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Apocalipse

Apocalipse é um gênero de literatura revelatória com uma estrutura narrativa, na qual a revelação é mediada por um ser do outro mundo a um receptor humano, revelando uma realidade transcendente que é simultaneamente temporal, na medida em que busca salvação escato-lógica, e também espacial, na medida em que envolve outro mundo1.

O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se en-contrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível.

Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao plane-ta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra, e o velho Apóstolo de Patmos transmite aos seus discípulos as advertên-cias extraordinárias do Apocalipse.

Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. É verdade que frequentemente a descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar fiel-mente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a história da Humanidade…2

1 John J. Collins. Daniel, with an Introduction to Apocalyptic Literature. Grand Rapids: William B.

Eerdmans, 1984. P.4.

2 XAVIER, Francisco C., / Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980, cap. 14

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Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou e as notificou a João, seu servo, 2 o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. 3 Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profe-cia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo. 4 João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos se-te Espíritos que estão diante do seu trono; 5 e da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, 6 e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele, glória e poder para todo o sempre. Amém! 7 Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim! Amém! 8 Eu sou o Alfa e o Ô-mega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso.3

Apocalipse termo grego que quer dizer revelação.

Tornou-se um tipo de literatura comum à época de Jesus e mesmo um pouco antes, na literatura hebraica existiam vários “Apocalipses”. Era uma literatura escatológica, isto é, que se referia ao fim dos tempos.

Podemos dizer que tal literatura era uma extensão do gênero profético, tendo por uma das diferenças que enquanto o profeta ouvia a revelação e a transmitia de forma oral, o Apocalipse era retratado em um livro.

Outra característica desta literatura é que ela era altamente simbólica, tudo era traduzido por símb olos, para entender seu conteúdo e apreender o se ntido da revelação temos de retraduzir estes símbolos.

O autor deste Apocalipse é tido pela tradição cristã como sendo João, o E-

vangelista, que o escreveu quando estava exilado na ilha de Patmos no final do primeiro século de nossa era na época de Domiciano.

Alguns estudiosos tentam situá-lo na época de Nero, entretanto, esta não pa-rece a realidade; tentam mostrar que ele teria sido escrito antes do Quarto E-vangelho, o que também não tem comprovação e não parece ser a ordem natu-ral.

Tudo indica que foi escrito após o Evangelho atribuído ao Discípulo Amado.

No primeiro versículo temos que é uma revelação vinda de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, e que foi notificada a João através de seu anjo.

3 Apocalipse, 1: 1 a 8

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Depreendemos daí tratar-se de uma obra mediúnica. Jesus, como médium de Deus a revelou ao Anjo, que como um médium espiritual a transmitiu a João, o médium encarnado, que materializou o texto para nós.

Muitos veem aqui como o anjo sendo o próprio Espírito Jesus, Ele como sen-do o Anjo de Deus por excelência. Todavia alguns versículos que ainda iremos comentar falam em semelhança deste anjo revelador com o Filho do Homem, e no último capítulo desta Revelação o próprio Jesus diz:

Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igre-jas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a resplandecente Estrela da manhã.4

Talvez esteja presente aqui uma primeira prefiguração do Espírito de Verda-de que veremos permeia todo Apocalipse, como sendo uma Revelação de Or-dem Superior.

Ainda temos no primeiro versículo o objetivo da obra, mostrar aos seus ser-vos as coisas que brevemente devem acontecer.

Lembramos novamente as palavras de Emmanuel:

Todos os fatos posteriores à existência de João estão ali previstos. É verdade que frequentemente a descrição apostólica penetra o terreno mais obscuro; vê-se que a sua expressão humana não pôde copiar fiel-mente a expressão divina das suas visões de palpitante interesse para a história da Humanidade…5

Brevemente não deve ser visto como um período de tempo fechado, demarca-

do, esta tem sido uma das dificuldades de todos os e s tudiosos deste tipo de lite-ratura; é preciso compreendermos que é uma revelação espiritual, vinda de Deus, e que o tempo de Deus é diverso do nosso. Para um Cristo, Espírito que está integrado em Deus, alguns milênios podem significar segundos. Temos de levar isto em conta.

Através da palavra servo temos já, uma compreensão importante, o Cristão, que a quem a revelação é dirigida, deve ser um servo de Deus e de Seu Cristo, isto é, deve servi-Los servindo aos seus semelhantes. A palavra é repetida se referindo também ao apóstolo que é também um servo produtor do Bem.

2 o qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cris-

to, e de tudo o que tem visto.

Quem por excelência testificou da palavra de Deus foi Jesus-Cristo, todavia

ao que dá a entender aqui o Evangelista refere-se a ele mesmo, João, que foi também testemunha do testemunho de Jesus.

4 Apocalipse, 22: 16

5 [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito)1980], cap. 14

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João, o evangelista, como os demais apóstolos iniciadores do Movimento de Jesus, não tiveram vida fácil. Para divulgar o Evangelho eles tiveram que dar a própria vida, uns se martirizando literalmente, outros, como é o caso de João, doando toda a sua vida em favor do trabalho do Evangelho. Desta forma po-demos afirmar que ele também, de acordo com a sua condição evolutiva testificou da palavra de Deus e do testemunho de Jesus-Cristo.

O nono versículo deste primeiro capítulo também insinua esta possibilidade:

Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na per-severança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.6

E aqui é preciso entender que só devido a esta fidelidade e a este testemunho é que ele pôde receber este revelação através de um desdobramento espiritual profundo como foi o caso. Se ele não estivesse ajustado ao plano operacional do Evangelho, jamais poderia trazer ao mundo esta obra que é bem a síntese de toda a Boa Nova.

Outro fato importante a ser destacado é a afirmativa de que ele testificou, e aqui podemos dizer, fielmente, o que viu. Pois há casos em que médiuns veem algo e distorcem o que viram, influem na comunicação de tal modo que esta se desfigura.

Outros meditam no Evangelho, mas insistem em interpretá-lo segundo as suas conveniências e não, deixando que o Verbo Divino diga a eles o que é pre-ciso em favor de seu crescimento moral e espiritual.

3 Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.

Bem aventurado, isto é, feliz.

Aquele que lê; como já dissemos o Apocalipse é um livro, desta forma era li-do; apesar de ser uma realidade que àquele tempo grande era o número dos analfabetos, o que leva o evangelista a completar: e os que ouvem, pois tais li-vros eram lidos nas assembleias, como as cartas apostólicas e os Evangelhos, para que todos pudessem se inteirar de seus valiosos ensinamentos.

Palavras desta profecia; trata-se do conteúdo do livro, da revelação propri-amente dita. Revelação esta que se mostrou ser muito importante e valiosa com o decorrer dos tempos. Muitos não a compreendendo não lhe deram o valor devido, mas nos dias de hoje já é quase unânime entre os cristãos, o valor desta obra a ser implantada no coração de todos nós.

Importa aqui dizer que as palavras desta profecia em nada contradizem os qua-

tro Evangelhos, muito pelo contrário, dão a eles vida e o concluem de forma magistral.

6 Apocalipse, 1: 9

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E guardam as coisas que nela estão escritas; “guardar” aqui deve ser enten-

dido como vivenciar, dar o devido valor fazendo destas palavras roteiro de vi-da.

Ao revelar isto bem no início da obra, o Espírito Jesus vem nos chamar a a-tenção não só para a necessidade de ler este livro com muito carinho, mas tam-bém de estudá-lo minuciosamente, pois pela introdução ele já adianta, muito conteúdo importante vem aí para a devida orientação daquele que já despertou para a necessidade de se autoeducar à luz das Verdades de Deus.

…porque o tempo está próximo; qual o tempo está próximo? Isso indica o tem-po do fim, ou o final dos tempos. Aqui não devemos confundir com o final do mundo, mas de um fim de ciclo em que haverá uma separação do joio do trigo, do bem do mal, e que aqueles Espíritos que insistirem em fazer oposição ao Cristo e não evoluírem da forma desejada, serão levados a outros mundos ade-quados ao seu estado evolutivo.

Em linguagem bíblica podemos dizer que eles serão os “Adãos” de outros mundos.

Entretanto, mais uma vez dizemos que se trata de um “próximo” relativo. Já àquele tempo muitos aguardavam que estas coisas se dariam já; com o decorrer do tempo foi sendo visto que este tempo iria variar, e hoje sabemos que se mui-tas coisas já ocorreram para determinado grupo de Espíritos, para outros ainda vão ocorrer, e tudo dependerá de como será o comportamento de cada um. Na realidade este próximo será mais ou mesmo distante de acordo com o que cada um fizer da sua vida, pois se existem previsões que tudo indica já foram cum-pridas, outras existem a se realizarem de forma coletiva e relativo a povos vá-rios; não podendo também esquecermos que há também o “apocalipse” a ser vivido por cada um individualmente.

4 João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete Espíri-tos que estão diante do seu trono

João; é o intermediário, o médium da revelação. Muitos estudiosos têm afir-mado ser outro João que não o evangelista o autor do Apocalipse. Tratar-se-ia de um presbítero da igreja de Éfeso. Pode ser, mas o mais provável é que seja mesmo o Evangelista quem recebeu a revelação.

