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UMA PROPOSTA INTERATIVA PARA APRENDIZAGEM DE

GEOMETRIA DESCRITIVA NA EBA/UFRJ

Luciana Guimarães Rodrigues de Lima

UFRJ – Faculdade de Letras – GERGAV – LATEC [email protected]

Alvaro José Rodrigues de Lima UFRJ – EBA – GERGAV – LATEC, Departamento de Técnicas de Representação

[email protected]

Cristina Jasbinschek Haguenauer

UFRJ – ECO - LATEC – GERGAV, Departamento de Métodos e Áreas Conexas [email protected]

Resumo

Neste artigo são apresentados resultados parciais de uma pesquisa de mestrado sobre um ambiente virtual de aprendizagem que tem como proposta dar apoio às aulas presenciais da disciplina Geometria Descritiva, com a utilização de um sistema de gerenciamento da aprendizagem (Learning Management System – LMS), numa parceria estabelecida entre dois grupos de pesquisa: o GERGAV – Grupo de Estudos de Representação Gráfica em Ambientes Virtuais, da Escola de Belas Artes da UFRJ, e o Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação – LATEC/UFRJ. Palavras-chave: Ambientes Virtuais de Aprendizagem, Tecnologia, Educação Semipresencial.

Abstract

This paper presents partial results of research of a master thesis about a virtual learning environment which is proposed to support the classroom discipline of Descriptive Geometry, using a learning management system (Learning Management System - LMS), a partnership between two research groups: the GERGAV - Study Group Representation in Virtual Environments, School of Fine Arts from UFRJ, and the Laboratory for Research on Information Technologies and Communication - LATEC / UFRJ. Keywords: Virtual Learning Environment, Technology, Semipresential Education.

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1 Ambientes Virtuais de Aprendizagem

Os ambientes virtuais de aprendizagem têm como proposta estimular o trabalho

cooperativo, a comunicação entre os usuários, a autoria na web, auxiliar a

administração do tempo na realização das atividades, uma vez que estas podem ser

realizadas fora dos horários previstos pelas aulas presenciais e incentivar a autonomia

na busca e na seleção de informações. A utilização desses recursos permite introduzir

novas práticas de ensino-aprendizagem, possibilitando expandir as experiências dos

estudantes.

As práticas pedagógicas não devem se limitar mais ao recebimento passivo de

informações, típicos das aulas tradicionais. Com a Web 2.0, tendência que reforça o

conceito de colaboração e de troca de informações entre os internautas, o ambiente

online se torna mais dinâmico colaborativo, e isso interfere significativamente na forma

de pensar a educação. A utilização desses novos recursos permite introduzir novos

ambientes de ensino-aprendizagem, possibilitando expandir as experiências dos

estudantes. As ferramentas da Internet mais usadas, atualmente, no contexto

educacional são: os e-mails, os chats, as listas de discussão, Weblog e

videoconferência. A partir delas, o processo comunicativo se dá por meio da

linguagem escrita, oral e imagem acompanhada de certa informalidade, pouca

monitoração e rapidez (MARCUSCHI, 2005).

Com a Portaria nº 2.253, de 18 de outubro de 2001, que permite às instituições de

ensino a inclusão de atividades não presenciais até o limite de 20% da carga horária

do curso é verificado, entretanto, que permanece a reprodução do status quo da

aprendizagem presencial nos espaços destinados ao ambiente colaborativo. A

metodologia de ensino diretiva reflete o modelo desgastado do professor como centro

do processo (ULBRICHT, 2006).

