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CENTRO DE ENGENHARIA E COMPUTAÇÃO

ARQUITETURA E URBANISMO

HISTÓRIA DA ARTE E DA ARQUITETURA I

ANA KYZZY FACHETTI2012_1

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AULA 9Idade Média

ARTE GÓTICA

Arquitetura, Escultura, Pintura, Gravuras e Artes Aplicadas

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Em seu sentido mais estrito, arte gótica significaria a arte própria dos godos;Foram os teóricos do Renascimento que viram, na arte de épocas anteriores à sua, um reflexo da arte inventada pelos godos, que

“após haver arruinado os edifícios antigos e matado os arquitetos nas guerras, passaram a construir cobrindo as abóbadas com arcos ogivais e inundaram toda a Itália com essa maldição de edifícios, dos quais não podiam ter feito mais.”

Giorgio Vasari

Porém, entende-se por arte gótica um extensíssimo conjunto de manifestações artísticas produzidas dentro do âmbito da cultura ocidental entre meados do século XII e o século XVI;

A historiografia romântica que se interessou pela arte medieval, superando as conotações negativas que o termo “gótico” implicava, distinguiu em seu conjunto um período Românico e outro período mais extenso que, apesar de haver controvérsias, conservou a denominação de gótico.

ARTE GÓTICA

Arquitetura / escultura / pintura

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Europa Gótica

O Gótico, criado na Île-de-France, difundiu-se por toda a Europa, sendo assimilado e adaptado em graus variáveis por cada país;

Numa fase posterior, difundiu-se na Itália (especialmente na Toscana) um novo sentido plástico, que se alastrou para o resto da Europa.

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Quadro histórico da Arte Gótica

Século XII:Expansão ocidental – crescimento demográfico e aperfeiçoamento de métodos agrícolas e comerciais;Afirmação do poder real frente à decadência do feudalismo;Cruzadas e demais conquistas expansionistas;Intensificação da reforma monástica – ordem Cister de, de São Bernardo;Escolas catedráticas e urbanas – arrebatarão a primazia aos mosteiros como foco da cultura;

Século XIII:Considerado o século do máximo esplendor medieval, em que as tendências de expansão do século anterior atingem o apogeu;A instituição monárquica solidifica seu prestígio;Institucionalização dos Estados;Importante atividade cultural no seio destes Estados, em boa parte impulsionada pelos próprios monarcas – sentimento nacionalista;Prosperidade econômica – indústria têxtil (importante produtor de riquezas) e rotas e os centros de intercâmbio comercial;Crescimento das cidades: corporações de ofícios e classe burguesa no governo dos municípios;Ordens mendicantes: franciscanos e dominicanos;Universidades – centro de ensino e atividade intelectual: franciscanos e tomistas.

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ARQUITETURA

Não representa um estilo inteiramente novo, mas sim um ponto de chegada de contínuos aperfeiçoamentos técnicos e estéticos, feitos ainda pelos construtores românicos;Foi a primeira arte a construir-se com total exclusão de influências orientais (bizantinas) e clássico-helenísticas;A arquitetura gótica foi considerada desde o séc. XIX (Romantismo), a mais espetacular de toda a Idade Média, cujo espírito de cavalaria e misticismo tão bem simboliza;A originalidade desta arquitetura concretizou-se a partir de três áreas específicas: nas inovações técnicas, na implementação de uma nova estética e nas alterações das estruturas formais;A principal e mais característica invenção técnica da arte gótica foi o arco ogival, muito mais dinâmico que o estático arco redondo românico e que exercia menor pressão lateral, possibilitando a construção de abóbadas de cruz ou cruzaria de ogivas ou abóbada de ogivas;Estas abóbadas tornaram-se mais elásticas e dinâmicas, adaptando-se melhor às formas e dimensões dos espaços a cobrir, o que permitiu aumentar as áreas de construção, e sendo mais leves e fáceis de sustentar, elevaram-se cada vez mais, contribuindo para uma maior verticalidade das construções.

