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INTRODUO

No Brasil, o desafio para o sculo XXI oferecer suporte de qualidade de vida para uma populao com mais de 32 milhes de idosos, na sua maioria de nvel socioeconmico e educacional baixo e com alta prevalncia de doenas crnicas e incapacitantes. Contudo, para ateno adequada ao idoso, juntamente com a magnitude e a severidade dos seus problemas funcionais, fundamental o desenvolvimento de polticas sociais e de sade factveis e condizentes com as reais necessidades das pessoas nessa fase da vida.

A velhice pode ser considerada como uma doena? As Politicas Publicas tem de fato garantido e assegurado a Proteo e os Direitos dos Idosos? Os Profissionais de sade de hoje, possuem as qualificaes e a capacitao adequada para lidar com a sade dos idosos? E o Comprometimento e o Pacto pela Vida ?Esses questionamentos tem se tornado cada vez mais constantes e preocupantes na vida do cidado brasileiro.

Gordillho et al (p.138) enfatizam que importante considerar que as necessidades de sade dos idosos requerem uma ateno especfica que pode evitar altos custos para o Sistema de Sade e, sobretudo, proporcionar melhores condies de sade a essas pessoas. No entanto, estas mesmas necessidades precisam ser adequadamente identificadas e incorporadas em novas prticas de sade, para alm do modelo biomdico essencialmente curativo e centrado no profissional, e no no cliente. Tais prticas requerem a voz e a participao ativa do idoso no movimento de construo e efetivao das leis e polticas sociais e de sade que viabilizem o viver e envelhecer com qualidade.

O Estatuto do Idoso,8 em seu Artigo 18, no Captulo IV do direito sade, diz: As instituies de sade devem atender aos critrios mnimos para o atendimento s necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitao dos profissionais, assim como orientao a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda.Algumas inquietaes acerca das atuais polticas dirigidas ao idoso nos levam a indagar quais so as reais necessidades dos idosos, que critrios so utilizados para defini-las e como satisfaz-las adequadamente. De que modo os profissionais da sade esto se preparando/capacitando para cuidar dos idosos, e, principalmente, se tem sido oportunizado aos idosos desenvolver autonomia e independncia.

Tais inquietaes requerem a busca por mudanas estruturais e por polticas possveis e factveis, as quais respondero pela melhoria da qualidade de vida dos idosos. H necessidade de desmistificar e elaborar novos conceitos acerca da velhice, ancorados na moderna cincia do envelhecimento para a construo de condies socioculturais propcias para uma velhice digna e prazerosa.

Como num crculo, no qual no se pode identificar seu comeo e seu fim, a demanda expressiva e crescente do contingente idoso e as necessidades de toda ordem deflagradas a partir desse fenmeno populacional geraram a necessidade de estudos, prticas e polticas que dessem conta desta realidade. Em contrapartida, tais necessidades e aes despertaram idosos conscientes e atuantes que no aceitam passivamente a relao de submisso sorte e abandono do Estado, da sociedade e da famlia. So pessoas atuantes na comunidade, em grupos de convivncia, associaes, universidades da terceira idade, conselhos de sade e outros modos de insero e participao, forando a sociedade a rever essa relao at ento de anomia.

Marilena Chau (apud Bosi), em Memria e Sociedade - Lembranas de Velhos,(p.18)4 afirma que ser velho lutar para continuar sendo homem, num esforo incansvel para a manuteno da prpria identidade e conquista de cidadania. Para os profissionais da sade que cuidam do idoso e de sua famlia cuidadora, o ato de cuidar tambm um momento de refletir acerca do prprio processo de envelhecimento, do processo de construo do ser e agir em sade, de modo integral, integrado e cidado.

Neste sentido, este estudo tem o objetivo de refletir acerca do agir em sade, a partir da articulao do Artigo 18 do Estatuto do Idoso8 com as atuais polticas pblicas dirigidas pessoa que envelhece em nosso pas. Ressaltamos que o foco norteador da discusso est centralizado na capacitao dos profissionais da sade para o cuidado gerontogeritrico, uma vez que estes so responsveis, direta e indiretamente, pela realizao de um cuidado em sade seguro, tico e com qualidade, sendo portanto, agentes viabilizadores da efetivao das Polticas Pblicas de Sade dirigidas s pessoas idosas.

