticos e comercializados por grandes com-panhias, se a demanda e os preos recebi-dos lhes oferecessem suficiente incentivopoderiam encontrar-se em posio bastantevantajosa do ponto de vista competitivo,caso pleiteassem a certificao de seu cafpara comercializ-lo como orgnico.

    A ttulo indicativo, calcula-se que, apli-cando os mais estritos padres de certifica-o de produtos orgnicos, um volume de9.700 toneladas de caf das denominaes

    DjimmaeLimu poderia ter recebido certifi-cao imediata em 1995 s na ProvnciaEtope de Keffa. Alm disso, nos ltimoscinco anos a Provncia exportou 73% deseu caf da qualidade seco a sol (35 mil to-neladas) e cerca de 3 mil toneladas deLimu,ou seja, 20% do total de suas exportaesde caf lavado.

    Esses dados provocam muitos questio-namentos sobre o futuro do caf produzi-do organicamente: O que se passaria com

    o mercado? Pases que seguirem as estritasnormas impostas pelos mercados europeue norte-americano ver-se-iam ameaados porpases competitivamente privilegiados co-mo a Etipia? Ou talvez, a confiana que setem nos distribuidores tradicionais, cons-truda graas ao trabalho rduo das agn-cias certificadoras de maior renome, permita,pelo menos durante certo tempo, protegerquem tenha acatado todas essas normas,especialmente os pases latino-americanosA previso da orientao desse mercado

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    teria de basear-se num consenso a respeitode questes como as que constituem o cul-tivo orgnico, as normas a respeitar, o papeldas entidades certificadoras e as garantiasaos consumidores.

    Comparao do preo pagopelo caf orgnico e pelono-orgnico

    Em 1992, o caf orgnico estava sendovendido no atacado por US$ l.00 a US$1.50acima do preo do caf no-orgnico, ob-tendo-se um prmio de US$1.50 a US$2.00no varejo. Acredita-se que os consumidoresde pases como a Alemanha, de modo ge-ral, esto dispostos a pagar um prmio de15% a 20% pelos produtos certificados co-mo orgnicos. Esta margem pode variar,

    segundo a conjuntura econmica, diminu-indo em perodos de recesso e tambmsegundo resultados de campanhas de sen-sibilizao e promoo.

    O diferencial de preos que os produ-tores recebem depende em grande parteda capacidade de negociao com os distri-buidores. Como na maioria dos casos osprodutores de caf orgnico so pequenosprodutores, que ainda no tm grandeexperincia, nem grande poder para ne-

    gociar preos mais remuneradores, quemconsegue os maiores benefcios, compa-rativa e relativamente, so os distribuido-res.

    A importncia docaf orgnico

    O que mostra a importncia relativa docaf cultivado pelos mtodos da agriculturaorgnica no tanto o volume de caf quese vende, mas o enorme esforo dos produ-

    tores no sentido de adquirir conhecimentossobre tcnicas agrcolas que exigem baixosnveis de inverso de capital e que, ao mes-mo tempo, atendem aos dois principais obje-tivos do desenvolvimento sustentvel:

    a) proporcionar alternativas menos noci-vas para a manuteno da fertilidadee da qualidade dos recursos naturais;

    b) contribuir para que pequenos e mdiosagricultores que operam com base nouso intensivo de mo-de-obra orga-

    nizem-se em sistemas de cooperativasque lhes garantam acesso ao mercado.Por estes parmetros, grande parte docaf que o mundo produz orgnico revelia. No se sabe quantos agricul-tores praticam esse tipo de agriculturaou quais so as superfcies alocadasa esse tipo de produo, mas h infor-maes de que eles no passam dealguns milhares.

    A importncia relativa dos mtodos pre-conizados pela prtica da agricultura org-nica do ponto de vista de sua difuso serdeterminada em grande parte pelos seguin-tes fatores:

    a) capacidade que esses mtodos pos-sam ter em adaptar-se e aceitar a in-

    cluso de novas tecnologias e bio-controle entre seus princpios;

    b) papel das campanhas de extensorural promovidas pelos governos;

    c) flexibilidade demonstrada pelas entida-des certificadoras e agncias estatais,esforando-se para no se transfor-mar num peso e obstculo conver-so e, ao mesmo tempo, o rigor emcelebrar os contratos de certificaoe monitoramento, para preservar aconfiana dos consumidores;

    d) campanhas de educao e de sensibili-zao destinadas a promover os produ-tos orgnicos entre os consumidores;

    e) preo relativo do caf orgnico, queteria de compensar os custos de pro-duo e as despesas adicionais dacertificao e do monitoramento aolongo da cadeia de produo, proces-samento, transporte e comercializao.

    CONSIDERAES FINAIS

    Est longe de se ter um consenso emtorno da definio de caf orgnico, devido dificuldade em definir o que constitui agri-cultura orgnica. Levando-se em conta aevoluo histrica do conceito, no presen-

    te documento prope-se um esquema deanlise que compreenda um nvel tcnico-agronmico, um nvel econmico e umabase filosfica para definir a aplicao doconceito de orgnico produo, proces-samento e comercializao de caf.

    Os padres de certificao no so pre-cisos. Embora as organizaes certificadorastenham publicado padres muito detalha-dos quanto aos mtodos a seguir na agri-cultura orgnica, os padres especficos

    para a produo e o processamento do cha-mado caf orgnico s foram determinadosem termos muito genricos. Tem-se a infor-mao de que o trabalho acerca dos pa-dres para o caf ainda est em curso.

    Os pases que desejam exportar seusprodutos para regies onde as normas estosendo implementadas com rigor nesses lti-mos anos, vem-se obrigados a respeitaruma srie de padres que podem constituirbarreiras no-comerciais ao livre comrcio.

    A viabilidade econmica do caf org-

    nico ainda difcil de avaliar. Os custos extrasacarretados pela necessria inspeo e con-trole da observncia dos mtodos da agri-cultura orgnica, mais os custos dos direi-tos de propriedade das marcas registradasexigiro que os diversos agentes produtores,processadores, comerciantes, bem comoentidades certificadoras e governos estejamde acordo, quanto s normas a seguir e aoscustos administrativos acarretados tantopara produtores como para consumidores

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    Ivan Franco Caixeta1Srgio Pedini2

    Cafeicultura orgnica:Cafeicultura orgnica:Cafeicultura orgnica:Cafeicultura orgnica:Cafeicultura orgnica:conceitos e princpiosconceitos e princpiosconceitos e princpiosconceitos e princpiosconceitos e princpios

    Resumo- So apresentados os principais co

    ceitos e princpios que norteiam a produo

    caf de forma sustentvel e em equilbrio co

    o ambiente. Existem vrias denominaes pa

    um sistema de produo ecologicamente equ

    librado, adotando-se, aqui, a conceituao

    orgnico. Destacam-se ainda as diferentescolas, pontos a favor e os desafios existe

    tes no processo de comercializao do ca

    orgnico.

    Palavraschave:Agricultura orgnica; Agricu

    tura biolgica; Caf orgnico.

