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AULA 1

Princípios Norteadores do Novo Direito Civil

- Palavras-chave: CC/1916; eficácia horizontal dos direitos fundamentais; humanização do direito civil; CC/2002; constitucionalização do direito civil.

1) Embasamento Histórico

i. CC/1916, Código Beviláqua, tinha a preocupação extremamente patrimonialista. Sujeitos: proprietário, contratante, marido e testador.

ii. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais (eficácia irradiante) nas relações privadas: originalmente, a eficácia é vertical. Hoje, os direitos fundamentais incidem em relações privadas (daí a horizontalidade). Também já se fala, atualmente, em eficácia diagonal dos direitos fundamentais (incidência desses direitos na relação entre empregado e empregador).

Leading case no Brasil (1996): associação de compositores do Brasil fez uma assembleia com o fim de expulsar um dos associados. O associado foi expulso e ajuizou uma ação, que chegou no STF. O STF afirmou que, ainda que a associação seja pessoa jurídica de direito privado, sua atuação era mais pública do que privada, de modo que deveria ter sido garantido ampla defesa, contraditório e devido processo legal na hora da expulsão do associado (RE 201819).

Origem alemã; reconhecimento de que os direitos fundamentais incidem nas relações privadas.

iii. Código Civil de 2002, elaborado com observância do Direito Civil humanizado. Direito Civil Moderno:

Dignidade da Pessoa Humana; Solidariedade; Igualdade.

Qual a preocupação do CC/2002? Pessoa humana.

iv. O Código Civil, por ser humanizado, passou por uma releitura dos institutos clássicos (proprietário vai cumprir função social; contratante vai cumprir função social; marido é igual à mulher; testador deve respeitar a legítima).

v. Princípios/Paradigmas do Direito Civil Moderno: Eticidade; Socialidade; Operabilidade/Concretude.

2) Princípios

i. Eticidade: Impõe a ética nas relações privadas; Boa-fé objetiva (verificada de plano a partir de comportamento exteriorizado). Reconhecimento de que se deve praticar atos voltados à boa-fé

(comportamento). ii. Socialidade:

É o reconhecimento de que mesmo nas relações privadas, os institutos devem passar pela ótica da função social (do contrato, da propriedade, da família, etc).

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Não esquecer que função social é finalidade social (completamente diferente de imposição de socialismo).

iii. Operabilidade/Concretude: O Direito foi pensado para ser concretizado, efetivado, operacionalizado. A partir daí, houve a inserção, na letra da lei, de cláusulas gerais, conceitos

vagos, a serem interpretados no caso concreto. Boa-fé objetiva e função social são conceitos vagos.

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Pessoa Natural

1) Introdução

i. Pessoa natural é o núcleo do Direito Civil; é o ser humano. ii. Para Teixeira de Freitas, é o ente de existência visível.

iii. Centro de toda relação jurídica (vínculo travado entre sujeitos, que gera consequência no mundo jurídico). É o centro de todo o ordenamento jurídico.

iv. Personalidade Jurídica é uma criação social moldada pela ordem jurídica – trata-se de aptidão genérica para se titularizar direitos e obrigações – condição para ser sujeito de direito personificado.

Quando é adquirida a personalidade jurídica? O artigo 2° do CC define como sendo o nascimento com vida. O que é nascer com vida? É o funcionamento do aparelho

cardiorrespiratório – respiração (docimasia hidrostática de galeno). Cuidado com a expressão “sujeito de direitos”, pois o princípio da legalidade

vai variar caso o sujeito tenha ou não personalidade jurídica. Sujeito de Direito:

Com Personalidade Jurídica: pode tudo que a lei não proíba (pessoa natural e pessoa jurídica).

Sem Personalidade Jurídica: só pode quando a lei permitir (sociedade irregular, massa falida, condomínio).

O exame realizado para saber se houve a entrada de ar nos pulmões é a docimasia hidrostática de galeno.

Importante observar que, para o natimorto, haverá registro diverso do sujeito que nascer com vida, vejamos (artigo 53, Lei de Registros Públicos):

Nascimento COM VIDA:Se o sujeito ficar vivo, ele recebe certidão de nascimento.Se o sujeito morre logo após, ele recebe certidão de nascimento e certidão de óbito.

Nascimento SEM VIDA (natimorto):O sujeito recebe apenas certidão de nascido morto, que será registrada no Livro “C” do cartório de registro de pessoas naturais.

No Brasil, exige-se forma humana, viabilidade e sobrevida? Não. Basta que ocorra a respiração. O Código Civil espanhol adotava até 2011.

v. Artigo 2°, CC: “[...] mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Se a lei reconhece direitos ao nascituro, não seria ele pessoa?

Nascituro é aquele que tem vida uterina. Para responder à pergunta, existem teorias:

Teoria Natalista: é a teoria de Sílvio Venosa E Vicente Ráu; esta teoria define que o nascituro é uma coisa, possuindo mera expectativa de direito. O nascimento com vida é condição suspensiva para a aquisição e o exercício de direitos. Teoria da Personalidade Condicional/Personalidade Formal: é a teoria de Maria Helena Diniz e Serpa Lopes; para essa teoria, nascituro é quase pessoa, tem direitos existenciais, como a

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vida, mas, para direitos patrimoniais, somente a partir do nascimento com vida. Teoria Concepcionista: teoria de Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua e Silmara Chinelato; para essa teoria o nascituro é pessoa, tendo personalidade jurídica.

Qual a teoria adotada no CC/2002?Pela redação do artigo 2°, adota-se a teoria natalista. Clóvis Beviláqua ponderou que o Código Civil adota a teoria natalista, por ser mais prática, mas doutrina e jurisprudência reconhecem a influência concepcionista, admitindo direitos ao nascituro.

Questões Relevantes:Nascituro é quem tem vida intrauterina; concepturo é a chamada prole eventual, que sequer concebido foi, sendo relevante para o instituto do fideicomisso.O natimorto, por ter sido concebido, mesmo nascido morto, goza da proteção dos direitos de personalidade – Enunciado n°1, JDC. E o embrião excedentário? Também chamado de embrião congelado, criogenizado. São embriões que sobram de uma fertilização in vitro. O STF discutiu a constitucionalidade do artigo 5° da Lei de Biossegurança na ADI 3510. Essa lei autoriza que seja feito tratamento de células tronco embrionárias obtidas por meio de embriões congelados, caso sejam inviáveis ou congelados a mais de três anos. Neste julgado, após oitiva de amici curiae, o STF decidiu pela constitucionalidade do dispositivo. Sendo assim, os embrões excedentários são tratados como coisa, objetos de direito (e não sujeitos de direito). O embrião congelado tem presunção de paternidade? Tem direito à herança? Segundo o artigo 1597, inciso III CC, o embrião goza de presunção de paternidade. Segundo o professor Caio Mário, a partir da inseminação, o agora nascituro pode reclamar sua herança por meio de petição de herança. Existe medida cautelar para proteger os direitos do nascituro (posse em nome de nascituro). Para direitos de personalidade, adota-se a teoria concepcionista. Lei 11804/2008: prevê a possibilidade de alimentos gravídicos. São fixados com base em indício de paternidade. São irrepetíveis.REsp 399028 e REsp 931556: reconhecem dano moral ao nascituro.


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