POLITICAS PBLICAS DE ATENO SADE DO IDOSO

A Poltica Nacional Idoso, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa, e o Estatuto do Idoso so dispositivos legais que norteiam aes, sociais e de sade, garantem os direitos das pessoas idosas e obrigam o Estado na proteo dos mesmos. Porm sabido que a efetivao de uma poltica pblica requer a atitude consciente, tica e cidad dos envolvidos e interessados em viver envelhecendo de modo mais saudvel possvel. Estado, profissionais da sade, idoso e sociedade em geral so todos co-responsveis por esse processo.

Agustini, em seu livro Introduo ao direito do idoso, apresenta a preocupao crescente da legislao brasileira no que diz respeito ao cidado idoso, situando-os em relao aos seus direitos na velhice. A Constituio brasileira de 1988 foi a primeira a tratar o idoso e a velhice como um problema social, avanando para alm da assistncia previdenciria e assegurando a proteo na forma de assistncia social. Entretanto, o autor claro ao explicitar sua preocupao em separar o direito velhice e a proteo velhice. Entende o primeiro como uma variante do direito vida e, portanto, mais abrangente e integral do que o direito social de proteo velhice.

O desafio lanado para todos aqueles implicados no processo de envelhecer, ou seja, aos seres humanos que pretendem vivenciar da melhor forma possvel e desejvel as etapas da vida, o de fazer com que as normas, que possuem validade formal e tica e que, portanto so legais e legtimas, passem tambm a ter validade ftica e tenham eficcia. (p.142).A Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (PNSPI)19 foi recentemente atualizada, considerando o Pacto pela Sade e suas Diretrizes Operacionais para consolidao do SUS18 e reafirmando a necessidade de enfrentamento dos desafios impostos por um processo de envelhecimento ora caracterizado por doenas e/ou condies crnicas no-transmissveis, porm passveis de preveno e controle, e por incapacidades que podem ser evitadas ou minimizadas. Dentre tais desafios ressalta-se a escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento em envelhecimento e sade da pessoa idosa. Sem dvida, a velhice uma fase do ciclo vital cuja especificidade demanda ateno em sade especializada e requer, portanto, pessoal qualificado para o cuidado com essas pessoas. Nesta perspectiva, questes relativas educao em sade, qualificao e capacitao dos recursos humanos e ao desenvolvimento de estudos e pesquisas na rea permeiam as diretrizes que norteiam essa Poltica. Tais diretrizes esto articuladas intersetorialmente com aes de co-responsabilidade entre gestores do SUS, educao, cincia e tecnologia e outros setores.A PNSPI fundamenta a ao do setor sade na ateno integral populao idosa e em processo de envelhecimento, conforme determinam a Lei Orgnica de Sade n. 8080/90 (Preservao da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade fsica e moral) e a Lei n. 8842/94,11 regulamentada pelo Decreto n. 1948/96. Assegura os direitos dos idosos e busca criar condies para a promoo da autonomia, integrao e participao dos idosos na sociedade. Cabendo ao setor sade prover o acesso dos idosos aos servios e s aes voltadas promoo, proteo e recuperao da sade. O foco central da PNSPI (p.3)19 , recuperar, manter e promover a autonomia e a independncia dos indivduos idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de sade para esse fim, em consonncia com os princpios e diretrizes do Sistema nico de Sade. alvo dessa poltica todo cidado e cidad brasileiros com 60 anos ou mais de idade.

Para a viabilizao e concretizao da PNSPI, necessrio, pois, conhecer e compreender como vem acontecendo o envelhecimento populacional brasileiro, bem como agir em parceria com o idoso, de modo a ir alm do dispositivo legal, ir para a ao crtica e construtiva.Apesar da magnitude deste evento mundial que o envelhecimento populacional, sentimos falta de investimentos em pesquisas e incentivos pblicos e privados para dinamizar e otimizar as polticas para esse segmento da sociedade, to carente de ateno na grande maioria das vezes.

