Transcript
Page 1: Aula Entomologia Forense Thyss

1

Patricia Jacqueline ThyssenUNESP/Botucatu

Entomologia ForenseEntomologia Forense Objetivos da aula:

A: Introdução - conceito, aplicações, importância e interações com os fenômenos cadavéricos.

B: Principais insetos de importância forense no Brasil.

C: Como estimar o IPM usando insetos.

D: Trabalhos experimentais e coleta de insetos.

2

“ Estudo de insetos e outros artrópodes que,

em associação com procedimentos

criminalísticos, tem o propósito de

descobrir informações úteis para uma

investigação. “

Entomologia Forense

3

Capítulo 5 do livro de Sung Tzu’s(China, 1235)

Faune des CadavresMégnin (1894)

4

Page 2: Aula Entomologia Forense Thyss

2

Entomologia ForensePode ser classificada em 3 categorias:

? Urbana: abrange os insetos que afetam o homem e seu ambiente

? Produtos Armazenados: relacionada com insetos ou parte deles comumente encontrados contaminando alimentos

?Médico-Legal ou Médico-Forense: tem seu foco nos componentes criminais do sistema legal lidando, principalmente, com insetos necrófagos

5

Importância:

os insetos podem ser os 1º a chegarem à cena do crime devido órgãos especializados (odor)

a oviposição/larviposição pode ocorrer poucos minutos/horas após a morte (tipo de morte!!!)

método apresenta maior confiabilidade em vista de outros, especialmente quando o corpo se encontra em decomposição avançada

7

Importância:

- Insetos: participam de mais de 90% da decomposição do corpo

- Ordens de insetos mais representativas são:

Diptera: ~ 75%Coleoptera: ~ 15%Hymenoptera: ~ 2%Lepidoptera: ~ 1%Outros insetos e artrópodes: ~ 7%

Levantamento faunístico de espécies de importância forense no Estado de São Paulo – SP

Thyssen e colaboradores (1994-2007)

8

Aplicações:? determinação do intervalo pós-morte (IPM)

QUANDO???

9

? local (ambiente, outdoor x indoor), movimento do cadáver (?), associação dos suspeitos com a cena do crime – ONDE ???

? modo/causa (investigação de substâncias tóxicas) –COMO ???

? negligência a crianças e idosos – COMO ???

? identificação da vítima/suspeitos – QUEM???

? investigação da origem da contaminação alimentar

Page 3: Aula Entomologia Forense Thyss

3

FENÔMENOS CADAVÉRICOS

DecomposiçãoDecomposição

SucessãoSucessão CompetiçãoCompetição

21

Decomposição:

?processo contínuo, mas dividido em estágios

?altamente dependente das condições abióticas

?classificações descritas:

Mégnin (1894): 8 estágios

Bornemissza (1957): 5 estágiosPayne (1965): 6 estágios Reed (1958) e Jirón & Cartin (1981): 4 estágios

22

Decomposição – estágios:? FASE I: INICIAL ou de coloração

23

Decomposição – estágios:? FASE II: GASOSA ou de inchaço

24

Page 4: Aula Entomologia Forense Thyss

4

Decomposição – estágios:? FASE II: GASOSA ou de inchaço

25

Decomposição – estágios:? FASE III: COLIQUATIVA ou ativa

26

Decomposição – estágios:? FASE III: COLIQUATIVA ou ativa

27

Decomposição – estágios:? FASE III: COLIQUATIVA ou ativa

28

Page 5: Aula Entomologia Forense Thyss

5

Decomposição – estágios:? FASE III: COLIQUATIVA ou ativa

29

? FASE III: COLIQUATIVA ou ativa

Decomposição – estágios:

30

? FASE IV: SECA ou de esqueletização

Decomposição – estágios:

31Carvalho, LML; Thyssen, PJ; Goff, ML; Linhares, AX (2004).

Observations on the succession ...

Daily variation of the of the external and environment temperatures, mouth and anus of the carcass during the carcass exposure time in the urban region

0

10

20

30

40

50

60

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

days of exposition

tem

pera

ture

s -

ºC

ºC environmentalºC pig-externalºC mouthºC anus

Decomposição

32

Page 6: Aula Entomologia Forense Thyss

6

Competição:“Como a carcaça é um recurso alimentar efêmero e limitado, a

competição dentro do sistema é intensa ”

Pela competitividade pode surgir:

? spp “deslocam-se” para evitar predação = Sazonalidade

? spp “exploram” carcaças de tipos e tamanhos ? para facilitar a coexistência = Especialização e Agregação

? spp ocupam “determinados estágios” da decomposição = Sucessão

33

Sucessão Ecológica

durante o processo de decomposição:

? substrato muda continuamente (fisica e quimicamente) e

ocorre adequação para colonização de diversos organismos

conseqüência: processo de sucessão ecológica

Séc. XIX

34

O que já foi investigado para EF:

10 spp essencialmente necrófagas!!!

