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“A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais humanos”

José Saramago

José SaramagoAzinhaga, 1922 - Tías, 2010

Autor de mais de 40 títulos, José Saramago nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga.

As noites passadas na Biblioteca pública do Palácio das Galveias, em Lisboa, foram

fundamentais para a sua formação. “E foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas

guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender,  que o meu gosto pela leitura

se desenvolveu e apurou.”

Em 1947 publicou o seu primeiro livro que intitulou A Viúva, mas que, por razões

editoriais viria a sair com o título de Terra do Pecado. Seis anos depois, em 1953,

terminaria o romance Claraboia, publicado apenas depois da sua morte.

No final dos anos 50 tornou-se responsável pela produção na Editorial Estúdios

Cor, função que conjugaria com a de tradutor a partir de 1955 e de crítico literário.

Regressa à escrita em 1966 com Os Poemas Possíveis.

Em 1971 assumiu funções de editorialista no Diário de Lisboa e em abril de 1975 é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias.

No princípio de 1976 instala-se no Lavre para documentar o seu projeto de escrever

sobre os camponeses sem terra. Assim nasceu o romance Levantado do Chão e o

modo de narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Até 2010, ano da sua morte,

a 18 de junho, em Lanzarote, José Saramago construiu uma obra incontornável na

literatura portuguesa e universal, com títulos que vão de Memorial do Convento a

Caim, passando por O Ano da Morte de Ricardo Reis, O Evangelho segundo Jesus

Cristo, Ensaio sobre a Cegueira, Todos os Nomes ou A Viagem do Elefante, obras

traduzidas em todo o mundo.

No ano de 2007 foi criada em Lisboa esta Fundação com o seu nome, que trabalha

pela difusão da literatura, pela defesa dos direitos humanos e do meio ambiente,

tomando como documento orientador a Declaração Universal dos Direitos

Humanos. Desde 2012 a Fundação José Saramago tem a sua sede na Casa dos

Bicos, em Lisboa.

José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel de Literatura

em 1998.

A Fundação José Saramago é uma instituição cultural privada de utilidade pública

com sede na Casa dos Bicos, na cidade de Lisboa, contando com uma delegação

em Azinhaga, terra natal do escritor José Saramago. Constituída pelo próprio

escritor em junho de 2007, tem como objetivos a defesa e difusão da Declaração

Universal dos Direitos Humanos, a promoção da cultura em Portugal e em todo o

mundo e a defesa do meio ambiente.

A Casa dos Bicos, sede da instituição desde junho 2012, oferece uma exposição

permanente dedicada à vida e obra de José Saramago, intitulada A semente e os

frutos, e outras atividades culturais como apresentações de livros, representações

de peças de teatro, conferências e colóquios.

1.º Andar - Exposição permanente José Saramago. A semente e os frutos

2.º Andar - Escritórios da FJS

3.º Andar - Livraria / Loja

4.º Andar - Auditório / Biblioteca

A Casa dos Bicose a Fundação José Saramago

Bibliografiade José Saramago

A Fundação José Saramago nas redes sociais:

©Fundação José Saramago. 2014

NovelaTerra do Pecado (1947)Manual de Pintura e Caligrafia (1977)Levantado do Chão (1980)Memorial do Convento (1982)O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)A Jangada de Pedra (1986)História do Cerco de Lisboa (1989)O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991)Ensaio sobre a Cegueira (1995)Todos os Nomes (1997)A Caverna (2000)O Homem Duplicado (2002)Ensaio sobre a Lucidez (2004)As Intermitências da Morte (2006)A Viagem do Elefante (2008)Caim (2009)Claraboia (Concluído em 1953, publicado postumamente em 2011)Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas (Romance inacabado, escrito em 2010 e publicado em 2014)

CrónicaDeste Mundo e do Outro (1971)A Bagagem do Viajante (1973)As Opiniões que o DL teve (1974)Os Apontamentos (1976)Poética dos Cinco Sentidos – O Ouvido (1979)Moby Dick em Lisboa (1996)Folhas Políticas (1976 – 1998) (1999)José Saramago nas Suas Palavras (2010)

DiáriosCadernos de Lanzarote I (1994)Cadernos de Lanzarote II (1995)Cadernos de Lanzarote III (1996)Cadernos de Lanzarote IV (1998)Cadernos de Lanzarote V (1998)O Caderno (2009)O Caderno 2 (2009)

Infantil y JuvenilA Maior Flor do Mundo (2001)O Silêncio da Água (2011)

Ensayo: conferências, artículos, discursosDiscursos de Estocolmo (1999)Comment le personnage fut le maître et l’auteur son apprenti (1999)Direito e os Sinos (1999)Aquí soy Zapatista - Saramago en Bellas Artes (2000)Palabras para un mundo mejor (2004)Questo mondo non va bene che ne venga un altro (2005)El nombre y la cosa (2006)Andrea Mantegna - Uma ética, uma estética (2006)Democracia e Universidade (2010)A estátua e a pedra (1999)

PoesíaOs Poemas Possíveis (1966)Provavelmente Alegria (1970)O Ano de 1993 (1975)