É preciso lembrar, que João já era bem idoso nesta época, e que tinha sofrido bastante, o que tornaria difícil que ele pudesse realizar o esforço de escrever todo este livro, o que não era fácil devido às dificuldades de escrita da época. Assim, é possível que ele tenha recebido a revelação por via mediúnica e ditado a um de seus discípulos, que poderia muito bem ser este João o presbítero e que este de fato é quem tenha escrito o Apocalipse. Todavia, se isto ocorreu desta

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forma, não deixa de ser o evangelista o autor do Apocalipse, como Paulo foi o autor de suas cartas muitas vezes escritas pelas mãos de outros.

Às sete igrejas que estão na Ásia ; a revelação era dirigida às sete igrejas situa-

das na Ásia Menor, hoje Turquia. Estas não eram todas as igrejas cristãs da épo-ca na região, é preciso ver na expressão um símbolo para todas as igrejas.

O número sete é de grande significação simbólica na literatura hebraica era um número sagrado. Tem por significado integralidade, perfeição. Sete são os dias da criação; quem matasse Caim seria castigado sete vezes; Noé levaria para a arca sete pares de cada espécie de animal puro, e muitos outros exemplos po-deriam ser dados, de tal forma que estas sete igrejas representam a totalidade de todas as igrejas cristãs; como podemos também ver nelas sete componentes de nossa própria personalidade, ou a igreja cristã em sete fases nestes dois mil anos de cristianismo, entre outras significações possíveis.

…da parte daquele que é, e que era, e que há de vir; João é o médium e tem ampla consciência de sua condição de apenas intermediário, ele falava da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, ou seja, de Deus…

…e da dos sete Espíritos que estão diante do seu trono; e da parte dos sete (novamente a simbologia) Espíritos que aqui podem representar os mentores espirituais de cada igreja. O Espiritismo nos abre esta possibilidade, a de que cada grupo que se reúne para uma determinada finalidade na área do Bem ter vinculado a ele um mentor espiritual.

Estar diante do trono de Deus é estar como que na antecâmara do Criador, são aqueles Espíritos que já estão mais comprometidos com o Serviço de Deus e num grau maior de afinidade com Ele.

Em nosso orbe, que tem Jesus como Governador Espiritual do Planeta, po-dem ser os Ministros do Cristo, o Espírito Santo, que é o grupo de Espíritos que auxiliam Jesus na governança do Orbe desde a fundação do mesmo.

5 e da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados

João confirma ser médium da parte de Jesus Cristo, pois era medianeiro de

suas ideias na Terra através da vivência e da divulgação do Evangelho, o que nós também podemos ser.

Fiel testemunha; testemunhamos o que vimos. Jesus é testemunha do Pai porque O viu através de Sua compreensão superior, através de Sua integração Nele. Por isso é fiel testemunha, pois além de vê-Lo, viveu-O integralmente. Por isto pôde dizer: Quem me vê a mim vê o Pai7

Não que ele fosse o Pai, mas que se fazendo um espelho no mais alto grau de pureza refletiu Deus no máximo que nossa compr eensão pode perceber.

7 João, 14: 9

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Deste modo, se quisermos ver Deus na limitação de nosso entendimento, basta ver Jesus, Ele mostrou-nos o Pai por ser Fiel Testemunha Dele.

Primogênito dos mortos; primogênito é o que nasceu primeiro. O objetivo da vida é nos fazer nascer para a vida verdadeira que é a vida espiritual nos pa-drões superiores de Deus. Todos estamos gestando em nós o Filho do homem que representa o grau máximo de evolução que podemos alcançar.

Dentro desta conceituação, entre nós, os ainda mortos, Jesus foi o que nasceu primeiro para a vida superior em Deus, é deste modo, Primogênito dos mortos.

Neste passo é preciso interpretar este texto à luz de Romanos, 8: 29:

…porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.

O que o apóstolo Paulo quer dizer com este verso? Entre tantas interpreta-ções, como é comum na literatura evangélica, que todos estamos predestinados a também sermos Filhos de Deus como Jesus é, ou seja, que vamos participar da mesma condição de filiação que Jesus. E é a este fim que o Apocalipse como síntese de todo Evangelho nos conduz.

Príncipe dos reis da terra; é avocada aqui a condição de Cristo, de Messias,

para Jesus, o que nós hoje, Espíritas, temos como Governador Espiritual do Or-be.

A condição espiritual vai promovendo o Ser a estágios cada vez mais amplos dentro da hierarquia universal. Do mesmo modo que, numa empresa, um fun-cionário que se aprimora cresce hierarquicamente em seus quadros, no Mundo Espiritual se dá o mesmo, a ponto de um Espírito quando adquire condições, ser chamado pelo Criador para exercer funções mais amplas ao nível de um Cristo, por exemplo.

Jesus é, portanto, príncipe dos reis da terra, aqui há um jogo de palavras, pois Jesus é príncipe por ser o Filho do Rei que é Deus, e aqui o evangelista fala des-ta condição de Filho. Mas, hierarquicamente é superior aos reis da Terra, pois estes só governam transitoriamente, sua posição nem sempre é conquistada por méritos, e se eles as têm, é por permissão de Jesus que é o Plenipotenciário Di-vino em nosso planeta. Deste modo fica claro que o poder no Mundo Espiritual é não só mais amplo do que no Universo físico, como também tem muito mais valor. Aliás, só ele tem valor imorredouro.

Àquele que nos ama; neste momento o evangelista revela o porquê desta condição de Jesus: Ele é Aquele que nos ama… é simples, e só isto basta.

Deus é amor, esta é a característica básica de Deus. Jesus se tornou Cristo, e todo Espírito poderá se tornar também, porque identificou em grau máximo com o amor de Deus. Como dissemos, Ele, no plano prático da vida, O reflete no maior grau de pureza possível.

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Aqui lembramos nosso querido Honório Abreu:

Todo aquele que tem uma consciência do amor e o dinamiza se incor-pora na mentalidade crística…

Deus é o amor irradiante, o Cristo, na sua abrangência nos corações, é o plano operacional desse Amor.

…e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados. O sangue nos remete à questão do sacrifício, ao símbolo do sacrifício do cordeiro que é a morte de Je-sus.

Ampliando nosso entendimento podemos ver aqui a própria encarnação do Cristo em seu sentido geral, uma encarnação de testemunho que culminou com a morte na cruz.

Deste modo, podemos fazer um paralelo com a nossa vida dentro de uma proposta evolucional e ver este sangue representando a própria necessidade re-encarnatória.

A carne e o sangue, como em Hebreus, no segundo capítulo, representam o corpo que torna possível a reencarnação. E aqui, quando é dito da oportunidade de lavar os pecados no sangue do cordeiro, que representa Jesus-Cristo, lem-bramos da obra Nosso Lar, quando Lísias nos diz:

Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta, somos portadores de um fato sujo, para lavar no tanque da vida humana. Essa roupa imunda é o corpo causal, tecido por nossas mãos, nas experiências an-teriores. Compartilhando, de novo, as bênçãos da oportunidade terres-tre, esquecemos, porém, o objetivo essencial, e, ao invés de nos purifi-carmos pelo esforço da lavagem, manchamo-nos ainda mais, contrain-do novos laços e encarcerando-nos a nós mesmos em verdadeira escra-vidão.8

Assim, aprendemos que através das reencarnações somos lavados de nossos erros (pecados) até nos tornarmos puros e não mais precisarmos reencarnar.

Todavia não podemos deixar de comentar aqui o que significa ser lavado pe-lo sangue de Jesus, pois existem outros textos que falam a mesma coisa e isto tem feito confusão em muitos estudiosos das escrituras.

O sangue como dissemos representa o testemunho e o sacrifício de Jesus. É, deste modo, o plano aplicativo do Evangelho. Quando se diz que Jesus lavou os nossos pecados com o seu sangue, quer dizer que através do seu testemunho sacrificial ele exemplificou ensinando-nos a fazer o mesmo.

Nós, através das reencarnações, se operacionalizarmos o Evangelho, que é sacrifício por amor, seremos purificados, isto é, lavados pelo sangue de Jesus, que é o Seu exemplo. O sangue no organismo humano é o líquido que circula nas artérias e veias bombeado pelo coração, transportando gases, nutrientes e

8 XAVIER, Francisco C./ André Luiz (Espírito). Nosso Lar, 41ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994;

Comentário de Lísias no cap.12.

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elementos necessários à vida. Do mesmo modo o amor testemunhado deve cir-cular levando vida, é o que mantém o Espírito no Plano Superior de Deus.

6 …e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele, glória e po-der para todo o sempre. Amém!

Reis e Sacerdotes representam os dois maiores poderes existentes. Rei signifi-cando poder material, e sacerdote poder espiritual. O seguidor de Cristo purifi-

cado pelo testemunho do amor se tornará rei e sacerdote, terá poder temporal e espiritual, para Deus, ou seja, mesmo o poder material será por mérito e usado em favor do Bem comum. Assim, será um poder autêntico e definitivo, pois fundamentado na autoridade moral:

E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admi-rou da sua doutrina, porquanto os ensinava com autoridade e não co-mo os escribas.9

E será um poder que ainda nem nós mesmos p odemos compreender, pois o redator bíblico usa a expressão seu Pai, referindo-se a Deus na concepção do Cristo, que é um entendimento que ainda não temos.