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ARQUITETURA

Abadia de Saint-Denis. 1140-1281. Saint-Denis, França

Um marco da arquitetura francesa, a abadia de Saint-Denis foi a inspiração de todos os construtores de catedrais góticas;Um século depois da consagração da fachada ocidental e da nave, Pierre de Montreuil começou a trabalhar no coro e no transepto;O trifório do transepto foi preenchido com vitrais;O atual aspecto da catedral deve muito à obra de Viollet-le-Duc, que a restaurou entre 1858-1879.

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ARQUITETURA

Abóbadas

De berço

De aresta

De ogiva

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A técnica construtiva da arquitetura gótica repousou, por isso, nas abóbadas de cruzaria ogival, assentes num novo e complexo sistema de pilares e de contrafortes que suportavam todo o peso daqueles através de um perfeito equilíbrio de forças; Esta técnica envolveu conhecimentos avançados e sofisticadas maquinarias, assim como, uma boa organização prévia da obra, que racionalizava e rentabilizava o moroso trabalho;Assim sendo, a arte gótica revelou-se uma arte intelectualizada e conceptualista, com um espírito tecnicista e intelectual, mundano e urbano, dogmático e sensível.

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ARQUITETURA

Catedral de Saint-Urbain, Troyes, França

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ARQUITETURA

Catedral de Chartres, 1192-1220, Chartres, França.

A perfeição do plano interior desta catedral é o resultado de lições aprendidas a partir de outras construções;Não há galeria e o clerestório (galeria superior ao trifório, nas igrejas ogivais) permite a entrada da luz em abundância;Três fileiras de arcobotantes constituem uma característica muito importante desta catedral.

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ARQUITETURA

Estrutura de uma catedral gótica

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ARQUITETURA

A catedral de Chartres (1194-1220) costuma ser considerada a mais perfeita das catedrais góticas;Constitui o modelo a que se submete grande parte das erguidas posteriormente;Houve um incêndio que destruiu parcialmente a antiga catedral românica de Chartres, sendo preciso reconstruir-lhe a fachada (incluindo o portal régio);Em 1194, um outro incêndio afetou o que restara do antigo edifício e a reconstrução foi planejada em termos muito ambiciosos;

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ARQUITETURA

Catedral de Chartres, 1192-1220, Chartres, França.

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Catedral de Notre-Dame. Fachada. 1210, Paris.

A fachada da catedral de Notre-Dame em Paris é um bom exemplo da maneira como se articulam as obras numa primeira fase da arquitetura gótica;Destaca-se pelo equilíbrio obtido entre todos os seus elementos;É construída por três corpos verticais separados por maciços contrafortes;Os contrafortes laterais são rematados cada um por uma torre;Horizontalmente, também existe uma tríplice divisão:

os portais;a galeria real;rosácea;

Alguns detalhes da fachada do edifício denunciam a intervenção, com propósito restaurador, de Viollet-le-Duc, uma das personalidades que mais decisivamente contribuíram para a revalorização da arquitetura gótica;

ARQUITETURA

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ARQUITETURA

As obras da catedral de Notre-Dame foram iniciadas em 1163;O edifício é de dimensões sensivelmente maiores que seus precedentes;Consta de naves laterais duplas e sua planta parece mais compacta por não ultrapassar os extremos do cruzeiro;Entretanto, em elevação, o cruzeiro constitui um volume completamente diferenciado;Não foi a primeira construção a utilizar os arcobotantes, mas os desta catedral se transformaram em elementos arquitetônicos plenamente adaptados à sua função.

Planta de Notre-DameElevação interior de uma catedral gótica

1. Rendilhado; 2. Lanceta; 3. Clerestório; 4. Trifório; 5. Arco de descarga; 6. Galeria ou tribuna; 7. Ábaco; 8. Capitel; 9. Pilar retangular; 10. Pilar cilíndrico; 11. Base.

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ARQUITETURA

Catedral de Notre-Dame. Fachada. 1210, Paris.

