BALANÇO POLÍTICO-INSTITUCIONAL DA
ASCEMA NACIONAL
GESTÃO 2014-2017
DIRETORIA EXECUTIVA
Setembro de 2017
Em memória dos nossos mártires da luta ambiental: Alexandre Rochinski (Supes/SC e Presidente da
Asibama-SC), Olavo Perim Galvão (Supes/ES) e Sebastião Lima Ferreira Júnior (Supes/RR), falecidos, e
de Lazlo Macedo de Carvalho (UT Santos/IBAMA/SP), único sobrevivente, no acidente aéreo ocorrido em
03/07/2017, no Município de Cantá-RR, durante ação de Fiscalização do IBAMA, pela Operação Curare
VIII.
DIRETORIA EXCUTIVA DA ASCEMA NACIONAL
Presidente
Emerson Luiz Nunes Aguiar
Vice- Presidente
Carlos Eduardo Martins Silva
Secretária Executiva
Ana Carolina Bonifácio Silva
Diretora Jurídica
Vera Élen Nascimento Freitas
Diretora de Aposentados
Maria Cândida da Silva
Diretor de Comunicação
Eduardo Nuber
Diretor Financeiro
Rogério Eliseu Egewarth
Diretor da Região Nordeste
Rômulo George Sales e Silveira
Diretor da Região Centro-Oeste
Guilherme Aranha Araújo Ramos
Diretor da Região Sudeste
Cláudio Rodrigues Fabi
Diretor da Região Sul
Lisandro Márcio Signori
Suplente da Região Nordeste
Mariana Momesso
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SUMÁRIO
Apresentação .......................................................................................................................................................... 4
PARTE I ..................................................................................................................................................................... 5
1. O Brasil em Crise: O Fim de uma Época. Análise política dos anos 2013-2017 ...................................... 5
2013........................................................................................................................................................................................................ 6
2014........................................................................................................................................................................................................ 6
2015........................................................................................................................................................................................................ 7
2016........................................................................................................................................................................................................ 8
2017........................................................................................................................................................................................................ 9
PARTE II ................................................................................................................................................................... 9
2. Análise da Entidade: Estrutura e Representatividade ..................................................................................... 9
2.1. Assimetria entre as Entidades Locais .............................................................................................................................. 9
2.2. Estrutura de Diretoria ......................................................................................................................................................... 10
2.3. Presidencialismo ................................................................................................................................................................... 10
2.4. Funções Executivas ............................................................................................................................................................... 10
2.5. Diretorias Regionais ............................................................................................................................................................. 11
2.6. Número de Diretores ........................................................................................................................................................... 11
2.7. Representação pelos Órgãos Ambientais .................................................................................................................... 11
2.8. Aposentados ............................................................................................................................................................................ 11
2.9. Fóruns Deliberativos ............................................................................................................................................................ 12
2.10. Relação da Ascema Nacional com as Entidades Locais e os Servidores em Geral ................................... 12
2.11. Modelo de Gestão ................................................................................................................................................................ 12
2.12. ‘Quem’ afinal é a Ascema Nacional? ............................................................................................................................ 13
PARTE III ............................................................................................................................................................... 14
3. Análise da Gestão 2014-2017 ................................................................................................................................ 14
3.1. Primórdios: VII Congresso – 2014 e Composição da Chapa para a Diretoria Executiva ......................... 15
3.2. Composição e Desfecho da Chapa ................................................................................................................................... 15
3.3. Modelo de Gestão da Diretoria Executiva ................................................................................................................... 16 3.4. Outras Atuações Junto à Gestão ....................................................................................................................................... 16
3.5. Principais Eventos e Atividades Organizados pela Ascema Nacional ............................................................. 17
3.6. Negociação da Carreira – 2015. ....................................................................................................................................... 20
3.7. Mesa Setorial de Negociação Permanente – MSNP ................................................................................................. 21
3.8. Crise com os Técnicos Ambientais e Administrativos............................................................................................ 22
3.9. Relação entre Ascema Nacional e Asibama-DF ......................................................................................................... 22
PARTE IV ............................................................................................................................................................... 23
4. VIII CONGRESSO ORDINÁRIO DA ASCEMA NACIONAL – ACADEBio/2017 .............................................. 23
4.1. Desafios ..................................................................................................................................................................................... 23
4.2. Resultados ................................................................................................................................................................................ 25
4.3. Ruptura da Delegação da Asibama-DF com o VIII Congresso ............................................................................. 26
PARTE V ................................................................................................................................................................. 27
5. CONCLUSÕES ................................................................................................................................................................ 27
APÊNDICE.............................................................................................................................................................. 28
4
Apresentação
Entregamos em mãos aos servidores uma avaliação da Diretoria da Executiva sobre o período o
qual estivemos à frente da Ascema Nacional.
Buscamos com isso, a partir da experiência dos 3 anos de gestão, refletir sobre a realidade e natureza
da própria entidade, sua forma de representação, estrutura, fóruns, modelo de gestão, relação com as
entidades locais e os servidores em geral.
Também discutimos essa Gestão que ora se encerra visando a análise honesta, não uma discussão
aritmética que elenca pontos positivos e negativos e depois tenta encontrar qual dos sinais prevalece no
resultado, mas aquela que percebe a dinâmica concreta dos principais fatores e acontecimentos que
influenciaram os rumos e os resultados, os avanços ou os retrocessos, as possibilidades e os limites, a partir
das escolhas feitas e a sua correção ou não. Nosso interesse não é, como em geral ocorre, mostrar para o
exterior aquilo que desejamos, como queremos ser vistos, ressaltando as virtudes e escondendo os
problemas. Acreditamos com toda sinceridade no dever de sermos, acima de tudo, autocríticos e de encarar
as críticas, desde que honestas, como constitutivas da vida saudável de uma entidade e fator incontornável
para sua melhoria. Somos apenas parte de um processo mais geral e não o próprio processo, por isso não
nos colocamos nem no centro, nem acima, nem à frente, mas dentro, como o elemento responsável por
direcionar apenas uma parte do movimento no qual estamos inseridos.
Para atender aos anseios acima devemos optar por contextualizá-los. O ambiente e processos sociais
são componentes obrigatórios para qualquer agremiação se situar e dar sentido à sua atuação. Enfatizamos
bastante esse quesito, porque o Brasil de 2014 a 2017 passou pelos processos sociais mais importantes e
críticos desde a promulgação da Constituição de 88. A marca da instabilidade, crises, conflitos, disputas
percorreram todos os cantos e perpassaram todas as pessoas. Essa Gestão da Ascema Nacional enfrentou
uma das maiores crises da história da República.
Vivendo um momento crítico da história, tentaremos trabalhar em uma avaliação da nossa entidade
nacional imersa em um tempo que, pela dinâmica e magnitude dos acontecimentos, condensou décadas em
poucos anos, demolindo a ordem política vigente desde a abertura democrática com a Constituição de 88 e
rompendo os pactos sociais erigidos desde então
Navegar em mares revoltos, num encontro de tempestades, é uma tarefa hercúlea para uma pequena
embarcação e sua tripulação. Sobrevivemos e, o que não é menor, cremos ter avançado no limite do que foi
possível.
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PARTE I
1. O Brasil em Crise: O Fim de uma Época. Análise política dos anos 2013-2017
Entramos numa noite que parece não ter mais fim. De uma hora pra outra, a impressão que dá é de
tudo ter ido pelos ares. O Brasil, país do futuro, como um colosso desgovernado voltou a passos largos para
trás e mudou o sentido do seu relógio. Muitas páginas dessa história estão por serem explicadas, outras
mais estão em branco, a serem escritas, mas o que pesa mesmo é o tanto que foi apagado, borrado ou
manchado. Enquanto não se vislumbra uma saída para a situação, estão todos assistindo perplexos à
decomposição de uma promessa de país sustentada por um pacto social positivado a partir da Constituição
de 1988. Mas se ruiu a ideia de país do futuro e o que está por vir é bastante incerto, a certeza restante é
que a crise está longe do fim e nossas forças estão dispersas e sem capacidade de reação.
A crise está longe de um desfecho claro, mas talvez não seja exagero especular que entramos em
um novo período da organização institucional e política do Estado, dos grupos que preenchem suas funções
e do funcionamento de sua máquina; um novo regime de acumulação econômica, marcado pela supressão
de direitos, espoliação da força de trabalho e dos recursos naturais, e de redução da soberania nacional; e
um novo momento nas formas populares de organização e mobilização da sociedade. Sem contar que até
mesmo alguns consensos civilizatórios modernos entraram em xeque nos últimos anos1.
Quanto à política, observamos nitidamente a reorganização das forças e agrupamentos políticos,
com a balança favorecendo vieses mais conservadores e autoritários, e a possibilidade de uma reforma
política que tornaria nosso sistema ainda mais antidemocrático, com a possibilidade de até mesmo se rever
do modelo de governo – grupos políticos no Congresso sugerem com cada vez mais ênfase a necessidade
do parlamentarismo.
Já o novo regime de acumulação econômica, algo que já era sinalizado no período anterior de forma
moderada, está sendo viabilizado de modo agressivo pelas reformas do Governo e Congresso atuais e faz
parte da forma de inserção e do papel do Brasil na economia mundial. Exemplificando, já foram
implementadas as reformas ligadas ao mundo do trabalho, como a terceirização e trabalhista, e está
pendente a previdenciária; da parte do Estado, o congelamento de investimentos estatais por 20 anos e o
enxugamento de seu papel; há ainda os novos marcos regulatórios para a exploração de recursos naturais;
a possibilidade de venda de terras a estrangeiros; os ataques às Unidades de Conservação da Natureza e
Terras Indígenas e Quilombolas; a flexibilização do Licenciamento Ambiental; o enfraquecimento das
restrições socioambientais ligadas ao Agronegócio à Indústria; mais privatizações; entre tantas outras
coisas.
A crise de representatividade das organizações trabalhistas e populares, sem tentar aprofundar a
discussão aqui2, emergiu com transparência nos grandes protestos populares de 2013, nos quais elas ficaram
alheias e em muitos momento foram hostilizadas, e de forma ainda mais contundente no período atual, com
um Governo de popularidade pífia, pego em um escandaloso esquema de corrupção e, mesmo assim,
aplicando as mais duras reformas sociais de que lembramos, mostrando a falta de capacidade de
mobilizarem e organizarem os setores cuja representação historicamente lhes cabia. Isso é um dos traços
mais claros da transformação sociopolítica pela qual passou o Brasil a partir daquele ano.
Para os nossos propósitos, é importante citar, pois teria influência sobre todos anos subsequentes,
que, após o tempestuoso ano de 2013, a Ascema Nacional realizou, em 2014, seu VII Congresso e nenhuma
palavra foi dita ou houve discussões sobre a transformação porque passava o Brasil. O preço disso foi
cobrado e caiu sobre os ombros dessa Diretoria Executiva.
Faremos uma digressão um pouco mais extensa abaixo, ano a ano, com uma leitura em linhas gerais
dos processos político e social que balizaram a atuação e posicionamentos dessa Diretoria. É justo que se
tenha isso em mente, pois nada foi feito no improviso ou sem uma reflexão dos fenômenos que se
1 Exemplo do que dizemos é o Projeto de Lei de autoria do Deputado Nilson Leitão (PSDB/MT) que prevê, no meio rural, pagamento de
trabalhador com comida ou casa. Ver notícia do Portal Congresso em Foco (02/05/2017): https://goo.gl/L1vifn. 2 Colocamos essa discussão, na forma de uma problematização incipiente, no Apêndice ao final desse documento, para evitar desviar demais
o rumo do texto.
6
apresentavam na realidade. Estivemos na gestão entre os anos 2014-2017, mas começaremos voltando um
ano, para 2013, pois entendemos que foi lá que tudo começou.
2013
Voltemos um pouco no tempo, para o ano de 2013, pois é lá o ponto de partida fundamental. Esse
ano já é o marco histórico de referência para qualquer discussão e análise dos processos sociais que
desaguaram na crise presente. Foi quando, em Junho, milhões de pessoas, em centenas de cidades, após
décadas, foram às ruas com uma pauta difusa por direitos e mudanças na condução do país em todos os
níveis, causando um terremoto na vida política nacional. Entraram em cena novos sujeitos; formas e
ferramentas de mobilização e articulação; pautas mais gerais – muitas ligadas à Cidade e outras mais
específicas – ligadas a grupos sociais vítimas de opressão e exclusão; e um rechaço generalizado ao
presente sistema representativo e todas as representações políticas tradicionais. De lá pra cá, esse processo
mudou drasticamente de sentido e a instabilidade sociopolítica e institucional nos jogaram em uma maré
de enormes retrocessos.
Por tudo que veio depois de Junho, a decomposição do sistema político e das instituições estatais, a
emergência de todo tipo de escândalos, a falência dos modelos representativos, a clarividência da podridão
dos poderes político e econômico, as rupturas de ordem democrática etc., foi o fim dessa nova fase da
República fundada em 88. O país se dividiu, as forças sociais e políticas se reorganizaram (e
desorganizaram), as paixões despertadas na população cederam lugar ao ódio, as expectativas à frustração,
as perspectivas de mudanças aos retrocessos de fato, as ideias transformadoras e libertárias ao
conservadorismo e autoritarismo. O gigante que diziam ter acordado parece caído em sono profundo
experienciando os mais temerosos pesadelos.