Isto quer dizer que se ajustarmos aos Desígnios Superiores muito mais coi-sas, ainda maior do que supomos, nos aguardam. É como aqueles Espíritos que testemunharam por aqui o Evangelho com fidelidade e ao desencarnarem con-fessam: “tudo que sofri, tudo que passei, é muito pouco diante da grandeza do que sinto agora nesta doce e suave espiritualidade”.

Deste modo, por termos vindo Dele, Deus Criador, temos a intuição da gran-deza do Reino, mas não temos de forma clara. O certo é que tudo de bom, toda grandeza e realeza vem de Deus e de sua Misericórdia, por isso o autor é claro:

…glória e poder para todo o sempre. Amém!

Sendo este amém, a plena compreensão e realização da proposta divina em

caráter finalístico. Dizemos muitos “améns” em nossa vida, mas esta expressão só será mesmo usada por nós com autenticidade, no dia em que vivermos a proposta educativa do Evangelho como Jesus viveu, pois amém significa verda-de e a Verdade Universal, só quando a vivermos.

Esta é a proposta do Apocalipse, a de que vivamos como Jesus viveu para que encerremos em nossa história a necessidade de evoluir pelos impactos das dores e dos sofrimentos, aderindo a uma proposta clara de amor.

…poder para todo o sempre; trata-se de uma expressão que quer dizer “domínio pelo séculos dos séculos”, dizendo sobre um poder sobre o tempo, sobre todas as coisas transitórias.

9 Mateus, 7: 28 e 29

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Deus tem este poder, pois é o Autor do tempo, Existe e Cria antes dele. Quan-do nos ajustarmos plenamente a Deus, o tempo será relativo para nós também, transcenderemos às dimensões tempo e espaço com naturalidade. Não é difícil compreender isto, o amor, que é o Sentimento Divino por Excelência, mesmo que nós ainda não o compreendamos, mesmo no nível baixo de nossa realidade, transcende ao que entendemos como tempo; de outra forma, quando nos inte-gramos em uma tarefa com dedicação e unidade de alma, a realizamos da me-lhor forma e nem notamos o tempo passar… São experiências que em nosso campo ainda restrito podemos confirmar a relatividade de tudo que é criado como instrumento de didática para a nossa realização evolutiva.

7 Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim! Amém!

Este versículo contém Daniel, 7: 13, Zacarias, 12: 10 e 14. Podemos dizer que de forma sintética este é o tema do Apocalipse, a segunda vinda de Jesus.

Ainda vamos comentar mais sobre esta segunda vinda, mas é preciso que se compreenda que ela não será uma vinda física do Senhor como a literalidade do Evangelho nos propõe. A volta de Jesus se dará no plano de redenção pessoal. Jesus veio e trouxe-nos os instrumentos de nossa libertação, ele voltará em nós pela utilização devida destes instrumentos. É lógico que quando isto acontecer no plano da individualidade nós vamos nos encontrar pessoalmente com ele, e

será em grande estilo e glória este encontro, é o que depreendemos de vários encontros com ele que tiveram discípulos fiéis seus como vimos várias vezes na literatura espírita. A ressurreição definitiva será espiritual e nada nos faz crer que ela será coletiva num mesmo momento para todos.

Vários Espíritos já realizaram esta segunda vinda do Cristo em si, nós tam-bém a realizaremos, e todos realizarão; quando?

Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai.10

Interessante notar que ao responder a Simão Pedro num diálogo após sua ressurreição narrado no último capítulo do Evangelho de João, quando questio-nado sobre o discípulo amado que o seguia naquela ocasião, Jesus disse:

Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me.11

João, que era este a quem Simão Pedro se referia é o autor do Apocalipse, ele foi o único dos apóstolos que sobreviveu até os últimos anos do primeiro sécu-lo, e foi quem nos trouxe esta Revelação, que de certa forma podemos dizer, é Jesus voltando através de Sua mensagem, que é justamente essa, a da necessi-dade de vivenciarmos o Evangelho para assim desativarmos de nós a necessi-

10 Mateus, 24: 36

11 João, 21: 22

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dade de sofrermos os impactos da Lei. O final deste texto nos fala sobre a Jeru-salém Celestial e sobre o estabelecimento da ordem com a volta de Jesus.

Não será, de certa forma, o Apocalipse, ao invés de uma tragédia, como mui-tos têm visto, uma volta de Jesus? E quando João o recebeu? Após testemunhar o Evangelho por longos anos a ponto de ser exilado da ilha de Patmos por desa-fiar o mundo e seus valores transitórios. Patmos foi para João, como que sua crucificação, um coroamento de sua missão, pela qual Jesus pôde voltar através deste Apocalipse que ora estudamos.

Portanto, esta vinda é relativa, ela acontecerá, não temos dúvida, mas só será definitiva quando for em nossos corações renovados.

Eis que vem com as nuvens; nuvens definindo algo do Alto. Jesus se manifesta sempre num plano de ordem superior. Para muitos uma nuvem pode significar o frescor, o alívio de um sol muito quente; para outros uma chuva promissora para sua lavoura; outros, entretanto, a verão como uma tragédia, pois ela pode ser também prenunciadora de uma chuva que destrua seus bens e até mesmo suas conquistas de anos.

Todavia, a mensagem do Evangelho é esta mesmo, quem disse que ele é sempre alegria? Aliás, deveria ser, mesmo na tristeza transitória. Muitas vezes, é nas grandes perdas que nos encontramos com Deus e o realizamos em nossa vida.

Assim, amar, nem sempre é só perdoar, nem sempre é só fazer caridade. Como um juiz deve se manifestar, ou manifestar amor, diante de um réu culpa-do, que assassinou, por exemplo? Não é condenando-o? Amor também tem su-as expressões de justiça.

Jesus virá sim com as nuvens, do Alto, mas às vezes tão rarefeito que nem o perceberemos. Estejamos atentos…

…e todo olho o verá; trata-se de um olho que tem capacidade de ver para a-lém do físico, uma visão transcendente, uma compreensão superior.

Como é que Jesus se manifesta? Através daqueles que O vivem. Muitos po-dem falar de Jesus, lerem o Evangelho em voz alta, e não comunicarem a subli-me mensagem da Boa Nova; não O veremos através destes. Entretanto, mesmo se desvinculado de qualquer escola religiosa alguém viver a mensagem do a-mor, ela é vista por todos.

…não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte.12

Temos um exemplo claro disto através de nosso querido Chico Xavier. Ele foi sempre a manifestação viva do Evangelho, não o estamos endeusando, ele não era perfeito, mas fez sempre mais do que podia em favor do Cristo e de sua au-

12 Mateus, 5: 14

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toiluminação. Ele recebeu pessoas diversas, das mais variadas religiões, todos que com ele estiveram, independente de crença foram claros, “há nele algo es-pecial”. Para aqueles que foram mais atentos, a vida nunca mais foi a mesma. Ele não é unanimidade, nem poderia ser em nosso mundo, todavia, todos os respeitam, ninguém há que consiga dele falar mal se estiver em seu juízo perfei-to, mesmo que discorde de suas convicções religiosas.

Todo olho o viu, viu Jesus através do Chico. Muitos mudaram sua realidade mental.

Assim será com todos quando definitivamente vivermos a essência da men-sagem cristã, mesmo se através de outras escolas religiosas, pois podemos dizer o mesmo de uma Madre Tereza de Calcutá, de um Gandhi, ou de outros discí-pulos do Senhor.

E todo olho o verá…

…até os mesmos que o traspassaram; diz respeito aos que não compreende-ram a Mensagem da Cruz.

Mas sempre chega o momento de iluminação e da compreensão, mesmo que longe no tempo.

O testemunho é a melhor maneira de convencer alguém de uma realidade. Dissemos do Chico, quantos através de sua vida operante no Bem não se con-venceram da necessidade evangélica?

Entretanto, existe um tempo de amadurecimento. Só quando há uma resso-nância no íntimo a criatura vê e enxerga.

No primeiro momento somos acusadores, infringimos a ordem, não compre-endemos a mensagem de amor. Entretanto, a vida através de seus processos dolorosos, das perdas, seja dos valores do mundo, ou entes queridos, desper-tam a nossa realidade espiritual.

Lembrando novamente do Chico, quantos o acusaram, entretanto, depois da perda de uma alma amada, puderam através justamente dele encontrar a paz e a harmonia interior. Falsidade? Não, despertamento espiritual. Isto é mais do que o olho físico pode ver.

Ele acontece, na maioria das vezes, quando de nossas fraquezas em relação às coisas do mundo. Nestes momentos, até os mesmos que trespassaram Jesus vão O reconhecer como definitivo libertador de suas consciências.

…e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim! Amém! Àquele

tempo o povo hebreu era divido em tribos, eram as doze tribos de Israel. Estas tribos representavam a totalidade do que eles tinham como “povo de Deus”.

O número doze tem, dentro da simbologia, este caráter de universalidade, assim, devemos abrir este entendimento e ver aqui toda humanidade. Quando no sétimo capítulo surge o número dos assinalados, os cento e quarenta e qua-tro mil, trata-se de mais uma equação do doze projetando assim, ao infinito este número.

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Portanto, toda tribo expressa toda humanidade cristã e não cristã, pois em

verdade, somos todos cristãos já que somos governados pelo Cristo, basta acei-tar esta direção.

