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BACIA DO SÃO FRANCISCO
Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (OAE km
22+245- ao km 27+930)
Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (Figura 48) é caracterizada por seção a meia encosta
com presença de morros residuais por vezes capeados por solo coluvionar. Na contra encosta tem-se
bacia de infiltração formada pelo vale aluvionar praticamente plano do córrego Sujo e córrego
Santo Antônio. Na base da seção meia encosta o rio São Francisco se desenvolve em meandros que
por vezes se aproximam do pé do talude de jusante (Figura 49), deflagrando rupturas por
solopamento (Figura 50), podendo ocorrer aquelas mobilizadas por rebaixamento rápido, ou
associação dos dois eventos (Figura 51). O leito do rio São Francisco apresenta trechos de assoalho
rochoso e presença de blocos de rocha de dimensões variadas, provavelmente oriundos de detritos
de deslizamentos que foram transportados pela força da água. Nas poucas seções em corte pleno
verificam-se bombeamentos de água no pavimento (Figura 52). O solo desse segmento é
relativamente homogêneo, sendo caracterizado por solo silte argiloso marrom avermelhado (Figura
53). Os eventuais afloramentos de rocha interceptados pela rodovia são muitos fraturados e, por
consequência, susceptíveis a desprendimentos de blocos de rocha e rupturas planares e em cunha
(Figura 54). De maneira geral, predominam os deslizamentos nos taludes de jusante devido a
morfologia meandrante do rio.
Figura 48 – Morfologia da área da vertente direita VD-1 da bacia hidrográfica do rio São Francisco.
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Figura 49 – Morfologia meandrante do rio São Francisco, com deposição de material nas margens internas e
evolução de processos erosivos na curvatura externa do rio. O leito apresenta afloramentos em rocha e
presença de blocos de rocha. Trecho nas proximidades do km 27.
Figura 50 – Ruptura por erosão fluvial causada pela força da água atuante na curvatura externa do rio São
Francisco (km 22+515).
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Figura 51 – Ruptura no talude de jusante com trincas e abatimento no pavimento resultante do solopamento
da base associada ao rebaixamento rápido (km 27+110).
Figura 52 – Seção da rodovia em corte pleno com presença de bombeamento de água no pavimento e
surgências no talude para o lado de montante (km 24+110).
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Figura 53 - Talude de corte em solo silte argiloso marrom avermelhado (km 22+365), tipo de solo
predominante no segmento geológico-geotécnico.
Figura 54 - Seção de corte pleno em afloramento rochoso muito fraturado (km 25+340, pistas 1 e 2).
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BACIA DO SÃO FRANCISCO
Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-2 do rio São Francisco (km27+930 ao
km 31+120)
A região da vertente direita VD-2 do rio São Francisco é caracterizada pela presença de derrames
coluvionares compostos por solo argilo siltoso marrom avermelhado bastante homogêneo (km
27+930 ao km 28+500) e por depósitos de tálus-colúvio interceptados por falhamento geológico
que mergulham na direção da rodovia (km 28+500 ao km 31+120), cujo relevo apresenta formação
caótica (Figura 55). Na contra encosta tem-se vale aluvio-coluvionar plano situado em cota superior
à plataforma rodoviária. Sua formação ocorre após o encontro com o córrego da Água Suja com o
córrego Sujo. A atitude das fraturas e descontinuidades associadas é desfavorável a estabilidade do
talude e favorável a percolação de água na direção da rodovia. Ocorrem vários pontos de surgência
de água nos taludes e bombeamentos de água subterrânea no pavimento.
Figura 55 – Morfologia e geologia da vertente direita VD-2 do rio São Francisco.
A região apresenta encostas em condição muito frágil de estabilidade, principalmente no trecho de
tálus-colúvio em região de falhamento com contato de diferentes compartimentos geológicos.
Nesses trechos têm-se deformações pista e movimentação de rastejo com velocidades e
deslocamentos elevados (Figura 56). Tais movimentações ocorrem em profundidade, no horizonte
rochoso, caracterizado por descontinuidades inclinadas e pelo fácil desplacamento de lajes
rochosas, decorrentes principalmente de alívios de tensões (Figura 57). Nos derrames coluvionares
notam-se rupturas rotacionais resultante de perda de coesão (Figura 58). Os taludes de jusante são
afetados pelo lençol freáticos e por processos erosivos. As características do solo de deposição com
presença de blocos de rocha rolados favorecem ao surgimento de processos erosivos, que por vezes
aprofunda o suficiente para atingir o lençol freático, deflagrando voçorocas nos taludes de jusante
(Figura 59). A condição de estabilidade dos taludes de jusante é fragilizada por sua geometria,
Falha geológica
Bacia de infiltração
córrego Sujo
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principalmente altura, perfil geológico e por pressões de água subterrânea (Figura 60). A
complexidade geológica promove diversos mecanismos de ruptura em uma mesma encosta (Figura
61).
