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22
série II
número
22
Outono 2016 Trimestral €1
FÁBIA REBORDÃO
MUDANÇACOMO UM DOS ROSTOS DA NOVA GERAÇÃO DE FADISTAS CONCILIA A TRADIÇÃO COM A INFLUÊNCIA DE SONS MAIS RECENTES, DO BLUES AO ROCK, DAS MORNAS AO FLAMENCO
REFORMA DOURADA As melhores dicas para complementar a sua reforma com um rendimento garantidoe à prova de crise
GUIMARÃES, CIDADE VERDEComo a cidade minhota pretende ser uma das mais sustentáveis da Europa até 2020, ao mesmo tempo que preserva a sua História
COMO VAMOS ENVELHECER?Portugal será o país mais envelhecido da Europa em 2050. Quais os grandes desafi os na saúde, emprego e lazer?
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80 Crónica Baptista-BastosSérgio Moura Afonso
84 CulturaÀs Vezes o Amor 2017
86 Descontos para associados
88 Agenda
Atividades da Associação
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Agenda Atmosfera m
A aliança entre Portugal
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EntrevistaFábia Rebordão
Alma de fadista, impulso de
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Agentes provocadores
Finanças Pessoais 52
SUMÁRIOOUTONO
2016#22
e o Reino Unido
Francisco Moita Flores
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Próxima estação: transporte
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Em busca da década
perdida
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o vai ser o seu futuro
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ora!
REVISTA MONTEPIO
P R O P R I E D A D E
Montepio Geral – Associação Mutualista, Rua do Ouro, 219-241 1100-062 Lisboa Tel. 213 249 540 NIPC: 500 766 681
D I R E T O R António Tomás Correia D I R E T O R - A D J U N T O Rita Pinho Branco C O O R D E N A Ç Ã O Gabinete de Relações Públicas Institucionais
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Plot - Content Agency Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 19, 6º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010D I R E T O R D E P R O J E T O
Mauro Duarte Sousa E D I T O R C H E F E
Nuno Alexandre SilvaE D I T O R E X E C U T I V O
Miguel Ferreira da SilvaD I R E T O R A D E A R T E
Inês ReisD E S I G N
Mariana Camacho, Mafalda Maia, Pedro Dias, Rita Barata Feyo, Sónia GarciaP R O D U Ç Ã O E A R T E F I N A L
Ana Miranda e Pedro Pinguinha
C O L A B O R A Ç Õ E S
Adriano Moreira, Baptista-Bastos, Carla Jesus, Filipe Gil, Francisco Moita Flores, Helena Viegas, João Morales, Maria Pereira, Rita Vaz da Silva, Susana Lima (texto), Alexander Silva, Artur, Carla Pires, Carlos Ramos, João Relvas, Maria Sancho, Miguel Nogueira, Rogério Ribeiro (fotografi a), Natasha Hellegouarch, Vera Mota (ilustração)
P U B L I C I D A D E
Sónia Vigário (913 038 491)Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011
I M P R E S S Ã O
LiderGraf Sustainable PrintingRua do Galhano, 15 (E N 13), Árvore 4480-089 Vila do Conde
| Revista trimestral |Depósito Legal nº 5673/84 | Publicação periódica | registada sob o nº 120133
T I R A G E M
xxx xxx exemplares
O Montepio é alheio ao conteúdo da
publicidade externa. A sua exatidão e/ou
veracidade é da responsabilidade exclusiva
dos anunciantes e empresas publicitárias.
COLABORADORES
Sérgio Moura AfonsoAtor
Admirador da
arte de Robert
De Niro e Carla
Galvão, o ator
e professor de
Interpretação
começou a
carreira em
1995, no teatro,
mas desde 2000
que podemos
vê-lo em vários
papéis na
televisão e no
cinema. Conheça
melhor o homem
por detrás dos
ecrãs e das luzes
da ribalta
Luís Araújo Gestor
O presidente
do Turismo de
Portugal recorda
as curiosidades
da sua carreira
profi ssional e
explica por que
razão a imagem
de Portugal
tem de ser
diferente, unindo
numa só oferta
Turismo, Cultura
e Património.
"Tem de ir ao
encontro do que o
consumidor quer",
admite o gestor,
um apaixonado
por viagens
Álvaro Covões Empresário
O "inventor" do
maior festival
de música de
Portugal – e um
dos maiores da
Europa, o NOS
Alive – defende
uma maior
participação da
sociedade civil
e um papel mais
interventivo dos
empresários do
setor na gestão
cultural.
É que a cultura,
defende, também
é entretenimento
e tem uma função
terapêutica
Nesta edição...
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ESTATUTO EDITORIAL
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Glocal^ CULTURAQue artistas mais contribuíram para a música portuguesa que hoje ouvimos? Vamos construir um mapa infográfi co que nos ajuda a perceber a evolução deste fenómeno.
Reportagem^ EMIGRAÇÃOSão médicos, enfermeiros, engenheiros e especialistas em tecnologia. Qual o novo perfi l dos portugueses que escolheram o estrangeiro para viver?
Observatório^ EDUCAÇÃOQue línguas devem os nossos fi lhos aprender, qual o papel do português e por que razão o mundo já não fala só inglês ou francês.
#22OUTONO 2016 série II
36PÁG.
10PÁG.
82PÁG.
REVISTA MONTEPIO
EDITORIAL
A História é feita de Dylans. De empreendedores da disrupção, de transformadores sociais, de agitadores, de inconformados.
Ficar na História é fazer parte da mudança. Da mudança anun-ciada pelo agora prémio Nobel Bob Dylan. Um fazedor da mu-dança que se tornou, ele próprio, protagonista indireto da mudan-ça, num guião a cargo dos argumentistas sociais e culturais da Academia Sueca. Um fazedor da mudança como os que entrevis-támos nesta revista, capazes de agitar a sociedade através de temas fraturantes e, muitas vezes, abandonados, que moldam a forma co-mo as novas gerações observam o mundo, hoje e no futuro.
Num momento em que o imediatismo das redes sociais lidera na perceção de transformação constante, há uma crescente neces-sidade de destacar os verdadeiros impulsionadores da mudança: as mulheres e os homens, os artistas, pro� ssionais e cidadãos cuja visão e carisma têm um impacto duradouro na sociedade e nas nossas vidas.
Mas há uma característica da mudança que não podemos esque-cer: a esperança. A esperança de que os tempos, mesmo revoltos, transportem e contrariem a incerteza e a instabilidade anuncia-dos nas “vozes” da arte. A esperança que a Associação Mutualista
Os fazedores da mudançaMontepio também leva aos seus associados todos os dias. Um caminho feito de estabilidade em cenários disruptivos ao longo dos tempos, com o papel fundamental de assegurar que a mudança social, cultural ou económica, se constrói sobre alicerces sólidos do tecido social. Das instituições. Da con� ança. Sempre, com a Associação Mutualista Montepio.
Há uma característica da mudança que não podemos esquecer: a esperança. A esperança que a Associação Mutualista Montepio também leva aos seus associados todos os dias.