    1EngoAgro, M.Sc., Prof. Escola Superior de Agricultura e Cincias de Machado (ESACMA) / Presidente da Associao de Cafeicultura Orgnicado Brasil (ACOB), Rua Major Feliciano, 1000, CEP 37750-000 Machado-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    2EngoAgro, M.Sc., Prof. Escola Superior de Agricultura e Cincias de Machado (ESACMA) / Secretrio Executivo da Associao de CafeiculturaOrgnica do Brasil (ACOB), Rua 7 de Setembro, 222, CEP 37750-000 Machado-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    In forme Agropecur io , Belo Hor izonte,v .23, n .214/215, p .1520, j an . /abr . 2002

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    INTRODUO

    O modelo agroqumico de produo,com base no uso intensivo de fertilizantessintetizados e altamente solveis, com aaplicao indiscriminada de defensivosagrcolas e conseqentes desequilbrios

    ambientais, sociais e sanitrios, vem sen-do alertado e discutido por vrios autores,dentre eles, Paschoal (1994), notadamentea partir da dcada de 70, quando se inten-sificou a preconizada Revoluo Ver-de. Ainda, segundo esse autor, exemplosclaros desse modelo esto por toda parte:reas cultivadas com trigo e soja na RegioSul do pas perdem mais de 100 t/ha de so-lo, em apenas um ano agrcola, dilapidan-do um recurso que levou milhares de anos

    para ser formado. Segundo a Organiza-o Mundial da Sade (apud FAO, 1999),o uso intensivo de pesticidas na agricul-tura tem provocado envenenamentos daordem de 3 milhes de pessoas por ano.

    Um dos argumentos utilizados poraqueles que preconizaram e defenderam aRevoluo Verde, e agora preconizam amanipulao gentica, era a responsabi-lidade em acabar com a fome no planeta.Sabe-se ainda que estamos longe desse

    ideal e que a fome no s continua assolan-do o planeta, como caminha a passos lar-gos, principalmente nos pases pobres doHemisfrio Sul.

    Todo esse processo degradante e des-truidor acabou gerando reaes contrriasque se concretizaram atravs de movimen-tos contestadores (PEDINI, 1993), grandeparte destes, originrios de movimentosambientalistas e de contracultura dos anos60 e 70. Neste artigo, pretende-se apresentaras formas como esses movimentos alter-nativos desencadearam-se no mundo e noBrasil, com destaque para a cafeiculturanacional.

    Um cafeicultor orgnico no s por-que utiliza intensamente matria orgnica,animal e vegetal, como comumente apre-sentado, mas principalmente porque suaproduo deve ser conduzida de modosemelhante vida de um organismo vivo(um sistema articulado, inter-relacionado ecomplexo) que tem ritmos e limites naturais,

    que devem ser respeitados para que haja oequilbrio (Fig. 1).

    Percebe-se que, no organismo agrcola,a integrao deve acontecer em todos osnveis, criando-se relaes de troca entrecomponentes internos e externos do sis-tema. A integrao na propriedade podeocorrer, por exemplo, entre sistemas de pro-duo vegetal como a aplicao de adubosverdes no caf (Fig. 2). A integrao entrea produo animal e vegetal pode ser exem-plificada, quando existe um confinamen-to de gado e uma lavoura de caf: o gadorecebe, como parte de sua alimentao, res-duos do benefcio da cafeicultura e a lavoura

    cafeeira nutrida, por sua vez, com a com-postagem obtida a partir do esterco de gadomisturado com a casca do caf beneficiado(Fig. 3). Externamente, pode-se estruturarum sistema integrado, quando uma torre-fao que recebe o caf beneficiado produzum resduo que pode ser utilizado na adu-bao. O importante perceber que a inte-grao dos sistemas fundamental para asustentabilidade da produo e que osrecursos naturais tm o mesmo peso dosdemais componentes, fazendo com que ocafeicultor fundamente sua produo emprincpios ecolgicos de manejo.

    Para que se possa diferenciar uma la-

    Figura 1 - Sistema articulado de um organismo agrcola

    Produovegetal

    Produoanimal

    Recursosnaturais

    Homem

    Organismo agrcola

    CidadeIndstria

    Figura 2 - Lavoura orgnica em rea de Cerrado, com adubao verde

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    voura orgnica de uma lavoura de caf con-vencional, torna-se fundamental o apro-fundamento de conceitos que superam anoo de produto, para a conceituao desistema de produo, envolvendo compo-nentes ecolgicos, sociais e at mesmopolticos. necessrio incorporar a noode processos produtivos para se desvin-

    cular da maneira cartesiana como so trata-dos os problemas, comumente utilizada nosmodelos agroqumicos de produo. Maisimportante que controlar uma praga sa-ber se o manejo nutricional adotado foi oresponsvel por seu aparecimento; conhe-cer as condies de trabalho dos funcio-nrios da empresa; defender as relaes

    comerciais transparentes como base danegociao dos produtos etc. O Quadro 1apresenta uma sistematizao dessas dife-renas.

    DIFERENTES ESCOLAS

    Diversas so as denominaes dos sis-temas de produo agrcola que tm porobjetivo produzir alimentos, perturbandoo menos possvel o equilbrio do ambiente.Para tal, todos incorporam como princpiosbsicos a no-utilizao da maior parte doschamados produtos agroqumicos elabo-rados industrialmente, sejam os fertilizan-tes na forma solvel, sejam os agrotxicospropriamente ditos, denominados eufemis-ticamente de defensivos agrcolas e a eco-

    nomia de energia. Entretanto, diferem entresi em aspectos especficos de alguns itenscomo a organizao da produo e relaes,solo, planta, animais, homem, filosofiaEhlers (1996) diferenciou as principais esco-las de pensamento, de acordo com suascaractersticas peculiares, incluindo-as noque o autor denominou de movimentosrebeldes.

    Figura 3 - Lavoura orgnica de cafeeiros com composto ao fundo

    QUADRO 1 - Anlise comparativa entre as formas convencional e orgnica de produo agrcola

    OrgnicaCaractersticas

    Agricultura

    Convencional

    Atender, de maneira geral, a interesses econmicosde curto prazo

    Monocultura

    Como um substrato fsico, basicamente como supor-te para a planta

    Reduo da variabilidade; maior suscetibilidade aomeio; utilizao de organismos geneticamente mo-

    dificados (transgnicos) etc.

    Fertilizantes altamente solveis; adubao s vezesdesiquilibrante

    Uso intensivo de defensivos agrcolas

    Alto capital e consumo de energia; pouco trabalho

    Alimentos desbalanceados e contaminados; baixa va-lorizao do produto; agresso ambiental

    Atender a interesses econmicos, sobretudo, a inte-resses ecolgicos e sociais auto-sustentados

    Sistema diversificado

    Como um ser vivo (um meio eminentemente bio-lgico)

    Adaptao ambiental; maior resistncia ao meio

    Reciclagem de nutrientes; uso de rochas modas e ma-tria orgnica

    Nutrio equilibrada e adequada; diversificao e con-sorciao; controles alternativos no-contaminantes

    Pouco capital e baixo consumo de energia; mais traba-lho

    Alimentos de alto valor biolgico; equilbrio ecol-gico; alta valorizao do produto; sustentabilidade dosistema

    Objetivos gerais

    Estrutura do sistema

    Maneira de encarar o solo

    Recursos genticos

    Adubao

    Como lidar com pragas e doenas

    Entradas do sistema

    Sadas do sistema e conseqncias

    Foto:Ivan

    Franco

    Caixeta

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    Agricultura biodinmica

    uma corrente de pensamento ligada antroposofia. A agricultura biodinmicatem como base um ciclo de oito confern-cias proferidas pelo filsofo austraco RudolfSteiner (1861-1925), na Fazenda Koberwitz,prxima a Breslau, na Polnia, em 1924.Steiner salientou, nas palestras, a impor-tncia da manuteno da qualidade dossolos para a sanidade das culturas vegetaise solues prticas para seu tratamento,visando reestimular as foras naturais dossolos. Esses aditivos ficaram conhecidoscomo preparados biodinmicos. Alm des-ses preparados, os agricultores biodin-micos regem suas atividades, respeitandoum calendrio prprio e tambm a integra-o das produes animal e vegetal.

