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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Aprender a “ver”: desaprender, rever, reaprender

Carlos Antonio Coutinho Nogueira 1

Vera Lucia Martins Sarubbi 2

Resumo

Cada vez com mais velocidade novas tecnologias são incorporadas às vidas de todos. Ao mesmo tempo equipamentos, procedimentos e profissões tornam-se obsoletos na mesma velocidade. Neste contexto de um mundo em constante metamorfose, as habilidades cognitivas das novas gerações também mudam. Este trabalho procura discutir, como as novas gerações lidam com as imagens e como podemos aproveitá-las com ferramentas educacionais.

Palavras chave: Educação visual. Ferramentas educacionais. Fixação do conhecimento.

Abstract

Faster and faster, the new technologies are incorporated to our lives. At the same time, equipments, processes and professions become outdated equally fast. In this context of a world in constant metamorphosis, the new generations’cognitive skills also change. This work, aims to discuss how these new generations deal with the images and how can we use them as educational tools.

Key Words: Visual education. Educational tools. Knowledge fixation.

1 Especialista em Gestão de Educação Profissional (SENAC –Departamento Nacional, 1999), graduado em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (FACHA,1979), Fotógrafo (SENAC-RJ,1976), e Desenhista de Artes Gráficas (SENAI-RJ,1983), Diretor Técnico do CECAP – Escola de Artes e Coordenador do Centro de Educação Tecnológica e Profissionalizante - Vaz Lobo da FAETEC. Página na rede / www.carlosacnogueira.com – E-mail: [email protected]. Formação Pedagógica – ISERJ/FAETEC. 2 Profª Drª Letras/UFF. Professora orientadora. Curso de Formação Pedagógica/ISERJ-FAETEC.

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1. Introdução

Este artigo propõe uma investigação teórico/prática sobre a influência das imagens

no cotidiano contemporâneo e sobre o seu aproveitamento na sala de aula. Baseia-

se em artigos científicos sobre o assunto, reportagens de jornal e televisivas,

programas educativos, observações comportamentais de crianças e adolescentes e

na prática educacional de mais de trinta anos, no SESC-Rio, SENAC-Rio e em

escola de artes. Focados na formação pedagógica para docência de cursos técnicos

na área de comunicação, propomos uma discussão sobre os benefícios da utilização

da imagem no contexto escolar, tendo como ponto central o uso da imagem

fotográfica, mas não esquecendo de abordar outros segmentos de igual importância,

como as histórias em quadrinhos, o cinema, a vídeo instalação e as imagens

televisivas.

Está dividido da seguinte forma: a seção 2 procura mostrar as mudanças no

comportamento das novas gerações e do mercado de trabalho neste início de

milênio. A seção 3 aborda o interesse crescente pelos quadrinhos em vários

segmentos sociais e propõe o seu uso como ferramenta de percepção e

desenvolvimento de uma visão crítica. A seção 4 tem como tema a inserção dos

programas de TV e das vídeos instalações no ambiente escolar. A seção 5 discute o

uso da linguagem fotográfica na transmissão de mensagens e sua força na

preservação dos temas ligados a elas na memória. A seção 6 sugere formas de

utilização do cinema para abrir debates e abordar temas de complicada

compreensão. A seção 7 apresenta as últimas considerações e novas possibilidades

de estudo sobre imagens em movimento como ferramentas de trabalho do

professor.

2. Uso de imagens e ícones na comunicação

“Surpreender o homem no ato de viver, é uma coisa das mais fantásticas” – Érico Veríssimo.

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Figura 1

Foto: Aprendendo a “VER” - Luanna Dutra (Aluna de fotografia do CECAP- Escola de Artes).

Larah Magnago Fiore – 2 anos e 4 meses – como toda criança da sua idade, ainda

se expressa de forma rudimentar através da língua falada, mas domina, e bem, a

linguagem em forma de ícones dos Smartphones . Por eles, opera a câmera

fotográfica do aparelho, abre a pasta de fotos e escolhe as que quer ver e ainda

brinca nos joguinhos infantis. Não só conhece a necessidade de esperar o

carregamento dos jogos e outros aplicativos antes de utilizados, como ensina,

impaciente, as pessoas que a observam, que se deve esperar o tempo certo para

começar a brincadeira.

Bernardo Paredes - 2 anos e sete meses - Surpreende cada dia mais, a sua família,

quando o veem mexendo no Smartphone da sua mãe - entra e sai de todos os

aplicativos do aparelho, no da Galina pintadinha, coloca o vídeo que ele mais gosta

de ver, sempre interagindo com sua irmã, Luiza, por quem morre de paixão. É lulu

pra cá é lulu pra lá, “ti namo” (te amo) o tempo todo. Fora isso, sabendo utilizar os

ícones, joga, tira fotos (dele mesmo e da sua irmã), só não sabe, ainda, colocar a

senha em forma de imagem desenhada na tela de formato touchscreen do celular,

porque para evitar um desastre financeiro, sua mãe, quando realiza o procedimento,

não permite que veja de jeito nenhum.