Assim como outros pases, o Brasil tem-se defrontado com a questo do envelhecimento da populao. Torna-se um desafio para o pas o cuidado com os idosos e a responsabilidade das famlias e da sociedade.A Lei n 8.842/94 (PNI) prope que sejam includos nos currculos dos cursos superiores da rea da Sade conhecimentos de Geriatria e Gerontologia, visando formao dos acadmicos com competncia para atender s demandas da clientela idosa e seus familiares, com objetivo maior de investimento na promoo de um envelhecimento saudvel que efetivamente atinja a populao em geral. 22

De acordo com essa lei, cabe aos setores da sade prover o acesso dos idosos aos servios e s aes voltadas promoo, recuperao e proteo da sade. necessrio desenvolver a cooperao entre as esferas de governo e entre os diversos setores sociais e de sade que atendem ao ser que envelhece. Para tanto, nessa poltica esto definidas as diretrizes que devem nortear todas as aes no setor sade, e indicadas as responsabilidades institucionais para o alcance do propsito j explicitado. Alm disso, orienta o processo contnuo de avaliao que deve acompanhar o desenvolvimento da PNSPI, mediante o qual dever ser possvel o eventual redimensionamento que venha a ser ditado pela prtica.

Para efetivar tal poltica, necessrio definir e/ou readequar planos, programas, projetos e atividades do setor sade, que de modo direto ou indireto se relacionam com o seu objeto. primordial a articulao entre Ministrio da Sade e as Secretarias Estaduais e Municipais de Sade, para sua operacionalizao. Enfim, para que o mesmo alcance seus objetivos, as suas diretrizes essenciais necessitam ser cumpridas.

O Pacto pela Vida uma das prioridades, articuladas e integradas, assumido pelos gestores do SUS enquanto compromisso pblico da construo do Pacto pela Sade. A sade do idoso parte desta prioridade, ao buscar a ateno integral e a implementao da PNSPI, em que novamente a preocupao com o preparo dos profissionais da sade traduzida em ao estratgica de um programa de educao permanente distncia, com contedos destinados ao processo de envelhecimento, sade individual e gesto de servios de sade. Marziale afirma que, com o crescimento da populao idosa, ocorreram mudanas relacionadas desigualdade socioeconmica, afetando a estrutura etria da populao e ocasionando problemas que necessitam de soluo imediata que garantam ao idoso a preservao da sade e condies de autonomia e dignidade. Para que essas situaes sejam viabilizadas, urge a necessidade de trabalhar o contexto social e humano do idoso em suas diversas interfaces. (p.6). De acordo com a PNSPI (p. 9) 19

A prtica de cuidados s pessoas idosas exige abordagem global, interdisciplinar e multidimensional, que leve em conta a grande interao entre os fatores fsicos, psicolgicos e sociais que influenciam a sade dos idosos e a importncia do ambiente no qual est inserido. A abordagem tambm precisa ser flexvel e adaptvel s necessidades de uma clientela especfica. A identificao e o reconhecimento da rede de suporte social e de suas necessidades tambm fazem parte da avaliao sistemtica, objetivando prevenir e detectar precocemente o cansao das pessoas que cuidam. As intervenes devem ser feitas e orientadas com vistas promoo da autonomia e independncia da pessoa idosa, estimulando-a para o autocuidado. Grupos de auto-ajuda entre as pessoas que cuidam devem ser estimulados.Procurando atender a tal necessidade e direcionar as aes com vistas a garantir s pessoas com 60 anos ou mais a proteo vida e sade, foi sancionado pelo governo brasileiro o Estatuto do Idoso. Sendo assim, o Estado deve estar atento s suas prprias polticas pblicas de sade e priorizar atendimento digno aos idosos. primordial que os profissionais da sade estejam capacitados e cientes das peculiaridades que envolvem o agir em sade frente s necessidades do ser humano que envelhece. Necessidades que so permeadas pelas subjetividades, objetividades e prticas em sade condizentes com as singularidades do ser que cuida e do ser que cuidado. No entanto, na prtica verifica-se a escassez de recursos humanos especializados para cumprir as diretrizes essenciais, quais sejam, a promoo do envelhecimento saudvel e a manuteno da capacidade funcional. Ainda encontramos idosos em longas filas de espera para agendamento de consulta mdica especializada, bem como para exames e internao hospitalar. Para Bettinelli e Portella (p.108),Somente a sociedade pode promover o avano da luta pelos direitos dos idosos, pela dignidade do envelhecimento e pelo cumprimento das leis existentes. Sua contribuio no consiste s em denunciar o no-cumprimento das leis, mas acima de tudo em colocar-se como parceira do poder pblico na construo de aes, programas e projetos que resultem em apoio, proteo e assistncia ao idoso.

A realidade do envelhecimento populacional no pas demonstra que no h outro caminho, seno o investimento articulado em programas de ateno aos idosos. A recomendao para os idosos, sujeitos desse processo, que se mantenham mobilizados na luta em prol dos seus direitos; que no esqueam dos deveres a cumprir, sobretudo continuar dando o exemplo de luta e perseverana.

