Transcript
Page 1: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 2: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

ODILON A. CAMARGO DO AMARANTE

Camargo Schubert Engenharia Eólica

MICHAEL BROWER E JOHN ZACK

TrueWind Solutions

ANTONIO LEITE DE SÁ

Centro de Pesquisas de Energia Elétrica/CEPEL

BRASÍLIA, 2001

Page 3: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 4: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

MENSAGEM

O aproveitamento de energia eólica no mundo cada vez mais consolida-se como umaalternativa viável e limpa. Esse tipo de energia compõe complementarmente matrizesenergéticas de muitos países e, uma vez que os ventos oferecem uma opção de supri-mento no século XXI, em conjunto com outras fontes renováveis, poderá conciliar asnecessidades de uma sociedade industrial moderna com os requisitos de preservaçãoambiental.

Os números que indicam a crescente utilização de energia eólica, em várias partes domundo, comprovam a maturidade da tecnologia que envolve e dos aspectos sócio-econômicos que lhes são pertinentes. Consideradas a sua configuração geográfica, assuas condições climáticas e a necessidade e oportunidade de ampliar e revigorar a nossamatriz energética, para o Brasil mostra-se absolutamente adequado e estratégico con-duzir esforços para acompanhar essa tendência e implementar efetivamente a tecnologiada geração de energia eólica.

Para esse fim, no entanto, torna-se indispensável o levantamento de seu potencialeólico com a mais moderna tecnologia de aquisição e tratamento de dados, condiçãoessencial para que projetos de fazendas eólicas se multipliquem, o que possibilitará atransformação dos bons ventos brasileiros em eletricidade para o nosso desenvolvimento.

O ATLAS DO POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO, que ora lançamos, traduz o propósito deoferecer todos os dados relativos ao levantamento do potencial eólico, no Brasil, cominformações sobre vento de qualidade para uso em projetos de geração eólica em maiornúmero e com maior confiabilidade.

O Ministério de Minas e Energia parabeniza as instituições e pessoas envolvidas naelaboração desse marco para o desenvolvimento da energia eólica no Brasil, bem comose orgulha de entregar, aos pioneiros da energia eólica brasileira e aos novos atores quesurgirão nessa área, este importante instrumento de trabalho.

JOSÉ JORGE DE VASCONCELOS LIMA

MINISTRO DE ESTADO DE MINAS E ENERGIA

Page 5: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 6: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

APRESENTAÇÃO

O ATLAS DO POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO cobre todo o território nacional. O seuobjetivo é fornecer informações para capacitar tomadores de decisão na identificaçãode áreas adequadas para aproveitamentos eólio-elétricos. Este atlas destina-se a auto-ridades governamentais, planejadores do setor elétrico, agências nacionais e interna-cionais de financiamento, instituições de fomento e investidores.

Um dos fatores que limitam investimentos em empreendimentos eólicos é a falta dedados adequados e confiáveis. Este atlas vem preencher parte dessa lacuna, apresen-tando informações de qualidade sobre as áreas com bom potencial eólico no territórionacional e suas principais características, tais como: velocidade média, direção, regi-me e sazonalidade do vento.

Na elaboração deste atlas foram empregadas ferramentas computacionais de últi-ma geração para processamento dos dados utilizados na obtenção das informações deinteresse. Tais informações são apresentadas em forma de diversos mapas, abrangen-do cada uma das regiões brasileiras, Norte, Sul, Nordeste, Sudeste e Centro-Oestebem como a representação da superfície total do país.

O ATLAS DO POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO constitui-se, assim, em um instrumentoindicativo fundamental para que se possa pré-avaliar os recursos eólicos para geraçãode energia elétrica, sua principal finalidade, podendo também ser fonte de consultapara pesquisas acadêmicas e científicas, além de outras possíveis aplicações que utili-zem dados dos ventos.

AFONSO HENRIQUES MOREIRA SANTOS

SECRETÁRIO DE ENERGIA

Page 7: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 8: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

SUMÁRIO

MENSAGEM

APRESENTAÇÃO

SUMÁRIO EXECUTIVO

1. INTRODUÇÃO

1.1 ESTUDOS DO POTENCIAL

EÓLICO BRASILEIRO . . . . 9

1.2 O BRASIL: GEOGRAFIA . . . . 9

1.3 SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO . . . . 10

1.4 CLIMA E SAZONALIDADE . . . . 12

2. FUNDAMENTOS DA ENERGIA EÓLICA

2.1 ORIGEM . . . . 13

2.2 HISTÓRICO . . . . 13

2.3 PRINCÍPIOS E TECNOLOGIA . . . . 14

3. METODOLOGIA

3.1 O SISTEMA MESOMAP . . . . 15

3.2 RESULTADOS DO MESOMAP . . . . 20

3.3 LIMITAÇÕES DO MÉTODO . . . . 20

3.4 VALIDAÇÃO DO MESOMAP . . . . 21

4. POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO

4.1 REGIMES DE VENTO SOBRE O BRASIL . . . . 23

4.2 MAPAS DO POTENCIAL EÓLICO ANUAL . . . 25

4.3 MAPAS DO POTENCIAL

EÓLICO SAZONAL . . . . 31

4.4 MAPAS DOS POTENCIAIS

EÓLICOS REGIONAIS . . . . 37

5. ANÁLISE

5.1 POTENCIAL EÓLIO-ELÉTRICO

ESTIMADO . . . . 43

REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . 45

RELAÇÃO DE FIGURAS

1.1 POSIÇÃO GEOGRÁFICA DO BRASIL . . . . 10

1.2 RELEVO E PRINCIPAIS

BACIAS HIDROGRÁFICAS . . . . 10

1.3 MOSAICO DE IMAGENS DE SATÉLITE . . . . 10

1.4 SÍNTESE DO SISTEMA

ELÉTRICO BRASILEIRO . . . . 11

1.5 MÉDIAS CLIMATOLÓGICAS SAZONAIS . . . . 12

2.1 EVOLUÇÃO MUNDIAL DA CAPACIDADE

EÓLIO-ELÉTRICA . . . . 13

2.2 ESTEIRA AERODINÂMICA E AFASTAMENTO

ENTRE TURBINAS EÓLICAS . . . . 14

2.3 USINA EÓLIO-ELÉTRICA DE

PRAINHA, CEARÁ . . . . 14

2.4 CURVA TÍPICA DE POTÊNCIA DE

TURBINAS EÓLICAS . . . . 14

2.5 VISTA GERAL DA FABRICAÇÃO DAS PÁS

E MONTAGEM DA NACELE . . . . 14

3.1 REGIÕES UTILIZADAS NO CÁLCULO

DA MESOESCALA . . . . 16

3.2 MODELO DE RELEVO . . . . 17

3.3 MOSAICO DE IMAGENS

DE SATÉLITE (SPOT) . . . . 18

3.4 MODELO DE RUGOSIDADE . . . . 19

3.5 FREQÜÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE VENTO

BASEADO NA CURVA DE WEIBULL . . . . 20

3.6 EXEMPLO DE DETALHES NA SUBESCALA:RIO DE CONTAS, BAHIA . . . . 21

3.7 REGRESSÃO LINEAR PARA

AJUSTE DE VELOCIDADE . . . . 22

4.1 DISTRIBUIÇÃO GERAL DOS VENTOS . . . . 23

4.2 MOSAICO SPOT SOBRE RELEVO 3D . . . . 24

5.1 POTENCIAL EÓLICO ESTIMADO . . . . 44

RELAÇÃO DE MAPAS

POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO ANUAL

VELOCIDADES MÉDIAS ANUAIS E FLUXOS DE

POTÊNCIA EÓLICA . . . . 26

DIREÇÕES PREDOMINANTES ANUAIS. . . . 27

REGIMES DIURNOS – MÉDIA ANUAL . . . . 28

K – FATOR DE FORMA DE

WEIBULL – MÉDIA ANUAL . . . . 29

POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO SAZONAL

VELOCIDADES MÉDIAS TRIMESTRAIS . . . . 32

RAZÃO ENTRE A VELOCIDADE MÉDIA

TRIMESTRAL E A ANUAL . . . . 33

DIREÇÕES PREDOMINANTES . . . . 34

K – FATOR DE FORMA DE

WEIBULL – MÉDIAS SAZONAIS . . . . 35

POTENCIAL EÓLICO REGIONAL

NORTE . . . . 38

NORDESTE . . . . 39

CENTRO-OESTE . . . . 40

SUDESTE . . . . 41

SUL . . . . 42

Page 9: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

SUMÁRIO EXECUTIVO

ESCOPO: O presente ATLAS eólico abrange todo oterritório brasileiro. Seu objetivo é fornecer informaçõesrelativas aos ventos, na resolução adequada, para capaci-tar tomadores de decisão na identificação de áreas paraaproveitamentos eólio-elétricos.

CONTEXTO: A geração eólio-elétrica expandiu-seno mundo de forma acelerada ao longo da última déca-da, atingindo a escala de gigawatts. Um dos fatores quelimitam investimentos em empreendimentos eólicos temsido a falta de dados consistentes e confiáveis. A maioriados registros anemométricos disponíveis é mascarada porinfluências aerodinâmicas de obstáculos, rugosidade erelevo. A disponibilidade de dados representativos éimportante no caso brasileiro, que ainda não explorouesse recurso abundante e renovável de forma expressiva.

ESTE ATLAS DO POTENCIAL EÓLICO BRASILEIRO tornou-se possível mediante o desenvolvimento, nos últimos trêsanos, de um abrangente sistema de software demodelamento numérico dos ventos de superfície chama-do MesoMap. Esse sistema simula a dinâmica atmosfé-rica dos regimes de vento e variáveis meteorológicascorrelatas a partir de amostragens representativas de umbanco de dados validado. O sistema incluicondicionantes geográficas como relevo, rugosidadeinduzida por classes de vegetação e uso do solo,interações térmicas entre a superfície terrestre e a atmos-fera, incluídos os efeitos de vapor d'água. No caso pre-sente, as simulações empregaram uma base de dados doperíodo compreendido entre 1983 e 1999. Essas simula-ções foram balizadas por referências existentes, tais comogrades de dados meteorológicos resultantes de reanálises,rádiossondagens, vento e temperatura medidos sobre ooceano e medições de vento de superfície já realizadasregionalmente no Brasil. Entre essas últimas, foramselecionadas apenas as medições com qualidade neces-sária para referenciar o modelo ou, na falta destas, fo-ram utilizadas referências pré-existentes representativasde grandes áreas, conforme se indica no quadro a seguir.

OS RESULTADOS dessas simulações são apresenta-dos em mapas temáticos por escalas de cores, represen-tando os regimes de vento e fluxos de potência eólica naaltura de 50 metros, na resolução horizontal de 1km x1km, para todo o país. Os mapas revelam que existemextensas áreas com potencial promissor para o aprovei-tamento eólio-elétrico em todas as regiões do Brasil.Sugere-se a consulta direta aos mapas dos potenciaiseólicos deste ATLAS, para uma síntese e identificação de-talhada das melhores áreas.

