Transcript

Ave, Poesia!

Capa: Enos Santana Revisão dos autores:

Jan Cordeiro ([email protected]) A. Zarfeg ([email protected])

Jan Cordeiro & A. Zarfeg

Ave, Poesia!

1ª edição

São Paulo

2013

Copyright © 2013 Janeuce Cordeiro Maciel & Gilmar Ferraz da Silva

O conteúdo desta obra é de responsabilidade dos autores, proprietários do Direto Autoral.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Catalogação na publicação: Elaine Vieira Machado Geaquinto – CRB/5-1389

_________________________ PerSE

PS Autopublicação e Prestação de Serviços Ltda. CNPJ 11053820000168

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M152a Maciel, Janeuce Cordeiro, 1967-.

Ave, Poesia! / Janeuce Cordeiro Maciel,

Gilmar Ferraz da Silva. São Paulo: PerSe, 2013.

98 f.

ISBN 978-85-8196-369-3

1. Poesia. 2. Literatura brasileira. 3.

Literatura baiana. 4. Literatura mineira. I. Silva,

Gilmar Ferraz da. II. Título.

CDD B869.1

Ave, Janeuce!

ocê está de parabéns pelo belo metapoema “Ai, palavras, estranha potência a vossa!” (De resto, um belo diálogo com a poeta maior Cecília Meireles.) Por tudo isso… e muito mais, receba meus aplausos. Aliás, você é do tipo que leva um tempão para produzir

poemas, mas, quando aparece com um, arrebenta, extravasa, vai às raias do sublime… Claro que, se quiser e se se dedicar, poderá produzir com mais frequência. Afinal, os fazeres são uma questão de hábito, de prática e de vontade. Isso vale também para a poesia – que, preciso repetir isso? – está mais para a música, a publicidade e as artes visuais do que para a literatura propriamente dita… Pois bem, mais que um poema, você produziu uma prece, fez a apologia da palavra-poesia, da palavra-totem e, também, pintou um autorretrato com cores, sons e palavras, cheio de confissões, declarações e, sobretudo, de elogios à Ave, Palavra! “Somos irmãs siamesas!” À parte a declaração de amor à palavra, “bula e bússola”, “poção e porção”, me chamou a atenção a maneira como você conduziu o discurso. Apesar de o título fazer referência direta à palavra, na segunda pessoa, num vocativo, num chamamento, você, contudo, utilizou-se da terceira pessoa para, assim, definir, subjetiva e poeticamente, as palavras, enfatizando a importância e o poder mágico delas. (Semana passada, no programa Globo News Literatura, que vai ao ar todas as sextas-feiras com reprise nos sábados, eu assisti a uma entrevista com Nélida Piñon, na qual ela fez um elogio tão grande à palavra, em termos de vocação estética e

V

ética, que, ao ler seu poema, Jan, acabei vivenciando tudo aquilo na forma de poesia...) Como Nélida, você foi muito feliz e cantou bel/amente as palavras (que podem, a um só tempo, ser filha, irmã e mãe, não é mesmo?), mas o fez poeticamente, com grandiloquência, porque a poesia, sim, é o reino sob medida das palavras. E, portanto, dos mistérios… Concomitantemente, em meio às declarações próprias da terceira pessoa (“as palavras são meu chão, paredes e teto”), você intercalou referências diretas à palavra, chamando/implorando, literalmente, a dita-cuja: “ai, palavra, ave”, como forma de enfatizar a importância dela no poema, em particular, e na vida, em geral. Por ter optado por esta forma de expressão, o poema, e não por outra, você praticamente envolveu todas as funções da linguagem, num belo jogo de palavras, com destaque para a emoção, poesia, metalinguagem, referência, e assim por diante. E, ao final do poema, depois de ter feito a melhor das apresentações da Ave, Palavra, você, filha, irmã siamesa e mãe das palavras, fez também o maior dos pedidos: “Livrai-me de todo o mal”. Quanto a mim, só me resta dizer amém, Ave, Janeuce, assim seja! E, desde já, pedir sua autorização para publicar o belo poema na edição de março da Verbo 21!

Índice “Ai, palavras, estranha potência a vossa!”..............................09 Ave... ....................................................................................11 Ui! Ai! Amor!...........................................................................12 Viagem.....................................................................................13 Paraíso.....................................................................................14 Trágico poético........................................................................15 Quando I..................................................................................17 Quando II.................................................................................18 Quando III................................................................................19 Queria... ............................................................................20 Espaço íntimo..........................................................................21 Centenário...............................................................................22 Ninho.......................................................................................24 Janeiro.....................................................................................25 Isto...........................................................................................26 Des/caminhos..........................................................................27 Dica I........................................................................................28 Dica II.......................................................................................29 Chuva no pó............................................................................30 Cegonha..................................................................................32 Cigana......................................................................................33 Aula.........................................................................................34 Se...logismo.............................................................................35 Sim...........................................................................................36 Antigamente............................................................................37 As duas taças...........................................................................38 Quero......................................................................................39 Bela..........................................................................................41 Bel............................................................................................42 Fútil..........................................................................................43 Obrigado..................................................................................44 Xis............................................................................................45 The best-a................................................................................46 Tudo de mim...........................................................................47 Desabafo.................................................................................48