A MAIS VELHA ALIANÇA DO MUNDO
1373 – É assinado o Tratado Anglo-Português, em plena Idade Média
1386 – D. João I e Ricardo II renovam a Aliança Anglo-Portuguesa no Tratado de Windsor
1661 – No Tratado de Paz e Aliança fica acordado o casamento de Carlos II de Inglaterra com D. Catarina de Bragança
1703 – O Tratado de Methuen concedeu livre entrada aos lanifícios ingleses em Portugal e redução das tarifas impostas aos vinhos portugueses em Inglaterra
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1807 – Portugal recusa aderir ao Bloqueio Continental, preferindo ficar do lado britânico, e sofre, como consequência, as invasões napoleónicas
1890 – O Ultimato Britânico exige que Portugal retire as forças militares do território entre Moçambique e Angola
1914 – A pedido do Reino Unido, Portugal retira todos os navios alemães dos seus portos, em plena Primeira Guerra Mundial
1939 – Durante a Segunda Guerra Mundial a aliança foi invocada para estabelecer bases navais nos Açores, apesar da neutralidade portuguesa no conflito
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A MAIS VELHA ALIANÇA DO MUNDO, ENTRE PORTUGAL E O REINO UNIDO, CAMINHA PARA OS 650 ANOS. AGORA, PASSA POR MAIS UM DESAFIO COMPLEXO: O BREXIT. EM CAUSA ESTÁ A EVENTUAL DIMINUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE EMPRESAS NACIONAIS E A REDUÇÃO DO NÚMERO DE TURISTAS BRITÂNICOS NO NOSSO PAÍS. CONHEÇA A RELAÇÃO ENTRE PORTUGUAL E O REINO UNIDO
GLOCAL
REVISTA MONTEPIO
CIDADÃOS
Dependência portuguesa do Reino Unido
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Residentes com nacionalidade portuguesa no Reino Unido
Remessas do Reino Unido para Portugal
Entrada deportugueses no Reino Unido
95 000 102 000 105 000 111 000 143 000 175 000
94 824 94 621 105 314 130 487 156 226
População residente por condição perante o trabalho
Fonte: INE
Fonte: INE
32 30130 54630 12120 44316 35012 08012 230 Inativa
1 305 1 385 1 462 1 446 1 507
*em estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos e outros
*em estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos e outros
EMPRESAS TURISMO
54,9%
35,8%
Ativa desempregada
6,4%
Balança Comercial de Bens de Portugal com Reino Unido
Exportações *em milhões €
Importações *em milhões €
3 3492 9432 612 2 232
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2011 2012 2013 2014 2015
2011 2012 2013 2014 2015
1 8171 675 1 674 1 4651 969
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Receitas turísticas geradas pelo Reino Unido (em milhões €)*
1,71,61,41,31,21,11,1 1,1
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Hóspedes britânicos em Portugal (em milhões)*
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Idade dos portugueses no Reino Unido
<1512,7%
15-3952,2%
+655,6%
40-6429,5%
escolheram o Reino Unido como destino.
Emigração em 2015
10 emigrantes
portugueses
Em 2015, 3 em cada
Total 101 203
Reino Unido 32 301 (31,9%)
Ativa empregada
Valor mais alto
Dormidas de britânicos em Portugal (em milhões)*
1 748
Fonte: Observatório da Emigração
*em milhares de € preços correntes
Fonte: Observatório da Emigração
REVISTA MONTEPIO
REVISTA M�������
Associado Montepio António José Pereira da Costa
Por mim começo a �car descon�ado destas “sondagens”. Nun-ca fui sondado, mesmo para “gastos cá da casa”, e não conheço quem tenha sido. As “amostras” parecem-me confrangedoramente diminutas – quando as sondagens são feitas por cá – em relação ao universo (potencial) dos eleitores, mas alguns falhanços também já se detectam.
Descon�o, pois, das sondagens e, até prova em contrário, elas são utilizadas também para in�uenciar o eleitorado. Por outras pala-vras, a mentira e a manipulação trazem à mistura uma dose maior ou menor de verdade, o que me pode levar a aceitar opções que talvez não sejam as minhas. E escusam de me vir demonstrar o contrário.
Tenho para mim que as “sondagens” em Inglaterra falharam por não terem conseguido in�uenciar o eleitorado na direcção que se esperava. Consequentemente, cada um votou como quis ou foi levado a isso.
É dado adquirido que os ingleses nunca se incluíram na União Europeia. Nos últimos anos, a vida e o funcionamento da União terá sido conturbado, falando já com certo eufemismo, o que culmi-nou com ameaças de expulsão ou abandono de países. Nenhuma destas hipóteses se con�rmou… ainda. Por mim, estou certo que o puzzle desmoronar-se-á logo que caia a primeira peça.
Os ingleses votaram e optaram por uma solução económica e po-lítica vulgarmente designada pe-lo acrónimo BREXIT. A vitória foi escassa, mas é a vontade popu-lar que se convencionou ser sem-pre ditada pelo esclarecimento. Admitamos que sim. As estatísticas dizem que, se o universo é muito largo, o resultado da sondagem es-tá correcto. Mesmo assim, há quem
diga que “o povo sabe sempre o que não quer”, mas, se calhar… não sabe bem o que quer ou deve querer.
O problema está no que sucedeu depois. Dá a impressão de que os “leaders” vencedores tiveram uma vitória de Pirro e arrependeram--se. As “negociações” irão arrastar-se até que a Inglaterra conclua que não tem opção e que a solução BRE-STAY é a que mais lhe interes-sa. É claro que haverá pequenas alterações no relacionamento com a UE e algo será muda-do para que tudo �que na mesma. Quando mal nunca pior e os governantes que prometeram o BREXIT farão rezas, missas e ladainhas para que o povo se esqueça do que lhe foi prometido. Pode ser um trabalho lento, mas o esquecimento dos povos em relação às más soluções políticas é mais que certo.
En�m, o povo… que só atrapalha! Isto sem o povo era muito mais simples!...
Brexit E AGORA? OS INGLESES DISSERAM QUE SE QUEREM IR EMBORA DA EUROPA. E DEPOIS? JÁ POUCO INTERESSA SE AS SONDAGENS FALHARAM E PORQUÊ
OPINIÃO
NOTA: António José
Pereira da Costa escreve
segundo a chamada
norma antiga
TENDÊNCIAS NA ECONOMIA, SOCIEDADE,
VIDA E CULTURA
O MEU MUNDO
página 18
SOCIEDADEHá uma nova Lisboa a nascer, uma cidade virada para o futuro, na qual os espaços públicos vão ganhar nova vida. Venha conhecê-la
página 16
ENTREVISTAFábia Rebordão é uma das novas vozes do Fado. Aos 31 anos, a jovem assume a mudança como a sua imagem de marca e modo de estar na vida
página 36
PERFILO presidente do Turismo de Portugal explica por que razão tenta fazer algo diferente a cada dois anos e como a sua carreira reflete esta visão da mudança
página 10
TEMA DE FUNDOA Cultura é mais que a simples soma de várias artes. É uma forma de ver e interpretar o mundo, contribuindo para a sua evolução e mudança
10
REVISTA MONTEPIO
1o meu mundoTEMA DE FUNDO
MUDANÇA
AGENTES PROVOCADORESCURADORES, CRIATIVOS, PROMOTORES E EMPRESÁRIOS SÃO PROFISSIONAIS QUE SABEM COMO A CULTURA, ALÉM DE UM REFLEXO DA SOCIEDADE, É UM DOS MOTORES DA MUDANÇA.
NAS MAIS VARIADAS ÁREAS, DA MÚSICA AO CINEMA, SEM ESQUECER A ARQUITETURA E O DESIGN, SAIBA COMO OS AGENTES
DESSA MUDANÇA PERCECIONAM O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO DA CULTURA EM PORTUGAL
POR HELENA VIEGASFOTOGRAFIA ALEXANDRE SILVA, MARIA SANCHO, TIAGO MIRANDA
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REVISTA MONTEPIO
A mudança acontece em permanên-cia. Mesmo que não seja imediata-mente evidente e nos remeta para o (um) futuro, ou que pareça exigir um olhar para o passado na esperança de reconhecer os momentos de maior sobressalto... Isso mesmo per-cebemos pelas palavras de Mariana Mesquita, que conta como a platafor-ma Underdogs quer mudar a relação das pessoas com a cidade através da arte urbana, mas também através da viagem que o encenador Filipe La Feria faz pela história do teatro, da Antiguidade Clássica aos tempos da censura em Portugal. Ou quando Bárbara Coutinho explica porque é que o MUDE quer ser um museu do design nas suas várias dimensões, além de um simples mostruário de ícones do design e da moda. Por que motivo considera o realiza-dor António-Pedro Vasconcelos que o cinema não mais terá a ma-gia que teve no século xx? A mu-dança está em curso, é imparável e a cultura re� ete essa inquietude, entre o impasse do confronto de diferentes vontades, a antecipação e os avanços. No cinema, como na música, na arte ou na arquitetura. Para o promotor Álvaro Covões, é necessário lembrar que a cultura também é entretenimento e que urge formar públicos. As pessoas e as cidades evoluem. E isso tem efeitos no modo como vivemos os espaços. Ricardo Carvalho, arquiteto e professor, explica como a globalização transformou a mu-dança num enorme desa� o para a arquitetura. A mudança está presente em todos os momentos da nossa cultura, mas não ocorre sem um agente provo-cador. E o elemento de mudança somos nós.