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ARQUITETURA

Catedral de Notre-Dame. Fachada. 1210, Paris.

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ARQUITETURA

Catedral de Notre-Dame. Fachada. 1210, Paris.

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ARQUITETURA

Catedral de Beauvais, França; 1225.

Das catedrais que se seguiram a de Chartres, cabe citar o virtuosismo arquitetônico de Beauvais;Forçaram-se ao extremo as possibilidades técnicas, com o intuito de obter uma elevação máxima e de chegar a substituir totalmente as paredes por vitrais;Assim, os arquitetos de Beauvais quiseram suspender as abóbadas até quase 50 metros de altura, mas estas desmoronaram em 1284;A parte construída foi reparada, mas as obras não foram concluídas;De certo modo, o desabamento da catedral pôs fim às aspirações ao gigantismo na arquitetura gótica.

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ARQUITETURA

Nave da Catedral de Wells, Inglaterra, séculos XIII-XIV.

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ARQUITETURA

Catedral de Wells, séculos XIII-XIV.

A primeira fase da arquitetura gótica na Inglaterra denomina-se Early English;Entre os elementos próprios do gótico inglês então desenvolvidos estão a cabeceira plana, o cruzeiro duplo, a chamada Lady Chapel e as salas capitulares de planta centralizada (permitindo o desenvolvimento de impressionantes abóbadas em leque);Numa fase posterior os elementos decorativos adquiriram maior importância (especialmente as molduras) dando lugar ao Decarated Style;A esse momento corresponde o erguimento de uma grande torre no vão central do cruzeiro de Wells, que obrigou a reforçar os suportes;A solução adotada é certamente original:

arcos ogivais invertidos, produzindo um considerável efeito plástico.

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ARQUITETURA

Catedral de Wells, séculos XIII-XIV.

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ARQUITETURA

Catedral de Wells, séculos XIII-XIV.

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ARQUITETURA

Catedral de Gerona, séc. XIV. Espanha.

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ARQUITETURA

Catedral de Gerona, séc. XIV. Espanha.

O tipo de igreja com nave única foi introduzido na Catalunha pelas ordens mendicantes, sendo desenvolvido com grande originalidade no contexto da arquitetura gótica catalã;O caso da catedral de Gerona é paradigmático;Optou-se pela nave única para que a igreja ficasse mais solene, mais iluminada e bem proporcionada;A nave da catedral de Gerona é a mais larga de todas as construídas no período Gótico.

Corte transversal da igreja de Santa Maria del Mar, Barcelona. A partir de

1329.

Além das igrejas com nave única, a arquitetura gótica catalã desenvolve outro tipo de igrejas com naves laterais elevadas, praticamente a mesma altura da central.

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A estética inovadora da arte Gótica acentuou significativamente a verticalidade dos edifícios e tornou os espaços internos mais amplos e abrangentes;As paredes deixaram de possuir o papel de suporte, passando apenas a delimitar e proteger os espaços, o que permitiu que se rasgassem amplas janelas que tornaram os espaços interiores mais iluminados, o que favoreceu a "poética da luz" da época;

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ARQUITETURA

A arquitetura gótica, na verdade, não é possível uma definição global com base nos elementos que a configuram. Porém, alguns destes elementos tornam-se arquetípicos no contexto de um modelo como a catedral gótica:- Arco ogival – muito difundido no período gótico, pode ter muitas variações, segundo a

proporção entre a sua altura e seu vão: arco lanceolado, arco em asa de cesto, etc.- Abóbada ogival ou abóbada sobre o cruzamento de ogivas – variam de acordo com a

quantidade de ogivas que se cruzam: quadripartida, sexpartida, estrelada ou de terciarão, em leque, etc.

- Paredes mais finas – não tinham função estrutural, por isso podiam ser cortadas para a implantação dos grandes vãos e vitrais;

- Arcobotantes – auxiliar na função estrutural: transmitir o empuxo lateral da abóbada aos contrafortes, normalmente situados no exterior.