? Sazonalidade: poucas spp (2-3) – de fato a freqüência é +

variável que a diversidade

? Spp especialistas X recurso alimentar (carcaça):

tipo ? Sarcophagidae > Calliphoridae

tamanho ? correlação ? abundância e ? diversidade

? Sucessão: sobreposição de nichos em alguns locais parece ser aleatória?

35

Objeto de nossos estudos

Reino Animalia

Filo Arthropoda

Superclasse HEXAPODA

CLASSE INSECTA

- Subclasse Apterygota

- Subclasse Pterygota

Infraclasse Palaeoptera

Infraclasse Neoptera*

36

Page 7: Aula Entomologia Forense Thyss

7

37

CLASSE

INSECTA

***

Infraclasse

Neoptera

Ordens Orthoptera - gafanhotos, grilos, esperanças Mantodea - louva-a-deus Phasmidia - bicho-pau BLATTARIAE - baratas Dermapatera - tesourinha Isoptera - cupim Embioptera - Pleocoptera - Zoraptera - Psocoptera - piolho-dos-livros Mallophaga - piolhos mastigadores ANOPLURA - piolhos sugadores Thysanoptera - barbudinhos HEMIPTERA - percevejos Homoptera - cigarras, cigarrinhas Neuroptera - formiga-leão Megaloptera - confundidos com formiga-leão COLEOPTERA - besouros Strepsitera - triungulinos Mecoptera - scorpion flies Trichoptera - larvas aquáticas: curubixás LEPIDOPTERA - mariposas, borboletas DIPTERA - moscas, mosquitos, pernilongos SIPHONAPTERA - pulgas HYMENOPTERA - vespas, formigas, abelhas

Ciclo biológico de dípteros muscóides

38

Bionomia x ecologiadípteros muscóides

39

Categorias ecológicas encontradas em carcaça/cadáver

de acordo com a forma de utilização do substrato (Norris, 1965):

?necrófagos

?predadores

?onívoros

?adventícios, acidentais ou eventuais

40

Page 8: Aula Entomologia Forense Thyss

8

Família Calliphoridae

Lucilia eximia

Luciliacuprina

Byrd & Castner, 2002

“varejeiras” - moscas em geral com 0,8 cm comprimentometálicas: verde, azul, verde-azulado, total ou parcialmentealgumas spp com grande número de cerdas pelo corpo ou listasnecrófagas, onívoras, parasitas

41

Família Calliphoridae

C. albiceps C. megacephala C. putoria

42

Cochliomyia macellariaHemilucilia segmentariaHemilucilia semidiaphana

Família Calliphoridae

43

Família Sarcophagidae

Peckia (Pattonella) intermutans

moscas que variam de 0,5-1,3 cm comprimentoPretas acinzentadas: padrão mais claro na família são as listas longitudinais no torax vista dorsalmente; ? onívoras

44

Page 9: Aula Entomologia Forense Thyss

9

Família Fanniidae

Fannia canicularis

moscas que variam de 0,3-0,6 cm comprimentoPretas metálicas, acinzentadas, podem conter listas ou não longitudinais no torax vista dorsalmentebionomia e ecologia são muito amplas dentro da família

45

Família Muscidaemoscas que variam de 0,4-0,6 cm comprimentoPretas ou azul metálicas, acinzentadas, amareladas com listas ou não longitudinais no torax vista dorsalmentebionomia e ecologia são muito amplas dentro da família

Musca domestica 46

Família Phoridae

Megaselia scalaris

moscas com 0,2 cm comprimentoVista dorsal acastanhada: no abdomen chama a atenção a ornamentação ou listas longitudinais irregulares vista dorsalmente; aspecto ”corcunda”onívoras

47

Família Piophilidae

Piophila casei

moscas com 0,1 cm comprimentocor preto metálico e pernas ora preto ora alaranjado larvas chamam a atenção pelo andar de “ferradura”onívoras

48

Page 10: Aula Entomologia Forense Thyss

10

Família Stratiomyidaemoscas com 0,7 cm comprimentocor escura e pernas ora clara ora escuraadultos se comportam como “vespas” larvas são escuras, achatadas e sobrevivem com restrição de O2

onívoras tem chamado a atenção especialmente em corpos enterrados!!!

