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Faculdades de Campinas

Curso de Relações Internacionais

Tratado regulamentando a exploração do Aqüífero Guarani pelos países do MERCOSUL

Jaqueline Ridolfi Carvalho

Campinas, 01 de dezembro de 2008

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BANCA EXAMINADORA

Data da realização do Exame:

(_ _ / _ _ / _ _ _ _)

Horário:

(_ _ : _ _)

Local:CERI - FACAMP

Componentes da Banca Examinadora

Professor Orientador: Rogério dos Passos

Professor Convidado: Lídia Peixoto

Professor representante da Coordenação de Monografia: Daner Hornich

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Jaqueline Ridolfi Carvalho

Tratado regulamentando a exploração do Aqüífero

Guarani pelos países do MERCOSUL

Monografia executada sob a orientação do Prof. Rogério dos Passos, como requisito

parcial para a conclusão do Curso de Relações Internacionais nas Faculdades de

Campinas – Facamp.

Campinas

2008

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FICHA CATALOGRÁFICA

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Dedico este trabalho aos meus

amigos, professores e ao meu

companheiro que me

acompanharam durante esta

jornada e principalmente a meus

pais que me proporcionaram os

estudos...

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter cuidado de todos nós nesses quatro anos de faculdade, e por esta

oportunidade de estar concluindo a graduação.

A minha mãe Suzana de S. L. Carvalho e meu pai Ivo Ridolfi Carvalho que

me proporcionaram os estudos para que eu pudesse estar hoje me graduando em

Relações Internacionais.

Ao meu Orientador, Professor e Amigo Rogério dos Passos que se empenhou

em me ajudar a construir este trabalho.

A todos os Professores, os quais me ensinaram muito nesses quatro anos de

faculdade.

A todos os meus colegas da sala de Relações Internacionais, mas em especial,

meus amigos: Aline Tranchitella, Débora Oska, Fábio Marques, Juliana

Bicudo, Karen Pasqualini e Tatiane Krice

A todos os meus amigos dos corredores da faculdade, e fora dela, e em especial,

meu companheiro Diego Costella que sempre me incentivou e apoiou.

E aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho fica registrado o meu Muito OBRIGADA.

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"Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris."

(Profecia feita há mais de 200 anos por "Olhos de Fogo", uma velha índia Cree - Greenpeace,2008).

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Resumo

O trabalho irá determinar quais são os grandes problemas causados pela falta

de um tratado / acordo formal existente entre os países cujo Aqüífero Guarani abrange,

notadamente. Argentina Brasil, Paraguai e Uruguai, que não possuem uma

regulamentação para o uso da maior reserva de água doce do planeta em âmbito

internacional, não determinando assim, por exemplo, a quantidade de água que pode ser

extraída, além dos riscos que algumas atividades superficiais podem causar para uma

reserva do porte do aqüífero e das atividades agrícolas que fazem uso de agrotóxico, ou

outros produtos que podem prejudicar sua qualidade. A busca pelo estabelecimento de

um acordo regulamentando o uso, gestão e a proteção do Aqüífero Guarani é de

fundamental importância para a continuação das boas relações diplomáticas entre esses

países, já que eles compõem o MERCOSUL.

Palavras-Chave: Meio Ambiente. Aqüífero Guarani. Ausência de tratado formal.

Regulamentação. MERCOSUL.

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Abstract

The work will determine what are the major problems caused by lack of a

treaty / formal agreement between the countries whose Guarani Aquifer covers.

Argentina Brazil, Paraguay and Uruguay, which do not have a regulation for the use of

the largest reserve of fresh water on the planet at the international level, not determining

until, for example, the amount of water that can be extracted, in addition to the risks that

some surface activities can lead to a reservation the size of the aquifer and agricultural

activities that make use of pesticide, or other products that may damage their quality.

The search for the establishment of an agreement regulating the use, management and

protection of the Guarani Aquifer is of fundamental importance for the continuation of

good diplomatic relations between these countries, since they make up the

MERCOSUR.

Key-Words: Environment. Guarani Aquifer. Lack of formal agreement. Regulations. MERCOSUR.

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Sumário

RESUMO...................................................................................................................................................XI

ABSTRACT..............................................................................................................................................XII

SUMÁRIO...............................................................................................................................................XIV

INTRODUÇÃO........................................................................................................................................XV

1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA........................................................................................XVII

1.1 DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL..................................................XVII

1.2 A ÁGUA E O DIREITO AMBIENTAL INTERNACIONAL...................................................................XXVIII

2. AQÜÍFERO GUARANI...............................................................................................................XXXVI

2.1 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS...............................................................................................................XXXVI

2.2 O GUARANI........................................................................................................................................XL

3.MERCOSUL E O AQÜÍFERO GUARANI...................................................................................XLIX

3.1 DOS CONFLITOS AO MERCOSUL....................................................................................................XLIX

3.2 LEGISLAÇÕES....................................................................................................................................LVI

3.2.1 BRASIL....................................................................................................................................lviii3.2.2 ARGENTINA...............................................................................................................................lx3.2.3 URUGUAI.................................................................................................................................lxii3.2.4 PARAGUAI..............................................................................................................................lxiii

3.3 PROJETO AQÜÍFERO GUARANI - PAG............................................................................................LXIV

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................LXVII

Bibliografia...............................................................................................................................................lxxi

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Introdução

Com o passar dos anos, a consciência de que as atividades econômicas

desempenhadas com base na utilização do meio ambiente podem gerar danos

irreversíveis se tornou mais presente nos debates internacionais, pois o que se busca é

uma continuidade dessas práticas econômicas sem que estas prejudiquem as gerações

futuras. Logo uma utilização controlada e menos danosa dos recursos naturais deve ser

o pilar sustentador das relações internacionais no que concerne ao meio ambiente, já que

muitos países, quando ambicionados pela obtenção de vantagens e maiores lucros, não

promovem uma política de exploração, na qual a sustentação e preservação do meio

ambiente deveriam ser fundamentais. No entanto, quando os recursos naturais são

compartilhados por Estados, a responsabilidade de existir uma política de regulação

entre eles sobre o uso desse determinado recurso deve ser essencial para que não cause

possíveis conflitos, principalmente quando o recurso em questão é a água, o mais

essencial de todos para a vida humana no planeta.

O presente trabalho irá determinar quais são os grandes problemas causados

pela falta de um tratado/acordo formal existente entre os países cujo Aqüífero Guarani

abrange, notadamente Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que não possuem uma

regulamentação para o uso da maior reserva de água doce do planeta em âmbito

internacional, não determinando assim, por exemplo, a quantidade de água que pode ser

extraída, bem como os riscos que algumas atividades superficiais podem causar para

uma reserva do porte do aqüífero, além de atividades agrícolas que fazem uso de

agrotóxico, ou outros produtos que podem prejudicar sua a qualidade. A busca pelo

estabelecimento de um acordo regulamentando o uso, gestão e a proteção do Aqüífero

Guarani é de fundamental importância para a continuação das boas relações

diplomáticas entre esses países, já que eles compõem o MERCOSUL.

O objetivo do trabalho é analisar as conseqüências e os possíveis conflitos

gerados pela ausência de um tratado/ acordo regulamentando a exploração do Aqüífero

Guarani, tido como a maior reserva de água subterrânea doce do mundo. As

conseqüências seriam tanto de ordem econômica, causando uma ocorrência de maior

utilização de um país em comparação a outro, quanto de ordem político-social,

causando desgaste das relações internacionais desses Estados que buscam uma maior

integração. Além da conseqüência da própria degradação ambiental que a falta de uma

regulamentação poderia gerar, já que não são claros os mecanismos de exploração.

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As propostas desenvolvidas pelos países abrangidos pelo Sistema Aqüífero

Guarani são analisadas para comprovar que a existência de um tratado regulamentando

o uso e gestão desse recurso natural seria o ideal para manter a integração entre os

países desse grupo, o que evitaria, por fim, a existência de um foco de conflito, como o

existente atual, o qual não permite que Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai decidam

em consentimento de todos sobre as medidas adotadas para a preservação desse

Aqüífero.

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1. Contextualização Histórica

1.1 Da Revolução Industrial a Conscientização Ambiental

Com o advento da Revolução Industrial na sociedade e, por conseguinte a

busca pelo desenvolvimento industrial e tecnológico dos países, na tentativa de

tornarem-se competitivos no mercado mundial emergente, a preocupação com o meio

ambiente foi deixada a margem das discussões. Esse modelo de industrialização

capitalista não é acessível a todos, já que não há como instituir no mundo um estilo de

vida baseado em um elevado consumo energético e material, e que precisa,

necessariamente, de sistemas energéticos e de transformações materiais eficientes, pois

não há montante de recursos naturais capaz de sustentar tal desenvolvimento numa

esfera global.

No entanto, muitos países em desenvolvimento, para financiarem seu

crescimento e parques tecnológicos, acreditavam que ao submeterem suas reservas

naturais a sobre-exploração alcançariam o nível de produção dos países desenvolvidos,

os quais necessitavam de uma gama imensa de matéria-prima e energia. Nessa busca

por desenvolvimento os recursos naturais foram usados sem medida e sem a devida

preocupação com sua existência futura. Assim o sistema industrial capitalista, como

nenhum outro sistema, se utiliza dos recursos naturais do planeta em uma dimensão

jamais vista, assim como enfatiza Altvater:

“Nestes termos, necessita de recursos naturais (energias e matérias-primas e também cada vez mais das fontes genéticas localizadas, sobretudo no Sul) e precisa de “recipientes” (locais de despejo onde os rejeitos gasosos, líquidos e sólidos possam ser absorvidos ou depositados)” (ALTVATER, 1995, p.29).

Logo, conclui-se que o nível de produção industrial atual não somente faz uso

de matérias-primas e de energias, que assim como ressalta o referido autor são

principalmente extraídas do Hemisfério Sul, mas também necessitam de locais para

despejar os poluentes, ou seja, os resíduos que sobram do processo industrial e não

possuem utilidade. Dessa forma, observa-se que esse sistema pressupõe interferências

globais, mesmo porque ao desenvolver o parque industrial de determinado país, acaba

por modificar o meio ambiente dessa região e possivelmente de outra, no que condiz

importação de matérias-primas e energia (recursos naturais) e a “exportação” de

resíduos químicos e poluentes, os quais não respeitam fronteiras.

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“Resultado: qualquer estratégia de desenvolvimento, e, portanto de industrialização, traz conseqüências para o desenvolvimento e para o meio ambiente em todas as outras regiões do mundo. Desenvolvimento e meio ambiente encontram-se em uma relação recíproca: atividades econômicas transformam o meio ambiente e o ambiente alterado constitui uma restrição externa para o desenvolvimento econômico e social” (ALTVATER, 1995, p.26).

Assim sendo, como já foi analisado por Marx, o homem metaboliza a matéria-

prima por processos particulares para transformá-la em mercadoria, pois no sistema

capitalista o indivíduo é obrigado a levar sua mercadoria para o mercado, e dessa forma

é fundamental a existência de reservatórios imensos de matéria-prima (recursos

naturais) para o contínuo processo de produção industrial capitalista. Por isso, Altvater

afirma que o meio ambiente atua ao mesmo tempo como um fator condicionante para o

desenvolvimento e um fator limitante (MARX, 1988, p. 64).

Desse modo, é visível que o meio ambiente tornou-se apenas uma ferramenta

para o desenvolvimento da sociedade capitalista, as preocupações com qualidade de

vida, níveis de poluição e degradação ambiental permaneceram por muito tempo longe

dos debates nacionais e internacionais. A exploração de uma reserva de matéria-prima,

com o objetivo de alimentar processos de produção industrial, ou o desmatamento de

florestas tropicais em níveis superiores às taxas de recuperação e o consumo de água

acima da cota de reposição – apenas para aumentar o consumo nos países

industrializados – tornaram-se comuns, assim como Chesnais (1996), que afirma que “o

uso da terra, bem como de todos os recursos naturais, renováveis ou não, foi submetido

ainda mais estreitamente às leis do mercado e do lucro capitalista” (CHESNAIS, 1996,

p. 42).

Porém esta sobre-exploração de recursos naturais acaba por ter como

conseqüência um ecossistema menos diversificado, freqüentemente prejudicado ou

destruído, já que assim como Altvater (1995) afirma, os recursos naturais que uma vez

foram utilizados no processo de desenvolvimento, não estarão disponíveis uma segunda

vez para as estratégias de desenvolvimento:

“O óleo queimado não pode por uma segunda vez impulsionar um motor ou aquecer uma caldeira. As cotas de poluição já gastas no ar ou nas águas não podem ser reutilizadas uma segunda vez. O suposto resultado é amargo: a industrialização é um luxo exclusivo de parcelas da população mundial, mas não para a ampla maioria dos seus 6,25 bilhões de habitantes na virada do milênio. É impossível simplesmente dar continuidade às estratégias de desenvolvimento e de industrialização das décadas passadas. Não só elas fracassaram em extensas regiões do Hemisfério Sul, como estavam condenadas ao fracasso por causas das

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contradições que contêm. É uma ilusão, e por isto uma desonestidade, alimentar e difundir a idéia de que todo o mundo poderia atingir um nível industrial equivalente ao da Europa Ocidental, da América do Norte do Japão, bastando para isto que as sociedades menos desenvolvidas “aprendam com a Europa”. A industrialização constitui um bem oligárquico: nem um sequer dos habitantes da Terra pode gozar as benesses da sociedade industrial afluente, sem que todos os homens sejam colocados numa situação pior do que aquelas em que se encontravam antes”. (ALTVATER, 1995, p. 28)

Altvater, nesse trecho afirma a tese de que o capitalismo é excludente, e que

além de passar uma idéia errônea de que todos podem atingir o desenvolvimento,

influencia os países em desenvolvimento a buscarem por ele sem se preocupar com o

meio ambiente. Pois vale ressaltar que os poluentes emitidos, a degradação realizada e

os recursos naturais utilizados no passado atuam como restrições para o presente, e a

transformação de matéria prima em mercadoria citada por Marx, tem uma capacidade

cada vez mais decrescente, no sentido que desenvolvimento também é desenvolvimento

acentuado da apropriação da natureza (MARX, 1988, p.65).

A partir do final do século XIX a preocupação ambiental passou a fazer parte

das discussões, no entanto, somente no que condiz com o direito interno de cada país.

Até então, o positivismo seguia sendo a ideologia da época – a tecnologia seria capaz de

prover a sobrevivência do homem –. Entretanto, percebe-se que a sociedade industrial,

ou seja, a sociedade de massas, não poderia somente ser gerida pela tecnologia e por

este modelo de desenvolvimento, pois as cidades estavam inchadas devido ao êxodo

rural, deflagrado pela Revolução Industrial e por problemas de outras ordens que

começaram a surgir. A saúde pública é um deles, já que o Estado não reconhecendo a

sociedade de massas, não dava suporte ao crescimento das cidades, não estruturava o

saneamento básico e não dava destino correto ao esgoto, sem falar da poluição, que já

alcançava um nível alarmante para a saúde humana.

A demanda por grupos de diálogo entre a sociedade civil e o Estado acaba ser

sanada com a criação de sindicatos e partidos de esquerda que passam a lutar pela

regulação das relações de trabalho, pela instalação e gestão de saneamento básico, cuja

deficiência era a responsável pelas grandes epidemias de doenças, conquistando

também uma melhora nas condições de saúde pública. O meio ambiente também passa a

fazer parte das preocupações da sociedade civil, principalmente dos empresários, já que

existia a ameaça da extinção das fontes de matérias-primas que tinham sido sobre-

exploradas nas décadas anteriores, tal qual Altvater (1995) nos coloca que

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“Uma economia mundial capitalista fordista precisa da regulação do dinheiro no plano nacional e também no plano internacional, e é preciso garantir os fluxos energéticos e materiais para o funcionamento dos sistemas industriais de transformação. Em face da sua importância estratégica para os processos econômicos, estes fluxos não podem ser abandonados à mera atuação das forças de mercado [grifo meu], mas necessitam de garantias institucionais. Nestes termos, contudo, não é suficiente apreender e configurar os processos políticos sociais e econômicos por intermédio da racionalidade do mercado” (ALTVATER, 1995, p. 209).

Assim, passa-se a empregar o termo “conservação” no Direito Ambiental que

surge e que ganha escopo internacional, devido à importância dos recursos naturais para

a economia. Observe-se que em face do fim da I Guerra Mundial, houve o drástico

aumento do acúmulo de substâncias impróprias no meio ambiente em decorrência da

disseminação de armas químicas e biológicas, além da expansão do uso de produtos

químicos em geral. A conservação é caracterizada pelo desejo de dar continuidade ao

elemento da natureza com a idéia de garantir o seu uso na economia futuramente.

