Blanka "O Destino A Marcou Pelo Sangue"
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Blanka
UMA BOA HORA
Faltavam exatos onze minutos para duas horas da manhã quando Blanka sentiu as primeiras contrações.
Seu coração acelerou com demasiada intensidade confirmando para jovem: A hora havia chegado.
Imediatamente, tocou no ambicionado botão alaranjado que avisaria na sala de enfermagem que seu quarto solicitava um dos profissionais, falando mais precisamente, sua amiga Helena. Enquanto aguarda a chegada da irmã de coração, a garota olha pela fresta da ostentada janela de vidro de seu aposento, e olhando
fixamente para a lua clara que iluminava o ambiente como uma boa visita para aquele momento especial, cerra os olhos, respira fundo e profere:
Danka Maia
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_ O bato, tu merinhaste!(suplica por mim, Ó Deus!), Bata, avó, me dê uma boa hora e perdoa a minha vergonha.
Foi neste instante que a porta se abriu abruptamente
com a imagem de Helena serena como sempre.
Veio até a cama da amiga, passou a mão por seus longos cabelos, apaziguando a expressão de dor no semblante da menina com um doce olhar, na tentativa de acalmá-la dado a sua notória agitação.
_ Helena, estou muito nervosa. As dores começaram e estão ficando cada vez mais fortes...
Sua fisionomia é um misto de angústia e consternação emaranhada a uma culpa ainda mais crucial chamada desgosto.
Blanka sabe que chegou ao cume de toda aquela situação, o fim de toda espera, onde durante nove meses sua alma a acusou tanto quanto a absolveu durante incontáveis momentos de desespero. Aflita pelas dores e pela avassaladora ansiedade de livrar-se daquele purgatório, suplica a Helena:
_Quero que tudo isto acabe logo. Não aguento nem mais um segundo disto. Pelo amor de Deus, Helena, me liberte deste calvário!
A enfermeira tenta abrandá-la outra vez enquanto a examina checando sua pressão arterial e monitoração cardíaca.
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_ Eu sei querida, mas procure se tranquilizar. O centro
cirúrgico já está pronto, logo será encaminha e tudo vai dar certo. Confie em mim!
A moça logra êxito em sua tentativa, e por um instante, a adolescente se acalma um pouco.
_O fim está próximo, Blanka.Reta final,não há o que temer.
A menina a olha do alto de seus turbulentos 17 anos de
vida, e inda envolta pela ingenuidade que lhe é servida pela imaturidade especula.
_O bebê está bem de verdade?
A enfermeira sorri com a estabilidade de seus 35 anos, e sabendo que precisa manter a menina sobre controle completo lhe toca a mão perfurada pela agulha que a mantém no soro, e delicadamente a responde:
_Claro Blanka, jamais lhe mentiria. Vocês dois estão muito bem. Não se preocupe.
Helena obteve o intuito pretendido novamente com Blanka. Seu rosto tornou-se bonançoso como antes.
Entretanto, não o suficiente para não deixar de fazer a pergunta fatídica.
_E eles... Eles chegaram?
A indagação trouxe certo transtorno ao rosto sossegado de Helena que não se permitiu consternar e manteve o equilíbrio ao responder de maneira doce e precisa:
_ Sim Blanka, foram avisados assim que foi hospitalizada, e agora sabem as contrações se iniciaram.
Danka Maia
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Levada ao ápice da sombria e descabida curiosidade, Blanka burla a principal regra do contrato e dispara:
_Como eles são Helena? São...
Quando é afoitamente interpelada pela amiga com um olhar talhante e um toque em seu queixo incisivo.
_ Blanka, não! Não se permita isto, lembra? - a
adolescente relembra das incalculáveis conversas que atravessaram madrugadas entre as duas sobre aquele assunto e sobre aquele dia. -Quem são,como são, não lhe diz mais respeito. Nessa hora é extremamente importante que mantenha-se em paz, serena.Não procure nada que a tire disto.Falamos muito a respeito desse instante, certo? Concordamos como deveria reagir de modo apropriado para ocasião.
Blanka reage embravecida.
_ Mas não cri que seria tão cruciante!Estou dentro de um turbilhão de confusões Helena, me interrogando a todo tempo se o que fiz foi correto, se valeu a pena!Nem minha avó, que era a maior motivação de tudo isto, não está mais aqui. Não tenho mais ninguém! Ninguém!