Ainda que lhes faltem as foras, que no lhes falte a palavra; ainda que lhes falte a voz, que no lhes falte a presena. S assim mostraro a todos que o envelhecer como o pr-do-sol que acontece a cada dia. Bettinelli e Portella (p.110).

fundamental o engajamento de toda a sociedade, para que se consiga transformar a realidade dos idosos e humanizar as relaes entre viver e envelhecer. Conforme afirma Braga (p.179).Para que o Estatuto do Idoso seja, realmente, uma ferramenta de mudana social, ser necessrio que todos ns possamos adot-lo em nossa vida cotidiana, tratando melhor e como cidados aos idosos com os quais travamos contato dirio e no apenas esperarmos que o governo ou alguma instituio cuide deles. O estatuto regulamenta os direitos dos idosos e define as medidas de proteo para esta populao.

CAPACITAO DOS PROFISSIONAIS DA SADE PARA O CUIDADO COM O IDOSO

Para Nakatani et al., na velhice, ter uma vida saudvel, significa manter ou restaurar a autonomia e independncia. Define-se a primeira como a capacidade de deciso, e a segunda, como a capacidade de realizar algo por meios prprios. Nri15 nos resume mostrando que dependncia, independncia e autonomia so, assim, condies que no se excluem e que muitas vezes se entrelaam. Esto presentes em todo o ciclo vital, e assumem formas e valores impostos pelas pessoas e sociedade.

Uma das alternativas mais importantes para assegurar a autonomia e independncia do idoso, como tambm o envelhecer saudvel, so as aes educativas para essa parcela da sociedade e profissionais da sade. No modelo vigente ainda predomina, nos servios brasileiros de sade, o modelo assistencial que privilegia as aes curativas e centra-se no atendimento mdico, segundo uma viso estritamente biolgica do processo sade-doena. Esse modelo condiciona a educao em sade para aes que visam a modificar as prticas dos indivduos consideradas inadequadas pelos profissionais, mediante a prescrio de tratamentos, condutas e mudanas de comportamento. Nesse modelo, ainda quando se propem atividades chamadas participativas, particularmente a formao de grupos, sua organizao prev prioritariamente aulas ou palestras, praticamente inexistindo espao para outras manifestaes que no sejam dvidas pontuais a serem respondidas pelos profissionais.

Atitudes paternalistas e assistencialistas podem gerar efeitos negativos para a autonomia dos idosos, pois desencadeiam a dependncia do cuidado profissional.Para garantir a autonomia e independncia do ser envelhecente, imprescindvel o preparo/capacitao dos profissionais da sade, uma vez que estes esto envolvidos diretamente no cuidado. Tal capacitao implica despertar no profissional da sade o reconhecimento do idoso cidado. Ou seja, um profissional conhecedor da realidade social e de sade desse estrato populacional, das tecnologias existentes, dos recursos disponveis e dos dispositivos legais como instrumentos factveis para o desenvolvimento de aes de sade. O profissional deve estar preparado para reconhecer no idoso a potencialidade para o autocuidado, a necessidade de interdependncia para o cuidado e a importncia de preservar a autonomia.

Importante destacar que o Pacto pela Vida firma o compromisso dos gestores do SUS e determina as prioridades na ateno sade da populao. Neste pacto, no que tange sade do idoso, um dos itens preconizados se refere formao e educao contnua dos profissionais da sade que atuam no sistema de sade brasileiro.Dotar as instituies de sade de profissionais qualificados e capacitados implica articulao intersetorial nas esferas pblicas. Preparar os recursos humanos para a operacionalizao de um elemento bsico de atividades, que incluir, entre outras, a preveno de perdas, a manuteno e a recuperao da capacidade funcional da populao idoso e o controle dos fatores que interferem no estado de sade desta populao. (p.148).

Em estudo realizado por Gelain, Alvarez e Silva, os autores constataram dificuldades referentes falta de preparo tcnico-cientfico dos profissionais para prestao de cuidados pessoa idosa. Pereira et al. (p.2) ressaltam que:

Profissionais que trabalham com o processo de envelhecimento nas mais diversas reas de saber (mdicos, fisioterapeutas, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e outros) tentam proporcionar, em todos os nveis de ateno sade (primrio, secundrio e tercirio), o bem estar biospsicossocial dos idosos, potencializando suas funes globais, a fim de obter uma maior independncia, autonomia e uma melhor qualidade para essa fase de vida.