Para Haguenauer et al (2009), muitos autores confundem os significados

relacionados aos termos Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e Sistema de

Gerenciamento de Aprendizagem (SGA). Um AVA pode ser desenvolvido não só por

SGA, mas também por diferentes softwares e ferramentas, como o HTML, o VRML, o

Flash, o Director, 3DQuest, 3D Max, entre outros. Na citação abaixo são relacionadas

algumas diferenças entre AVA e SGA (LMS):

Enquanto que nos AVA as características associadas ao conteúdo, como linguagem, interatividade, navegação, arquitetura da informação e design gráfico influem mais na percepção do usuário, nos SGA, por sua vez, a atenção está mais voltada para a seleção e configuração das ferramentas a serem utilizadas em um determinado curso ou disciplina. (...) Uma vez realizadas as configurações, selecionadas as estratégias de comunicação e de aprendizagem, informadas e

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declaradas essas estratégias aos participantes, preenchidas as ferramentas com conteúdos pré-definidos e ativado o “curso”, pode-se afirmar que o conjunto forma um AVA. (HAGUENAUER et al, 2009, p. 19)

Moran (2006, 2007) afirma que é importante desenvolver projetos ligados à

experiência profissional e a vida dos alunos e defende os modelos que utilizam

atividades síncronas e assíncronas como mais adequadas, ou seja híbridos. Além

disso, sugere que a cada semestre sejam desenvolvidas atividades de pesquisa on

line baseadas na solução de problemas, e que sejam apresentados e divulgados em

páginas da web, e também presencialmente, ao final do período. Propõe três

diferentes modos de avaliação da aprendizagem dos alunos. Uma delas seria elaborar

atividades que fossem relacionadas ao conteúdo, através de resenhas, comparação

de textos e produção de um ensaio-síntese. Outra seria solicitar uma pesquisa

individual e outra em pequenos grupos com temas de interesses dos alunos. Como

afirma no texto a seguir:

Creio que há três campos importantes para as atividades online: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção-divulgação. Pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. Comunicação em debates online ou presenciais sobre os temas e experiências pesquisados. Produção, para divulgar os resultados no formato multimídia, hipertextual e publicá-los para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso (MORAN, 2007, p. 99).

Semelhantemente, Almeida (2004), defende que participar de um curso online

significa adentrar em um universo cuja comunicação se dá principalmente pela

interpretação de materiais didáticos textuais e hipertextuais, pela leitura da escrita do

pensamento do outro, pela expressão do próprio pensamento por meio da escrita.

2 A Experiência de AVAs no Ensino de Geometria Descritiva

O AVA em estudo foi desenvolvido a partir da utilização do Sistema Quantum de

Educação Online, através de uma parceria entre a Empresa Semear, o

LATEC/ECO/UFRJ e o GERGAV/EBA/UFRJ e está disponível no Portal Espaço GD

(www.eba.ufrj.br/gd).

Haguenauer (2003) defende que desenho instrucional é o elemento que favorece

a ligação entre o leitor e conteúdo. E com isso, as dificuldades dos programas de EAD

como isolamento, ausência de feedback e evasão, podem ser atenuadas. Como

afirma na citação abaixo:

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O projeto pedagógico (desenho instrucional) é o principal responsável pelo êxito do programa de ensino. A correta escolha das mídias a serem utilizadas e a escolha das formas de comunicação dos professores com os alunos e dos alunos entre si, juntamente com a sinalização clara do caminho a seguir compõem um conjunto imprescindível ao sucesso do processo (HAGUENAUER et al., 2003, p. 54).

A figura 1 mostra a interface do AVA, que pode ser dividida em 3 colunas: Na

primeira coluna à esquerda, situam-se as ferramentas do sistema, como decretaria,

administração, sala de aula e encerrar seção. Na coluna central podem ser

visualizados, por exemplo, os dados do último acesso do aluno e as atividades por

fazer. A terceira coluna apresenta as ferramentas de interação e consulta

disponibilizadas.

Figura 1: Página inicial do AVA

2.1 Metodologia

A metodologia de pesquisa adotada neste trabalho foi a da pesquisa-ação crítico-

colaborativa proposta por Pimenta (2005), pois procurou investigar uma realidade em

seu contexto, ao mesmo tempo em que se procurou compreender e intervir na prática

docente (LIMA, 2009).

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Para Thiollent (1994, p. 53), na pesquisa-ação, “os problemas colocados são

inicialmente de ordem prática. Trata-se de procurar soluções para se alcançar um

objetivo ou realizar uma possível transformação dentro da situação observada.”

