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Os Quadrinhos como fonte de pesquisa histórica: a
evolução das artes gráficas no Brasil (XIX-XX)
Natania [email protected]
Valéria [email protected]
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As artes gráficas e a História
• Neste mini-curso, iremos conhecer um pouco mais sobre a história dos quadrinhos, sempre associados a outros tipos de artes gráficas.
• As artes gráficas serão apresentadas não apenas como meios de comunicação mas, sobretudo, como fontes de pesquisa histórica e do ensino de história.
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A caricatura e a charge no Brasil• É difícil estabelecer a diferença
entre charge e caricatura.• O historiador Herman Lima,
em sua obra "História da Caricatura no Brasil", usa os termos caricatura e charge para se referir basicamente às mesmas coisas.
• Vamos aqui tentar estabelecer algumas diferenças básicas.
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Charles Darwin (1871)
• Chama-se caricatura todo desenho que acentua detalhes ridículos.
• Vem do termo italiano caricare, "carregar", "acentuar“ e foi utilizado pela primeira vez em 1646, para designar uma série de desenhos satíricos de Agostino Carracci, que retratava tipos populares de Bolonha.
• A caricatura pode ultrapassar o individual, para particularizar o imaginário coletivo de uma época ou de um povo.
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• Aleijadinho teria sido um dos primeiros a fazer uso da caricatura no Brasil, no século XVIII. O artista teria reproduzido, em um grupo de são Jorge com o dragão, os traços do coronel José Romão.
• Oficialmente, o iniciador da caricatura no Brasil foi Manuel de Araújo Porto Alegre, que publicou a primeira caricatura, no Jornal do Comércio de 14 de dezembro de 1837: uma sátira ao jornalista Justiniano José da Rocha, inimigo do artista.
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Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879), foi o fundador do primeiro jornal de caricaturas do Brasil A Lanterna
Mágica, (1844).
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• O uso das charges esteve sempre vinculado à realização de algum tipo de reflexão sobre os acontecimentos do cotidiano.
• A charge possui tem quatro funções: política, econômica, educativa e de entretenimento.
• Nesse ponto, Araújo também é considerado o primeiro chargista do Brasil, dado o conteúdo político-social incluso em suas ilustrações.
• A charge tem poder mobilizador pois ela pode influir na opinião pública. Através dela, por exemplo, os jornais do século XIX alcançavam um público até então inacessível: os analfabetos.
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Charge de Angelo Agostini, sobre a Guerra de Canudos.
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O Brasil teve a primeira mulher caricaturista do mundo
• Nair de Tefé (1886 -1981), publicou seu primeiro trabalho, A Artista Rejane, na revista “Fon-Fon”, sob o pseudônimo de Rian (Nair de trás para frente).
• Especializou-se em retratar a elite carioca. Publicou suas caricaturas em periódicos como O Binóculo, A Careta, O Ken, Gazeta de Notícias e da Gazeta de Petrópolis.
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• Em 1910 as revistas francesas Fantasie, Femina, Excelsior e Le Rire publicam seus trabalhos
• Em 6 de janeiro de 1913, casou-se com o presidente da República, o marechal Hermes da Fonseca.
• Na Europa realizou algumas exposições.
• Em 1922, participou da Semana da Arte Moderna.
Affonso Celso
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• Publicou ainda charges, em 1922, no livro de crônicas de Otto Prazeres: Petrópolis, a Encantadora, fez uma capa em cores para a Fon-Fon em 22 de janeiro de 1922.
• Também publicou na Revista da Semana trinta "cabeças" de personalidades, como a do próprio Hermes da Fonseca, Nilo Peçanha, Epitácio Pessoa e outros, e em 11 de abril de 1925, na mesma revista, publicou um croqui da bailarina Naruna Corder. Caricatura do presidente
Eurico Gaspar Dutra
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• Só a partir de 1955 é redescoberta pela imprensa.