Não obstante a importância de entender e problematizar esse solavanco no país, não é o objetivo
fazer uma discussão aprofundada sobre esse evento histórico, seu sentido e desdobramentos, nem é possível
chegar a uma única conclusão. Mas é necessário tê-lo como referência para alguns apontamentos
importantes sobre as organizações de classe e problematizar seus limites, desde quando se mostraram
naquele ano muito debilitadas. Dali em diante ficou claro o distanciamento de todos modelos
representativos das suas bases reais. As instituições estatais, habitualmente descoladas dos interesses da
população, chegaram ao seu mais baixo nível. E as organizações populares, como sindicatos, descoladas
das bases de trabalhadores e da sociedade, não foram capazes de mobilizar resistência à agenda antipopular
dos Governos e Congresso e, além disso, com seu modus operandi tradicional foram incapazes de ser o
polo aglutinador ou a direção para orientar insatisfação social que se expressara por diversas maneiras.
2014
Menos expressivo nas ruas que o ano anterior, com a Copa do Mundo aguçando o costumeiro
entusiasmo patriótico ainda mais que o normal em razão da realização do evento em solo brasileiro, esse
ano teve como a questão grande e central o calendário das eleições nacionais. O Congresso já estava em
conflito aberto e cada vez mais intenso com o Governo Dilma, que via sua base distanciar e mesmo rebelar-
se, utilizando-se, para tanto, dos crescentes desgaste e impopularidade da Presidente.
Aproveitando-se do mau momento do Governo, de sua incapacidade de dar qualquer resposta aos
problemas que emergiram em 2013 e do desgaste causado pelas promessas que não se efetivaram, a
oposição, consolidando sua maioria no Congresso, apostou suas fichas nas eleições gerais crendo na
possibilidade de alcançarem a presidência e no revés da base governista no pleito aos Parlamentos Nacional
e Estadual e nos Governos dos Estados.
A disputa eleitoral foi verdadeiramente agressiva, com os dois lados não medindo esforços para
minar ao outro, ampliando e consolidando, assim, a polarização no país. Sagrando-se reeleita com estreita
margem de votos, a chapa Dilma-Temer se apoiara, em parte, no espírito de 2013 para sinalizar uma agenda
mais popular que atenderia a esse processo e à insatisfação que acompanhava o esgotamento do ciclo de
crescimento econômico da década precedente.
7
Mas a disputa não acabou com o fim da eleição e o ano seguinte seria o seu terceiro turno, com os
derrotados decidindo ir às últimas consequências contra o Governo reeleito.
2015
Vamos nos deter um pouco mais nesse ano porque foi muito decisivo para a virada política que
experimentamos e depois dele tudo só piorou exponencialmente. Nesse turbulento ano, tivemos a explosão
de três graves crises: uma de cunho político, outra de viés econômico e uma ambiental. Na política, as
maiorias populares tomaram um golpe e teve início o Golpe Parlamentar do ano seguinte, a economia soou
o alarme e assistimos ao maior desastre socioambiental da história.
A despeito do discurso nas eleições e das esperanças despertadas nas classes populares quanto a um
possível enfrentamento ao crescente conservadorismo, à retirada de direitos e sobre uma freada no arrocho
econômico crescente, o Governo Dilma monta uma equipe governamental ligada fortemente ao Mercado,
amplia suas concessões aos setores conservadores e hegemônicos da política e da economia, e apresenta
uma agenda de reformas apelidada de Agenda Brasil3. Esse pacote de retrocessos e ajuste fiscal, construído
com parlamentares como Renan Calheiros e Romero Jucá, atacava duramente os direitos sociais,
trabalhistas, ambientais, enfraquecia o setor público em detrimento do privado e desequilibrava ainda mais
a economia em favor do grande empresariado e setor financeiro. Era uma tentativa de amenizar o clima no
Congresso e isolar o setor de oposição mais radical encabeçado por Eduardo Cunha, que ganhara a
presidência da Câmara lançando candidatura própria contra o Governo4. Tal plano econômico de governo
foi um duro golpe desferido contra as classes subalternas.
Entretanto, a oposição não deu sinais de enfraquecimento e com essas medidas o Governo minou
suas bases nas classes populares e média, já hostis, e queimou o que lhe restava de capital político. O clima
não melhorou no Congresso, onde a oposição explorou as contradições do Governo e insuflou a população
contra ele; enquanto a economia só piorava e despertava grandes desconfianças na população, que se sentia
traída e apostando que ia arcar com as consequências, e no Mercado, que especulava se o Governo ia ser
capaz de adotar as medidas impopulares que tanto esperara em seu benefício. Nesse cenário, Eduardo
Cunha usou todas as armas de que dispunha para organizar o Parlamento contra o Governo e fez da Câmara
um Poder rebelde, de enfrentamento aberto, atraindo cada vez mais aliados para sua política. Até que, por
fim, abriu o processo de Impeachment, que viria a ser, no ano seguinte, o Golpe Parlamentar.
Na economia, o Brasil fechava o ano com a maior inflação desde 2002, 10,71%5, entrara em
recessão técnica no 2º trimestre6, o desemprego crescera em relação aos três anos anteriores7 e, para
completar, as contas do Governo tiveram o pior resultado em 19 anos, enviando-se ao Congresso um
orçamento deficitário em mais de R$ 50 bilhões 8 , e com a menor arrecadação desde 2010 9 . A
impopularidade do Governo chegou ao seu ápice em Agosto/2015, com reprovação de 71%, superando o
ex-Presidente Fernando Collor (1991/92) às vésperas de seu Impeachment10. Por seu turno, as investigações
sobre a corrupção nas empresas estatais, operações Lava-Jato, Zelotes e Catilinárias pautaram o debate
político e o imaginário nacional, gerando enorme desgaste ao Governo. O ano terminou com pública
desavença entre o Vice-Presidente, Michel Temer, e o Planalto, de quem se afastara para assumir a dianteira
dos setores pró Impeachment.
3 Pacote de 43 medidas legislativas, divididas em 4 grandes eixos, elaboradas pelo Governo de então e o ex-Presidente do Senado, Renan
Calheiros. São os eixos: Melhoria do ambiente de negócios e infraestrutura; Equilíbrio Fiscal; Proteção Social; Reforma administrativa e do
Estado. (Senado Federal, 12/08/2015). Disponível em: http://goo.gl/FwJhkY. 4 Eduardo Cunha consolidou uma grande base de apoio e venceu a disputa com 267 votos contra 136 votos do candidato do Governo. 5 Agência Brasil – EBC (18/12/2015). Disponível em: http://goo.gl/qbfaWi. 6 Valor Econômico (19/08/2015). Disponível em: http://goo.gl/7arfbg. 7 Agência Brasil – EBC (30/12/2015). Disponível em: http://goo.gl/HfJ0Cy. 8 G1 Economia (22/12/2015). Disponível em: http://goo.gl/iyPThu. 9 Folha de SP (21/01/2016). http://goo.gl/5yicVg. 10 Folha de SP (08/06/2015). http://goo.gl/7yWxCP.
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O 1° semestre fora marcado por grandes manifestações, que diminuíram no 2° semestre11, levando
centenas de milhares de pessoas às ruas. Fato inédito, as maiores eram mobilizações de perfil conservador
e reacionário, que pressionavam pelo Impeachment da Presidente Dilma e, assim, davam suporte popular à
oposição ao Governo e impulsionam-na para, no 2° semestre, tentar cassar o mandato presidencial. Houve
também manifestações em apoio ao Governo ou contra o Impeachment nos meses de Abril, Agosto e
Dezembro, mas em número bem inferior.
A temática ambiental também teve seus grandes destaques negativos naquele ano. O principal, o
rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), provocou a liberação de mais de 60 milhões de
metros cúbicos de rejeitos e a formação de uma onda de lama que por onde passou devastou tudo em seu
caminho, contabilizando 17 mortos, deixaram cicatrizes profundas, além da impunidade. Cresceu em 16%
a taxa de desmatamento na Amazônia, registrada de Julho de 2014 a Agosto de 201512. Ademais, com o
ano mais quente já registrado13, a crise hídrica que acompanhara a grande São Paulo desde 2014, tornados
em Santa Catarina, chuva de granizo no sertão nordestino, as contumazes enchentes nos primeiros meses
do ano, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, deslizamentos de terra, temperaturas
extremas de calor e frio, deram o tom de um ano muito difícil para o meio ambiente.
Foi sem dúvida um ano lamentável e ninguém podia esperar que pudesse piorar.
2016
Aí veio 2016 e vimos como sempre pode piorar. Com uma intensidade e velocidade vertiginosas, a
euforia gerada pelo Golpe Parlamentar, o Impeachment – diga-se orquestrado pelo Congresso em tem
recorde, mostrando claramente seu viés – deu lugar ao mais amargo sabor de derrota, engano, embuste e,
consequentemente, à desilusão e apatia.
Bastaria dizer que tudo relatado de 2015 piorou em 2016 para afirmarmos com segurança que
entramos em uma nova fase no país, sem chance de voltarmos atrás e retomarmos, da mesma forma, o que
perdemos. Pulamos de crise em crise, cada vez mais agudas.
Foi também o ano dos excepcionalismos dos poderes estatais. Todos os três Poderes, Executivo,
Legislativo e Judiciário, além do Ministério Público e da Polícia Federal entraram em atrito uns contra os
outros para favorecer os grupos em disputa pelo poder central do Estado. Todos acompanhamos as medidas
inéditas e excepcionais que foram adotadas durante a crise política. Assim, vimos também como desabou
a harmonia instável entre as diversas instituições estatais, desabando também as ideias de República e da
nossa, já parca, Democracia.
Portanto, muito ao contrário de se conseguir fechar a crise política “num grande acordo, com o
Supremo, com tudo”, a consequência foi agravá-la numa espiral de decadência autofágica na qual, para
tentar se estabilizar minimamente, o grupo que conquistou o poder teve também de se apartar
completamente da população e sequer as aparências tentaram manter. A agenda do Mercado andaria a
qualquer custo e os políticos fariam tudo ao seu alcance para salvarem-se, quaisquer fossem as
consequências.
Os sentidos do Impeachment ainda serão objeto de controvérsia por muito tempo, mas suas
consequências e principais motivações são evidentes. Não precisou nem de uma semana para tudo que fora
dito com apelos inflamados dirigidos à população ser abandonado com algumas canetadas do Ex-Vice,
agora novo Presidente, Michel Temer, e começarmos a andar para trás. O que seria o Governo dos notáveis,
escolhidos por sua expertise e distribuídos nas pastas ministeriais, foi logo montado como o Governo dos
réus. A população percebeu logo nas primeiras medidas que recebera um belíssimo Cavalo de Tróia como
presente pelo apoio de grande parcela sua ao Impeachment.
11 ZH Notícias (16/08/2015 e 13/12/2015). 15 de Março/2015: mais de 1, milhão de pessoas, em 26 Estados e DF; 12 de Abril/2015: 521 mil;
16 de Agosto/2015 610 mil. Os protestos de 13 de Dezembro/2015 foram muito abaixo dos anteriores. Disponível, respectivamente, em:
http://goo.gl/szNUvM e http://goo.gl/rchPNF. 12 Apesar do acréscimo, foi a 3ª menor taxa registrada desde 1998. Ministério do Meio Ambiente (26/11/2015). Disponível em:
http://goo.gl/nSSXRr. 13 El País (20/01/2016): “O ano passado foi o mais quente desde o começo dos registros, em 1880. A Administração Nacional Oceânica e
Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) deu a confirmação na quarta-feira com a publicação de seu resumo anual. Além disso, o
último mês de dezembro foi o mais quente dos últimos 135 anos”. Disponível em: http://goo.gl/m4XNSK.
9
2017
Nunca duvidemos: é possível piorar ainda mais. O novo Presidente, o mais impopular da nossa
história, passou a governar numa espécie de semiparlamentarismo e com isso, como observou de forma
precisa o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia: “a agenda do Congresso é a agenda do
Mercado”14.
Demonstrando enorme senso de oportunidade, aproveitando-se da situação gerada pelo
Impeachment de confusão, comoção, divisão, polarização e, logo, frustração e apatia profundos, Governo
e Congresso aceleraram na implementação de sua agenda executiva e legislativa de retrocessos criminosos,
completamente apartados da população e imunes a qualquer reação significativa por parte dessa. O
congelamento do investimento público, a reforma trabalhista, a lei de terceirização, a reforma do ensino
médio, os cortes orçamentários nas áreas sociais, a ofensiva contra a legislação e política ambiental etc.,
são apenas uma pequena enumeração de exemplos da avalanche que nos assola.
Para coroar toda essa situação, não é só que pode piorar, mas é preciso acreditar no impossível, algo
como um feitiço quase diabólico. Temer, com 3% de aprovação popular, flagrado em escutas cometendo
crimes, entre os outros em que está envolvido, com comprometimento de toda a alta cúpula do Governo e
Congresso em vários crimes – alguns já sentados no banco dos réus; após a denúncia da Procuradoria Geral
da República, o presidente consegue se safar com uma vitória significativa para o arquivamento dessa
denúncia na Câmara dos Deputados. Ninguém imaginava que após a delação da empresa JBS, a campanha
da Rede Globo e outras mídias, as mobilizações da classe trabalhadora, a sangria na sua base etc., Temer
poderia se manter no Governo.
Mas debaixo do braço de um morto-vivo como Presidente e de um horripilante Congresso as
contrarreformas e os retrocessos avançam.
É certo que a necessidade de resistir impulsionou as classes trabalhadoras a duas Greves Gerais, em
28 de Abril, uma das maiores da história, e em 30 de Junho, bem mais fraca. Mesmo assim, não foram
capazes de frear a escalada de retirada de direitos e a população ainda assiste atônita ao espetáculo mais
grotesco de suas vidas e a algumas das páginas mais trágicas e tristes da nossa história.
PARTE II
2. Análise da Entidade: Estrutura e Representatividade
A questão mais fundamental a ser colocada é: a Ascema Nacional é de fato uma entidade nacional?