OS MAPAS DO POTENCIAL EÓLICO ANUALrevela uma importante complementaridade geográficaentre os potenciais eólico e hidráulico no Brasil: de modogeral, as melhores áreas para aproveitamento eólico si-tuam-se nas extremidades do sistema elétrico, distantesda geração hidrelétrica. Nessa situação, a inserção deenergia eólica no sistema elétrico melhora seu desempe-nho.

OS MAPAS DO POTENCIAL EÓLICO SAZONALtambém confirmam a existência de complementaridadesazonal entre os regimes naturais de vento e as vazõesnaturais hídricas na parcela hidrelétrica predominantedo sistema elétrico brasileiro atual. Nesse sistema, a in-serção de energia eólica potencializa uma maior estabi-lidade sazonal na oferta de energia.

As oportunidades para o uso de geração eólica isoladasão geograficamente mais abrangentes, pois turbinaseólicas pequenas são muitas vezes capazes de atender àsdemandas isoladas com velocidades menores de vento.Para esse tipo de aproveitamento existem amplas áreasem todo o Brasil, com exceção da Floresta Amazônica.Este ATLAS também deve constituir ferramenta útil paraa avaliação das áreas vantajosas para a utilização de sistemaseólicos isolados, considerando-se as alternativas existentes.

COMPLEMENTO: o presente ATLAS pode ser utili-zado na pré-identificação das melhores áreas para pro-jetos de aproveitamentos eólio-elétricos.

Entretanto, devido à grande sensibilidade da energiaeólica às condições de microescala, a localização exatadas turbinas eólicas e a avaliação econômica do empre-endimento deve seguir programas específicos de medi-ções, compatíveis com os padrões da indústria eólica, parase obter em dados com a precisão exigida pelo projeto.

Instituição Abrangência No de estações

CEPEL Região Norte 7

CELESP Santa Catarina 6

COPEL Paraná 17

COELBA Bahia 13

SUDENE Ceará 2

Marinha - DHN Litoral 2

Total 47

QUADRO 1

Page 10: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

9

1.1 ESTUDOS DO POTENCIAL

EÓLICO BRASILEIRO

Com o uso de ferramentas possibilitadas por recentesavanços da capacidade computacional, de simulaçõesbaseadas nas leis físicas de interação entre as diversasvariáveis meteorológicas – registradas e consolidadas emextensos bancos de dados e validadas por registrosanemométricos selecionados –, o presente ATLAS superaobstáculos históricos ao conhecimento do potencialeólico brasileiro, que é apresentado com detalhamento erepresentatividade antes impossíveis.

O potencial eólico brasileiro para aproveitamentoenergético tem sido objeto de estudos e inventários des-de os anos 1970 e o seu histórico revela o lento mas pro-gressivo descortinamento de um potencial energéticonatural de relevante magnitude existente no país.

Em 1976-77, um processamento específico de dadosanemométricos medidos em aeroportos brasileiros foirealizado no Instituto de Atividades Espaciais, no Cen-tro Técnico Aeroespacial, IAE/CTA [1].* As maiores ve-locidades médias anuais, da ordem de 4m/s a 10m dealtura, já induziam marginalmente a viabilidade técni-ca de máquinas de pequeno porte para sistemas isola-dos e apontavam o litoral da região Nordeste e o Arqui-pélago de Fernando de Noronha como os sítios maispromissores para a realização de projetos-piloto para ge-ração de energia eólio-elétrica. Até 1981, diversos pro-tótipos de turbinas eólicas de pequeno porte (2kW e5kW) foram desenvolvidos e um campo de testes foioperado no Centro de Lançamento de Foguetes da Bar-reira do Inferno, na costa do Rio Grande do Norte, emprojeto conjunto com o DFVLR-IBK, órgão de pesquisaaeroespacial da Alemanha.

Em 1987, a CHESF – Companhia Hidro-Elétrica do SãoFrancisco finalizou um inventário do potencial eólico daregião Nordeste [2], realizado a partir de processamento/análise de registros anemográficos para um período de 5anos (1977-1981) de 81 estações a 10m de altura, per-tencentes à Rede Meteorológica do Nordeste – SUDENE.Os dados, processados pela Universidade Federal daParaíba, Campina Grande, foram publicados em sumá-rios e mapas de isolinhas para velocidades a 10m de al-tura. As maiores velocidades médias anuais encontradaspara a altura de 10m foram de 5,5m/s e 4,3m/s, paraMacau, RN e Caetité, BA, respectivamente.

Também na década de 1980, diversos estudos regio-nais foram conduzidos para mapeamento eólico de es-

tados brasileiros, destacando-se os trabalhos realizadosem Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.

O primeiro “Atlas do Levantamento Preliminar do Po-tencial Eólico Nacional” foi iniciado em 1979, pelaELETROBRÁS-CONSULPUC [3]. Ainda na década de 1980, aELETROBRÁS e a Fundação Padre Leonel Franca deramcontinuidade a esse trabalho, com a realização de umextenso estudo meteorológico que incluiu oprocessamento de dados de 389 estações anemométricasde 10m de altura, existentes em todo o território nacio-nal, relacionadas no quadro 2:

QUADRO 2

Instituto Nacional de Meteorologia: 319

Ministério da Aeronáutica (aeroportos): 51

CEMIG – Cia. Energética de Minas Gerais: 10

ELETROBRÁS: 2

PORTOBRÁS – Empresa de Portos do Brasil: 2

COPEL – Cia. Paranaense de Energia: 2

Em 1996, um relatório da CHESF [5] apresentou umestudo do potencial eólico do litoral do Ceará e do RioGrande do Norte, já a partir dessas primeiras mediçõesna região. Simulações computacionais com uso de cur-vas de desempenho de turbinas de 500kW e 600kW in-dicaram a possibilidade de geração de 9,55 TWh/ano e2,96 TWh/ano com a ocupação de 10% dos litorais doCeará e Rio Grande do Norte, respectivamente.

Em 1999, a COPEL publicou o “Mapa do PotencialEólico do Estado do Paraná”, a partir das mediçõesefetuadas por 5 anos em 25 locais especialmente selecio-nados, em torres de 18m a 64m de altura. Esse mapa foiproduzido na resolução de 2km a partir do softwareWindMap, com utilização de modelos degeoprocessamento de relevo e rugosidade do Estado doParaná. Além de revelar áreas de grande potencial eólicono interior do Paraná, o trabalho indicou um potencialde geração eólica de 5,8 TWh/ano no estado, utilizan-do-se apenas as áreas com velocidades médias anuaissuperiores a 6,5m/s.

Com a aceleração mundial do aproveitamento eólio-elétrico em escala e a instalação das primeiras usinaseólicas no Brasil, no final da década de 1990, iniciaram-se as primeiras medições anemométricas específicas paraestudos de viabilidade, com uso de torres de 30-50m eequipamentos com precisão e procedimentos requeri-dos para a finalidade. Essas medições concentraram-seinicialmente nos Estados do Pará, Ceará, Paraná, de San-ta Catarina e do Rio Grande do Sul.

Já resultante dessas medições mais precisas, a Secreta-ria da Infra-Estrutura do Governo do Estado do Cearápublicou em 2001 o “Atlas do Potencial Eólico do Esta-do do Ceará”. Também com a utilização da metodologiaWindMap, os mapas temáticos de velocidades médiasanuais de vento são apresentados na resolução de 500m,para as alturas de 50m e 70m. Destacaram-se as áreasde baixíssima rugosidade das dunas do litoral cearense,com velocidades médias anuais da ordem de 9m/s.A integração das áreas em software de geoprocessamentorevela um potencial aproveitável da ordem de 12,0 TWhna altura de 50m e de 51,9 TWh na altura de 70m, paraventos médios anuais superiores a 7m/s.

1.2 O BRASIL: GEOGRAFIA

Este ATLAS DO POTENCIAL EÓLICO cobre todo o terri-tório brasileiro. Com 8.514.215 km2, o Brasil é o quintopaís do mundo e o maior da América Latina em áreaterritorial. Estendendo-se entre as latitudes 5o16’N e33o45’S e longitudes 32o23’W e 73o59’W (figura 1.1), oBrasil apresenta distintas regiões imersas em várias zo-nas de climas e regimes sinóticos de circulação atmosfé-rica. Seus 7.367 km de extensão litorânea com o Oceano

* As obras correspondentes às referências em algarismos arábicos entre colchetes encontram-se listadas na página 45

O “Atlas do Potencial Eólico Nacional” [4], resultan-te desse trabalho, indicou a tendência a velocidadesmaiores de vento no litoral brasileiro e também emáreas do interior favorecidas por relevo e baixa rugosidade.O mapeamento por isolinhas das velocidades médias a10m de altura também possibilitou identificar locais commédias anuais entre 5m/s e 6m/s.

Todos esses estudos realizados até o final da décadade 1980 foram prejudicados pela consideração exclusivade registros anemométricos obtidos a alturas máximasde 10m. A maioria dos seus dados é mascarada pela in-fluência de rugosidade e obstáculos próximos; esses da-dos não são necessariamente representativos das áreasgeográficas em que estão instalados os equipamentos.Metodologias para a correção e extrapolação desses da-dos para alturas desejadas (WAsP, por exemplo) aindanão se achavam disponíveis na época. Mesmo que existis-sem, aplicá-las ao território brasileiro em toda a sua exten-são possivelmente implicaria custos e prazos excessivos,além de grandes margens de incerteza nos resultados.

Na década de 1990 iniciaram-se medições específicaspara inventários de potencial eólico em torres de maioraltura (>=20m) instaladas em locais especificamenteselecionados em diversas regiões do Brasil: litoral doCeará e Estados da Bahia, Minas Gerais e Paraná.

Page 11: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

10

Atlântico constituem um complexo indutor de mecanis-mos de mesoescala ao longo dos quais ocorrem brisasmarinhas de variadas amplitudes diurnas e sazonais.

O relevo interior (figura 1.2) contrapõe extensas pla-nícies com altitudes médias inferiores a 250m – entre asquais se destacam as da Amazônia, do Pantanal e do RioGrande do Sul – aos planaltos que se estendem do sulaté a região central, com altitudes médias entre 750m e1.000m. Ao contrário de seus vizinhos andinos a oeste, oBrasil não se caracteriza por grandes elevações. Em pou-cos locais a altitude ultrapassa 2.000m, e em seu pontomáximo, o Pico da Neblina (AM), atinge 3.014m.

No caso eólico, o relevo exerce distintas influênciasconforme o caso e a região: como obstáculo ao movi-mento da camada atmosférica inferior, como indutor defenômenos de mesoescala (brisas montanha-vale) ecomo gerador de ondas e acelerações orográficas. Comoa camada inferior da atmosfera tem espessura da ordemde 600m a 1.500m, áreas territoriais elevadas geralmen-te estão imersas em distintas camadas atmosféricas e re-gimes de vento.