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Ogiva simétrica, baseada num triângulo equilátero

Diferentes ogivas: A (centros dentro da base da ogiva), B(centros nos pés da ogiva - simétrica equilátera) e C (nesta construção específica, a altura e a largura são iguais)

Ogiva lanceolada, cuja altura é ligeiramente menor do que a largura

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ARQUITETURA

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Arcobotante

Abóbada de Ogiva

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ARQUITETURA

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A plantaA planta da catedral corresponde ao tipo de planta basilical – uma nave central, de maior importância, ladeada ou não por naves colaterais;

Nave central: a importância deste elemento não se deve unicamente a sua largura, mas também à altura;

Quanto maior a altura, mais intensa será a iluminação do interior;A planta baixa de uma catedral gótica é bem característica e nela se destacam, particularmente, dois elementos: a cabeceira e o cruzeiro;

TorresAlém das torres da fachada (coroada por flechas), as grandes catedrais góticas foram planejadas para serem dotadas de outras, normalmente até um total de sete;Deviam ser dispostas ladeando o cruzeiro e sobre o vão central deste;Na maioria dos casos, não foram concluídas, ou só o foram em épocas posteriores;

O conjunto exterior da catedral gótica assume uma evidente dimensão monumental que se destaca do contexto urbano;

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ARQUITETURA

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A planta

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Notre-Dame, Paris Wells, Inglaterra Reims, Paris Toledo, Espanha

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Catedral de Albi, França

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ARQUITETURA

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A nova estética do gótico também propiciou ainda a criação de novas tipologias dentro da arquitetura civil:castelos senhoriais, palácios urbanos e casas comunais que respondiam com maior eficácia às necessidades do modo de vida da época.

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ARQUITETURA

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ARQUITETURACastelo Fère-en-Tardenois, Aisne, França, séc . XII

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ARQUITETURA Castelo de Aigle, séc. XII, Suíça

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ARQUITETURA

Castelo Coucy-le-Château, Aisne, França, séc. XIII

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ESCULTURAEm relação aos portais românicos, nos quais a escultura se concentra em tímpanos e dintéis, os góticos implicam uma relação muito mais fecunda entre os elementos arquitetônicos e escultóricos; É na catedral de Saint-Denis, na île-de-France, que se propagou esta transformação;Quando o abade Surger empreendeu a construção da nova fachada de sua abadia, desenhou um programa iconográfico em que a imagem real passava a ocupar lugar de destaque; Embora não esteja claro que a inclusão destas figuras fosse uma alusão direta ou indireta à monarquia francesa, é evidente que de algum modo se pretende valorizar a imagem do rei, com isso, o portal principal passou a ser chamado de portal-régio.

Portal da Abadia de Saint-Denis, França

Em Saint-Denis aparece pela primeira vez a estátua-coluna, nas jambas (cada uma das peças laterais das portas e janelas aparelhadas em torno das colunas), isto é, a coluna com uma figura adossada;Essa inovação possibilitou a libertação da escultura monumental da férrea sujeição ao enquadramento arquitetônico;As arquivoltas também foram ressaltadas juntamente com as estátuas-colunas.

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ESCULTURA Portal régio de Chartres, França.

Desenvolve o modelo estabelecido em Saint-Denis;Clareza na exposição dos temas;Temas perfeitamente hierarquizados e adaptados aos marcos;Formas menos agitadas que as românicas;Adequação à função ilustrativa;

A partir dessa nova harmonia de Chartres, começa a evolução rumo aos grandes portais do gótico clássico;

Nas jambas, as personagens coroadas que deram nome aos portais régios são progressivamente substituídas pelo colégio apostólico e por imagens de santos, todos em seus respectivos atributos.

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ESCULTURA

A iconografia dos portais adquire uma clara intencionalidade didática, ordenando-se hierarquicamente em virtude de uma exposição redundante dos conceitos

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ESCULTURA

Porta do Sarmental, 1230-1240. Catedral de BurgosTrata-se da mais antiga das portas castelhanas, o que se reflete claramente em sua iconografia: tema apocalíptico;Cristo em sua majestade é rodeado por uma dupla representação dos evangelistas (com seus símbolos e como escribas da época);No dintel aparecem os apóstolos;Como em seus mais próximos modelos franceses, no mainel aparece a figura do bispo;A clareza da composição é muito própria da primeira fase gótica.