No programa “Ao Extremo: a estrada mais fria” (Driven To Extremes - Coldest Road),

exibido no domingo, dia 29 pelo Canal +Globosat, Uma celebridade de Hollywood

Tom Hardy (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, A Origem), aceita o desafio

proposto pelo ex-piloto de Fórmula 1 Mika Salo de enfrentarem uma das estradas

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mais extremas do mundo, a Estrada dos Ossos, na Rússia. Em uma cena, os

aventureiros estão a 60o graus negativos, em um pequeno lugarejo - dos mais

inóspitos da Sibéria - com pouquíssimas habitações, quando são abordados por um

grupo de pré-adolescentes e adolescentes a caminho da escola, que solicitam tirar

fotos com os famosos com os seus Smartphone. Todos carregavam um aparelho.

Neste momento da evolução da humanidade, podemos dizer que vivemos a era da

imagem, somos bombardeados diariamente por milhares delas. Como na era pré-

civilização, a comunicação visual precede à escrita. Não é por acaso que o sistema

operacional mais conhecido e utilizado em todo o mundo trocou, a partir de sua

versão 8, o tradicional menu iniciar por uma cartela de ícones.

Figura 2

Pintura Rupestres de Villar del Humo, Província de Cuenca, Espanha - Imagem da WEB

Neste contexto, o comportamento das crianças e adolescentes, das descrições

acima, estão bem encaixados e vêm se tornando cada vez mais um fato comum. As

novíssimas gerações decodificam imagens, antes mesmo de articular as primeiras

palavras.

Mudança, esta é a palavra chave deste início de milênio. A começar pelo “Novo

Paradigma”, a consciência de que todo e todos estão interligados. A nossa

civilização está no limiar de uma nova ordem, provocada, não pela conscientização

da humanidade, mas sim por uma necessidade de “UTI”. O planeta se encontra

como um cidadão que vai ao médico para um exame de saúde de rotina e descobre

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que está com as taxas de colesterol, glicose, ácido úrico etc., Em níveis

desesperadores. Ou muda hábitos ou...

Em contraste com a concepção mecanicista cartesiana, a visão de mundo que está surgindo a partir da física moderna pode caracterizar-se por palavras como orgânica, holística e ecológica. Pode ser também denominada visão sistemática, no sentido da teoria geral dos sistemas. O universo deixa de ser visto como uma máquina, composta de uma infinidade de objetos, para ser descrito como um todo dinâmico, indivisível, cujas partes estão essencialmente inter-relacionadas e só podem ser entendidas como modelos de um processo cósmico. (CAPRA, 1982, p.61)

Depois temos a evolução tecnológica que chega numa velocidade avassaladora,

tornando profissões e tecnologias obsoletas em um piscar de olhos.

O Jornal o Globo, em comemoração aos 20 anos do caderno Boa chance - que trata

do mercado de trabalho - lançou duas edições especiais – Nos dias 08 e 15 de

setembro de 2013 – Nelas discute e aponta as tendências para as próximas

décadas no mundo do trabalho. “No futuro, o trabalho avançará sobre o emprego. E

teremos mais cocriação, multidisciplinaridade; menos hierarquia e rigidez. Tudo

entrelaçado pelas redes sociais e novas tecnologias” (AMORIM, 08 Set. 2013).

Ao longo destas edições, o Jornal procura mostrar que as mudanças virão de tal

forma, que um profissional que não se mantenha em constante processo de

aprendizagem, terá uma vida útil no mercado de apenas meia década.

Alguns trechos destas matérias são importantes para o tema aqui discutido.

Vejamos:

Estamos entrando na era da programabilidade, ao mesmo tempo em que vivemos a quinta onda de inovação que move o mercado de trabalho [...] o profissional precisará aprender sempre, e cada vez mais, para manter o seu lugar [...] Foram inovações em mercados que geraram o trabalho que a gente tem hoje [...] No século 18 a onda de inovação foi a mecanização e o comércio [...] A segunda onda é a da Revolução Industrial, com a energia e as ferrovias [...] a terceira onda traz a eletricidade e o motor, duas coisas que nos acompanham até hoje, 120 anos depois. Após a Segunda Guerra Mundial, a onda é de eletrônica e aviação. E, ao conseguirmos manipular informação em velocidade nunca vista, chegamos a uma onda de inovação de softwares e redes [...] e se transforma em motor da economia com a internet, a partir de 1995. É a onda que estamos vivendo, e por causa dela, provocando uma onda de sistemas em rede, sustentabilidade e sistemas holísticos [...] (AMORIM, 2013, p.1).

Qual a estratégia para continuar no mercado de trabalho? Saber o que vamos fazer no futuro pode não ter nada a ver com o que a gente sabe. O futuro não será igual ao presente [...] mudará sim, muito mais e muito

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rapidamente. Neste cenário, é preciso que o profissional saiba fazer três coisas: aprender, desaprender e reaprender. Desaprender dá até mais trabalho do que aprender. E sempre tivemos que aprender rápido [...] seja qual for o mercado está em constante transformação. E essas transformações criarão novos níveis de exigências para todos nós (AMORIM, 2013, p.1).