Outro passo fundamental para o reconhecimento do meio ambiente no escopo

internacional ocorreu com um famoso caso ocorrido em 1935 entre Estados Unidos e

Canadá, chamado Caso da Fundição Trail (Trail Smelter Case). A empresa canadense

localizada em território de seu país, cuja atividade de fundição de zinco e chumbo

estava causando poluição no ar em parte do estado de Washington, nos Estados Unidos,

saiu derrotada numa decisão de procedimento arbitral. O acordo de arbitragem

reconheceu que “o Estado tem sempre o dever de proteger outros Estados contra atos

injuriosos praticados por indivíduos dentro de sua jurisdição”, assim o Direito

Internacional reconheceu que a ação de um Estado vizinho pode prejudicar o seu meio

ambiente e, assim, “estabeleceu-se o princípio da prevenção do dano ambiental

transfronteriço” (SILVA, 2006, p.1).

Posteriormente, a Declaração de Estocolmo das Nações Unidas, adotou essa

medida como um dos seus princípios, dando liberdade para a utilização pelos Estados de

seus recursos naturais de acordo com suas políticas de meio ambiente desde que não

prejudique o meio ambiente de outros, no que é definido no Princípio 21 do referido

documento:

“Princípio 21 - De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito internacional, os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos, de acordo com a sua política ambiental, desde que as atividades levadas a efeito, dentro da jurisdição ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros Estados ou de zonas situadas fora de toda a jurisdição

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nacional” (Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – Declaração de Estocolmo, Princípio 21).

Após a resolução desse caso em 1941, o Direito Ambiental Internacional evolui

minimamente com a criação da própria Organização das Nações Unidas (ONU) em

1945, embora na sua respectiva Carta nada tenha sido mencionado em relação ao meio

ambiente. No entanto, em 1946, foi criada a UNESCO (Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura) – enquanto agência especializada –, que tinha

como um dos objetivos a promoção de atividades culturais e educativas com o intuito de

salvaguardar o patrimônio natural. Atuando na área de ciência e tecnologia, promoveu

pesquisas para orientar uma exploração mais consciente dos recursos naturais1, onde

vale salientar que a criação desse órgão não objetivava, de fato, a proteção total dos

recursos naturais, representando, porém, um avanço no tocante da criação de uma

consciência voltada para a preservação ecológica no cenário internacional, e apesar de

não agirem ativamente, esses elementos serviram de pressão política e coerção moral

(ROESSING, 2006, p.1).

Observe-se que a degradação ambiental continuava em ritmo acelerado, em

decorrência da poluição industrial do sistema capitalista. A preocupação com o meio

ambiente cresce e torna-se um assunto inserido constantemente nos debates

internacionais e na sociedade civil. O aumento da incidência de chuvas ácidas e

desequilíbrios e poluição eletromagnéticas como causa de câncer contribuem para isso.

E, finalmente, em 1972 surge o principal debate multilateral sobre o meio ambiente, a

Conferência de Estocolmo, no que é diagnosticado por Altvater:

“No ano de 1972 realizou-se em Estocolmo a primeira Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente (United Nations Conference on the Human Environment). Acabara de ser publicado o relatório do Clube de Roma acerca dos limites da utilização industrial das reservas naturais, mas a primeira crise do petróleo ainda estava distante” (ALTVATER, 1995, p. 11).

1 Since its inception, UNESCO has developed several international programmes to better assess and manage the Earth’s resources. The Organization also helps reinforce the capacities of developing countries in the sciences, engineering and technology. UNESCO’s priorities in the field of Natural Sciences: Water and associated eco-systems. Oceans. Capacity-building in the basic and engineering sciences, the formulation of science policies and the promotion of a culture of maintenance. Promoting the application of science, engineering and appropriate technologies for sustainable development, natural resource use and management, disaster preparedness and alleviation and renewable sources of energy. (UNESCO. Disponível em: <http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=6406&URL_DO=DO_ TOPIC&URL_SECTION=201.html> Acesso em: 05 outubro 2008.

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Altvater (1995) faz referência do Clube de Roma, o qual foi um grupo de

intelectuais que previram catastróficas conseqüências em relação a situação energética,

da saúde, do meio ambiente (poluição), relacionando-os com tecnologia e crescimento

populacional. Em si, esse relatório, e mais tarde a publicação de um livro sobre ele, fez

com que a sociedade se conscientizasse da importância do ambiente para a saúde do

homem.

A Conferência de Estocolmo foi a primeira iniciativa das Nações Unidas sobre

o Meio Ambiente Humano. Realizada em 1972, reuniu cerca de 113 representantes de

países, 19 agências multilaterais e mais de 400 organizações não governamentais. Ela

tem como embasamento a preservação e melhoria do meio ambiente, pois o coloca

como direito fundamental a vida com qualidade, ou seja, que o meio ambiente saudável

é essencial para o bem estar e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, até

mesmo direito à própria vida (DECLARAÇÃO da Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente Humano – Declaração de Estocolmo, 1972. §1).

Vale ressaltar que esta Declaração estabelece uma relação direta entre meio

ambiente e o homem, enfatizando a sua qualidade de vida, assim como apontado no

Princípio 1, da devida Declaração:

“O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o “apartheid”, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas” (DECLARAÇÃO da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – Declaração de Estocolmo, 1972. §1).

Faz parte da natureza do homem buscar por uma qualidade de vida que seja

digna e sadia, assim torna-se indispensável a defesa e a proteção do meio ambiente. E

aos poucos a busca desse meio ambiente saudável passou a fazer parte das discussões,

ganhando as ruas, e a sociedade passou a pressionar os Estados assim, de maneira que o

assunto passou definitivamente a fazer parte da pauta interna de todos os países,

inclusive dos em desenvolvimento. E sobre isso D’Ávila e Tabet (2004) concluem que

“A sociedade começou, muito timidamente, a perceber a importância de se proteger o ambiente, apenas no início do século passado, já na segunda fase da Revolução Industrial. O crescimento desenfreado das atividades industriais, associado à busca de um desenvolvimento a qualquer preço, não levou em

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consideração os desequilíbrios que poderiam resultar da ação antrópica na Natureza. Vão, assim, aqui e ali, surgindo as primeiras manifestações em prol do ambiente, e aparecem as primeiras normas internacionais com reflexos no campo ambiental, preparando as bases para o que hoje se considera como Direito Ambiental Internacional” (D’ÁVILA; TABET, 2004, p. 219)

A partir de Estocolmo, 1972, outros encontros envolvendo o meio ambiente

foram realizados pelo mundo, todos visando delimitar a atuação dos Estados no sentido

de abranger a proteção e conservação dos recursos naturais. No entanto, os anos que se

seguiram foram repletos de problemas estruturais dentro dos Estados; a falta de

combustível barato para os países industrializados nos postos de abastecimento dos

países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), constituíram mais

um entrave para a industrialização. A queda do sistema de Bretton Woods, e a perda da

hegemonia do dólar foram desestabilizantes para a economia internacional. Mas o pior

ainda estava por vir: a retomada da hegemonia americana foi ainda mais sintomática,

tantos os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento sofreram com a

imposição de altas taxas de juros, e muitos entraram numa forte recessão, tal como

Tavares (1998) nos afirma;

“Os desdobramentos da política econômica interna e externa dos EUA, de 1979 para cá, foram no sentido de reverter estas tendências [perda da hegemonia da moeda americana] e retomar o controle financeiro internacional através da chamada diplomacia do dólar forte. Esta, como se verá, apesar de mergulhar o mundo numa recessão generalizada deu aos EUA a capacidade de retomar a iniciativa. Assim, os destinos da economia mundial encontram-se hoje, mais do que nunca, na dependência das ações da potência hegemônica” (TAVARES, 1998, p. 30).

Assim, com a crise no cenário mundial, a pobreza, a fome, assim, como os

próprios desastres ambientais, agravam ainda mais as condições internas de cada país,

principalmente os que estão em desenvolvimento. Os Estados e as organizações

internacionais percebem a gravidade da situação e passam a agir efetivamente,

avaliando as condições do clima, dos recursos hídricos, da fauna e flora, além de propor

medidas para fiscalizar mais eficientemente as empresas multinacionais com relação aos

danos ambientais.

No ano de 1983, pouco mais de uma década após Estocolmo, é criada uma

comissão para analisar as conseqüências das políticas de desenvolvimento dos países

industrializados, as quais foram copiadas pelos países em desenvolvimento em matéria

ambiental, ressaltando a sustentabilidade dos recursos naturais e capacidade de absorção

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dos ecossistemas em face da poluição industrial. Após três anos de estudo, os

pesquisadores liderados pela norueguesa Gro Harlem Brundtland, publicaram um

relatório chamado “Nosso Futuro Comum”, ou mais conhecido como Relatório

Bruntland.

Através do Relatório Brundtland o conceito de desenvolvimento sustentável foi

introduzido nos debates contemporâneos sobre meio ambiente e desenvolvimento,

sendo caracterizado pelo “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente,

sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias

necessidades”. Esta definição está disposta no segundo parágrafo do preâmbulo do

Relatório:

“Believing that sustainable development, which implies meeting the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs, should become a central guiding principle of the United Nations, Governments and private institutions, organizations and enterprises” (Report of the World Commission on Environment and Development – Report "Our Common Future"/ Brundtland, General Assembly, 1987).

Além dessa definição, o relatório ainda apresenta uma lista de medidas que os

Estados nacionais, instituições privadas nacionais e internacionais e organizações não

governamentais devem tomar, tais quais: diminuição do crescimento populacional,

garantia de satisfação de necessidades básicas a longo prazo, preservação do meio

ambiente, diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que

admitem o uso de fontes energéticas renováveis e aumento da produção industrial em

países em desenvolvimento à base de tecnologias ecologicamente adaptadas. Já no

âmbito internacional, o Relatório incentiva as organizações de desenvolvimento a adotar

estratégias condizentes com o desenvolvimento sustentável e incita os Estados e outras

organizações a prover a proteção de ecossistemas supranacionais como a Antártica, os

oceanos e o espaço.

No entanto, vale ressaltar que o foco da preocupação com o meio ambiente

muda no Relatório Brundtland em relação a Conferência de Estocolmo. Na declaração

de Estocolmo, o meio ambiente está diretamente relacionado com a qualidade de vida

do homem, e todas as medidas a serem realizadas levam em primeira instância o meio

ambiente e sua preservação, assim como exposto no Princípio 18:

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“Princípio 18 - Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser utilizadas a ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade” (DECLARAÇÃO da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – Declaração de Estocolmo, 1972. Princípio 18.)

Esse princípio defende que tecnologias criadas a partir do desenvolvimento

econômico e social devem ser utilizadas para prover um meio ambiente mais saudável,

diminuir os riscos do próprio processo de industrialização bem como solucionar os

problemas ambientais existentes. Já no Relatório de Brundtland, o meio ambiente está

condicionado ao desenvolvimento industrial e não mais a qualidade de vida do homem,

inclusive apontando os órgãos internacionais financeiros e os próprios países

desenvolvidos que devem auxiliar no financiamento de desenvolvimento dos países que

ainda não tinham sido industrializados e também no que versa sobre a incorporação de

tecnologias voltadas para a preservação do meio ambiente. O Relatório Brundtland

ainda reafirma que as políticas de desenvolvimento de cada país devem ser respeitadas,

não existindo formalmente uma pressão no sentido de fazer os países adequarem-se a

modelos de desenvolvimento mais limpos e que não degradem significativamente o

meio ambiente2.

Após o Relatório Brundtland, outros encontros foram realizados,

principalmente com relação às mudanças climáticas – visando o aquecimento global,

por exemplo – e destruição da camada de ozônio, temas que até então não participavam

dos grandes fóruns de discussões internacionais. Um deles foi o Protocolo de Montreal

sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio realizado em dezembro de 1989,

e que em 2001 já possuía 182 Estados partes, onde se exigia que anualmente os países

signatários entregassem relatórios anuais sobres taxas percentuais de produção de

substâncias que destroem a camada de ozônio. Devido a grande adesão do protocolo, ele

foi revisto e ampliado em 1990 (Londres), 1992 (Copenhague), 1997 (Montreal) e 1999

(Beijing).

2 “14. Reaffirms the need for additional financial resources from donor countries and organizations to

assist developing countries in identifying, analysing, monitoring, preventing and managing environmental problems in accordance with their national development plans, priorities and objectives; 15. Reaffirms the need for developed countries and appropriate organs and organizations of the United Nations system to strengthen technical co-operation with the developing countries to enable them to develop and enhance their capacity for identifying, analysing, monitoring, preventing and managing environmental problems in accordance with their national development plans, priorities and objectives;” (Report of the World Commission on Environment and Development – Report "Our Common Future"/ Brundtland, General Assembly, December 1987).

Page 26: Aquifero Guarani

xxvi

A partir da década de 1990, a sociedade civil torna-se mais cônscia de que os

danos ambientais podem afetar drasticamente as condições da vida humana, com o

aumento da pressão sobre os Estados, de maneira que estes foram obrigados a buscar

soluções, e o modo encontrado foi estabelecer acordos internacionais para a recuperação

de áreas degradadas e a proteção dos recursos que ainda estavam saudáveis e que

corriam riscos. Vale ressaltar que o meio ambiente é um sistema fechado e limitado, e o

dano em determinados ecossistemas gera conseqüências não menos graves em outras

regiões do globo. Os países do Hemisfério Sul também foram fortemente pressionados

pela opinião pública, pois na busca pelo desenvolvimento destruíram partes de seus

recursos naturais. Assim foi estabelecido que em 1990 que haveria na Noruega uma

preparação para uma Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento.

Essa conferência foi nomeada como Cúpula da Terra, ou popularmente como

Rio-92, e foi sediada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 1992. Dessa

forma, houve uma tentativa de aproximação entre o Hemisfério Sul e o Norte, já que até

então existia o preconceito de o Sul ser o grande responsável pelo aumento da

degradação ambiental. A conferência não somente atraiu milhares de pessoas da

sociedade civil e centenas de organizações econômicas, mas também chefes de Estado,

que até então não tinham participado maciçamente desse tipo de reunião.

“A chamada "mãe de todas as cúpulas" teve números impressionantes: 178 países representados, 115 chefes de Estado ou de Governo, 7 mil delegados e aproximadamente 9000 jornalistas, o que a tornou, segundo o Departamento de Informação Pública das Nações Unidas, o evento com a maior cobertura da história. Além disso, participaram da Conferência mais de 1400 Organizações Não Governamentais, as ONGs, que se reuniram num fórum paralelo, chamado Fórum Global” (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2008).

A Declaração de Rio-92 defendeu sumariamente todos os princípios que foram

postos na Convenção de Estocolmo: “os seres humanos estão no centro das

preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e

produtiva, em harmonia com a natureza”. Ou seja: além de fazer referência a qualidade

de vida do ser humano com uma ambiente saudável, estabelece relações com o

desenvolvimento sustentável, já que é nessa década que este termo torna-se comum nos

debates regionais, nacionais e internacionais (DECLARAÇÃO do Rio sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, 1992, Princípio 1).

Page 27: Aquifero Guarani

xxvii

A Conferência Rio-92 aprovou uma série de instrumentos normativos

importantes no âmbito ambiental, tal qual a Declaração do Rio de Janeiro, a Agenda 21,

a Convenção sobre Biodiversidade, a Convenção sobre Mudanças Climáticas e a

Declaração sobre Florestas, assim como afirma D’Ávila e Tabet. Todos esses

documentos tiveram intensos incentivos tanto dos Estados partes quanto da sociedade

civil e foram fundamentados relacionando desenvolvimento sustentável (termo definido

pelo Relatório de Brundtland em 1986) e meio ambiente (D’ÁVILA; TABET, 2004, p.

219).

Após Rio 92, outros encontros foram realizados como, por exemplo, a

Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação em 1994 e a adoção em

1997 do Protocolo de Quioto e, nesse mesmo ano, a avaliação da Cúpula Rio +5 sobre a

implementação da Agenda 21, que não havia apresentado progressos satisfatórios. Em

2002, outra Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável foi realizada em

Johanesburgo, África do Sul, ela foi chamada de Rio +10 e teve foco principal em cinco

áreas: Água e Saneamento, Agricultura, Energia, Saúde e Biodiversidade. Nesse

encontro os países em desenvolvimento tinha a intenção de garantir os meios de

implementação da Agenda 21, que consistia, basicamente, em financiamento,

transferência de tecnologias e capacitação, no entanto somente metas específicas nas

áreas de saneamento e biodiversidade foram adotadas (BRASIL, Ministério do Meio

Ambiente, 2008).