Aliado aos regimes pluviais com origem no mecanis-mo de circulação atmosférica, o relevo brasileiro é res-ponsável pelo notável aproveitamento hidrelétrico reali-zado em suas bacias, destacando-se as dos rios Paraná-Paraguai, São Francisco e Araguaia-Tocantins. No finaldo século passado, a eletricidade de fonte hídrica supriacerca de 93% do consumo brasileiro. Visíveis na figura1.2, essas principais bacias e respectivas áreas alagadaspor reservatórios hidrelétricos encontram-se relativa-mente distantes dos principais centros de consumo, in-dicados em vermelho.

A população brasileira é de cerca de 170 milhões dehabitantes, 80% concentrados em centros urbanos e 20%dispersos no meio rural. Existem regiões de baixa densi-dade demográfica, a exemplo da Amazônia, em contrastecom regiões de alta densidade, como a Sudeste.

Grande parte do território nacional é coberto por flo-restas, como se apresenta na figura 1.3.

O Governo brasileiro, por intermédio do Ministériode Minas e Energia, vem desenvolvendo esforços para auniversalização da oferta de energia elétrica a todo o meiorural, bem como para a crescente e necessária interligaçãodo sistema elétrico em escala nacional. Além da expan-são territorial do sistema elétrico, as taxas de crescimen-to econômico de um país em desenvolvimento como oBrasil requerem a expansão contínua da capacidade ge-radora, a taxas compatíveis. Nesse contexto, a tecnologiaeólio-elétrica interligada à rede emerge como uma dasalternativas de geração complementar. Este ATLAS inse-re-se nas ações de inventário estratégico das fontesenergéticas existentes no território brasileiro.

1.3 SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

Em 1999, cerca de 93% do consumo total (315 TWh)de energia elétrica no Brasil foram supridos por usinashidrelétricas [6]. Desse percentual, 39,6% foram consu-midos pelos setores residencial e comercial; 44%, pelosetor industrial; e 3,9%, pelo setor agropecuário.

O desenvolvimento econômico do país potencializa ne-cessidades de expansão da oferta de energia em níveisacima de 5% ao ano, pelos próximos 10 anos [6].

Uma síntese do sistema elétrico brasileiro: geração,transmissão e centros urbanos é mostrada na figura 1.4,na qual pode-se notar:

o sistema de transmissão já é interligado em escalanacional, com tendência ao seu fortalecimento àmedida que novos investimentos programadosforem realizados;

os centros de consumo estão relativamente afasta-dos dos principais centros de geração, com distân-cias da ordem de 500km a 1.000km. O volumemaior de geração e consumo está concentrado naregião Sudeste;

áreas reconhecidamente importantes para oaproveitamento do potencial eólico no Brasil,como os litorais Nordeste e Sul, encontram-sepróximas às extremidades do sistema de transmis-são, distantes dos principais centros de geraçãoelétrica.

A figura 1.4 não mostra as malhas de subtransmissãoe distribuição elétrica, as quais também encontram-seem notável expansão no âmbito do programa governa-mental que visa ao atendimento de todos os consumi-dores rurais do país.

Em 1999, 94,9% das residências de todo o Brasil já eramatendidas com energia elétrica [6].

Figura 1.2 – Relevo Figura 1.3 – Mosaico de imagens compostas do satélite SPOT

Figura 1.1 – Posição geográfica do Brasil, projeção ortográfica

Page 12: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

11

Figura 1.4 – Síntese do sistema elétrico brasileiro: geração, transmissão e centros urbanos

Page 13: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

12

1.4 CLIMA E SAZONALIDADE

Pela sua extensão em latitude, o Brasil apresenta dife-rentes climas que variam do equatorial (úmido e semi-úmido), na região Norte, ao subtropical, na região Sul.Na figura 1.5 são apresentadas as médias climatológicassazonais de precipitação e temperatura [7], que ilustramos diferentes tipos de clima e suas sazonalidades. As ve-locidades médias sazonais de vento (a 50m de altura),resultantes do presente ATLAS, estão adicionadas à figu-ra 1.5 para ilustrar a complementaridade sazonal entreo potencial eólico e o hídrico, sendo este último funda-mentalmente associado à precipitação pluviométrica.

O norte do país é dominado pelo clima equatorial úmi-do, caracterizado por temperaturas médias superiores a25oC e chuvas acima de 2.000mm/ano. É a região da Flo-resta Amazônica, gerada e mantida pela maior intensi-dade pluviométrica, cuja causa é a Zona de Convergên-cia Intertropical (ZCIT), para onde convergem os ventosde superfície oriundos dos dois hemisférios terrestres.Uma área de clima equatorial semi-úmido ocorre maisao norte, abrangendo a metade nordeste do Estado deRoraima e o noroeste do Pará, com totais pluviométricosentre 1.500mm/ano e 2.000mm/ano.

O clima tropical abrange praticamente toda a costa,desde o Maranhão até partes de São Paulo, estende-se aoeste até Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, inclui par-tes do Nordeste e estados centrais como Goiás eTocantins. É caracterizado por chuvas com sazonalidadebem definida: estação seca de 4-5 meses (abril-setem-bro) e chuvosa (novembro-março). Essa sazonalidadetem importante papel energético no sistema elétrico bra-sileiro, de geração predominantemente hidráulica, poissuas principais bacias de aproveitamento têm origemnessa região (figura 1.2). Ao longo das serras de MinasGerais e São Paulo o clima é tropical de altitude, comtemperatura média anual pouco inferior a 20oC.

No Sertão nordestino destaca-se um enclave de climasemi-árido, com temperaturas médias anuais superioresa 25oC, pluviosidade inferior a 750mm/ano e longas es-tiagens de mais de 8 meses por ano. Abaixo do Trópicode Capricórnio (latitude 23o27’S) a região Sul é domi-nada pelo clima subtropical, cujas características térmi-cas e pluviométricas são similares às do clima tempera-do, com temperaturas médias anuais inferiores a 20oC echuvas bem distribuídas ao longo do ano.

As amplitudes térmicas anuais são menores na granderegião mais próxima ao Equador, aumentando em dire-ção ao extremo sul do país.

Entre os grandes fatores que influem no clima brasi-leiro estão a Zona de Convergência Intertropical ao nor-

te, móvel ao longo do ano e para a qual convergem osventos alísios; as distintas ações exercidas pelo relevocontinental, incluindo-se a formidável muralha à cir-culação atmosférica exercida pelo maciço dos Andesno extremo oeste do continente sul-americano; a açãocontínua da alta pressão do Anticiclone TropicalAtlântico; e a ação periódica irregular das massas de

ar polares que adentram as regiões Sul e Sudeste emmaior intensidade. A Amazônia representa uma re-gião bastante peculiar na Terra, pela extensão da áreaocupada por florestas equatoriais e pela intensidadee o volume em que ocorrem as trocas de energia entreágua e atmosfera, em um sistema superfície-atmos-fera fortemente acoplado.

Figura 1.5 – Médias climatológicas sazonais de temperatura, precipitação e velocidade de vento sobre o Brasil

Page 14: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

13

2.1 ORIGEM

O vento – atmosfera em movimento – tem sua ori-gem na associação entre a energia solar e a rotaçãoplanetária. Todos os planetas envoltos por gases emnosso sistema solar demonstram a existência de dis-tintas formas de circulação atmosférica e apresentamventos em suas superfícies. Trata-se de um mecanis-mo solar-planetário permanente; sua duração émensurável na escala de bilhões de anos. O vento éconsiderado fonte renovável de energia.

2.2 HISTÓRICO

Os primeiros aproveitamentos da força dos ventos pelohomem têm data bastante imprecisa, mas, certamente, ocor-reram há milhares de anos, no Oriente. Eram provavel-mente máquinas que utilizavam a força aerodinâmicade arrasto, sobre placas ou velas, para produzir trabalho.

Estima-se que a partir da Idade Média o homem pas-sou a utilizar em maior escala as forças aerodinâmicasde sustentação, permitindo as grandes navegações e tam-bém maior eficiência às máquinas eólicas. Possivelmen-te, máquinas eólicas movidas por forças de sustentaçãoforam introduzidas na Europa pelas Cruzadas, por vol-ta do século XI [8]. O certo é que no século XIV, naHolanda, essas máquinas já apresentavam grande evo-lução técnica e de capacidade em potência e ampla apli-cação como fonte de energia, principalmente em moa-gem de grãos, serrarias e bombeamento d’água. À épocada descoberta do Brasil, em 1500, havia muitos milharesde moinhos de vento em toda a Europa, da PenínsulaIbérica aos países nórdicos. Durante os séculos seguin-tes, as máquinas eólicas tiveram grandemente expandi-da a sua aplicação na Europa: em fabricação de papelpara atender à demanda após a invenção da imprensa,em produção de óleos vegetais e até em grandes projetosde drenagem [8]. Com a expansão do uso de máquinasa vapor, no século XIX, os moinhos de vento europeusentraram gradualmente em desuso.

Outro surto de aplicação em larga escala de máquinaseólicas deu-se nos Estados Unidos, no século XIX. Apósa abolição da escravatura naquele país, em 1863, inicia-se a disseminação da utilização do catavento multipá parabombeamento d’água. Cataventos multipás chegaram aser produzidos industrialmente em escalas de centenasde milhares de unidades/ano, por diversos fabricantes, oque possibilitou preços acessíveis a grande parte da po-

dispenderam esforços em pesquisa sobre utilização da ener-gia eólica para a geração elétrica. Data dessa época a turbi-na DEBRA 100kW, desenvolvida em conjunto entre os insti-tutos de pesquisa aeroespacial do Brasil e da Alemanha(DEBRA = DEutsche BRAsileira).