Figura 56 – Ruptura decorrente de alívio de tensões associado a pressões de água subterrânea. Após o alívio
de tensões, o rastejo lento que ocorria ao longo de anos, ganhou outra proporção - movimentação de encosta
com velocidade e deslocamentos elevados, que ocorrem desde a superfície do terreno até em profundidade
superior a 30m dentro do horizonte rochoso (km 29+095).
Figura 57 - Talvegue em assoalho rochoso a montante do bueiro situado no km 29+205. A rocha exposta
caracteriza a unidade geológica do km 29+095 - finas camadas de lajes rochosas separadas por fraturas de
elevada persistência se sobrepondo com mergulho no sentido de percolação do lençol freático. Com a
relaxação das tensões essas lajes rochosas tendem a deslizar e desplacar. Fenômeno vulgarmente conhecido
como efeito cebola.
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Figura 58 - Rupturas rotacionais por perda de coesão em derrames coluvionares homogêneos compostos por
solo argilo siltoso marrom avermelhado e poroso (km 28+015 e km 28+195). Nota-se formação de
voçorocas no talude de jusante avançando em direção à plataforma rodoviária.
Figura 59 – Evolução de processos erosivos que atingem a profundidade do lençol freático formando
voçorocas nos taludes de jusante que avançam em direção à plataforma rodoviária.
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Figura 60 – Taludes de jusante formados por material de deposição de sopé de encosta apresentado
geometria desfavorável à estabilidade (elevada altura) agravada pelo perfil geológico-geotécnico e por
pressões de água subterrânea.
Figura 61 - Diversos mecanismos de ruptura deflagrados em uma mesma encosta (km 30+305).
A ocorrência do km 30+305 refere-se a uma encosta composta por 5 segmentos de ocorrências
geotécnicas: (1) capa de solo sobre laje rochosa remanescente de deslizamento pré-existente; (2)
ruptura retrogressiva múltipla translacional e rotacional; (3) ruptura de base com processos erosivos
em evolução; (4) ruptura retrogressiva múltipla translacional e rotacional e (5) bloco de rocha com
volume de 2.000m3. Fazem parte da área de influência: (i) talvegue de montante e (ii) bacia de
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acumulo e infiltração de água. Há na base da encosta pontos de surgência de água subterrânea. A
Figura 62 apresenta esses pontos na vista frontal (foto aérea).
Figura 62 – Vista da encosta do km 33+305 com indicação da segmentação geotécnica.
No final do segmento VD-2 tem-se iniciado uma movimentação de rastejo em depósito de tálus-
colúvio que devida à distância da plataforma rodoviária ainda não mobilizou deformações visíveis
na pista de rolamento. A movimentação é contínua e observam-se trincas muito abertas decorrentes
de rupturas na crista com potencial de infiltração de água. Nas Figuras 63 e 64 apresentam-se as
imagens aérea e terrestre da movimentação em língua de tálus-colúvio do km 30+780.
Figura 63 – Movimentação de rastejo em língua de tálus-colúvio no final do segmento VD-2 (km 30+780).
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Figura 64 - Movimentação de rastejo em língua de tálus-colúvio na direção da plataforma rodoviária (km
30+780).
A calha do rio São Francisco apresenta declividade variável, havendo trechos em corredeira e
outros relativamente planos, desenvolvendo-se em meandros com presença de assoalho rochoso e
matacões de rocha de dimensões variáveis oriundos de deslizamentos de detritos transportados ou
não pela força da água (Figura 65). Nos trechos de maiores declividades o vale é mais estreito com
formato em “V” (Figura 65).
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Figura 65 – Calha do rio São Francisco se desenvolve em meandro apresenta declividade variável. Nos
trechos mais inclinados do canal fluvial tem-se assoalho rochoso e vale encaixado em forma de “V”. Nos
trechos planos do rio o vale é aberto com deposições alúvio-coluvionares com presença de matacões de
dimensões variáveis.