    No existem registros, at o momento,de lavouras biodinmicas de caf certifi-cadas, mas algumas lavouras orgnicas jiniciaram seus projetos de converso parao sistema biodinmico de produo.

    Agricultura orgnica

    A obra do pesquisador ingls Sir AlbertHoward foi o principal ponto de partidapara uma das mais difundidas vertentesalternativas, ou seja, a agricultura orgnica.

    Entre os anos 1925 e 1930, Howard dirigiu,em Indore, na ndia, uma instituio de pes-quisa de plantas, onde realizou vrios estu-dos sobre a compostagem e a adubaoorgnica. Em suas obras, alm de ressaltara importncia da utilizao da matria org-nica nos processos produtivos, Howardmostrou que o solo no deve ser entendidoapenas como um conjunto de substncias,tendncia proveniente da qumica analti-ca, pois nele ocorre uma srie de processosvivos e dinmicos, essenciais sade dasplantas. Nos anos 80, a noo de agricultu-ra orgnica j apresentava um campo con-ceitual e operacional mais preciso e, em 1984,o Departamento de Agricultura dos Esta-dos Unidos (USDA) reconheceu sua impor-tncia para a agricultura americana.

    No Brasil, a Instruo Normativa no7do Ministrio da Agricultura e Abasteci-

    mento, de maio de 1999 (BRASIL, 1999),definiu:

    Considera-se sistema orgnico de

    produo agropecuria e industrial,

    todo aquele em que se adotam tecno-

    logias que otimizem o uso de recursos

    naturais e socioeconmicos, respeitan-do a integridade cultural e tendo por

    objetivo a auto-sustentao no tem-

    po e no espao, a maximizao dos

    benefcios sociais, a minimizao da

    dependncia de energias no-reno-

    vveis e a eliminao do emprego de

    agrotxicos e outros insumos artificiais

    txicos, organismos geneticamente

    modificados - OGM transgnicos, ou

    radiaes ionizantes em qualquer fase

    do processo de produo, armazena-mento e de consumo, e entre os mes-

    mos, privilegiando a preservao da

    sade ambiental e humana, assegu-

    rando a transparncia em todos os

    estdios da produo e da transfor-

    mao.

    A grande maioria das propriedades emsistemas orgnicos de produo de caf certificada de acordo com os princpiosdessa Instruo Normativa e segue, portan-

    to, suas bases tecnolgicas de produo.

    Agricultura biolgica

    uma escola de pensamento que se ba-seia nos conceitos do poltico suo HansPeter Mller e do mdico alemo Hans PeterRush, que ampliou os conceitos de Howardno que concerne aos aspectos econmicose scio-polticos, preocupando-se, porexemplo, com a autonomia dos produto-res e com os sistemas de comercializaodireta dos produtos. Mller e Rush no

    consideravam essencial a associao daagricultura com a pecuria, como os bio-dinmicos, e sugeriram que a agriculturadeveria fazer uso de vrias fontes de matriaorgnica, sejam estas do campo ou dascidades, integrando-se as propriedadesagrcolas com as demais propriedades ecom o conjunto de atividades socioecon-

    micas regionais. Bastante difundida naFrana, a agricultura biolgica tomou impul-so a partir dos trabalhos de Claude Aubertque publicou, em 1974, o livro A AgriculturaBiolgica, em que ressalta a importnciada manuteno da sade dos solos comoforma de propiciar a sade das plantas.

    Paralelamente a Aubert, o bilogo fran-cs Francis Chaboussou lanou as basesda teoria da trofobiose3 (CHABOUSSOU,1980), uma das mais relevantes contribui-es cientficas para o movimento orgnicomundial.

    Para a cafeicultura orgnica, os princ-pios biolgicos acabaram sendo funda-mentais em sistemas de produo de lar-ga escala, pois dependem de um leque defontes alternativas de matria orgnica,

    incluindo os resduos agroindustriais.

    Agricultura natural

    Da mesma forma como o filsofo RudolfSteiner props a corrente filosfica conhe-cida por antroposofia, que tem a agriculturabiodinmica como um dos componentesfundamentais, a evoluo do movimento re-belde japons percorreu um caminho simi-lar. Em 1935, o mestre Mokiti Okada criavauma religio que tem como um dos seus

    alicerces a chamada agricultura natural. Oprincpio fundamental dessa proposta ode que as atividades agrcolas devem res-peitar as leis da natureza. Em 1938, pratica-mente na mesma poca, Masanobu Fukuokachegava a concluses muito semelhantess de Okada, formulando os princpios daagricultura da natureza. Ambos defenderama idia de que se deve aproveitar ao mximoos processos que j ocorrem espontanea-mente na natureza, sem esforos desneces-srios e desperdcio de energia. Os adeptosda agricultura natural limitam o uso de ester-cos, por consider-los impuros e adotamprticas, como a compostagem de vegetaise a utilizao de microorganismos, queauxiliam os processos de decomposio emelhoram a qualidade dos compostos.

    Na cafeicultura, j existem experinciasexpressivas que se consideram naturais e

    3Trofhe, do grego, exprime a idia de nutrio. O termo trofobiose j havia sido empregado anteriormente por outros bilogos para designar a

    relao entre dois seres na qual um deles protege e alimenta-se das excrees ou detritos de outros (EHLERS, 1996).

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    baseiam seus sistemas nos princpios deFukuoka (1995) e no teste do nada fazer,preconizado pelo autor. Os produtoresnaturais de caf no adotam nenhum tipode adubao, via solo ou foliar, e no con-trolam pragas e doenas; apenas manejamas plantas espontneas, quando necessrio(Fig. 4).

    Sistemas organominerais

    Um ltimo sistema de produo que temcrescido em volume de produo, princi-palmente de caf, mas que no citado porEhlers (1996) o denominado organomi-neral ou SAT (sem agrotxicos). Trata-sede um manejo no qual o produtor eliminada propriedade toda e qualquer forma deaplicao de agrotxicos, mas continua uti-

    lizando, por um perodo determinado, fertili-zantes sintetizados quimicamente, proibi-dos pelas normas orgnicas. Apesar de serespaldar num embasamento terico defi-nido e ser adotado por empresas de asses-soria, o caf organomineral ou SAT nopossui um mercado consumidor definido eregulamentado.

    ASPECTOS DACOMERCIALIZAO DO

    CAF ORGNICOAtualmente, pode-se dividir o processo

    de comercializao do caf orgnico em

    dois aspectos, em pontos favorveis e emdesafios, conforme descrio a seguir:

    a) pontos favorveis:

    - mercado altamente comprador: to-dos os dados estatsticos e mercado-lgicos continuam apontando para

    um crescimento na demanda por pro-dutos orgnicos em todo o mundo,principalmente na Europa, EstadosUnidos e Japo e, mais recentemente,no Brasil;

    - preo diferenciado: atualmente, o caforgnico tem sido valorizado com pr-mios ou gios que variam de 30% a100% acima do preo do caf conven-cional, dependendo do mercado e daqualidade do produto;

    - commodity: o caf, sendo umacommodity, tem facilitada sua co-mercializao, fato que no ocorre,por exemplo, com as hortalias. Jexistem estruturas de despacho,transporte e exportao aptas paraatender cadeia do caf;

    - estocagem: o caf, por ser de fcilestocagem, pouco perecvel e nosofre o ataque de pragas em grosarmazenados, e acaba tendo vanta-

    gens comparativas comerciais;

    - incentivos governamentais: atual-mente, existem incentivos produo

    e exportao de caf orgnico, poisesse mercado representa um adicio-nal na entrada de recursos externosno pas. Outro estmulo, a criaode linhas especiais de crdito comoo BB Agricultura Orgnica do Bancodo Brasil;