Se 20 anos atrás o engajamento usual de um funcionário de escritório era de uma jornada presencial de trabalho, hoje cada vez mais se fala em “home Office” [...] aproveitando-se de regimes flexíveis de horário [...] a adoção mais frequente das videoconferências... Com a evolução tecnológica, a própria apresentação de dados passou a ser mais visual e menos escrita. Estudos apontam que o cérebro gasta 20% menos energia para absorver informações quando os dados são apresentados visualmente. (TEIXEIRA, 2013, p.5).

Deste modo o educador, para não se tornar obsoleto, não pode abrir mão de

também se reciclar constantemente, de observar o mundo fora da sua sala de aula,

aproveitando as facilidades cognitivas e os saberes, natos e adquiridos, destas

sempre mutantes novas gerações, como alavancas para o conhecimento. Neste

contexto o uso de ferramentas iconográficas na transmissão do saber, fotografias,

quadrinhos, vídeos, documentários, cinema de ficção, podem tornar as aulas mais

dinâmicas, menos monótonas que as expositivas clássicas, prendendo a atenção e

mantendo o interesse do aluno.

Antes, porém, é necessária a nossa alfabetização visual. Ao contrário das novas

gerações, que com muita facilidade criam e reproduzem imagens, a maioria dos

educadores em atividade, não conviveram desde cedo com as novas tecnologias.

Fomos formados em um período onde as letras e a oratória eram as maiores fontes

de conhecimento. Os processos de produção e reprodução de imagens, estáticas ou

móveis, eram caros e exigiam conhecimentos técnicos. Fotografar, filmar, desenhar

e imprimir, eram atividades exclusivas dos iniciados. Portanto, não desenvolvemos

uma “cultura visual”. É preciso Aprender a “VER” - Não só olhar, mas VER.

Desenvolver uma visão desbravadora, crítica e sensível, sobre o nosso tempo,

nosso ambiente, nós mesmo e os outros.

Um olhar crítico e investigativo em relação às imagens e aos modos de ver, valorizando a imaginação, o prazer e a crítica como constituintes das práticas de produção e interpretação de visualidades. Ao compreender arte e imagem como cultura, a cultura visual explora usos e possibilidades educativas e pedagógicas de um amplo espectro. As imagens contam de nós, dos outros, para nós, para outros (TOURINHO, 2011, p.4).

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3. Histórias em quadrinhos como ferramenta educacio nal de decodificação

fácil pela maioria dos jovens brasileiros

Visitamos, na companhia de um designer gráfico e professor de desenho, a XVI

Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2013, no seu penúltimo dia. Nosso objetivo era o

de encontrar novidades em matéria de livros e revistas sobre desenho, histórias em

quadrinhos (HQs) e vÍdeo-games, que serviriam de referências para as aulas da

nossa escola de desenho. Para a nossa frustração os quatros estandes que

tínhamos como objetivo visitar (todos de editoras focadas no público adolescente e

nos jovens adultos), estavam entre os mais procurados da feira, tanto, que seria

necessário aguardar muito tempo na fila, ou seja, cerca de uma hora em cada um

deles, somente para acessar as estantes (fora o tempo perdido em outra fila para

pagamento de qualquer material adquirido), o que inviabilizou a nossa pretensão.

O primeiro deles o da Editora Galera – especialista nos Livros baseados em roteiros

de jogos de video-games (Assassin's Creed, World of Warcraft, Diablo III) e nos

livros que seguem a fórmula de Best Sellers como Crepúsculo e Jogos Vorazes.

O segundo, o da Editora Panini – que detém os direitos da Marvel e Dc Comics no

Brasil (maiores editoras de quadrinhos dos Estados Unidos), está entre as maiores

editoras que publicam Mangás (HQs) no Brasil, e publica também os títulos da

Turma da Mônica, de Mauricio de Souza.

O terceiro o da Editora Leya – que aposta em obras, do gênero fantasia, de autores

brasileiros e publica a série As Crônicas de Gelo e Fogo (que inspirou a série Game

of Thrones).

Por último o da Comix - Umas das maiores lojas especializadas em quadrinhos do

Brasil.

Só pela descrição acima já temos uma visão da enorme importância do universo

lúdico do cinema, games e histórias em quadrinhos, nos interesses e na formação

dos nossos jovens. Portanto, podemos utilizar essa familiaridade dos nossos alunos

com esses meios de expressão como mais um facilitador do aprendizado.

A singular estética da Arte Sequencial é um veículo de expressão criativa, uma disciplina distinta, uma forma artística e literária que lida com a disposição de figuras ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma idéia (EISNER, 1999, p.5).