• Em 1959, por incentivo de Herman Lima, redesenha seis de suas caricaturas, inclusive A Artista Rejane, que foram incluídas na coleção História da Caricatura no Brasil.
• Aos 73 anos retomou a carreira como caricaturista
Caricatura do presidente Juscelino Kubitschek
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A caricatura de J. Carlos
• José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), J. Carlos), nasceu no Rio de Janeiro.
• Foi responsável pela nacionalização da arte da caricatura no Brasil.
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Capa da revista O Careta (1912)
• Começou sua carreira em 1902, no "Tagarela" e colaborou em várias revistas, como a “ Careta", "Fon-Fon", "O Tico-Tico", "Almanaque do Tico-Tico" e "O Cruzeiro".
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• O seu traço fui muito influenciado pelo estilo art nouveau, marcado pelas linhas curvas, a elegância e o detalhismo na composições de personagens e ambientes.
• Começou a desenhar o personagem Juquinha, o primeiro herói brasileiro dos quadrinhos, na revista Tico-Tico, em 1906.
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• Compôs um retrato vivo da sociedade brasileira do início do século XX, retratando a vida carioca, as praias, o carnaval, a moda e costumes e criando personagens típicos da cidade.
• A melindrosa era uma personagem recorrente em seu trabalho.
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Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/
?go=detalhe&id=2901, acesso em 21/06/2010.
• Na capa de O Malho de 1º de maio de 1920, o gênio brasileiro da caricatura, J. Carlos, brinca com as comemorações do Descobrimento (naquela época, comemorava-se a data no dia 3 de maio). De Cabral aos nossos “papagaios” congressistas, uma crítica rimada de algumas mazelas nacionais:
• “A nau descobre / A mensagem encobre / O Congresso e o cobre”.
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• “O início do século XX foi um período de grandes inovações no Brasil. Junto com o cinema e o automóvel, um novo estilo de vida acabou surpreendendo os brasileiros. A charge de J. Carlos mostra como os costumes “civilizados” dos grandes centros urbanos causavam sensação. Alguns espertinhos chegaram a usá-los como desculpa para suas atitudes, digamos, avançadas.”
(Disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3166, acesso em, 10/07/2010)
À maneira americana– Não me passes o braço na cintura.– O que tem isso? O lugar é discreto. E que não fosse! Pensam que somos americanos.
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• Foi convidado para trabalhar nos estúdios da Disney, mas recusou.
• Fez uma charge do papagaio preparando as malas para ir a Hollywood, inspirando a criação do personagem Zé Carioca.
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Quadrinhos de J. Carlos
• Na revista Careta, de 27 de abril de 1912, está a continuação de uma Hq, como título Brocoió e as suas desventuras. Não há assinatura do autor, mas o traço assemelha-se ao de J. Carlos, que ilustra toda a revista.
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• No Tico-Tico foi publicou a série O talento de Juquinha, criando ainda os personagens Jujuba e seu pai, Carrapicho e a negrinha Lamparina, que é considerada sua maior criação nas HQs.
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Belmonte: Era Vargas, Nazismo e História do
cotidiano• Benedito Carneiro Bastos
Barreto (1896 - 1947) foi um caricaturista, pintor, cartunista, cronista, escritor e ilustrador brasileiro.
• Sua produção foi influenciada por J. Carlos.
• Belmonte foi o criador do Juca Pato (1929), que encarnava as aspirações e frustrações da classe média paulistana, fazendo fortes críticas à corrupção política.
• O Juca Pato fez sucesso na "Folha da Manhã", atual Folha de S. Paulo, com suas críticas a Getúlio Vargas.
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• Foi obrigado pelo DIP a tratar somente de temas internacionais.
• Voltou, então, suas atenções para questões internacionais como o imperialismo, o nazismo e a II Guerra Mundial.
• Stalin e Hitler eram personagens presentes em suas charges, algumas vezes dividindo espaço com Juca Pato.
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• Suas charges contra o nazifascismo chegaram ao conhecimento de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda e da Informação de Hitler: o nazista reagiu, acusando o brasileiro, pelo rádio, de ter sido comprado pelos aliados.