    - barreiras no-tarifrias:no mercadoglobalizado, onde comeam a cair asbarreiras tarifrias (impostos e taxasdiscriminatrias), surgem as barreirasno-tarifrias. Uma delas a barreiraambiental, ou seja, logo surgiro res-tries aos produtos agrcolas queadvenham de sistemas que agridamo ambiente e o homem, criando, assim,uma vantagem comparativa ao cafproduzido organicamente;

    - mercado justo (fair trade):uma mo-dalidade de comercializao que jexistia antes do mercado orgnico a do mercado justo (fair trade) queprivilegia a transparncia nas nego-ciaes, a aproximao entre consu-midor e produtor e o relacionamen-to justo entre produtor e empregadoEssa modalidade de mercado acabaprivilegiando o produto orgnico que

    j possui normalmente essas caracte-

    rsticas;

    b) desafios:

    - mercado exigente:muitos cafeicul-tores acreditam que pelo fato de seucaf ser orgnico, o desobriga de serde qualidade, o que no verdade.Tanto no mercado externo quanto nointerno, o caf orgnico voltado aoconsumidor de cafs especiais, o queobriga o cafeicultor a adotar proce-dimentos que tornem seu caf um

    produto de alta qualidade, muitasvezes onerando seu custo;

    - volume: somente grandes volumesso aceitos no mercado internacional,onde a medida adotada normalmente o continer (200 a 250 sacas de 60kg),o que pode dificultar principalmenteo pequeno produtor;

    - concorrncia:atualmente, existe umaconcorrncia com pases que culti-vam caf sombreado e faltam ainda,

    Foto:Ivan

    Franco

    Caixeta

    Figura 4 - Lavoura de caf natural

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    no Brasil, tecnologias voltadas paraa arborizao das lavouras cafeei-ras;

    - custo da certificao: o custo impos-to pelas certificadoras pode ser umimpeditivo, principalmente num ce-

    nrio futuro de reduo do gio sobreo produto convencional.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Agricultura e do Abaste-

    cimento. Instruo Normativa n07, de 17 de maio

    de 1999. Dispe sobre a produo de produtos

    orgnicos vegetais e animais. LEX coletnea

    de Legislao e Jurisprudncia: legislao

    federal e marginlia, So Paulo, ano 63, t.5,

    p.2465-2476, maio 1999.

    CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso

    de agrotxicos: a teoria da trofobiose. PortoAlegre: L & PM, 1980. 253 p.

    EHLERS, E. Agricultura sustentvel: origens

    e perspectivas de um novo paradigma. So Paulo:

    Livros da Terra, 1996. 178 p.

    FAO aponta crescimento da agricultura ecol-

    Onde obter informaes sobre caf orgnico

    AAO Associao de Agricultura Orgnica. Telefax: (11)

    3673-8013. Correio eletrnico: [email protected] (Cer-

    tificadora).

    ACOB Associao de Cafeicultura Orgnica do Brasil. Tele-

    fax: (35) 3295-2366. Correio eletrnico: [email protected]

    (Associao de cafeicultores orgnicos).

    Centro de Assessoria SAPUCA. Telefax: (35) 3422-3782.

    Correio eletrnico: [email protected] (Certificadora de

    produtores orgnicos).

    ESACMA Escola Superior de Agricultura e Cincias

    de Machado. Telefax: (35) 3295-3578. Correio eletrnico:

    [email protected]. (Faculdade de agronomia que trabalha

    com cafeicultura orgnica).

    EPAMIG-CTSM Empresa de Pesquisa Agropecuria de

    Minas Gerais - Centro Tecnolgico do Sul de Minas -

    Ecocentro. Telefax: (35) 3821-6244. Correio eletrnico:

    [email protected]

    EPAMIG-CTZM Empresa de Pesquisa Agropecuria de Mi-

    nas Gerais - Centro Tecnolgico da Zona da Mata. Telefax:

    (31) 3899-5224. Correio eletrnico: [email protected]

    FADEMA Fundao de Apoio ao Desenvolvimento, Ensino

    e Extenso de Machado. Telefax: (35) 3295-5011. Correio

    eletrnico: [email protected] (Fundao que promove

    cursos e eventos sobre cafeicultura orgnica no Sul de Mi-

    nas Gerais).

    gica. Folha de So Paulo, So Paulo, 13 abr

    1999.

    FUKUOKA, M. Agricultura natural: teoria e

    prtica da filosofia verde. So Paulo: Nobel, 1995.

    300p.

    PASCHOAL, A.D. Produo orgnica de ali-

    mentos: agricultura sustentvel para os sculos

    XX e XXI. So Paulo, 1994. 191 p.

    PEDINI, S. Agricultura e pequena produo:

    o caso do CAA de Montes Claros. 1993. 100f.

    Dissertao (Mestrado) Escola Superior de

    Agricultura de Lavras, Lavras.

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    1EngaAgra, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected], M.Sc., Doutoranda, UFLA - DeptoAgricultura, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected], D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    Manejo ecolgicoManejo ecolgicoManejo ecolgicoManejo ecolgicoManejo ecolgico

    da propriedadeda propriedadeda propriedadeda propriedadeda propriedadecafeeira orgnicacafeeira orgnicacafeeira orgnicacafeeira orgnicacafeeira orgnica

    Maria Ins Nogueira Alvarenga1

    Mrcia Martins2

    Miralda Bueno de Paula3

    Resumo- Apresentam-se os princpios gerais de ma-

    nejo ecolgico de uma propriedade, que se acredi-

    tam aplicveis lavoura cafeeira, j que no existem

    trabalhos cientficos especficos com enfoque na

    cafeicultura. Os princpios bsicos para obteno do

    equilbrio ecolgico e, assim, da sustentabilidade

    so: utilizar o solo de acordo com sua capacidade de

    uso e implantar lavouras de acordo com a aptido

    agrcola das terras. O manejo ecolgico visa tambm

    a proteo ambiental, sendo este aspecto abordado

    em relao aos recursos naturais mais afetados, direta

    ou indiretamente, por atividades agrcolas, quais

    sejam: solo, recursos hdricos, flora e fauna.

    Palavraschave: Manejo do solo; Sustentabilidade;Agroecossistema; Cafeicultura orgnica.

    In forme Agropecur io , Belo Hor izonte,v .23, 214/215, p .2131, j an . /abr . 2002

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    INTRODUO

    O paradigma da sustentabilidade limi-ta-se compreenso do potencial de usodo ambiente, em face das interfernciasantrpicas que visam o bem-estar da po-pulao. Dentro desse contexto deve-se

    atentar para duas vertentes principais:atingir o bem-estar em um nvel de consumoque se pode considerar digno ou exces-sivo. Diga-se de passagem, que grandeparte da populao mundial, cerca de 2/5,vive num patamar bem abaixo do digno,isto , o miservel; uma mesma frao numpatamar mdio, aqui chamado digno; e,apenas 1/5, num patamar de consumoelevado. evidente que esses ltimosquerem manter seu padro de consumo e,portanto, so responsveis pela condi-

    o de vida daqueles miserveis, que, sealmejarem um padro mdio, digno de vida,levaro o planeta ao caos, porque a Terrano tem sustentabilidade para manter essepadro de consumo. Em outras palavras, interesse de alguns que muitos sobrevivamem condies miserveis, para que seuspadres de consumo de luxo possam sermantidos.