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HQs tratam dos mais variados temas (com objetivos de juízo e de propaganda),

embutidos em histórias fantásticas e aparentemente simples: a realidade social de

uma região ou período histórico; racismo; discriminação (étnica, de credo, de tipo

físico, de corda da pele etc.); guerras; tensões Políticas; crises econômicas e as

suas consequências na vida das pessoas e até julgamentos mordazes aos costumes

de uma sociedade. Portanto, podem ser utilizadas como ferramentas de percepção

para os alunos desenvolverem uma visão crítica sobre seu país e seu tempo. – não

só as publicadas no mercado como as alternativas e as criadas pelos próprios

alunos, com desenhos simples, silhuetas ou recortes de revistas.

Enquanto o escritor transforma sentimentos em palavras, o desenhista transforma sentimentos, sons e palavras em imagens, e as HQs são a perfeita fusão entre imagem e palavra para demonstrar os sentimentos humanos a respeito do mundo que o cerca (CARVALHO, 2009, p.17).

As HQs podem sim funcionar como um atrativo a mais, já que a mescla de imagem com palavra é um facilitador de conhecimentos, pois ao ver a imagem o aluno consegue fazer uma analogia entre o fato ocorrido e a imagem do quadrinho (CARVALHO, 2009, p.26).

4. A vídeo instalação, o documentário, as reportage ns e programas televisivos,

como facilitadores da aprendizagem

Embora tenha iniciado após o surgimento da Tv e da difusão do vídeotape nas

últimas décadas do século passado, vídeo instalação é uma linguagem artística

contemporânea, que casa muito bem com o momento atual. É uma forma de arte

que, além de somar sons e imagens em movimento, muito familiares ao espectador,

provoca o seu relacionamento com a obra, colocando-o no centro do ambiente da

instalação.

Presente em 98% das casas, a televisão é o meio de diversão e informação da

família brasileira. Discussão a parte sobre a qualidade da programação, não

podemos negar a sua influência na nossa sociedade e a intimidade da nossa

população com a decodificação das mensagens televisivas.

Portanto, não dá para desprezar estas mídias, como instrumentos de aprendizagem.

O cenário atual - em que a TV no Brasil faz 60 anos e em que a TV digital abre novas possibilidades de interação - mostra-se propício às reflexões

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propostas, tanto nos textos como nas reportagens e entrevistas dos programas. É preciso também considerar as novas possibilidades de se ver e fazer TV que surgem com a crescente integração de mídias (TV, computador, câmeras de vídeo e fotográficas, telefones celulares com câmeras acopladas). Nesse contexto, tanto a produção quanto a veiculação de programas podem ser feitas de forma mais democrática. Na escola, essa possibilidade sugere a importância de novas mediações, outras formas de ensinar e aprender com a TV (MENDONÇA, 2010, p.4).

Observamos dois momentos, nos quais, uma vídeo instalação e uma reportagem de

TV, propiciaram situações de aprendizagem bastante interessantes.

No primeiro, em uma visita ao MAR – Museu de Artes do Rio – pudemos presenciar

um momento de total interação professor-aluno. Em uma sala toda negra e escura,

estava sendo projetada uma vídeo instalação, cujo tema era a passagem de ano nas

areias de Copacabana - Imagens dos fogos, das comemorações, das areias

cobertas dos restos da festa (lixo e sobras das oferendas religiosas), dos trabalhos

de limpezas dos garis e finalmente da natureza fazendo a sua parte (as ondas do

mar ajudando na limpeza e reciclando o ambiente). No centro da sala uma

professora e uma turma de alunos do ensino fundamental do município (todos com

idade entre sete e nove anos), sentados ou deitados pelo chão, assistiam e

comentavam a instalação com a mediação da docente: “nossa, coitado do gari”, “não

podemos fazer isso com a natureza”, “É tinha um monte de lixeira ali”, “eu não vou

fazer isso não”. Naquele momento estávamos assistindo a uma semente do novo

paradigma sendo plantada.

No segundo, assistindo a uma reportagem do “Fantástico” da rede Globo, no dia 07

de julho de 2013, tivemos a melhor aula de como ser um educador que poderíamos

assistir. O inusitado está em que a aula não foi de nenhum doutor, mestre ou

especialista em educação, e sim, de um técnico ambiental e músico amador que, em

um lugar infecto, sem nenhuma verba ou ajuda oficial, usando o instinto, a vontade

de ajudar e a criatividade, traz expectativa de vida e autoestima, para um grupo de

jovens abandonados pela sociedade.

Na capital do Paraguai, Assunção, no bairro de Cateura, em um grande lixão, Favio

Chávez, com a ajuda de “Colá”, coletor de lixo do aterro sanitário, criou uma escola

de música. Com perseverança, forma músicos e cidadãos. Os instrumentos? São

feitos do lixo: de colheres e tubos descartados fazem flautas; de caixas para

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alimentos produzem violões; violinos e violoncelos são produzidos com latas e latões

de óleo etc. E assim, com a arte sonora que ecoa do lixo, estão conseguindo

expandir os horizontes daqueles meninos e meninas para muito além dos limites de

Cateura.