Nossa opinião é que não, apesar de jurídica e formalmente sê-la. A entidade é bem sucedida em
discutir e encaminhar pautas nacionais ligadas à estruturação da Carreira, coisa que se faz nos Congresso e
Encontros. Mas uma entidade nacional deve representar os servidores em suas diversidades locais e sua
distribuição pelos órgãos e entidades federais da área ambiental a que se liga a Carreira (CEMA/PECMA),
além de atuar para além das questões ligadas exclusivamente à essa. Além disso, é preciso que seja apta a
enxergar, pelo menos, a realidade nacional da área ambiental e intervir nessa escala.
Nos constituímos como uma associação (nacional) de associações (locais), ou seja, em tese
deveríamos ter um caráter federativo. Na prática não é isso que ocorre e dentre as razões que contribuem
para isso podemos elencar: assimetria entre as associações locais, modelo de representação centralizado e
rígido, modelo de gestão que precisa ser aprimorado.
Identificamos a existência de um grande distanciamento da Ascema Nacional em relação às suas
bases, sejam as entidades locais, sejam os servidores de um modo geral. Acreditamos que isso seja
provocado essencialmente pelos problemas estruturais da entidade.
2.1. Assimetria entre as Entidades Locais
14 Valor Econômico (30/05/2017). Disponível em: https://goo.gl/WEG3WN.
10
Esse fator é crítico no período atual. A maioria das entidades locais tem muitas dificuldades
estruturais, problemas financeiros, passam por uma grande desmobilização e problemas de representação.
Somado a esses problemas, é muito desigual a quantidade de servidores lotados em cada unidade da
federação, assim com muito desproporcional o tamanho dessas unidades umas em relação às outras; com
isso há a tarefa difícil de, na maioria dos casos, ter um pequeno número de servidores dispersos em grandes
espaços territoriais – considerando as entidades IBAMA, ICMBio e o SFB.
Outro fator de peso é que, pelo processo de criação dos órgãos tais como se encontram e da própria
Carreira, a entidade nacional veio a ser fundada muito tardiamente e, devido ao papel que cumprira no
passado e tamanho da sua base, uma das entidades locais de Brasília, a Asibama-DF, detém a grande
maioria dos associados do país, dispersos em todos os Estados, e com isso a maior parte da arrecadação
nacional. Dessa forma, uma parte decisiva para a viabilidade das entidades, a arrecadação, é muito
concentrada em Brasília, outra coisa é que servidores, ativos e aposentados, acabam por não se organizarem
nas suas bases locais. A Asibama-DF tem em muitos casos mais associados nos Estados que as próprias
entidades locais. Essa assimetria e duplicidade geram grandes problemas de mobilização e representação.
2.2. Estrutura de Diretoria
A diretoria é eleita para um mandato de 3 (três) anos e dividida, por um lado, em funções e, por
outro, em regiões. Como funções temos: Presidente e Vice, Secretaria Executiva, Financeiro, Aposentados
e Pensionistas, Jurídico e Comunicação. A outra parte é uma diretoria para cada uma das regiões do país.
Essa estrutura é muito rígida, verticalizada, pouco representativa, dispendiosa, personalista, pouco
operacional e, paradoxalmente, é grande e mesmo assim insuficiente para as atribuições.
2.3. Presidencialismo
O presidencialismo normalmente é correlato do personalismo pelo próprio funcionamento de nossa
entidade. É possível que, na composição de hoje da Carreira, entre os ativos qualquer presidente seja uma
pessoa desconhecida para a maioria dos servidores. Nenhum dos nossos fóruns nacionais também permite
que uma única pessoa seja representativa o suficiente e ganhe a confiança da maioria ou pelo menos de
parte significativa dos servidores. Daí a tradição em modo perpétuo de se costurar um acordo entre poucas
pessoas para indicar a presidência, o que contribui também para o personalismo, e sequer essa escolha é
feita, na prática, pelo Congresso da entidade, na verdade esse serve apenas para referendar uma escolha já
dada. Com o baixo índice de mobilização que temos, há normalmente apenas um revezamento já quase pré-
determinado de quem deve ocupar a função, assim, sempre o mesmo grupo terá condições de escolher o (a)
presidente. Trataremos disso mais à frente colocando outros complicadores.
2.4. Funções Executivas
A Ascema Nacional não tem estrutura e recursos para desempenhar aquelas funções da Diretoria
Executiva listadas acima com esmero. Contamos com uma pequena sede, uma única funcionária, temos um
contrato com um escritório de advocacia e não muitos recursos financeiros.
As atribuições de cada diretoria são muito trabalhosas para serem executadas por apenas uma
pessoa. Outra coisa seria se tivéssemos mais estrutura e recursos e cada diretoria pudesse contar com
equipes ou contratos para realizar suas necessidades. É muita sobrecarga para as pessoas que ocupam as
diretorias, pois trabalharam normalmente, têm suas obrigações e atividades pessoais e familiares, e ainda
dedicam boa parte do seu tempo livre para uma enormidade de questões ligadas às suas atribuições enquanto
diretores.
Surge outro problema pelo tempo extenso de gestão, 3 anos. Sempre ocorrerão desligamentos de
diretores por diversos motivos: saúde, assunção de cargos, desistência, ausência habitual etc. Se já é
complicada a vida com a diretoria plenamente operante, com a saída de diretores vai havendo ou a paralisia
da entidade, ou uma completa sobrecarga dos diretores remanescentes.
11
2.5. Diretorias Regionais
Enquanto funções práticas ligadas ao que seriam suas atribuições, esse modo de diretorias regionais
é uma coisa figurativa, ou seja, inviável. As pessoas que ocupam essas diretorias são extremamente
relevantes para o funcionamento da entidade, entretanto pela própria imensidão territorial brasileira, a
dispersão de unidades dos órgãos ambientais, a distribuição de servidores em diferentes órgãos que tem
suas especificidades e, não menos importante, as já citadas debilidades estruturais da Ascema Nacional,
cumprir um papel regional de relevância é impossível e o máximo esforço resulta em mínimos resultados.
Sendo assim, essa forma de capilaridade da Diretoria Executiva para representar regionalmente os
servidores passa a ser uma ilusão. Nem sequer é necessário, no Estatuto atual, serem os diretores regionais
lotados nas regiões que deveriam representar.
2.6. Número de Diretores
Pelo Estatuto, a chapa que concorre à Diretoria Executiva deve obrigatoriamente preencher todos
os cargos de titulares e suplentes, no total de 19, sendo 12 titulares e 7 suplentes. Adicionando na conta os
6 membros do Conselho Fiscal e os 5 membros da Comissão Organizadora da Eleição, que não podem
participar de chapa, temos obrigatoriamente 30 delegados no Congresso da Ascema Nacional necessários
para viabilizar o processo eleitoral. Pela experiência do número de participantes nos Congressos, fora casos
excepcionais, é um número irreal, a conta não fecha, inviabilizando, assim, qualquer disputa ou alternativas,
sejam entre chapas, sejam de programas e propostas para a entidade nacional. O VII Congresso, em 2014,
por exemplo, contou com 64 delegados, implicando quase metade dele ser direcionado para fazer a eleição
e quase 1/3 dos delegados para constituir a chapa para a Diretoria Executiva.
A prática é uma composição de “chapão”, catando quem se disponha a participar para, normalmente,
apenas completar o número necessário, o que é o mesmo de dizer que existe um núcleo central da Diretoria
Executiva e os que completam a tabela. Isso gera muito formalismo e muitas vezes a inoperância de parte
da diretoria e de suas atribuições, concentrando poder efetivo em bem poucas mãos.
Sinteticamente queremos dizer que as eleições tendem a ser formais, fora, uma vez mais, casos
excepcionais, e servem para reproduzir um mesmo grupo no núcleo da Direção Executiva.
2.7. Representação pelos Órgãos Ambientais
Apesar da entidade ser recente, na década de existência da Ascema Nacional muita coisa mudou na
formatação dos órgãos e entidades ambientais federais e no perfil dos servidores. Não são necessárias
muitas explicações para afirmar que cada órgão ou entidade tem muitas especificidades, implicando
também em formas diferentes na distribuição e organização dos servidores; acrescente-se o fato das
gerações de servidores mais recentes terem um modo de pensar e se sentirem representados bem diferentes
dos modos tradicionais.
A forma de organização da Ascema Nacional não reflete em nada a necessidade de representação
dos servidores dos órgãos e entidades. Enxergar isso é de suma importância tendo em vista que cada qual
tem dinâmica própria, problemas específicos e os servidores com demandas particulares.
Há muita dificuldade também por parte das entidades locais em se adequarem a um modelo de
organização e representação que contemple essa distribuição nos órgãos e a dispersão territorial.
2.8. Aposentados
Fora ações judiciais, o fato é que não se desenvolvem políticas para os aposentados. E no aspecto
jurídico, pela própria história de formação e estruturação das entidades, a Asibama-DF concentra a maior
parte das demandas judiciais dos aposentados.
Não nos parece nada suficiente ter uma Diretoria com uma pessoa responsável por toda a política
para aposentados, ficando esses, por causa disso, fora do radar, em que pese a quantidade de problemas que
afligem o universo de servidores nessa condição.
12
2.9. Fóruns Deliberativos
Congressos e Encontros são sem dúvida espaços importantíssimos. É preciso, no entanto,
problematizar se correspondem às necessidades de organizar e direcionar as ações da entidade, se garantem
discussões aprofundadas que consigam coligir as diferentes visões que se expressam nas entidades locais e
entre os servidores em geral e dar-lhes um encaminhamento adequado, se são espaços construídos
democraticamente e se os delegados locais representam a visão da maioria de sua base, o que só poderia
ser garantido com amplas e democráticas discussões prévias e a participação efetiva.
Se observamos o desinteresse, a baixa mobilização e participação de servidores nas entidades locais
e a assimetria entre essas, necessariamente chegaremos a uma primeira conclusão de que esses fóruns não
representam as visões do universo dos servidores. Se é fato que a estrutura da Ascema Nacional opera com
muita dificuldade, as coisas não chegam de forma adequada nas bases e não há nacionalmente interações
maiores entre os servidores fora desses espaços, somos levados a uma segunda conclusão, de que as
discussões desses espaços não são profundas o suficiente e se constroem como retalhos que vêm de cada
localidade e órgão, considerando como agravante a desigualdade de poder e participação das entidades
locais.
É comum a aprovação de uma extensa pauta que, por isso mesmo, ser torna inaplicável ou
inexequível, o que nos leva a frisar: uma extensa pauta meramente formal ao invés de poucas diretrizes
mais gerais e claras, que reflitam discussões aprofundadas e qualificadas, e permitam às entidades nacional
e locais agirem em harmonia, unindo e potencializando seus esforços.
Sendo assim, pensamos que esses fóruns têm pouca discussão aprofundada, pouca clareza política,
impera muito formalismo e não se consegue encaminhar diretrizes corretas e claras para atuação da
Diretoria Executiva e das entidades locais no período de intervalo entre aqueles eventos, levando-nos a
considerar que se acaba por deixar a Diretoria Executiva por contra própria e, dependendo de quem esteja
à sua frente, se apropriar da entidade, no mau sentido do termo.
Como fóruns nacionais, são fracos seus papéis enquanto espaços que sirvam para o fortalecimento
da construção coletiva e para solidificar os laços, interações e unificação de esforços a partir de estratégias
claras para as lutas comuns, devido justamente aos problemas elencados nesse e nos itens acima.
2.10. Relação da Ascema Nacional com as Entidades Locais e os Servidores em Geral
Percebemos um claro distanciamento entre a entidade nacional e as locais devido aos problemas
estruturais de ambas, mas chama atenção também muitas vezes a baixa compreensão por parte das entidades
locais sobre o papel da entidade nacional e a relação entre elas; há casos em que se pretende da entidade
nacional substituir o papel da entidade local nas suas questões e há casos em que a entidade local quer
substituir a entidade nacional.
Para o universo dos servidores, fora os que se engajam nas entidades locais ou tem tradição de
organização política, a Ascema Nacional é uma grande abstração, não se sabe como funciona, pra que serve,
a quem serve, qual a diferença e a relação com as entidades locais etc. Disso resulta um baixo interesse em
participar dos espaços, uma visão de desnecessidade de uma entidade nacional, a falta de compromisso com
as deliberações dos fóruns nacionais e, não menos importante, garante o monopólio de um pequeno grupo
sobre a entidade nacional e as questões da Carreira.
Regra geral o senso comum é que a Ascema Nacional serve para apresentar propostas da Carreira
ao Governo e entrar com ações judiciais. Infelizmente, temos que confirmar que essa visão não esteve muito
longe da realidade, partindo do ponto de vista do que realmente chega aos servidores mediante o que é
encaminhado pelos fóruns da entidade.
2.11. Modelo de Gestão
Modelo de gestão é uma noção ligada às formas de representação e operação, se para atender às
demandas e dinâmica do coletivo heterogêneo que é representado existem formas organizativas e espaços
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de discussão com a possibilidade de se movimentarem e agirem com a flexibilidade necessária e, além
disso, despertarem confiança de que o propósito é coletivo e a construção é plural.
Nosso modelo de gestão é rígido, centralizado, formalista, pouco representativo e, por isso, pouco
democrático. A Ascema Nacional se espelha em um modelo sindical tradicional e esse, se levarmos a sério
a crise desse modo de representação, não poderia deixar de manifestar seus sintomas na nossa entidade
também. As entidades em geral foram criadas a partir desse modelo, não é uma questão apenas da Ascema
Nacional. Como entidade, ela é o resultado do processo de lutas, formas de organização e pensamento do
fim do século passado, mesmo que tenha sido criada em momento posterior. Houve entre esse período e o
atual um vazio, pois de fato não encontramos com facilidade outros modelos. Assim, se por um lado o
modelo que sobreviveu é o que temos, por outro esse modelo não consegue mais alcançar o status de
representatividade de outrora e não é mais a forma em que a maioria dos servidores egressos na Carreira
desde a criação da entidade nacional se sentem representados.