Ícaro.........................................................................................49 Bahia........................................................................................50 Cena........................................................................................52 Quem?.....................................................................................53 Ressuscitanda..........................................................................54 Baby.........................................................................................56 Meu caderno ..........................................................................57 (J)unte-se (A) (N)os..................................................................58 Querer/poder..........................................................................59 Santa Maria!............................................................................60 Quero chão..............................................................................62 Fazendo as malas....................................................................64 Chez moi et toi........................................................................65 VAL..........................................................................................66 Borboleta.................................................................................67 Tempo tempo..........................................................................69 Ave, literatura..........................................................................70 Maria.......................................................................................71 Tão Romeo quanto Juliet........................................................72 Na ponta do lápis ....................................................................73 Procura....................................................................................74 Amor poeta amor....................................................................75 Luma........................................................................................76 Trovador..................................................................................79 Namorada minha.....................................................................80 Tá com cara de linda...............................................................81 Fim do nosso amor..................................................................82 Desconstruindo o Réveillon.....................................................84 Samba-enredo.........................................................................85 Agüentando.............................................................................86 Poema fdp...............................................................................87 Nº 3.........................................................................................88 Crime ou castigo?....................................................................89 nAMORados!...........................................................................91 Discurso de posse na ALTO......................................................93

“Ai, palavras, estranha potência a vossa!” As palavras são meu chão, paredes e teto Obra-prima com a qual Construo minha casa de cada dia Alimento na minha mesa Ou dieta vitaminada por silêncios Somos gêmeas siamesas Minhas palavras me falam Minhas palavras me calam Modificam, edificam Missão, pomar Sal para minhas águas de mar Por elas, as palavras Escalo regiões montanhosas Garimpo gotas nas espumas viscosas Ai, palavras, ai, palavras Linha cava de minha vida Bula e bússola Movimento interplanetário Nos céus de meu destino Ai, palavras, ave Maria, José, João, Francisco Todos esses, com vossa permissão Escreveram história nesta mão Ai, palavras, ai, palavras! Passaporte para viagens intergaláticas Poção e porção Fogo no corpo Borboleta sem casulo Rumo às larvas da paixão Palavras distendem, palavras apagam Deuses já consagrados Palavras disfarçam, palavras acendem

Luzes em pântanos encharcados Estranha potência A vossa energia magnetiza Ai, palavras, ave! Livrai-me de todo o mal

Ave... Quem disse que te quero para, no ouvido, Dizer lirismos comedidos? Quem disse que te venero para, tête-à-tête, Trocar promessas de amor? Quem disse que te suplico para, a distância, Morrer de saudades de ti? Eu, prestenção, te desejo muito, para, aqui E agora, uivar Ave, Poesia!

Ui! Ai! Amor! Se o mundo acabasse agora (E ele vai acabar!) Eu lhe diria três palavrinhas Se a razão guerreasse com a Emoção (e ela vai guerrear!) Se o corpo maltratasse a Alma (e ele vai maltratar!) Eu lhe diria três palavrinhas Se amor e paixão perdessem o Juízo (e eles vão perder!) Se o poeta quebrasse a cara Agora (e ele vai quebrar!) Eu lhe diria três palavrinhas

Viagem Volta e meia me pego conjugando O verbo viajar (com g com j?) Logo eu que não gosto de viajar ao Contrário do meu avô famigerado Que, numa rural que mais parecia Um latifúndio, corria mundo e se Expunha aos perigos da estrada e Às implicâncias da ortografia, Diferente dele, prefiro dar uma Volta ou, no máximo, volta e meia Ao redor do meu umbigo seguido Dum batalhão de verbos da 1ª conjugação (Rimou)

Paraíso Antes que o mundo acabe Preciso lhe dizer isto: Você de 4 é a 8ª maravilha da Criação! As outras sete maravilhas Em ordem decrescente: 7ª – o olho mágico 6ª – o céu da boca 5ª – o colo superior 4ª – as maçãs de Eva 3ª – o umbigo (deprimido ou saliente) 2ª – o cóccix de cócoras 1ª – a porta entreaberta

Trágico poético Estava eu a postos para um artigo de opinião De repente a poesia me removeu Saí do sério e me pus a circundar pelo mistério das palavras Uma lembrança especialmente marcante Veio povoando minha linha de pensamento Não deu outra: da função referencial pulei logo à poética Enfim o pensamento todo ganhou o espaço: Era a pequena Sofia Um anjo de se guardar no colo Na ousadia dos primeiros passos Um dia desses, de manhã em convite, Saiu seguindo a tia que ia. Cheia dos amores A menina foi parar na oficina do pai Um viajante vinha de ré em seu carro E, sem dar por ela, Atropelou-a, passando acima. Ela caiu deitadinha, Atravessadinha entre os pneus No espaço feito concha no chão Que também ocultava a mão do Senhor. O pai, que vinha logo atrás em outro carro, Gritou com uma voz desabotoada Que conseguira ecoar no desespero: É minha! Essa menina é minha! Levaram-na ao hospital Estava intacta Nada lhe saíra do lugar Nem mesmo os cachinhos de cabelos louros Lembrando os campos de trigo.


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