^ ARTISTAS UNIDOS
A Underdogs é uma
plataforma cultural que
reúne várias linguagens
da arte contemporânea
“Queremos fazer da arte uma experiência quotidiana.”Mariana MesquitaPlataforma Underdogs
Fundada por Alexandre Farto (Vhils) e Pauline Foessel, a Underdogs assume--se como “uma plataforma de trabalho para as artes visuais com origem no es-paço urbano” e desde 2013 tem partici-pado em inúmeros projetos, com desta-que para o festival MURO e a criação de um serviço de visitas guiadas pelos novos murais de Lisboa.
“Uma das missões da Underdogs é contribuir de forma ativa como agen-te de mudança. Acreditamos que o Programa de Arte Pública, que temos desenvolvido em Lisboa desde maio de 2013, tem contribuído para transformar a paisagem, a perceção e o modo como usufruímos e vivemos a cidade”, explica Mariana Mesquita, a responsável pela comunicação da plataforma. Até agora, a Underdogs já criou 27 intervenções em grande escala no espaço público, em zonas centrais ou de periferia.
Com uma galeria no Poço do Bispo, em Lisboa, a vontade da Underdogs é abrir o espaço à cidade, esbater as fron-teiras entre o espaço interior e a cidade, assim como ir ao encontro de públicos diversos. “Queremos fazer da arte uma experiência quotidiana”, acrescenta.
A apresentação desta forma de arte em contextos públicos e comunican-do diretamente com as pessoas pode “bene� ciar a cidade em termos de em-belezamento, oferta cultural e turismo”. Desde logo por alterar o olhar sobre o lugar e por permitir que “os próprios habitantes encontrem um novo rela-cionamento com os espaços”, defende Mariana Mesquita. Quando em Lisboa, entre 2010 e 2011, o festival CRONO apresentou pela primeira vez este tipo de intervenções públicas em larga esca-la, as obras que geraram maior impacto foram as dos Gémeos, Blu, Sam3, Erica il Cane e Lucy McLauchlan nas facha-das da Avenida Fontes Pereira de Melo… “E um dos objetivos do festival foi pre-cisamente contribuir para a discussão pública em torno dos espaços devolutos e da especulação imobiliária, chaman-do a atenção deste exemplo numa das zonas nobres da cidade.”
12
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REVISTA MONTEPIO
o meu mundoTEMA DE FUNDOmudança - agentes provocadores
“Lembro-me como era atrevido e perigoso levar certos textos à cena...”Filipe La Feriaempresário, dramaturgo e encenador
Filipe La Feria recorda um dos mo-mentos da história em que sentiu com maior intensidade o poder transfor-mador da arte do palco. “Antes do 25 de Abril o teatro era uma forma de es-clarecimento, luta, alegria e coragem. Lembro-me como era atrevido e peri-goso levar certos textos à cena e a rece-ção que provocavam no público. Até a revista era subversiva e, com gargalha-das e humor inteligente, o teatro escla-recia, provocava e divertia”, conta.
A revolução de 1974 trouxe a liber-dade e ajudou a tornar mais evidente essa contribuição. Mas Filipe La Feria
lembra que esse impulso promotor da mudança está no ADN do teatro desde a sua génese. “O teatro sempre foi um meio de formar um Homem melhor. Um espelho que os atores colocam nos olhos do espetador e que re� ete as suas grandezas e misérias, a luz e a sombra que todos temos. O teatro é poesia que se materializa no palco, seja de que géne-ro for. O verdadeiro teatro é sempre uma lição de vida e de amor.”
Filipe La Feria marcou a diferen-ça nos anos 80 pela irreverência das peças que levou a cena ao longo de 16 anos na Casa da Comédia. Depois pas-
sou pelo Teatro Nacional, onde ence-nou Passa Por Mim No Rossio (1991), pela televisão, e voltou a preconizar outra enorme mudança quando, já como empresário, recuperou o Teatro Politea-ma, tornando o seu apelido sinónimo de um novo teatro ligeiro. Maldita Cocaí-
na (1992) marcou o início desse caminho, guiado, segundo o próprio, pela exigên-cia, o “querer sempre que um espetácu-lo seja sempre melhor que o anterior”. As salas voltavam a encher-se e as peças conseguiam manter-se em cena vários anos seguidos.
“Mas o êxito só se consegue com muito trabalho, sangue, suor e lágri-mas”, a� rma. Descrente da atual po-lítica cultural – “pratica-se uma cultu-ra elitista, de fachada, dando-se ao po-vo o pimba, as telenovelas e produtos de péssima qualidade” –, aponta como o caminho de mudança uma maior li-gação entre a evolução e a cultura. “Veja-se que não existe em Portugal uma companhia de ópera, de teatro, de bailado. Lisboa continua a ser o centro aglutinador...”, comenta. Mas, apesar disso, recusa baixar os braços: “O tea-tro é a minha vida. É a minha forma de respirar, de estar com os atores, de compreender o mundo.”
^ PARCERIA MONTEPIO
A Associação Mutualista
Montepio apoiou o mais
recente trabalho
do encenador, o clássico
As Árvores Morrem de Pé
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REVISTA MONTEPIO
“O design tem a capacidade de transformar a forma como vemos o mundo”Bárbara Coutinhodiretora do Museu do Design e da Moda
Em português, o acrónimo do Museu do Design e da Moda é também o im-perativo do verbo mudar – e essa coin-cidência foi decisiva para a escolha do nome: MUDE. Fazendo alusão ao fac-to de “o design incluir na sua identidade e na sua natureza a capacidade de ser um motor de mudança na sociedade”, MUDE é também um nome carrega-do de valor simbólico para um museu que se pretende disruptivo em relação ao modelo tradicional, assumindo-se como um espaço de re� exão e, ele pró-prio, um work in progress.
A capacidade transformadora do design esteve, desde sempre, muito as-sociada à exploração dos materiais e à criação de objetos que vieram revo-lucionar a nossa relação com o quoti-diano. Bárbara Coutinho cita o exem-plo da minissaia, uma peça que “espe-lhou e, ao mesmo tempo, contribuiu para uma mudança de mentalidades, de comportamentos de género, pro-
movendo a igualdade feminina e pro-vocando até uma alteração da própria conceção do corpo”.
Nas novas tendências do design
vislumbra-se novamente uma filo-sofia impulsionadora de mudança. “São processos mais colaborativos, muitas vezes microprojetos mas com uma dimensão global, que procuram fazer-nos re� etir”, acrescenta Bárbara Coutinho. Exemplo disso são projetos como o Fashion Revolution, um mo-vimento que promove o comércio jus-to na moda, ou o Fixperts, que reúne designers que colocam a criatividade ao serviço da comunidade, criando ou recriando objetos que possam revelar--se úteis. Em Portugal, Susana Antó-nio é uma das grandes embaixadoras deste conceito de design social. Conhe-cida sobretudo pela iniciativa A Avó
Veio Trabalhar, a designer tem desen-volvido vários projetos, em estreita relação com as comunidades.
Ao procurar a transformação
positiva das condições de vida,
“a arquitetura implica na sua
génese a mudança”, explica
Ricardo Carvalho, arquiteto
e diretor do departamento de
Arquitetura da Universidade
Lusófona. Por esse motivo, tem
a capacidade de se antecipar e
de sobreviver à passagem do
tempo, tornando-se património,
memória coletiva. No nosso
país "encontramos períodos
excecionais como as décadas
de 1950 e 1960 [bairros de
Alvalade e dos Olivais] que
introduziram modos de atuar
com conexão internacional”.
Depois disso, “o período
revolucionário do 25 de
Abril contribuiu com outras
formas de construir a cidade,
corrigindo-se assimetrias” e
“o fi nal dos anos 90 e a Expo
98, que colocaram a arquitetura
num debate mais alargado,
contribuindo para que mais
pessoas se apercebessem da
sua relevância para o bem-
-estar coletivo”, aponta.
Exemplo de como a arquitetura
atua como agente de mudança
foi o projeto para a recuperação
do Chiado do arquiteto Álvaro
Siza: “Abriu uma forma de atuar
nos centros históricos que
não era evidente no fi nal dos
anos 80. Foi, simultaneamente,
transformador e conservador,
que é um modo de atuar
complexo e pouco evidente.
Hoje podemos ver como o
arquiteto trabalhou a questão
do tempo e da memória da
cidade. E, mais importante,
como a cidade absorveu o
projeto e o toma como ‘natural’”.