A entidade ser sempre conduzida pelos mesmos grupos é tanto uma causa como uma consequência
desse modelo, num ciclo que se retroalimenta. A grande questão sempre posta desse processo vicioso é que
se procura manter a máquina girando do mesmo modo, a partir dos mesmos personagens, ainda que haja
mudanças formais vez ou outra.
Não é também de menor importância, haja vista os problemas já elencados de grandeza territorial
nacional, dispersão dos servidores nessa extensão, sua distribuição em diferentes órgãos e entidades, as
desigualdades de condições de cada associação local etc., problematizar o nosso modelo representativo que
se baseia em critérios numérico – quantos associados cada entidade tem ou delegados que podem eleger, e
econômico – quanto de recurso cada entidade dispõe. Dessa equação cada qual tem seu quinhão de
representação e poder, ou seja, é uma estrutura assimétrica que favorece e perpetua esse tipo de
desigualdade. Não é à toa que ocorra o problema já discutido de um mesmo grupo se sentir e agir como se
idêntico à entidade fosse ou a agir como detendo sua posse por direito natural.
Se a Ascema Nacional tem a pretensão de, no alcance de suas possibilidades, ser a representação
nacional de todos os servidores, sem que com isso queiramos dizer consenso entre todos, não é com esse
modelo que obterá sucesso.
Hoje, as noções de pertencimento a uma coletividade não dependem apenas de uma mesma posição
na sociedade ou de ser da mesma Carreira, não bastam apenas as questões corporativa ou de classe. O
padrão verticalizado de direção-base tradicional que nós incorporamos não facilita, por sua vez, outros
modos de gestão para universo dos servidores da área ambiental.
Cada vez mais sentimos a crise de representação das entidades de perfil sindical, o que se escancara
nos momentos de crise social e política como o que vivemos. Numerosos fatores explicam essa crise, mas
a questão que aqui nos interessa é a nossa inviabilidade em representar a maioria dos servidores ativos, ou
ao menos alcançá-los com os debates e participação. E quantos não são os que ingressaram na carreira
desde a criação da entidade nacional, quantos nos últimos 5 anos, com perfil bastante alheio ao modelo
atual? A questão geracional é também bastante importante.
O perfil dos servidores da carreira hoje é muito diversificado e capacitado. É um potencial
muitíssimo inexplorado devido ao modo tradicional de pensar, organizar e agir da entidade nacional.
Enquanto temos uma ampla base com diversos talentos, potenciais e interesses somos uma entidade que já
foi criada tarde, com um modelo arcaico e está parada no tempo. Assim, com todas as possibilidades que
se apresentam, descontando as citadas questões estruturais, a entidade nacional representa efetivamente um
pequeno grupo, limitado pela sua pequena e própria clausura.
2.12. ‘Quem’ afinal é a Ascema Nacional?
Essa questão é de máxima importância e é preciso que os servidores discutam-na. Qual, em linhas
gerais, é a visão da entidade do seu papel na realidade? Qual acúmulo programático se tem para apresentar
para dentro e para fora do universo da área ambiental da Administração Pública Federal uma visão integrada
da sociedade, da realidade brasileira, das questões socioambientais, do serviço público, do papel do Estado
e da gestão ambiental federal; ou seja, qual a nossa plataforma mais geral, nosso programa? Existe
partidarização ou burocratização da entidade? Há rotatividade dos grupos e visões na direção da entidade?
14
A entidade representa o universo de servidores pelo país, para além das questões da estrutura e tabela
remuneratória da Carreira?
São problemas que exigem profunda reflexão e discussão, mesmo assim é possível precariamente
sugerir algumas questões sobre eles.
Como entidade, não se consolidou uma plataforma ou programa que pudesse ao mesmo tempo dar
uma cara à entidade, dialogar com os servidores da área ambiental e se posicionar perante a sociedade.
Devido ao histórico de formação e às debilidades estruturais, existe, na prática, um controle da
entidade pelos servidores que historicamente estiveram à frente da Asibama-DF e da Ascema Nacional, e
que residem em Brasília. A entidade é, na prática, Brasília e os outros, não uma Nacional. Na verdade, nem
mesmo Brasília, mas o grupo que sempre esteve à frente das entidades. Até o presente, a entidade não era
partidarizada, mas não deixou de criar a sua ‘pequena burocracia’, que controlava e busca controlar todas
as suas engrenagens e rumos. Mas devemos constatar também, lamentavelmente, que a questão partidária
começou a pesar fruto dos eventos políticos do último período e teve peso nos embates contra a diretoria
da Ascema Nacional. A gestão atual, não compondo esse grupo, pagou um alto preço para manter a
autonomia da entidade
Questionar não é o mesmo que desconsiderar o papel que cumpriu historicamente esse grupo ou
essas pessoas separadamente, seus méritos, conquistas e dedicação. No entanto, é preciso reconhecer o
outro lado de tudo isso, a concentração de poder, o controle da entidade, a tradição de escolher a direção, a
preferência da visão a partir de Brasília, o descolamento da base, enfim, a autopercepção de que são por
direito os representantes das entidades, distorcendo os limites entre os interesses desse grupo de pessoas e
das associações. Não é uma questão individual, é um processo que foi se consolidando ao longo do tempo
por diversos fatores.
PARTE III
3. Análise da Gestão 2014-2017
Estivemos à frente da Ascema Nacional na maior crise social, no amplo sentido do termo, dos
últimos 30 anos, uma das maiores da história da República; atravessamos o Impeachment da Presidente que
era sustentada pela maior organização popular que já existiu no país, somando partidos e movimentos
sociais, e uma das maiores do mundo, ela que era a substituta do maior líder popular do Brasil e uma das
maiores lideranças populares mundiais dos séculos XX e XXI; permanecemos sob a batuta de uma das
maiores humilhações que o país já passou, tendo à frente do Governo o mais impopular Presidente da nossa
história, protegido pela composição mais retrógrada, corrupta e conservadora do Congresso de que temos
notícia, que acobertou os crimes notórios cometidos pelo Presidente e ainda temos a aplicação por ambos
de planos políticos, econômicos, sociais, ambientais etc., que nos catapultam ao passado, comprometendo
até pactos civilizatórios mínimos; caminhamos sobre os escombros das formas populares de organização e
pensamento tradicionais, estonteadas e paralisadas diante da profundidade do retrocesso social em curso;
vimos marchar pelas ruas do país multidões de milhões de brasileiros desfilando com indefensáveis
bandeiras e destilando os mais profundos preconceitos; travamos nossas lutas num cenário de arrocho fiscal
do Estado e retração da economia nacional, enfraquecimento ou desmonte, dependendo do caso, dos
direitos, legislação, política e órgãos ambientais, bem como a reestruturação desses últimos; assistimos ao
maior desastre ambiental da nossa história em Mariana-MG. Além de tudo isso pra fora, os servidores
ambientais federais, refletindo o mesmo processo da sociedade, estavam divididos pelos acontecimentos
políticos; encontravam-se apáticos, descrentes e desengajados; houve disputas e sabotagem internas à
gestão; e disputas com o grupo que historicamente dirige a nossa maior entidade local do país e com a
chantagem permanente de ruptura; além do movimento separatista em escala nacional de servidores dos
cargos de nível intermediário.
No meio disso, fizemos nossa gestão, sem muita estrutura ou recursos, e com o passar do tempo
faltando pessoal. Perdemos alguns diretores, pelo caminho outros passaram por problemas de saúde, uns
ganharam seu primeiro filho, houve quem tivesse grandes problemas familiares ou pessoais, estávamos
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espalhados pelas regiões do país e na maior parte do tempo pudemos contar só com nossas precárias forças
e dedicação.
Nesse adverso percurso enfrentamos o desafio e não sucumbimos. Isso, por si, já consideramos um
feito, mas além de tudo buscamos sempre avançar e, onde foi possível, conseguimos. Não sabemos se
fomos até onde poderíamos, nem se fizemos da melhor forma, mas acreditamos que nos saímos bem. De
qualquer forma, queremos valorizar nosso trabalho. Fazemos questão disso porque o esforço e o desgaste
foram imensos. Resultados de grande monta exigem ações de igual magnitude e essas não estiveram do
nosso lado ou ao nosso alcance.
Nos posicionamos politicamente sem nunca partidarizar a entidade, nunca escondemos nossas
posições quando seria o mais fácil mas também o menos sincero a se fazer e estivemos sempre dispostos a
todos os debates francos e abertos de nossas posições e a confrontá-las com outras.
Reivindicar o trabalho não significa exaltá-lo para além do que representou. Foi um trabalho débil
na maior parte dos aspectos e nos importa discutir por que. Passemos então em revista.
3.1. Primórdios: VII Congresso – 2014 e Composição da Chapa para a Diretoria Executiva
Foi um Congresso fraco e deslocado da realidade política, social e econômica do país. Não houve
ali nenhum debate ou encaminhamentos que pelo menos colocassem como problema, de forma clara, os
desafios e dificuldades que se avizinhavam, ainda mais depois dos episódios de 2013. Realizou-se
discussões de importância secundária e, além da eleição da nova diretoria, definiu-se como sua questão
central uma Proposta de Reestruturação Geral da Carreira, na contramão de todos os indícios do cenário
árido adiante, ainda mais para esse tipo de proposta, e sem refletir com seriedade sobre a ânimo e disposição
para a mobilização que reinavam entre os servidores para se engajarem em lutas de fôlego, principalmente
depois da derrotada greve de 2010 e do reajuste implementado entre 2013-2015.
Nesse contexto de ausência de debates e diretrizes fundamentais, formou-se também uma Chapa
sem muitas discussões, propostas, programa ou diretrizes, o famoso "chapão".
3.2. Composição e Desfecho da Chapa
Tradicionalmente a Chapa para a Ascema Nacional já parte de um acordo prévio do grupo de
servidores de Brasília que dirigiram historicamente, ou estiveram atuando em conjunto com eles, a Ascema
Nacional e a Asibama-DF, e são esses que definem quem assume a maioria ou as mais importantes funções
da Diretoria Executiva, inclusive a presidência; depois vai se costurando o acordo para completar a chapa;
e assim foi feito.
Tal composição, sem acordo programático e de propostas, nem da parte do próprio grupo, nem por
deliberações do VII Congresso, e baseada na conveniência do grupo Brasília, vulnerabilizou a Gestão,
ocasionando diversos problemas e algumas rupturas por uma disputa contra a maioria da Diretoria.
Começamos em uma chapa com 19 membros e terminamos com 12. Das 7 baixas, 2 nunca atuaram,
2 se afastaram para assumir cargos em governos locais, 3 romperam por divergência com a maioria.
Com a estrutura atual de que dispõe a entidade nacional e o modelo de gestão, as baixas, além da
disputa interna, prejudicaram enormemente a condução do trabalho pela Diretoria. Perdemos o Presidente,
a Secretária Executiva, o Diretor de Comunicação, todos de Brasília, e o Diretor Titular do Sudeste, que
não teve a função assumida pelo Suplente, e não contamos com a atuação dos Diretores Regionais do Norte.
O Presidente, de Brasília, eleito no VII Congresso, mal tomou posse e já se afastou durante todo o
tempo de Gestão para primeiro disputar as eleições nacionais de 2014 e depois para assumir cargo no
Governo do Distrito Federal. Esse fato reconfigurou drasticamente a Gestão, passando então o Vice-
Presidente, de Rondônia, a cumprir todo o mandato.
A Secretária Executiva, que assumira a função após a saída do Presidente, e o Diretor de
Comunicação, ambos de Brasília, romperam com a Diretoria por divergências políticas com a maioria
motivadas, entre outras coisas, por suas opções político-partidárias.
O Diretor Titular da Região Sudeste, de São Paulo, se afastou por divergências quanto à forma de
condução dos trabalhos pela diretoria.
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Os dois Diretores Regionais do Norte não atuaram na Gestão, 1 dos quais se afastou para assumir
cargo no governo local, no Amapá, e o outro, do Amazonas, não compareceu à gestão em nenhum
momento.
O Suplente da Região Sudeste, do Espírito Santo, nunca compareceu à Gestão.
3.3. Modelo de Gestão da Diretoria Executiva
A diretoria assumiu uma forma de gestão colegiada apostando que seria mais adequado dividir as
tarefas sem que fossem determinadas exatamente como tal como consta do desenho de cargos do Estatuto.
Podemos dizer que, com isso, dois tabus foram quebrados e que esse modelo se mostrou viável.
Primeiro foi demonstrado na prática que a Ascema Nacional não precisa necessariamente ser
dirigida ou encabeçada por alguém de Brasília, nem que as pessoas que ali residem precisam compor a
maioria da Diretoria; com o Presidente licenciado e a ruptura de outros integrantes que eram da cidade, o
trabalho de Diretoria continuou em pleno funcionamento; acreditamos até que a entidade conseguiu refletir
melhor uma visão nacional com um Presidente de outro Estado que não do DF e a maioria da direção sendo
distribuída pelos outros cantos do país. Nada disso quer dizer que o problema é ter uma composição com
maioria de Brasília ou algo relacionado aos servidores da cidade, apenas que não precisa ser um direito
natural de grupos de Brasília determinar os rumos da entidade nacional.
Segundo, que existem modelos alternativos ao presidencialismo ou aos modos de gestão
verticalizados e centralizados. Essa é uma importante constatação para poder iniciarmos um debate na
Ascema Nacional sobre qual modelo é mais democrático e representativo para os servidores de todo o país
distribuídos entre os órgãos e entidades da área ambiental federal.