5. A Fotografia como gancho de memória na fixação d o conhecimento e o seu

aproveitamento em sala de aula

A fotografia ao mesmo tempo em que é considerada uma prova irrefutável da

realidade, filosoficamente pode mostrar algo que nunca existiu, um momento parado

no tempo. O que a câmera fotográfica faz é pegar um pouco das coisas que nos

rodeiam e transformá-las em imagens. A câmera “vê” as coisas de um modo

diferente do que nós vemos, ou melhor, ela “vê” igual, mas, registra a imagem

diferente. O que nós vemos são coisas em movimento, com volume, tridimensionais,

e que estão colocadas a diferentes distâncias dos nossos olhos. Na imagem que a

câmara fotográfica produz todas as coisas estão a mesma distância de nossos

olhos, na superfície do papel. A visão humana funciona em um sistema de varredura

(No ocidente, de cima para baixo e da esquerda para direita). A melhor

representação da nossa forma de ver está na obra de Pablo Picasso: as formas, à

primeira vista distorcidas, de rostos fragmentados, são na essência, o nosso modo

de ver.

Figura 3

Quadro cabeça de mulher. Pablo Picasso - Imagem da WEB

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Uma frase muito conhecida afirma o que, a princípio nos parece incontestável: “Uma

imagem vale mais que mil palavras”. Vale sim, se tanto a foto quanto as mil palavras

forem produzidas pela mesma pessoa. Por mais comum que seja o acontecimento,

nunca ele vai ser descrito (tanto por foto como por texto) da mesma forma por duas

pessoas. “Qualquer narrativa não corresponde ao real” (MARANHÃO, 2013).

Quando isolamos um pequeno fragmento do que estamos presenciando para

colocá-lo em nossa foto, estamos gravando o nosso modo de ver e de entender a

vida, que por sua vez traz toda nossa formação, nela incluídas nossa educação

familiar, escolar e nossa bagagem cultural. Portanto, a obrigação é com a nossa

“verdade”, e a transmissão da mensagem.

Fotos marcaram acontecimentos importantes, causaram comoção e indignação no

Brasil e no mundo e até mesmo ajudaram mudar os rumos de guerras e ganharam

vida própria.

A imagem símbolo do fim da segunda guerra mundial não foi a da assinatura do

armistício a bordo de um navio americano na baia de Tóquio, mas o beijo entre dois

desconhecidos, um marinheiro e uma enfermeira, em Times Square, Nova York.

Figura 4

Foto: lfred Eisenstaedt – 1945

Algumas imagens são sobrepostas a outras já gravadas (que se transformaram em

ícones), no inconsciente coletivo. Por causa desta ligação podem provocar reações

poderosas. A foto "Todos Negros" de Luiz Morier (de 29 de setembro 1982,

publicada no Jornal do Brasil em 30 de setembro do mesmo ano e Prêmio ESSO de

fotografia de1983), registrada em um morro carioca, causou comoção nacional pela

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associação as gravuras coloniais que representaram os “Capitães do Mato”. O

repórter fotográfico gravou um depoimento, em 11 de maio de 2007, a respeito deste

trabalho:

Você faz uma foto na hora, aí você só vai ter uma idéia depois que ela foi revelada. Quando eu estava revelando, sim. Aí, que eu vi a foto revelada, eu falei: “pô, essa vai dar o que falar! [...]” Que isso não é coisa que possa acontecer com o ser humano nos dias de hoje. Ou na época, na década de 80. Mas, até hoje a gente vê humilhação por aí [...] a foto [...] Já foi usada por várias faculdades. [...] quando [...] Fez cem anos da Lei Áurea, ela foi bem revista e colocada para todos verem que cem anos depois ainda havia esse tipo de cena (Ramos, 2007).

Figura 5 Figura 6

Foto: Luiz Morie - 1982 / Capitão do Mato - Imagem da WEB

Uma fotorreportagem sobre a fome na Etiópia, associada a um ícone católico, como

a imagem abaixo, provocou uma grande mobilização mundial de ajuda humanitária

àquela população. No meio musical vários artistas se juntaram para gravar We Are

The World música Michael Jackson. O disco arrecadou milhões de dólares e puxou

as doações de todas as regiões do planeta.

Figura 7

Foto: Sebastião Salgado. Etiópia - 1984

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Algumas imagens bateram tão forte nos coações e mentes do coletivo, que

contribuíram sensivelmente para traçar o destino de dois dos maiores conflitos

armados do século XX. A primeira fotografia, mesmo fazendo parte de uma farsa,

contribuiu para elevar o moral das tropas Americanas. Joe Rosenthal da Associated

Press, registrou a imagem, do que ficou conhecido, como o momento em um grupo

de militares ergueram a bandeira America no alto da ilha de Iwo Jima, ao término da

sangrenta batalha pela posse deste pequeno território vulcânico durante segunda

guerra mundial. A foto passou a representar o heroísmo e a primeira grande vitória

do povo americano na estratégia de controle do Pacífico. A cena - que causou

grande euforia e provocou o aumento da auto-estima das tropas a bordo da

gigantesca frota mobilizada no conflito - na realidade não foi protagonizada pelos

militares que aparecem na foto, e nem foi a cena real. Foi sim um segundo

hasteamento de outra bandeira. Mesmo assim a foto, utilizada pela máquina de

propaganda do governo, virou monumento e contribuiu para o “esforço de guerra”,

arrancando milhões de dólares da sociedade norte americana.