    Trazendo esse cenrio para a agricul-tura, observa-se que se pratica em larga

    escala uma agricultura exploratria que,dominada pelos donos do poder, tem re-cursos e crditos facilitados, direcionadosa uma atividade que visa o lucro ganan-cioso, ou seja, quanto maior melhor, semse preocupar com o ambiente explorado.Inclui-se aqui o homem. Do outro lado,encontra-se o produtor miservel que fazuma agricultura exploratria sim, mas quese preocupa em preservar o ambiente, por-que sabe estar ali a sua fonte de sobrevi-vncia. Entre esses, alguns conseguem

    fazer uma explorao mais integrada apro-veitando sobras e restos de uma ativida-de para sustentar a outra, estando numaposio intermediria. Entretanto, na gran-de maioria, em nenhuma das duas pontastem-se a sustentabilidade; pode-se conse-guir numa vertente a lucratividade quesustenta determinado sistema de produ-o e, na outra, consegue-se sustentar umpadro de vida muito baixo, onde sobreviveaquele que tem pouca ambio de melhora

    de vida.

    Supe-se que almejar a sustentabili-dade seria algo utpico. Entretanto, pen-sando em modelos de agricultura que seaproximem da sustentabilidade, ou quetendam para tal, acredita-se que uma explo-rao agrcola integrada a que estaria maisprxima da sustentabilidade. Junte-se a es-sa integrao, o aspecto ecolgico, ou seja,agricultura visando o manejo da lavoura,sem ou com mnima utilizao de agro-txicos, mas trabalhando com o equilbrioecolgico. Nessa linha de raciocnio, po-dem-se observar os indicadores de sus-tentabilidade do solo e de manejo das cul-turas, segundo Lal (1999), apresentados naFigura 1.

    CONCEITOS

    Manejo integrado

    A palavra integrado significa cadauma das partes de um todo que se com-pletam ou complementam. Dentro de umagroecossistema, onde se busca o manejointegrado, o produtor deve manipular osrecursos fsicos e biolgicos e, dependen-do do grau de modificaes da tecnologia,estas atividades afetam quatro processosecolgicos principais que, segundo Altieri(1989), so os energticos, hdricos, bio-qumicos e de equilbrio bitico. O manejointegrado, como o prprio nome sugere,integra estes processos. Assim, nos pro-

    Figura 1 - Indicadores de sustentabilidade do solo e de manejo das culturas

    FONTE: Dados bsicos: Lal (1999).

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    cessos energticos, a energia solar entraem um agroecossistema como luz solar,passa por numerosas transformaes, deforma que a energia transferida para asplantas pela fotossntese (produo prim-ria) e de um organismo para outro atravsda cadeia alimentar. Nesta ressalta-se a im-portncia ecolgica da fauna, que deslocaa energia produzida pela fotossntese portodo o ecossistema. Em relao aos proces-sos hdricos, ressalta-se que a gua partefundamental de qualquer sistema, inclusiveo agrcola, onde, alm de seu papel fisiol-gico, entra no agroecossistema sob formasde precipitao, gua escorrida e de irriga-o, gua perdida por evaporao, gualixiviada e de drenagem, quando ultrapassaa zona radicular efetiva das plantas. Entre

    os processos biogeoqumicos que devemser considerados no manejo integrado,destacam-se os nutrientes fornecidos pelosolo, a fixao do nitrognio atmosfricopelas leguminosas, a fixao no-simbiticado nitrognio, nutrientes carreados pelachuva e pela gua corrente, fertilizantesqumicos e orgnicos.

    Nos processos de equilbrio bitico, ocontrole das sucesses (invaso de plantase competio) e a proteo contra pragas e

    doenas so os principais problemas emmanter a continuidade de produo nosagroecossistemas. Os produtores tm usa-do vrias tcnicas, como variedades re-sistentes, manipulao da poca de plantio,espaamento, tcnicas culturais, controlesalternativos etc. As estratgias ecolgicasdo manejo de pragas geralmente empregamuma combinao de aes, com o objetivode tornar o campo menos atrativo a pragase doenas, e o ambiente favorvel aos ini-migos naturais, interferindo, assim, na pro-

    pagao das doenas de uma cultura aoutra ou atraindo as pragas para longe dasculturas (ALTIERI, 1989).

    Manejo ecolgico

    De acordo com Primavesi (1990b), eco-logia a cincia que estuda a inter-relaodos equilbrios dinmicos dos diversoslugares com sua vida, seu solo e seu con-

    junto (o ambiente, como um todo). Eco-lgico quer dizer perfeitamente adaptado

    ao seu mdulo ambiental dentro das leisnaturais, de onde se infere que o manejoecolgico da propriedade seria a utilizaodos recursos naturais dentro das leis na-turais e inter-relacionados em equilbrio di-nmico.

    Agricultura orgnicaNa verdade no h um conceito mun-

    dialmente aceito de agricultura orgnica.Ao contrrio do que muitos pensam, amaioria dos produtores orgnicos faz usode equipamentos agrcolas modernos, va-riedades melhoradas, sementes certifica-das, manejo adequado de animais, prticasde conservao de solo e gua, manejo dolixo e de resduos orgnicos. A agriculturaorg-nica um sistema de produo

    agropecu-rio que promove a interaoentre biodi-versidade, ciclos biolgicos dasespcies vegetais e animais e atividadebiolgica do solo, sem o uso de produtosqumicos txi-cos ao meio ambiente parano proporcio-nar a contaminao demananciais, solo e ar. Baseia-se no usomnimo de produtos externos propriedadee no manejo de pr-ticas que restauram,mantm e promovem a harmonia ecolgicado sistema. A agricul-tura orgnica deve

    ser, tambm, ecologica-mente sustentvel,economicamente vivel, socialmente justae culturalmente aceitvel (Fig. 2).

    Biodiversidade

    Nmero ou variedade de espcies emum local, comunidade, ecossistema ouagroecossistema; grau de heterogeneidadedos componentes biticos de um ecossis-tema ou agroecossistema (GLIESSMAN,

    2001).

    Agroecologia

    a cincia da aplicao de conceitos eprincpios ecolgicos ao desenho e manejode agroecossistemas sustentveis. A agro-ecologia proporciona o conhecimento e ametodologia necessrios para desenvol-ver uma agricultura que ambientalmenteconsistente, altamente produtiva e econo-micamente vivel. Valoriza o conhecimentolocal e emprico dos agricultores, a socia-

    lizao desse conhecimento e sua aplicaoao objetivo comum da sustentabilidade(GLIESSMAN, 2001).

    Agroecossistema

    Segundo Gliessman (2001), compreendeo ecossistema natural e ambientes modifi-cados pelo ser humano, em uma proprie-dade rural, onde ocorrem complexas rela-es entre seres vivos, elementos naturais(rochas, solos, gua, ar). Ou seja, o lo-

    cal de produo agrcola uma proprieda-de agrcola, por exemplo compreendidocomo um ecossistema.

    Figura 2 - Lavoura de caf orgnico (Catua Vermelho), em propriedade de agriculturafamiliar, no municpio de Poo Fundo-MG

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    Os princpios bsicos para um agro-ecossistema sustentvel, segundo Altieri(1989), so: a conservao de recursos re-novveis, adaptao da agricultura aoambiente e a manuteno de um nvel alto,porm sustentvel de produtividade.

    EcossistemaSistema funcional de relaes comple-

    mentares entre organismos vivos e seuambiente, delimitado por fronteiras esco-lhidas arbitrariamente, as quais, no espaoe no tempo, parecem manter um equilbriodinmico, porm estvel. Assim, um ecos-sistema tem partes fsicas com suas relaesparticulares - a estrutura do sistema - que

    juntas participam de processos dinmicos- a funo do sistema. Os componentes

    estruturais mais bsicos dos ecossistemasso fatores biticos, organismos vivos queinteragem no ambiente, e fatores abiticos,componentes qumicos e fsicos no vivosdo ambiente, como solo, luz, umidade etemperatura (GLIESSMAN, 2001).