A tradição de um grupo de Brasília sempre indicar a cabeça das Gestões e ocupar a maioria das
funções centrais somada ao modelo centralizador e verticalizado estão na raiz de muitos dos problemas de
representação da entidade e das suas crises.
No caso da Diretoria atual, em que esse modelo não vigorou, ‘o grupo’ de Brasília mostrou que não
está disposto a nenhuma outra forma de gerir a Ascema Nacional, travando uma luta até a inconsequência
e a incoerência, como foi visto no VIII Congresso da Ascema Nacional (algo que será tratado em tópico
mais abaixo). De nossa parte, entendemos que, dentro de espaços de organização heterogêneos, disputas
que chegam às últimas consequências são válidas, desde que francas, abertas e na base, mas não as que
chegam à inconsequência.
O Colegiado ser um modelo viável não significa que não tenha muitos problemas. Até o final da
gestão passamos por muitas dificuldades, pois não é o modelo formal da Ascema Nacional, então tivemos
que atuar sem ter consolidado um padrão ou estruturado essa forma de gestão. As nossas formas de
comunicação foram muito ruins e causaram enormes transtornos; esse ponto foi crítico em muitos
momentos, porque, como os diretores encontram-se espalhados pelo país e pelos órgãos, não soubemos
usar bem as ferramentas e meios de comunicação modernas. Um outro ponto crítico foi também apontar
um modelo de deliberação devido ao informalismo com que trabalhamos no sistema colegiado; que também
levava a outros dois problemas, o tempo para decidir e executar alguma deliberação e a forma precária com
que distribuíamos as tarefas, ocasionando, por um lado, insatisfação de quem se sentia inutilizado ou alheio
às decisões e, por outro, a sobrecarga de quem ficava encarregado de muitas obrigações concomitantes.
3.4. Outras Atuações Junto à Gestão
Buscamos aplicar o funcionamento colegiado para além da Diretoria Executiva, que se mostrou um
êxito a despeito dos problemas que paralisaram ou encerraram determinadas parcerias. Tal
comprometimento deveu-se não pelo modelo adotado, mas pelos percalços da crise política do país, que
entrou e repercutiu nas relações entre a Diretoria e colaboradores.
Além dos Grupos de Trabalho deliberados no VII Congresso e Encontro Nacional de 201615, a
Diretoria Executiva abriu espaços para servidores, diretores ou não de entidades locais, participarem ou
15 Respectivamente, GT para a Proposta de Reestruturação da Carreira e GT Nacional para os Cargos de Técnicos e Agentes Ambientais e
Administrativos
17
coordenarem: Fóruns e Grupos de Trabalho na Mesa Setorial de Negociação Permanente; reuniões com os
órgãos ambientais federais durante o período de negociação da Proposta da Carreira; reuniões a respeito de
pontos diversos ligados aos servidores e às entidades locais; e para contribuírem com documentos escritos
ou encaminhados pela Ascema Nacional e organizarem eventos ou participarem de atividades
representando a entidade nacional.
Foi um modelo que se mostrou promissor e flexível o suficiente para atuar da melhor forma possível
nos espaços aproveitando a colaboração de servidores muito qualificados para tanto. Se não prosperou o
modelo foi por questões ligadas ao complicado cenário político nacional, como será discutido mais abaixo.
3.5. Principais Eventos e Atividades Organizados pela Ascema Nacional
3.5.1. Encontros Nacionais 2015
Evento muito exitoso, contando com profícuas e amplas discussões em quase todos os Estados,
atingindo um grande e representativo quórum, quase 100 delegados eleitos pelo país, com a participação
de quase 90 desses e de outros acompanharam as discussões. A metodologia permitiu aos grupos debaterem
e encaminharem as propostas ao plenário sem comprometimento do cronograma previsto.
O GT para Proposta de Reestruturação da Carreira, criado no VII Congresso – 2014, apresentou
uma proposta ampla, densa e bem fundamentada, tocando nos principais pontos quanto à estrutura da
Carreira e apresentou uma proposta de tabela remuneratória propondo um reajuste que cobrisse a defasagem
acumulada ao longo dos anos e reduzisse a disparidade entre os cargos dos 3 níveis de ingresso: ensinos
fundamental, médio e superior.
O grande problema foi que a Proposta, apesar de “estruturada, robusta e coerente” – palavras do
então Secretário de Relações de Trabalho do Min. do Planejamento, Sérgio Mendonça, entendemos que
buscava padrões remuneratórios completamente irreais para a situação do país e sem que tivéssemos algum
poder de grande mobilização para pressionar no período de negociação que logo a seguir se abriria com o
Governo; por sua vez, os numerosos pontos de Reestruturação, com impacto financeiro ou não, eram
demasiados para avançarmos com eles em conjunto e não tínhamos prioridades de uns sobre os outros.
Assim, construímos uma proposta robusta e necessária, mas improvável de avançar na maioria dos
pontos naquele momento.
2016
Esse Encontro foi ruim e pouco produtivo. Ele ocorreu no momento mais agudo da crise política
nacional, logo após o processo de Impeachment da Presidente Dilma Rousseff, quando o Brasil, sob enorme
e apaixonada polarização, estava totalmente dividido e do mesmo modo estavam os servidores da Carreira.
Não contou com boa organização, planejamento e discussões prévias, e nem foi muito melhor
durante o evento, possivelmente ocorrendo em um momento inapropriado e, como resultado, frustrou boa
parte de seus participantes. A despeito disso, fazemos questão de destacar que a Mesa de Discussão Política
e Análise de Conjuntura foi uma das melhores que já experienciamos nos nossos fóruns, pois abordou
criticamente os temas mais candentes para a Sociedade, contando com primorosas palestras de: Plínio
Arruda Sampaio Jr., que apresentou os ataques à Democracia por parte do Grande Capital; Ana Magni,
apresentando o desmantelamento da Previdência Social e do Serviço Público Federal; e Maurício Guetta,
do Instituto Socioambiental – ISA, sobre o desmantelamento do Licenciamento Ambiental e apresentou a
articulação capitaneada pelo Ministério Público Federal (4ª CCR), além do engajamento da Sociedade
Civil, contra a simplificação e precarização desse instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente.
Mas, fora esse momento, no geral as discussões foram fracas e houve uma enormidade de
encaminhamentos gerais, impossíveis de serem transformados em boas orientações e sem que pudessem
abrir linhas de ação concretas.
18
Houve no período preparatório desse Encontro uma grande pressão por parte de servidores de
Brasília, diretores e ex-diretores da Asibama-DF e Ascema Nacional, para que a Diretoria Executiva da
Ascema Nacional convocasse imediatamente o Encontro Nacional durante o calor do processo de
Impeachment, encampasse, por sua conta, uma luta política com forte viés partidário em defesa da
Presidente da República e, também, que rompesse intempestivamente com as negociação em curso com o
Governo e com a Mesa Setorial de Negociação Permanente – MSNP. Pensávamos, que se houvesse algo
que orientasse nesse sentido naquele momento, devido à gravidade e excepcionalidade do evento e da
divisão reinante entre os servidores, devia ter surgido de discussão e organização pelas bases e não em ato
unilateral da Diretoria.
Tal postura tinha 4 grandes problemas: 1) os servidores no país inteiro estavam muito divididos
entre quem era a favor e contra o Impeachment; 2) a Diretoria Executiva não poderia adotar de forma
unilateral posições contrárias às deliberações dos Fóruns Nacionais, como, por exemplo, romper com mesas
de negociação; 3) Nenhuma das entidades locais encaminhou nas suas bases uma proposta de romper com
as negociações e com a MSNP, como demonstrado no Encontro; 4) mesmo a Diretoria Executiva sendo
contra o Golpe Parlamentar16, encaminhar, por conta própria, uma linha de ação e organização nesse sentido
para as bases das entidades locais, naquele momento apenas dividiria mais ainda os servidores, sendo mais
oportuno que essa discussão da conjuntura nacional fosse feita nas bases e se encaminhasse seu resultado
no Encontro Nacional17; como dificilmente seria diferente, as discussões na base foram divididas e não foi
possível se encaminhar uma linha de ação política que unificasse a maioria dos servidores, muito menos
houve deliberação de qualquer proposta nas bases para se romper com as negociações em curso e a com a
MSNP.
A única ação aprovada a respeito da Reestruturação da CEMA/PECMA foi a criação do Grupo de
Trabalho para apresentar Proposta para os Técnicos e Agentes Ambientais e Administrativos, que foi objeto
de debate e deliberação no VIII Congresso Ordinário da Ascema Nacional.
3.5.2. Campanha Contra os Assédios
Começamos a implementação de uma linha de ação contra os assédios moral e sexual, que são rotina
nas nossas instituições. Não temos um número de casos para apontar, mas não resta dúvida que é epidêmico.
Por isso, devido à ausência de uma política estruturada pelos órgãos ambientais para prevenir, coibir e
combater as formas de assédio, essa Gestão buscou que eles assimilassem essa discussão, visando a
implementação de uma política integrada entre todos eles sobre esse tema.
Tratamos disso em diversas reuniões, mas destacamos a realização, em parceria com a Diretoria de
Planejamento – DIPLAN do IBAMA, da Palestra sobre Assédio18 e a abertura dessa questão na Mesa
Setorial de Negociação Permanente, no âmbito do Fórum de Gestão de Pessoas.
Apesar do êxito inicial da Campanha Contra os Assédios, não demos prosseguimento adequado até
a retomada do tema no início de 2017, no âmbito a MSNP. A principal causa foi a falta de pessoal e estrutura
da Ascema Nacional, para o que agravou a situação a ruptura de integrantes da MSNP por questões político-
partidárias devido ao Impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
A iniciativa para retomar a discussão visando a implementação de uma política foi acatada pela
MSNP e terá prosseguimento.
3.5.3. Licenciamento Ambiental
Licenciamento Ambiental é a bola da vez dos retrocessos. Tanto o Governo Dilma como Temer
buscaram flexibilizar o licenciamento, mas ninguém mais interessado nisso que o Congresso Nacional.
16 Ver Convocatória do Encontro/2016. Disponível em: https://goo.gl/wGyzpM 17 Idem. 18 Palestra realizada no dia 6 de julho de 2015, às 10h, no Ibama Sede. Palestrantes: Sebastião Vieira Caixeta, Procurador chefe substituto do
Ministério Público do Trabalho (MPT) no Distrito Federal; Teresa Cristina Brandão, Psicóloga Clínica, da Câmara Legislativa do Distrito
Federal, membro do Núcleo de Estudos e Ações sobre Violência no Trabalho (NEAVT); Ana Vilanova, Assistente Social, da Câmara
Legislativa do Distrito Federal, membro do Núcleo de Estudos e Ações sobre Violência no Trabalho (NEAVT). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=kO5hKFXEePo.
19
Continua a pleno vapor as discussões no Legislativo e foi um dos acordos que o Governo Temer concedeu
em troca do voto para arquivar a denúncia da Procuradoria Geral da República contra ele na Câmara dos
Deputados.
Dentro do IBAMA a pressão é muito grande também. Nos últimos anos foram muitos os
enfrentamentos entre a Direção e os servidores por diversas questões. A mais grave ameaça está sendo a
Reestruturação da Diretoria de Licenciamento – DILIC, que alterou drasticamente sua funcionalidade,
descontinuou diversas equipes e, por conseguinte, a continuidade das atividades, o que poderá ocasionar
muitos conflitos.
A Diretoria Executiva da Ascema Nacional atuou nessa questão em diversos momentos,
impulsionada em muitos deles pelas lutas travadas pelas entidades locais19, principalmente a Asibama RJ,
que sofria diversas pressões e retaliações, além da implementação do desmonte da CGPEG. Outra situação
local de crise foi em Brasília que teve como desfecho a vergonhosa e autoritária remoção de 3 servidores
da DILIC, que mesmo após atuação da Asibama DF e da Ascema Nacional não foi revertida.
Apesar da prioridade da questão e da ênfase que fora dada, não conseguimos formular uma política
nacional clara, que fosse capaz de unificar as questões dos Estados e impulsionasse mobilização e
resistência pelos servidores em geral. Em lutas pontuais e isoladas, ficou muito difícil opor resistência aos
ataques.
Seminário Nacional sobre a Lei Geral do Licenciamento Ambiental20
Uma das maiores medidas da histórica da política ambiental do país será a aprovação da Lei Geral
do Licenciamento, a qual, nesses últimos anos, esteve na iminência de ser votada por diversas vezes – o
que deve ocorrer a qualquer instante. O desastre do rompimento da Barragem de Mariana-MG, o aumento
do desmatamento e outros retrocessos ambientais podem ter contribuído para frear apenas
momentaneamente a aprovação da lei. No calor dessa discussão, o Ministério do Meio Ambiente e o
IBAMA elaboraram um Anteprojeto de Lei Geral do Licenciamento para fazer frente aos últimos pareceres
do Projeto de Lei 3729/2004, que foram elaborados para atender aos interesses especialmente dos setores
da Indústria, Agronegócio, Mineração e Energia, mas também regulamentar as atribuições Federais,
Estaduais e Municipais.
Nesse contexto, realizamos esse evento, que contou com participação de 130 pessoas presentes e
foi transmitido ao vivo na rede do IBAMA. Diversas entidades ou órgãos públicos também se fizeram
representar por dirigentes ou servidores: MPF, IBAMA, ICMBio, MMA, FUNAI, Fundação Palmares,
IPHAN, IBRAM, INEMA-BA; e participaram também as entidades civis: ISA, Asibama-RJ, Assemma,
Asibama-DF, ASCRA, Asserf, ABEMA, FONASEMA.