TeatroA Noite (1979)Que farei com este Livro? (1980)A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)In Nomine Dei (1993)Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido (2005)

Literatura de viajesViagem a Portugal (1981)

MemóriasAs Pequenas Memórias (2006)

ContoObjecto Quase (1978)O Conto da Ilha Desconhecida (1998)

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A Semente e os Frutos

Exposição permanente

Originais dos primeiros livros

© FJS

Na obra literária de José Saramago (Azinhaga, 1922) conjuga-se a literatura mais exigente e pessoal com as interrogações mais fecun-das. Autor tardio, mas de formação caldeada no calor de letras es-critas e de leituras, soube construir, a partir da década de oitenta, uma literatura renovadora e original, que lhe conferiu, em 1998, o primeiro Prémio Nobel concedido a um escritor de língua portugue-sa. Denso e irónico, inteligente e cético, terno e sarcástico, demoli-dor e pertinaz nas suas críticas, praticou, ao longo da sua produção narrativa, tanto a desmitificação da História convencional como a censura ativa dos desvios contemporâneos, tomando sempre como referência a essência humana da vida, a solidariedade, a compaixão, o respeito pelo outro e a relatividade do ponto de vista. Armado por um autor-narrador forte, que invade o espetro da sua narrativa, defendia que a obra é o romancista, ao mesmo tempo que marcou uma literatura construída a partir de ideias fortes, de audazes metá-foras visionárias e ilustradas, de uma deslumbrante fabulação e de uma consciência incómoda que quis e soube ligar o seu destino ao pulsar turbulento do coração do mundo contemporâneo, perma-nentemente posto a nu e questionado.

Saramago – que nunca ocultou a sua militância comunista – proje-tou mundialmente o seu trabalho e a sua figura pública, acentuan-do o seu perfil de intervenção cívica em defesa da liberdade, dos direitos humanos e da inclusão social, imbuído de valores e ideais suscetíveis de construir outra realidade mais justa, mais humana. Esta atitude engagée serviu-lhe para recuperar, com energia e cre-dibilidade, o papel do intelectual inconformista, envolvido nas ques-tões palpitantes e nos debates do seu tempo, trazendo ângulos de visão heterodoxos, refutando a ordem aceite maioritariamente e re-clamando uma ética individual e coletiva que contemplasse como

prioridade o ser humano, a sua dignidade, acima de qualquer outra hierarquia discriminatória ou qualquer outro interesse de poder ou económico. José Saramago desenvolveu, pois, com intensidade as suas responsabilidades cívicas, com o desejo de colocar o cidadão ao mesmo nível do escritor, tal e como ele mesmo expressaria: «Tenho muito cuidado em não transformar os meus romances em panfletos, apesar de ser marxista e comunista com cartão. Tenho umas ideias e não separo o escritor do cidadão das minhas preocupações. Acho que nós, os escritores, devemos voltar à rua, e ocupar de novo o es-paço que antes tínhamos e agora é ocupado pela rádio, pela impren-sa ou pela televisão. É preciso, além disso, fomentar o humanismo, o conhecimento de que milhares e milhares de pessoas não podem aproximar-se do desenvolvimento.» (La Provincia, Las Palmas, 3 de março de 1994 - Entrevista de Javier Duran)

Polémico, pessimista confesso, brilhante, ativista e incómodo, a perspetiva da sua vida caldeada oferece o balanço de um trabalho literário amplo e pertinaz, em que o cultivo do romance conviveu com o teatro, a poesia, as crónicas jornalísticas e as memórias. A exposição José Saramago. A semente e os frutos dá conta, em sín-tese, dessa dedicação, mostrando como o príncipe da literatura que foi José Saramago funde as suas raízes no operário das letras que, com o seu minucioso e metódico trabalho, em momentos difíceis da

sua vida – os árduos e obscuros anos quarenta, cinquenta e sessenta em Portugal – sedimentou as bases do brilho futuro. A mostra, que aglutina numerosos manuscritos, documentos, primeiras edições e centenas de traduções em mais de quarenta línguas, propõe um percurso tanto pela produção literária de José Saramago como pelos seus contextos ideológicos e sociais.

A conceção expositiva de José Saramago. A semente e os frutos in-corpora recursos audiovisuais postos ao serviço de conteúdos espe-cíficos que abrem as portas ao denso e rico mundo saramaguiano. O discurso expositivo oferece a possibilidade de aproximação à génese do escritor através de inúmeras portas de entrada, propocionando a cada visitante a oportunidade de construir o seu próprio percurso, em função dos seus interesses no momento de penetrar num univer-so literário e intelectual tão amplo e sugestivo como polifacetado.

A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais hu-manos. Marx e Engels, num livro intitulado A Sagrada Família, têm uma frase que é essencial pôr em prática: «Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é preciso formar as circunstâncias hu-manamente.» (José Saramago, 1999)

Fernando Gómez Aguilera

Primeiro escritório de José Saramago

© Ricardo Chaves

Secção dedicada ao Prémio Nobel

© FJS

José Saramago em Lanzarote - Painel de abertura da exposição


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