Helena procurou amainar a menina de novo, carecia do domínio incondicional sobre Blanka.
_Claro que tem. Não está só! Tem a mim, sua irmãzinha para sempre. Hei, estou aqui! Jamais a abandonaria. Entramos nisto juntas, e juntas sairemos, entendeu?
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A moça olhou para o ventre voluptuoso pelos nove
meses completos, alisou carinhosamente toda sua extensão, e foi quando uma lágrima caiu de seus intensos olhos verdes.
_É diferente minha amiga. - disse Blanka. - Passou a ser
tudo muito diferente desde o segundo que o senti desenvolver dentro de mim.Sugar minhas forças,misturar-se ao meu sangue.Sei que você está comigo e o que tenha feito por mim seja maior do que uma mãe por uma filha.Mas não deixo de pensar um só
instante se não há outro meio de...
Helena voou sobre a face da menina.
_Blanka, está perdendo o controle da situação. Não pense em bobagens.Sei exatamente o que está passando em sua cabeça, e não é hora para se ter esse tipo de pensamento completamente absurdo!
Blanka olha nos olhos da amiga, seca as lágrimas copiosas que escorrem pelo seu rosto e parece recuperar a razão.
_Está certa. Foi um momento de desespero. Desculpe,
tolice minha.
A enfermeira incentivou ao pensamento infantil.
_Isso mesmo. Somente uma palermice. Logo, logo vai poder retomar sua vida e caminhar para direção que sempre quis e merece ter.
Helena beija levemente a testa de Blanka, encosta o
rosto ao dela, e sussurra:
Danka Maia
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_Tudo irá acabar como lhe prometi. Bem! Confie em mim.
E aquela cena se fechou com um olhar confiante entre
as duas.
Lodo depois a garota foi conduzida ao centro cirúrgico. O Doutor Vasconcellos recém-chegado a equipe, a avisa que conforme o combinado aplicará como anestesia local, um leve sedativo para que durma e o parto se dê com mais tranquilidade.
Embora Blanka estivesse sedada, por uma fração de minutos, algo estranho acontece em meio a sala e as vozes distantes da junta médica ao seu redor. Primeiro, tem a sensação de ouvir o médico exclamar que era uma linda garotinha e ao mesmo tempo ,ter ouvido mais de um choro na hora da cesárea.
O parto leva cerca de uma hora, um sucesso de acordo com a equipe médica.
Blanka oscila entre a sedação e uma breve lucidez.Ela consegue ver muitos vultos a sua volta, que julga ser a equipe de profissionais, pode ouvir suas rumores, porém, algo chama atenção, no canto da sala se depara com a imagem de Olga, sua avó falecida, a consorte está mais jovem,vestida com a roupa que mais gostava, e naquele
andamento de incerteza , tenta esticar uma das mãos em direção a Olga com a finalidade de lhe proferir algo, todavia, sua língua está pesada, e então sente um pesar muito grande dentro de si vindo da alma,e uma pingo rola do canto do seus olhos.
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Olga aproxima-se da mesa de cirurgia,coloca sua mão
sobre seus lábios de Blanka e emite um som:
_Psiu.
Num tom muito baixo. Passa a mão pela cabeça da neta,
a menina tenta pedir perdão a avó pelo que havia feito. Olga sorri, e só diz uma coisa que pareceu completamente incompreensível e sem nexo algum devido aquela situação.
_Ele não entrará pelo início, mas pelo fim da tua história. Ele jamais será sua raiz, porque seu destino é ser seu fruto.Ele te descobrirá nos pequenos gestos,nas acanhadas expressões,nas inesperadas atitudes,nos melhores sorrisos, no mistério do teu
olhar, é ali que vai te enxergar,e ao te ver ficará tão intrigado que isso será ao bastante para juntar os destinos de vocês.Não tenha medo,estou em paz.Siga seu caminho, o tempo o trará até você.
Em meio ao desespero de rever avó, Blanka se revolve quando percebe que ela desapareceu da mesma maneira como a pouco instantes estava ali a sua frente.Na angústia de prolongar aquela ocasião, tenta esticar sua mão ao nada e balbucia:
_Bata... Não vá...