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No Gótico Inicial as estátuas mostram ainda uma forma alongada e rigidez na posição, mas que se começam a distinguir do estilo Românico pelos rostos cada vez mais individualizados e pormenorizados, que denotam calma e serenidade;

À medida que se aproxima o Gótico Pleno, é procurada uma tendência mais naturalista e realista: os corpos apresentam um maior volume e posições ligeiramente mais curvilíneas; Os portais do século XIII, além de constituírem extensos repertórios iconográficos, dão lugar aos desenvolvimento de certo senso narrativo e, sobretudo, da escultura de vulto redondo. Há a total desvinculação do marco arquitetônico, que pressupõe uma nova e importante conquista, da qual se obtém resultados no próximo século;

A partir do séc. XIV as figuras denotam um "S" sinuoso, quase em contraposto (posição assimétrica e obliqua do corpo em relação ao seu eixo: o tronco roda para um lado e as pernas para outro, formando um "S") e os panejamentos (roupagem) apresentam linhas arredondadas, sobrepostas e profundas, que acentuam a forma dos corpos e o requebro das ancas e contribuem para um crescente realismo.

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ESCULTURA

A estatuária

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ESCULTURA Estatuária decorativa do exterior da catedral de Salisbury

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A expressão formal procura exprimir a perfeição espiritual e por isso as figuras são tratadas com maior correção anatômica e detalhe;Os santos, a Virgem e Cristo têm outra mensagem, refletindo mais verdade, sensibilidade, serenidade e ternura - humanização do Céu; Por isso, estas figuras possuem gestos humanizados, proporcionalidade, naturalismo, graciosidade, liberdade de traçado, de modelado e de composição, e transmitem uma mensagem de doçura, beleza e desejo de viver;

Porém, a partir do final do séc. XIV, a expressividade estimulada pela crise religiosa, revela-se na representação do homem, dos santos e do próprio Cristo, que denotam um sofrimento exagerado nos rostos e corpos esquálidos, despertando a piedade dos fiéis;

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ESCULTURA

A estatuária

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ESCULTURA

Escultura da Madonna de Krummau, Viena, séc. XIV

Virgem da Sainte-Chapelle, Paris, Séc. XIV

Escultura da Virgem e do Menino, séc. XIV

O culto à Virgem é um dos fatos que melhor caracterizam a arte gótica;

A Virgem passa a ser uma imagem simbólica da Igreja e também costuma aparecer nos tímpanos (Senlis).

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ESCULTURA

"Pietá da Renânia", escultura em madeira de tília pintada, séc. XIV

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A escultura gótica dividiu-se em duas tipologias:

A escultura decorativa/monumental – principalmente nas fachadas e portais e que, juntamente com outros elementos variados (pináculos, rosáceas, agulhas, gárgulas, vitrais...), caracteriza o exterior das igrejas, onde o "horror ao vazio" é extremamente notório;

As cenas mais representadas são: Cristo em Majestade, O Último Julgamento ou Juízo Final, a vida da Virgem (cuja representação se tornou mais frequente pela valorização do papel da mulher como mãe e educadora, em que a Igreja se empenhou no final da Idade Média) e o Nascimento de Cristo e episódios da vida de santos;

O trabalho escultural era feito em oficinas e posteriormente colocado nos lugares destinados;

Todas as esculturas eram coloridas;

As cores usadas eram as convencionais (o rosto e as mãos tinham a cor natural, os cabelos eram loiros e as vestes policromas) e tinham uma função decorativa, estética, apelativa e simbólica.