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BACIA DO SÃO FRANCISCO
Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-3 do rio São Francisco (km 31+120 ao
km 33+800 OAE)
O segmento geológico-geotécnico Vertente Direita VD-3 situa-se em domínio de morros elevados
com ocorrência de "pães-de-açúcar" (soerguimentos rochosos) e apresenta relevos de degradação
em planaltos dissecados ou superfícies aplainadas, de morros convexo-côncavos dissecados e topos
arredondados ou aguçados, com sedimentação de colúvios, alúvios e, ocasionalmente, depósitos de
tálus-colúvio. Ocorrência de compartimentos colinosos em seções alveolares no vale do rio São
Francisco. Densidade de drenagem média a alta com padrão de drenagem variável, de dendrítico a
retangular. Predomínio de amplitudes topográficas entre 200 e 500m e gradientes médios, com
presença de formas residuais proeminentes e gradientes elevados. Na Figura 66 apresenta-se a
morfologia do relevo da Vertente Direita VD-3.
Figura 66 - Relevo da Vertente Direita VD-3 caracterizado por formas residuais com afloramentos de rocha
fraturada nas bases das encostas e soerguimentos rochosos maciços residuais capeados por colúvios. Para o
lado de jusante da rodovia ocorre rampas colúvio-aluvionais sotopondo terraço aluvionar da calha do canal
fluvial do rio São Francisco.
Observam-se afloramentos de rocha fraturada a muito fraturada situados nas bases das encostas
recobertos por horizontes de solos residuais jovem e maduro (Figura 67), ocasionalmente com
capeamento coluvionar. Ocorrem taludes de corte em rocha fraturada com atitude desfavorável,
formação de blocos e lascas de rocha, sinais de rupturas e presença de blocos soltos sobre plano
inclinado. No maciço rochoso notam-se rupturas planares e em cunha e superfícies com inclinação
negativa e blocos de rocha soltos.
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Figura 67 – Afloramento em rocha fraturada na base da encosta escavado para implantação da rodovia
recoberto por horizonte de solo residual. Sistema de faturamento caracterizado por planos com mergulhos na
direção da rodovia e formação de lascas e blocos de rocha (km 31+310).
Os relevos residuais apresentam espessa camada de solo formando taludes de corte e natural com
elevada altura, sem escalonamento, com inclinações da ordem de 45°. O efeito da sucção é
significativo devido a presença de finos no solo, havendo variações na sua resistência ao
cisalhamento em função do clima, períodos chuvoso e seco. Nos períodos chuvosos, a redução do
intercepto coesivo associada a configuração geométrica conduz a uma condição de segurança
próxima de um colapso. As rupturas podem ocorrer mesmo que o solo não tenha atingido sua
condição saturada e quando ocorrem mobilizam uma porção significativa do talude (Figura 68) e
passam a sofrer processos erosivos contínuos.
46
.
Figura 68 – Rupturas de grandes proporções em morros com camadas espessas de solo residual (km 31+470
e km 31+585).
Devido as grandes proporções que essas rupturas alcançam quando tratadas tendem a conduzir para
soluções de terraplenagem (escalonamento do talude) associadas a um sistema de drenagem (Figura
69). Entretanto, a reconformação do talude através do escalonamento engloba boa parte do terreno
de montante, de forma a envolver quase toda encosta. Nesse casos cuidados especiais devem dados
à drenagem para evitar a reativação de processos erosivos.
47
Figura 69 – Solução de escalonamento de talude adotada para melhoria da condição de estabilidade de
encosta colapsada (km 32+675). Nota-se que há importante contribuição de água subterrânea oriunda do
talvegue situado na contra encosta em cota muito superior ao nível da plataforma.
Taludes de jusante são afetados pelas erosões fluviais das curvaturas externas do rio São Francisco
e por intervenções antrópicas para implantação de rampas de acesso. As rupturas mobilizadas por
solopamento da base do talude de jusante são as mais importantes, pois sua tipologia normalmente é
retrogressiva (Figura 70). Pode-se por um determinado período de tempo ter uma ruptura no pé sem
afetar a porção superior, mas devida sua verticalização, rupturas superficiais por perda de coesão e
processos erosivos fluviais associados a saturação do talude mobilizarão uma ruptura retrogressiva
brusca, podendo atingir a pista de rolamento da rodovia.
Figura 70 – Rupturas retrogressivas ativadas por solopamento da base do talude de jusante que virá a
mobilizar a porção superior do maciço terroso.