Entretanto, foi a partir de experiências de estímulo aomercado, realizadas na Califórnia (década de 1980),Dinamarca e Alemanha (década de 1990), que o apro-veitamento eólio-elétrico atingiu escala de contribuiçãomais significativa ao sistema elétrico, em termos de ge-ração e economicidade. O desenvolvimento tecnológicopassou a ser conduzido pelas nascentes indústrias dosetor, em regime de competição, alimentadas por meca-nismos institucionais de incentivo – especialmente viaremuneração pela energia produzida. Característicastambém marcantes desse processo foram: (a) devido àmodularidade, o investimento em geração elétrica pas-sou a ser acessível a uma nova e ampla gama de investi-dores; (b) devido à produção em escalas industriais cres-centes, o aumento de capacidade unitária das turbinas enovas técnicas construtivas, possibilitaram-se reduçõesgraduais e significativas no custo por kilowatt instaladoe, conseqüentemente, no custo de geração. O principalproblema ambiental inicial – impactos das pás em pás-saros – praticamente desapareceu com as turbinas degrande porte e menores velocidades angulares dosrotores. Por se mostrar uma forma de geração pratica-mente inofensiva ao meio ambiente, sua instalação pas-sou a simplificar os minuciosos – e demorados – estu-dos ambientais requeridos pelas fontes tradicionais degeração elétrica, bastando, em muitos casos, aos poderesconcedentes a delimitação das áreas autorizadas para suainstalação. Esse último fato, aliado às escalas industriaisde produção de turbinas, tornaram a geração eólio-elé-trica uma das tecnologias de maior crescimento na ex-pansão da capacidade geradora. A figura 2.1 apresenta aevolução cumulativa da capacidade eólio-elétrica insta-lada no mundo, até 31/12/2000 [10, 11].

pulação. Ao mesmo tempo em que constituiu um im-portante fator da economia, muitos historiadores atri-buem parcela do sucesso e da rapidez da expansão colo-nizadora do Oeste à disponibilidade de cataventosmultipás de baixo custo – que facilitaram o acesso à águae a fixação de apoios em grandes áreas áridas ou semi-áridas. A tabela 2.1 transcreve o U.S. Statistical Abstractde 1919 [9], que reporta a evolução da indústria decataventos multipás nos EUA ao longo de 40 anos. Esti-ma-se que mais de 6 milhões de cataventos multipás jáforam produzidos no mundo [8].

O uso do catavento multipás estadunidense expandiu-se pelos diversos continentes, inclusive no Brasil. Nadécada de 1880 encontrava-se quase uma dezena de fa-bricantes, em todo o país.

Para a geração de energia elétrica, também nos Esta-dos Unidos, a partir da década de 1930, iniciou-se umaampla utilização de pequenos aerogeradores para carre-gamento de baterias, o que favoreceu o acesso à energiaelétrica aos habitantes do meio rural. Entre 1930 e 1960,dezenas de milhares desses aerogeradores foram produ-zidos e instalados nos Estados Unidos, bem como ex-portados para diversos países. A produção dessas má-quinas foi desativada gradualmente nas décadas de 1950e 1960, à medida que as redes de eletrificação passarama dominar o atendimento rural.

A geração de eletricidade em grande escala, para ali-mentar de forma suplementar o sistema elétrico com o usode turbinas eólicas de grande porte, é tecnologia que existehá diversas décadas. Desde a fase ex-perimental, ressaltam-se os primei-ros aproveitamentos eólio-elétricosrealizados durante as décadas de1940 e 1950 nos Estados Unidos(Smith-Putnam) e Dinamarca(Gedser). Pode-se dizer que o pre-cursor das atuais turbinas eólicassurgiu na Alemanha (Hütter, 1955),já com pás fabricadas em materiaiscompostos, controle de passo e torretubular esbelta.

Na década de 1970 e até meadosda década de 1980, após a primeiragrande crise de preços do petróleo,diversos países – inclusive o Brasil –

Tabela 2.1 – Indústria de cataventos multipás nos EUA [13]

Figura 2.1 – Evolução mundial da capacidade eólico-elétrica instalada, em GW [9, 10]

Page 15: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

14

Como exemplo, apenas na Alemanha – densamentepovoada – foram adicionados 1.665 MW eólio-elétricosno ano 2000, totalizando 6.094,8 MW instalados naquelepaís até 31/12/2000 [10]. Em 2000, o incremento da ca-pacidade eólica também foi notável na Espanha, Índia eChina.

2.3 PRINCÍPIOS E TECNOLOGIA

Uma turbina eólica capta uma parte da energia cinéticado vento que passa através da área varrida pelo rotor e atransforma em energia elétrica. A potência elétrica é fun-ção do cubo da velocidade de vento v:

ρ = densidade do ar em kg/m3

Ar = π.D2/4, em que D é o diâmetro do rotorCp = coeficiente aerodinâmico de potência do rotorη = eficiência do conjunto gerador/transmissão

A absorção de energia cinética reduz a velocidade dovento a jusante do disco do rotor; gradualmente, essavelocidade recupera-se ao misturar-se com as massas dear predominantes do escoamento livre. Das forças desustentação aerodinâmica nas pás do rotor resulta umaesteira helicoidal de vórtices, a qual também gradual-mente dissipa-se. Após alguma distância a jusante daturbina, o escoamento praticamente recupera as condi-ções de velocidade originais e turbinas adicionais podemser instaladas, minimizando as perdas de desempenhocausadas pela interferência da turbina anterior. Na prá-tica, essa distância varia com a velocidade do vento, ascondições de operação da turbina, a rugosidade de ter-reno e a condição de estabilidade térmica vertical da at-mosfera. De modo geral, uma distância considerada se-gura para a instalação de novas turbinas é da ordem de10 vezes o diâmetro D, se instalada a jusante, e 5 vezesD, se instalada ao lado, em relação ao vento predomi-nante (figura 2.2).

A velocidade angular do rotor é inversamente propor-cional ao diâmetro D. Usualmente, a rotação é otimizadano projeto, para minimizar a emissão de ruído aerodinâ-mico pelas pás. Uma fórmula prática para a avaliação darotação nominal de operação de uma turbina eólica é:

rpm = 1150/D

À medida que a tecnologia propicia dimensões maio-res para as turbinas, a rotação reduz-se: os diâmetros derotores no mercado atual variam entre 40m e 80m, o queresulta em rotações da ordem de 30rpm a 15rpm, res-pectivamente. As baixas rotações atuais tornam as pásvisíveis e evitáveis por pássaros em vôo. Quanto aos ní-veis de ruído, turbinas eólicas satisfazem os requisitosambientais mesmo quando instaladas a distâncias daordem de 300m de áreas residenciais. Esses aspectos con-tribuem para que a tecnologia eólio-elétrica apresente omínimo impacto ambiental, entre as fontes de geraçãona ordem de gigawatts.

Turbinas eólicas de grande porte têm controle inteira-mente automático, por meio de atuadores rápidos,software e microprocessadores alimentados por sensoresduplos em todos os parâmetros relevantes. Usualmente,utiliza-se telemetria de dados para monitoramento deoperação e auxílio a diagnósticos/manutenção.

As curvas de potência fornecidas por fabricantes de tur-binas, geralmente medidas por órgãos credenciados eindependentes, usualmente referem-se a velocidades devento quase instantâneas (médias de 10 minutos) e densi-dade r = 1,225kg/m3 (ISA, 15oC ao nível do mar). Nocaso das temperaturas de grande parte do territóriobrasileiro, correções para a densidade do ar local sãonecessárias.

O cálculo da energia gerada – anual ou mensal – érealizado pela multiplicação dos valores de potência ge-rada pelo tempo de duração de ocorrência associado aintervalos de velocidades de vento. A duração de ocor-rência de uma velocidade v é aproximada por equações es-tatísticas (usualmente Rayleigh ou Weibull). A distribui-ção mais geral de Weibull é discutida no próximo capítulo.

Uma usina eólica é um conjunto de turbinas eólicasdispostas adequadamente em uma mesma área (figuras2.2 e 2.3). Essa proximidade geográfica tem a vantagemeconômica da diluição de custos: arrendamento de área,fundações, aluguel de guindastes e montagem, equipesde operação, manutenção e estoques de reposição. Usi-nas eólicas com turbinas de projeto consolidado e equipesde manutenção adequadamente capacitadas apresentamfatores de disponibilidade típicos da ordem de 0,98.

A figura 2.4 mostra a forma típica de curva de potên-cia de turbinas eólicas, e a figura 2.5, diferentes fases desua fabricação. Usualmente, a geração elétrica inicia-secom velocidades de vento da ordem de 2,5 - 3,0m/s; abai-xo desses valores, o conteúdo energético do vento nãojustifica aproveitamento. Velocidades superiores a apro-ximadamente de 12,0m/s a 15,0m/s ativam o sistema au-tomático de limitação de potência da máquina, que podeser por controle de ângulo de passo das pás ou por estolaerodinâmico, dependendo do modelo de turbina. Emventos muito fortes (v > 25m/s no exemplo), atua o sis-tema automático de proteção. Ventos muito fortes têmocorrência rara e negligenciável em termos de aprovei-tamento e a turbulência associada é indesejável para aestrutura da máquina; nesse caso, a rotação das pás éreduzida (passo ou estol) e o sistema elétrico do ge-rador é desconectado da rede elétrica.Figura 2.2 – Esteira aerodinâmica e afastamento entre turbinas eólicas

Figura 2.3 – Usina eólico-elétrica da Prainha, Ceará

Velocidade do vento na altura do rotor, em m/s

Figura 2.4 – Curva típica de potência de turbinas eólicas

Figura 2.5 – Vista geral da fabricação das pás e monta-gem da nacele (cortesia Wobben-ENERCON E TECSIS)

Page 16: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

15

3.1 O SISTEMA MESOMAP

O MesoMap é um conjunto integrado de modelos desimulação atmosférica, bases de dados meteorológicos egeográficos, redes de computadores e sistemas dearmazenamento. Seu desenvolvimento deu-se nos últi-mos três anos, com suporte do NYSERDA - New York StateEnergy Research and Development Authority e DoE -US Department of Energy. Além de no projeto inicial demapeamento eólico do Estado de New York, o MesoMaptem sido ou está sendo utilizado em projetos similaresnas Américas do Norte e Central, Europa e Ásia, e foiutilizado para o Brasil neste ATLAS. O MesoMap temsido aferido por medições anemométricas de alta quali-dade em uma grande variedade de regimes de vento.

O MesoMap oferece diversas vantagens sobre méto-dos tradicionais de mapeamento de recursos eólicos. Pri-meiro, ele obtém representatividade para grandes áreascontinentais sem a necessidade de dados anemométricosde superfície efetivamente medidos – característica im-portante para regiões como o Norte e o Centro-Oestebrasileiro, onde medições consistentes e confiáveis sãopoucas. Segundo, o MesoMap modela importantes fe-nômenos meteorológicos não considerados em modelosmais simplificados de escoamento de ventos (por exem-plo, WAsP – Jackson-Hunt, ou WindMap – NOABL). Es-ses fenômenos incluem ondas orográficas, ventosconvectivos, brisas marinhas e lacustres e ventos térmicosdescendentes de montanhas. Finalmente, o MesoMap si-mula diretamente os regimes de vento de longo prazo, di-minuindo a incerteza intrínseca de ajustes climatológicosbaseados em correlações de registros de vento de curto elongo prazos obtidos por medições em superfície.

3.1.1 MODELOS

O núcleo do Sistema MesoMap é o MASS (MesoscaleAtmospheric Simulation System), um modelo numéri-co de previsão de tempo, estado-da-arte no setor, de-senvolvido desde o início dos anos 1980 pela empresa MESO

Inc., que integra a joint-venture TrueWind Solutions e LLC.O MASS é similar a outros modelos de previsão de tempo,como ETA e Mm5. Ele incorpora os princípios físicos fun-damentais de movimentação atmosférica, que incluem:

conservação de massa, momentum e energia;

mudanças de fase do vapor d’água;

módulo de energia cinética com turbulência, quesimula os efeitos viscosos e de estabilidade térmicasobre o gradiente vertical de vento.