As relações internacionais, assim, caminham para um único movimento; a

percepção mundial das conseqüências das ações antrópicas. No entanto até que todos se

conscientizem que devem preservar o meio ambiente, é preciso tempo. Muitos

realmente não estão fragilizados com as atuais condições do planeta Terra, o qual,

claramente, apresenta sinais de esgotamento. Águas poluídas, florestas devastadas,

número cada vez maior de espécies de animais entrando em extinção (e muitas já

ameaçadas); o ar em muitas cidades de grande porte encontra-se difícil de respirar, além

de outras implicações, são alguns dos resultados obtidos com a introdução em escala

global do sistema de industrialização capitalista, com o qual há ganhos imensos, porém,

com danos ainda não de todo calculáveis.

1.2 A Água e o Direito Ambiental Internacional

Page 28: Aquifero Guarani

xxviii

Após analisarmos como se deu o início da preocupação com o meio ambiente,

vale fazer um breve exame a respeito somente dos recursos hídricos para então

prosseguir para o próximo capítulo que contará com a análise do Aqüífero Guarani,

ressaltando sua importância estratégica para os países que o englobam, destacando-o

como fator de desenvolvimento econômico.

Até meados da década de 1940, muitas pessoas não davam a devida

importância a esse recurso natural, pois existia uma idéia falaciosa de que a água é

abundante. Vale ressaltar, entretanto, que apenas uma parcela da água existente no

planeta é potável, e que pelo uso desmedido e sem cuidados com agentes poluidores,

vem fazendo com que o recurso – já ínfimo – diminua progressivamente. Nesse esteio,

as pessoas foram conscientizando-se que sem a água não há como existir uma

população saudável e desenvolvida, uma vez que esse recurso é fundamental para a

agricultura e também para o desenvolvimento da indústria.

Em 1949, com o fim da II Guerra Mundial é realizada a Conferência Científica

das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização dos Recursos Naturais. Nesse

encontro é discutida a questão da pilhagem de rios e mares e a poluição industrial

depositada nos mesmos. Foi o primeiro passo para o estabelecimento de Tratados

específicos na área de recursos hídricos. Em 1961, outro avanço representativo das

relações internacionais na questão ambiental se deu através da entrada em vigor do

Tratado Antártico, o qual foi negociado em 1959 em Washington. Nele fica expresso,

segundo o Ministério do Meio Ambiente, que seu objetivo primordial é “assegurar que a

Antártida seja usada para fins pacíficos, para cooperação internacional na pesquisa

científica, e não se torne cenário ou objeto de discórdia internacional”. Dessa forma, é

instituído, através da cooperação internacional, que a área antártica é livre para

pesquisas científicas, á proibida para testes nucleares e para despejos de resíduos

radioativos (TRATADO Antártico, 1959).

Os recursos hídricos continuaram progressivamente a fazer parte das

discussões internacionais de forma mais entusiástica. Em 1958 e 1960, ocorre a

Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e em 1982, entrou em vigor a

Convenção sobre o Direto do Mar, no intuito de fazer uma convenção que abrangesse os

interesses gerais dos países, procurando estabelecer “uma ordem econômica

internacional justa e equitativa que tenha em conta os interesses e as necessidades da

humanidade em geral e, em particular, os interesses e as necessidades especiais dos

Page 29: Aquifero Guarani

xxix

países em desenvolvimento, quer costeiros quer sem litoral” (CONVENÇÃO das

Nações Unidas sobre Direito do Mar, 1982.).

Vale fazer referência do primeiro tratado assinado pelo Brasil, Argentina,

Uruguai, Bolívia e Paraguai em 1969, o qual previa um programa de gestão conjunta

para o desenvolvimento harmônico e a integração física da Bacia do Prata, promovendo

a identificação de áreas de interesse comum e a realização de estudos, programas e

obras que visem assegurar sua preservação para as gerações futuras através da utilização

racional dos aludidos recursos. Guimarães (2007) discorre sobre esse tratado do

seguinte modo:

“Em relação a Bacia do Prata, foi assinado o Tratado da Bacia do Prata, em 1969, entre Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, referente à navegação, utilização da água, preservação e conhecimento integral da Bacia do Prata. Nesse espaço, está um complexo ambiental com os mais significativos pólos industriais e grande concentração humana, além dos aproveitamentos hidrelétricos mais importantes da América do Sul (incluindo Itaipu). Esse Tratado instituiu normas regionais e mecanismos de gestão em comum dos recursos hídricos, criando um sistema de cooperação internacional para a utilização dessa reserva de água.” (GUIMARÃES, 2007, p. 85)

Nesse sentido, com a aparente evolução do Direito Internacional Ambiental no

que condiz a recursos hídricos, outro passo fundamental foi dado em 1970 com a

elaboração do Tratado de Itaipu assinado entre Brasil e Paraguai. Esse Tratado ainda é

considerado um dos marcos jurídicos internacional, que apesar de estar sob a influência

de duas nações soberanas de regime militar, os conflitos político-ideológicos não foram

considerados, uma vez que se dedica somente aos aspectos econômicos de produção e

distribuição de energia elétrica (GUIMARÃES, 2007, p.85).

Em 1972, ocorre como já mencionado anteriormente a Conferência de

Estocolmo, um marco para o direito ambiental, mas no que condiz a água muito pouco

foi discutido, apenas havendo menção do recurso natural em dois princípios:

“Princípio 2: Os recursos naturais, incluindo-se o ar, a água, a terra, a flora, a fauna e, especialmente amostras representativas dos ecossistemas naturais, devem ser salvaguardados em benefício das gerações atuais e das futuras, por meio do cuidadoso planejamento ou administração, conforme o caso. (...) Princípio 7: Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para evitar a poluição dos mares por substâncias capazes de por em perigo a saúde do homem, causar danos aos recursos biológicos marinhos, prejudicar os meios naturais de recreio ou interferir em outros usos legítimos do mar” (DECLARAÇÃO da

Page 30: Aquifero Guarani

xxx

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – Declaração de Estocolmo, 1972, Princípio 2 e 7).

No princípio 2, refere-se a água de um modo geral, incitando sua preservação

através de uma gestão planejada capaz de prover seu uso presente e uso das gerações

futuras. E no princípio 7, a Declaração de Estocolmo avalia a poluição dos mares, que

deve ser evitada, relacionando-a com a saúde do homem.

Mas de um todo, a sociedade ainda não havia percebido a importância

fundamental que a água exerce na vida humana. Dessa forma somente em 1977 foi

realizada a I Conferência das Nações Unidas sobre a Água, em Mar Del Plata, com uma

abordagem nova sobre o tema; sua declaração chamada de Plano de Ação de Mar del

Plata previa e reconhecia que a água deve ser considerada uma das bases para o

desenvolvimento sócio-econômico da sociedade, além de defender que “todos os povos,

quaisquer que sejam seu estágio de desenvolvimento e suas condições sociais e

econômicas, têm direito ao acesso à água potável em quantidade e qualidade à altura de

suas necessidades básicas". Assim, foi declarado que a década de 1980 seria

considerada a Década Internacional do Fornecimento da Água Potável e do Saneamento

(RELATÓRIO da Conferência das Nações Unidas sobre a Água, Cap. I. Resolução II).

Sobre a importância da água Guimarães (2007) afirma que todos os recursos

naturais são primordiais para o equilíbrio dos ecossistemas, e que a alteração ou

destruição do um desses ecossistemas pode alterar de forma danosa o sistema como um

todo. No entanto pra ele, a água é um recurso que merece uma atenção especial, pois

além de dois terços do corpo humano ser formado por água, uma pessoa não pode

passar mais de cinco dias sem esse líquido sem que corra risco de morte. Para esse

mesmo autor, “além do valor essencial ao ser humano a água possui reflexos nos

campos cultural, religioso e, também, econômico, com conseqüências políticas e

estratégicas” (GUIMARÃES, 2007, p.14).

A década da água instituída pela ONU, não apresenta resultados efetivos. A

degradação do meio ambiente ocorre de modo cada vez mais acelerado, juntamente com

o aumento populacional, e o crescimento da miséria mudam sutilmente a abordagem

desse tema, que até então tinha seu enfoque centrado em instrumentos econômicos

(água e sua função no desenvolvimento econômico). Oficialmente em 1990, foi

realizado um encontro em Nova Déli, Índia, para analisar as resultantes de uma década

Page 31: Aquifero Guarani

xxxi

toda de incentivo a preservação e gestão planejada dos recursos hídricos. Para tanto

Lúcia Chayb Diretora da ECO - 213, faz referência aos resultados obtidos:

“Doenças endêmicas de veiculação hídrica foram minimizadas no quadro geral da saúde e ficou comprovado que, na década, a cobertura dos serviços mundiais de abastecimento de água e de coleta de esgotos se manteve no mesmo nível que o crescimento demográfico, o que significou, em alguns países, uma grande conquista em face à falta geral de recursos. O número de pessoas que continuam sem esses serviços diminuiu substancialmente nas zonas rurais, mas aumentou nos grandes centros urbanos” (CHAYB, 2008).

Em janeiro de 1992, foi realizada a Segunda Conferência sobre Água e Meio

Ambiente em Dublin, Irlanda. Essa conferência também foi uma preparação para

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92,

realizada no Rio de Janeiro em junho do mesmo ano, a qual foi um marco para o Direito

Ambiental sobre os recursos hídricos, já que um dos seus resultados mais efetivos foi a

criação da Agenda 21, cujo relatório apresenta um capítulo específico sobre a água. Tal

qual afirma Salomé que “todo o capítulo 18 da Agenda 21 foi dedicado ao tema,

evidenciando a necessidade de se implementar um gerenciamento integrado dos

recursos subterrâneos e superficiais ao nível das bacias hidrográficas” (SALOMÉ, 2008,

p.5).

Em síntese, o capítulo 18 sob o título de “Proteção da Qualidade e do

Abastecimento dos Recursos Hídricos: Aplicação de Critérios Integrados no

Desenvolvimento, Manejo e Uso dos Recursos Hídricos”, se tinha por objetivo o

desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos, a avaliação e a proteção dos

mesmos, a busca pela qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos; a busca pelo

abastecimento de água potável e saneamento, a ponderação sobre água e

desenvolvimento urbano sustentável; e a análise dos impactos da mudança do clima

sobre os recursos hídricos. Com isso cabe ressaltar uma parte do texto, que evidencia de

forma concreta as disposições acima apresentadas:

“(...)18.2 A água é necessária em todos os aspectos da vida. O objetivo geral é assegurar que se mantenha uma oferta adequada de água de boa qualidade para toda a população do planeta, ao mesmo tempo em que se preserve as funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas, adaptando as atividades humanas aos limites da capacidade da natureza e combatendo vetores de moléstias relacionadas com a água.

3 Revista mensal de distribuição nacional com a temática política ambiental e responsabilidade sócio ambiental destinada ao terceiro setor e aos profissionais da educação, saúde, turismo, transporte, energia, biologia, saneamento, entre outras.

Page 32: Aquifero Guarani

xxxii

Tecnologias inovadoras, inclusive o aperfeiçoamento de tecnologias nativas, são necessárias para aproveitar plenamente os recursos hídricos limitados e protegê-los da poluição. 18.3 A escassez generalizada, a destruição gradual e o agravamento da poluição dos recursos hídricos em muitas regiões do mundo, ao lado da implantação progressiva de atividades incompatíveis, exigem o planejamento e manejo integrados desses recursos. Essa integração deve cobrir todos os tipos de massas inter-relacionadas de água doce, incluindo tanto águas de superfície como subterrâneas, e levar devidamente em consideração os aspectos quantitativos e qualitativos. Deve-se reconhecer o caráter multissetorial do desenvolvimento dos recursos hídricos no contexto do desenvolvimento sócio-econômico, bem como os interesses múltiplos na utilização desses recursos para o abastecimento de água potável e saneamento, agricultura, indústria, desenvolvimento urbano, geração de energia hidroelétrica, pesqueiros de águas interiores, transporte, recreação, manejo de terras baixas e planícies e outras atividades. Os planos racionais de utilização da água para o desenvolvimento de fontes de suprimento de água subterrâneas ou de superfície e de outras fontes potenciais têm de contar com o apoio de medidas concomitantes de conservação e minimização do desperdício” (DOCUMENTO Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Cap. 18 - Proteção da Qualidade e do Abastecimento dos Recursos Hídricos: Aplicação de Critérios Integrados no Desenvolvimento, Manejo e Uso dos Recursos Hídricos, § 2 e 3).

Desse modo, os países passam a enfocar a busca da sustentabilidade no uso dos

recursos hídricos, garantindo a necessidade de realizar-se um planejamento participativo

e integrado para melhor aproveitar esse recurso de forma a manter os ecossistemas

saudáveis.

Meses antes da Rio-92, em março do mesmo ano, um documento fundamental

para a elaboração de tratados relacionados à água foi criado, justamente com a

Convenção sobre a Proteção e Utilização de Cursos d’Água Transfronteriços e Lagos

Internacionais, surgindo no Direito Ambiental Internacional o conceito de “águas

transfronteriças”. Destacando que essas águas que perpassam mais de um território

soberano devem ser regidas de acordo com os princípios de direito ambiental

internacional, dentre as disposições do documento, destacam-se os princípios da

prevenção, da precaução, da informação e notificação ambiental, e da cooperação

internacional.

Os princípios da prevenção e precaução são muito semelhantes, no sentido que

ambos atuam para evitar o acontecimento de um dano ambiental. Em síntese o princípio

da prevenção é regido pelo pensamento de que muitos dos danos ambientais que podem

ocorrer não possuem reparação; desse modo a melhor decisão é preveni-lo. Assim sendo

se um Estado pretende colocar em prática alguma ação que pode modificar o meio

ambiente de outro, essa ação deve ser rigorosamente analisada. Já o princípio da

precaução aplica-se como complemento da prevenção, se a ação de um Estado apresenta

Page 33: Aquifero Guarani

xxxiii

algum risco, por menor que seja, e se não existe comprovação científica do mesmo o

empreendimento deve ser proibido. O princípio da precaução não necessita de

comprovação científica para ser usado, ele é fundamentado na cautela e na prudência

(D’ÁVILA; TABET, 2004, p. 225).

O princípio da informação e notificação ambiental corresponde ao dever do

Estado em avisar a população civil, bem como dos Estados vizinhos, de possíveis danos

ambientais. A importância desse princípio se dá através da idéia que a água é um dos

mais importantes recursos naturais, uma vez que é usada por todos os seres vivos, e

qualquer que seja o nível de sua poluição, as conseqüências podem ser graves.

O princípio da cooperação internacional também é fundamental para o meio

ambiente, já que os ecossistemas não estão condicionados a fronteiras nacionais

territoriais. As questões ambientais podem ser solucionas mais eficazmente se houver a

cooperação entre Estados, e para que esse princípio traga resultados expressivos

D’Ávila e Tabet salientam que alguns pressupostos devem ser seguidos:

“(i) os países têm o dever de proibir a transferência, para outros países, de produtos ou atividades que resultem em danos ambientais; (ii) os países têm o dever de informar a implantação de uma atividade que possa acarretar efeitos danosos a Estados vizinhos; e (iii) os países devem prestar auxílio nas hipóteses de danos ambientais importantes ocorridos em outros países, sendo que estes devem, de imediato, prestar a informação da catástrofe ecológica” (D’ÁVILA; TABET, 2004, p. 227).

Após ter analisado alguns princípios do direito internacional que mais

interferem sobre a preservação e a gestão dos recursos hídricos, vale destacar que a

partir de meados da década de 1990 a água ganhou um escopo maior nas discussões

internacionais. Em 1997 foi realizado o I Fórum Mundial da Água em Marrakesh,

Marrocos, e ficou determinado que a cada período de três anos eles deveriam reunir-se

novamente. Em 2000, o II Fórum da Água ocorreu em Haia, Holanda, e em 2003 foi a

vez de Kyoto, Shiga e Osaka, no Japão, sediar o III Fórum da Água. Em 2006, o IV

Fórum da Água ocorreu na Cidade do México, México, e o V Fórum está programado

para ocorrer em 2009, na cidade de Istambul, Turquia.

Esses fóruns têm por objetivo discutir e analisar as políticas públicas de gestão

e preservação dos recursos hídricos, além de buscar soluções possíveis e acessíveis para

toda a comunidade internacional garantindo melhores condições de vida relacionando-a

com um uso mais responsável dentro de uma preocupação ecológica consciente para

Page 34: Aquifero Guarani

xxxiv

assim, atingir as metas impostas pela Declaração do Milênio (de setembro de 2000,

Nova Iorque)4 e pela Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (de setembro

de 2002, Johanesburgo)5.