Figura 8

Foto: Joe Rosenthal, Associated Press - 1945

Duas outras imagens também sacudiram a opinião pública americana, só que desta

vez contra a guerra.

Em 1968, Eddie Adams da Associated Press, como seu registro da execução (a

sangue frio), pelo chefe da Polícia Nacional do Vietnã do Sul Nguyen Ngoc Loan, de

um militante Vietcongue, provocou um estrago negativo gigantesco no apoio a

participação americana no conflito.

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Já Em 8 de junho de 1972, o fotógrafo Nick Ut perpetuou o momento em que os

americanos lançaram uma bomba de napalm em um povoado, no sul do Vietnã. A

imagem mostra a garota Kim Phuc, então com 9 anos, nua, fugindo pela estrada. A

foto colocou “uma pá de cal” na guerra do Vietnã. A partir da publicação da foto na

imprensa mundial, a pressão, interna e externa, sobre à Casa Branca cresceu tanto,

que a retirada americana do sudeste asiático passou a ser uma questão de meses.

Figura 9 Figura 10

Foto: Nick Ut. Vietnã – 1972 / Foto: Eddie Adams, Associated Press. Vietnã – 1968

Como já vimos, nenhuma narrativa é totalmente real, é claro então que as imagens

também podem ser manipuladas. Evgueni Khaldei, tentando embarcar no sucesso

do compatriota Joe Rosenthal, planejou a foto abaixo para mostrar o heroísmo

soviético no exato momento da queda do Terceiro Reich. Se repararmos na foto

menor, veremos que toda a cena foi montada, com calma, um tempo depois da

batalha. A foto publicada na época, manipulada em laboratório, parece retratar o

hasteamento da bandeira durante uma luta prédio a prédio pela posse de Berlim.

Figura 11 Figura 12

Fotos: Evgueni Khaldei. Berlim - 1945

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Simples, atreladas a ícones do nosso imaginário ou até mesmo manipuladas,

fotográficas são fortes ganchos de memória. Um determinado assunto pode ser

relembrado com mais facilidade se associado a uma imagem. Ao pensar no paraíso,

em preservação da natureza, logo somos remetidos para duas inesquecíveis

imagens do projeto Gênesis, brilhantemente, fotografado pelo brasileiro Sebastião

Salgado. Uma retrata um grupo de índias em uma cachoeira dentro da floresta

amazônica a outra somente o rabo de uma baleia sobre o mar gelado da Patagônia.

Quando estudamos o “novo paradigma” ligamos essas imagens à matéria estudada.

Basta estas imagens surgirem na mente, que junto aparecem as questões

debatidas.

Figura 6 Figura 14

Fotos: Sebastião Salgado. Projeto Gênesis - 2004 – 2011

Na transmissão de mensagens, ou no uso didático, fotos podem ser muito úteis. O

primeiro passo é descobrir exatamente o que queremos transmitir. Uma boa maneira

é perguntarmos para nós mesmos: “o que eu quero mostrar? Uma pessoa, coisa ou

acontecimento; ou o que esta pessoa, coisa ou acontecimento representa?

Podemos dividi-las em três tipos:

1. Foto ilustração - Bonita, mas com função apenas ilustrativa. Chama a atenção

para o assunto discutido, sem acrescentar nada a mensagem a ser transmitida.

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Figura 15

Foto: Carlos Nogueira. Niterói, RJ – 2013

2. Foto complemento – A imagem é forte e possui uma mensagem embutida, mas

precisa do texto para complementá-la e o texto precisa do seu complemento. Nas

fotos abaixo Schneider e Pereira, em épocas diferentes retrataram a personalidade

de Jânio Quadros o vigésimo segundo presidente do Brasil.

Figura 7 Figura 17

Foto: Erno Schneider. Agência JB / Fernando Pereira. Agência JB

3. Foto Mensagem – Fala sozinha, não necessita de textos para explicá-la, às vezes

pode ser acompanhada por textos que dizem o oposto da mensagem embutida.

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Na imagem abaixo Ao gravar esta cena o fotógrafo não queria mostrar o grupo de

choque ou retratar o rapaz, mas transmitir o sentimento de impotência do grupo de

manifestantes, do qual o jovem fazia parte, frente ao aparato policial mobilizado para

impedir a manifestação.

Figura 18

Foto: Dilmar Cavaller. Agência JB

Na foto “O General em Continência” Jair Cardoso nos mostra o real poder do

Presidente Figueiredo, que se apresentou em traje em traje civil, nessa solenidade

coberta pelo fotojornalista.