ARQUITETURA
Cidades em Movimento
14
REVISTA MONTEPIO
1o meu mundoTEMA DE FUNDOmudança − agentes provocadores
“Para aproximar as pessoas a arte tem de ser fácil, simpática.”Álvaro Covõesdiretor de espetáculos da produtora Everything is New
Em dez anos fez da Everything is New uma produtora de grande dimensão – responsável pelo festival NOS Alive – que ajudou a colocar Lisboa no ma-pa das digressões das maiores ban-das e artistas. Álvaro Covões foi um dos agentes dessa mudança no pano-rama musical e, mais recentemente, aventurou-se também na organização de grandes exposições, como a retros-petiva de Joana Vasconcelos, no Palá-cio Nacional da Ajuda, ou a mostra de obras do Museu do Prado no Museu Nacional de Arte Antiga. Mas gosta-va de fazer mais.
Muito crítico quanto ao papel do Estado na gestão da cultura – “a his-tória do mundo diz-nos que a cultura tem sido muitas vezes utilizada como instrumento político” –, o promotor defende uma maior participação da sociedade civil e um papel mais in-terventivo dos empresários do se-tor, que são quem mais entende de marketing e podem fazer a diferença. “Noventa por cento das salas de espe-
táculos são públicas e não há diálogo entre o Estado e os promotores priva-dos. Somos uma espécie de cobrado-res de impostos...”, acusa.
Álvaro Covões defende que é pre-ciso reconhecer que a cultura é tam-bém entretenimento – gera bem-es-tar e tem uma função terapêutica –, e preconiza uma mudança só atingível com uma aposta concertada na cria-ção de novos públicos. “Para aproxi-mar as pessoas a arte tem de ser fácil, simpática”, alerta. “É preciso que ha-ja muitos concertos de música clássi-ca simples e óperas para formar públi-cos interessados nos espetáculos mais eruditos”, explica, dando como exem-plos a sua história com os festivais e dos grandes concertos. “Quando co-meçámos havia um grande concerto de uma banda internacional num es-tádio, de dois em dois meses. Foi pre-ciso criar mercado. Trazíamos Maria
^ FORMAR PÚBLICOS
Nos últimos 20 anos
o público de espetáculos
ao vivo aumentou de menos
de 1 milhão para mais de
12 milhões de espetadores.
Bethania, Caetano Veloso, Tinders-ticks, YoungGods… e fomos criando públicos. Hoje há concertos todos os dias”, explica.
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REVISTA ������
Uma canção pode
mudar a forma como
vemos o mundo?
“A cantiga é uma ar-
ma!”, cantava José Mário
Branco, em 1975.
E pode efetivamente sê-
-lo, sobretudo quando in-
serida em contextos de
convulsão. Há canções
que se tornaram verda-
deiros hinos, símbolos e
porta-vozes de agitações
sociais. Em Portugal, no
período anterior e ime-
diatamente posterior
ao 25 de Abril de 1974 –
neste caso com destaque
para a obra de José
Afonso (no seu todo),
bem como inúmeras
canções de José Mário
Branco e de Sérgio
Godinho.
É necessário que exista
intencionalidade para
uma canção ter esse
poder?
Como em todas as artes,
existe na canção uma
função catártica e, em
grande parte delas, uma
mensagem que pode ser
mais ou menos explícita
e intencional. E quando
essa convivência entre
texto e música é conse-
guida, mais cedo ou mais
tarde acaba por influen-
ciar e fazer parte do ima-
ginário coletivo. Hoje,
graças às fantásticas e
imparáveis evoluções
tecnológicas, podemos
ouvir uma canção gra-
vada há alguns minutos
nalgum obscuro canto
de Buenos Aires ou de
Tóquio. E se a canção for
boa irá de certo influen-
ciar-nos…
Sente-se um agente de
mudança?
Tenho procurado sempre
escrever canções que me
satisfaçam no momen-
to ou façam sentido pa-
ra mim, e com as quais
preveja um bom conví-
vio até ao fim da estra-
da, continuar a cantá-las
com prazer e convicção.
As mensagens vão va-
riando mas, basicamen-
te, faço por salientar e
defender os meus valores
fundamentais: liberdade,
igualdade, fraternidade.
“O cinema deixou de ser relevante”António-Pedro Vasconcelos cineasta
António-Pedro Vasconcelos continua a fazer cinema, a ter espetadores nas salas e reconhece até que os seus �lmes po-dem ter contribuído para a mudança. Ao longo da carrei-ra António-Pedro Vasconcelos teve sempre uma intenção, quer fosse ela a denúncia da chaga social do trabalho infan-til (Jaime, 1999) ou o alerta para o abandono a que a socieda-de atual vota os mais velhos e os mais jovens (Os Gatos Não
Têm Vertigens, 2014). Sente-se “condenado a ser livre”, como explica no livro com o título homónimo. Mas isso não quer dizer que seja um otimista. Bem pelo contrário, já que é um dos principais críticos do sistema de �nanciamento vigen-te, que acusa de acentuar o divórcio entre o espetador e o cinema português por apostar em �lmes que ninguém vê e reduzir a �cção televisiva a telenovelas que mostram um Portugal que não existe...
Políticas à parte, o cineasta explica que o cinema, enquan-to veículo principal da �cção, acabou, tal como um dia acon-teceu com a ópera. A forma de consumo alterou-se com a te-levisão e a Internet e “o cinema em sala perdeu a aura, deixou de ter grandes autores a interpretarem o imaginário coleti-vo, deixou de ter um papel federativo, de in�uência de com-portamentos”. O herdeiro desse papel principal está por sur-gir – a ópera acabou mas apareceram outras coisas, como os musicais da Broadway, por exemplo – e o futuro ajudará a trazer de�nições. António-Pedro Vasconcelos não tem, porém, grandes dúvidas: o cinema não voltará a ter o poder que teve ao longo do século XX na América ou em momentos especí�-cos na Europa: nos anos 20 na Alemanha e na União Soviética (após a Primeira Guerra e usado para propaganda dos regi-mes), ou nos anos 60, em França (berço da Nouvelle Vague).