Durante o período de realização desses fóruns outros eventos internacionais

relacionados à água estavam acontecendo, como por exemplo, o IV Diálogo Inter-

americano de Recursos Hídricos, realizado em Foz do Iguaçu em 2000; observe-se que

o ano de 2003 foi declarado como ano Internacional da Água Doce pela Assembléia

Geral da ONU, e em 2005 foi estabelecido o Segundo Decênio Internacional da Água

com a finalidade principal de reduzir pela metade a porcentagem de pessoas que não

possuem acesso a água potável e ao saneamento básico.

Nesse sentido conclui-se que a água tem se tornado objeto constante de estudos

e provisões, já que com o grande aumento populacional, expansão industrial e agrícola

juntamente com o descaso dado a esse recurso durante muitos anos, se gerou um déficit

de água doce potável em muitas regiões do globo. Como conseqüência para escassez

mundial é prevista para o cenário internacional, grandes conflitos internacionais com

base na necessidade desse recurso, tanto para a sobrevivência da população, quanto para

o desenvolvimento econômico social de um Estado.

Existem apenas 2,5% de água doce na Terra, e apenas 0,3% desse montante

representa a quantidade existente em rio e lagos, de fácil acesso. A água subterrânea

corresponde a 29,9% da quantidade de água doce e o restante localiza-se em lugares de

difícil acesso, nas calotas polares e geleiras (GUIMARÃES, 2007, p. 16). Com isso

torna-se evidente que a preocupação não deve ser somente com a água superficial,

menos disponível na natureza, mas também com a água subterrânea. Tendo isso em

4 “Artigo 23: Decidimos, portanto, adotar em todas as nossas medidas ambientais uma nova ética de conservação e de salvaguarda e começar por adotar as seguintes medidas: Pôr fim à exploração insustentável dos recursos hídricos, formulando estratégias de gestão nos planos regional, nacional e local, capazes de promover um acesso equitativo e um abastecimento adequado. Intensificar a cooperação para reduzir o número e os efeitos das catástrofes naturais e das catástrofes provocadas por seres humanos.” (DECLARAÇÃO do Milênio – 55ª Sessão das Nações Unidas, Nova Iorque Setembro de 2000. Artigo 23).5 “18.Acolhemos o foco da Cúpula de Johanesburgo na indivisibilidade da dignidade humana e estamos resolvidos, por meio de decisões sobre metas, prazos e parcerias, a ampliar rapidamente o acesso às necessidades básicas como a água potável, o saneamento, habitação adequada, energia, assistência médica, segurança alimentar e a proteção da biodiversidade. Ao mesmo tempo, trabalharemos juntos para nos ajudar mutuamente a ter acesso a recursos financeiros e aos benefícios da abertura de mercados, assegurar a capacitação e usar tecnologia moderna em prol do desenvolvimento, e assegurar que haja transferência de tecnologia, desenvolvimento de recursos humanos, educação e treinamento para banir para sempre o subdesenvolvimento”. (DECLARAÇÃO de Johanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, Nova Iorque Setembro de 2002. §18).

Page 35: Aquifero Guarani

xxxv

mente e visando eliminar possibilidades de conflito entre os Estados, os próximos

capítulos seguirão com o intuito de estudar e analisar as características ambientais e

econômicas de um aqüífero específico, o Aqüífero Guarani, bem como propor que um

plano de gestão integrado entre os países abrangidos por ele, além de gerar maior

cooperação internacional, desencadeando em um movimento positivo para o

MERCOSUL (já que todos os países abrangidos pelo aqüífero em questão fazem parte

desse bloco), o que geraria um benefício sem precedentes para o meio ambiente e para a

economia dos países, já que esse plano de gestão teria como base a busca de um limite

para a exploração da água, com o intuito de promover um uso responsável em equilíbrio

com os ecossistemas, e ainda de acordo com as potencialidades econômicas de cada

região (BOSCARDIN BORGHETTI; BORGHETTI; ROSA FILHO6 apud

GUIMARÃES, 2007, p. 16).

2. Aqüífero Guarani

2.1 Águas Subterrâneas

6 BOSCARDIN BORGHETTI, Nádia Rita; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani

Francisco da. Aqüífero Guarani: a Verdadeira Integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004.

Page 36: Aquifero Guarani

xxxvi

Atualmente a crescente demanda por água, fez com que a preocupação com

relação a esse recurso expandisse, já que com as alterações no modo de viver da

população mundial em crescimento, atreladas às formas insustentáveis de produzir e

consumir também crescentes, bem como a dinâmica da economia globalizada,

configuram-se em um cenário crítico para a gestão das águas no mundo.

Conforme dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations

(FAO), a América do Sul ocupa a segunda posição na disponibilidade geral de água por

continente, tendo 35.808 m3 por habitante por ano, perdendo somente para a Oceania

que possui uma disponibilidade de 55.110 m3 por habitante por ano, assim como

descrito na tabela abaixo. No entanto, vale ressaltar que embora a disponibilidade de

água na América do Sul seja elevada, a distribuição dela no território é irregular, desse

modo há regiões que apresentam baixas disponibilidades enquanto outras, altas em um

mesmo país (FAO, 2004).

Tabela 1: Disponibilidade de água por continenteContinente Disponibilidade de água

(m3/hab./ano)Ásia 3.196África 4.979Europa 8.989América Central 10.579América do Norte 18.089América do Sul 35.808Oceania 55.110

Fonte: elaborado a partir de FAO, 2004.

Como referência para as condições críticas do cenário futuro para a água,

partindo da relação estreita existente entre o saneamento básico e a questão dos recursos

hídricos, cerca de um quinto da população mundial – mais de um bilhão de pessoas –

não dispõe de água potável e quase o dobro disso não tem acesso a saneamento básico.

Com isso, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) ocorrem cinco

milhões de mortes por falta de higiene ou má qualidade de água, e nesse sentido de

acordo com relatório da agência especializada da ONU, 90% da água utilizada nos

países em desenvolvimento é devolvida a natureza sem tratamento (PES, 2005, p.22-

23).

O Brasil apresenta um potencial hídrico incomparável, sendo um dos países

mais privilegiados possuindo pouco mais de 15% da água doce do planeta. Entretanto,

Page 37: Aquifero Guarani

xxxvii

assim como citado acima o território nacional depara-se com a irregular disponibilidade

desse recurso, tendo regiões altamente carentes de água, como o semi-árido, além de

possuir núcleos populacionais com problemas crescentes de abastecimento apesar de

estarem junto a caudalosas fontes de águas (PES, 2005, p. 23).

Vale ressaltar que o Brasil possui abundância hídrica tanto no que condiz a

águas superficiais quanto a águas subterrâneas. Para Celso Fiorillo, as águas são

classificadas de acordo com sua localização, assim as águas subterrâneas são definidas

como lençóis freáticos localizados a certa profundidade do subsolo, enquanto as águas

superficiais são as que se mostram na superfície (FIORILLO apud PES, 2005, p. 24).

“Água subterrânea é toda água que se encontra abaixo da superfície da terra, preenchendo os poros ou vazios intergranulares, ou fraturas e falhas e fissuras as rochas compactas e é submetida a duas forças (de adesão e de gravidade) e desempenha um papel essencial na manutenção da umidade do solo, do fluxo dos rios, lagos e brejos. As águas subterrâneas cumprem uma fase do ciclo hidrológico, uma vez que constituem uma parcela da água precipitada” (BOSCARDIN BORGHETTI; BORGHETTI; ROSA FILHO7 apud GUIMARÃES, 2007, p. 24).

A água subterrânea faz parte do ciclo hidrológico, já que é constituído pela

água da chuva que penetra nos terrenos que são capazes de armazená-la (áreas de

recarga) e por onde esta se encontra em constante movimento. A água subterrânea após

acumulada escoa e atinge áreas de descarregamento, aflorando a superfície e

alimentando rios, lagos e zonas úmidas – águas superficiais (SAG – Sistema Aqüífero

Guarani, 2008).

Assim como descrito acima, a água da chuva escoa alimentando os aqüíferos,

e eles, por sua vez, em suas zonas de descarga alimentam os rios. Os volumes dos

fluxos de água subterrâneos que são descarregados nos rios seguem os valores da tabela

abaixo, estando em destaque a América do Sul já que é a que mais contribui para os rios

e lagos superficiais com águas subterrâneas.

Tabela 2: Contribuição dos fluxos subterrâneos à descarga dos rios (km3/ano)

Continentes/Recursos

Europa Ásia África A. doNorte

A. doSul

Austrália/Oceania

Ex- URSS

TotalMundo

EscoamentoSuperficial

1.476 7.606 2.720 4.723 6.641 1.528 3.330 27.984

Contribuição 845 2.879 1.464 2.222 3.736 483 1.020 12.689

7 BOSCARDIN BORGHETTI, Nádia Rita; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani

Francisco da. Aqüífero Guarani: a Verdadeira Integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004.

Page 38: Aquifero Guarani

xxxviii

SubterrâneaDescarga total média dos rios

2.321 10.485 3.808 6.945 10.377 2.011 4.350 40.673

Fonte: World Resources Institute, 1991

Com o passar dos anos, as águas subterrâneas foram sendo valorizadas, pois

com o aumento da população mundial, o atual desenvolvimento das áreas

agriculturáveis e da produção industrial fez com que a demanda por novos espaços de

exploração de recursos hídricos fossem cogitados. Como resultado do crescimento

populacional, incorporado com outros efeitos danosos ao meio ambiente causados pelo

desenvolvimento, as águas superficiais dos rios e lagos tornaram-se insuficientes e

degradadas, assim a procura por água subterrânea aumentou.

Estudos já provam que na maioria dos casos a água subterrânea apresenta

melhor qualidade que a água superficial, já que ela passa por um processo natural de

purificação até chegar à zona na qual ela será armazenada, e entre os benefícios

mencionados acima, ela constitui ainda, uma importante reserva estratégica para locais

que estão sob condições de escassez ou de limitações de água. As águas subterrâneas

possuem vantagens em relação às águas superficiais, além de serem facilmente

acessível, não ocupa espaço na superfície, sofrendo menor influência das variações

climáticas, são passíveis de extração próxima da área de uso, possuindo maior

quantidade de reservas e maior barreira parcial contra agentes poluidores e os poços de

extração, que são construídos à medida que se necessita de mais água.

O Brasil possui em seu subsolo um volume estimado em 112.00 km3 de água,

e dessa quantia cerca de 2.400 km3 são descarregados nos rios brasileiros, sendo por

esse motivo que, em épocas de seca, muitos rios são perenes. Com isso, deve fazer parte

da política nacional de recursos hídricos um programa destinado à gestão e proteção das

águas subterrâneas integrado com a política já existente de gestão e preservação de

águas superficiais. Vale assim, ressaltar que dezenas de países do globo utilizam-se das

águas subterrâneas para satisfazer suas necessidades, dentre eles cabe citar que

Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Holanda, Hungria, Itália, Marrocos, Rússia e Suíça

atendem de 70 a 90% da demanda para o abastecimento público de água, e ainda que a

Dinamarca, Arábia Saudita e Malta utilizam água subterrânea para o abastecimento total

Page 39: Aquifero Guarani

xxxix

(BOSCARDIN BORGHETTI; BORGHETTI; ROSA FILHO8 apud GUIMARÃES,

2007 p. 26).

O incentivo pela procura de águas subterrâneas motivou pesquisadores

patrocinados pela UNESCO, em seu Programa Hidrológico Internacional (PIH), a

verificar o potencial hídrico dos aqüíferos da América do Sul, e foi nesse relatório que o

Aqüífero Guarani, antes conhecido como Sistema Botucatu ou Gigante do

MERCOSUL, foi identificado e reconhecido pela sua amplitude e dimensão. Na

definição de Rebouças, os aqüíferos são definidos como meios armazenadores e

condutores, em quantidade apreciáveis, de água subterrânea, além de se comportarem

como um sistema, com zona de recarga ou de entradas de água, zona de descarga ou de

saídas água (REBOUÇAS, 2006, p.116.).

É importante notar, que segundo estudiosos da área, as zonas de recarga de um

aqüífero são as regiões que mais apresentam vulnerabilidade para a manutenção da

qualidade da água subterrânea, já que é o local no qual a água da chuva penetra até

atingir o armazenamento, e se esse local for contaminado ou poluído, a reserva poderá

ser comprometida. Além disso, uma super-exploração dessas zonas pode ter como

conseqüência a diminuição do nível do lençol freático, já que sua recarga não seria

suficiente para cobrir sua evasão, podendo gerar danos irreversíveis em nascentes e rios

superficiais. Dependendo do nível do impacto, o aqüífero pode ser prejudicado como

um todo, já que em muitos casos as águas circulam de uma região a outra, não

respeitando fronteiras estaduais e nacionais.

As águas de aqüíferos estão sendo mais utilizadas no Brasil devido a um

aumento da demanda por água, principalmente, no campo agrícola, o qual exige uma

imensa quantidade de água para a irrigação, e no campo industrial, cujo crescimento se

intensificou na última década. A exploração de aqüíferos tem sido preferência devido à

independência de redes de distribuição pública que essa utilização tem por

característica, já que pode configurar seu uso no local da extração. Alguns condomínios

verticais e horizontais, assim como também alguns núcleos urbanos também optaram

por esse tipo de extração, pelas mesmas razões acima citadas.

O Aqüífero Guarani foi batizado com esse nome por sugestão de Danilo

Anton, geólogo uruguaio, o qual o propôs como homenagem a população indígena

guarani que habitava a região de abrangência dessa reserva. O Aqüífero Guarani

8 BOSCARDIN BORGHETTI, Nádia Rita; BORGHETTI, José Roberto; ROSA FILHO, Ernani

Francisco da. Aqüífero Guarani: a Verdadeira Integração dos países do Mercosul. Curitiba, 2004.

Page 40: Aquifero Guarani

xl

abrange Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo um dos maiores reservatórios de

água subterrânea doce do mundo, tendo 1,3 milhões de km2. Ele perde apenas para o

Arenito Núbia (Líbia, Egito, Chade e Sudão) com 2 milhões de km2, e para a Grande

Bacia Artesiana (Austrália) com 1,7 milhos de km2, conforme dados de Boscardin

Borghetti expostos na tabela abaixo.

Tabela 3: Principais Aqüíferos

Aqüífero Local ExtensãoArenito Núbia Líbia, Egito, Chade,

Sudão2 milhões de km2

Grande Bacia Artesiana Austrália 1,7 milhões de km2

Guarani Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai

1,2 milhões de km2

Bacia Murray Austrália 297 mil km2

Kalahari/Karoo Namíbia, Botsuana, África do Sul

135 mil km2

Digitalwaterway vechte Alemanha, Holanda 7,5 mil km2

Fonte: elaborado a partir de Boscardin Borghetti, 2004.

2.2 O Guarani

O Aqüífero Guarani é distribuído entre os quatro países dessa forma: Brasil

com 840 mil km2;, Argentina com 225 mil km2, Paraguai com 71,7 mil km2 e Uruguai

com 58,5 mil km2. Essa reserva é de grande importância, já que nenhum aqüífero até

hoje encontrado, tendo as mesmas características geológicas, possui água, de fato,

própria para o consumo, pois, todas com exceção do Aqüífero Guarani apresentam altas

taxas de salinidade (PES, 2005, p.83).

O Aqüífero Guarani tem grande importância no Brasil, já que suas águas

ocupam 10% do território nacional e 69% do total do aqüífero localiza-se em subsolo

brasileiro. É uma fonte hídrica de alta qualidade para suprimento de cidades, para a

utilização na indústria, para irrigação na agricultura e também para estâncias

hidrotermais, pois a predominância da temperatura da água fica em torno de 30ºC.

Seguindo essas características, 21% do aqüífero localizam-se na Argentina, 6% no

Paraguai e 4% no Uruguai. Outra característica importante são os locais de afloramento,

ou seja, são as zonas nas quais as águas subterrâneas afloram a superfície, nessas

regiões o risco de contaminação é maior, já que há um contato com o solo e se este

estiver contaminado a qualidade das águas do aqüífero pode ser prejudicada. 67,8% das

zonas de afloramento do Aqüífero Guarani estão no Brasil; 30,1% estão no Paraguai;

Page 41: Aquifero Guarani

xli

2,1% no Uruguai; vale destacar que não foi identificado áreas de afloramento na

Argentina (GUIMARÃES, 2007, p.29).

No mapa abaixo estão indicadas as áreas de recarga indireta caracterizadas

pela cor amarela e as áreas de recarga direta com a cor verde, que são as áreas por onde

a água penetra no Aqüífero; e as áreas de potenciais descargas, por onde a água aflora,

estão na cor laranja. Reafirmando que os limites do Aqüífero Guarani ainda não foram

definidos por completo na Argentina e no Paraguai.

Mapa Esquemático do Sistema Aqüífero Guarani

Page 42: Aquifero Guarani

xlii

Fonte: SAG – Sistema Aqüífero Guarani, 2008.