Figura 8

Foto: Jair Cardoso. Agência JB – 1982

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Ao fotografar a asa delta sobre o braço do Cristo, Luiz Carlos David transmite toda a

beleza e a alegria de um dia de verão, tanta beleza e tanta paz que nada de mal

pode acontecer, pois até Deus protege o homem-pássaro.

Figura 20

Foto: Luiz Carlos David. Agência JB

Muitas são as possibilidades. Independente da disciplina ministrada, aproveitando a

facilidade dos telefones celulares com câmeras, podemos desenvolver um bom e

barato exercício para desenvolver a criatividade, o poder de critica e a percepção de

nossos alunos, solicitando que retratem a cidade por ângulos pouco apresentados.

Eles poderão de deparar com cenas que nunca observariam no nosso corrido dia a

dia, como encontrar no cosmopolita Rio de Janeiro, uma paisagem européia no

Centro e uma imagem típica de uma aldeia de pescadores na badalada

Copacabana. Estas fotos foram feitas com uma câmera digital compacta comum,

acessível a todos.

Figura 21 Figura 22

Fotos: Carlos Nogueira. Praça Paris, 2013 / Copacabana, 2011. Rio de Janeiro, RJ

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6. A contribuição do cinema de ficção na sala de au la.

O filme como recurso didático se trata de uma linguagem inventiva, uma narrativa composta de uma sucessão de espaço e tempo, circunscrita entre o início e o fim de sua projeção. Utilizar filme em sala de aula como prática educativa possibilita sensibilizar os alunos e desenvolver novas formas de compreender e ler criticamente os meios eletrônicos e as novas tecnologias de informação (RESENDE, 2010, p.8).

O cinema de ficção, uma forma de comunicação com a qual quase todas as pessoas

estão bem familiarizadas e, portanto com mais facilidade podem decodificar a

mensagem, pode ser usado para, de forma lúdica, introduzir conceitos e abrir

discussões sobre temas variados. Para exemplificar os usos de filmes neste sentido,

escolhemos três áreas do conhecimento a saber: a sociologia, o meio ambiente e a

comunicação (todas as três áreas são estudadas na grande maioria dos cursos

técnicos), e obras que podem ser usadas em sala de aula, como matérias de estudo

em disciplinas destas áreas,

porque, se tratamos os diferentes estados em que se encontram as sociedades humanas, tanto antigas como longínquas, com estágios ou etapas de um desenvolvimento único que, partindo do mesmo ponto, deve convergir para o mesmo fim, vemos bem que a diversidade é apenas aparente. A humanidade torna-se uma e idêntica a si mesma (STRAUSS, 1980, p.5).

Filme 01 - O pequeno grande homem (Little Big Man) – USA, 1964. Dirigido por

Arthur Penn, com Dustin Hoffman, Faye Dunaway e Martin Balsam – “baseado em

uma novela de 1964, de Thomas Berger - Narrado pelo centenário protagonista em

tom de comédia picaresca, mas com muitos momentos dramáticos, o filme traça um

painel da conquista do Oeste americano, mostrando o choque entre a cultura

ameríndia dos cheyenne e a cultura do branco colonizador, através da trajetória de

vida de Jack Crabe que foi resgatado junto de sua irmã, ambos crianças pequenas,

pelos índios Cheyennes, quando sua família foi morta por guerreiros Pawnee. Crabb

cresce na tribo do Chefe Old Lodge Skins e aprende a linguagem dos índios.

Apesar da baixa estatura, ele se mostra um bravo guerreiro. Devido a isso os índios

começam a chamá-lo de (Little Big Man). A sequência mais marcante do convívio

com os índios é a sua conversa, a beira de uma fogueira, com o Chefe Old Lodge

Skins. Este, contando a história de seu povo em contraponto com “os caras

pálidas”, refere-se ao seu grupo como entes humanos. Mas, em uma batalha contra

Page 20: Aprender a “ver”: desaprender, rever, reaprender

os homens brancos ele é capturado. Como é um homem branco, ele é entregue aos

cuidados do Reverendo Pendrake e sua sensual esposa Louise, para que volte a ser

“civilizado”.

Quando um antropólogo social fala em “cultura”, ele usa a palavra como um conceito chave para a interpretação da vida social. Porque para nós “cultura” não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização”(sic) mas a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em antropologia Social e sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas (MATTA, 1981 p.2).

Filme 02 - O Mordomo e a Dama – (Paradise Lagoon / The Admirable Crichton) –

USA, 1957. Direção de Lewis Gilbert, com Cecil Parker, Diane Cilento, Kenneth

More e Martita Hunt – “Um Clássico da história do cinema. Uma deliciosa comédia

sobre um grupo de aristocratas ingleses em viagem num barco que encalha em uma

ilha deserta. É então que um dedicado mordomo assume a liderança do grupo e

acaba se envolvendo com a filha do patrão”. Subalterno, serviçal, “inferior”, para o

culto grupo da classe dominante inglesa, o Mordomo que dominava a prática da

sobrevivência, se torna o senhor da Ilha, o detentor da Cultura mais importante

naquele ambiente hostil.