Se lamentarão; expressa um pesar por uma perda, no contexto original esta palavra expressa um bater no peito com aflição, com tristeza, pela morte de al-guém. Significa aquela perda de tempo por não ter aceito o Cristo antes, pelo tanto que deixamos de fazer.

Percebemos através da literatura mediúnica que este é um sentimento co-mum dos Espíritos quando desencarnam e tomam consciência da realidade da vida essencial, sempre veem que perderam tempo, por mais que fizeram é pou-co diante da Verdade Universal do Bem e da necessidade de colaborar.

8 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-poderoso

Temos aqui uma expressão da Divindade. Devemos lembrar que em última instância o Apocalipse é de Deus, é uma revelação que Jesus-Cristo recebeu de Deus e através do anjo deu ao redator em nosso plano que é João.

Temos assim algumas expressões que simbolizam Deus:

Eu Sou; era o nome de Deus dado a Moisés13. O judeu repeitava tanto este Nome, que não pronunciava o verbo ser na primeira pessoa do singular para não usar o nome de Deus em vão.

Jesus, apesar de ser judeu, costumava assim dizer, pois sabia ser o Cristo, o Unigênito, Aquele que já se integrou na Unidade Divina. Espíritos deste nível evolutivo podem às vezes transpor para si um atributo de Deus para melhor se expressarem entre os homens.

Alfa e Ômega; primeira e última letra do alfabeto grego, significando justa-mente a próxima expressão do texto, ou seja, o princípio e o fim.

Só Deus é o Princípio de todas as coisas, a doutrina espírita o revela como Causa Primária de todas as coisas14. É o fim no que diz respeito à nossa predestina-ção em matéria de perfeição.

Vamos nos aperfeiçoar de tal modo que nos integraremos na Unidade Divi-na; não que vamos ser como Deus, não, será uma perfeição relativa à nossa po-sição na hierarquia celestial. É o que às vezes chamamos de “volta ao Criador”, pois Dele saímos, e para Ele voltaremos em Amor e Verdade.

… diz o Senhor; interessante esta expressão, ela não significa um dizer com

palavras proferidas por uma boca, mas o médium revelador a percebe. Pode-mos dizer que tal se dá quando o medianeiro entra no “tempo” de Deus.

13 Cf. Êxodo, 3: 14

14 (KARDEC, O Livro dos Espíritos. 50ª ed. 1980), Q. 1

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14

Que é, e que era, e que há de vir; mais uma expressão dizendo da transcen-dência do Criador em relação ao tempo. Ele é, era e será, tudo num mesmo ins-tante; é passado, presente e futuro. Em realidade podemos dizer que Ele é um Eterno presente, para Ele o tempo não passa, o tempo é.

O Todo-poderoso; Aquele que tem controle de todas as coisas; é Onisciente, Onipresente e Onipotente.

Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. 10 Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, 11 que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia. 12 E virei-me para ver quem falava comi-go. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; 13 e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro. 14 E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo; 15 e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz de muitas águas. 16 E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. 17 E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último 18 e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno. 19 Escreve as coi-sas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acon-tecer: 20 O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete i-grejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.15

Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo.

João escreveu o Apocalipse num momento de grande dificuldade da igreja cristã nascente, ela estava sendo altamente perseguida pelo império romano.

Alguns estudiosos tentam situar este momento histórico no governo de Nero, no final da década de 60 do primeiro século, mas o mais provável é que tenha sido durante o governo do imperador Domiciano por volta do ano 95 de nossa era.

Foram dois períodos de grande turbulência e sacrifícios para os Cristãos, mas parece-nos que a datação mais próxima do final do século é a mais correta.

15 Apocalipse, 1: 9 a 20

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15

Ao usar a expressão vosso irmão, dirigindo às igrejas, ele está dizendo do ca-

ráter universal da revelação o que é característico da essência da mensagem cristã, pois Deus é Pai de todos inclusive de Jesus nosso Irmão Maior.

Depois temos uma bela colocação por parte do apóstolo: companheiro na a-flição, o que caracteriza o seu profundo entendimento da mensagem, pois o a Boa Nova do Cristo define que serão considerados participantes do Reino, não os que tiverem conhecimento intelectual, nem os que forem detentores de poder temporal, e nem mesmo os que tiverem amigos próximos de Deus, mas sim os que fossem trabalhados no campo íntimo com expressões de amor e de um sen-timento renovado no Bem.

Companheiro de aflição define uma participação naquele processo de luta e nos

desafios comuns aos adeptos da Nova Revelação, era sofrer junto, sorrir e cho-rar, ser um igual, irmão de todos.

Paciência de Jesus-Cristo; temos aprendido ser a paciência a Ciência da Paz, e que esta só é alcançada com a “eficiência da pá” que é um instrumento que sugere trabalho contínuo para produzir virtude.

A paciência é fruto de amadurecimento espiritual, de conquista do Espírito no campo da moral; o paciente é um pacificador, pois promotor da paz. Paciência de Jesus-Cristo é a somatória de todas estas virtudes formalizadas pelo testemunho pessoal da criatura na experiência reeducativa, não é só sacrifício, mas produ-ção de valores que dignificam e tornam os seres melhores.

João estava na ilha chamada Patmos, que quer dizer “meu destruidor”. Patmos se localizava no Mar Egeu, na Ásia Menor. A mensagem do Apocalipse

é a da vitória do bem sobre o mal que se consubstancia na volta de Jesus. Jesus nasce quando Maria, sua mãe, se faz “serva do Senhor”, apagando-se, para Ele vir ao mundo. A mensagem de sua volta se dá justamente numa ilha que signi-fica “meu destruidor” mostrando-nos a necessidade da desativação de nosso caráter pessoal, personalismo. Só através desta descaracterização do apóstolo no campo pessoal através do testemunho autêntico é que a Revelação pôde vir, o mesmo se dará no campo íntimo de cada um. Lembramos ainda que a autoria pessoal de João para o Apocalipse não é unanimidade, podendo, inclusive esta autoria “incerta” nos sugerir justamente isto, ser preciso que Ele, Cristo, cresça, e que o eu, personalismo, diminua.

…por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo; a palavra de Deus é expressão da Lei de Deus. O autor de Hebreus diz que ela é:

… viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do cora-

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APOCALIPSE

16

ção.16

Ela penetra, transforma, educa aquele que a recebe e a compreende segundo as disposições do espírito. Entretanto, aquele que ainda não se despertou para a necessidade reeducativa do Ser que sobrevive ao trespasse físico, ou para aque-le que insiste em perder suas possibilidades por aprisioná-la na letra que mata, ela incomoda a ponto de, através da violência tentar aniquilar todos aqueles que dela usam como instrumento de promoção espiritual.

Estes, os que vivem pelo testemunho de Jesus-Cristo, são, como João foi, expul-sos pelos interesses do mundo, exilados do contexto por incomodarem o poder transitório. A palavra de Deus é o que da a motivação para o plano aplicativo que se faz representar pelo testemunho de Jesus-Cristo.

Por ela discernir os pensamentos e intenções do coração, afere com verdade aque-le que a recebe ou a rechaça, tendo, todavia, no desenrolar dos tempos, uma posição sempre positiva de ajuste do Ser aos Desígnios do Eterno; por ser a ver-dade que liberta através da suavidade do amor realizado ou da dor saneadora das enfermidades do sentimento.

10 Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta,

Eu fui arrebatado em espírito; podemos ver aí a atuação mediúnica. João foi arrebatado, isto é, foi projetado a uma situação, a um lugar, na dimensão espiri-tual.

Acontece o mesmo com muitos médiuns, seja numa reunião mediúnica ou mesmo fora dela. É o que comumente se chama de “desdobramento”; alguns estudiosos não espíritas têm nominado como “projeção da consciência”. Este vai ser o modo de ação do médium revelador do Apocalipse, ele se desdobra, vê, e narra o que foi a ele mostrado.

Fora do campo mediúnico, e mesmo até nesta área de atuação, podemos ver aí, neste arrebatamento, a necessidade de nos desvincularmos das situações cor-

riqueiras, dos interesses em que estamos imersos, se quisermos receber uma revelação espiritual de maior alcance. Entendendo assim, também, a necessida-de de nos projetarmos além dos interesses puramente transitórios para efeti-varmos nossa evolução espiritual.

João se capacitou a receber o Apocalipse no final de sua vida física. Alguns fatores colaboraram para isto. Seu amadurecimento espiritual pelo trabalho in-cessante na área do Evangelho e no atendimento aos necessitados; os sofrimen-tos naturais por que passou fortaleceram-no espiritualmente, deram a ele emba-samento moral; sua fraqueza física, seja pela idade, seja pelos sacrifícios que teve de fazer, se desvinculando do comodismo e do imediatismo humano, tam-bém o auxiliaram neste processo de desligamento do mundo da ilusão para uma efetiva penetração no mundo da realidade.

16 Hebreus, 4: 12

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São lições valiosas para todos nós que almejamos uma maior projeção na vi-da espiritual. Os desafios, as dores, os limites, e as contrariedades, são situações de bastante incômodo, mas na realidade realizam importante tarefa em nossa contabilidade íntima, nos preparam para estarmos em melhor forma no dia do Senhor.