O aqüífero armazena um volume de água estimado em 40 mil km2, quantidade

suficiente para manter a população brasileira por 3.500 anos se seu uso for feito de

forma sustentável. Por isso é de suma importância que a gestão desse recurso deva ser

feita em conjunto com os países abrangidos por ele, uma ação que gere um impacto

negativo pode representar um grande risco pra todos os outros países, mesmo porque

Page 43: Aquifero Guarani

xliii

todos eles têm o direito de usufruir desse recurso da melhor forma possível (PES, 2005,

p.33).

As águas subterrâneas, apesar de serem de mais difícil contaminação, estão

sendo cada vez mais prejudicadas em sua qualidade e isso se deve principalmente aos

postos de gasolina mal instalados, aos cemitérios mal utilizados, aos depósitos de lixo,

as usinas de açúcar, aos curtumes, aos frigoríficos, às fossas sépticas, aos agrotóxicos e

aos poços rasos e profundos que são construídos, operados e abandonados sem

tecnologia adequada.

De acordo com estudos feitos, provou-se que as águas do Guarani são em sua

maioria próprias para o consumo humano, para a utilização em indústrias e para a

irrigação na agricultura, e também em várias regiões, devido a temperatura ser em

média 30ºC, como já mencionado, sendo a água utilizada inclusive em balneários. Cerca

de 70% da reserva de água encontra-se a 500 metros da superfície, não apresentando

dificuldades para sua extração e, ainda, há possibilidade dos poços serem jorrantes

(REBOUÇAS, 2006, p.129).

Essas características comprovam que o Aqüífero Guarani constitui um incrível

potencial econômico a ser explorado, embora, sua exploração já tenha começado há

alguns anos. De forma tímida, não existe nenhuma forma de regulamentação e

planejamento para tal atividade, e o que aparentemente existe hoje, é uma reserva

imensa que pode ser destruída em poucos anos se seu uso não for feito de modo

consciente sob a proteção dos governos, garantindo sua sustentabilidade.

A água do Aqüífero Guarani é em algumas partes, um montante de água

confinada a milhares de anos, e em outras, da penetração da água da chuva. Dessa forma

seu uso não significa diretamente que ele pode um dia chegar a se esgotar, mas para

tanto existe um limite de exploração. Esse limite de extração é considerado o volume

estimado anual de recarga do aqüífero. No entanto, isso não significa que esse montante

possa ser explorado apenas de uma região, já que cada área apresenta características

específicas, por exemplo, pode se verificar na recarga de uma área, que pode ser mais

lenta que outra, com vulnerabilidade muito maior. Por isso, a atenção a todas as regiões

é essencial para a preservação do Aqüífero, além de ser necessário um estudo atento

para identificar cada área de risco.

A recarga do Sistema Aqüífero Guarani é feita através de partes da água da

chuva que se infiltra pelo solo, ou por rios, arroios e lagos, contribuindo para um

Page 44: Aquifero Guarani

xliv

aumento da reserva. Estima-se que por ano o volume de recarga seja 166 km3, ou seja,

166 trilhões de litros de água por ano. Sendo assim, o limite para a exploração das águas

subterrâneas dessa reserva considerando os perigos de cada região e as variações de

precipitações sem que apresente riscos para ela é de 40 km3/ano (40 trilhões de litros de

água por ano) (GUIMARÃES, 2007, p.31).

No Paraguai, a região do solo, no qual se localiza o Guarani, ocorre

predominantemente a agricultura, já na Argentina e Uruguai, além da atividade agrícola

há também a pecuária. No Brasil, além da agropecuária, ocorre atividade industrial, e

também são regiões que alocam grandes concentrações populacionais. No que diz

respeito à utilização de suas águas, o Guarani é diversificado nesses países. O uso

principal na Argentina é de atividade balneária hidrotermal turística e com fortes

perspectivas para o uso na área industrial. No Paraguai, a maioria da exploração ocorre

para abastecimento público da população, enquanto no Uruguai é mais ampla,

dividindo-se em recreação hidrotermal, tal como na Argentina, irrigação e indústria. No

Brasil, cerca de 70% da água explorada é destinada para abastecimento da população, a

quantidade remanescente é utilizada para turismo hidrotermal, irrigação, extração de

água mineral, e na área industrial. Boscardin Borghetti faz referência aos diversos usos

do aqüífero e suas potencialidades.

“A região de ocorrência do Guarani caracteriza-se por terras férteis e solos com altos índices de produtividade, associados principalmente à decomposição das rochas basálticas sobrepostas da Formação da Serra Geral, onde são desenvolvidas as culturas de soja, milho, trigo, cevada, sucro-alcooleira, etc., e com excelente potencial de desenvolvimento da pecuária de corte de grande diversidade de raças, além de uma indústria bastante diversificada, destacando-se a automobilística e a de beneficiamento de produtos agropecuários (agroindústria – frigoríficos laticínios)” (BOSCARDIN BORGHETTI; BORGHETTI; ROSA FILHO apud GUIMARÃES, 2007, p.32).

A exploração das águas do aqüífero aumenta na medida em que a sociedade

percebe que a sua extração tem custo menor comparado com outras formas de captação.

Rebouças salienta essa informação em seus estudos garantindo que a captação de água

subterrânea é a alternativa tecnológica mais barata para atender determinada demanda, e

para tanto, expõe uma tabela reproduzida logo abaixo (REBOUÇAS, 2006, p. 138-139).

Na tabela, exceto os valores do custo da água subterrânea, o montante

apresenta uma grande margem de variação, alguns chegando a custar quase dez vezes

mais que o valor despendido para a extração da água subterrânea. Vale destacar que a

destilação da água salgada é a que apresenta maior custo, seguido pelo congelamento e

Page 45: Aquifero Guarani

xlv

eletrodiálise, embora haja outro método para a dessalinização da água salgada: a osmose

reversa, que é mais barata. A captação da água de rio também não apresenta valores

altos, no entanto, nessa abordagem não está contabilizado o transporte dessa água e nem

os custos de encanamento e afins, já que muitas vezes a água de rios é utilizada

quilômetros de distância de sua extração, ao contrário da água subterrânea que pode ser

extraída no local de sua demanda.

Tabela 4: Custos internacionais da água pelas diferentes tecnologias disponíveis (não incluem transporte)

Tecnologias Custos(US$ por mil m3)

Captação de rio (só armazenamento)

$ 123- $ 246

Destilação $ 645 - $ 1.085Congelamento $ 368 - $ 633Eletrodiálise (STD* 2.000 e 5.000 mg/l)

$ 276 - $ 537

Reuso de esgoto doméstico (AWT)**

$ 200 - $ 485

Reuso de esgoto (tratamento secundário***)

$ 77 - $ 128

Osmose reversa (água salobra)

$ 120 - $ 397

Captação água subterrânea artificialmente recarregada

$ 118 - $ 138

Captação de água subterrânea naturalmente recarregada

$ 88

FONTE: ROGERS9 apud REBOUÇAS, 2006, p. 139* STD – sólidos totais dissolvidos.** AWT – American Water Treatment*** Redução de nitrogênio, fósforo, filtração e adsorção por carvão ativado

A perspectiva da formalização de um tratado de cooperação não é com o

intuito de promover uma ocupação militar nas áreas de localização do Aqüífero, assim

como a imaginação popular pressupõe, mas sim proteger a região de uma super-

exploração que prejudique parcial ou totalmente os usos futuros de suas águas. O

principal objetivo seria proteger esse recurso da utilização de empresas que buscam

somente o lucro, e não pensam no bem estar da população, pois segundo a legislação

brasileira a água é de domínio público e deve ser garantida como um direito a todos.

Logo é de responsabilidade do Estado garantir a provisão de água saudável para as

pessoas, e nada melhor que garantir através de um planejamento, no qual as águas

9 ROGERS, P. Assessment of Water Resources: Technology for Supply. Resources and World Development. 1987, p.611-623.

Page 46: Aquifero Guarani

xlvi

subterrâneas dessa reserva sejam utilizadas por diversas formas de modo sustentável por

todos, em todos os quatro países de sua ocorrência (GUIMARÃES, 2007, p. 33).

As águas do Guarani para a utilização em abastecimento público são

consideradas muito viáveis, já que, além de serem próprias para o consumo, os custos

de sua produção são 50 vezes mais baixos em comparação com a captação de rios e

lagos (considerando também valores de instalação de encanamento e redes de

distribuição). A tecnologia avançou no sentido da produção de bombas desenvolvidas

para extração em grandes profundidades aumentando a facilidade do processo. Vale

enfatizar, que é de suprema necessidade existir uma rede de distribuição de água

saudável juntamente com um sistema de tratamento de esgoto confiável e eficiente para

que não haja devolução para a natureza sem o devido tratamento, ação que beneficiaria

a proteção do Sistema Aqüífero Guarani (ANA, 2005 apud GUIMARÃES, 2007, p.32.).

Outro uso possível das águas do Guarani é na indústria de água engarrafada.

Esse mercado está em constante crescimento, e há probabilidade alta de tornar-se um

dos maiores setores da economia. Cada vez mais os reservatórios de água doce estão

sendo poluídos ou acabam se esgotando. Dessa forma, ascende um setor capaz de suprir

a necessidade por esse líquido tão precioso e que, juntamente, beneficiaria a indústria

brasileira através da exploração consciente e sustentável das águas do Aqüífero Guarani.

A melhoria na qualidade de vida da população está diretamente relacionada ao

aumento de consumo de água mineral, e mesmo porque existe a noção que a água

mineral possui melhor qualidade do que a água distribuída pela rede pública;

concomitante a isso o mercado consumidor desse produto aumenta sua exigência. Em

países cujos índices de consumo são elevados o mercado de água mineral engarrafada

representa alguns bilhões de dólares, tal qual EUA que atingiu US$ 5,6 bilhões em

2001. No Brasil, a receita desse mercado gira em torno de US$ 400 milhões por ano,

logo está evidente que esse mercado pode aumentar significativamente se houver um

investimento no setor (GUIMARÃES, 2007, p.37).

Outra atividade capaz de se realizar com uso das águas subterrâneas é a

agricultura, isso se deve a qualidade do solo localizado sobre o Guarani. Essa qualidade

aumenta nas proximidades das áreas de afloramento, caracterizada pela terra roxa uma

das mais produtivas e com maior valor de mercado. Não suficiente o aumento da

produção, os custos com a irrigação também são baixos, já que como mencionado acima

Page 47: Aquifero Guarani

xlvii

não necessitam de grandes instalações ou redes, pois podem ser retiradas no local do

uso.

É através da agricultura que a exportação de água é consolidada, pois em um

contexto de escassez mundial de terras férteis e de oferta de recursos hídricos, alguns

países exportam cada vez mais grãos, e isso se deve ao fato de que para a produção

desses bens utiliza-se uma quantidade imensa de água. Não somente a produção de

grãos é que se percebe o uso acentuado de água, mas também na produção de carne e

verduras assim como indicado na tabela.

Tabela 5: Estimativas de consumo de água para produção de alimentosPara produzir Quantidade de litros de

água necessários1 kg PÃO 1501 kg BATATA 1501 kg VERDURA 1.0001 kg CEREAL 1.5001 kg TRIGO 1.5001 kg SOJA 1.6501 kg ARROZ 4.5001 kg CARNE DE VACA 20.000FONTE: SILVA; ORSI; CHINELATO, 2008, p. 30.

Segundo dados dispostos no Plano Nacional de Recursos Hídricos,

aproximadamente 40% do consumo de água destinado à agricultura é utilizado na

irrigação, esses números assustam já que há um aumento exponencial dos campos

cultiváveis devido ao aumento da demanda do mercado. Por um lado, representa que a

agricultura brasileira está expandindo e ganhando novos mercado, e por outro, significa

que o aumento do consumo da água pode futuramente gerar um déficit de água para o

Brasil e também para os outros integrantes do MERCOSUL. Não obstante a isso a

indústria também está aumentando seu gasto de água na produção assim como citado

abaixo.

“Os produtos industrializados também são formas de exportação de água. A maioria deles necessita de água em sua produção. Uma vez agregada à água ao produto industrializado, ela passa a ter um valor muito maior do que a agregada à agricultura. Uma tonelada de água na indústria tem um rendimento 70 vezes maior do que uma tonelada de água usada na agricultura. Para se produzir um litro de gasolina, são necessários 10 litros de água; para 1 quilograma de aço, são necessários 95 litros de água, e para se produzir um quilograma de papel são necessários 324 litros de água” (CLARK; KING apud GUIMARÃES, 2007, p. 39). , 2005

Page 48: Aquifero Guarani

xlviii

Olhando para esse consumo, a FAO elaborou uma estatística com relação à

utilização da água por setor e país de abrangência do Aqüífero Guarani. Através dele

conclui-se que o maior consumo de água está destinado à agricultura em todos os quatro

países, seguido pelo consumo doméstico e, por último, a indústria. No Uruguai 96,2% é

utilizada na agricultura; 1,3%, na indústria; 2,5%, doméstico. Na Argentina 74% é

usada na agricultura; 9,5%, na indústria; e 16% doméstico; esses valores são

semelhantes no Paraguai sendo 71% na agricultura; 9% na indústria e 20% de uso

doméstico. Já no Brasil, 62% utilizada na agricultura; 18% na indústria e 20% de uso

doméstico (FAO, 2004).

Embora a água seja essencial para o consumo humano, tanto na vertente

doméstica, quanto na agricultura e na indústria, é importante destacar que com o passar

dos anos ela tem se tornado mais escassa e seu uso deve ser ponderado de forma a

continuar sua utilização para o desenvolvimento social de cada região, mas também

planejar para que os reservatórios não sejam excessivamente explorados, ainda mais

uma reserva tão importante como o Aqüífero Guarani, que simboliza ainda mais

estreitamente a união dos países do MERCOSUL. Por esse motivo os governos devem

unir-se em cooperação para implantarem um programa de preservação do Guarani, já

que a água por não possuir um valor alto estimula um consumo desenfreado motivado

por um aumento na produção. Já ocorre casos no mundo todo de super-exploração de

fontes de água por empresas transnacionais, Guimarães ressalva esse fato citando:

“As indústrias de bebidas, como se sabe, também necessitam de muita água de boa qualidade para seus produtos, sendo um sério risco para a água subterrânea. Para se ter uma idéia, em dezembro de 2003, a engarrafadora Coca-Cola, na aldeia de Plachimada, na Índia, foi condenada a parar de extrair água, pois os poços da região estavam secando e está fechada até hoje, dependendo da decisão da Suprema Corte do país. O nível dos rios na região chegou a abaixar 10 metros em cinco anos. Uma fábrica é capaz de captar até um milhão de litros de água por dia. O mesmo problema de apropriação de recursos hídricos pela Coca-Cola ocorre na Colômbia e no México” (CASSOL apud GUIMARÃES, 2007, p. 40).

Evidencia assim, que os Estados devem tomar frente no processo de

apropriação da água conduzindo seu uso para melhor atender as demandas privadas e

sociais com o intuito de manter o meio ambiente equilibrado e saudável, para que

futuramente as pessoas não paguem o preço de um uso desproporcional que poderá

gerar um amplo déficit de recursos naturais, inclusive de recursos hídricos.

Page 49: Aquifero Guarani

xlix

3.MERCOSUL e o Aqüífero Guarani

3.1 Dos Conflitos Ao Mercosul

Os recursos hídricos como qualquer outro recurso são razões para relações de

poder e de conflito no mundo todo, pois as relações conflituosas que advêm da

utilização da água são inúmeras e observáveis em grande escala. Essas contendas tanto

podem ocorrer internamente a um Estado, como por exemplo, zonas irrigadas que são

submetidas a determinadas repartições,e ainda, quando há disputa para qual empresa

prestará o serviço de distribuição de água caso ele seja privado, ou podem existir

conflitos quando duas nações disputam entre si uma pequena bacia hidrográfica. Dessa

forma, a América do Sul não escapará de possíveis conflitos políticos de poder ou de

ordem econômica com relação ao Sistema Aqüífero Guarani, vista sua importância e

extensão, interessando a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai (VIANNA, 2002, p.1).

Desse modo, cabe aos países acordar regulamentar, proteger e fazer uma

utilização sustentável os recursos hídricos da reserva citada acima, já que os riscos

futuros são crescentes. Esses riscos já são constatáveis em inúmeros exemplos na

América Latina, entre eles casos de devastações de florestas, assoreamento de rios e

barragens e, inclusive a poluição de aqüíferos são os mais presentes.

Assim como analisado no item anterior, muitos são os usos possíveis da água,

principalmente de uma reserva tão importante quanto a do Aqüífero Guarani. Com isso

conjugam-se também muitas as razões para haverem discórdia conforme o tratamento

dado a essa água armazenada, mesmo por que, além dela abranger vários estados

brasileiros, cada um com sua legislação, ela também abrange outros países soberanos

entre si, configurando-se uma reserva de água transfronteriça.