Função catártica da músicaJorge Palma músico
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1o meu mundoENTREVISTA
REVISTA MONTEPIO
FÁBIA REBORDÃO
Alma de fadista, impulso de camaleãoFÁBIA REBORDÃO FAZ PARTE DE UMA NOVA GERAÇÃO DE FADISTAS, INFLUENCIADOS PELOS CLÁSSICOS MAS QUE TRABALHAM A SUA MÚSICA COM OUTROS SONS, ESTILOS E INFLUÊNCIAS
POR NUNO ALEXANDRE SILVA
FOTOGRAFIA CARLOS RAMOS
A Fábia é a personi cação da mudan-ça, desde a forma como mudou sica-mente às novas roupagens com que veste o Fado. São decisões muito pon-deradas ou deixa-se levar pela espu-ma dos dias?É uma coisa que acontece normalmen-te. Eu sou mesmo assim. Esta excentri-cidade faz parte de mim, desde sempre. É uma coisa que penso e que é natural. Acordo de manhã e não é uma coisa que programe: eu vou mudar de cabe-lo ou eu vou usar esta roupa assim… Tive o cabelo comprido muitos anos e de repente acordei um dia e pensei cor-tar radicalmente.E de onde vem essa necessidade de mudar?Sou a eterna insatisfeita. Acho que a vida é curta para estagnarmos e ficarmos sempre na nossa zona de
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REVISTA MONTEPIO
conforto. Acho importante mudar-mos e experienciarmos coisas novas e diferentes. Correndo riscos?Sim, mas isso é a verdadeira adrenali-na da vida. O que dá sabor à vida. A mudança foi apenas física ou sente que, também lá dentro, está diferente da Fábia que participou na “Operação Triunfo” (OT) e que as pessoas se habi-tuaram a ver?Interiormente estou em constan-te mudança, sempre, desde que nas-ci até agora, e espero continuar. Porque é isso que vai in� uenciando a
minha forma de compor, de escrever, de cantar, de me relacionar com as pes-soas, com os amigos e com o público. E é incrível porque eu sinto-a. Eu sinto essa mudança dentro de mim.O que recorda desses tempos [OT] e o que trouxe para esta nova Fábia?Tenho muito boas recordações. Eu era muito nova, tinha 18 anos. Não tinha experienciado muita coisa a nível mu-sical. Tinha estado apenas em casas de Fado, no teatro, e foi importante a rela-ção com outras pessoas, ter podido usu-fruir de aulas com vários professores experientes nas suas áreas. Foi impor-tante para mim enquanto cantora e en-quanto mulher. Ainda não tinha escri-to nem composto nada naquela época mas comecei a idealizar o que poderia fazer. Foi ali que percebi que era o Fado que eu queria que � zesse parte da mi-nha vida para sempre. Que fosse a mi-nha base. Porque era no Fado que eu me sentia mais confortável, embora ti-vesse muitas in� uências desde sempre. A Fábia é mais um dos nomes deste Fado novo de que muito se fala. Que música é esta?Acho que o Fado mantém-se no ver-dadeiro sentido da palavra. Apenas vai sofrendo evoluções: melodica-mente, harmonicamente, na sua es-crita. Vamos tendo outros compo-sitores, poetas, intérpretes, mas o Fado não perde a sua matriz, mantém a simplicidade que lhe é característi-ca. Depois há fadistas como eu, que têm outras in� uências musicais e que, se calhar, resolveram explorar esse lado.Como vê esta nova geração de fadis-tas?Acho fabuloso e é bom para o país ter alguém a digni� car o Fado desta ma-neira e fazer com que toda a gente possa ter acesso a ele, toda a gente possa usu-fruir da nossa alma melancólica, triste. Mas também alegre, porque o Fado re-lata a vida. E a vida não é só feita de coi-sas tristes.Agora tem um novo álbum, Eu. O que é que este Eu tem lá dentro?Este Eu demorou algum tempo a ser
feito porque eu sofri uma crise de iden-tidade e escondia-me atrás de mim mesma. Levei algum tempo para me redescobrir. Houve uma mudança in-terior e exterior, mas durante este tem-po continuei a ouvir música, a compor, a escrever e reuni amigos, pessoas que me conhecem verdadeiramente, que conseguiram decifrar este verdadeiro Eu, ofertando-me temas, letras, músi-cas. Mesmo os meus produtores, o Jor-ge Fernando e o New Max, consegui-ram decifrar esta fase da minha vida. Uma fase em que sou mais eu. Havia um desfasamento entre a sua imagem e o que acreditava ser a sua imagem?Sentia que vivia num corpo que não era o meu. Às vezes os olhares mais de-preciativos, se calhar não intencionais, in� uenciam qualquer pessoa. E às vezes as coisas que se dizem, como se olha, é o que nos faz crescer. Que nos faz ter von-tade de mudar. O single Falem Agora também é uma resposta a esse momento?Há pessoas que, para ultrapassarem os seus problemas, muitas vezes falam dos problemas dos outros. Este tema fala de alguém que não partilha des-se estado de espírito, como eu. Eu não quero saber, não preciso de falar dos problemas dos outros para ultrapassar os meus..O disco tem temas escri-tos e compostos pela Fábia. Como é o seu processo criativo, onde vai buscar a inspiração?Algumas coisas são experiências pró-prias, coisas que eu vivo, sinto ou vejo acontecer. Que eu defendo ou acredi-to. Outras são coisas que eu penso que poderiam acontecer. Como gostava de ser vista dentro de 10 anos. Imagina-se em constante mu-dança?Sim, isso sempre. Mas queria que per-manecesse o facto de ter criado a mi-nha linha musical, de eu compor, es-crever, a minha forma de cantar. E que isso se tornasse sólido, ao ponto de as pessoas perceberem assim que passe na rádio. Quero criar a minha história.
“O Fado é a minha
casa,a minha paixão. Todas as noites
canto Fado. Mas sou uma cantora e ouço
outra música, outros intérpretes.
Compro discos e gosto de saber o que acontece
no mundo da música.”
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1
REVISTA �������
o meu mundoREPORTAGEM
Lisboa é uma cidade de bairros, diz-se. E os bairros de Lisboa, que durante anos permaneceram num estado de dormência, estão a mudar. Várias áreas da cidade, incluindo algumas das artérias mais importantes, estão a ser intervencionadas e preparam-se para alterar para sempre a forma como a cidade é vivida e visitada. Um dos principais alvos do plano traçado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) é a zona central da urbe, que vai levar à transformação da organização dos seus bairros e de algumas das vias
URBANISMO
LISBOA, CIDADE DE FUTUROA CAPITAL PORTUGUESA ESTÁ A FICAR DIFERENTE: MAIS PRAÇAS E ARRUAMENTOS, NOVOS ESPAÇOS E BAIRROS A RECUPERAREM A VIDA EM COMUNIDADE. O EIXO CENTRAL DE LISBOA, O CAIS DO SODRÉ E O PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA – QUE SERÁ FINALMENTE TERMINADO – ESTÃO ENTRE AS TRÊS ZONAS QUE VÃO SOFRER AS MAIORES MUDANÇAS
POR FILIPE GILFOTOGRAFIA ARTUR E CM LISBOA
principais, sobretudo no chamado Eixo Central (Avenida Fontes Pereira de Melo, Saldanha e Avenida da República). A zona ribeirinha, sobretudo o interface de transportes do Cais do Sodré, também há muito que está a ser intervencionada. Mas há outras alterações: novas praças vão surgir ou ressurgir, devolvendo aos cidadãos espaços que há muito tinham deixado de ser seus. E até mesmo o Palácio Nacional da Ajuda, começado a construir em 1794, vai ser �nalmente terminado e devolvido aos residentes e turistas.
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REVISTA ��������
^ PAIXÃO
PELO TEJO
Devolver o rio à
cidade é um dos
objetivos da nova
frente ribeirinha, um
projeto que engloba
a reorganização
do interface de
transportes do Cais
do Sodré
2017DATA PREVISTA PARA A
CONCLUSÃO das obras nas
30 praças prioritárias do projeto
“Uma Praça em Cada Bairro”,
que vai mudar para sempre a forma
como se vive em Lisboa
O ponto de partida desta regeneração urbana arrancou em maio de 2014, com a apresentação do plano “Uma Praça em Cada Bairro”. Este proje-to faseado prevê a integração da co-munidade num grande número de praças, jardins, ruas e equipamen-tos coletivos. João Seixas, professor einvestigador universitário com traba-lho nas áreas da sociopolítica, econo-mia das cidades e metrópoles, é uma das vozes favoráveis a esta mudança. O investigador sublinha, porém, que é preciso ter em conta as suas impli-cações na própria Lisboa. “A cidade é um enorme sistema, um corpo que tem de ser visto como um todo e em cada um dos seus espaços pertinen-tes”, explica. O investigador acredi-ta que está a assistir-se a uma “nova vivência do espaço urbano”. Para perceber os desa�os que aí vêem, por outro lado, “há que perceber o que é a vida urbana, evoluindo mas tendo atenção aos princípios e direitos da vida em cidade”.
Cais do Sodré mais pedonalA Praça Duque da Terceira sempre foi um dos locais caóticos e confusos da zona ribeirinha de Lisboa. Mas tudo está a mudar no Cais do So-dré, através do traço e das ideias dos
arquitetos Bruno Soares e Pedro Trindade. A Câmara de Lisboa su-blinha a importância de valorizar os espaços desta praça e do Jardim Roque Gameiro, situado em frente à estação dos comboios da linha de Cascais. “Um dos objetivos é melho-rar a mobilidade pedonal com a am-pliação dos atuais passeios, a cons-trução de novas zonas de estar e de encontro multigeracional, bem como a introdução de novas zonas de esta-da e lazer. Será essencialmente um espaço de usufruto das pessoas com ligação ao rio”, avança a autarquia.Esta é uma zona de grande con�uên-cia de população, que utiliza um dos maiores interfaces de transportes de Lisboa, o comboio, para vir trabalhar todos os dias para a capital. Mas tam-bém para lazer, em direção às praias da linha, Oeiras e Cascais.
Outra das novidades do projeto é a ligação da pista ciclável que vai unir a zona ribeirinha de Belém ao Parque das Nações. A mudança do Cais do Sodré junta-se assim às in-tervenções anteriores na Ribeira das Naus e na Praça do Comércio, que fizeram parte do projeto “Devolver o Tejo às Pessoas”, e continuará pe-lo Campo das Cebolas, culminando no Terminal de Cruzeiros, em Santa Apolónia. Trazer pessoas para junto do rio, através de espaço público fun-cional e de vivência, é o principal ob-jetivo do novo planeamento urbano.