48
Entre os quilômetros km 33 e km 34 soerguimentos rochosos aflorados em matrizes de solo por
intemperismo diferencial (Figura 71) apresentam-se muito sãos com alguns blocos de grandes
dimensões destacados apoiados em fraturas inclinadas e abertas (Figura 72).
Figura 71 – Soerguimentos rochosos aflorados em matriz de solo por intemperismo diferencial.
Figura 72 – Escarpas em rocha sã com blocos destacados apoiados em fraturas abertas e inclinadas.
49
No sopé das escarpas rochosas as matrizes de solo são afetadas por rupturas mobilizadas
principalmente pela ação da água subterrânea infiltrada no contato do pé da escarpa com a matriz de
solo e presentes nas fraturas da rocha sob o solo que mergulha na direção da face do talude. A
percolação de água na camada de solo mais permeável (solo residual jovem ou saprólito) é
dificultada no contato com o solo menos permeável, causando pressões excessivas de água que
deflagram o colapso do talude situado no sopé da escarpa (Figura 73). Ou seja, ocorre ruptura
resultante da descontinuidade hidráulica e mecânica dos materiais de diferente propriedades
geotécnicas.
Figura 73 – Rupturas na matriz de solo situada no sopé dos soerguimentos rochosos resultante da infiltração
de água associada à descontinuidade hidráulica e mecânica dos materiais de diferentes propriedades
geotécnicas (solo residual jovem ou saprólito e solo argiloso com capeamento coluvionar).
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BACIA DO SÃO FRANCISCO
Segmento Geológico-Geotécnico Volta do Pião (OAE km 33+800 ao km 37+000)
O segmento geológico-geotécnico Volta do Pião situa-se em domínio de morros elevados com
amplitudes topográficas entre 100 e 300m e gradientes médios, com predomínio de presença de
formas residuais de morros convexos e topos arredondados ou aguçados, com ocorrência de
compartimentos colinosos em seções alveolares nos vales do rio São Francisco e do córrego Boa
Esperança. Densidade de drenagem média a alta com padrão de drenagem variável, de dendrítico a
retangular. Na Figura 74 apresenta-se a morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico
Volta do Pião. Conforme vista aérea típica apresentada na Figura 75, o segmento é em seção meia
encosta, sendo caracterizado pela ocorrência de encosta e morros convexos para o lado direito (pista
1) e taludes de aterro ou naturais para o lado esquerdo (pista 2).
Figura 74 – Morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico Volta do Pião.
Figura 75 – Segmento em seção meia encosta com morro convexos (LD, pista 1) e taludes de aterro ou
natural para o lado esquerdo (pista 2).
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A forma convexa dos morros e encostas é menos estável que a côncava, entretanto, não são
observadas rupturas profundas nos maciços residuais compostos por pacote espesso de solo. De
maneira geral, esses pacotes são escavados sem escalonamento atingindo elevadas alturas com
inclinação de 45°, sendo afetados por processos erosivos, predominando os ravinamentos (Figura
76) e rupturas superficiais pontuais por perda de coesão. Entretanto, devida a altura dos taludes
pode-se mobilizar volume significativo de solo. Ocorrem intervenções antrópicas na região a
montante dos taludes de corte que podem afetar a condição dos mesmos, desde o aumento dos
processos erosivos até a ocorrência de rupturas pontuais. Por vezes, ocorrem afloramentos de rocha
com laje inclinada na base desses pacotes de solo residual. Pode haver deslizamentos do tipo
múltiplo retrogressivo translacional rotacional no manto de alteração sobre o maciço rochoso
(Figura 77). A ruptura translacional é mobilizada no contato da laje rochosa do afloramento com o
manto de alteração. Por descalçamento da base da porção superior tem-se a deflagração de ruptura
rotacional envolvendo os horizontes de solos residuais jovem e maduro. Verificam-se surgências
d’água nas duas seções geológicas (pacote espesso de solo e afloramento rochoso recoberto por
manto de alteração), predominando nas fraturas das rochas. Em alguns pontos ocorrem
bombeamento de água subterrânea no pavimento.
Figura 76 – Processos erosivos e, consequentes, rupturas em talude de corte (km 36+750, pista 1). No local
também se observa bombeamento de água subterrânea no pavimento e voçoroca evoluindo na direção da
plataforma rodoviária.
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Figura 77 – Cicatriz de deslizamento múltiplo retrogressivo translacional rotacional mobilizado no manto de
alteração acima do afloramento rochoso (km 34+565, pista 1). A ruptura é iniciada no contato do solo
residual jovem com a laje inclinada do afloramento rochoso.