Franco (2005), afirma que pesquisa-ação crítica considera a voz do sujeito, sua

perspectiva, seu sentido, não apenas para registro e posterior interpretação do

pesquisador, mas se organiza pelas situações relevantes que surgem do processo.

Participaram da pesquisa alunos da disciplina Geometria Descritiva, do 1º e 2º

períodos do curso de Cenografia, Escultura, Indumentária, Composição de Interiores,

Composição Paisagística e Licenciatura em Desenho. As aulas eram oferecidas na

modalidade presencial e complementadas pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem - a

Sala de Aula Online do Portal Espaço GD. A pesquisa foi realizada ao longo de 4

semestres letivos, com as seguintes turmas: GD 2007/2; GD1 2008/1, GD2 2008/2;

GD1 2009/1 e GD2 2009/2. Ao todo, foram registrados no AVA, uma média de 250

alunos. Para a coleta de dados foram utilizados questionários, entrevista com o

professor e observação do ambiente virtual de aprendizagem. Como havia o registro

de e-mails dos alunos no AVA desde 2007, houve a opção de enviar os questionários

online .A análise dos dados privilegiou os momentos de comunicação entre os agentes

na Sala Online do Portal Espaço GD (LIMA,2009).

3 As Ferramentas Utilizadas

Para o planejamento do curso, foram escolhidas as seguintes ferramentas: Agenda,

Bloco de Notas, Chat, Colaboração, E-mail, Fórum, Downloads (renomeada como

Gabaritos e Resultados), Mural, Perguntas Frequentes, Biblioteca (renomeada como

Sites) e Tira-Dúvidas.

De acordo com a análise documental do ambiente, foi verificado que as

ferramentas mais acessadas foram: Agenda, Gabaritos e Resultados e

Colaboração.Em relação ao aprendizado da matéria, 88% dos alunos relataram que o

AVA ajuda, e 12% relataram que não ajudou nem atrapalhou (LIMA, 2009). Quando

questionados sobre a contribuição do AVA para o aprendizado da matéria, foi relatado

que:

É possível tirar dúvida no horário mais disponível. Trocamos muitas informações em relação à matéria e onde ela poderia ser utilizada. Contribui para o relacionamento entre os alunos, além do acesso rápido para a solução de dúvidas. A sala de aula on line possibilita tirar dúvidas, seja entrando no fórum ou olhando os gabaritos e colaborações dos colegas. Também

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concordo com a Carol, que disse que a agenda ajudava a se organizar. Com certeza é mais fácil tirar dúvidas na sala, mas pra quem perde às vezes, olhar a sala online ajuda muito.

A seguir são apresentados alguns relatos dos estudantes sobre a ferramenta

Gabaritos e Resultados, conforme Lima (2009):

Me ajudou bastante porque, quando eu fazia os exercícios e não entendia, ou não tinha a resposta na apostila era só checar no site que eu tirava minha dúvida. Utilizei mais essa ferramenta pra tirar duvida de exercícios e pra ver as minhas notas. Vendo o gabarito, eu continuo com a apostila na mão, isso me mantém mais concentrado no estudo... Foi o que eu mais utilizei pra estudar, confirmando as respostas com o que eu tinha feito. Com o gabarito podemos comparar as respostas e nas colaborações visualizamos os trabalhos dos outros alunos.

Você pode pegar em casa o resultado dos exercícios e provas, e se perder alguma aula, pode consultá-lo. Porque nessa ferramenta eu poderia ver resultados de provas, gabaritos de provas, de exercícios, exemplos de trabalhos etc. São os que mais uso, pois faço os exercícios e vou ver se acertei, ou recorro a eles quando não estou conseguindo fazer, e os resultados para saber das provas, como disse antes, as animações 3D não abrem mesmo com o programa instalado porque trava tudo e fecha sozinho. Bastante útil para estudar em casa.