Unir os bairros, retirar os carrosOutra das grandes intervenções que está a mexer com o coração de Lisboa são as obras no Eixo Central, denomi-nação da zona compreendida entre a
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1
REVISTA ����� !�
o meu mundoREPORTAGEMurbanismo
Praça Marquês de Pombal e a Aveni-da da República. Inseridas no progra-ma “Uma Praça em Cada Bairro”, que substituirá o betão por novos espaços verdes, passeios maiores e ciclovias em vários locais da cidade, estas obras vão permitir uma nova visão de um dos eixos com maior pressão de tráfe-go da capital portuguesa. Aqui, a mu-dança será ainda mais profunda, uma vez que está também a ser melhorado o pavimento das ruas, um projeto que faz parte do programa “Pavimentar Lisboa 2015-2020”.
A Praça Duque de Saldanha, pon-to central do Eixo, também está a ser transformada. De zona de passa-gem de veículos e transportes, o lo-cal ganhará a funcionalidade que o próprio nome indica: praça. Nascerá então o espaço “apropriado para uma área de esplanadas e soluções de es-paço público para potenciar a estada de cidadãos no local”, segundo a CML.
Sobre esta estratégia, o investiga-dor João Seixas indica que a perce-ção humana da vida quotidiana e da vivência e de espaço público é fun-damental para o nosso futuro como humanidade. “É aí que se faz comu-nidade”, avança Seixas, autor de vá-rios livros sobre o pulsar das cidades. E explica porquê: “Mais praças, com mais acesso para todos, é extrema-mente salutar. O que me parece é que já poderíamos ir mais além. Atenção, não é uma crítica, mas podíamos pensar já em novas formas de espaço público, com programação, novas for-mas de mobilidade, novas formas de espaços públicos.” E remata: “Acho muito bem que se torne a Segunda Circular num boulevard urbano e até colocaria um elétrico de superfície. A mobilidade, sobretudo a coletiva, é um espaço público em movimento. E podia fazer acupuntura entre os vários bairros que estão muito
separados por vias que são autênticas autoestradas”, argumenta.
O “novo” Palácio da Ajuda Nem só de novas praças viverá a transformação de Lisboa nos próxi-mos meses. Há equipamentos im-portantes a surgir, desde o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tec-nologia), em Belém, a edifícios se-culares e, neste caso, incompletos, como o Palácio Nacional da Ajuda. Nos próximos meses será feito o re-mate da fachada poente, que se espe-ra que esteja pronta no �nal de 2018 – mais de 200 anos depois do início das obras.
O palácio foi edificado entre os séculos XVIII e XIX, no local onde, após o Terramoto de 1755, D. José I mandara construir a residência real, denomi-nada Real Barraca, que foi totalmen-te destruída por um violento incên-dio em 1794. “A ser construído, seria
> NOVAS VALÊNCIAS Na ala poente será criado
um museu destinado a acolher
as joias da Casa Real
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REVISTA "#$%&'(#
TENDÊNCIA
Marvila, a next big thing de Lisboa?
Azona oriental
da cidade,
emparedada
entre a centralidade
secular e a modernidade
urbana do Parque das
Nações, começa agora
a ganhar uma nova vida.
Lentamente e sem
grande alvoroço,
o bairro de Marvila
está a catalisar novos
habitantes e novos
negócios, na sua
essência ligados à
cultura, criatividade
e restauração. Um dos
exemplos é a fábrica de
cerveja artesanal Dois
Corvos, fundada por
Susana Cascais
e Scott Steffens e
instalada nesta zona
da cidade. “Era um
bairro maioritariamente
abandonado e
degradado quando
nos mudámos para cá.
Mas encontrámos
o espaço de que
precisávamos, os
acessos eram fáceis
e [descobrimos] um
sentido de comunidade”,
explica Susana Cascais.
Estas são características
que levam pessoas e
negócios a esta zona.
O restaurante El Bulo,
do chef Chakall, ou o
LX Work Hub, que ocupa
o espaço da antiga
fábrica Abel Pereira
da Fonseca, são outros
dois negócios a crescer
em Marvila. É também
nesta zona que vai
surgir o Hub Criativo
do Beato, uma aposta
da edilidade e do próprio
Estado português para
tornar a freguesia num
dos maiores centros
de empreendedores
da Europa. Marvila está
a tornar-se lentamente
um dos bairros mais
emergentes de Lisboa.
E leva consigo as áreas
urbanas vizinhas.
> JOÃO CARLOS SANTOSO arquiteto concebeu
o projeto que completa
o Palácio Nacional da Ajuda,
inacabado desde 1794
um dos maiores palácios da Europa. Integrava, além do palácio, a Patriar-cal e a Real Academia de Ciências”, explica o arquiteto João Carlos dos Santos, subdiretor-geral do Patrimó-
nio Cultural e responsável pelo no-vo projeto que completará o palácio. Monumento Nacional desde 1910, o Palácio da Ajuda funciona como museu desde 1968, transmitindo o ambiente de residência real de Oitocentos.
De acordo com o arquiteto, em breve será terminada uma das alas inacabadas do palácio e, com esta, inicia-se a exposição ao público de uma das melhores coleções de joa-lharia e ourivesaria do mundo, um tesouro escondido que faz parte do património nacional e que se quer divulgar criando um novo polo de atratividade no Palácio Nacional da Ajuda.
“O novo equipamento pretende devolver o edifício à cidade com a dignidade que merece. O aspeto atual da ala poente em nada digni�ca o pa-lácio e a envolvente onde está inseri-do”, continua José Carlos Santos.
A intervenção na ala poente, ain-da inacabada, vai respeitar os limi-tes atuais do palácio, passando a coe-xistir com o traçado da Calçada da
5 desafios para a cidade
segundo o investigador
João Seixas
1A CIDADE DEVE GARANTIR
OS DIREITOS
“Ainda estamos muito apegados
ao modernismo. Pensámos
edifícios como monofuncionais,
mas devemos pensar nas
multifuncionalidades dentro
deles: habitação com funções
económicas, lojas de retalho pop up”
2VALORIZAÇÃO DA ECOLOGIA
“É conciliar a Oikologia com
a Oikonomia, ou seja, a Ecologia
com a Economia. As duas têm
a obrigação de se dar bem,
mas não tem sido assim.
Temos de perceber como podemos
conceber valor financeiro na ecologia
e valorizar a ecologia humana”
3AUMENTO DA CIDADANIA
“Nunca tivemos gerações com
tanto conhecimento e há uma
consciência cívica maior
e isso deve ser consolidado”
4COLOCAR A POLÍTICA
E A TECNOLOGIA AO SERVIÇO
DAS SMART CITIES
“Mais do que smart, as cidades
devem ser inteligentes”
5AO INVÉS DO GPS
(GEOGRAPHIC POSITIONING
SYSTEM), TER O PPS (POLITICAL
POSITION SYSTEM)
“Colocar a cidade e a vida urbana
como elemento fundamental para
o progresso humano. Valorizar a
qualidade de vida e os direitos
não é uma consequência mas uma
causa para o progresso”
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o meu mundoREPORTAGEMurbanismo
> JOÃO SEIXAS A atual reforma do espaço público
representa a maior mudança em Lisboa
nas últimas décadas, diz o investigador
MARKETING
O hype de Lisboa
Lisboa está nas bocas
do mundo como
um dos melhores
destinos para os turistas.
Qual a razão do hype da
capital portuguesa? De
acordo com o investigador
João Seixas, tudo se deve
a um conjunto de fatores.
A começar pelo sucesso
do marketing. “A cidade é
muito bela. Sou suspeito
porque adoro a cidade,
mas já vivi em Barcelona
e Londres e Lisboa é muito
mais bonita”. Seixas refere
ainda o fator preço. “Somos
baratos. Atenção que não
é um defeito. Só o será se
provocar desigualdades
aos que nela vivem”. Outro
dos fatores apontados é a
escala humana de Lisboa,
uma razão que se sobrepõe
à crise de outros mercados
e de outras cidades como
destinos turísticos. “Temos
um conjunto de fatores que
o visitante admira. Para
além da cidade ter escala
humana, não construímos
coisas monstruosas. E ainda
bem”. O investigador aponta
ainda o facto de terem
existindo cinco décadas em
que se deixou despovoar
uma cidade milenar, sendo
que isso traz, facilmente,
novos corpos à cidade,
quer bons quer maus”.