    Sustentabilidade

    No sentido mais amplo, a sustentabi-lidade uma verso do conceito de produ-o sustentvel - a condio de ser capaz

    de perpetuamente colher biomassa de umsistema, porque sua capacidade de renovarou ser renovado no comprometida, ouseja, a sustentabilidade refere-se habili-dade de um agroecossistema manter a pro-duo atravs do tempo, mediante distr-bios ecolgicos e presses econmicas delongo prazo (GLIESSMAN, 2001, ALTIERI,1989).

    MANEJO DOS SOLOS

    O propsito fundamental da produoorgnica, assim como da cafeicultura org-nica, proporcionar alternativas de pro-duo prximas da sustentabilidade queminimizem o impacto ambiental, aprovei-tando os conhecimentos, experincias erecursos locais. Isto se baseia principal-mente na reciclagem de matria orgnica enas tcnicas de produo compatveis como meio ambiente, fazendo uso adequadodos recursos naturais, entre eles: fertilidadedo solo, o estmulo biodiversidade vegetal

    e animal como forma de garantir o equil-brio biolgico natural (LPEZ DE LEN;MENDOZA DAZ, 1999).

    O desequilbrio biolgico natural e odesequilbrio nutricional da planta ocasio-nam um estresse no metabolismo vegetalque, por sua vez, resulta na produo exces-siva de aminocidos livres na seiva e folhas,sendo esses aminocidos livres, fonte dealimento para pragas e doenas. Essa teo-ria contribuiu fortemente para o movimentoda agricultura orgnica no incio da dcadade 80 e foi chamada, por Francis (apudGLEISSMAN, 2001), de teoria da trofobiose.Sendo o desequilbrio nutricional um dosfatores principais no controle de pragas edoenas, o manejo dos solos de grandeimportncia para a cafeicultura orgnica,

    por ser o solo a base da nutrio vegetal. Omanejo, a proteo e o melhoramento dosolo devem-se basear, primeiramente, noseu potencial de uso.

    Para um manejo adequado do solo necessrio considerar suas propriedadesfsicas (aerao, reteno de gua, compac-tao, estruturao), qumicas (acidez,disponibilidade de nutrientes, interaes)e biolgicas (teor de matria orgnica, res-pirao, biomassa de carbono, biomassa

    do nitrognio, taxa de colonizao e tipode microrganismos). Na prtica, essas pro-

    priedades interagem entre si e, para um bommanejo do solo sob o cafeeiro, conve-niente adotar algumas medidas (LPEZ DELEN; MENDOZA DAZ, 1999), tais co-mo:

    a) cobertura do solo: rvores de sombra

    cumprem esse papel, protegem o so-lo do impacto das gotas de chuva eajudam na produo de matria org-nica; cultivo de leguminosas comocobertura viva em plantios novose/ou onde h suficiente penetraode luz para seu desenvolvimento;uso de cobertura morta, como os re-sduos de plantas daninhas ou derestos de cultivo; aplicaes de ma-tria orgnica;

    b) estruturas de conservao:estruturasfsicas que tm finalidade de mini-mizar a perda da fertilidade do solopor eroso, tais como: barreiras vi-vas, barreiras mortas, terraos indivi-duais, terraos contnuos, faixas deinfiltrao etc.

    A sombra muito importante para o cul-tivo do caf orgnico. O uso da terra, quan-do envolve manejo intencional de rvorese arbustos, designado como sistema

    agroflorestal (Fig. 3). Atravs da introdu-o e mistura de rvores ou arbustos nas

    Figura 3 - Sistema agroflorestal para cultivo de caf orgnico em propriedade de agri-cultura familiar, no municpio de Poo Fundo-MG

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    reas de cultivo agrcola ou pecuria po-dem-se obter benefcios a partir das inte-raes ecolgicas e econmicas que acon-tecem nesse processo e enquadram-se nosprincpios de manejo integrado. H muitasvariaes prticas nos sistemas agroflo-restais: na agrossilvicultura, combinam-se

    rvores com produo agrcola, nos sis-temas silvipastoris so combinadas comproduo animal e nos agrossilvipastorismesclam-se rvores, culturas agrcolas eanimais. Os sistemas agroflorestais soutilizados por produtores para suprir suasnecessidades bsicas de alimento, madeira,forragem e conservao dos recursos natu-rais (solo, gua, biodiversidade da fauna eflora). Atravs dos sistemas agroflorestaispretendem-se otimizar os efeitos benficos

    das interaes com as rvores, produoagrcola e animais, obter maior diversida-de de produtos, diminuir a necessidade deinsumos externos e reduzir os impactosambientais negativos da agricultura, almde favorecer o equilbrio biolgico naturalque um dos fins do sistema de produoecolgico.

    Alm do aporte de matria orgnica,gerada com o manejo das rvores de sombra,ocorre melhora das caractersticas fsicas,qumicas e biolgicas do solo. Isso ocorregraas decomposio e incorporao dematria orgnica e penetrao das razes dasrvores e/ou arbustos no solo. Os diferentescomprimentos de razes presentes no solopodem reduzir o potencial de eroso, me-lhorar a estrutura e infiltrao.

    Dependendo das condies climti-cas da regio e objetivos do produtor, me-diante delineamentos adequados, poss-vel trabalhar cultivos em associao como cafeeiro, tais como cafeeiro-mamoneira

    (Fig. 4), cafeeiro-bananeira (Fig. 5), cafeeiro-abacateiro. Sugere-se que o nvel de som-bra no ultrapasse 40% (ALVARENGA;GUIMARES, 1998).

    Causas da degradao

    A desequilibrada distribuio da popu-lao na terra est relacionada com as suascondies inadequadas de produo de ali-mentos e, conseqentemente, de sobre-vivncia. Com o crescente aumento popu-lacional, buscam-se novos caminhos de

    preparo do solo para as zonas tropicais, poisficou evidente que no o clima quente queimpede uma produo adequada da terra,mas sim o manejo errado de seus solos. Se-gundo Primavesi (1990a), dos 40% do globoterrestre que constituem a zona tropical,somente 10% so terra firme, que correspon-dem a 45 milhes de km2, ou seja, 30% dototal de terra do planeta. Porm, somente10% da populao mundial vive nos tr-

    picos e no conseguem produzir o suficien-te para sobreviver e, sobretudo, pela m dis-tribuio dos alimentos produzidos.

    Os fundamentos do modelo agrcolaqumico-mecanizado foram desenvolvi-dos para condies de clima temperado,onde a diversidade ambiental sensivel-mente menor que a dos trpicos. SegundoPrimavesi (1999a), tal modelo pressupe ocontrole de limitaes ambientais mediante

    Figura 5 - Cultivo de caf arborizado com banana, no municpio de Heliodora-MG

    Figura 4 - Cultivo de caf consorciado com mamona, no municpio de Poo Fundo-MG

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    aportes externos, quanto mais homogneofor o ambiente maior ser a probabilidadede sucesso na aplicao generalizada dospacotes tecnolgicos. Tal fato no ocaso dos ecossistemas tropicais, em que adiversidade, complexidade e fragilidadeambiental dificultam muito essa genera-lizao. Alm de apresentarem maior diver-sidade ambiental, os ecossistemas tropicaisdiferem de forma significativa dos de climatemperado quanto aos solos, ao regime dechuvas, s temperaturas, radiao solar, biodiversidade, entre outros fatores. Noso raros os casos em que a aplicao nostrpicos de propostas tecnolgicas desen-volvidas sob condies de clima tempera-do tem provocado rpida degradao dosrecursos naturais. O exemplo caracterstico

    o da arao. Essa prtica foi desenvolvi-da com o propsito de revolver o solo apsos rigorosos invernos tpicos do climatemperado, a fim de expor suas camadasmais profundas ao sol, proporcionandorpida melhoria das condies fsico-qumicas e biolgicas. No Brasil, sobretu-do em regies de menor latitude, as araesexpem o solo a altas temperaturas, com-prometendo suas qualidades biolgicas efsico-qumicas. As chuvas torrenciais,

    tpicas dos trpicos, sobretudo no perodode preparo dos solos, ao se precipitaremna terra desnuda provocam srios pro-cessos erosivos (ALMEIDA et al., 2001).