Vale destacar que a região do Aqüífero Guarani (Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai), no passado apresentou uma série conflitos e alguns até mesmo relacionados

com os recursos hídricos. Embora a maioria dessas contendas não cause reflexos nas

políticas externas atuais, cabe ressaltar que a água é capaz de gerar desentendimentos

em âmbitos internacionais, mesmo em uma região com pouca possibilidade de casos de

“stress” hídrico como na América do Sul.

“O passado da Bacia do Prata, seus conflitos desde a era colonial, e mais recentemente os incidentes em torno da instalação de Itaipu, as disputas pelas cotas para a barragem argentina de Corpus, e as polêmicas em torno da construção

Page 50: Aquifero Guarani

l

paraguaia - argentina de Yacirreta, a par de um conhecimento incipiente das principais características dos aqüíferos e da região, demonstram a necessidade de estudos que forneçam suporte técnico, político e social a acordos visando seu uso múltiplo e comunitário. Entre os diversos motivos para a guerra entre Paraguai e a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai, estava o direito de navegação nos rios fronteiriços” (MENEZES, 1998 apud VIANNA, 2002, p.4).

A questão da Guerra do Paraguai citada acima não se resume somente nos

conflitos existentes pela disputa pelo direito de navegação da Bacia do Prata, já que

outros interesses configuraram o cenário da época, mas é importante frisar que as

estratégias de uso da água já foi mencionado como um dos motivos para conflitos na

região. É evidente que além do interesse político nos recursos hídricos há também,

necessariamente, o interesse econômico, dessa forma, as águas do Guarani por serem de

fácil acesso, apresentar em sua maioria boa qualidade para o consumo e possibilitar uma

gama abrangente de usos está mais suscetível a esses tipos de conflito, situação que se

agrava ainda mais por não existir nenhum ato regulamentando a sua extração.

Após a independência no início do século XIX, muitas disputas pela partilha da

Bacia do Prata ocorreram entra Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, no entanto elas

não derivam de questões étnicas, religiosas, lingüísticas, ou culturais no geral, mas sim

de um nacionalismo territorial focado na busca de conquistar mais territórios

(VIANNA, 2002, p.10).

O Brasil e a Argentina foram os principais focos de tensão geopolítica durante

o período imediato após a independência. Essa disputa consistia em um sistema

maniqueísta para todos os países da região: se o Chile era contra medidas da Argentina,

era automaticamente aliado do Brasil; o Peru que temia o Chile mantinha boas relações

com a Argentina e, conseqüentemente, más, com o Brasil. Essa disputa era em primeiro

lugar pelo controle do Rio da Prata e pelo controle de seus afluentes, que era a principal

desembocadura fluvial da região. Essa ambição pelo controle da Bacia do Prata

consistia no fato de que controlá-la significa controlar os fluxos econômicos da época, o

Brasil tentou muitas vezes dominar a rede fluvial para inverter o fluxo de comércio a

seu favor, já que a condição natural da Bacia favorece à Argentina (VIANNA, 2002,

p.10 - 12).

Para amenizar os conflitos existentes devido ao uso da Bacia do Prata a

diplomacia brasileira investiu todos o seu potencial para a criação de um arcabouço

jurídico que abrangesse de forma clara e objetiva as determinações para um tratado que

Page 51: Aquifero Guarani

li

promovesse uma cooperação continuada e mantivesse ausente os conflitos com os

países fronteiriços.

“Para o Brasil, a temática da gestão da água é estratégica, seja por estar relacionada ao tema do desenvolvimento, seja porque a maior parte das fronteiras do país é definida por rios. A ativa participação do Brasil no cenário internacional tem contribuído para avançar na gestão integrada dos recursos hídricos e nas questões das águas fronteiriças e transfronteiriças, em particular. Entretanto, há outras questões que se revelam sensíveis na agenda internacional no que se refere à água, assim, o assunto extrapola a dimensão técnica, constituindo matéria de interesse da própria política externa do país” (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente – síntese executiva, 2008 p.45).

Outros conflitos decorrentes de diversos usos das águas sul americanas

ocorreram, como a utilização dela para o ciclo de produção hidroelétrica, que embora

não tenha gerado guerras, como a navegação gerou, deu origem a muitas questões

diplomáticas entre os países, entre empresas nacionais e binacionais, tal qual foi os

recentes incidentes acerca das instalações de Itaipu, cuja obra foi foco de tensões.

A disponibilidade hídrica da América do Sul, principalmente dos países

abrangidos pelo Aqüífero Guarani, é muito alta; segundo dados do Ministério do Meio

Ambiente, todos ocupam uma posição de confortável a excelente apresentando apenas

algumas regiões na qual a disponibilidade em relação à demanda é crítica, de acordo

com o índice utilizado pela ONU para medir o volume de água suficiente para a vida em

comunidade. Com todo esse potencial hídrico de consumo Argentina, Brasil, Paraguai e

Uruguai não apresentam, ainda, interesses divergentes e conflitantes com relação à

necessidade hídrica, dessa forma seus objetivos na criação do Projeto Aqüífero Guarani

consiste em uma antecipação aos acontecimentos futuros, já que alguns cenários

prevêem um futuro desastroso para os recursos naturais, principalmente para a água

(BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2008).

Vale ressaltar que conflitos, e até alguns casos de guerra pela água só ocorrem

em regiões que apresentam uma disponibilidade hídrica muito baixa, nas quais as

principais fontes de água localizam-se nas fronteiras territoriais, e juntamente a isso,

verifica-se também a ocorrência de outras razões de conflitos, como por exemplo,

conflitos étnicos, religiosos, culturais, entre outros:

“Verifica-se que, os casos anunciados de “guerra por água” geralmente ocorrem em países onde já existe uma forte tensão por outros motivos, como o caso de Israel e os países fronteiriços. Coincidentemente, a região do Oriente Médio possui baixa

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lii

disponibilidade hídrica e constantes atritos, sendo a ausência de água mais um motivo para as disputas e guerras” (GUIMARÃES, 2007, p.74).

Como já citado acima, a região abrangida pelo Aqüífero Guarani não apresenta

conflitos étnicos- religiosos, ou de outra ordem, que possam desencadear em um

conflito armado. Dessa forma, o Tratado entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai

tem como objetivo diminuir futuramente os conflitos que poderão ser estimulados em

um cenário de carência de água, além de regulamentar o uso dessa reserva tão

importante para as instituições privadas, permitindo uma maior harmonização

legislativa entre os quatro países e possibilitando uma fiscalização mais assídua e

eficiente, e conseqüentemente preservando de forma mais palpável a reserva.

Nesse sentido, com a preocupação cada vez mais direcionada para a

preservação do Guarani, nada mais conveniente do que submeter as questões ambientais

dessa região ao quadro institucional do Mercosul, acordo entre os próprios países

abrangidos pela reserva. Os pontos mais importantes a serem analisados são as políticas

de gestão dos recursos hídricos confrontados na realidade de cada Estado e em um

segundo momento dentro do próprio Mercosul.

Na década de 1980, todos os conflitos existentes na América do Sul foram

minimizados em suas proporções devido a intensa crise econômica que a maioria dos

países estavam passando, dessa forma, Brasil e Argentina, uniram esforços para a

superação das disputas antigas, e criaram uma comissão bilateral para gerir acordos

bilaterais entre eles na área comercial, esse comissão foi estabelecida pela Declaração

de Iguaçu.

“A data da assinatura da Ata de Foz do Iguaçu em 30/11/1985 parece marcar a substituição do nacionalismo e do desenvolvimento nacional pela via da cooperação econômica regional, o que sem dúvidas reduziu as tensões existentes nos anos 60 e 70, onde o militarismo era um fator incentivador de conflitos” (VIANNA, 2002, p.17).

Após essa iniciativa, outras foram tomadas durante o final da década de 80

culminando no Tratado de Assunção, firmado pela República Federativa do Brasil,

República da Argentina, República do Paraguai e República Oriental do Uruguai, em 26

de março de 1991 criando o Mercado Comum do Sul (Mercosul), e em 4 de julho de

2006, na cidade de Caracas, a adesão da República Bolivariana da Venezuela como

membro efetivo.

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liii

“A partir de 1991, a assinatura do Tratado de Assunção, que criou o Mercado Comum do Sul (Mercosul), deu origem a um novo ambiente de integração entre a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, efetivando-se assim o princípio constitucional brasileiro no sentido de se buscar a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Entre os instrumentos negociados no âmbito do Mercosul, está o Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente, aprovado em 2001. A questão dos recursos hídricos está entre as áreas temáticas, sendo atualmente implementado um Protocolo Adicional ao Acordo-Quadro em matéria de gestão integral dos recursos hídricos no âmbito do Mercosul” (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente – síntese executiva, 2008 p.48/49).

Em 1994 o protocolo de Ouro Preto amplia o Tratado e, assim, cria estruturas

econômicas e comerciais para arbitrar conflitos entre seus membros, desse modo, a

América do Sul passa a ter uma organização regional, a qual dispõe de estruturas

próprias como: Conselho do Mercado Comum, Grupo do Mercado Comum, Comissão

de Comércio, Comissão Parlamentar, Fórum Consultivo e Secretariado Administrativo.

“A configuração atual do Mercosul encontra seu marco institucional no Protocolo de Ouro Preto, assinado pelos quatro países em dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade jurídica de Direito Internacional do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para negociar, em nome próprio, acordos com terceiros países, grupos de países organismos internacionais” (GUIMARÃES, 2007, p.88).

Os Estados-Partes do Mercosul concordaram em incorporar as normas dessa

organização nas suas legislações nacionais por meio do Poder Executivo ou pelos seus

Parlamentos, no entanto esse processo possui um tempo diferente em cada país. Além

disso, conforme transcrito do preâmbulo do Tratado de Assunção um dos principais

objetivos do Mercosul, desde sua formação, é o aproveitamento mais eficaz dos

recursos ambientais e a preservação dos mesmos, disponíveis em cada Estado,

considerando a riqueza natural de cada um.

Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social; Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas da complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2008, Tratado de Assunção);

Como foi demonstrado o Mercosul está pautado também na proteção do meio

ambiente, além de ser fundamentado no conceito de desenvolvimento sustentável, o que

se inclui o Aqüífero Guarani e sua preservação; logo esse tema deveria aparecer de

Page 54: Aquifero Guarani

liv

forma mais imperativa nas negociações entre os Estados-Partes. Essa organização

também tem como base a manutenção da democracia nos países, assim como seus

progressos sociais e suas capacidades de integrar os mais desfavoráveis.

“Os quatro Estados Partes do MERCOSUL compartilham uma comunhão de valores que encontra expressão nas sociedades democráticas, pluralistas, defensoras das liberdades fundamentais, dos direitos humanos, da proteção do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, incluindo seu compromisso com a consolidação da democracia, a segurança jurídica, o combate à pobreza e o desenvolvimento econômico e social com eqüidade” (BRASIL, Secretaria do Mercosul, 2008)

Em 1992, o Conselho do Mercado Comum (CMC), composto pelos Ministros

de Relações Exteriores e de Economia dos Estados-Partes, estabeleceu a Decisão

n.01/92 que o Sub-Grupo de Trabalho (SGT) n.8 teria a incumbência, entre outras, de

harmonizar as legislações nacionais sobre o meio ambiente. Nesse sentido a SGT n.7

pela resolução do Grupo do Mercado Comum n. 05/93, órgão decisório executivo

(responsável por fixar os programas de trabalho e negociar acordos com terceiros em

nome do Mercosul), criou a Comissão de Meio Ambiente.

“Os trabalhos da Comissão incluíram a elaboração de uma matriz comparativa das legislações nacionais. (...) Pela Resolução GMC n.22/92, foi criada a Reunião Especializada de Meio ambiente (REMA), com o objetivo de analisar as legislações relativas às proteções vigentes nos Estados-Partes e propor ações com o objetivo de proteger o meio ambiente” (GUIMARÃES, 2007, p.90)

A REMA foi criada com o intuito de unificar a temática ambiental em um

único órgão, pois ela era tratada em diversos fóruns dentro do Mercosul, assim poderia

ocorrer uma harmonização para as posições sobre a matéria. Após essa decisão, foi

estabelecido pela Resolução n.20/95 a criação do SGT n.6 com o nome de “Meio

Ambiente”; os objetivos do SGT n.6 consiste em formular e propor estratégias e

diretrizes que garantam a proteção e a integridade do meio ambiente nos Estados-Partes

em um contexto de livre comércio e consolidação da união aduaneira, além de promover

medidas ambientais efetivas e economicamente eficientes.

Seguindo essa vertente voltada para a preocupação com o meio ambiente, em

junho de 2001 foi adotada na XX Reunião da CMC, a Decisão n.02/01 que aprova o

“Acordo - Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul”, no qual os Estados-Partes

reafirmaram o compromisso com os princípios enunciados na Declaração do Rio de

Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, e ainda estabelece que eles

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lv

devem cooperar para o cumprimento dos acordos internacionais que abranjam a

temática ambiental dos quais sejam parte10.

Observa-se que a cooperação ambiental toma uma amplitude maior no

Mercosul a partir do Acordo Quadro sobre Meio Ambiente, ele ainda propõe que seja

feita uma implementação do intercâmbio de informações entre os países com relação ao

meio ambiente, além de propor o intercâmbio de informações sobre leis, regulamentos,

procedimentos, políticas e práticas ambientais que sejam mais eficientes na para os

Estados no que condiz com a utilização dos recursos naturais de modo a garantir sua

preservação.

A partir do final da década de 1990 foram realizados encontros para a

estruturação de um projeto que teria como finalidade a regulação da exploração e

proteção do Aqüífero Guarani, o esboço do projeto foi incentivado pelos quatro países

abrangidos por ele e, mais, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelo

Banco Mundial. Mas somente a partir de janeiro de 2000, em uma reunião, na qual os

quatro países e algumas agências internacionais apresentaram uma proposta formal, é

que, assim, foi criada a Carta de Foz do Iguaçu11 em 2004, para organizar uma proposta

de gestão para o Sistema Aqüífero Guarani entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

No entanto antes de analisar o Projeto Aqüífero Guarani e sua situação atual

vale perpassar em primeira instância as legislações ambientais dos países do Mercosul

abrangidos pelo aqüífero em questão, dessa forma, poderá ser feita uma avaliação do

que pode ser feito no sentido da harmonização das leis e regulamentos, principalmente

no que condiz com a gestão de recursos hídricos e o que ainda falta fazer para que o

acordo seja completo e não apresente brechas que poderão induzir a conflitos futuros.

10 “Considerando: A importância da temática ambiental na agenda de consolidação e aprofundamento do Mercosul; Que é fundamental possibilitar o desenvolvimento sustentável mediante a cooperação entre os Estados Partes do Mercosul com vistas à melhoria da qualidade ambiental na região; A necessidade de contar com um marco jurídico para regulamentar as ações de proteção do meio ambiente e conservação dos recursos naturais do Mercosul. (...) Art.5º Os Estados Partes cooperarão no cumprimento dos Acordos Internacionais que contemplem matéria ambiental dos quais sejam parte. Esta cooperação poderá incluir, quando se julgar conveniente, a adoção de políticas comuns para a proteção do meio ambiente, a conservação dos recursos naturais, a promoção do desenvolvimento sustentável, a apresentação de comunicações conjuntas sobre temas de interesse comum e o intercâmbio de informações sobre posições nacionais em foros ambientais internacionais” (ACORDO – Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul, 2001).11 “A certeza de que a conservação e o manejo adequado do Aqüífero Guarani poderão propiciar aos povos dos países afetados ao reservatório condições permanentes de abastecimento de água potável. A necessidade de incluir os temas de conservação e de manejo sustentável dos recursos naturais, principalmente quanto aos aspectos da troca de informações, na agenda da integração do Mercosul. A importância de mecanismos de gestão pública e controle social dos mananciais subterrâneos de água” (CARTA de Foz de Iguaçu, 2004 apud Câmara dos Deputados, 2008).

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lvi

3.2 Legislações

O uso do Aqüífero Guarani muitas vezes é feito de forma ilícita; logo, por não

seguir as leis exigidas de cada país, esses usuários podem prejudicar a fonte desse

recurso como um todo. Ou quando a forma de exploração é permitida por lei, muitas

vezes o volume extraído de água é maior do que a capacidade de recarga, não

promovendo assim, um uso sustentável. Nesse ínterim verifica-se a necessidade de

harmonizar as regulamentações voltadas para a gestão da água subterrânea nos quatro

países de sua abrangência, mesmo porque antes da formulação do tratado em si, deve

ser estudado as condições atuais do aqüífero e suas características em cada região, para

com isso determinarem as diretrizes que serão obedecidas.