No dia do Senhor; historicamente os estudiosos situam este dia como sendo o domingo, o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição de Jesus. Dia este que à maneira judaica de contar iniciava no sábado à noite.

No Judaísmo era o “dia de IHWH”, o dia do julgamento. No entendimento dos primeiros cristãos era o dia da volta de Jesus. Irineu, escritor cristão do se-gundo século, menciona uma tradição da igreja de que o Messias retornaria du-rante a Páscoa, e que o dia do Senhor não se refere ao domingo, mas ao primei-ro dia da Páscoa17.

No campo íntimo é aquele momento de ajuste ao Plano do Criador, é nossa assimilação e adequação ao pensamento superior. Dissemos anteriormente, é entrar no “tempo de Deus”.

Neste instante é que nos é outorgada a capacidade da revelação, que literal-mente é “tirar o véu”; desvendar algo desconhecido, uma nova realidade, por exemplo.

…e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta; a trombeta, “sho-phar”, era um instrumento feito habitualmente de chifre de carneiro ou de boi; vamos ter também trombetas de prata que serviam só aos sacerdotes. Emitiam um som muito forte capaz de fazer a criatura despertar.

Aqui o que importa é a intensidade do som ouvido e que tinha justamente este objetivo despertar o médium para o que era visto. É bom lembrarmos que muitas vezes vemos algo, mas não nos despertamos para a realidade; quando a audição é sensibilizada este despertamento se faz mais fácil.

É habitual para nos falar do despertamento espiritual a expressão, “tocar a acústica da alma”.

A codificação espírita que é uma grande revelação espiritual foi antecedida por pancadas que, através de barulhos estranhos, despertaram a população pa-ra novos fatos de grande poder revelador.

Esta trombeta representa para nós a possibilidade deste despertamento que soa como um grito em nossa consciência chamando-nos a uma nova realidade.

17 STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento, 1ª Ed. Belo Horizonte: Editora

Atos, 2007. Pág. 865

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18

Neste passo é importante percebermos que ele não ouviu um som de trombe-ta, mas uma grande voz, a trombeta é usada só como comparação para expressar a intensidade com que a voz lhe falava.

No plano em que vivemos a voz tem um poder mais objetivo de comunica-ção, o que define que ele ouviu num plano mais concreto, a voz dizia algo que ele compreendia. A revelação só tem objetivo se ela se adequar ao plano mental daqueles que vão recebê-la, se não for assim, não haverá entendimento e ela perde a função.

Como era uma revelação vinda da Esfera de Deus e de Seu Cristo, ela não era falha, era adequada, vinha através de uma grande voz que o revelador ouviu de-trás, e não de frente. Por quê?

Detrás é no lado oposto à nossa frente. Sendo a frente o sinalizador de nossos interesses, pois é para onde estamos voltados, a Mensagem do Cristo vem de-trás, pois vem contrariando os interesses comuns do mundo, vem numa dimen-são a que não estamos habituados. Por isso o som como que de uma trombeta,

para despertar a criatura e ela voltar-se com determinação dando a frente para o Cristo e as costas para o mundo.

11 que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.

…que dizia: O que vês, escreve-o num livro; o que vês, a voz lhe chama a aten-ção para a necessidade de aguçar sua visão, ou seja, tornar seu olhar capacitado a ver o que é sutil. Dissemos que a audição apropria os nossos sentidos de for-ma mais imediata, mas para estarmos preparados para o Reino do Senhor é preciso que estejamos com estes sentidos mais perceptivos, é preciso “ver”, sa-ber ver e discernir, e o que vermos divulgar com o objetivo de ensinar, de pro-mover o Bem.

Escreve-o num livro; interessante aqui ser destacado o livro, por que não disse

o Senhor, simplesmente, escreve? Ou, escreve num pergaminho? A resposta está em Isaías:

Vai, pois, agora, escreve isto em uma tábua perante eles e aponta-o em um livro; para que fique escrito para o tempo vindouro, para sempre e perpetuamente.18

Ou seja, era uma Revelação de peso, que seria importante em todos os tem-pos da humanidade, por isso precisava ficar registrada de forma completa e para sempre.

Além disto, era uma Revelação ampla que não poderia ser analisada por um trecho apenas, tratava-se de um conjunto de informações e que deveria ser es-tudada como um todo; por isso teria que ficar registrada num livro.

18 Isaías, 30: 8

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…e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia; o livro tinha uma objetivo, as-sim, deveria ser enviado ao seu publico alvo. Não podemos guardar aquilo que nos é revelado, temos que dar divulgação ao que é bom. É muito comum em nosso meio comprarmos um bom livro, lermos, guardarmos em nossa biblioteca e deixá-lo lá quietinho.

Se for bom, é dever do Cristão enviá-lo a quem possa ser por ele ajudado, emprestarmo-lo, ou mesmo doá-lo se for o caso.

Às sete igrejas que estão na Ásia; já analisamos a mesma expressão quando comentamos o quarto versículo deste mesmo capítulo.

Elas podem ter vários significados no plano histórico, geográfico, religioso, e no campo pessoal.

Toda nossa evolução se dá num plano setenário, que são ciclos que envolvem sempre uma equação de “sete”.

Vamos ter a oportunidade de no decorrer deste texto explanar mais sobre o assunto apesar de nossas limitações.

Aqui devemos entendê-las em seu sentido de unidade, de universalidade, mas também de diversidade, pois cada uma, como cada um de nós se acha nu-ma fase evolutiva e tem as suas peculiaridades.

Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a La-odicéia; estas são as “sete igrejas” a quem a Revelação é dirigida.

Vamos tentar trabalhá-las como componentes do movimento cristão de um modo geral; ou facetas de nossa própria personalidade. O objetivo do Evange-lho é reeducativo, e reeducação como sabemos é algo que deve ser feito indivi-dualmente, no plano íntimo de cada um, pois educar do ponto de vista espiri-tual não é tarefa que pode ser feita em massa.

No segundo e terceiro capítulo do Apocalipse vamos ter o conteúdo das ob-servações direcionadas a cada igreja, razão porque vamos deixar para quando estivermos analisando estes capítulos maiores comentários a respeito de cada uma individualmente e sobre as consequências morais que podem despertar em cada um de nós.

12 E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete cas-tiçais de ouro;

E virei-me para ver quem falava comigo; foi dito anteriormente que a voz se fez ouvir detrás do médium; comentamos sobre isto, que trata-se da manifesta-ção do Cristo em nossa vida no sentido inverso ao que é proposto pelo mundo.

João, como servo do Senhor, vivia uma vida voltada para as questões do E-vangelho, seus interesses eram espirituais; mas aqui temos de ver a simbologia. Ele como elemento encarnado representa a humanidade que vive uma vida na ilusão do que pode ser visto pelos olhos.

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Ao “virar-se”, ele demonstra interesse, ele volta a frente para ver quem falava com ele.

Ele ouvia, para ouvir não era preciso virar, portanto, não bastava apenas ou-vir a mensagem, era preciso ver de quem ela partia, verificar qual a sua origem, o que nos sugere discernimento.

O Apocalipse nos ensina a discernir, o próprio autor encarnado deste texto já nos dissera:

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus19

Portanto, era preciso ver quem falava, de quem era aquela voz tão significati-va; e ainda hoje ver quem fala. Se a mensagem vem da Esfera do Cristo, esteja-mos atentos, vivenciá-la é questão de bom senso, obra do homem prudente.

E a misericórdia divina é pródiga em nossa vida, se manifesta através das pa-lavras de um pai, de um amigo, de um livro edificante, de um líder religioso…

Aprendamos com a Revelação, é preciso “virar-se” para quem tem para nós propostas reeducativas.

E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e virando-me, atitude obediente à consciência esclarecida.

Faz-se preciso não só conhecer a verdade, mas obedecê-la. Quantas vezes não sabemos em nossa vida qual o melhor caminho, entretanto seguimos por outro?

O Apocalipse é altamente simbólico, desvendar estes símbolos é o desafio de

todos os que se propõem a estudar esta revelação. De nossa parte não temos a pretensão de compreender todos, pois não há em nós condições para tal. Retirar do texto uma proposta edificante para nossa vida, ou seja, aplicar a mensagem em nosso dia a dia é o objetivo maior. Mas para isso é preciso ir trabalhando estes símbolos e ver neles o que eles podem nos acrescentar em matéria de transformação moral.

A partir do quarto capítulo estes símbolos vão aumentar e exigir mais de nossa capacidade interpretativa, aqui, é apenas uma prefiguração do que vai acontecer mais adiante.

Sobre os sete castiçais de ouro, o próprio texto, no último versículo deste capí-tulo, nos esclarece: “são as sete igrejas”

Vamos comentar mais no desenvolvimento do texto, mas podemos ver neste castiçal, que é um suporte onde se coloca uma vela com o objetivo de iluminar, não apenas as igrejas; sim, toda comunidade que se reúne em torno de um prin-cípio moral é um castiçal, todavia, nós também temos, individualmente, de ser-mos um castiçal através do qual a luz divina possa se irradiar.