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ESCULTURA

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Devido às pestes, a fome, guerras e à falta de condições de higiene e da qualidade de vida, no geral, a taxa de mortalidade era muito elevada;

Como o enterro de nobres nas igrejas era uma tradição, desenvolveu-se a escultura tumular, que se vulgarizou na construção de estátuas jacentes;No início, estas estátuas não continham pormenores dos traços físicos do morto, apenas procuravam evocar o defunto;

Em meados do séc. XIII aparece o retrato idealizado, com um leve sorriso que ilumina o rosto do defunto, que procura mostrar a paz com que devemos enfrentar a morte e a mesma que devemos levar para o descanso eterno;

A partir do séc. XIV, o morto é representado muitas vezes de forma mórbida, enregelado, envolto num lençol ou nu, um autêntico cadáver em decomposição, na sequência dos horrores da Peste Negra e da consciencialização da nossa condição mortal - "do pó viemos e ao pó voltaremos".

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ESCULTURA

Escultura tumular

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ESCULTURA

Túmulo do Papa Bonifácio VIII, séc. XIII

Túmulo do Cardeal Braye, Igreja de Santo Domingo, Orvieto, séc. XIII

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PINTURA

Assim como nos exteriores das catedrais tende-se à integração arquitetura-escultura, nos interiores modelava-se um novo conceito de espaço, em que a pintura mural já não tem lugar, sendo substituída pelos grandes vitrais;

A miniatura será o terreno em que se define uma tendência mais clara à estilização e é a maior representação da pintura gótica, que também se destaca na pintura em madeira dos retábulos;

A pintura gótica desenvolveu-se entre o séc. XIII e inícios do séc. XV; e teve sobretudo um carácter religioso nas suas representações;

No final do séc. XIV foi designada por Estilo Internacional, que resultou da mistura entre as influências bizantinas (gosto pelo dourado e cores brilhantes), o realismo dos panejamentos e rostos, a nova concepção espacial do afresco italiano, a procura de perspectiva e o desenvolvimento da arte do retrato e da paisagem, no Norte da Europa, principalmente na Flandres, onde a pintura gótica adquiriu a sua expressão mais significativa.

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PINTURA

Dessa forma, a pintura gótica se manifesta em três elementos principais:- Iluminuras – miniaturas dos livros que eram manuscritos;- Vitrais – parede translúcida feita de vidros coloridos;- Pintura em madeira – retábulos;- Pintura mural – permanece em alguns países.

A iluminura, arte móvel por excelência, conjugou influências românicas e bizantinas;Procurou o realismo na representação das figuras que compunham as obras;Possuía uma variedade cromática, onde predominavam os azuis contrastados com os vermelhos;Apresentava personagens com corpos volumosos e preferia a representação de formas humanas e animais e alguns apontamentos da Natureza e arquitetura, à representação do espaço;A iluminura teve grande impacto na arte gótica, ultrapassando os limites temporais da mesma, prevalecendo até ao séc. XVI, em alguns países;Uma das suas utilizações mais frequentes foi nos Livros de Horas, um livro de orações ilustrado com um calendário, em que os meses e horas são decorados com os símbolos zodiacais correspondentes e com orações destinadas à Paixão de Cristo, à Virgem, aos Santos e aos defuntos, e destinado a uso pessoal dos membros do Clero e da Nobreza, ou simplesmente de um colecionador;

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PINTURA

Livro de horas de Bedford, séc. XV

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PINTURABíblia moralizadaConsistem em extratos de passagens das Escrituras, glosados graficamente, constituindo extensos repertórios iconográficos;As miniaturas – as da figura referem-se à crucificação – são de página inteira e se organizam em séries de medalhões, que recordam a estrutura dos vitrais contemporâneos;

Bíblia Moralizada, Segundo terço do Séc. XIII, Catedral de Toledo:

Exemplar doado por São Luiz, de Paris, ao Afonso X, o Sábio, de Toledo, Espanha.

Este exemplar foi executado numa das principais oficinas de miniaturas ativas em Paris, durante o reinado de são Luiz, especializada em Bíblias Moralizadas.