Os taludes de jusante, aterro ou natural, são afetados por processos erosivos. Verifica-se que o solo
do segmento apresenta certa susceptibilidade a deflagração de processos erosivos, sendo observada
também nos taludes de montante. A erosão de origem fluvial é a mais importante. Com o
solopamento da base dos taludes nos trechos convexos do curso d’água tem-se ruptura remontante
do talude, deixando-o verticalizado, com solo exposto e, por consequência, em condição precária de
estabilidade e susceptível a ravinamentos (Figura 78). Assim, a ruptura avança continuamente em
direção da rodovia. Em alguns casos há offset suficiente para efetuar operações de terraplenagem no
sentido de suavizar e revegetar o talude. Entretanto, ocorrem trechos em que a escarpa da ruptura
53
verticalizada com 4m de altura encontra-se muito próxima do bordo do pavimento (Figura 79),
sendo necessário outro tipo de intervenção na linha de um sistema de contenção. Em locais com
indicação de surgência de água subterrânea (bombeamento no pavimento), a erosão pode evoluir em
profundidade até atingir a linha do lençol freático, deflagrando voçorocas no talude de jusante
(Figura 80).
Figura 78 – Ruptura por erosão fluvial mobilizada na curvatura externa do curso d’água obstruída por
afloramento rochoso (km 34+865, pista 2).
Figura 79 – Escarpa de ruptura verticalizada com 4m de altura avançando em direção à pista – processos
erosivos e ruptura superficiais por perda de coesão contínuos (km 35+555, pista 2).
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Figura 80 – Evolução de voçoroca no talude de jusante em trecho caracterizado por susceptibilidade a
mobilização de processos erosivos e bombeamento de água subterrânea no pavimento (km 36+685, pista 2).
55
BACIA DO CAPIM
Segmento Geológico-Geotécnico Capim (km 37+000 ao km 48+850)
O segmento geológico-geotécnico Capim situa-se em domínio de morros elevados com amplitudes
topográficas entre 300 e 700m e gradientes médios a elevados, com predomínio de presença de
formas residuais de morros convexos-côncavos e topos arredondados ou aguçados e alinhados, com
ocorrência de serras (do Capim, da Boa Vista, da Bacia e da água Quente) e de compartimentos
colinosos em seções alveolares do rio do Capim ou Pião. No vale do rio Capim predominam
terraços aluvionares. A densidade de drenagem é média a alta com padrão de drenagem variável, de
dendrítico a retangular. O fluxo de água da bacia de drenagem é realizado na direção do rio Preto.
Nas Figuras 81 e 82 apresenta-se a morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico Capim.
Figura 81 – Morfologia do Segmento Geológico-Geotécnico Capim.
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Figura 82 – Visão aérea da configuração do relevo do segmento do Capim - domínio de morros convexos-
côncavos residuais, com ocorrência de serras, compartimentos colinosos em seções alveolares do rio do
Capim e terraços com deposições aluvionares nas partes mais aberta do vale.
Trecho de seção meia encosta, em que a partir do km 38+580 (travessia do rio Capim sob a rodovia
– OAC bueiro celular de concreto) têm-se as encostas e morros convexos-côncavos para o lado
esquerdo (pista 2) e talude de aterro ou natural para o lado da direita (pista 1) ou lado do rio do
Capim ou Pião. De maneira geral, a calha fluvial medianamente meandrante é afastada do corpo
estradal e se desenvolve no sopé das encostas e morros do lado direito (margem direita do rio)
configurando superfícies aplainadas de depósitos aluvionares, havendo pontos em que o rio se
aproxima do talude de jusante. A Figura 83 ilustra através de fotos aéreas trechos típicos do
segmento geológico-geotécnico Capim.
57
Figura 83 – Terraços com deposições aluvionares (lado direito da rodovia) situados entre domínio de colinas
e morros (fotos no sentido crescente da quilometragem e no sentido do fluxo de água do rio Capim).
Destacam-se alguns meandros na calha fluvial do rio Capim.