Não é pretensão nenhuma de nossa parte dizer desta forma. O objetivo da luz é encerrar com a treva, e qual de nós diante de uma grande escuridão ainda

19 I João, 4: 1

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não se serviu de um simples palito de fósforo para iluminar em volta? Portanto, qualquer um de nós tem esta prerrogativa. Não são palavras do próprio mestre que resplandecêssemos a nossa luz diante dos homens?20

O Evangelho por si só tem esta missão, iluminar as almas. Se o Antigo Tes-tamento é uma grande trombeta a anunciar a existência de Deus e de Sua Lei, o Novo é a voz suave e doce que diz da necessidade de através do combustível da fé operacionalizada fazermos luz em favor de todos.

13 …e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro.

…e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem; num plano mais coletivo vimos que os sete castiçais representam as igrejas, o sete pode

dar a ideia que é a totalidade delas. Entendamos por igreja não a instituição re-ligiosa em si, mas qualquer comunidade reunida a serviço do Cristo, indepen-dente de a que escola esteja ligada. Trata-se de um grupamento que, no plano físico, possa fazer manifestar o Pensamento Divino.

Importa ver que são sete igrejas onde não há destaque de nenhuma, todas têm o seu papel e devem ser respeitadas igualmente; o mais importante é que todas sejam fontes irradiadoras de luz.

A expressão seguinte, um semelhante ao Filho do homem, nos remete ao Cristo.

Filho do homem foi um dos títulos que Jesus usou para si mesmo. Etimologi-camente, no contexto hebraico, esta palavra quer dizer simplesmente “ser hu-mano”, ou “homem”. Todavia, em se referindo a Jesus, esta expressão tem um sentido diverso, ela quer dizer de um Ser que ultrapassa a condição humana; um Messias é o melhor entendimento.

O texto deixa uma dúvida, pois o médium relata que viu um semelhante, e não o próprio Filho do homem. Todavia a alusão é clara, evoca o Cristo.

Como dissemos, a linguagem apocalíptica é altamente simbólica, temos que ir aos poucos desvendando estes símbolos. O que mais importa aqui é que os castiçais, fontes irradiadoras de luz, estão sofrendo, por sua vez, irradiação dire-ta do Messias, estão a Ele conectados, estão em plena harmonia. Harmonia esta que é de tal forma que o Cristo está no meio deles, é um deles.

Talvez esteja aí o segredo da expressão “semelhante ao Filho do homem”. É que num plano mais elevado de irradiação, não é o título que mais importa, mas estar na mesma frequência, na Alta Frequência de Deus. Pois como nos orienta o Espírito São Luis em mensagem publicada na Revista Espírita em fevereiro de 186821, não devemos dar importância se aqui é à personalidade de Jesus de Na-

20 Cf. Mateus, 5: 16

21 (KARDEC, Os Messias do Espiritismo Fevereiro de 1868)

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zaré que esta expressão se refere, o que importa é que este Espírito está anima-do do mesmo pensamento superior.

Se quisermos, individualmente, ou coletivamente [nossa comunidade cristã], estarmos cumprindo bem o nosso papel irradiador de luz, produzindo valores de ordens reeducativas, é preciso estarmos na frequência do Cristo, esta é a es-sência do versículo.

…vestido até aos pés de uma veste comprida; vamos ter a partir daqui e nos próximos versículos citações a respeito de algumas funções messiânicas, têm elas suporte na literatura veterotestamentária.

A veste comprida define a sua função sacerdotal, referindo-se a uma ampla conexão com Deus.

…cingido pelo peito com um cinto de ouro. O cinto de ouro nos diz da realeza do Messias, o ouro era um metal nobre, o cinto de ouro era uma das insígnias dos reis. Porém vemos que aqui não se trata de um poder temporal apenas, pois o cinto cingido pelo peito diz de uma realeza fundamentada também pelo senti-mento, que por estar associado à razão dá plena autoridade, uma capacidade de refletir com maior fidelidade o sentimento divino.

14 E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a ne-ve, e os olhos, como chama de fogo;

E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve; conti-nuando a abordagem do versículo anterior, temos a cabeça como símbolo da razão, é onde está situado o cérebro que é um veículo da mente, e como conse-quência do Espírito.

Então, o Messias terá associado ao sentimento a razão.

Os cabelos brancos dão a ideia de um amadurecimento que produz sabedoria, como expressão de uma vivência. O branco como somatório de todas as cores permite-nos fazer uma analogia com a capacidade de síntese que têm os Gran-des Espíritos, reunindo em torno de si doutrinas antigas e novas numa só colo-ração. Esta é bem uma das características da Doutrina do Espírito de Verdade.

Devemos notar que é um branco como lã branca, como a neve, dizendo de uma branco total, onde esta síntese das cores se m anifesta de forma plena, não lhe faltando nenhuma. A lã reportando-nos ao testemunho do cordeiro, fruto de seu sacrifício. É uma experiência positiva no campo do aprendizado, uma atitu-de de doação, de generosidade.

e os olhos, como chama de fogo; esta é uma expressão que se repetirá ao lon-go do texto; no décimo nono capítulo teremos um cavalo branco em que seu montador têm os olhos como chama de fogo.

Os olhos nos levam a pensar em sua capacidade de visualização, são instru-mentos de percepção. Aqui trata-se de uma alta percepção, são olhos que son-

dam “as mentes e os corações” com uma ciência divina. É. Portanto, muito mais

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do que os órgãos físicos possam perceber, são olhos dos “limpos de coração” que são os capacitados para verem a Deus22.

Estes olhos do Messias têm além de sua capacidade reveladora a faculdade de queimar as nossas impurezas espirituais, pois ao entrarmos em contato direta-mente com eles, não há como não fazermos imediatamente uma introspecção dentro de uma proposta positiva de autoconhecimento, e assim, conhecendo-nos melhor, realizar as transformações morais necessárias. Funcionam deste modo, como sendo os olhos de nossa própria consciência que queimando nos projeta ao arrependimento como primeiro passo para a iluminação desejada.

15 e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz de muitas águas.

…e os seus pés, semelhantes a latão reluzente; os pés são os membros que dão segurança à criatura. Podem também significar piso, edificação.

Temos assim, a estabilidade fundamentada na Rocha do Evangelho que é uma representação do próprio Cristo23.

Estes pés do Filho do homem, que é o Ser que todos deveremos ser um dia depurados pelo processo evolucional, são, segundo nossa versão, semelhantes a latão reluzente.

Em grego temos, chalkolibanon, que significa um metal altamente refinado ou liga de identidade incerta, bronze provavelmente polido, bronze dos bons. Al-guns dicionários dizem de algum metal como ouro, se não mais precioso24.

Portanto, trata-se de uma estabilidade máxima alcançada pela vivência fun-damentada e alicerçada na Lei de Deus.

É importante aqui ver a magnitude e a pureza deste Filho do homem, em quem brilham os olhos e os pés, em que há alta potência da voz, tudo manifestando sua ampla conexão com o Eterno Criador de Todas as Coisas.

…como se tivesse sido refinado numa fornalha; a expressão quer dizer de al-go queimado, purificado, num forno.

O que podemos entender como nossa estabilidade moral sendo depurada nas experiências vividas em várias encarnações. Experiências estas que muitas vezes funcionam mesmo como uma fornalha onde nossas sujidades são purga-das visando atingirmos um estado tal de pureza em que possamos refletir com grande fidelidade a Luz que vem do Criador.

É provável que o autor do Apocalipse, conhecedor que era das Escrituras he-braicas, se lembrasse de Isaías:

22 Cf. Mateus, 5: 8

23 Cf. Salmo, 95: 1

24 (Dicionário Bíblico Strong 2002)

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Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição.25

…e a sua voz, como a voz de muitas águas; há na literatura bíblica a ideia

desta voz messiânica, que no fundo é a voz que grita em nossa consciência, pois esta é a verdadeira manifestação do Messias-Juiz, como tendo o som de um es-trondo de muitas águas, de águas torrenciais26.

É novamente o símbolo da reencarnação que temos aqui. Trata-se da experi-ência profunda conquistada pelos milênios afora, de uma sabedoria pela vivên-cia.

Ao nível de um Cristo temos as reencarnações levando à perfeição; em nosso estado atual, é a consciência depurada que nos projeta aos níveis mentais mais elevados cobrando de nós mesmos uma conduta mais ajustada ao plano de nos-sos conhecimentos. Esta é a voz de muitas águas que devemos ouvir, a do ama-durecimento para as realizações com Cristo e por Cristo.

16 E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma agu-da espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua for-ça resplandece.

E ele tinha na sua destra sete estrelas; destra, é a mão direita. Podemos ver aí o poder do Filho do homem; Ele está na direção e tudo tem sob seu controle, todos os eventos planetários estão em Suas mãos.

É muito comum o temor das criaturas diante do Apocalipse; vêm nele uma série de tragédias e talvez por isso o desprezem e nem tentam entendê-lo.

Já dissemos, e repetiremos sempre que preciso, a mensagem desta Revelação não é de terror como muitos pensam, mas é essencialmente misericordiosa. Não bastasse isso, vemos no texto claramente, e sabemos disso, que o Planeta em que vivemos está sob o governo de Jesus, que tem assessores altamente eficien-tes, estando tudo sob controle.

Todos os problemas por que passamos, apesar de muitos deles serem culpa nossa, da população invigilante de nosso orbe, todas as revoluções sociais, os cataclismos, e as mudanças de todas as espécies, estão dentro do quadro de programação superior realizada pelo Cristo, desta forma não há com que preo-cuparmos.