Hermetia illucens49

Dermestidae

StaphylinidaeHisteridae

Scarabaeidae

Silphidae

Acidentais, parasitas e predadoras

minutos horas dias meses anos

Como estimar o INTERVALO PÓS MORTE (IPM)

52

Page 11: Aula Entomologia Forense Thyss

11

Fatores Intrínsecos e Extrínsecos que podem influenciar no IPM

Temperatura do corpo

Condições atmosféricas

Reações químicas do processo pós-morte

Ação de microorganismos

Ação de substâncias exógenas

53

Intervalo Mínimo Intervalo Máximo

Método da fauna cadavérica

?54

Intervalo Mínimobaseia-se no ciclo de vida de 1 ou 2 espécimes (idade do

inseto que usa o “recurso” para se desenvolver, levando em conta se houve “acesso ao recurso”)

Modelo de graus-horas ou dias: temperatura-dependente

55

y = 0,001275+0,000073 x

(R2=0,93)

00.0005

0.0010.00150.002

0.00250.003

0.00350.004

-17.4 15 20 25 30 35temperatura (°C)

1/D

0

100

200

300

400

500

D (horas)

velo c idade de desenvolvimento

desenvolvimento (h)

Graus-horas

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

6 18 30 42 54 66 78 90 102 114 126 138 150 162 174 186 198 210 222 234 246 258 270 282

10°C 15°C 20°C

25°C 30°C 35°C

56

Page 12: Aula Entomologia Forense Thyss

12

baseia-se na presença e freqüência de insetos no corpo associadas aos estágios de decomposição (sucessão)

decomposição sucessão modificação da(modificação substrato) (adiciona/substitui) comunidade

fatores abióticos e bióticos

Intervalo Máximo

57

Para efeito de cálculo, a temperatura avaliada, foi a da média (20ºC) - com os dados de desenvolvimento obtido em laboratório tem-se que:

x = 20 então y = 238.2 (tempo de vida total do inseto)

Se o tempo que as larvas recolhidas no corpo levaram para se desenvolver no laboratório foi de 185 h, as amostras recolhidas apresentavam (levando em conta a atratividade e o tempo de eclosão do ovo) 53 h de vida.

Assim, o IPM deve ser de no mínimo 53 h.

64

Estudos experimentais de campo

65

bandeja

isca

armação

coberturade organza

Dados que devem ser obtidos

66

Page 13: Aula Entomologia Forense Thyss

13

Estudo de caso nº Data da coleta/observação:

Nome (coletor das informações):

Causa morte: ( ) confirmada por legista; ( ) não confirmada

Sexo: ( ) M ( ) F Peso (aproximado): Idade: ________ anos

* Ou aparenta: ______ Altura: Corpo - encontro (data):

*Vivo (visto última vez, data/dias): *Informe de desaparecimento (data):

Local (cidade): Ambiente: ( ) urbano; ( ) rural; ( ) silvestre

Local/ambiente referente ao encontro do corpo - outros:

( ) residência; ( ) exposto; ( ) enterrado; ( ) parcialmente enterrado; ( ) submerso (água);

( ) queimado; ( ) parcialmente queimado; ( ) pasto; ( ) plantação; ( ) floresta/mata;

( ) estrada; ( ) diurno; ( ) noturno; ( ) nenhum, especificar: __________________________

Condições ambientais: Temperatura: ______; Umidade: ______; Precipitação: _________

Condições/sinais presentes no corpo:

( ) com vestimenta; ( ) sem vestimenta; ( ) cirurgia recente; ( ) cicatriz; ( ) lesões

traumáticas; ( ) ferimentos; ( ) sangue; ( ) exposição de órgãos/cavidades; ( ) fraturas;

( ) mutilações, especificar: ________________________________________

Orifícios por: ( ) arma de fogo; ( ) instrumento perfurante; ( ) instrumento cortante

Artefatos por: ( ) grandes predadores; ( ) insetos; ( ) outros: ________________________

Temperatura: ( ) superfície do corpo: ______ ( ) massa larval: ______ ( ) no IML: ______

Fase/Sinais de decomposição:

( ) midríase; ( ) sinal de Sommer; ( ) rigidez cadavérica; ( ) livores hipostáticos;

( ) circulação póstuma de Brouardel; ( ) inicial; ( ) inchaço; ( ) putrefação;

( ) putrefação escura; ( ) fermentação; ( ) final/esqueletização; ( ) saponificação;

( ) mumificação; ( ) outros, especificar: _____________________________

Presença/atividade de insetos:

Imaturos: ( ) vivos; ( ) mortos; ( ) ovo; ( ) larva 1°; ( ) larva 2°; ( ) larva 3°; ( ) pupa;

( ) pupário

Adultos: ( ) vivos; ( ) mortos; ( ) junto ao corpo; ( ) do IML (atraídos)

Espécimes coletados – região do corpo*: ____________________________________________

*(cabeça, membros superiores, inferiores, cavidades, orifícios naturais, vestes)

Espécimes encaminhados para toxicologia: ( ) imaturos; ( ) adultos; ( ) nenhum

Outras observações: ___________________________________________________________

Protocolo para coletade

informações

67

Dados que devem ser obtidos

68

Resumindo: para trabalhar com EF? Identificação espécies (características morfológicas ou

moleculares)

? Ciclo de vida (biologia) e interferentes (toxinas, tipo de “tecido”)

? Características ecológicas (ambiente, comportamento -predação, parasitismo, competição, “escolha pelo substrato”)

? Decomposição corporal (tamanho, idade, tipo de morte)

69 70

Page 14: Aula Entomologia Forense Thyss

14

71


Top Related