O trecho entre o km 37+000 e a travessia do rio Capim sob a rodovia (km 38+580) pode ser
compreendido como uma transição entre o segmento Volta do Pião e Capim, tendendo mais para as
características observadas no segmento anterior. Pode haver ruptura superficial nas porções mais
inclinadas das encostas associadas à perda de coesão do solo residual maduro (Figura 84). Mantos
de alteração sobre afloramentos rochosos podem ser mobilizados por redução da resistência ao
cisalhamento na interface da laje inclinada da rocha com o solo residual jovem. E esses
afloramentos rochosos mais intemperizados apresentam sistema de fraturas que favorecem a
formação e de lascas e blocos de rocha por vezes apoiados em planos inclinados (Figura 85). Trata-
se de um trecho curto que não reflete muito os aspectos geológico-geotécnicos do segmento Capim.
58
Figura 84 – Ruptura da porção superior da encosta decorrente de perda de coesão (km 37+675, pista 1).
Região de transição entre o segmento Volta do Pião e Capim.
Figura 85 – Afloramento em rocha fratura na base da encosta: desprendimentos e quedas de blocos e lascas
de rocha e possibilidade de deslizamento do manto de alteração no contado com a laje rochosa do
afloramento (km 37+580, pista 1). Região de transição entre o segmento Volta do Pião e Capim.
A força da água do rio Capim ou do Pião pode ser observada na sua travessia sob a rodovia (km
38+580). Nota-se que o volume de água é expressivo mesmo próximo da nascente do rio. Tais
aspectos são mostrados na Figura 86.
59
Figura 86 – Travessia do rio do Capim ou Pião sob a rodovia (km 38+580) – força e volume de água
expressivos.
Por conta do volume de força da água do rio do Capim ou Pião é de se esperar rupturas por
solopamento da base do talude nos trechos em que a calha fluvial se aproxima do talude de aterro
ou natural, principalmente quando esses taludes pertencem a margem da curvatura externa do rio. O
material colapsado expõe a superfície do talude, favorecendo a evolução de processos erosivos.
Associado aos processos erosivos tem-se a configuração geométrica (verticalização do talude) que
mobilizam rupturas rotacionais superficiais por perda de coesão na direção da rodovia (Figura 87).
Ainda que a crista da escarpa da ruptura esteja distante do bordo da rodovia, em locais que o
meandro do rio intercepta ou aproxima da base do talude, é recomendável a implantação de
enrocamento, mesmo que não tenha havido ruptura do talude. Trata-se de uma medida preventiva.
No caso daquelas rupturas já deflagradas e distantes da rodovia, dependendo, podem-se efetuar
operações de terraplenagem, plantio de vegetação e enrocamento na base do talude. São soluções de
custo baixo que podem evitar maiores problemas, tanto para a rodovia quanto para o rio
(assoreamento).
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Figura 87 – Mobilização de ruptura no talude de margem do rio do Capim resultante da força da água
atuando na curvatura externa do rio (km 39+160 e km 39+775_5, pista 1).
Nos taludes de corte com camada de solo pouco profunda as pressões de água na interface capa de
solo com saprólito ou rocha são prejudiciais à estabilidade do talude (Figura 88). De maneira geral,
nas capas de solo verificam-se rupturas translacionais. Devida às descontinuidades mecânica e
hidráulica, pode haver rupturas múltiplas translacionais rotacionais mobilizadas principalmente por
pressões de água. Em soluções de suavização do talude para melhoria de sua estabilidade, deve
61
atentar para o perfil de alteração do terreno, pois a redução da espessura do solo menos permeável,
ao contrário do esperado, poderá deflagra a ruptura do talude.
Figura 88 – Escorregamento translacional raso no contato da capa de solo com horizonte de saprólito ou
rocha alterada, decorrente das descontinuidades hidráulica e mecãncia associadas à pressões de água
subterrânea (km 40+080, pista 2).
Os taludes de jusante também são afetados pelas intervenções antrópicas. Destaca-se o trecho entre
os quilômetros km 40+635 e km 41+270, em que ao longo de toda extensão da base do talude
ocorrem escavações verticalizadas que comprometem a estabilidade do talude (Figura 89).
Escavações na base do talude também ocorrem em outros trechos e, como esperado, deflagram
trincas no pavimento indicando a mobilização de ruptura (Figura 90).
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Figura 89 – Talude de jusante com intervenções antrópicas: escavações na base do talude que comprometem
a condição de estabilidade do talude ao longo do trecho entre os quilômetros km 40+635 e km 41+270.
Como esperado no km 41+140, pista 1, houve ruptura rotacional no talude.
Figura 90 – Deflagração de trincas e abatimento no pavimento resultante de mobilização de ruptura ativada
por escavação da base do talude (km 46+950, pista 1).