Percebendo o tamanho despautério da jovem, Vasconcellos
tenta serenar sua agitação segurando sua mão estirada delicadamente e trazendo para junto de seu corpo.
_Está tudo bem.
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Prontamente Helena nota a agitação da amiga, preocupada vem até a mesma e sugestiona ao Doutor:
_O senhor não acha que talvez outra dosagem de sedativo
seja necessária, ela pode estar despertando.
O médico pondera rápido a proposta da enfermeira e determina:
_Sim, prepare e aplique o soro, Helena. Não queremos que a mocinha acorde antes da hora. - Sorrindo modicamente enquanto alisa mais uma vez a mão de Blanka.
A amiga a observa enquanto aplica ao soro o sedativo
apontado, Helena vê o olhar de Blanka fixo ao nada e se pergunta o que ou quem, ela poderia ter visto para ter descabida reação.Porém, na medida em que a dosagem foi entrando em sua corrente sanguínea, a menina vai adormecendo lentamente , até fechar de vez os olhos e ser sucumbida diante da severa investida dos sedativos.
O parto termina.
Já em seu dormitório, discreto, todavia arrojado, a moça vai despertando do que parecia um sono profundo ou uma belíssima escapa de sua dura realidade. Abre os olhos vagarosamente, tentando reconhecer o lugar onde está. Nesta hora, Helena que está sentada no sofá de acompanhante ao lado ao ver seu despertar, levanta e vai à cabeceira da cama.
_Blanka, pode me ouvir?
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Ela procura o rosto da enfermeira e ainda grogue responde
com firmeza:
_Sim, posso.
_Quem sou eu?- Helena graceja.
_Minha chata e inseparável amiga, Helena Medeiros. -devolvendo a anedota.
A enfermeira sorri aliviada ao notar que menina acordou bem da sedação.
_Não faz ideia de como é bom vê-la acordar assim, bem.-deixando evidente seus olhos marejados.
Helena temia por aquele parto tanto quanto, ou mais que a própria Blanka.Talvez porque as decisões que aquela situação exigiu de si, foram altas demais.
Há um preço por amizade?
Até onde de fato e de direito, um amigo pode definir a vida ou o destino de outro?
Estas e outras "zilhões" de perguntas povoavam, e não seria exagero mencionar que já assombravam a mente da enfermeira. Então, suportando a pressão por pelo menos mais uma vez,aguentou firme sem esboçar fraqueza e foi
contundente na palavra de apoio da amiga.
_Tenho muito orgulho de você. Muito, muito orgulho!Como cansa de repetir em meus ouvidos: "Não é uma sobrevivente, e sim uma guerreira."
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Blanka a agradece com um sorriso terno. Em seguida indaga:
_Correu tudo bem? O bebê está bem?
Se recompondo, a amiga ajeita o jaleco com uma mão, enquanto limpa as lágrimas com a outra e replica:
_Sim. O nascimento foi um sucesso, e o bebê, bem. Está
muito bem.É uma criança linda , saudável, e o mais importante , será muito amado e feliz. Certo?- Tentando relembrar entrelinhas a jovem que o seu elo com a criança acabara ali.
_É... -Blanka embarga a voz. - Pelo menos ele será muito amado em toda esta história, o que já a faz valer a pena.
_Perfeito, é assim mesmo que se deve pensar. Agora, precisa se recuperar o quanto antes, para que no máximo entre dois e três dias seja liberada pelos médicos e seguir rumos aos seus sonhos. Vou pedir para que lhe tragam uma refeição leve, tem que se alimentar bem e rápido!-Sorri satisfeita.
_Estou sem fome, Helena. - Blanka conclui enquanto passar a mão pelo ventre, agora somente resguardando
o inchaço da cirurgia.
A amiga imediatamente retira a sua mão de sua barriga, e a pede:
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_Por favor... - acenando com a cabeça discretamente
em repressão de tal ato e prosseguindo no pedido.-precisa se alimentar.Irei num pé, e volto noutro.Não vá a lugar nenhum sem mim, ok?- voltando a motejar.
Blanka sorri timidamente.
_Pode deixar, jamais cometerei tamanha injustiça sei perfeitamente que não pode viver sem mim .
Ambas sorriem.