Com essa ferramenta não precisamos esperar até a próxima aula para poder conferir as questões feitas e ver as notas e os gabaritos das provas. Porque é onde encontro a resposta dos exercícios que tento fazer em casa ou na aula. Na verdade é onde eu me auto avalio. (LIMA, 2009)

4 Conclusão

O professor relatou na entrevista que sua principal motivação ao utilizar AVA na

disciplina Geometria Descritiva era obter um retorno dos recursos interativos

disponibilizados no Portal Espaço GD. Ao ser questionado sobre os recursos do AVA,

o professor disse que eles facilitaram porque esclareceram mais rapidamente as

dúvidas dos alunos que não puderam ser tiradas na aula presencial. Além disso, foi

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constatado que os alunos passaram a ver a matéria de uma maneira mais prática e

atual e verificou-se um aumento de motivação, pois os trabalhos finais não ficaram

restritos à simples construção de superfícies geométricas e os conceitos da disciplina

foram relacionados à construção de projetos mais complexos relacionados às suas

respectivas carreiras profissionais.

Um dos principais desafios por ele enfrentado foi a escolha das ferramentas a

serem utilizadas para atender especificamente à disciplina Geometria Descritiva, pois

os recursos da plataforma permitem a escolha das ferramentas e a adaptação de

acordo com o curso. Pelo fato de permitir a inserção de arquivos em VRML, recurso

muito útil para a visualização espacial. Outro desafio foi o de habituar o aluno a utilizar

tais ferramentas, pois eles poderiam achar que não faria sentido participar de um

ambiente on line tendo aulas presenciais duas vezes na semana.

As aulas presenciais associadas às atividades on line permitiram identificar que

há necessidade de transformar o processo de ensino/aprendizagem articulado às

potencialidades tecnológicas, transformações necessárias às demandas sociais e

profissionais do mundo atual. Os recursos de um ambiente virtual de aprendizagem

podem ser utilizados em qualquer disciplina, desde que o professor leve em

consideração o perfil e as necessidades dos alunos para planejar seu curso Neste

quesito específico, houve um ganho significativo em relação ao ensino puramente

presencial.

Referências

ALMEIDA, M. A. B de, SOUZA, M. M. L, HAGUNEAUER, C.J . Análise do perfil do aluno do curso de pedagogia da UFRJ em relação à aplicação da portaria nº 2253 do MEC. In: XII ENDIPE Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 2004, Curitiba-PR. Curitiba PR : PUC PR, 2004. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, set./dez.2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a11v31n3.pdf>. Acesso em: 17 de janeiro de 2009. HAGUENAUER, Cristina Jasbinscheck et al. Estudo Comparativo de Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Colabora@ – Revista Digital da CVA, Santos, v. 2, pp. 47-55, agosto de 2003. _________, C.J. e MUSSI, M.Comunicação e Interatividade em AVA: um Estudo de Caso. Revista Educaoline, Vol 3, no 3. Setembro/dezembro de 2009. LIMA, Luciana Guimarães Rodrigues de.Comunicação, Interação e Discurso em Ambientes Virtuais de Aprendizagem/Luciana Guimarães Rodrigues de Lima. – Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras/Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, 2009. Dissertação (mestrado).

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MARCUSCHI, L. A. Gêneros virtuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI & XAVIER, Antônio Carlos dos Santos (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. MORAN, José Manuel. Propostas de mudança nos cursos presenciais com a educação on-line. In: Anais Eletrônicos do Congresso Internacional de Educação a Distância, 11, Salvador. ABED, 2006. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/prof/moran/propostas.htm>. Acesso em: 6 de abril de 2008. __________. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. Campinas: Papirus, 2007. PIMENTA, Selma Garrido. Pesquisa-ação crítico colaborativa: Construindo seu significado a partir de experiências com formação docente. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, set./dez. 2005. Disponível em: <http://scielo.br.php?pid=1517-97022005000300013&script=sci_arttext.>. Acesso em: 15 de janeiro de 2009.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 1994. ULBRICHT, V. R.; VANZIN, T. Ambientes virtuais de aprendizagem. In: 5º Encontro Regional de Expressão Gráfica – EREG. Educação Gráfica: Perspectiva Histórica e Evolução. Salvador: UFBA, pp. 92-99, 2006.


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