    Enquanto em clima temperado o solonecessita ser exposto ao sol, em clima tro-pical, ele deve ser protegido dele, para evi-tar um aquecimento exagerado. Assim, ospases de clima tropical desenvolveram opreparo e o cultivo de seus solos, poistinham recebido plantas e mtodos de

    cultivo de zonas subtropicais, local aondeo clima mais ameno e o solo mais frtil.Dessa forma, os solos de zonas subtropi-cais, conseguem secar mais rpido da umi-dade do degelo e aquecer-se mais rapida-mente, favorecendo o plantio na poca daprimavera. Foram desenvolvidas mquinaspara executar essa funo, e conseguiramaproveitar melhor o hmus que se decom-punha mais rpido, devido ao arejamento e captao de calor. O solo foi mobilizadode sua inrcia fria, sua vida tornou-se mais

    intensa e sua produtividade aumentou. Aadubao qumica permitiu o desenvolvi-mento de variedades de alto potencialprodutivo e safras compensadoras e rendi-mentos elevados. Hoje, as zonas tempe-radas, apesar de sua populao densa, sotidas como regies de superproduo agr-cola por terem encontrado as tcnicas quepermitiram produzir bem em seus solos eseu clima (PRIMAVESI, 1990a).

    Os pases tropicais importaram essastcnicas dos pases temperados, certifica-ram-se de que aquecer e enxugar os solostropicais no melhorou a produo nostrpicos e, sim, favoreceu o surgimento dedesertos ou de solos improdutivos, comoocorreu na ndia, frica e Brasil. Aindaassim, culparam-se a m distribuio das

    chuvas, a pobreza dos solos e o calor dosol (PRIMAVESI, 1990a).

    A maior ocupao agropecuria dasRegies Sul, Sudeste e Centro-Oeste, nasingularizao apresentada por Quirino etal. (1999), acabar comprometendo o soloe a qualidade do lenol fretico, atravs dalixiviao de produtos txicos, se nada forfeito para mudar a perspectiva. Tal fatoocasiona a deteriorao dos recursos emrazo do inchao promovido pelo de-

    senvolvimento econmico sem medidas.Um dos exemplos citados a produo desoja e trigo no Rio Grande do Sul, que estdegradando o solo em razo de seus des-matamentos. Como conseqncia, sernecessrio gastar grandes quantias narecuperao das condies naturais.

    Melhoria da qualidade eproteo do solo

    Muitos produtores acham que obter

    um alto rendimento da terra evidencia umsolo produtivo. Porm, se a perspectivafor agroecolgica e a meta for manter epromover todos os processos de formaoe proteo do solo relacionados com a ma-tria orgnica, ento um solo produtivo noser, necessariamente, um solo frtil. Osprocessos no solo que nos habilitam a terproduo assumem maior importncia naagricultura sustentvel. Fertilizantes podemser adicionados para elev-la, mas a ferti-lidade do solo somente pode ser mantida

    ou restaurada entendendo-se os ciclos dosnutrientes e processos ecolgicos do so-lo especialmente a dinmica da matriaorgnica (GLIESSMAN, 2001).

    Como alternativa para melhorar a qua-lidade e proteger o solo, maneja-se a matriaorgnica atravs do retorno dos resduosculturais, que podem ser compostados pa-ra evitar incidncia de pragas e doenas.Outra forma so as culturas de cobertu-ra, ou seja, cultivo de plantas para seremincorporadas como adubo verde ao solo(GLIESSMAN, 2001). Como adubaoverde entendem-se cultivos de entressafrae entrelinhas que devem proteger o solo,tanto nos campos, como nos pomares, cafe-zais, seringais e outros. A incluso de maisuma cultura, que a adubao verde, que-

    bra a monotonia das monoculturas, enri-quecendo o solo com materiais orgnicosdiferentes, contribuindo, assim, para a di-versificao da vida do solo e melhoran-do as condies para a cultura principal(PRIMAVESI, 1990a).

    Observa-se, na prtica, que o plantiode crotalria, guandu, mamona e, em algunscasos, a mucuna an como adubo verdenas entrelinhas dos cafezais, enriquece osolo com matria orgnica, beneficia a mi-

    crovida do solo, melhorando as condiesde cultivo para os cafeeiros.

    ASPECTOS EDAFOAMBIENTAISDA CAFEICULTURA ORGNICA

    Independente se o sistema de explora-o da cafeicultura orgnico ou conven-cional, a observao dos aspectos edafo-ambientais imprescindvel ao sucesso dalavoura.

    No que diz respeito aos aspectos ambien-

    tais, alguns cuidados devem ser conside-rados: insolao, altitude, ocorrncia degeadas, precipitao e distribuio de chu-vas, variedade adaptada etc.

    Quanto aos aspectos edficos, impor-tante considerar: granulometria, estrutura,densidade, teor de matria orgnica, dre-nagem, impedimentos mecanizao, pro-fundidade do solo etc.

    Para o desenvolvimento da lavoura ca-feeira, considera-se que a profundidadedo solum (horizontes A+B) de grande

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    In forme Agropecur io , Belo Hor izonte,v .23, 214/215, p .21-31, j an . /abr . 2002

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    importncia. Constitui-se na profundidadedo solo que vai ser explorada pelo sistemaradicular, o que se traduz em volume desolo com gua e/ou nutrientes que as razesdo cafeeiro tero disponveis. Aliado profundidade, importante que o sistemaradicular tenha condio de explor-lo. Isto

    significa que, se houver algum impedimentofsico ou qumico, as razes no conseguemexplorar satisfatoriamente o solo. Algunsimpedimentos podem ser removidos atra-vs do manejo, por exemplo, promover asubsolagem quando o solo estiver compac-tado, calagem/gessagem no caso do exces-so de acidez, incorporao de leguminosas,quando o teor de matria orgnica estivermuito baixo etc.

    Com nfase no manejo ecolgico, algu-

    mas medidas de conduo da lavoura po-dem ser adotadas, tais como de rochas na-turais modas como calcrio e o fosfatonatural para melhorar a fertilidade. Plantioe incorporao de leguminosas, que aumen-tam o teor de matria orgnica, melhorandoa estrutura do solo e tambm contribuindopara o aumento de cargas dependentes depH. Cabe ressaltar que, como os solos cul-tivados com o cafeeiro so na maioria oxdi-cos e/ou caulinticos, o aumento de cargasprovenientes da incorporao de matria

    orgnica pode resultar em aumento nospontos de carga para reteno/troca deons com o sistema radicular do cafeeiro.A ausncia de pontos de carga faz comque os nutrientes adicionados ao solo, pelamineralizao da matria orgnica, sejamlixiviados a grandes profundidades, noestando disponveis ao cafeeiro.