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• Como fim da II Guerra e a decadência do Estado Novo, Belmonte volta novamente sua atenção para Getúlio, aproveitando o momento de transição da ditadura para um governo democrático.
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• Belmonte publicou o livro ilustrado No Tempo dos Bandeirantes (1939), o qual classificou como uma reportagem retrospectiva sobre a vila de S. Paulo.
• Trabalho pioneiro, o retrata a vida cotidiana dos paulistas de 1600, sendo uma verdadeira história do cotidiano, em oposição à história dos grande heróis e das grandes suas batalhas.
• Belmonte pesquisou em testamentos e atas da Câmara Municipal, obras sobre arquitetura, armamento e heráldica.
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O surgimento das Histórias em Quadrinhos no Brasil
• Os quadrinhos surgiram no Brasil nos jornais, na segunda metade do século XIX, pegando carona o sucesso da charge e da caricatura.
• Angelo Agostini é considerado o criador as primeiras histórias em quadrinhos brasileiras.
• Periódicos como a Revista Ilustrada, fundada em 1876, por Ângelo Agostini, exploravam a imagem como forma de comunicação.
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As primeiras revistas em quadrinhos do Brasil
• Em 1905: surgiu o “O Tico-Tico”, criado por Renato de Castro e Manuel Bonfin e publicado pela editora S.A.O. Macho.
• Circulou nas bancas de jornal até a década de 1960.
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Ao Tico-tico seguiram outras publicações:
• A Gazeta Infantil (1929)• O Mundo Infantil (1929)• Suplemento Juvenil
(1934)• O Mirim (1939)
• O Lobinho (1939)• O Gibi (1939)• A Gazetinha (1939)• O Globo Juvenil (1937)• O Sesinho (1948).
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A produção pioneira da EBAL
• Adolfo Aizen lançou em 1934 o "Suplemento Juvenil“.
• Em 1945 fundou a EBAL (Editora Brasil América Ltda).
• Tornou-se um dos pioneiros na produção e edição de histórias em quadrinhos dedicadas a temas históricos e adaptações literárias, valorizando o talento de desenhistas nacionais.
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• A EBAL lançou as séries Edições Maravilhosas, Grandes Figuras do Brasil (lançado em 20 volumes, entre 1957 e 1958), História do Brasil e Epopéia.
• Seu objetivo: reverter o status cultural dos quadrinhos e afastar do Brasil o fantasma da censura aos quadrinhos.
• O declínio da editora teve início em fins da década de 1960. Em 1983 a editora encerrou sua produção.
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Edson Rontani e o nascimento do Fanzine no
Brasil• Fanzine é uma revista editada por um
fã.• Edson Rontani (1933 - 1997),
desenhista artístico, lecionava desenho em seu Instituto Orbis, situado no centro de Piracicaba. Foi também pintor, jornalista e radialista, tendo produzido capas para revidas da EBAL, como Batman.
• Foi o editor do primeiro fanzine brasileiro sobre histórias em quadrinhos publicado em 12 de Outubro de 1965, em Piracicaba (SP), com o nome de "Ficção" (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond).
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Exemplo de fanzine
• O “Ficção” era composto por textos informativos e uma lista de produções brasileira de quadrinhos desde 1905. Ele teve 12 edições.
• A impressão era feita em mimeógrafo à tinta.
• Nele, foram divulgadas curiosidades sobre personagens de histórias em quadrinhos, publicações especializadas e editoras.
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• Rontani foi o primeiro a fazer um levantamento sobre a produção de quadrinhos no Brasil.
• Entre os destinatários estavam: José Mojica Marins (o "Zé do Caixão"), Gedeone Malagola, Adolfo Aizen, Mauricio de Sousa, Jô Soares, Lyrio Aragão e outros desenhistas ou aficionados em quadrinhos. Nhô Quim, criação do cartunista
Edson Rontani.
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