A mesa foi composta para discutir o Lei Geral por: Suely Araújo, Presidente do IBAMA, e Rose
Hofmann, Diretora de Licenciamento, ambas à frente do Anteprojeto e encarregadas das articulações e
negociações; João Akira Omoto, Procurador Federal dos Direitos do Cidadão Adjunto; Maurício Guetta –
Advogado do Instituto Socioambiental (ISA); Jônatas Trindade – Diretor Substituto de Licenciamento do
IBAMA. O segundo momento foi para apresentação e discussão entre os servidores ambientai, com
perspectiva de encaminhar uma proposta pela Ascema Nacional.
Apesar do sucesso do Seminário e de sua grande qualidade nos debates, não conseguimos avançar
em uma política nacional para o licenciamento. Pesou para que isso acontecesse as mudanças bruscas nas
negociações que MMA e IBAMA conduziam, a crise interna ao IBAMA com s reestruturação da DILIC,
as debilidades estruturais e de pessoal da Ascema Nacional, e não ter sido a questão debatida o suficiente
para encaminhamento em algum fórum deliberativo da entidade nacional, como o Encontro Nacional de
2016.
3.5.4. Mobilizações Nacionais
19 Para informações sobre as diversas lutas dos servidores, estudos e projetos de lei, acessar:
http://www.ascemanacional.org.br/dossielicenciamento/. 20 Vídeos disponíveis em: http://www.ascemanacional.org.br/seminariovideos/.
20
A Diretoria Executiva atuou durante toda essa gestão tendo como premissa a unidade das lutas no
serviço público e desse com os movimentos sindicais e populares. Ao longo desses 3 anos de entidade,
foram diversas convocações e participações, das quais destacamos as seguintes.
Dia Nacional de Luta pelo Meio Ambiente21
Logo que assumiu interinamente Presidência, Michel Temer e Sarney Filho, Ministro do Meio
Ambiente, começaram um processo de loteamento e apadrimamento dos cargos nos órgãos. Muitos
agraciados eram completamente alheios à área ambiental, outros inidôneos, teve Ex-Deputada cassada,
havia quem tivesse cometido crime ambiental e outros casos.
O resultado foi uma revolta generalizada entre os servidores22, pois junto com esse descalabro veio
o desmonte de política e agendas, a desestruturação dos órgãos e o enfraquecimento de sua atuação e um
desvirtuamento da atuação da política ambiental.
Com isso a Ascema Nacional convocou o Dia Nacional de Luta pelo Meio Ambiente, que propiciou
atos em muitos Estados e pressionou o Ministro e os dirigente das entidades vinculadas ao MMA.
As lutas locais dos servidores reverteram alguns processos graves, mas não alteraram o sentido geral
do desmonte e loteamento dos órgãos ambientais.
Greves Gerais e Ocupa Brasília
Para impulsionar o processo de resistência nas classes trabalhadoras, a Centrais Sindicais e
movimentos populares convocaram duas Greves Gerais, uma em 28/04/17 e outra em 30/06/17, sendo que
a primeira foi uma das maiores mobilizações já realizadas no país e contou com adesão dos servidores
ambientais na maioria dos Estados, já a outra perdeu força e foi pouco significativa a participação dos
mesmos servidores.
Entre as duas greves, em 24/05/17, os mesmos movimentos convocaram um ato unificado em
Brasília, nomeado de Ocupa Brasília, contando com expressiva mobilização e um enfrentamento de guerra
com a Polícia Militar da Capital, que chegou ao ponto de o Governo baixar o Decreto para intervenção
militar em ações de Garantia da Lei e da Ordem.
Apesar da importância dos movimentos, eles foram incapazes de frear as reformas que almejam.
3.6. Negociação da Carreira – 2015.
Mesmo tendo ocorrido um processo duro de negociação, que demorou vários meses, conseguimos
assinar um Termo de Acordo23 com o Governo em 2015, emplacamos três Avisos Ministeriais24 do MMA
dirigidos ao Ministério do Planejamento apontando pontos fundamentais da nossa proposta de
modernização e melhoria da Carreira e criamos a Mesa Setorial de Negociação Permanente.
Em relação a proposta da atualização da remuneração da CEMA e do PECMA, o acordo não
significou um avanço, logo que só foi conseguido um reajuste 10,8% divididos em duas parcelas, percentual
este que foi o mesmo para diversas carreiras do funcionalismo federal.
No entanto, temos que considerar a criação da GQ III, tanto para os Analistas, quanto para Técnicos
e Agentes; a exclusão dos artigos que somente garantiam o direito a Indenização de Campo para os
Analistas Ambientais e Técnicos Ambientais que estivessem na Amazônia Legal; e o avanço com a
incorporação da Gratificação de Desempenho para os aposentados, demanda essa que sempre fora solicitada
nos nossos fóruns.
21 Ver: http://www.ascemanacional.org.br/100816-dia-nacional-de-luta-pelo-meio-ambiente/. 22 Isso pode ser visto nas cartas e manifestos das entidades locais dos servidores ambientais, compiladas pela Ascema Nacional em:
http://www.ascemanacional.org.br/divulgcartas0908/. 23 Termo de Acordo 16/2015, disponível em: https://goo.gl/RypKaT. 24 Avisos Ministeriais-GM/MMA 113/2015, 123/2015 e 175/2016, disponíveis respectivamente em: https://goo.gl/W7Z3m3;
https://goo.gl/rG7uKh; e https://goo.gl/1drthL.
21
Neste ano já foi protocolado no Ministério do Planejamento o pedido de abertura de negociação
para Campanha Salarial de 2017, porém não há qualquer sinalização do órgão nesse sentido. O Governo
Federal, devido à Emenda Constitucional que congelou investimentos públicos por 20 anos, tem divulgado
na mídia que não dará qualquer aumento aos servidores públicos e estão na verdade ameaçando cortar
alguns benefícios e direitos.
3.7. Mesa Setorial de Negociação Permanente – MSNP
A Proposta de Reestruturação da Carreira, pela extensão e profundidade, era inviável de ser levada
a diante na maioria dos seus pontos naquela negociação de 2015. Aproveitamos essa condição para lançar
a ideia de se criar uma Mesa que fosse permanente e tivesse a participação, por um lado, dos servidores,
representados pela Ascema Nacional e CONDSEF, e, por outro, pela Administração Pública, com todos os
órgãos e entidades ambientais federais. Consideramos a sua implementação uma grande conquista para a
Carreira.
A partir da MSNP temos um espaço para tratar no mesmo compasso com MMA, IBAMA, ICMBio e
SFB as questões da Carreira e da gestão dessas instituições. Agora podemos implementar uma mesma
gestão para todos os servidores da área ambiental; harmonizar as decisões dos órgãos e entidades; e tratar
em espaços específicos, Fóruns e Grupos de Trabalhos, assuntos da Carreira e da Gestão. Isso tudo de forma
permanente.
As vicissitudes da situação política, com a derrubada de um Governo no meio do caminho, impediram
que se consolidassem mais os avanços e passos que estavam sendo dados. Houve a interrupção de
discussões na Mesa de alguns temas que já estavam na pauta devido às mudanças nas direções dos órgão e
entidades ambientais. Mesmo assim, conseguimos dar alguns passos importantes e firmar a MSNP como
um espaço privilegiado para discussão e implementação de políticas para os servidores.
Outra cena marcante da Mesa, que contribuiu para interromper a discussão de alguns temas, foi a ruptura
de servidores que compunham as equipes temáticas nos espaços que haviam sido criados. Por causa do
Impeachment e devido às suas orientações político partidárias, esses representantes exigiram que a Diretoria
Executiva da Ascema Nacional rompesse as negociações com a Mesa por conta própria. Não tendo sido
objeto de deliberação de nenhuma base local e nem encaminhado no Encontro de 2016, a Diretoria
Executiva entidade nacional se manteve nas negociações, implicando a saída de 2 servidoras de Brasília,
que compunham temas de suma importância para a Categoria, como por exemplo: a) Plano de Capacitação
e Formação Inicial na Carreira; b) Funções Comissionadas Ambientais – FCAs; e c) A Atividade de
Pesquisa do âmbito do MMA. Houve também, nesse mesmo sentido, a saída da Mesa de mais 2 ex-diretores
da Ascema Nacional, que haviam rompido com a Diretoria Executiva da Ascema Nacional, a Secretária
Executiva e o Diretor de Comunicação, que faziam parte da composição dos temas Funções Comissionadas
Ambientais e Qualidade de Vida.
Não obstante esses problemas, conseguimos avançar nos seguintes pontos:
A Mesa Setorial de Negociação Permanente, já implementada, está em processo de estruturação: o
regimento interno já foi discutido e nesse momento passa por avaliação da CONJUR para que possa
ser assinado pelo Ministro do Meio Ambiente;
Programa de Qualidade de Vida do Ministério do Meio Ambiente e suas Vinculadas, que já está em
fase de análise pela CONJUR para ser posteriormente publicado;
Comitê Interinstitucional de Qualidade de Vida com a participação de representantes do MMA e
Vinculadas para ações conjuntas dos órgãos.
Publicação do primeiro produto, fruto do Fórum de Gestão de Pessoas: Portaria No 21, de 21 de
Janeiro de 2016, que estabelece critérios relativos a redistribuição com cargo efetivo vago, no
âmbito do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA e do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio;
Reuniões das CGGPs para tomada de decisões que afetetavam os servidores da área ambiental;
O Marco Temporal da Progressão, que foi objeto de reuniões do MMA e suas vinculadas de maneira
a chegarem a um consenso de qual instrumento legal iriam utilizar para ser o marco temporal quanto
ao retroativo devido aos servidores que fizerem jus.
22
Regulamentação da GQIII;
Apresentação de proposta quanto a ação das horas atividades físicas e culturais;
Início das discussões para uma política de combate ao assédios moral e sexual.
3.8. Crise com os Técnicos Ambientais e Administrativos
Marcou a passagem dessa Diretoria uma enorme crise com os servidores ocupantes desses cargos.
Houve um grande movimento no ano de 2015 organizando-os e discutindo as questões a respeito dos
problemas prementes que sentiam na pele. Isso levou, por conta de muita desinformação, a uma perspectiva
de enfrentamento com a Ascema Nacional e a iminência de um processo para a criação de uma associação
para os Técnicos.
Apesar dessa perspectiva que foi adotada país afora, nossa avaliação era que, fora a leitura
equivocada dos interessados nesse processo, o movimento expressava uma necessidade real de dar mais
atenção aos Técnicos e às iniquidades entre os cargos da Carreira. Ou seja, entendemos que o movimento
expressava uma demanda positiva e necessária.
Dessa forma, longe de pretender enfrentar o movimento dos Técnicos, para nós o essencial era
incorporar suas demandas justas e dar mais atenção às suas necessidades.
Encaminhamos assim, no Encontro de 2016, a criação de um Grupo de Trabalho Nacional para
construir uma Proposta25 para os Cargos de Técnicos e Agentes Ambientais e Administrativos. O GT
concluiu com êxito seus trabalhos e encaminhou às bases para discutir e deliberar sobre o relatório final
elaborado pelo grupo a ser submetido ao VIII Congresso da Ascema Nacional como único ponto sobre
reestruturação da Carreira.
3.9. Relação entre Ascema Nacional e Asibama-DF
As crises políticas, a estrutura das entidades, suas relações históricas e a discordância entre as visões
das direções atuais dessas entidades – além de antigos diretores (as), a respeito tanto do papel das entidades,
como da postura política frente a crise que se iniciou em 2015, levaram a atritos constantes entre a Asibama-
DF e Ascema Nacional.
Até essa gestão nunca houve diferença clara entra as duas entidades. Na forma como foi criada,
estruturada e administrada, a Ascema Nacional nunca exerceu plenamente e de forma autônoma seu papel
de entidade nacional. Os papéis e personagens da Ascema Nacional e Asibama-DF sempre se misturaram.
Como consequência da formação histórica de criação da Asibama-DF e da carreira, esta entidade
agiu por muito tempo como uma entidade de caráter nacional. Porém, em 2006, a criação da Ascema
Nacional implicaria na imposição de limites formais para o caráter nacional exercido pela Asibama-DF.
Contudo, em decorrência da forma de atuação, do modelo de representação e pensamento dos dirigentes
destas entidades, na prática não houve distinção marcante entre as duas entidades, sendo os cargos
principais da Direção Executiva da Ascema Nacional majoritariamente ocupados por membros da
Asibama-DF.
Para os servidores de Brasília, que historicamente sempre atuaram nas duas entidades, não há
estranhamento que o protagonismo da cena nacional seja conduzido por Brasília, com confusão entre o
papel das duas entidades, seja pelo tamanho da base ou pelo tamanho do aparato, havendo entendimento,
por parte da Asibama-DF, de que a Diretoria da Ascema Nacional devesse trabalhar no compasso sempre
condizente com o interesse e participação direta dos dirigente e ex-dirigentes da Asibama-DF na esfera de
competência da Ascema Nacional. Porém, pela primeira vez, desde a história de criação da Ascema
Nacional, houve posicionamento contrário a isso por parte desta Diretoria. Tal fato resultou no surgimento
de conflitos entre as duas entidades, havendo em alguns momentos, por parte da diretoria da Asibama-DF,
a ameaça de ruptura com a Nacional, o que resultaria em grande perda da representação e arrecadação
financeira da entidade Nacional, que tem na Asibama-DF a entidade com maior número de filiados, não
apenas porque concentra um grande número de servidores em Brasília, mas também em outros Estados.