Como é um modelo dinâmico, o MASS simula a evolu-ção das condições atmosféricas em intervalos de temponecessariamente de poucos segundos. Disso resultamgrandes demandas computacionais, que requerem o usode supercomputadores ou redes de poderosas estaçõesde trabalho com múltiplos processadores em paralelo.Adicionalmente, o MASS também está acoplado a doismódulos de cálculo mais rápido: ForeWind, um modelodinâmico de camada-limite viscosa desenvolvido pelaTrueWind Solutions, e WindMap (versão especial adap-tada para esta finalidade), um modelo tridimensional deconsistência de massa com interface para dados geográ-ficos de geoprocessamento (SIG) de alta resolução, de-senvolvido pela Brower&Co, também integrante da joint-venture TrueWind Solutions. Para áreas e casos especí-ficos, um desses dois módulos é escolhido para aumen-tar a resolução espacial das simulações do MASS.

3.1.2 DADOS DE ENTRADA

Diversos dados geográficos e meteorológicos são uti-lizados como entrada para o Sistema MesoMap. Os prin-cipais dados geográficos de entrada são topografia, uso dosolo e índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN).

O modelo de relevo utilizado pelo MesoMap neste ATLAS

foi desenvolvido pela US Geological Survey (USGS), na for-ma de malha digital de cotas, a partir de diversas fontes dedados, com resolução horizontal de 1km. O modelo USGS

foi aferido e eventualmente corrigido em algumas áreas dosEstados do Ceará e de Santa Catarina, onde existiam mo-delos digitais em maior resolução desenvolvidos pelaCamargo Schubert a partir das curvas de nível de cartas1:50.000 ou 1:100.000 digitalizadas (SUDENE ou IBGE). A fi-gura 3.2(p.17) apresenta o modelo de relevo do Brasil ado-tado no ATLAS. Para efeito de visualização e síntese, às ima-gens está sobreposto o relevo sombreado com iluminação apartir da direção predominante geral sobre o Brasil – Les-te-Nordeste. Dessa forma são ressaltadas as encostas ex-postas e sombreados os declives mais pronunciados ajusante.

Os dados de uso do solo utilizados no presente ATLAS

foram produzidos em um projeto de cooperação entre a US

Geological Survey, a Universidade de Nebraska e o JointResearch Centre (JRC) da Comissão Européia. Assim comoos mapas de IVDN, seu desenvolvimento teve como base ainterpretação de dados do AVHRR - Advanced Very HighResolution Radiometer (Radiômetro Avançado de Reso-lução Muito Alta). Tanto os dados de uso do solo quantoos de IVDN são convertidos pelo MesoMap em parâmetrosbiofísicos tais como: modelos de rugosidade, albedo,emissividade, e outros. A resolução horizontal nominaldesses conjuntos de dados também é de 1km. O modelo derugosidade do território brasileiro adotado no ATLAS é apre-sentado na figura 3.4(p.19). Para comparação, um mosaico

de imagens SPOT é apresentado na figura 3.3(p.18).

Como foram utilizados modelos com resolução hori-zontal de 1km para os dados geográficos de entrada nasimulação para o presente ATLAS, os resultados de saídado Sistema MesoMap foram mapas de parâmetros esta-tísticos de vento – com maior interesse final nas veloci-dades médias – na resolução horizontal de 1km. Reso-luções maiores são plenamente possíveis para estudosposteriores, desde que os dados geográficos correspon-dentes estejam disponíveis.

Os principais dados de entrada meteorológicos foramos provenientes de reanálises, radiossondagens e tempe-raturas sobre a terra e os oceanos. Entre estes, têm maiorimportância as reanálises, que são constituídas de umbanco de dados em malha geográfica global. Nosmodelamentos deste ATLAS foi utilizado o banco de da-dos de reanálises produzido pelo US National Center forAtmospheric Research (NCAR). Esses dados contêm se-qüências de parâmetros meteorológicos dos principaisníveis de toda a atmosfera terrestre, em intervalos de 6 ho-ras. Em conjunto com dados existentes de radiossondas etemperaturas da superfície terrestre, os dados de reanálisesestabelecem as condições de contorno iniciais, bem comoas condições de contorno laterais atualizadas para a pro-gressão das simulações do MesoMap. Entretanto, o mo-delo determina por si a evolução das condiçõesmeteorológicas dentro da região em estudo, com basenas interações entre os distintos elementos da atmosferae entre a atmosfera e a superfície terrestre.

Como os dados de reanálises são estabelecidos em umamalha com resolução horizontal relativamente baixa, de200km, o Sistema MesoMap precisa ser rodado de formasucessiva em áreas que são subdivididas em mosaicos deresolução gradualmente maior, em que cada malha utilizacomo dados de entrada os parâmetros da respectiva regiãoanterior, até que a resolução desejada seja atingida. A ma-lha inicial pode abranger milhares de quilômetros.

3.1.3 O PROCESSO DE MAPEAMENTO

Os mapas de potencial eólico foram calculados a par-tir de simulações produzidas pelo MesoMap para 360dias, extraídos de um período de 15 anos. Os dias foramescolhidos por meio de amostragem estratificada alea-tória, de forma a considerar cada mês e estação do anode forma representativa.

De cada simulação foram geradas as variáveis de ven-to e meteorológicas (temperatura, pressão, umidade re-lativa, energia cinética turbulenta, fluxo de calor, e ou-tras) ao longo dos nós de malha do modelo. Essas variá-veis foram armazenadas em arquivos de dados horários.Ao término do processo para a área total do Brasil, osmilhares de arquivos de dados foram processados e sin-

Page 17: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

16

Figura 3.1 – Regiões utilizadas no cálculo de mesoescala

Page 18: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

17

Figura 3.2 – Modelo de relevo

Na resolução de 1km x 1kmDerivado do modelo GTOPO 30 - USGS [Ref.13]

Page 19: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

18

Figura 3.3 – Mosaico de imagens de satélite (SPOT Image), sobreposto ao relevo sombreado

Page 20: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

19

Figura 3.4 – Modelo de rugosidade, sobreposto ao relevo sombreado

Na resolução de 1km x 1kmDerivado principalmente do Modelo Global de Uso do Solo - USGS

[Ref.13]

Page 21: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

20

tetizados em formatos apropriadamente escolhidos, taiscomo mapas temáticos por códigos de cores que apre-sentam velocidades médias, mapas de rosa dos ventos,arquivos e gráficos contendo os parâmetros das distri-buições estatísticas associadas às velocidades de vento.

Numa etapa inicial, esse modelamento de mesoescalano MASS foi realizado para todo o território brasileiro naresolução de 15km. A partir da identificação das áreasde maior interesse quanto ao potencial eólico, sub-regi-ões foram modeladas novamente, com a resolução hori-zontal de 3,6km, para assegurar maior exatidão nos re-sultados, visto que essa resolução permite maiorrepresentatividade na simulação de mecanismos taiscomo brisas marinhas, descolamento de escoamento emrelevos complexos, entre outros.Testes realizados comresoluções inferiores a 3,6km não indicaram ganhossubstanciais nos resultados, com a contrapartida de tem-pos de processamento computacional aumentadosexponencialmente com a quantidade de elementos nosmodelos de entrada. A figura 3.1 apresenta as regiões si-muladas em resolução de 15km e 3,6km. A transposiçãodas simulações MASS na resolução de 3,6km para a reso-lução final de 1km foi realizada pelo WindMap.

3.2 RESULTADOS DO MESOMAP

Entre os principais resultados, destacam-se os mapastemáticos por códigos de cores, que permitem visualizaçãorápida do conjunto de dados sobre o território em estudo.O mapa de maior interesse indica, para a altura escolhidade 50m, as velocidades médias anuais e o fluxo de energiaeólica. No contexto do Sistema MesoMap, também podemser elaborados mapas de geração elétrica anual para qual-quer tipo específico de turbina eólica existente no mer-cado. O MesoMap também fornece, em forma tabular,todos os principais detalhes estatísticos do potencialeólico, tais como os regimes sazonais diurnos e diversosparâmetros de interesse usual no setor. A velocidademédia é o indicador mais simples da qualidade do po-tencial eólico e o mais usual em estimativas de geraçãoeólio-elétrica a partir de dados de desempenho de turbi-nas eólicas disponíveis. Ela é resultante da média dasvelocidades horárias de vento geradas no MesoMap, a50m de altura, para todos os dias de simulação:

(1)

em que N é o número total de horas simuladas e Vi, a

velocidade horária.

Um outro indicador, mais usual em estudos de potencialenergético, é a densidade de potência eólica: representa apotência cinética média do vento que flui através de umaunidade de área sempre perpendicular à sua direção, aolongo do ano. Ela é função da densidade do ar e do cubo

das velocidades médias horárias de vento e é expressa como:

(2)

A densidade do ar, ρ, é determinada pela temperaturado ar e a pressão atmosférica, ambas fornecidas pelo Sis-tema MesoMap.

Além dos mapas temáticos, o Sistema MesoMap pro-duz grande variedade de arquivos de dados numéricos,que detalham todos os principais parâmetros estatísti-cos relativos ao vento em cada elemento da malha geo-gráfica. Um deles é a rosa dos ventos com as respectivasdistribuições estatísticas de freqüências de velocidadespor setores nas direções geográficas. Essas distribuiçõesestatísticas podem ser combinadas para fornecer a dis-tribuição total das freqüências de cada local. A distribui-ção estatística utilizada é a de Weibull, que é a mais usu-al e apresenta melhor aderência aos casos mais variadosde regimes de vento dada por:

(3)

em que k é o fator de forma, sendo que valores maio-res de k indicam maior constância dos ventos, com me-nor ocorrência de valores extremos (figura 3.5). Valoresde k anuais variam tipicamente entre 2 e 3. Excepcional-mente, durante alguns meses do ano em regiões de ven-tos alísios, como no Nordeste brasileiro, o fator de for-ma pode atingir valores mensais superiores a 6 – sendoque existem registros até de k = 10,78 [12].

O fator de escala C tem relação com a velocidade média:

(4)

em que Γ é a função Gama. Uma aproximação útil paraC quando os valores de k estão entre 2 e 3 é dada por:

(5)

Os parâmetros k e C são calculados por ajuste com ascurvas de distribuição geradas pelo modelo MesoMap.Além das velocidades médias de vento, o ATLAS apre-senta mapas com o fator de forma k dos regimes anuaisde vento no Brasil. Da equação (4), o fator de escala Cpode ser calculado por:

(6)

Apesar de a aderência do ajuste por Weibull ser ade-quada para a grande maioria dos regimes estatísticos devento, é importante ter-se em mente que podem ocorrer

discrepâncias significativas com dados reais. Entretan-to, a distribuição de Weibull tem-se provado como ummétodo conveniente de caracterização de recursoseólicos. Com os dois fatores k e C e com a densidademédia do ar, é geralmente possível estimar a produçãoanual de uma turbina eólica com boa exatidão.