    MANEJO DA LAVOURA VERSUSAMBIENTE

    Kiehl (1985) relata o roteiro da cafei-cultura no estado de So Paulo, com baseem estudos do historiador Srgio Miliett.Segundo o autor, os agricultores paulistasbuscavam terras virgens, ricas em matriaorgnica para nelas cultivarem o cafeeiro.A cultura cafeeira, vinda do estado do Riode Janeiro, entrou no estado de So Paulopelo Vale do Paraba. Em 1836, essa regioestava tomada pela cultura e dominava aproduo cafeeira no Estado mas, em pou-cos anos, a terra j se mostrava cansada,

    estimulando os cafeicultores a deslocarem-se para o interior do Estado em busca deoutras terras virgens. Por volta de 1854, aregio dominada pela cultura j estava maisa Oeste. E, assim caminhando os cafeicul-tores, acompanhados principalmente pe-los plantadores de algodo e de cana-de-

    acar, foram derrubando as matas e insta-lando suas culturas, seguidos pelas estra-das de ferro que permitiam o transporte desuas colheitas. Esse af de derrubar e plan-tar chegou a criar a idia de que o cafeeiros produzia bem sentindo o bafo da mata.Depois de passar para os Estados vizinhos,sendo um dos principais fatores respons-veis pelo desbravamento em Minas Gerais,Norte do Paran, Mato Grosso, Gois eEsprito Santo, transps as fronteiras, indo

    nossos agricultores instalarem-se no Para-guai. Qual a razo dessa corrida dos cafei-cultores em busca de terras novas? Por queno foi possvel permanecerem em suaspropriedades, onde tantas instalaes one-rosas como casas de colonos, terreiros,tulhas, estradas vicinais foram constru-das? Por que suas terras tornaram-se can-sadas e menos produtivas? A resposta estno depauperamento das terras, causadopelas culturas e pela eroso do horizontesuperficial do solo, mais rico em nutrientes

    e matria orgnica. O roteiro da cafeiculturafoi uma corrida dos agricultores em buscado hmus do solo.

    Mesmo com a evoluo do conheci-mento, notadamente, os princpios de apti-do agrcola e capacidade de uso do solo,no houve um redirecionamento das ativi-dades que utilizam os recursos naturais,principalmente solo e gua, em conseqn-cia de falta de uma poltica agrcola ade-quada.

    O uso inapropriado do solo pode serconsiderado como responsvel por pre-vises restritivas ao uso de guas super-ficiais e subterrneas de algumas regiesbrasileiras. Segundo Quirino et al. (1999),essas restries dizem respeito a conflitosgerados por ocupao de reas, ou, ainda,pela falta de fiscalizao do uso. So fato-res tanto de ordem econmica e ecolgica,quanto poltica e social, pois dizem respei-to aplicao inadequada de legislaesrelativas ao aproveitamento dos recursos

    naturais. Embora possua legislao, consi-

    derada exemplar sob muitos aspectos, suaaplicao est longe do adequado. Paraesses mesmos autores, fundamental oreconhecimento do valor dos ecossiste-mas da propriedade, de forma que exploremreas mais nobres para rotao de culturas,aquelas menos nobres para culturas pe-

    renes, as de valor histrico local com ativi-dades de turismo rural e de valor naturalcom ecoturismo. Reconhecer o valor dafauna e da flora. Assim, a questo deve sertratada de forma global, isto , abrangendotodas as reas, deixando claro o conceito dereas de preservao e recuperao/conser-vao. Existem conflitos em relao aosignificado da necessidade de preservar erecuperar o ambiente.

    Nessa linha de raciocnio, haver maior

    equilbrio na distribuio de capital, poisde acordo com estudos de Quirino et al.(1999), as pesquisas prioritrias estarocondicionadas melhoria da qualidade devida em todos os nveis, conservao e usosustentado dos recursos naturais, produ-o econmica com eficincia energtica euso crescente de tecnologias biolgicas aoinvs de qumicas. No aspecto poltico, soesperados ainda o estabelecimento de pol-ticas agrcolas e a mobilizao de recursosfinanceiros, que possam colocar em prti-

    ca os mtodos estudados cientificamen-te, principalmente por meio de legislaesespecficas coerentes que possam, de for-ma efetiva, ser colocadas em prtica e, sobre-tudo, respeitadas. Segundo Vivan (1998),comparando reas manejadas com reas emestado natural, devem-se analisar a veloci-dade de recuperao da biomassa e a com-posio das espcies (fauna e flora). Nocaso, uma regresso na sucesso de esp-cies e uma queda de biodiversidade podemindicar erros de manejo e perdas energ-

    ticas do sistema. Deve-se ter conscinciadas alteraes que ocorrem na estrutura efuncionamento do ecossistema aps umaperturbao, como pode ser observado noQuadro 1.

    Criar condies usando o prprio fluxoenergtico da natureza, constitui o refina-mento tecnolgico que separa a agriculturaque nos levar para o futuro daquela quenos trouxe at aqui. Segundo Vivan (1998),o clmax o resultante do processo de evo-luo conjunta da fauna, flora e ambiente.

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    I n f o r m e A g r o p e c u r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 3 , n . 2 1 4 / 2 1 5 , p . 2 1 - 3 1 , j a n . / a b r . 2 0 0 2

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    A vida modifica o ambiente fsico e porele modificada. O dinamismo desse proces-so d-se pelos ciclos de vida e morte dos

    componentes do ecossistema. A sucessode espcies o veculo de reorganizaoda complexidade rumo ao clmax. Assim, oque conhecemos como clmax de um ecos-sistema o resultado da otimizao de fa-tores da radiao, nutrientes e umidadepelas formas vivas. A faixa de clmax din-mico o espao onde se d essa reorgani-zao com o mnimo de perdas energticase, portanto, com a maior possibilidade desustentar as formas vivas em quantidade ediversidade.

    Proteo e manejo dasguas

    A fartura de gua disponvel, em con-

    dies brasileiras, leva ao desperdcio quetrar, como conseqncia, a sua carncia.Cabe ressaltar que a crise energtica na qualse encontra o pas, conseqncia da faltade gua. Isto no somente porque faltouchuva nos ltimos trs anos, mas tambma conseqncia de um consumo descon-trolado desse recurso, principalmente, naatividade agrcola, que, atravs de formasde irrigao inadequadas, favorece uma maiorevaporao da gua. Diga-se tambm que,se o uso da irrigao vem sendo feito de

    forma inadequada, conseqncia da faltade uma poltica que direcione a atividadeagrcola de forma adequada s aptides

    naturais e no a interesses econmicos pro-tecionistas, sem uma preocupao com oesgotamento dos recursos naturais e, con-seqentemente, com a degradao ambien-tal cada vez mais evidente.

    De acordo com Primavesi (1997), calcula-se que o gasto de gua em ambientes do-msticos no ultrapassa de 6% a 8% doconsumo total. As fbricas, que utilizam agua para refrigerao e veiculao de seusdejetos, gastam 21% do total da gua con-sumida. A grande vil a agricultura, com

    FONTE: Dados bsicos: Odum (1993 apud GLIESSMAN, 2001).NOTA: (1) Embora algumas mudanas sejam apresentadas na forma de degraus, todas ocorrem como transies graduais. (2) Mortalid ade determinada por

    fatores ambientais limitantes. Tamanho da populao determinado mais por fatores fsicos que biticos. (3) Vivem em ambientes estveis ouprevisveis, onde a seleo natural favorece gentipos com capacidade de evitar ou tolerar interferncia. Tamanho da populao limitado mais porfatores biticos do que por fatores fsicos.

    QUADRO 1 - Mudanas que ocorrem na estrutura e funcionamento do ecossistema no decorrer da sucesso secundria, aps uma perturbao intensa

    Composio das espcies Rpida substituio das espcies Substituio mais lenta das espcies Pequena mudana

    Diversidade das espcies Baixa, com rpido aum


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