25 Relatório Final do GT disponível em: https://goo.gl/CqesHP.
23
A Diretoria Executiva da Ascema Nacional nunca concordou com essa postura e manteve a
autonomia da entidade, executando as tarefas de sua competência e sempre buscando sua representatividade
nacional. Porém, essa atitude de autonomia implicou no surgimento de uma disputa pela representatividade
nacional dos servidores, na qual a Asibama-DF busca resgatar o protagonismo da codireção da entidade
nacional, não aceitando seu caráter de entidade local.
Dada a importância que possui, e ao fato de que a discussão sobre o protagonismo da Asibama-DF
na Ascema Nacional não é uma discussão das bases das outras entidades locais, nem na própria Asibama-
DF, na prática, essa disputa é travada apenas por um grupo que se coloca como se fosse a própria entidade,
com direito de interferir nos assuntos nacionais de competência da entidade nacional.
A Diretoria da Ascema Nacional defende a autonomia da entidade no desempenho do seu papel,
entendendo que as entidades locais têm iguais direitos frente à Nacional, não aceitando que qualquer grupo
se coloque acima das entidades e fóruns deliberativos, extrapolando os limites de suas competências.
Por mais importantes que tenham sido as contribuições para a criação e estruturação da carreira e
das entidades, não é democrático ou isonômico que um grupo tenha direitos ou privilégios sobre os demais
nos assuntos conduzidos pela entidade nacional.
Por mais espinhosa e dura que seja essa leitura, não é de modo algum algo que seja direcionado a
indivíduos ou ataque à entidade local, mas é a visão de uma construção histórica problemática de
representação dos servidores que, com o culminar de uma crise política nacional, e um posicionamento
político divergente desse grupo com a Ascema Nacional, resultou em enfrentamentos e ameaças de ruptura
com a entidade nacional por discordância com a orientação e visão da maioria da Diretoria Executiva da
Ascema Nacional, que, diga-se, esteve sempre respaldada pelos encaminhamentos dos fóruns nacionais,
Encontros Nacionais e Congressos.
PARTE IV
4. VIII CONGRESSO ORDINÁRIO DA ASCEMA NACIONAL – ACADEBio/2017 4.1. Desafios
A Diretoria Executiva encarou esse Congresso como o grande momento de a entidade dar um passo
em frente partindo do encaminhamento de soluções para os principais gargalos estruturais, reflexão sobre
seu real papel perante os servidores e a sociedade, avaliação de seu grau de amadurecimento e consolidação,
e seu posicionamento frente à realidade brasileira com uma visão de mais longo prazo que o de costume.
Necessitávamos para tanto passar a limpo os passivos e impasses históricos da Ascema Nacional. Enfrentar
nossos problemas com seriedade era permitir que os Estados fizessem uma profunda e democrática
discussão a esse respeito e apontassem caminhos, foi esse o foco do evento e como fora pensado e
construído.
Já é lugar comum no pensamento social brasileiro o modo como culturalmente encaramos os
espaços institucionais: numa mão temos pouca construção verdadeiramente institucional de entidades, em
que o coletivo, devendo ter a primazia de deliberar soberanamente por meio de processos construídos
democraticamente e com ampla discussão e participação, seja representado impessoalmente, pois compete
à representação executar aquilo que foi decidido no coletivo, possibilitando às instâncias da entidade
seguirem adiante por caminhos que não dependam de grupos específicos, sejam políticos ou por afinidade,
na direção do processo; na outra mão, como corolário, temos a tradição de valorizar fortemente os laços
pessoais e as lealdades de grupos, implicando conduzir institucionalmente as entidades com base nisso,
numa prática que se solidifica substituindo a supremacia do coletivo e a ênfase na construção de processos
e espaços democráticos e plurais por pequenos grupos, política de bastidores, espaços esvaziados de
discussão ou enviesados e muita política de compadrio. Esse comportamento institucional faz parte também
da nossa tradição na Ascema Nacional.
24
Um dos nossos desafios era trazer essa reflexão para dentro da entidade nacional, confiando que
com a discussão entre todas as entidades locais poderíamos chegar a acordos sobre as mudanças de rumo
as quais permitiriam à Ascema Nacional, sem deixar de valorizar sua tradição e legado – muito valiosos
por sinal, se renovar, democratizar e amadurecer para efetivar seu papel de representação dos servidores
(as) da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA.
Dessa discussão, tínhamos como objetivo encaminhar uma Reforma Estatutária, que tocasse
especialmente nos pontos: modelo de gestão e participação, efetividade da forma de representação
(distribuição dos servidores nas Regiões e Estados, órgão e entidades da área ambiental federal, cargos da
CEMA/PECMA), composição da Diretoria, funcionamento e papel dos Fóruns Nacionais, relação da
entidade nacional com as locais, profissionalização e organização da parte burocrática da entidade
(financeiro, jurídico, cadastro das associações locais quanto a seus associados etc.) e comunicação – com
as entidades, os servidores, a sociedade e entre a Diretoria.
Outro desafio era refletir e discutir seriamente a respeito da realidade brasileira, especialmente das
crises social, política, econômica e ambiental que estamos metidos. Avaliávamos a necessidade de avançar
na superação de um certo corporativismo entre os servidores da carreira em direção às grandes questões
nacionais, das quais o grupo de servidores da área ambiental federal são uma pequena parte, mandatária
pela sociedade para, pelo Poder Público, assegurá-la um meio ambiente equilibrado para a presente e as
futuras gerações26.
Entendemos que era preciso discutir a necessidade de se construir uma plataforma político-
programática de caráter geral, tocando nos principais pontos das crises elencadas acima, cujo resultado seria
uma coerência nas ações das entidades nacional e locais e maior coesão por parte dos servidores ambientais
entre si e entre esses e a sociedade; além de dar uma “cara” socialmente referenciada para a Ascema
Nacional. Basicamente, as questões que se nos apresentam são: Qual projeto de país nós defendemos? Com
o que e como, sendo a parcela do serviço público responsável pela gestão e política ambientais nacionais,
podemos contribuir para a defesa desse projeto? Logicamente, não passa pela cabeça ter um único e acabado
projeto ou contribuição, mas diretrizes gerais e valores associados a serem defendidos tanto no âmbito do
serviço público, como perante a sociedade.
Agregado aos desafios acima, era premente o foco em objetivos comuns por parte de todas as
representações dos servidores ambientais federais para resistir aos diversos ataques e retrocessos
relacionados aos: Serviços Públicos; Funcionalismo Público; Direitos e Garantias Socioambientais,
Culturais e Trabalhistas; Gestão, Políticas e Entidades Ambientais Federais; Soberania Nacional e Recursos
Naturais etc.
Para viabilizar essa resistência, era tarefa daquelas representações levarem propostas ao VIII
Congresso discutidas nas bases e pactuarem ou deliberarem estratégias de articulação e mobilização.
Demandávamos refletir, a partir das realidades e discussões locais, como armar os servidores politicamente,
e enxergar as melhores opções, considerando nossas possibilidades, de como otimizar os recursos objetivos
e subjetivos para pôr em marcha nosso efetivo junto às demais iniciativas que estão sendo gestadas e
implementadas na sociedade.
Por fim, o último desafio, de ordem prática, mas não menos importante, pois nenhum propósito é
viável sem isto, era implementar no Congresso um ambiente de discussão que fosse democrático e ao
mesmo tempo formal, com regras definidas e iguais para todos participantes, visando que os debates,
discussões e deliberações, nele e dele em diante, garantissem uma efetiva unidade, construída com base em
debates e divergências, até mesmo disputas, mas que ao final fossem encaminhadas com a certeza de terem
sido feitas por meio de amplas discussões, tendo havido isonomia de participação entre os Estados, e,
principalmente, tudo orbitar e enfatizar o fortalecimento da Ascema Nacional e de seu sentido federativo.
As diferenças e disputas que naturalmente ocorrem em qualquer agremiação devem ser, como foram no
fórum em questão, confiadas e sanadas pela decisão coletiva e soberana do voto da instância máxima de
deliberação, o Plenário, garantidas todas as condições de um processo democrático desde as discussões nas
bases, passando pela escolha de delegados (as), até a discussão e deliberação congressual.
26 Art. 225 da Constituição Brasileira de 1988.
25
Para atingir tal objetivo, a Diretoria Executiva, nos limites estritos do Estatuto que rege a entidade,
foi cumpridora, como deve ser, desse pacto firmado e positivado entre todas entidades filiadas, exigindo
desde o Edital de Convocação do Congresso até o fim dos seus trabalhos que as regras fossem iguais para
todos, primando, antes de tudo, para que o desenvolvimento das atividades refletissem a real discussão e
reflexão entre os representados das entidades, quais sejam, os servidores espalhados por todo o país e
lotados nos diversos órgãos e entidades ambientais. Não é possível conduzir uma entidade nacional com
base no informalismo ou com cada qual fazendo suas regras referentes à sua participação nos Fóruns
Nacionais. Se é uma entidade nacional federativa, nos seus espaços e no âmbito de suas atribuições e
competências, o que vale para uma vale igualmente para as demais; fora isso, cada entidade filiada tem
plena autonomia para desenvolver suas atividades da forma que considerar mais adequada.
4.2. Resultados27
Para as condições da Ascema Nacional e suas filiadas, as possibilidades da Diretoria Executiva e
devido à situação e adversidades em que transcorreu o VIII Congresso, ele cumpriu seu papel. Seria
fantasioso depositar expectativas de que superaríamos em um único momento nossos passivos e
avançaríamos a passos largos rumo aos desafios propostos. Mas os passos iniciais foram dados.
O Congresso se deparou com todos os limites da organização nacional dos servidores de forma
condensada em poucos dias de trabalho. Pareceu que houve uma compressão de diversas temporalidades
naquele momento particular em que transcorrera e, assim, veio à luz todos os anacronismos acumulados.
Não se escolhe e não há preparação para quando irrompe um momento como aquele. Mas é fundamental
encarar a situação com sobriedade para apontar uma direção. Foi o que ocorreu.
Agora, um cenário embrionário para a reinvenção da Ascema Nacional está posto. Não que a crise
aberta tenha passado ou que tenhamos reestabelecido bases mais sólidas para entidade, o que acontece é
que toda crise abre caminhos que nos permitem recomeçar com novas práticas, ideias, estruturas, arranjos
institucionais, formas de gestão etc. Parece ser esse o caminho a traçar. O ambiente existente aponta para
isso, pois por todos os lados os servidores esperam uma resposta para enfrentar a dura realidade que estamos
vivendo ou iniciativas nesse sentido, o que os leva a enxergarem a importância de se organizarem e atuarem
coletivamente, ao mesmo tempo em que boa parte não se sentem representados pelo nosso modelo atual de
organização ou não encontram espaços para poderem atuar. Além disso, o futuro próximo não sinaliza
melhora da situação do país e vai impor que todos trabalhadores se movimentem com propósitos comuns.
Resta saber se haverá disposição de entrar nos vindouros processos de luta com perspectivas e mentalidade
novas para as nossas entidades.
Visando pavimentar o caminho para revigorar e fortalecer a Ascema Nacional e as entidades locais,
houve nesse Congresso profundas discussões e foram aprovados importantes encaminhamentos28, dos quais
destacamos:
Reforma Estatutária e criação de um Grupo de Trabalho para viabilizá-la.
Eleição de uma nova Diretoria Executiva, completamente renovada, pelo período de 1 (um)
ano.
Congresso Extraordinário em 2018 para reformar o Estatuto e eleger nova Diretoria.
Atualização da Proposta de Modernização da Carreira (CEMA e PECMA), com a aprovação
do Relatório do GT Nacional dos Cargos de Nível Intermediário da Carreira (CEMA e
PECMA).
Deliberações ligadas à política nacional e questões socioambientais.
Deliberações de questões relacionadas à política ambiental, às políticas institucionais dos
órgãos e entidades ambientais, e condições de trabalho e qualidade de vida dos servidores
(as).
Aprovação do Plano de Lutas.
27 Para ver de forma completa todas discussões e encaminhamentos do VIII Congresso, acessar o Relatório do evento, disponível em:
https://goo.gl/VpxuqA. 28 A íntegra dos encaminhamentos do Congresso encontram-se disponíveis no Relatório do Congresso a partir da página 25. Ver nota 27.
26
Encaminhamentos das entidades locais.
Mesa de debates e discussão sobre política e economia nacional e questões socioambientais.
Mesa de debates e discussões sobre Fiscalização e Licenciamento Ambiental.
Referendada a continuidade ao processo de negociação no âmbito da Mesa Setorial de
Negociação Permanente do Ministério do Meio Ambiente.
Aprovação da prestação de contas da Diretoria Executiva sem nenhuma ressalva.
Exclusão das entidades Asibama-RN e Assema-RR e incorporação da Ascema-RN.
Uniformização dos procedimentos para a participação das delegações das entidades locais
aos fóruns da Ascema Nacional e veto a assembleias permanentes como forma de eleição de
delegados (as).
Que não haja partidarização da Diretoria da Ascema Nacional e dos encaminhamentos de
luta da categoria.
4.3. Ruptura da Delegação da Asibama-DF com o VIII Congresso
Eram esperados conflitos e divergências no evento, mas ninguém poderia imaginar que essa
delegação abandonasse integralmente o Congresso. Tal medida extremada causou espanto entre as demais
delegações, pois as razões foram injustificadas, certamente esse foi o clímax da plenária. O pensamento
com que chegou essa delegação, de tudo ou nada, não contribui e não se harmoniza a espaços deliberativos
e de construção coletiva. Quando há divergências sobre entendimentos a respeito de qualquer ponto ou
decisão colocada diante do Congresso, tais questões são confiadas ao Plenário e essa exigência foi colocada
mesmo pelos participantes da Asibama-DF. Mas, para surpresa de todos, apesar de atendidas todas as
exigências feitas por essa delegação, a decisão do Plenário não foi respeitada e a delegação de 36 integrantes
(32 Delegados e 4 Observadores) abandonou o fórum logo no 2º dia, o que levou a boa parte das delegações
se sentirem desrespeitadas, com o mesmo sentimento em relação ao fórum máximo da Ascema Nacional.