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PINTURA

Iluminuras francesas do livro "Crónicas de Inglaterra", séc. XV

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PINTURA

O vitral, que ocupou o lugar dos murais executados afresco, por não ser uma técnica convencional da pintura;Foi o método que melhor se adaptou à necessidade narrativa do interior da catedral gótica e contribuiu para “a poética da luz”:

"Deus é luz. Desta luz inicial incriada e criadora participa cada criatura. Cada criatura recebe e transmite a iluminação divina de acordo com a sua capacidade, isto é, segundo o lugar que ocupa na escala dos seres (...). Proveniente de uma irradiação, o universo é um fluxo luminoso que desce em cascatas e luz que emana do Ser primeiro instala no seu lugar imutável cada um dos seus criados. Mas ela une-os a todos. Laço de amor, irriga o mundo inteiro, estabelece-o na ordem e na coesão e, porque todo o objeto reflete mais ou menos a luz, esta irradiação, (...) suscita, desde as profundidades da sombra, um movimento de reflexão, para o foco do seu irradiamento. Luz absoluta, Deus está mais ou menos velado em cada criatura, consoante ela é mais ou menos refratária à sua iluminação; mas cada criatura o desvenda à sua medida, pois liberta, diante de quem a observar com amor, a parte da luz que tem em si."

Georges Duby, citando São Dinis em O Tempo das Catedrais, Ed.Estampa

Possuía cores vibrantes, formas lineares e depuradas e um forte carácter estático, sem perspectiva nem realismo;

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PINTURA

Interior da Sainte Chapelle, Paris, 1248

A capela do palácio real de Paris representa a culminação do processo de substituição da “parede opaca” pela “parede translúcida”.

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PINTURA

A árvore de Jessé, séc. XII. Catedral de Chartres

O conjunto dos vitrais da catedral de Chartres é um dos mais extensos e mais bem preservados do período gótico;

Não desenvolve um programa iconográfico único, ainda que os espaços hierarquicamente mais importantes são reservados para os temas essenciais;

Assim, a imagem da Virgem ocupa o vitral do centro do presbitério;

O tema da árvore de Jessé, bastante frequente na primeira fase do período gótico, consiste numa representação simbólica da genealogia de Jesus;

Por tratar-se de um motivo de desenvolvimento vertical, que implicava a presença de elementos vegetais, adequou-se perfeitamente à estrutura dos vitrais, que fechavam as grandes janelas lanceoladas.

Contudo, as criações mais espetaculares da arte do vitral no período gótico são, sem dúvida, as rosáceas.

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PINTURA

Rosácea da catedral de Chartres

As rosáceas geralmente possuíam conteúdo iconográfico de grande amplitude e tem caráter simbólico;

É bem frequente que nas fachadas ocidentais se represente o Juízo Final e, nos braços do cruzeiro, o Cristo em Majestade e a Virgem.

Entre as rosáceas góticas mais brilhantes estão as das catedrais de Paris: Reims, Chartres, Lausanne, Orviedo e Siena.

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PINTURA

A pintura sobre madeira ou de retábulos era feita em forma de dípticos, trípticos ou polípticos.

Hans Memling, "Díptico de Jean de Cellier"

O díptico é um quadro em madeira dividido em dois

painéis, que se dobram um sobre o outro.

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PINTURA

Cimabue"Tríptico A Virgem e o

Menino no trono e Cenas da Paixão de

Cristo“

Semelhante ao díptico, mas dividido em três painéis, cujos

dois laterais se dobram sobre o do

meio.

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PINTURA

Jan e Hubert Van EyckPolíptico do Cordeiro Místico. Painel central, 1432. Catedral de São Bavão.

Quadro dividido em quatro ou mais painéis.

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A pintura afresco ou a pintura mural

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PINTURA

Altar maior da Basílica de São Francisco de Assis, Itália

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PINTURA

Taddeo di Bartolo

Os Funerais da VirgemPalazzo Comunale, Siena

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GiottoIsaac rejeita Esaú

GiottoSão Francisco de Assis pregando a Honorio III

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PINTURA


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