Helena sai do quarto e Blanka começa a pensar em tudo que passara.Por mais que tentasse acreditar que tomara a decisão correta para aquele momento,o choro do bebê,o outro pranto, que de relance seu inconsciente insistia que havia escutado e a presença de sua avó, Olga, em meio a intervenção juntamente com aquelas palavras tão desconexas, sem definição alguma, faziam com que a adolescente de 17 anos ,lançasse margem a
sua idade e se permitisse entregar por um minuto a desesperança infinita.Poderiam ser tão somente imagens que iam e vinham em sua memória ainda confusa devida a sedação ou mais uma peça do pregada pelo sua sina? Isto,só o tempo poderia responder.
Dados alguns minutos da saída de Helena, ouviu uma batida insistente e possante na porta. Seguida do surgimento da figura amistosa do Doutor Volpato.
_Como vai a minha paciente preferida, que as outras não me ouçam, por favor!- brincou adentrando o ambiente.
Só lhe restou retribuir com um sorriso amarelado e evidentemente um semblante tristonho e abatido.
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_Viva. Não é o que interessa?- Ela é contundente e talhante na réplica.
Volpato entende o desapontamento nas palavras de
garota. Cerra o rosto e tenta mostrar-se um tanto solidário a dor da jovem.
_Blanka, sabíamos que as coisas seriam deste modo.Fizemos um acordo, todos concordamos, principalmente você,lembra?
_Sim, eu sei doutor.Sei bem o que concordei fazer.
O médico tenta ser mais humano.
_Sabe que a clínica pode disponibilizar se for o caso a continuação da terapia com a doutora Solange e...
O interpele segura.
_Não se preocupe. Agradeço sua preocupação comigo, mas vou ficar bem, só preciso me recuperar, é só um momento.
_Tem certeza?- insiste o homem de cabelos agrisalhados e óculos curiosos.
_Sim, tenho. A jornada da doutora Solange comigo já
findou, alias o de todos vocês. Quero poder o quanto antes sair daqui e retomar a minha vida. Isto sim, é o que realmente quero e preciso a partir de agora.- Lançando um olhar contundente ao médico.
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O olhar o perturbou tanto que ele se desequilibrou na
cadeira enquanto andava de costas até a porta.
_Muito bem. Então, procure reforçar sua nutrição e descanse, porque se assim o fizer, a libero nos próximos dias, certo?
_Pode deixar, doutor Volpato, seguirei a risca suas determinações médicas até o fim, até o dia que romper a porta da entrada da Vittaimperius.
O médico tenta remediar o clima tenso que se faz entre eles.
_Blanka, verdadeiramente desejo de todo meu coração
que seja muito, muito feliz. Você merece, foi um prazer conhecê-la.
Ela sorri com timidez como antes, ele sai fechando a porta, Blanka olha para o lado, respira fundo, e sussurra para si própria:
_Também foi um prazer fazer negócio com o senhor doutor. Um enorme prazer.
Dois Dias Se Passam...
"A paciente Blanka Pankova encontra-se em alta devido seu excelente quadro de recuperação".Esta foi a frase que definiu o fim da estadia da moça na
renomada Clínica Vitaimpérius.
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Helena está eufórica coma saída da amiga e consigo traz um lindo vaso de flores. Blanka está consideravelmente recuperada da cirurgia,mais forte,visivelmente mais revigorada.Todavia, seu olhar ainda possui algumas reticências.A amiga a auxilia pegando suas bolsas,
quando sem querer deixa cair no chão um caixinha branca, causando oscilação crônica na adolescente.
_Não Helena!- Grita.- Eu apanho...
A enfermeira desaprova sua intenção retrucando:
_Imagine! Onde irei permitir que se abaixe recém operada? Em tempo Algum!
Inevitavelmente,a amiga abre a caixa.São sapatinhos de bebê, vermelhos, feitos a mão, e escrito:"Sou da Mamãe".Helena olha para Blanka prontamente,a jovem abaixa a cabeça, enquanto a enfermeira protesta furiosa.
_O que significa isso Blanka?- colérica , repete sem parar.-Me diga, o que é isto?
A garota toma os sapatinhos e também é ríspida: _Não é nada. Não está vendo a sua volta? Não é nada,não significa nada!
Helena procura a calma passando as mãos sobre a testa,e continua questioná-la:
_Por que trouxe isto para a clínica? Sabia o que tinha que ser feito!Por que os sapinhos de bebê?- Persiste
atrás de uma resposta coerente.