Mais surpreendente ainda é que participaram de tal empresa todos os (as) ex-presidentes da Ascema
Nacional e da Asibama-DF, pessoas as quais gozam de muito respeito por todos da Carreira.
Essa decisão enfraqueceu sobremaneira o Congresso, visto que representavam numericamente
quase 40% desse. Entretanto, do ponto de vista qualitativo o fórum nacional manteve sua representatividade
e contornou o problema.
Sem dúvida essa ocorrência é uma marca negativa que ficará para história do movimento dos
servidores da área ambiental federal. Não obstante, se algo dessa envergadura ocorreu, significa que muitas
coisas mais já estavam erradas e serve de lição para repensarmos completamente nosso modelo nacional de
funcionamento.
Expomos a seguir os fatos29 como se passaram no Congresso e que, para nós, demonstram uma
injustificada atitude.
“Foi informado pela Ascema Nacional que seriam apreciados os recursos da Asibama-DF30 e
Asibama-AC, que não tiveram suas atas validadas pela Diretoria Executiva em razão das irregularidades
apontadas no Comunicado 02 da Ascema Nacional31 (Anexo 2), sendo o credenciamento destes delegados
submetidos à decisão da plenária do Congresso. No caso da Asibama-PB, que compareceu ao congresso
com dois representantes ao invés de um observador, o recurso seria apreciado na sequência, sendo
precedido da apresentação do Relatório sobre o processo de exclusão das entidades, apresentação de
defesa pelos representantes da Asibama-PB deliberação da plenária.
29 Extraído do Relatório do VIII Congresso da Ascema Nacional, página 9. Para acessá-lo, ver nota 27. 30 Disponível em: https://goo.gl/Z1BnGv. 31 A Asibama-DF realizara assembleias antes do Edital de Convocação para o Congresso e, portanto, fora do Período Congressual, depois
realizou outras, e tais assembleias foram feitas em caráter de “Assembleia Permanente”, instituto desconhecido até então para eleição de
delegados. Nos 11 anos de Ascema Nacional, nunca houve assembleias permanentes para tiragem de delegados e nunca ninguém ouviu falar
ou conhece alguma entidade sindical ou associação que tenha se utilizado desse artifício para eleição de delegados. A entidade do DF também
apresentou nome de delegado eleito em uma assembleia da qual ele não participou. E, depois do prazo de entrega das atas, apresentou nome
de uma delegada. A Asibama-AC realizou assembleia antes de período congressual e não enviou a lista de presença dessa. Comunicado 02/2017
disponível em: https://goo.gl/HmrZRx.
27
A Direção da Ascema Nacional apresentou parecer em relação aos recursos encaminhados pela
Asibama-DF, realizando a leitura para que a plenária tomasse conhecimento. Informou sobre as atas
enviadas pela Asibama-DF e comunicou que a Direção da Ascema Nacional aceitou parcialmente o
recurso da entidade, reconhecendo a legitimidade de 32 (trinta e dois) delegados dos 36 (trinta e seis)
presentes; os quatro restantes teriam direito a voz e participariam do Congresso na condição de
observadores, mas não delegados, uma vez que foram eleitos por “Assembleia Permanente”, procedimento
considerado pela Diretoria como irregular e inválido para eleição de delegados para o Congresso.
Após grande debate e devido às divergências apresentadas, o Presidente da Asibama-DF solicitou
um intervalo de 10 minutos para que a delegação do Distrito Federal pudesse discutir e decidir se
aceitariam a decisão da Diretoria da Ascema Nacional e submeteriam o recurso à plenária. No retorno,
informaram que submeteriam o recurso a plenária, para decisão sobre a validade ou não da Assembleia
Permanente e participação dos quatro eleitos nestas assembleias como delegados do Congresso. A
Asibama-DF solicitou que os 12 diretores da Ascema Nacional presentes ao Congresso e com direito a
voto se abstivessem da votação. A condição foi acatada pela Direção Executiva, tendo os 12 delegados
pertencentes à Ascema Nacional deixado de votar.
Antes do processo de votação, após solicitação do plenário, a mesa esclareceu aos presentes o
significado de “assembleia permanente”. Abriu-se a palavra para os delegados dos Estados que
solicitaram o direito de manifestar-se sobre o tema. Alguns se manifestaram e a Asibama-RJ fez a leitura
de uma Carta32 (Anexo 3). Foi aberta a palavra para apresentação de defesas contra e a favor da utilização
da “assembleia permanente” como válida e credenciamento dos quatro eleitos na assembleia permanente
realizada no Distrito Federal como delegados do VIII Congresso Nacional da Ascema. Apresentadas as
defesas, passou-se ao regime de votação.
REGIME DE VOTAÇÃO – PROPOSTA: “credenciar os delegados referendados na assembleia
permanente realizada no Distrito Federal”: 13 (treze) votos a favor, e 21 (vinte e um) votos contra. Os 12
(onze) delegados da Diretoria da Ascema Nacional abstiveram-se de votar.
Ante o resultado da votação, e imediatamente após sua ocorrência, o Presidente da Asibama-DF
tomou a palavra e manifestou que respeitavam e reconheciam a decisão da plenária como soberana, mas
que respeitavam também as decisões da delegação do DF, e que infelizmente a delegação da Asibama-DF
já havia tomado posicionamento de que ou participaria do Congresso toda a delegação ou todos retirariam
do evento. Toda a delegação da Asibama-DF se retirou do Congresso neste momento. O delegado da
Asibama-RS, José Mario, que presidia a mesa, se retirou do Congresso, assim como os dois representantes
da Asibama-PB.
Permaneceram no Congresso 53 Delegados e um Observador, representando 21 Estados e 19
entidades locais, que deram continuidade aos trabalhos.
Na sequência foi apresentado o Recurso da Delegação do Acre, que realizara assembleia para
eleição de delegados em período anterior à publicação do edital de convocação do Congresso. Colocado
para apreciação do Plenário, o recurso foi aprovado por ampla maioria, sendo validado o credenciamento
dos delegados, mediante [apresentação da] lista de presença.”.
PARTE V
5. CONCLUSÕES
Precisamos com urgência repensar a estruturação da Ascema Nacional, seu modelo de gestão e
relação com a entidades locais. Na mesma medida precisamos revisitar as práticas de nossa organização.
Não menos importante é problematizar a forma construção dos Fóruns da entidade. E, ainda, é preciso
discutir o real papel das entidades locais e o modo de viabilizá-las e fortalece-las visando contornar as
32 Disponível em: https://goo.gl/CAeNQQ.
28
dificuldades de representar os servidores espaçados no território e distribuídos em diferentes órgãos e
entidades.
Temos uma entidade frágil estruturalmente; federativamente desequilibrada e em que vige um peso
desproporcional de um pequeno grupo; programaticamente inconsistente; sem clareza política ou
estratégica; baixa participação das locais; pouca representação no universo de servidores; com um modelo
de gestão inviável; com pouca rotatividade na direção; e forma de pensamento enrijecidas. Urge uma
reestruturação, democratização e flexibilização.
Por tudo discutido nesse Balanço até aqui, fica claro que não apenas nossa entidade nacional ou as
locais, mas todas as formas de representação encontram-se em seu momento paradigmático e no seu ponto
de inflexão, parte disso se deve ao histórico e construção interna de cada forma de representação, entretanto,
isso está inserido num ambiente de transformações sociais (em amplo sentido do termo) de rupturas
históricas ao redor do mundo. Não tem passado incólume nenhuma instituição, sejam elas da sociedade
civil ou dos Estados Nacionais.
Até mesmo a crise ocorrida no VIII Congresso da Ascema Nacional pode ser encarada como um
parte desse processo. Crises são inevitáveis em períodos de grandes mudanças e calhou de o país estar
imerso em uma forte crise, em todos os âmbitos da vida nacional, e da Ascema Nacional ter passado nos
últimos anos por muitas transformações; o fundamental a partir delas é que sejam apontadas novas
perspectivas, que novos marcos sejam estabelecidos.
No momento atual de recrudescimento na política, economia e conflitos socioambientais não é mais
possível investir em um pensamento ensimesmado da Carreira e da área ambiental da Administração
Pública Federal que nos oriente a uma ação restrita a essas questões, precisaremos conduzir discussões de
envergadura mais ampla que nos conduzam a ações mais integradas a outros setores e sujeitos da sociedade,
sabendo que a tarefa prioritária é resistir e recompor as forças, pois está absolutamente nítido no horizonte
que dentre os alvos prioritários dos ataques estão o serviço público, a área ambiental federal e os direitos
socioambientais. Tal resistência não logrará êxito se mantivermos nossa estrutura arcaica, práticas, modelos
de organização e gestão como se encontram hoje, e falta de clareza estratégica e programática. Precisamos
inclusive incorporar nessa discussão o futuro das entidades locais, com as perspectivas de aposentadoria
em massa, falta de concurso público e restrições orçamentárias.
O ponto em que nos encontramos hoje exige um esforço de agir e pensar à altura do imenso desafio
histórico de resistir a essa nova época a qual toda as áreas e direitos sociais retrocedem a galope. Não
adiantará tentar reviver o passado.
A situação política e social que ora enfrentamos, e daqui para longo tempo, nos implica discutir
nossas questões particulares à luz das grandes questões, seja a pauta socioambiental, de carreira ou dos
órgãos, só faremos isso num contexto de iniciativas políticas de maior envergadura, aliás, envergadura
histórica.
APÊNDICE
Da parte que cabe à crise das instâncias de representação popular e seus modos de intervenção na
sociedade, é necessário um esforço de interpretação, ainda que conciso e impreciso, para situar a crise pela
qual passa o Brasil de hoje.
As transformações sociais, culturais, econômicas, políticas etc., pelas quais o mundo passou a partir
da década de 90, mudaram também as configurações dos grupos que se organizam para a participação e
intervenção na vida da sociedade. Demonstrando emblematicamente essa situação, ganharam destaque os
protestos antiglobalização em Seattle no ano de 1999, chamando a atenção quando então vieram à tona as
novas formas de participação sociopolítica, mudando o caráter das organizações e mobilizações populares,
dando protagonismo a um universo novo de pautas e formas de expressão, além da natureza diversa das
noções de pertencimento dos sujeitos a um determinado grupo ou setor da sociedade e suas formas de
subjetivação e ideologias relacionadas.
Aquelas transformações também repercutiram em processos sociais na América Latina na primeira
década dos anos 2000, e na Europa, EUA e mundo Árabe na segunda década desse século. Mesmo com as
29
descontinuidades ou continuidade desigual, partes dessas experiências foram assimiladas em novas
organizações políticas e movimentos sociais e estiveram atualmente na ordem do dia em importantes
processos eleitorais ao redor do mundo, como, por exemplo, EUA, Espanha, Grécia, Portugal, França etc.
No Brasil esse processo não teve o mesmo destaque, até que veio Junho de 2013. Por aqui, no início
dos anos 2000 assume o poder a coalização encabeçada pelo Presidente Lula, que era amplamente
majoritária nos movimentos popular e trabalhista, e durante os anos de seus dois mandatos o Brasil viveu
um processo de prosperidade econômica e melhoria da qualidade de vida da maioria da população. Assim,
com grande estabilidade social e política, sem grandes processos de mobilização, além da aderência ou
cooptação da maior parte dos movimentos populares aos Governos Lula e sua sucessora Dilma, os modos
de organização tradicionais inviabilizaram novos ares no modelo de representação das classes populares e
no diálogo dessas organizações com a sociedade. Quando então emergiram aqui processos similares aos
modernos movimentos que ocorreram em outros cantos do mundo, as organizações tradicionais passaram
ao largo e, em determinados momentos, foram até mesmo hostilizadas; com isso o início promissor de
Junho/13 logo passou, dando lugar à crise que vivemos até os dias de hoje.
Dessa maneira, podemos dizer que o, agora encerrado, pacto democrático que se construiu por quase
três décadas com base nos ideais de gradualismo, diga-se minimalista, e de pacificação social cimentou
uma estrutura de representação popular e de classe com organizações ligadas à disputa do aparato estatal
ou à manutenção dos mesmos grupos no controle dessas organizações e de métodos de luta particularistas
e corporativistas que abandonaram uma real disputa por um projeto popular para o país, ou seja, que se
baseasse em mudanças e reformas estruturais. Nas organizações das classes trabalhadoras, com a
partidarização, o aparelhamento, os interesses eleitorais dos grupos dominantes, o afastamento das bases, a
recusa em ampliar e democratizar os espaços de representação, o modelo arcaico, estático e muito
verticalizado de representação e expressão, a troca de disputas na sociedade pela política de cúpula e busca
de espaço nas instituições do Estado; com tudo isso, elas demonstraram todas as suas fragilidades nas horas
que foram necessárias para organizar as bases, disputar a sociedade e resistir aos ataques que vieram.
Quando novos sujeitos entraram em cena nas mobilizações de massas, numericamente as maiores da nossa
história, esses setores organizados se mostraram inaptos aos propósitos de atraí-los e organizá-los para
defender seus interesses manifestos e, principalmente, fazer o mesmo com sua base e os interesses que
deveriam representar; e, assim, alijadas continuam. Essa tragédia se manifesta claramente nas mobilizações
de 2013 e de forma mais lamentável na baixa adesão nos dias de hoje nas lutas contra o Governo Temer e
o Congresso Nacional.