Um exemplo: o centro
histórico de Lisboa está a
mudar mais pela pressão
do turismo, imobiliária e
financeira. A questão passa
por saber conciliar esta
faceta, mantendo a vida
urbana do centro histórico
de uma cidade com três
mil anos. “Em outros locais,
fora do centro histórico, as
mudanças também estão
a acontecer, como estão
a acontecer nos nossos
empregos e nas nossas
casas”, conclui.
Ajuda e com o Jardim das Damas. “Propõem-se operações de completa-mento cirúrgico das partes inacaba-das, por analogia com a construção existente, e justificadas por razões de unidade de leitura. Será feitaa adição de um novo volume de re-mate a poente com uma linguagem não mimética, conforme o preconi-
cio da era industrial e isso vai alte-rar a forma de ver e viver a cidade. A nossa vida quotidiana urbana es-tá a mudar”, conclui o investigador.
zado nas cartas e convenções inter-nacionais sobre património. A nova fachada procura restituir a unida-de de leitura do conjunto”, explica o arquiteto responsável.
Os espaços públicos que passarão a existir com a reabilitação do edi-fício poderão ser usufruídos por to-dos, à semelhança do que já acontece com os espaços exteriores do palácio, incluindo o Jardim das Damas.
Segundo João Seixas, esta será a maior mudança ocorrida em Lisboa nas últimas décadas. “É uma trans-formação tão histórica como a do iní-
FA TORTOR
IMAIMAGINEM UM
FA TOR
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REVISTA MONTEPIO
1o meu mundoLÍNGUA PORTUGUESA
Imaginem um extracto de � cção: “apurados os factos, estava farto: a acta não ata nem desata e tem a percepção de que é tempo de passar à acção. Amanhã, ruma ao Egipto. Pára para pensar e acciona os meios necessários para que, até Dezembro, o documento cor-de-laranja esteja, pelo menos, projectado”. Agora, o mesmo extracto, submetido já ao Acordo Ortográ� co de 1990 (AO 90): “apurados os factos, estava farto: a ata não ata nem desata e tem a perceção de que é tempo de passar à ação. Amanhã, ruma ao Egito. Para para pensar e aciona os meios neces-sários para que, até dezembro, o documento cor de laranja esteja, pelo menos, projetado”.
ACORDO ORTOGRÁFICO
ELES CONCORDAM EM DISCORDARNOS ÚLTIMOS ANOS, POUCOS TEMAS TÊM SIDO MAIS DEBATIDOS EM PORTUGAL QUE O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO. O ACORDO, É VERDADE, JÁ NÃO CAMINHA PARA NOVO, MAS CONTINUA A PROVOCAR A TROCA DE ARGUMENTOS ENTRE AS DUAS PARTES. INCLUSIVE ATÉ DE QUEM CONCORDA, MAS TAMBÉM DISCORDA, COM AS DUAS PARTES
POR JOÃO MORALESFOTOGRAFIA ARTUR, ROGÉRIO RIBEIRO, JOÃO RELVAS
DE FICÇÃODE FICÇÃO
no mês de no mês de no mês de no mês de mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOAIOno mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de no mês de
25
REVISTA MONTEPIO
Nos últimos anos, o novo acordo divi-diu escritores, académicos, deciso-res e cidadãos, tornando-se uma das maiores polémicas públicas das mais recentes décadas. Mas o que ainda mo-ve os dois lados do debate? João Mala-ca Casteleiro, investigador e linguista, tido como o principal defensor do AO 90, considera que as pessoas alfabe-tizadas não querem mudar a ortogra� a aprendida porque isso exige esforço e sacrifício nas alterações ao acervo men-tal das imagens grá� cas das palavras.
“Outras pessoas, mais letradas, con-sideram erradamente que alterar a ortografia constitui uma espécie de atentado ao património da própria lín-gua, esquecendo que a gra� a das pa-lavras sofreu várias alterações desde os primeiros documentos escritos em português, no século XII, até à actuali-dade”, esclarece.
Do lado oposto da argumentação, Nuno Pacheco, redactor principal do jornal Público, aponta fragilidades à pretensa uni� cação, evocando o mun-do informático. “Os computadores têm correctores ortográficos. Em Maio de 2015, havia um lote razoável de varian-tes de outras línguas – o espanhol tinha 21, o inglês 18, o árabe 16, o francês 15… e estou a referir-me a variantes ortográ-� cas, não na fala. Se formos à fala, num mesmo país – Portugal, por exemplo – para uma representação grá� ca temos várias representações fonéticas. Quan-do se diz ‘a gente escreve como fala’… é
PONTOS DE VISTA
O AO 90 está em
vigor em Portugal
e, portanto, é o
código utilizado
nos manuais
escolares.
Mário Cláudio
mostra-se cordato
porque, afi nal,
“o ensino tem
de pautar-se por
aquilo que
é normativo,
o que está
legislado”. Nuno
Pacheco revela-
-se mais abrasivo.
“Estão a ensinar
às crianças
completas
idiotices. Eu já
não estou muito
preocupado que
se reverta ou não,
o problema é não
impor mudanças à
força, que foi o que
aconteceu desta
vez. As coisas
foram impostas
por reuniões
de Conselho de
Ministros e não
por lei. A lei que
está em vigor –
essa sim, foi uma
lei – é a de 1945.
Uma decisão
do Conselho
de Ministros
obriga quem?
Os ministros,
as instituições
que estão sob a
alçada do governo
– incluindo as
escolas públicas
– mas nenhuma
empresa que
não seja pública”,
defende
o jornalista.
A mudança nas escolas
mentira. Se assim fosse, e só para Portu-gal continental, tínhamos de ter várias gra� as, às vezes até variando de aldeia para aldeia”, comenta.
Curiosamente, as opiniões do escri-tor Mário Cláudio remetem para essa multiplicidade (ou liberdade) ortográ-� ca, pelo menos para alguns. “Quando os escritores – que são os verdadeiros criadores e transformadores da língua – atingem um certo nível, têm todo o di-reito de optar pela escrita que acharem melhor. É uma escolha, e uma escolha pessoal. Admito que nem toda a gente se possa dar a esse luxo. Um funcioná-rio público pode ser obrigado a escrever de acordo com aquilo que é o código actual, mas a verdade é que, no caso dos verdadeiros manipuladores da língua, as coisas são diferentes.”
O tema sempre dividiu o meio literá-rio. Natália Correia defendeu a mudan-ça, enquanto Vasco Graça Moura man-dou desinstalar os correctores ortográ-� cos com o AO 90 assim que chegou à direcção do Centro Cultural de Belém. “Lembro-me que Sophia de Mello Brey-ner sempre se recusou a escrever dança com ‘ç’, escreveu sempre com ‘s’ como tinha aprendido, e achava que a pala-vra, dessa forma, era muito mais boni-ta”, recorda Mário Cláudio.
Outro escritor, Rui Zink, tem consi-derações divergentes: “Acho positiva a ideia política de fazer o acordo. Acho ne-gativo o estado das coisas e da discussão, que raia o divórcio entre partes irracio-
nais. Sobre se é bom ou mau, não tenho opinião formada.” De acordo com Zink, a ideia que foi “vendida – e mal vendida” – era boa: “uni� car, dentro do possível, a ortogra� a, ou eliminar a maior parte das pequenas diferenças, de modo a tor-nar este bloco grande em número mas fraco em in� uência, mais poderoso e interveniente – na ONU, na UNICEF, na Europa e no mundo”, avança. Aos que apontam uma fuga à etimologia co-mo argumento para contradizer as no-vas opções de escrita, o autor de A Ins-
talação do Medo responde com alguma ironia: “Têm razão. Já quando “fructo” deixou cair o ‘c’, há mais de 60 anos, isso aconteceu. Quem diz isso tem ra-zão, há um risco nessa fuga. Agora, se existe língua portuguesa é porque foi havendo essa fuga à etimologia, senão ainda falávamos todos latim.”