3.3 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Apesar de ser reconhecidamente um dos métodos me-lhores e mais avançados para mapeamento de recursoseólicos, o Sistema MesoMap ainda tem limitações quepodem afetar a exatidão das estimativas de potencialeólico. Entre essas principais limitações podem-se citar:erros na base de dados de entrada, efeitos de sub-resolu-ção, e limitações do modelo.

3.3.1 ERROS NA BASE DE DADOS DE ENTRADA

Tanto as bases de dados geográficos quanto demeteorológicos utilizados podem eventualmente contererros que afetam as estimativas do MesoMap. Eventuaiserros na base topográfica tendem a apresentar impactosapenas de caráter localizado. A margem nominal de in-certeza nas malhas de cotas utilizadas é de 30m na mai-or parte do modelo. No entanto, nas áreas cobertas peloDigital Chart of the World, essa margem de erro podeatingir até 160m.

Erros eventuais nos modelos de uso do solo e IVDN te-riam impactos mais consideráveis. A exatidão horizon-tal de posicionamento nesses modelos, apesar da reso-lução nominal de 1km, pode eventualmente ser superior aesse valor, dependendo do ângulo em que as medições dosatélite foram realizadas. Como avaliação conservativa,pode-se considerar que a margem de incerteza é da ordemde 2-3km. Adicionalmente, erros podem ocorrer na clas-sificação de uso do solo em razão das dificuldades ine-rentes à interpretação da radiometria por satélite. Umexercício independente de validação foi conduzido so-bre os dados da base de uso do solo,por pesquisadoresda Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. O es-tudo verificou que, em casos nos quais uma equipe de

Figura 3.5 – Freqüência de ocorrência de vento baseada na Distri-buição de Weibull, para diferentes valores de kkkkk

Page 22: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

21

três pesquisadores estava em acordo unânime acerca dedeterminado tipo de uso do solo, a base de dados resul-tante estava correta em 79% dos casos. Entretanto, erroseventuais de classificação entre tipos similares de classesde vegetação terão impacto mínimo nas propriedades desuperfícies importantes para o modelo (rugosidade,albedo, etc.). Se as classes de uso do solo são agrupadaspor classes de rugosidade, por exemplo, a exatidão ob-servada aumentou para 88% [13]. Entretanto, a freqüên-cia estimada para associações incorretas de classes derugosidade (12%) é substancial.

Erros podem também ocorrer nos dados meteo-rológicos. Entretanto, o Sistema MesoMap é relativa-mente insensível a tais erros por duas razões. Primeiro,os dados de reanálises são utilizados apenas para se es-tabelecerem as condições iniciais e para se atualizaremas condições laterais de contorno, enquanto o modelodetermina a coerência da evolução dos parâmetrosmeteorológicos dentro de cada mesorregião. Segundo,as equações físicas no modelo forçam a reconciliação en-tre as variáveis físicas, tendendo a suprimir erros de me-dição isolados ou sistemáticos.

Por exemplo, se uma estação radiossonda registra comerro sistemático as direções e velocidades de vento mas atemperatura é registrada corretamente, os dados de ven-to serão prontamente suprimidos do modelo MesoMapdevido à sua inconsistência com a temperatura e os gra-dientes de pressão. Da mesma forma, determinadas in-fluências topográficas – tais como serras altas ou gran-des ilhas – tendem a estar ausentes do banco de dadosde reanálises, devido à baixa resolução de sua malha dedados. Tais influências são introduzidas na resolução decálculo do MesoMap, o que reconcilia as condições ini-ciais com a topografia muito mais detalhada.

3.3.2 EFEITOS DE SUBESCALA

Como qualquer modelo físico que utiliza técnicas deelementos finitos, o Sistema MesoMap é vulnerável aerros causados por terreno ou outras características geo-gráficas que não podem ser totalmente resolvidas na re-solução da malha do modelo. Como exemplo, conside-re-se o caso da figura 3.6, na qual a forma detalhada damontanha não aparece no modelo de resolução 1km.A velocidade do vento no topo da montanha será dife-rente da velocidade em sua base, podendo serem distin-tas da velocidade estimada pelo modelo na resolução1km. De forma similar, podem existir variações signifi-cativas de uso do solo (rugosidade ou obstáculos) den-tro de uma célula da malha do modelo, causando varia-ções na velocidade de vento medida. Esses efeitos locais,não captados pela resolução do modelo, podem afetar asvelocidades estimadas para 50m com uma significativaporcentagem em relação ao real.

Apesar de esses efeitos não poderem ser avaliados di-retamente sem um modelamento em resolução muitomais fina, a faixa de velocidades possíveis de ocorreremdentro de uma célula do modelo – devida a tais efeitosde variações de rugosidade e/ou topografia na subescala– pode ser aproximada por estimativa. O relevo (a dife-rença entre as cotas máxima e mínima dentro de uma dadacélula) não é fortemente dependente da escala da malha e,portanto, essa faixa de variações do relevo na subescala podeser estimada a partir dos dados em resolução 1km. Às cotaspodem então ser associadas faixas de velocidades de vento(estimativa aproximada). O efeito potencial de variaçõesde rugosidade pode ser calculado pelas equações conheci-das da física de camada-limite.

Alguns processos atmosféricos, tais como convecção eturbulência, também não podem ser totalmente resolvi-dos na escala de malha do modelo. Tais processos preci-sam ser parametrizados, ou seja, seus efeitos devem serestimados com o uso de conhecidas equações que utili-zam parâmetros disponíveis na escala do modelo. Comonenhum esquema de parametrização é perfeito, erros naestimativa de velocidade de vento podem eventualmen-te ocorrer, especialmente onde os processos na subescalada malha sejam significativos. Um exemplo é o processoconvectivo localizado que ocorre nos trópicos. Felizmen-te, esses efeitos tendem a ocorrer aleatoriamente na na-tureza e a sua média tenderá a zero nas centenas de si-mulações realizadas no modelo.

Brisas marinhas também não podem ser totalmenteresolvidas, pois a sua existência depende do desenvolvi-mento de gradientes térmicos fortes, localizados ao lon-

go da faixa litorânea, enquanto, no modelo, o gradientede temperatura é limitado à escala de sua resolução. Essalimitação significa que existe uma tendência a que asvelocidades próximas à costa sejam subestimadas. Paraminimizar esse efeito, o modelo de mesoescala para aprincipal extensão da costa brasileira foi rodado na reso-lução de 3,6km (figura 3.1). Essa escolha foi validadapor simulações realizadas com resoluções progressiva-mente maiores, as quais indicaram que os erros induzi-dos pela resolução de 3,6 km (no modelo de mesoescala)já eram suficientemente pequenos.

3.3.3 LIMITAÇÕES DO MODELO

Fora os inevitáveis efeitos de subescala, existem limi-tações na formulação das equações do modelo que po-dem introduzir erros nas estimativas de velocidades devento, sob certas condições.

Uma das principais fontes de erros eventuais é a hipó-tese de taxa fixa numérica lateral de difusão de tempera-tura ao longo da declividade de terreno, que pode resul-tar em um gradiente incorreto de temperatura entre va-les e topos de montanhas. Em particular, sob condiçõestermicamente estáveis em terreno íngreme, vales podemtornar-se demasiado quentes e os topos de montanhas,demasiado frios, o que resulta em um vento descenden-te de montanha superestimado. No entanto, deve-seenfatizar que tais eventos são relativamente raros e tes-tes têm indicado que teriam pequeno impacto na exati-dão das estimativas de velocidades médias de vento.

3.4 VALIDAÇÃO DO MESOMAP

A exatidão do Sistema MesoMap tem sido testada ex-tensivamente pela comparação com medições confiáveisde vento, em distintos locais do mundo. No caso do pre-sente mapeamento eólico brasileiro, dentre todas as es-tações anemométricas com dados disponibilizados parao presente ATLAS, foram selecionadas apenas aquelas quesatisfaziam condições mínimas de qualidade: mediçõescom abrangência mínima de 01 ciclo climatológico (emalguns casos obtida por ajustes climatológicos), infor-mações sobre relevo e rugosidade no seu entorno e au-sência de obstáculos próximos em relação aos ventos pre-dominantes. Todos os dados anemométricos foramextrapolados para a altura de 50m, a partir de mediçõesem diferentes alturas, ou por informações de rugosidadelocal nos casos de medições em altura única, e compara-dos aos resultados do mapa de velocidades médias anu-ais, para cada local. Essa comparação é apresentada natabela 3.1(p.22), em que se observa que, dentre todas asestações aferidas com o mapa calculado, o desvio-padrãodas diferenças cálculo-medição foi de 7,5%. Vale obser-var que algumas das medições, especialmente aquelasobtidas em baixa altura e extrapoladas para 50m, podemconter incertezas superiores a 10%.

Figura 3.6 – Exemplo de detalhes nasubescala: Rio de Contas, BA

Page 23: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

22

A transposição das simulações MASS na resolução de3,6km para a resolução final de 1km foi realizada peloWindMap, que utilizou os dados medidos – extrapoladospara a altura de 50m – para a convergência do modelamentode camada-limite com conservação de massa. Para algu-mas estações, especialmente da COELBA, COPEL e CELESC,modelos digitais de terreno estavam disponíveis em re-solução maior e ajustes adicionais foram efetuados paracorreção do modelo de rugosidade utilizado no entornodaquelas estações.

As estações que apresentaram maior discrepância en-tre os valores calculados e aqueles medidos localizam-se em sua maioria em relevo complexo (efeitos de

subescala) ou em locais nos quais o modelo de relevoapresentava as maiores diferenças em relação aos valo-res reais de altitude. Tomando-se esses poucos casos, comdiferenças entre cálculo e medição próximas ou superi-ores a 10%, e aplicando-se uma correção de velocidadespela altitude, obtida por regressão linear entre os dados(figura 3.7), obtêm-se os resultados da tabela 3.2. A gran-de coerência na redução dos desvios em velocidade obti-dos na tabela 3.2 é um indício muito forte de que asmaiores diferenças entre velocidades (calculada - medi-da) deve-se a discrepâncias no modelo de relevo ou prin-cipalmente a efeitos de subescala.