Sete estrelas; são conforme elucida o próprio texto, os anjos das sete igrejas, is-to é, as lideranças espirituais destas. São também estendendo o entendimento todos aqueles Espíritos que trabalham sob a direção de Jesus em todos os níveis, os que estão a Ele ajustados. Ele é um Governador que tem sob seu comando todos os ministros, secretários e assessores. Todos os escalões têm Nele a segu-rança por isso lhe são fiéis.

25 Isaías, 48: 10

26 Cf. Daniel, 10: 6; Ezequiel, 1: 24; 43: 2

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…e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; o que sai da boca é a pa-lavra, assim, devemos entender esta espada como sendo a palavra que sai da boca do Filho do homem.

Outras vezes este símbolo aparecerá neste Apocalipse, e o mesmo foi tam-bém usado por Paulo:

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qual-quer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e es-pírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e pro-pósitos do coração.27

Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.28

Esta espada aguda define a alta capacidade de penetração que tem esta Pala-

vra. É tão importante esta expressão no contexto judaico que segundo a tradição Deus teria criado todo Universo pela Palavra. O próprio Jesus é tido como a Palavra, Ele é o Verbo que se fez carne, o Logos Divino.

Portanto, esta Palavra é penetrante, não há dureza que a impeça de penetrar. Segundo o autor de Hebreus, ela divide alma e espírito. Nós não vamos cometer o disparate de tentar explicar isto, pois Emmanuel e André Luiz nos informam através de Chico Xavier, que Espíritos do nível evolutivo deles, em seus estudos no Plano Espiritual ainda não conseguiram chegar a uma conclusão satisfatória em termos de matéria e espírito, onde finda um e inicia o outro; se eles não en-tenderam, o que nós podemos então dizer ou acrescentar? E aqui a profundida-de é ainda maior, pois trata-se de “alma” e “espírito”.

O que depreendemos disto é que nada pode impedir a Palavra de Deus de realizar o que ela tiver de realizar, não adianta rebeldia, inconformação, pregui-ça, nada, Ela se cumprirá.

Podemos ver ainda nestes dois fios razão e sentimento se unificando no amor e na sabedoria; positivo e opositivo, movimento e repouso, verão e inverno, cumprindo seus papéis nos ciclos da Criação Infinita. É a dualidade do verso se transmutando na Unidade de Deus, o Uno, formando o Universo.

Em nossa existência, morte e vida são também dois fios como expressão desta Palavra que é sempre dinâmica.

A espada fere, mata; A Palavra, se a Ela nos ajustarmos pela vivência, mata conceitos e faz nascer novos, que serão um dia velhos e também morrerão pela compreensão da Palavra num nível mais elevado, de onde outros nascerão… é sempre assim, este mecanismo Divino de Criação pela Palavra, até que um dia

2727 Hebreus, 4: 12

28 Efésios, 6: 17

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pela perfeita assimilação Dela, também nos tornamos veículos de Sua manifes-tação, detentores do Logos em nossa própria intimidade.

…e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. Rosto; é a fa-ce do Filho do homem, como Ele se manifesta.

Como Ele se manifesta? Através de sua mensagem operacionalizada.

Não tem assim um caráter personalista, qualquer um que viver a mensagem de Jesus em sua plenitude nos fará ver o Cristo, como Ele fez-nos ver o Pai.

Este rosto é como o sol. Os Espíritos nos informam que o sol é uma das melho-

res formas de compreendermos Deus dentro de nosso estado acanhado de evo-lução. Jesus é também o nosso sol, Ele é a luz que não faz sombras, é o sol, quan-

do na sua força resplandece, ou seja, é o máximo de luz que podemos assimilar. Esta é a sua expressão o rosto com que o Filho do homem se manifesta e se ma-nifestará em nós quando, como um espelho de alta pureza pudermos refletir a luminosidade de Deus em toda Plenitude possível.

17 E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último

E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; esta é uma reação comum entre os que sentiram a Presença Divina. Em Ezequiel temos:

Este era o aspecto da semelhança da glória do SENHOR; e, vendo isso, caí sobre o meu rosto e ouvi a voz de quem falava.29

Em Daniel o fato se repete:

Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei amedron-tado e prostrei-me com o rosto em terra; mas ele me disse: Entende, fi-lho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim. 18 Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava;30

Saulo de Tarso ao ver Jesus na estrada de Damasco caiu do cavalo; o orgu-lhoso senador Públio Lentulus tomado de intenso magnetismo diante do Se-nhor ajoelhou-se sem nem perceber.

Todos estes Espíritos foram sensibilizados pela mensagem superior que defi-ne a Glória Celestial.

Pilatos, no entanto, não se sensibilizou, continuou de pé; Caifás também não.

Isto vem nos mostrar que João, o evangelista, ao cair aos seus pés, demonstra que estava preparado para receber a Revelação, ele estava num estado de sensi-bilidade próprio de quem encontra-se receptivo a esta Luz que vem do Alto.

Ele não suportou a luz do Filho do homem, não pôde sintonizar com Seu es-tado superior de consciência; caiu seus aos pés, todavia, definindo um ajuste com Suas bases, com aquilo que lhe dava sustentação que é a plano operacional do

29 Ezequiel, 1: 28

30 Daniel, 8: 17 e 18

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Evangelho, a perfeita sintonia com o Pai dentro de uma proposta de obediência aos Seus Desígnios.

A expressão, como morto, define nosso estado diante de alguém que se apre-senta muito acima de nossas possibilidades. É o reconhecimento de nossa pe-quenez, de nossa incapacidade diante de um plano altamente superior. É como se num átimo de segundo ele trabalhasse toda sua inferioridade, sentisse todas as suas dificuldades.

É preciso reconhecer, que diante de Jesus, o Vivo, nós estamos mesmo “mor-tos”, não há como fazer outra comparação. Todavia deve ser uma morte dinâ-mica, pois é o homem velho que morre para fazer nascer a Nova Criatura.

…e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: não temas; é muito linda a citação do livro de Daniel quando o profeta encontrava-se na mesma situação:

Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava31

É preciso reconhecer que nos textos dos livros dos profetas é Jesus quem os dirige pessoalmente32.

Quantas vezes, nós também estando “sem sentidos”, sentindo-nos a menor entre as criaturas, não nos surge Jesus, se não pessoalmente, mas através de um livro, de uma mensagem edificante, ou de algum mensageiro Seu, que pode ser um amigo, ou um Espírito num sonho, nos toca, nos levanta, nos coloca de pé novamente, no lugar onde devemos estar para, cheio de autoconfiança, reali-zarmos o melhor?

João viu que Ele pôs sobre si a destra, que é mão em que Ele tinha as sete estre-las, mão que como vimos é a representação de todo Seu poder, porque era uma mão que se fazia veículo de toda Sua generosidade, e daquela boca, que tinha um som forte como que de trombeta, saia uma exortação suave, porém firme, dizendo-lhe: não temas.

É como se chama sse o ap óstolo pelo nome e l he garantisse, você está em total segurança, Eu sou o Primeiro e o Último, Sou Seu Pastor, nada lhe falta:

…buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.33

Eu sou o Primeiro e o Último; mais uma vez o verbo “ser” na primeira pes-soa do singular definindo a Autoridade Crística.

O Primeiro e o último, imensas possibilidades interpretativas se abrem através destas expressões dentro do simbolismo da Revelação.

31 Daniel, 8: 18

32 Cf. [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito), O Consolador, 16ª ed. 1993] Q. 276

33 Mateus, 6: 33

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Representam elas toda soma de experiências vivenciadas pelo Espírito, as conquistas realizadas pelo Ser Inteligente.

O primeiro e o último define também a linha do tempo a que Jesus esteve sujei-

to. Ele evoluiu; isto quer dizer que ele também passou pelos processos naturais de espiritualização. Segundo Emmanuel evoluiu em linha reta, o quer dizer que Ele, a despeito de ter feito Seu caminho sem a experiência da rebeldia, também passou pelo inevitável processo de crescimento.

Jesus é o primogênito, é o primeiro em nosso orbe que vivenciou Deus e Sua Lei. É o último, ou seja, o que já alcançou a perfeição possível no planeta a que estamos vinculados.

É importante compreendermos bem isto para não limitarmos Deus e nem a evolução possível. Jesus é o primeiro em nosso sistema planetário, mas não po-demos ter a certeza se o é também em relação ao sistema solar; Sua magnífica evolução é o último estágio que podemos alcançar dentro de nossa acanhada acuidade espiritual, mas não podemos dizer que é o máximo possível no que diz respeito à nossa galáxia.

Nosso Deus não é um Deus de nosso planeta, é Deus do Infinito. 18 e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre.

Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno.

E o que vive; é o que tem vida em Si mesmo, pois já a conquistou. Está liberto da morte, do ciclo dos renascimentos.

Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.34

A morte é fruto do pecado, o Cristo é o que já venceu o pecado, já se redimiu, já se recompôs diante de Deus.

…fui morto; muito mais do que da morte na cruz esta expressão fala da en-carnação do Cristo, de Sua prisão na matéria.

E o verbo se fez carne…35

A encarnação proporciona um estado de morte, cerceia o Espírito, o prende à forma, ele perde a memória e outros potenciais.

…mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Trata-se da vida abundante,

Vida Eterna. Pois já foi vencida a causa da morte, o pecado, que nada mais é do que a transgressão à Lei de Deus.

É importante compreender, que no caso de Jesus Ele era vivo, foi morto e a-gora esta vivo para sempre.

Esta sequência é apenas didática, pois Jesus não morreu ao encarnar, Ele não perdeu Suas possibilidades. Por quê?

34 I Coríntios, 15: 26

35 João, 1: 14

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Porque Sua morte, ou seja, encarnação, foi em nome do amor. Ele se deixou envolver nos fluidos obscuros da Terra para vir até nós e exemplificar o modus operandi de nos livrar da morte em que nos situamos. Foi uma opção Sua, e não uma necessidade evolutiva.

E tenho as chaves da morte e do inferno. Aquele que pode mais pode menos. Ele tem as chaves da morte e do inferno, porque tem as chaves do céu.

Chave da morte e do inferno significa a Autoridade já conquistada pelo Cristo. Ele tem total domínio sobre o morte, pois dominou o “pecado” em Si mesmo. Ele não mais transgride a Lei, antes a obedece.

Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sai-rá, e achará pastagens. ( João, 10: 9)

Esta parábola retrata bem a condição do Cristo, Ele tem o poder de entrar e de sair, pois tem a chave da autoridade, ele pode desativar o mal, pois o desati-vou em Si.

Tal prerrogativa é dada quando se age em conformidade com o Evangelho, não por constrangimento, por legalismo, mas de forma espontânea.

É o símbolo da segunda vinda de Jesus; a primeira representa o Evangelho como lei, buscamos segui-lo como norma de salvação, ele atua em nós de fora para dentro. A segunda vinda de Jesus se dá quando vivenciamos o Evangelho de dentro para fora, como conquista implícita da alma, quando agimos com o coração, ou seja, como o homem interior.

Neste momento poderemos dizer que temos também a chave da morte, porque teremos controle sobre ela, ela não mais atuará em nós, e também a chave do in-ferno que é o estado de morte propriamente dito.

19 Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois des-tas hão de acontecer…

Neste versículo temos três planos distintos: coisas que tens visto; coisas que são; e as que depois hão de acontecer.

Pela visão a abrangência é muito grande. Vemos coisas que nunca se realiza-ram e nem realizarão, neste ponto a escatologia do Apocalipse pode se trans-formar em “escatofobia” que é o medo de tudo que achamos que vai acontecer, sempre por uma ótica negativa. Mas é importante escrever estas coisas, pois atra-vés da análise delas realizamos nosso processo de autoconhecimento.

Existem coisas que vemos que estão acontecendo, elas são realidade do mo-mento, no entanto é preciso analisá-las para sabermos se são coisas que vão se manter ou se são puro modismo. O texto nos convida a perceber as que verda-deiramente são, ou seja, nos convoca a uma interpretação mais minuciosa dos fatos, vermos a realidade que existe neles. Trata-se de ver e escrever o que foi vis-

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to sem adulterar a visão, e podemos dizer mais, ver para além do puramente físico, ver o que os olhos não veem.

Neste ponto as curas dos cegos realizadas por Jesus ganham grande impor-tância, já que tendo olhos muitas vezes não vemos no sentido de compreender corretamente os fatos. Deturpamos tudo pela mania de valorizar mais o negati-vo. Não é esta também uma forma de cegueira?

Aqui é preciso considerar também que um mesmo fato pode ter vários ângu-los em que podemos observá-lo, e que pessoas diferentes veem de formas di-versas. Assim, aprendemos com o Texto Sagrado, a trabalhar o respeito pela condição do outro, por sua faixa evolutiva; entender o processo evolucional das criaturas é um grande avanço, é a chave para vivermos o Evangelho em sua essência. O amor tem a sua gênese na compreensão.

As coisas que hão de acontecer são as profecias propriamente ditas. Aquele que tem a capacidade de vê-las é aquele que já está ajustado ao plano de Deus.

Ele compreendeu a Lei e estudando-a vê, como diz o poeta, que o passado abre os presentes para o futuro36. Ou seja, que podemos prever as coisas que hão de acontecer pelas que são, e compreender estas como desenvolvimento natural das que foram.

Emmanuel, através da “pena” de Chico Xavier nos diz que todos os fatos poste-riores à existência de João estão ali [no Apocalipse] previstos37. É o que diz este ver-

sículo que ora comentamos; as coisas que tem visto sugerindo as que acontece-ram, pois o apóstolo já as tinha visto, era passado; as que são fala-nos do presen-te, e as que vão acontecer, do futuro.

O Apocalipse nos revela assim, a Lei Universal das Profecias, que nada mais é do que o desenvolvimento natural da própria Lei de Deus.

…existe uma Lei, invisível para vós, todavia mais forte que a rocha, mais poderosa que o furacão, que caminha inexorável movimentando tudo, animando tudo; essa Lei é Deus. Ela está dentro de vós, vossa vida é uma exteriorização dela e derramará sobre vós alegria ou dor, de acordo com a justiça, como o merecerdes.38

20 O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.

Neste versículo o Anjo Revelador dá-nos uma ajuda, ele ensina como inter-pretar a Revelação através de um exemplo, ele explica alguns versos anteriores.

Desta forma não é preciso comentar muito, pois a explicação está no próprio texto. Entretanto podemos ver algumas coisas nas entrelinhas.

36 Adaptação de um verso de Taiguara na música “Que as Crianças Cantem Livres”.

37 [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito) 1980], cap. XIV.

38 UBALDI, Pietro. A Grande Síntese, 18 ª Ed., Campos dos Goytacazes: Fraternidade Francisco de Assis, 1997.

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Sendo as sete estrelas os anjos, isto é, os orientadores das igrejas, as lideranças; e os castiçais as igrejas, que são no plano físico a materialização do pensamento crístico de acordo com a faixa evolutiva de cada um; podemos depreender que o Apocalipse só é dirigido àqueles que já têm uma percepção espiritual. Para os Espíritos da retaguarda ainda não há Apocalipse, eles encarnam, desencarnam, voltam a reencarnar, e tudo continua como antes, não têm a menor preocupação com o que há de vir, querem é viver, aproveitar a vida, e tirar todas as vanta-gens possíveis.

A Revelação só encontra acolhimento naquele que já pensa um pouco além, naquele que diz pelo menos assim, “não é possível, deve haver alguma coisa para além desta vida.”

Deste modo, a aceitação da existência de Deus, da alma, e da imortalidade da alma, passa a ser um parâmetro para avaliação do público alvo do Apocalipse, não adianta, pelo menos no momento atual, perder tempo com aqueles que não são tocados por estas realidades.

Podemos ainda a título de breve conclusão deste capítulo fazer as seguintes considerações.

Há um plano organizado no Universo, que em sua totalidade é Ordem. As unidades menores são coordenadas e ajudadas por unidades maiores e assim por diante. Cada unidade coletiva tem o seu guia.

O Guia maior é Cristo, cabeça da igreja, o que tem na destra (mão direita) as sete estrelas e os 7 castiçais, ou seja, tem o domínio, o controle, a governança de tudo.

Há em tudo cooperação, sete estrelas, sete igrejas. Jesus, o Cristo, precisou de doze discípulos; são doze as tribos de Israel, doze meses formando o ciclo de um ano. Universalidade; nunca estamos sós.

O castiçal é irradiador de luz, entretanto, ele não é o objetivo, mas instrumen-to didático, assim devemos entender a igreja, o objetivo é a criatura, o Espírito, ele deve ser atendido em suas necessidades.

A luz vem em uma linha de cima para baixo.

A evolução, que é de baixo para cima, forma instrumentos; a virtude e o ga-nho moral vêm do Alto, não são criados pela evolução, mas são conquistados pelos instrumentos formados pelo processo evolutivo.

Para termos autoridade é preciso que estejamos ajustados ao plano em que nos movimentamos, o Universo não comporta desordem, esta quando acontece é na intimidade da criatura, e o Apocalipse é a luta entre o bem e o mal no inte-rior desta para que a Ordem seja finalmente restabelecida. O sofrimento inicia quando nos rebelamos ao contexto a que estamos ajustados.

Cada um de nós é uma estrela que está vinculada a uma estrela maior:

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Cristo cabeça do varão varão cabeça da mulher Deus cabeça de Cristo39.

É preciso ser fiel ao plano de Deus:

Fidelidade fé.

É pela fé (fidelidade) que é justificado o homem40.

Obras Citadas

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.

BibleWorks For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks, 2006.

Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa, versão 1.0. Editora Objetiva, 2001.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.

KARDEC, Allan, e Tradução de Evandro Noleto Bezerra. “Os Messias do Espiritismo.” Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, Fevereiro de 1868: 79.

STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento, 1ª Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2007.

UBALDI, Pietro. A Grande Síntese, 18 ª Ed. Campos dos Goytacazes: Fraternidade Francisco de Assis, 1997.

XAVIER, Francisco C. / Emmanuel (Espírito). O Consolador, 16ª ed. Rio de

Janeiro: FEB, 1993.

XAVIER, Francisco C., / Emmanuel (Espírito). A Caminho da Luz, 10ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.

XAVIER, Francisco C./ André Luiz (Espírito). Nosso Lar, 41ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.

39 I Coríntios, 11: 3

40 Romanos, 3: 28


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