Sabe-se que as questões ambientais podem levar tanto ao conflito quanto à

cooperação entre os Estados, no entanto, os conflitos podem gerar maiores problemas

ambientais em determinados ecossistemas, desse modo, a cooperação deve ser o pilar

sustentador das negociações e soluções dos problemas entre os países. Desde a

Declaração de Estocolmo os Estados têm uma liberdade limitada, ou relativa para a

exploração dos recursos hídricos, já que ela estabelece que os Estados são soberanos e

possuem o direito de explorar os recursos naturais de acordo com sua políticas públicas,

mas estão condicionados a supervisionar que as atividades praticadas dentro de sua

jurisdição não causem prejuízos ao meio ambiente de outros Estados. Nesse ponto fica

acordado que a soberania cria para os Estados obrigações que são corolário de seus

próprios direitos (MACHADO, 2006, p.1029).

Assim, como previsto pela Declaração de Canela/92, os acordos multilaterais

de meio ambiente devem respeitar a soberania de cada Estado no âmbito do Direito

Internacional, e através disso, possibilitar um quadro de regulamentos que seja uma

realidade de interdependência garantindo benefícios iguais a todos os integrantes12.

Logo a cooperação não se choca com a soberania dos Estados, pois, ela é a autoridade

superior para aprovar e fazer cumprir as leis dentro dos territórios, pressupondo a

independência em relação à autoridade de qualquer outra nação e a igualdade em

relação às mesmas nos termos do direito internacional (SANT’ANNA; RIBEIRO, 2007,

p.2).

12 Para atingir plenamente seus objetivos, os programas ambientais multilaterais têm de definir adequadamente as responsabilidades, respeitar as soberanias nacionais no quadro do Direito Internacional e tornar realidade uma interdependência que garanta benefícios equitativos às partes (DECLARAÇÃO de Canela dos presidentes dos Países do Cone Sul com vistas à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992).

Page 57: Aquifero Guarani

lvii

Cabe aos Estados Partes do Mercosul promover uma harmonização de suas

legislações pertinentes a água, principalmente a águas subterrânea, já que o Aqüífero

Guarani é uma reserva de água a nível internacional e que cada país abrangido por ele

adota um tipo de legislação referente a esse assunto, embora no ordenamento jurídico

tanto do Brasil quanto da Argentina, Paraguai e Uruguai exista a preocupação de manter

um meio ambiente saudável, equilibrado com a promoção de sua preservação.

A República da Argentina estabeleceu através da reforma constitucional de

1994 no art. 41, que: “Todos los habitantes gozan del derecho a um ambiente sano,

equilibrado, apto para el desarrollo humano y para que las actividades productivas

satisfagan la necessidades presentes sin comprometar las de las generaciones futuras; y

tienem el deber de preservarlo. El daño ambiental generará prioritariamente la

obrigación de recomponer, segundo lo establece la ley” (MACHADO, 2006, p.1030).

Ou seja, além de relacionar desenvolvimento humano com as condições do meio

ambiente, ainda ressalva que as atividades econômicas devem ser permeadas pelo

conceito de desenvolvimento sustentável, criado no Relatório Brundtland em 1987.

A República Federativa do Brasil estabelece em sua Constituição Federal de

1988, art. 225, caput, que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e á coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações”. Tal qual a República do Paraguai que prevê na sua

Constituição de 1992, art. 7 que: “Toda persona tiene derecho a habitar en un ambiente

saludable y ecológicamene equilibrado. Constituyen objetivos prioritários de interés

social la preservación, la conservación, la recomposición y mejoramiento del ambiente,

así como su conciliación con el desarrollo humano integral. Estos propósitos orientarán

la legislación y política gubernamental” (MACHADO, 2006, p.1030). Ambos colocam

o meio ambiente relacionado à qualidade de vida e, tal como a Argentina, ao

desenvolvimento humano.

A República Oriental do Uruguai estabelece na sua Reforma Constitucional,

art. 47: “La protección del médio ambiente es de interés general. Las persona deberán

abstenerse de cualquier acto que cause depredación, destrucción o contaminación graves

al médio ambiente. La ley reglamentará esta disposición y podre prever sanciones para

los transgressores” (MACHADO, 2006, p.1030). Assim, fica imposto que a proteção do

meio ambiente está relacionada com a ação de todos os cidadãos uruguaios, e que

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lviii

aquele que praticar alguma ação que prejudique o meio ambiente de alguma forma, está

sujeito a sanções determinadas por lei.

Logo todos estão convencidos de que o meio ambiente representa um bem

inestimável e que deve ser preservado, mesmo porque, quando protegido ele representa

maior qualidade de vida para as pessoas. No entanto no que condiz com a gestão dos

recursos hídricos os países da América do Sul estão quase todos na mesma situação:

com crise nos aparelhos de Estados e multiplicação de conflitos entre setores usuários e

gestores. Em nenhum Estado, sequer, o sistema de gestão é integrado, participativo e

descentralizado estando plenamente em funcionamento, pois todos se dividem entre

privatizações seletivas, concessões estaduais, e até mesmo gestão por municípios; o que

dificulta ainda mais as ações propostas no âmbito do Mercosul para uma harmonização

legislativa com relação ao Guarani. Logo para que seja possibilitado compartir recursos

como a água, dentro do Mercosul, será necessária a formulação de diretrizes de uma

política comunitária no setor (VIANNA, 2002, p. 47).

3.2.1 BRASIL

No Brasil, o primeiro texto referente à água, foi o Código das Águas de 1934, o

qual dava a responsabilidades e atribuições ao Ministério da Agricultura, devido a

prioridade desse setor na economia. Já em 1960, a competência é passada para o

Ministério das Minas e Energia, pois o setor elétrico passa a ser o maior consumidor dos

recursos hídricos. Embora se tenha criado a Secretaria Especial do Meio Ambiente em

1975, o setor só passou a dar importância para a água em 1995, no momento em que o

Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (MMA) fora criado. Em síntese,

houve no Brasil dois períodos da legislação brasileira referente às águas: um a partir de

1934 até 1997, período, no qual o Código das Águas foi o principal texto legal; e o

período após 1997, com a Lei Federal 9.433 que cria bases para uma política e um

sistema de gerenciamento de recursos hídricos, no entanto, o Código das Águas não foi

totalmente revogado, já que ele consiste em um documento detalhado sobre as relações

da sociedade e do cidadão com as águas (PES, 2005, p.56-57).

Dessa forma fica evidente que somente após a criação da MMA em 1995, e

com a criação de Lei 9.433 de 1997 é que o Estado brasileiro passou a formular uma

“Política Nacional de Recursos Hídricos”. As águas subterrâneas, no entanto não

possuíam uma titularidade completamente definida até a emenda Nº 43/2000, na qual

define que as águas subterrâneas comuns aos estados e que ultrapassam limites das

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lix

fronteiras como bens da União13. Assim, fica estabelecida a titularidade das águas

subterrâneas, e conseqüentemente as do Guarani, a qual representa um dos principais

focos de disputa, já que a titularidade significa poder de outorga e cobrança sobre seu

uso significando recursos financeiros elevados. Essa disputa também já é percebida no

cenário internacional, pois tanto o Banco Mundial (BM) quanto a Organização dos

Estados Americanos se propuseram em financiar os estudos e as pesquisas do Projeto do

Aqüífero Guarani.

Em 2000 foi criada a Agência Nacional de Águas (ANA), caracterizada como

um organismo federal com certo grau de autonomia com relação aos governos, e em

2001 foram criados organismos de gestão estadual da água, no entanto depois de

promulgada a lei federal, muitos estados brasileiro promulgam suas leis estaduais

diferente de outros estados desencadeando conflitos entre eles:

“Um ponto preocupante, no que diz respeito às legislações estaduais é que, do ponto de vista territorial, podem aparecer vantagens comparativas entre estados brasileiros na oferta de recursos hídricos, o que certamente influência na alocação de investimentos nos campos: industrial, lazer, agro-industrial e agrícola, entre outros” (VIANNA, 2002, p.61).

Vale ressaltar que a Constituição Estadual do Rio Grande do Sul, só se refere à

água subterrânea na temática de infrações e penalidades, no entanto, sua utilização do

Guarani é de extrema importância, pois ela é feita nas áreas de afloramento para

abastecimento público e irrigação de arroz, estima-se que existam 80 poços nesta região.

A Constituição Estadual do Paraná, apesar de apresentar um capítulo todo sobre as

águas subterrâneas, a importância das mesmas são negligenciadas, dentro do Sistema

Aqüífero Guarani, esse estado possui cerca de 90 poços, dos quais em torno de 70 na

borda da bacia, e 20, no interior da bacia. O estado de São Paulo é o que está mais

avançado em relação à legislação de águas subterrâneas, e é o que mais utiliza água do

Guarani; o número de poços registrados é de apenas 243, mas o órgão que opera os

dados quantitativos de águas subterrâneas acredita que os números estejam em torno de

500 poços. Minas Gerais passa a ter uma legislação específica sobre as águas

subterrâneas a partir de 2000, essa lei prevê a administração, a proteção e a conservação

dessas águas, no entanto são somente três os poços cadastrados que utilizam a água do 13 “Art. 1º O inciso III do art. 200 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 20. São bens da União:...”. III – os lagos, rios e quaisquer correntes de águas, superficiais ou subterrâneas, inclusive os aqüíferos, em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um estados, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais”; (SENADO, 2000 apud VIANNA, 2002, p.60).

Page 60: Aquifero Guarani

lx

Guarani. A Constituição Estadual de Goiás, também possui uma lei sobre as águas

subterrâneas, e prevê um cadastro especial para poços, e fiscalizações e sanções

específicas; nesse estado brasileiro há um cadastro com 10.000 poços sendo menos de

5% os que usam água do Aqüífero em questão. A Constituição do Mato Grosso é ainda

incipiente nesse setor, apenas reconhece que os recursos hídricos devem ser

principalmente para o abastecimento humano e que as águas subterrâneas devem ser

tratadas como reservas estratégicas; somente três poços dos 3.000 registrados são de

águas do Guarani. Já o estado do Mato Grosso do Sul possui um capítulo exclusivo

dedicado aos recursos hídricos, neles estão indicadas as prioridades para abastecimento

público, um tratamento especial para as águas subterrâneas e a cobrança pelo uso da

água (VIANNA, 2002 p.57-76).

3.2.2 ARGENTINA

Na República Federativa da Argentina, os recursos naturais são propriedade

pública das 23 províncias e da cidade de Buenos Aires. O que se torna a principal razão

para não existir uma lei nacional que garanta conformidade para a gestão das águas; a

descentralização e a dispersão são as principais características da gestão dos recursos

hídricos no país, razão pela qual existe uma série de organizações com o intuito de gerir

esse assunto. Com relação às águas subterrâneas das dezenas de organizações existentes

para recursos hídricos apenas uma trata do tema, o Centro de Águas Subterrâneas,

dentro do Instituto Nacional da Água (INA). Vale ressaltar que até 1968 as águas

subterrâneas eram tidas como bens privados, a partir desse ano elas passaram a ser de

domínio público, gerando muitos conflitos dentro do país, pois algumas províncias

ainda estabelecem que elas são de domínio privado (PES, 2005, p. 64).

A primeira Lei Provincial foi elaborada em 1884, no entanto, as províncias

sempre apresentaram dificuldades para a gestão dos recursos hídricos, tendo por

conseqüência a falta de prioridade com relação a esse tema no país, por isso dentre os

quatro Estados abrangidos pelo Guarani, a Argentina é o que menos possui dados sobre

a reserva. Isso se deve também a ausência de registros sistematizados, pois apenas

algumas províncias guardam dados e informações sobre poços de extração de água

subterrânea (VIANNA, 2002, p. 77).

Na Argentina, o Aqüífero Guarani abrange as províncias de Santa Fé, Entre

Rios, Corrientes, Chaco, Formosa e Missiones. Como mencionado acima as províncias

apresentam certo grau de autonomia no que concerne ao meio ambiente, dessa forma as

Page 61: Aquifero Guarani

lxi

disparidades entre as legislações sobre gestão dos recursos hídricos são elevadas; assim,

cabe verificar as características gerais do ordenamento jurídico de cada umas das

províncias (PAG, 2008).

Em Entre Rios a legislação ressalva a importância das águas subterrâneas e

principalmente com as águas termais advindas do subsolo. Desde 1953 existe um

mecanismo de outorga para as águas subterrâneas, ou seja, uma permissão para a

perfuração de poços. Assim a Lei 9064 de 14/02/97 e um decreto após essa data

declaram que as águas termais, em especial as do Aqüífero Guarani, devem ser

protegidas; em 1998, com a Lei Provincial de Águas 9.172 é que foi criada uma série de

mecanismos de gestão, embora ainda em estágio embrionário; não existe um sistema de

cadastros de usuários, e as informações existentes sobre as águas subterrâneas são

dispersas e dependem dos proprietários dos poços. Entretanto, está sendo elaborado um

Plano Provincial de Recursos Hídricos com o intuito de angariar informações sobre os

recursos hídricos, e monitorá-los de forma mais consistente (VIANNA, 2002, p. 81).

Em Corrientes, existe um Código de Águas, embora a Constituição Provincial

não aborde o tema, a outorga de direito de uso é feita na forma de permissões e

concessões que estabelecem as prioridades de usos da água. A água subterrânea é

considerada como direito privado, apesar de também estabelecer prioridades para caso

de uso comum. As concessões são feitas pelo Instituto Correntino de Água (ICA), e este

vem incentivando a criação de Comitês de Bacias que podem abranger produtores

rurais, indústrias, empresas usuárias de água em geral e municípios (VIANNA, 2002,

p.82).

A Constituição da Província de Misiones estabelece que os recursos naturais

são públicos, assim como a água subterrânea, e apenas a Lei 1.838/88, define como

deve ser feito o aproveitamento, o uso, a conservação e a preservação, e, ainda, garante

que as fiscalizações deverão ser feitas pela SubSecretaria de Obras Hidroelétricas. Em

1997, a Província de Formosa reestruturou o seu Código das Águas de 1978, e inclui

temas como as águas subterrâneas e determinando como órgão gestor a Dirección

Provincial de Recursos Hidricos (DPRH), divididos em quatro setores: obras, estudos e

projetos, hidrologia e geologia e legislação de água; as águas dessa província são

consideradas públicas, e poucas outorgas são concedidas, não há controle de registro de

permissão e concessões, inviabilizando a formação de um cadastro de usuários

(VIANNA, 2002, p. 82-83).

Page 62: Aquifero Guarani

lxii

Na província de Chaco, o Código de Águas determina que a água é de domínio

público, trata especificadamente das águas subterrâneas, especifica a necessidade da

outorga na forma de permissões e concessões e prevê diversos tipos de cadastros e

registros. No entanto, não existe um Plano Diretor dos Recursos Hídricos, nem Planos

de Bacias, e embora incipiente há um programa para a implantação de um sistema de

informações sobre os recursos hídricos (VIANNA, 2002, p. 83-84).

Na província de Santa Fé as leis referentes a água até 1998 consistia em

autorizar concessões para obras hidráulicas, além de concessões a empresas privadas,

nos 48 municípios da região. Por não existir um Plano de Recursos Hídricos, ou de

Planos de Bacias, não foi possível confirmar a existência de redes de informações, e os

dados existentes sobre os aqüíferos são dispersos e incompletos (VIANNA, 2002, p.

85/86).

3.2.3 URUGUAI

A República Uruguaia é unificada em sua legislação, não existem legislações

de caráter regional ou local. O Código de Águas de 1978 rege o regime jurídico

nacional, sendo o único voltado para esse tema no país, este código determina ser

necessária uma permissão ou concessão para a exploração de qualquer tipo de água. As

regras são específicas quanto a navegabilidade, mas genéricas quando se trata de sua

gestão, uso, cobrança e regulação (PAG, 2008)

As águas no Uruguai podem ser públicas ou privadas, mas seus usos devem ser

registrados, e os usuários devem informar mensalmente os volumes utilizados; este

mecanismo serve para todos os tipos de águas. As águas em terrenos privados são

classificadas como privadas desde que tenham autorização do Ministério, e águas

encontradas em terrenos públicos é propriedade do Estado. Tendo em vista essa

característica o governo criou através de um Decreto Presidencial o “Marco de Gestão

para o Aqüífero Guarani no Uruguai”, já que as águas do Guarani podem ter dois tipos

distintos de regime de propriedade, o que dificultaria sua gestão. Ainda em relação às

águas de domínio público, o Estado garante que as normas de direito internacional

poderão estar acima do Código de Águas do Uruguai (VIANNA, 2002, p.89).