A magnitude dos desvios entre os valores de velocida-des médias anuais no cálculo e aquelas medidas nas me-

lhores estações anemométricas disponíveis indica que opresente ATLAS pode ser utilizado para a identificaçãodas melhores áreas para projetos de aproveitamentoseólio-elétricos. Entretanto, como a energia eólica é ex-tremamente sensível a condições de microescala, da or-dem de dezenas a centenas de metros, alerta-se que aresolução de 1km x 1km pode ser insuficiente para a lo-calização exata das turbinas eólicas. A análise anteriortambém revela a possibilidade de ocorrência, eventual elocalizada, de discrepâncias nos modelos de relevo erugosidade utilizados. Assim, no caso mais geral, reco-menda-se que a implantação de projetos eólio-elétricos sejaprecedida das ações necessárias e compatíveis com os crité-rios técnicos e econômicos de investimentos no setor.

Figura 3.7 – Regressão linear para ajuste de velocidade(correção de discrepâncias em altitude)

Tabela 3.2 – Ajuste para altitude por regressão linear

Tabela 3.1 – Comparação: cálculos x medições

Page 24: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

23

4.1 REGIMES DE VENTO SOBRE O BRASIL

A distribuição geral dos ventos sobre o Brasil é contro-lada pelos aspectos da circulação geral planetária da at-mosfera próxima, conforme se apresenta na figura 4.1.Dentre esses aspectos, sobressaem os sistemas de altapressão Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul e doAtlântico Norte e a faixa de baixas pressões da Depres-são Equatorial.

da Argentina – centro de baixas pressões a leste dos Andes.

Esse perfil geral de circulação atmosférica encontra va-riações significativas na mesoescala e na microescala, pordiferenças em propriedades de superfícies, tais como ge-ometria e altitude de terreno, vegetação (a figura 4.2(p.24) apresenta o modelo de vegetação do Brasil) e dis-tribuição de superfícies de terra e água. Esses fatores atu-antes nas escalas menores podem resultar em condiçõesde vento locais que se afastam significativamente do perfilgeral da larga escala da circulação atmosférica. Uma sín-tese dessas características em menores escalas sobre a dis-tribuição dos regimes de vento é apresentada a seguir,organizada em 7 regiões geográficas: (1) Bacia Amazô-nica Ocidental e Central; (2) Bacia Amazônica Orien-tal; (3) Zona Litorânea Norte-Nordeste; (4) Zona Lito-rânea Nordeste-Sudeste; (5) Elevações Nordeste-Sudes-te; (6) Planalto Central; (7) Planaltos do Sul.

A Bacia Amazônica Ocidental e Central estende-se apro-ximadamente entre as latitudes 10o S e 5o N, e longitu-des 70o W e 55o W. As velocidades médias anuais de ven-to a 50m de altura através dessa região são inferiores a3,5m/s. O escoamento atmosférico predominante de leste(alísios) sobre essa região é bastante reduzido pelo atri-to de superfície associado à longa trajetória sobre flores-tas densas e pelos gradientes fracos de pressão associa-dos à zona difusa de baixas pressões centrada nessa re-gião da Bacia Amazônica. Apesar de não refletida nosventos de superfície, existe uma faixa estreita de ventosmédios anuais de 8m/s a 10m/s na camada entre 1.000me 2.000m acima da superfície; essa faixa inicia-se noAtlântico, a leste da foz do Rio Amazonas, e estende-separa oeste sobre a porção norte da Bacia Amazônica egradualmente se enfraquece à medida que o escoamen-to aproxima-se das cadeias montanhosas da parte oestedo continente. Essa faixa de altas velocidades tem poucosignificado para os ventos de superfície na Bacia Ama-zônica, porém torna-se uma fonte de energia eólica paraas áreas mais elevadas que ocorrem no extremo norte daBacia Amazônica: é ela que muito provavelmente cons-titui o principal fator para a existência de uma área iso-lada de altas velocidades médias anuais de vento na re-gião da Serra Pacaraima, em Roraima, ao longo da fron-teira Brasil-Venezuela. Naquela área, esse escoamentode altitude alcança os níveis da superfície dos terrenosmais elevados, grande parte dos quais cobertos pela bai-xa rugosidade de savanas, onde em alguns locais tam-bém ocorrem canalizações orográficas. Entretanto, ex-cetuando-se essa área isolada e única na região, os ven-tos nessa grande área da Bacia Amazônica são bastantefracos. As noites são geralmente de calmarias, ocorren-do ventos descendentes de montanhas, fracos e ocasio-nais, nas áreas a leste e a sul dessa grande região. Du-rante o dia, podem ocorrer ventos localizados mais for-

tes, causados pelo aquecimento desigual da superfície,induzidos por pequenas diferenças em vegetação, dis-ponibilidade hídrica do solo ou cobertura de nuvens.No entanto, é pequena a magnitude das velocidadesde vento geradas por esse processo, devido à baixaamplitude das variações de temperatura e à altarugosidade/atrito de superfície.

A Bacia Amazônica Oriental abrange a área continen-tal a partir da longitude 55° W (Santarém, PA) até apro-ximadamente 100km da costa que se estende entre oAmapá e o Maranhão. A Depressão Equatorial perma-nece geralmente próxima a essa região, a qual é domi-nada por ventos alísios de leste a nordeste, em sua por-ção norte, e leste a sudeste, em sua porção sul. O ventomédio anual é geralmente inferior a 3,5m/s devido à pro-ximidade dos gradientes fracos de pressão associados àDepressão Equatorial e ao elevado atrito de superfíciecausado pela rugosidade da vegetação densa. Existe umgeneralizado, porém pequeno, aumento nas velocidadesde vento de oeste para leste ao longo dessa região. Issoacontece porque o escoamento predominante de lestepercorre trajetórias gradualmente menores sobre as áre-as de vegetação densa e o gradiente de pressão aumentagradualmente para o leste, devido aos contrastes térmi-cos mais acentuados entre continente e mar. As máxi-mas velocidades médias anuais de vento nessa região sãoencontradas nas porções nordeste e sudeste, onde exis-tem elevações de terreno que aceleram os ventos peloefeito de compressão vertical do escoamento atmosféri-co, e especialmente na porção nordeste, onde algumaselevações alcançam as velocidades de vento de camadasmais altas da atmosfera atuantes nessa área.

A Zona Litorânea Norte-Nordeste é definida como a fai-xa costeira com cerca de 100km de largura, que se esten-de entre o extremo norte da costa do Amapá e o Cabo deSão Roque, no Rio Grande do Norte. Nessa região, osventos são controlados primariamente pelos alísios deleste e brisas terrestres e marinhas. Essa combinação dasbrisas diurnas com os alísios de leste resulta em ventosmédios anuais entre 5m/s e 7,5m/s na parte norte dessaregião (litorais do Amapá e Pará) e entre 6m/s a 9m/sem sua parte sul, que abrange os litorais do Maranhão,Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. As velocidades sãomaiores na parte sul devido a dois principais fatores: (1)os ventos alísios geralmente tornam-se mais fortes à me-dida que se afastam da Depressão Equatorial; (2) as bri-sas marinhas são significativamente acentuadas ao suldessa região em razão dos menores índices de vegetaçãoe de umidade do solo, fazendo que a superfície do soloatinja temperaturas mais elevadas durante as horas desol e, conseqüentemente, acentuando o contraste de tem-peraturas terra-mar e as brisas marinhas resultantes. Asmaiores velocidades médias anuais de vento ao longo

A posição média da Depressão Equatorial estende-sede oeste a leste ao longo da região Norte do Brasil e so-bre o Oceano Atlântico adjacente. Ela coincide com alocalização e orientação da Bacia Amazônica, no centroda qual existe uma faixa persistente de baixas pres-sões. A Depressão Equatorial é geralmente uma zona depequenos gradientes de pressão e ventos fracos. Ao norteda Depressão Equatorial os ventos são persistentes de lestea nordeste. Ao sul, os ventos são persistentes de leste a su-deste entre a Depressão Equatorial e o AnticicloneSubtropical Atlântico, o qual tem uma posição média anualpróxima a 30oS, 25oW. Esse perfil geral de circulação at-mosférica induz ventos de leste ou nordeste sobre o ter-ritório brasileiro ao norte da Bacia Amazônica e no lito-ral nordeste. Os ventos próximos à superfície são geral-mente fracos ao longo da Depressão Equatorial, porémaumentam de intensidade ao norte e ao sul dessa faixa.A área entre a Depressão Equatorial e a latitude de 10oSé dominada pelos ventos alísios de leste a sudeste. Ao sulda latitude 10oS, até o extremo sul brasileiro, prevale-cem os efeitos ditados pela dinâmica entre o centro dealta pressão Anticiclone Subtropical Atlântico, os deslo-camentos de massas polares e a Depressão do Nordeste

Figura 4.1 – Distribuição geral dos ventos

Page 25: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

24

dessa região estão ao norte do Cabo de São Roque, abran-gendo os litorais do Rio Grande do Norte e Ceará, ondea circulação de brisas marinhas é especialmente intensae alinhada com os ventos alísios de leste-sudeste. Adicio-nalmente, ocorrem áreas em que os ventos são acentua-dos por bloqueios ao escoamento causados por monta-nhas na parte continental. Entretanto, o vento médioanual decresce rapidamente à medida que se desloca dacosta para o interior, devido ao aumento de atrito erugosidade de superfície e ao enfraquecimento da con-tribuição das brisas marinhas.

A Zona Litorânea Nordeste-Sudeste é definida como afaixa de aproximadamente 100km de largura que se es-tende entre o Cabo de São Roque (RN) até aproximada-mente o Estado do Rio de Janeiro. As velocidades médi-as anuais decrescem de 8-9 m/s na porção norte (RioGrande do Norte) até 3,5m/s a 6m/s sobre a maioria dacosta que se estende até o Sudeste. A exceção mais signi-ficativa desse comportamento está na costa entre as lati-tudes 21o S e 23o S (sul do Espírito Santo e nordeste doRio de Janeiro), onde as velocidades são próximas de7,5m/s. Isso é resultante do efeito de bloqueio do escoa-mento leste-nordeste (causado pelo AnticicloneSubtropical Atlântico) pelas montanhas imediatamentea oeste da costa. Nesse caso, é criada uma espécie de ace-leração por obstáculo, pois o ar acelera-se para o sul paraaliviar o acúmulo de massa causado pelo bloqueio dasformações montanhosas. Ao sul dessa região, a costa doEstado do Rio de Janeiro desvia-se para oeste, onde osventos passam a ser consideravelmente mais fracos de-vido ao abrigo das montanhas a norte e a nordeste. Dis-so resultam velocidades relativamente menores na regiãoque engloba a cidade do Rio de Janeiro.

As Elevações Nordeste-Sudeste são definidas como asáreas de serras e chapadas que se estendem ao longo dacosta brasileira, desde o Rio Grande do Norte até o Riode Janeiro, a distâncias de até 1.000km da costa. Veloci-dades médias anuais de 6,5m/s até 8m/s devem ser en-contradas nos cumes das maiores elevações da ChapadaDiamantina e da Serra do Espinhaço. Essas áreas demaiores velocidades ocorrem em forma localizada, pri-mariamente devido ao efeito de compressão vertical doescoamento predominante em larga escala, que é leste-nordeste, quando ultrapassa a barreira elevada das ser-ras. Os ventos anuais mais intensos são geralmente en-contrados nas maiores elevações, onde o efeito de com-pressão é mais acentuado. No entanto, o escoamento at-mosférico é bastante complexo nessa região, existindooutras características locais com influência adicional, re-sultantes de uma combinação de fatores relacionados àtopografia e ao terreno.