Refora-se ento a importncia de profissionais qualificados para o cuidado ao idoso. Os profissionais da rea da sade podem ser reconhecidos como profisses de ajuda, ou seja, com uma ligao profunda e significativa entre profissional e cliente, que ultrapassa as simples trocas funcionais, mantendo um prisma de crescimento e evoluo. A capacitao dos profissionais da sade para o cuidado geronto-geritrico , ainda, incipiente em nosso meio, provavelmente porque a velhice um fato social relativamente novo entre ns. Mas, se no houver recursos humanos treinados especialmente para atend-los, no haver uma ateno integral, integrada, digna e eficaz.(p.109)

Enfatiza-se, ento, que para a consolidao das polticas de sade a capacitao requisito primordial, pois, novos saberes, provocam novos fazeres. (p.110) A PNSPI, enquanto um instrumento a disposio do setor sade, estabelece e prev em suas diretrizes a capacitao dos recursos humanos envolvidos no cuidado ao idoso. Tal diretriz requer o envolvimento de todos os rgos pblicos, instituies de sade, instituies formadoras e da prpria sociedade na sua efetivao para alm de um discurso ideolgico, ou seja, sua efetivao na prtica. CONSIDERAES FINAIS

Ao abrigarmos a tese da especificidade e singularidade de cada ser humano, assumimos a condio de que polticas sociais e de sade devem ser propostas para grupos populacionais, porm, considerando as necessidades e experincias de cada sujeito que delas participar. Assim, a velhice deve ser considerada no ciclo da vida no como uma doena, mas como um processo de viver envelhecendo, de conviver com intercorrncias, as quais podem ser prevenveis e, em especial, tratveis.

A mudana dos perfis populacionais, no tocante questo etria, tem feito com que os organismos oficiais modifiquem e reenquadrem seus programas, passando a considerar, a terceira idade uma das populaes-alvo de qualquer poltica oficial.O Brasil, com uma crescente populao de idosos, precisou desenvolver e empreender polticas que agregassem e inclussem essa parcela significativa de nossa populao. Assim, para reverter o modelo de ateno sade, centrado ainda nos sujeitos profissionais, dever voltar-se mais propriamente para sua formao e capacitao focando a ateno no idoso, na promoo da sua sade, buscando minimizar a dependncia e potencializar a autonomia, de modo a favorecer uma velhice com melhor qualidade de vida e sade possvel.

Os programas sociais e de sade devem buscar responder necessidade premente de desmistificar os (pr)conceitos a respeito da velhice, ancorados na moderna cincia do envelhecimento, para a construo de condies socioculturais propcias para uma velhice digna e prazerosa. Assim, construiremos um pas constitudo de cidados, pessoas includas e acolhidas em polticas sociais e de sade, no importando sua faixa etria.A reflexo acerca do cuidado geronto-geritrico, na perspectiva do Estatuto do Idoso, prevendo o treinamento e a capacitao dos profissionais, bem como a orientao famlia cuidadora e aos grupos de ajuda mtua, faz-se necessria na medida em que desvela perspectivas que se revestiro de cuidados seguros, ticos e com qualidade.

A Poltica Nacional do Idoso, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa e o Estatuto do Idoso, bem como o Pacto pela Vida, so instrumentos que garantem a proteo a esse grupo populacional, agregando-os na condio de cidados que, como os demais, merecem uma ateno digna e saudvel, considerados parceiros ativos no desenvolvimento dessas polticas.A perspectiva de que os sujeitos no processo de envelhecimento tenham como vivenci-lo da melhor forma possvel e desejvel. Da o grande desafio da equipe de sade passa a ser o cuidado com a pessoa idosa, vislumbrando a especificidade e a multidimensionalidade do ser que envelhece e do processo de envelhecimento humano.

A questo social e de sade do idoso, face sua dimenso, exige uma poltica ampla e expressiva que suprima ou, pelo menos, amenize a cruel realidade que espera aqueles que conseguem viver at idades mais avanadas. Exige, principalmente, uma poltica que seja factvel. Aps tantos esforos realizados para prolongar a vida humana, seria lamentvel no se possibilitar as condies adequadas para viv-la com dignidade.

O avano da expectativa de vida saudvel gera perspectivas de desenvolvimento para a fase tardia do ciclo de vida, o que significa que o perfil biopsicossocial do ser humano passa a exigir novos enfoques culturais, sociais e de sade.

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