“Os perfurados estão obrigados a requerer autorização para executarem obras de captação e a fornecer os dados referentes à perfuração de poços, especificadamente as informações sobre as formações geológicas que contiverem água. (...) Desta forma o poder público uruguaio tenta, através de instrumentos, legais manter um

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lxiii

controle sobre as informações referentes às águas subterrâneas em seu território” (VIANNA, 2002, p.89).

Desse modo a fiscalização uruguaia é uma das mais eficientes, pois além de ter

um sistema de gestão integrado, possui mecanismos de controle de poços e de volume

de extração de água. Além disso, foi criado um fundo gerido pelo Instituto Geológico

del Uruguai que controla as perfurações e tem por objetivo incentivar o uso das águas

subterrâneas no meio rural.

3.2.4 PARAGUAI

O primeiro texto que decorria sobre o tema água foi o Código Rural de 1906,

tratava da água como uso agropecuário, a qual vinculava a propriedade da água à

propriedade de terra. Ele também estabelece que o direito tanto das águas superficiais

quanto subterrâneas é privado, e é o poder municipal quem gerencia a água, autorizando

concessões e permissões. O limite de exploração também era legalizado, sendo

permitida a retirada de 50% da vazão média (VIANNA, 2002, p. 91).

Em 1972 foi criado um organismo que teria como função se dedicar ao

saneamento básico rural, o “Servicio Nacional de Saneamento Ambiental”, as

comunidades atingidas por esse serviço alcançou 80% da população paraguaia. Seu

ordenamento jurídico tal qual o da Argentina é disperso com relação aos recursos

hídricos, e os princípios da Constituição Paraguaia de 1992 salientam que o objetivo é a

descentralização e minimização do Poder Público, incrementando assim maior

participação da esfera privada nos serviços públicos (VIANNA, 2002, p.92).

“Assim como no Brasil, a Lei Nº 1.561/2000 que criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente e a SEAM (Secretaria de Meio Ambiente), com status de ministério, trouxe as questões relativas á águas e recursos hídricos para a esfera ambiental. O texto define como objetivos da SEAM organizar e consolidar um Sistema Nacional de Gestão Ambiental e de Manejo Autosustentáveis dos Recursos Naturais. Entre suas nove áreas de atuação desde ordenamento territorial e gestão ambiental até fiscalização e monitoramento ambiental, uma é dedicada à Proteção dos Recursos Hídricos” (VIANNA, 2002, p.92).

Assim ficou estabelecido que a SEAM que também foi instaurada pelo

Paraguai seria o órgão estruturador das iniciativas do aparato legislativo de regulação,

no entanto não será o organismo gestor dos recursos hídricos, logo o Paraguai ainda não

possui um órgão responsável para tal função. Mesmo porque a gestão por bacia

hidrográfica no Paraguai só foi feita em duas ocasiões – internacionais: Comitê do Rio

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lxiv

do Prata (com Brasil, Uruguai, Argentina e Bolívia) e a Bacia do Pilcomayo (com

Bolívia e Argentina) (VIANNA, 2002, p.93).

3.3 Projeto Aqüífero Guarani - PAG

Com a criação do Programa de Águas Subterrâneas pelo Ministério do Meio

Ambiente em 2001, o Brasil tem por objetivo integrar sua gestão sobre os recursos

hídricos, com ênfase nas águas subterrâneas, esse programa incentivou a criação de

muitos outros, inclusive alguns na esfera internacional; como por exemplo, o Programa

Internacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos Subterrâneos Transfronteriços

conhecido como “ISARM (International Shared Aquifer Resources Management

Programme)”, e o Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do

Sistema Aqüífero Guarani, o PAG (BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2008).

O principal objetivo do ISARM é de garantir suporte para a cooperação

internacional estimulando desenvolvimento do conhecimento científico nas reservas de

águas subterrânea eliminando conflitos em potencial, principalmente nos locais em que

há diferenças entre e os ecossistemas, característica que pode gerar conflito

(GUIMARÃES, 2007, p.66).

O Projeto Sistema Aqüífero Guarani tem por objetivo estabelecer as diretrizes

gerais para a gestão e o uso sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (SAG). Através do

projeto se busca apoiar os quatro países na elaboração e implementação de um sistema

institucional, legal como o intuito de gerir e preservar o SAG. Esse projeto apresenta

sete componentes, sendo eles: I. Expansão e consolidação da base atual do

conhecimento científico e técnico sobre o SAG; II. Desenvolvimento e instrumentação

conjunta de um marco de gestão para o SAG baseado em um programa estratégico de

ação ajustado pelas partes; III. Promoção da participação pública e dos agentes

interessados, da comunicação social e da educação ambiental; IV. Avaliação e

acompanhamento do projeto e divulgação dos resultados; V. Tomada de providências

para a gestão das águas subterrâneas e para a mitigação de prejuízos, conforme as

características da região, em áreas críticas, “hot spots”; VI. Consideração do potencial

para a utilização da energia geotérmica “limpa” do SAG; VII. coordenação e gestão do

Projeto. (PAG, 2008).

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“(...) o Projeto Sistema Aqüífero Guarani (PAG) tem por objetivo, por meio de financiamento estrangeiro, mapear e melhorar o conhecimento sobre o Guarani. Essa necessidade fez com que os governos dos países onde está situado o Sistema Aqüífero Guarani buscassem apoio junto ao Global Environment Facility ou Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF ou FMAM) para prepararem o Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani. O apoio foi concretizado por intermédio do Banco Mundial, como agência implementadora dos recursos, e da Organização dos Estados Americanos (OEA), como agência executora internacional. Há, ainda, como agências cooperantes a Agência Internacional de energia Atômica e o Instituto Federal de Geociências e Recursos Naturais da Alemanha” (GUIMARÃES, 2008, p. 67).

Verifica-se, assim, que muitos são os interessados na proteção e regulação dos

usos dessa reserva, além dos países abrangidos por ele. O que até o fim da década de

1990 era negligenciado ganhou a atenção internacional de muitas organizações e

instituições, todos os países abrangidos por ele mostram-se interessados na finalização

do projeto, já que além de diminuir as “sombras” de conflito, pode promover

internamente em cada país uma revolução no sistema legislativo concernente aos

recursos hídricos. Pois, como foi visto a legislação dos quatro países são dispersas e

apresentam grandes lacunas a respeito desse tema.

O PAG passou por quatro fases; de maio de 1999 a maio de 2000 foi o período

de sua Concepção, fase, na qual foi elaborada sua proposta, nessa fase os recursos

utilizados foram provenientes dos países abrangidos pelo Aqüífero. A segunda fase foi a

Preparação, do período de junho de 2000 a dezembro de 2001, que consistiu na

elaboração e aprovação do projeto pelos países e pelo GEF; nessa etapa ocorreu a

primeira doação dessa instituição e foi coordenada pela Secretaria dos Recursos

Hídricos do Brasil. A Terceira fase foi a da Negociação, feita entre o período de outubro

de 2001 a fevereiro de 2003, quando a elaboração foi concluída e foi celebrado um

acordo base para a execução do projeto, nessa fase o Banco Mundial e a OEA

participaram do acordo e contribuíram para o financiamento do mesmo. A quarta e

última fase é a da Execução, essa fase consiste na elaboração de um modelo de gestão

para a conservação e preservação do Aqüífero Guarani, assim como a execução das

principais ações com relação ao projeto já implementado; essa etapa ainda está em

processo desde março de 2003 e com previsão para finalização em fevereiro de 2009

(GUIMARÃES, 2007, p.68).

“(...) provavelmente o Sistema Aqüífero Guarani possui áreas diversificadas, com qualidade de águas diferentes, o que gera uma gama variada de possibilidades de sua exploração. As informações levantadas pelo PAG ou por qualquer outro projeto que está estudando o sistema poderão indicar o ponto exato onde deverá ser exercido

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lxvi

determinado tipo de atividade econômica. Aquele que tiver acesso primeiro às informações e possibilidades financeiras de explorar o Aqüífero levará vantagem. Certamente, também, os dados servirão ao sistema de inteligência de governos estrangeiros que têm preocupação com a água subterrânea, como reserva estratégica de água em um ambiente de escassez hídrica” (GUIMARÃES, 2007, p.68).

Esse projeto visa planejar como se dará a utilização das águas do Aqüífero,

assim, como promover uma gestão coordenada de suas águas, para dessa forma alcançar

a proteção ambiental integral do sistema como um todo. O projeto identificará e aplicará

políticas, mecanismos e instrumentos capazes de promover uma gestão ordenada do

sistema guarani entre todos os países envolvidos; mesmo porque esse estudo – que

antecipa o projeto – tem como função avaliar as áreas de ocorrência do aqüífero e

recomendar para quais usos a água deve se destinar. Como dito anteriormente cada

região possui sua especificidade e, dessa forma, se faz necessário um sistema de

informação que garanta que todas as áreas de riscos serão asseguradas de um uso

excessivo. Amenizados os riscos, as questões de conflito entre os estados e os países

abrangidos pela reserva diminuem, evitando desgastes das relações dos mesmos no

âmbito do Mercosul (PAG, 2008).

Além disso, o projeto também contribuiu para alargar o conhecimento dos

países sobre seus próprios recursos naturais, mesmo por que com as pesquisas feitas

para o Guarani, e todo o aparato constitucional criado para esse acordo específico

poderá ser utilizado no empreendimento de novos acordos de aqüíferos transfronteriços

que existem na América do Sul. As legislações também foram atualizadas, mesmo

porque, como exposto no item anterior, os países do Mercosul não tinham desenvolvido

um sistema de gerenciamento integrado e unificado dos recursos hídricos.

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lxvii

Considerações finais

Os recursos hídricos transnacionais, que ultrapassam as fronteiras dos Estados,

podem causar situações de conflitos entre as partes abrangidas pela reserva, no entanto,

também podem levar a cooperação entre os países pela sua utilização. No caso do

Aqüífero Guarani, compartilhado por quatro países, todos integrantes do Mercosul, já

existe um projeto com o intuito de formular soluções para os problemas comuns através

da cooperação; o Projeto de Proteção do Sistema Aqüífero Guarani coordenado pelo

Mercosul com financiamento da GEF, da OEA e do Banco Mundial busca unir esforços

para promover uma gestão integrada dessa reserva tida como uma das maiores do

mundo.

Essa preferência pela cooperação se deu através de duras penas. A

conscientização de que o processo de desenvolvimento capitalista causava impactos

desastrosos no meio ambiente só foi realizada após muitos ecossistemas estarem

completamente, ou quase completamente destruídos. A cooperação passou a fazer parte

das agendas internacionais dos Estados na realização de acordos, tratados, convenções,

reuniões e encontros internacionais sobre o meio ambiente. Ficou estabelecido que as

ações antrópicas deveriam ser permeadas pela ótica da exploração responsável,

inicialmente, e após o Relatório Brundtland, pela ótica do desenvolvimento sustentável.

A introdução em escala global do processo de industrialização capitalista ameaça

todos os ecossistemas do planeta, já que o meio ambiente é por um todo conectado, e

ações em determinada região causam reações em outras. Os recursos hídricos também

foram alvos de discussões sobre as conseqüências das ações antrópicas, já que por se

conjugar um recurso finito, cada vez mais, sofre com a falta de políticas específicas para

a sua gestão e preservação. Nesse cenário, o Aqüífero Guarani desponta como uma das

reservas mais importante de água subterrânea do mundo, por sua extensão e volume e

por seu caráter transnacional, envolvendo Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

A gestão compartilhada desse recurso esbarra em questões burocráticas dentro dos

quatro países do Mercosul, pois a cooperação é conhecida como um processo lento, mas

com o tempo tem alcançado resultados positivos, principalmente no que diz respeito ao

meio ambiente. Com a crescente tendência de limitação do acesso a água, o Aqüífero

Guarani representa uma reserva estratégica para a região, e para que nas próximas

décadas todos desfrutem de seus recursos, suas águas devem ser preservadas para não se

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lxviii

esgotarem ou não serem poluídas, através de um acordo de cooperação entre os países

abrangidos por ele, o qual já está em andamento.

O desenvolvimento de estudos sobre as características exatas do aqüífero estão

sendo feitos no âmbito do projeto. Essa análise da dimensão, quantidade, qualidade de

suas águas, além dos pontos que apresentam maior vulnerabilidade, pois em algumas

regiões o aqüífero não possui zonas de recarga, sendo assim, uma área insustentável

para a exploração e passível de esgotamento, torna-se indispensável para ter uma gestão

que atenda aos anseios ambientais e para que desenvolva uma legislação específica que

aproveite as potencialidades de cada região.

O aqüífero possui uma grande quantidade de água de excelente qualidade, e em

determinados pontos sua temperatura é ideal para várias atividades econômicas. Seus

recursos são de suma importância para, principalmente, o abastecimento público,

setores agroindustriais e turísticos e para envasamento de água mineral. E em caso de

escassez a água, em sua maior parte, encontra-se disponível para o consumo humano,

desde que sua utilização atual seja feita de forma responsável.

Esses setores estão em amplo crescimento devido ao crescimento do mercado

consumidor. As cidades cada vez mais dependem das águas do aqüífero para o

abastecimento público; umas das terras mais férteis brasileiras localizam-se nos pontos

de afloramento, e são uma das mais procuradas e que apresentam maior valorização; as

águas também são utilizadas para a irrigação e para complexos termais; alguns ramos da

indústria também dependem de grande quantidade de água para o processo produtivo,

nos quais as águas do guarani são usadas dadas suas altas temperaturas em determinadas

regiões. O mercado de água mineral está em constante crescimento em conseqüência da

opinião da sociedade que o uso desse tipo de produto representa melhor qualidade de

vida.

O projeto e, por conseguinte o acordo de gestão e preservação do aqüífero pelos

Estados deve considerar a realidade de cada região e adequar sua utilização as

características da reserva. A legislação, a qual será harmonizada no escopo do

Mercosul, deve conter precondições de proteger o Guarani de uma exploração

econômica desenfreada, por meio de mecanismos de gestão com severas punições para

os que causarem algum dano a reserva. Desse modo, se faz necessário um instrumento

de fiscalização para que essas regras sejam cumpridas em âmbito internacional, além de

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lxix

um sistema de troca de informação para que haja, de fato, uma gestão compartilhada

entre os integrantes do acordo.

Nesse sistema de informação, que já está em construção, deve/ deveria conter um

mapeamento detalhado de todo o sistema Guarani, com suas zonas de maior

vulnerabilidade, assim, como as que podem ser exploradas (determinando também a

característica e forma da exploração que não apresenta riscos), pois com isso, seriam

criadas condições específicas para sua gestão, com normas próprias que atenda suas

características exclusivas, visando mantê-lo como fonte sustentável de água. Nesse

contexto, a participação da sociedade é primordial para que a preservação seja

alcançada, desde a adoção de práticas que serão estabelecidas pelo projeto, como a

pressão política que deverá ser exercida.

As instituições de políticas nacionais de recursos hídricos, os planos nacionais de

gestão e os programas de águas subterrâneas de todos os países envolvidos conjugam-se

importantes instrumentos para que o acordo atinja ao sucesso aspirado, pois através

delas podem ser realizados os monitoramentos e as fiscalizações de como os usos do

Aqüífero estão sendo feitos. Já que, um cenário de possível falha do tratado consiste na

falta de aplicação das regras que serão determinadas, com a falta de pessoal

especializado, e até, de alguns casos de corrupção crescente de alguns órgãos públicos

gerando uma sensação de impunidade devido ao abrandamento de multas e penas

seguindo interesses de determinados grupos que possuem vantagens em detrimento de

outros.

O Mercosul possui mecanismos capazes de gerir um projeto dessa magnitude,

aproveitando sua estrutura existente, com tribunais e ferramentas para a solução de

controvérsias. Desse modo a harmonização legislativa a partir desse bloco seria

facilitada e agilizada, pois assim que o projeto estiver completo as medidas para

alcançar os objetivos propostos são mais simples. Mas para isso, é necessário, como dito

acima, um estudo detalhado propondo mecanismos eficientes para a preservação,

evitando que a exploração da reserva por determinado país prejudique a exploração de

outro, ou que a poluição acabe impossibilitando seu uso.

Cabe, verificar se as propostas que estão sendo desenvolvidas pelos resultados das

pesquisas serão aplicadas nos acordos internacionais do bloco e na legislação nacional

de todos os abrangidos pelo Sistema Aqüífero Guarani. Além de verificar se a

exploração seguirá a vertente sustentável, com imposição de penas sobre o mau uso,

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lxx

com uma fiscalização igualitária sem que um grupo seja favorecido, e sem que o poder

econômico e que a busca pelo lucro em detrimento do meio ambiente e da qualidade de

vida soem mais alto.

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