O Planalto Central está ao sul da Bacia Amazônica eestende-se desde a margem esquerda da Bacia do Rio

São Francisco até as fronteiras com Bolívia e Paraguai.Essa região é dominada pelo escoamento leste-sudesteem torno do Anticiclone Subtropical Atlântico. A velo-cidade média anual na região situa-se geralmente entre4m/s e 6m/s. A intensidade do escoamento de leste pre-dominante em larga escala aumenta para o sul, onde ogradiente de pressão é mais acentuado e a superfície temmenor rugosidade, pela vegetação menos densa. Assim,as velocidades médias anuais de vento variam de 3m/s a4m/s ao norte dessa região (no limite sul da Bacia Ama-zônica) para 5m/s a 6m/s sobre a porção sul do extensoplanalto. Destacam-se nessa área algumas regiões mais ele-vadas a oeste, na fronteira com o Paraguai (no Mato Gros-so do Sul), onde as velocidades médias anuais aproximam-se de 7m/s, resultantes principalmente do efeito de com-pressão vertical do escoamento ao transpor as elevações.

Na região mais ao sul do Brasil estão os Planaltosdo Sul, que se estendem aproximadamente de 24°S(São Paulo) até os limites ao sul do Rio Grande do Sul.O escoamento atmosférico geral nessa área é controladopela Depressão do Nordeste da Argentina, uma área

quase permanente de baixas pressões, geralmente esta-cionária ao leste dos Andes sobre planícies secas e o An-ticiclone Subtropical Atlântico. A posição média da De-pressão do Nordeste da Argentina é aproximadamente29°S, 66°W, sendo criada pelo bloqueio da circulação at-mosférica geral pelos Andes e por intenso aquecimentoda superfície na região.

O gradiente de pressão entre a Depressão do Nordesteda Argentina e o Anticiclone Subtropical Atlântico in-duz um escoamento persistente de nordeste ao longodessa área. Desse escoamento resultam velocidades mé-dias anuais de 5,5m/s a 6,5m/s sobre grandes áreas daregião. Entretanto, esse escoamento é significativamen-te influenciado pelo relevo e pela rugosidade do terreno.Os ventos mais intensos estão entre 7m/s e 8m/s e ocor-rem nas maiores elevações montanhosas do continente,bem como em planaltos de baixa rugosidade, como osCampos de Palmas. Outra área com velocidades superio-res a 7m/s encontra-se ao longo do litoral sul, onde osventos predominantes leste-nordeste são acentuados pelapersistente ação diurna das brisas marinhas.

Figura 4.2 – Mosaico de imagens de satélite (SPOT Image),sobreposto ao modelo de relevo

Page 26: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

25

VELOCIDADES MÉDIAS ANUAIS E FLUXOS

DE POTÊNCIA EÓLICA

DIREÇÕES PREDOMINANTES

REGIMES DIURNOS – MÉDIA ANUAL

K – FATOR DE FORMA DE WEIBULL –MÉDIA ANUAL

Page 27: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 28: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 29: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 30: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 31: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

VELOCIDADES MÉDIAS TRIMESTRAIS

RAZÃO ENTRE A VELOCIDADE MÉDIA

TRIMESTRAL E A ANUAL

DIREÇÕES PREDOMINANTES

K – FATOR DE FORMA DE WEIBULL –MÉDIAS SAZONAIS

Page 32: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 33: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 34: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 35: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 36: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

NORTE

NORDESTE

CENTRO-OESTE

SUDESTE

SUL

Page 37: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 38: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 39: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 40: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 41: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf
Page 42: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

43

5.1 POTENCIAL EÓLIO-ELÉTRICO

ESTIMADO

O ATLAS apresenta as condições médias anuais de ventopara todo o território brasileiro na resolução de 1km x1km.

Por meio da integração dos mapas digitais, utilizan-do-se recursos de geoprocessamento e cálculos de de-sempenho e produção de energia elétrica a partir de cur-vas de potência de turbinas eólicas existentes no merca-do, chegou-se aos valores listados na tabela 5.1.

Esse processo indicativo foi realizado considerando-se as seguintes premissas:

Foram integradas todas as áreas que apresentaramvelocidades médias anuais iguais ou superiores a 6m/s.

Foram consideradas curvas médias de desempe-nho de turbinas eólicas no estado-da-arte mundial,instaladas em torres de 50m de altura.

Para essa estimativa, foi utilizada uma densidademédia de ocupação de terreno de apenas 2 MW/km2. Esse valor é considerado conservativo, umavez que representa cerca de 20% do realizável porusinas eólicas em terrenos planos.

Foram adotados intervalos com incrementos de 0,5m/s para as velocidades médias anuais de vento. Odesempenho de turbinas eólicas foi calculado paraos limites inferiores de cada intervalo.

Foi adotado um fator de disponibilidade de 0,98,considerado típico para usinas eólicas comerciais.

Foram descartadas da integração as áreas cobertaspor água (lagos e lagoas, açudes, rios e mar).

Os resultados da integração, por faixas de velocidade,são apresentados na tabela 5.1 e na figura 5.1(p.44), porregiões.

A partir desses resultados, estimou-se um potencialdisponível (segundo as premissas anteriores) da ordem de143 GW, conforme se mostra na coluna Integração Cumu-lativa da tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Potencial eólico-elétrico estimado do Brasil, calculado por integração de áreas nos mapas temáticos,a partir das premissas apresentadas ao lado

Page 43: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

44

Figura 5.1 – Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s

Page 44: Atlas do Potencial Eolico Brasileiro.pdf

45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] DADOS DE Vento de Superfície nos PrincipaisAeroportos do Brasil. IAE/CTA, s.d.

[2] ENERGIA Eólica: Inventário / Tecnologia. v. IIe V. Fontes Energéticas Brasileiras, CHESF, 1987.

[3] ATLAS DO Levantamento Preliminar doPotencial Eólico Nacional. ELETROBRÁS-CONSULPUC. S.d. Convênio ECV-192/79

[4] ATLAS DO Potencial Eólico Nacional.ELETROBRÁS / Fundação Padre LeonelFranca, Centrais Elétricas Brasileiras, 1988.

[5] BITTENCOURT, R., ALMEIDA G. eCARPENTIERI, E. Potencial eólico no litoral doCeará e Rio Grande do Norte para geração deenergia elétrica. CHESF, out.1996. DEFA-EO-RT-002/96 rev.1.

[6] BALANÇO Energético Nacional 2000 - AnoBase 1999. Brasília: DNDE Secretaria de Ener-gia, Ministério de Minas e Energia, 2000.

[7] LEGATES, D. R. e WILLMOTT, C. J. Monthlyaverage surface air temperature and precipitation.digital raster data on a 30 minute cartesianorthonormal geodetic (lat/long) 360x720grid. In:Global ecosystems database. Version 2.0. Boulder,CO: NOAA National Geophysical Data Center.Forty-eight independent and four derived single-attribute spatial layers. 47,846,439 bytes in 194files. 1992. [first published in 1989]

[8] ELDRIDGE, F.R. Wind machines. VanNostrand, 1980.

[9] TORREY, V. Wind catchers, american windmillsof yesterday and tomorrow. The Stephen GreenePress, 1976.

[10] REHFELDT, K. e CHRISTIAN, S. -

Windenergienutzung in der BundesrepublikDeutschland - Stand 31.12.2000. DEWIMAGAZIN, Wilhelmshaven, n.18, Feb. 2001.

[11] THE WINDICATOR: Operating Wind PowerCapacity. Windpower Monthly, v.17, n.4, Apr. 2001.-

[12] ESTADO DO CEARÁ - Secretaria da Infra-Estrutura do Governo/Camargo SchubertEngenharia Eólica. Atlas do potencial eólico. Mar.2001.

[13] US Geological Survey EROS Data Center,"Global Land Cover Characteristics Data Base" -Section 6.0 (http://edcdaac.usgs.gov/glcc/globdoc2_0.html)

[14] TEN-YEAR Expansion Plan 1999/2008. GCPS,Eletrobrás, Ministry of Mines and Energy, s.d.

[15] FRANCHITO, S. H. e KOUSKY, V. E. Ummodelo numérico para simulação das circulaçõeslocais, aplicado à região costeira do Nordeste doBrasil. INPE-2270-PRE/051. s.d.

[16] GOMES FILHO, M. F. Um estudo sobre ainfluência do albedo diferencial e da orografia nacirculação atmosférica: uma aplicação para oNordeste brasileiro. INPE-1640-TDL/015.s.d.

[17] ROCHA, N. A.; SCHULTZ, D.;BITTENCOURT, R.; AMARANTE, O.A.C. doe SUGAI, M. Estabilização sazonal da oferta deenergia através da complementaridade entre osregimes hidrológico e eólico. XV SNPTEE -SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃOE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRI-CA. Grupo de Planejamento de SistemasElétricos. Foz do Iguaçu, PR, 17-22/out.1999.

[18] PETERSEN, N., MORTENSEN, N. G.,

LANDBERG, L, HOEJSTRUP, J. e FRANK, H.P. Wind Energy, Wiley InterScience, v.1, n.1, p.2-22, 1998. Wind power meteorology. Part I:Climate and turbulence.

[19] PETERSEN, N., MORTENSEN, N.G.,LANDBERG, L, HOEJSTRUP, J. e FRANK,H.P. Wind Energy, Wiley InterScience, v.1. n.2,p.55-72, 1998. Wind power meteorology. Part II:Siting and models.

[20] WEGLEY, H.L. et al. Journal of Climate andApplied Meteorology, v.26, n.6, June 1987.Improving the performance of mass - Consistentnumerical models using optimizationtechniques.

[21] MARKUS, M., BAILEY, B. Survey of wind flowmodels. National Renewable Energy Laboratory,TAT-5-15208-01, oct. 1996.

[22] BARNARD, J.C. Solar Energy, v.46, n.5, p. 283-294, 1991.An evaluation of three models designedfor siting wind turbines in areas of complexterrain.

[23] SIPOT2000. Banco de dados hidrológicos.ELETROBRÁS, 2000.

[24] RELATÓRIO CHESF-SCEL-GTAS 02/99 demar./abr. 1999.

[25] ESTUDOS Energéticos para a Usina Eólica dePalmas. COPEL - Relatório CNPG 22/97.

[26] AMARANTE, O.A.C. do, SCHULTZ, D.,BITTENCOURT, R. e ROCHA, N. Wind/hydrocomplementary seasonal regimes in Brazil.DEWEK2000, Wilhelmshaven,2000.


Top Related