Filme 3 - O conceito sobre sistemas interligados (CAPRA, 1982), pode ser colocado

de uma forma mais suave através da obra O Efeito Borboleta (The Butterfly Effect).

Um drama de ficção científica, norte-americano, lançado em 2004, estrelado por

Ashton Kutcher, Melora Walters, Amy Smart, Eric Stoltz da New Line Cinema. O

filme foi escrito e dirigido por Eric Bress e J. Mackye Gruber. Nela é contada a

história de Evan Treborn (Ashton Kutcher) que levava uma vida feliz com Kayleigh

Miller (Amy Smart), até o momento que ocorre um acidente e Kayleigh morre. Então,

à noite, depois de Kayleigh ser enterrada, Evan descobre ter a capacidade de viajar

no tempo. Ele volta ao passado e impede a morte de sua amada. Mas logo toma

consciência que não se pode brincar de Deus, pois a cada mudança que ele faz no

passado, para consertar as consequências de suas intervenções em várias viagens

no tempo, seu presente e futuro são drasticamente alterados. Então, para consertar

tudo, decide voltar ao tempo em que ele tinha 7 anos (Logan Lerman) e não

conhece Kayleigh (Sarah Widdows) e mantém o presente assim. Ao fim, oito anos

Page 21: Aprender a “ver”: desaprender, rever, reaprender

depois, ele reencontra Kayleigh na rua, mas decide seguir em frente. De forma

lúdica temos uma visão clara de que todo ato tem as sua consequência e pode

afetar tudo ao nosso redor.

Filme 04 – Em A Conquista da Honra (Flags of Our Fathers), dirigido por Clint

Eastwood, com Ryan Phillippe, Adam Beach, Neal McDonough , EUA , 2006. Vamos

encontrar um ótimo gancho para a discussão da ética e da verdade na propaganda.

Fevereiro de 1945, apesar da vitória anunciada dos aliados na Europa, a guerra no

Pacífico prosseguia. A batalha pela posse da ilha de Iwo Jima gerou uma imagem-

símbolo da guerra: cinco fuzileiros e um integrante do corpo médico da Marinha

erguendo a bandeira dos Estados Unidos no monte Suribachi. Os verdadeiros

protagonistas deste episódio histórico ou morreram logo após este momento, sem

jamais saber que foram imortalizados, ou permaneceram na frente de batalha com

seus companheiros, que lutavam e morriam sem qualquer ostentação ou glória.

Enquanto outro grupo, elevado a categoria de heróis da pátria, viajava pelo país em

uma gigantesca campanha publicitária para arrecadar fundos para a guerra.

Filme 05 – O questionamento sobre a ética, a verdade e isenção de uma cobertura

jornalística (MARANHÃO, 2013) pode ser encontrada neste filme americano de

1983. Sob Fogo Cerrado (Under Fire), direção de Roger Spottiswoode e roteiro de

Ron Shelton, com Nick Nolte, Gene Hackman, Joanna Cassidy, Ed Harris, Jean-

Louis Trintignant. Esta obra de ficção inspirada em fatos reais, a revolução

Sandinista na Nicarágua do ditador Anastasio Somoza, trata destes assuntos

através da atuação do fotógrafo de guerra Price (Nick Nolte), que entre um romance

com a jornalista Claire (Joanna Cassidy) e muita cerveja, vai registrando o conflito

sob a sua ótica estrangeira, demonstrada na cena em que, preso em uma sela por

fotografar uma repressão violenta da forças governistas a um grupo de

simpatizantes dos Insurgentes, é questionado por outro preso sobre de que lado

está e responde: “não tenho lado, só tiro fotos”. Durante o transcorrer da cobertura

da revolução vai, aos poucos, se envolvendo na disputa e os seus registros

fotográficos vão sendo usados estrategicamente para os propósitos dos dois lados.

No final uma sequência de suas fotos, onde registra o assassinato de outro jornalista

americano, Alex (Gene Hackman), publicadas na imprensa mundial, contribui no

desfecho do conflito.

Page 22: Aprender a “ver”: desaprender, rever, reaprender

7. Conclusão

A importância do aproveitamento das imagens na aprendizagem está reconhecida. É

só observarmos os muitos trabalhos acadêmicos e o espaço a elas dedicado na TV

ESCOLA, por meio de uma sequência de abordagens no programa Um Salto Para o

Futuro. Esperamos que este trabalho contribua para o debate e ajude na utilização

de imagens, fixas ou em movimento, como uma das muitas possibilidades didáticas

que se apresentam aos profissionais da educação. A discussão está aberta, mas

longe de terminar, novas abordagens se impõem, como os estudos da inclusão dos

jogos eletrônicos e do You Tube neste contexto.

8. Referências

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