ACHECO
26
REVISTA MONTEPIO
1o meu mundoLÍNGUA PORTUGUESAacordo ortográfi co
Mudança ou tradição?Uma das facetas mais visíveis desta mudança prende-se com a acentuação. Malaca Casteleiro avança com uma explicação eminentemente técnica: “Quanto à supressão do acento grá� co em palavras graves, ou seja, com acen-to tónico na penúltima sílaba, o AO 90 não faz mais do que aplicar uma regra geral do português, segundo a qual as palavras graves, ou paroxítonas, não se acentuam gra� camente, justamen-te porque o português é considerado uma língua tendencialmente paroxíto-na, ou seja, com tendência para colocar o acento tónico na penúltima sílaba”; avança. De acordo com o especialista, existem vários casos em que, nas paro-xítonas, não se distingue com acento grá� co a tónica aberta da tónica fecha-da, como em “acerto” (forma verbal) de
“acerto” (nome), “acordo” (forma verbal) de “acordo” (nome) ou “fora (advérbio) e “fora” (forma verbal). “Não fazia sentido que continuássemos a distinguir com acento grá� co casos semelhantes, como
uma vez, com uma convergência inter-continental: “Procurámos unificar a ortogra� a destas formas nos dois lados do Atlântico (no Brasil já se escreviam com minúscula), indo ao encontro do que era a prática noutras línguas româ-nicas, uma vez que tais palavras não são nomes próprios mas comuns”, explica.
Nuno Pacheco acaba por a� nar por esse diapasão – embora com outra me-lodia – ao considerar que essa troca de iniciais “não tem nenhuma razão”. “A única justi� cação é que o Brasil já an-dava a fazer isso. O medo é português, não é brasileiro porque, pelo mundo fo-ra, as pessoas têm mais facilidade em aprender o português do Brasil que o por-tuguês de Portugal. Curiosamente, pela escrita, dá-se o contrário”, argumenta.
Assumindo essa mesma in� uência do Brasil em algumas decisões toma-das, Rui Zink afasta-se, contudo, des-te enfoque, apontando que a conversa tem “roçado” a xenofobia. “Há pessoas para quem Portugal continua a ser o
Mário
“QUANDO OS ESCRITORES – QUE SÃO OS VERDADEIROS CRIADORES E TRANSFORMADORES DA LÍNGUA – ATINGEM UM CERTO NÍVEL, UMA CERTA CATEGORIA, TÊM TODO O DIREITO DE OPTAR ”
“QUANDO SE DIZ 'A GENTE ESCREVE COMO
FALA' É MENTIRA. SE ASSIM FOSSE
TÍNHAMOS DE TER VÁRIAS GRAFIAS, ÀS
VEZES ATÉ VARIANDO DE ALDEIA PARA
ALDEIA”
Nuno
Redactor principal do jornal Público
‘para’ (forma verbal com acento agudo) de ‘para’ (preposição) ou ‘pelo’ (forma verbal com acento agudo) e ‘pelo’ (nome com acento circun� exo) de ‘pelo’. Ora, pertencendo estas palavras a classes gramaticais diferentes, o contexto sin-tático em que ocorrem evita, em geral, qualquer ambiguidade”, explica.
Pelo contrário, Nuno Pacheco diz que não encontra “qualquer motiva-ção” para a queda dos acentos. “Aqui há tempos recebi um e-mail que me dizia: ‘Devíamos era acentuar o ‘para’ com um acento circun� exo; se eu leio gato, pato, com ‘a’ aberto….’ Pode ser, tem é de ter um acento… ou um, ou outro!”
No que respeita à troca das maiús-culas por minúsculas nos meses do ano e nas estações, a justi� cação avançada por Malaca Casteleiro prende-se, mais
LÁUDIOEscritor
dade em il que o por-
ente, pela nta.enta.
in� uência ões toma-tudo, des-
a conversa á pessoas
ua a se
inter-car a
vergência inmos unifi
m uma conve: “Procurám
uma vez, com uma tinental: “
uma contin
ma verbal) érbio) e
do” (forma vu “fora (advér
me), “acordo(nome) ou “
to” (nocordo” de “a
“foraque qquqquque “f“fo“foque ue
dde “for“forfora
e “a
27
REVISTA MONTEPIO
dono da língua portuguesa. Não com-preendo: as pessoas querem uma lín-gua cosmopolita que viaja pelos conti-nentes todos, mas também que um país com dez milhões de habitantes seja o dono da língua. Assusta-me, é um ar-gumento de neocolonialismo”, frisa. Mais uma vez, Rui Zink recorre a uma imagem para ilustrar o raciocínio. “O Brasil é o grande motor da língua portuguesa no mundo, é o nosso me-lhor vendedor da língua. E, no entan-to, há pessoas em Portugal que conti-nuam a achar que o prémio de vendas deve ir para o mais antigo e não para o mais e� caz”, metaforiza.
Neste debate pelo acordo ortográ� -co, Mário Cláudio, Prémio Pessoa 2004, alinha pela tradição: “Continuo ligado à velha ortogra� a. Insisto em escrever como aprendi na escola e parece-me que este acordo é de tal forma arbitrá-rio e cria tantos problemas que não me ocorre, de maneira nenhuma, a ideia de poder vir a mudar. Sou � el à antiga or-togra� a e tenciono manter-me assim”, garante. A sua preocupação, porém, é outra: “Parece-me preocupante que as pessoas gastem tanto tempo a debater a questão da ortogra� a, quando as ques-tões da sintaxe são muito mais impor-tantes. Parece-me bastante indiferente.
Sendo um documento
de ambições
internacionais,
cuja validade e alcance
depende dessa mesma
característica, o novo acordo
ortográfi co passa por uma
ratifi cação gradual dos
países envolvidos, que lhe
confere autoridade à medida
que a lista engrossa. Neste
momento, e segundo Malaca
Casteleiro, o Acordo já foi
ratifi cado pelos parlamentos
de Portugal, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, São
Tomé e Príncipe e Timor.
Em Moçambique já foi
aprovado pelo governo
e aguarda ratifi cação no
parlamento. “Em Angola
não houve ainda decisão,
mas já foi afi rmada a
vontade de aplicá-lo”,
garante o académico.
“A implantação tem
dependido, em cada país,
dos recursos disponíveis”,
justifi ca, acrescentando que
“em Portugal e no Brasil
ele já está plenamente
em vigor”. Em Cabo Verde
encontra-se em curso
de implantação e, em
São Tomé e Príncipe, estão
a ser tomadas as medidas
para a sua implementação.
Na Guiné-Bissau a situação
política tem difi cultado
a implantação do Acordo e,
naturalmente, Timor-Leste
será um caso particular,
dadas as contingências
da sua própria e recente
constituição como país.
“A prioridade tem sido a
difusão e implantação da
língua portuguesa, num
contexto geográfi co em
que a opção pelo português
como língua ofi cial não
foi pacífi ca. Mesmo assim,
é preciso assinalar que
em 2002, quando o país
se tornou independente,
haveria 2 a 3% de falantes
de português e que hoje já
existem cerca de 23%, muito
mais do que quando cessou
a administração portuguesa
em 1975, data em que
o número de falantes não
iria além de 10%”, realça
o académico.
ANÁLISE
Acordo a várias velocidades
É indiferente escrever facto com ‘c’ ou sem ‘c’, mas não é indiferente a corres-pondência entre o sujeito e o predicado ou a utilização de formas verbais incor-rectas. Qualquer escola que pre� ra op-tar pela ortografia em detrimento da sintaxe está a cometer um erro crasso”, justi� ca o autor.
Mário Cláudio chega mesmo a de-fender a existência de uma gra� a o� -
cial para documentos, instituições, organismos, e outra para o mundo cul-tural, literário e criativo, “que respeitas-se a prosódia regional”. “Veja-se a pala-vra ‘muito’: se toda a gente diz ‘muinto’, porque se insiste em escrever sem o ‘n’? O que é que conta mais, a forma como as pessoas falam ou a etimologia da pa-lavra?”, questiona. E vai mais longe, ao salientar que “nas duas grandes regiões
“A IMPLANTAÇÃO TEM DEPENDIDO, EM CADA PAÍS, DOS RECURSOS DISPONÍVEIS. EM PORTUGAL E NO BRASIL ELE JÁ ESTÁ PLENAMENTE EM VIGOR. EM ANGOLA JÁ FOI AFIRMADA A VONTADE DE APLICÁ-LO”
CASTELEIROALACAJoão
Investigador e linguista
REVIST MONTEPIOMONTEPIOMONTEPIOREVISTA MONTEPIO
28
REVISTA MONTEPIO
1
do país, que são o Norte e o Sul, há va-riantes que deveriam ser respeitadas”.
Com vasta obra publicada (entre romances, teatro, fotobiografias ou poesia, género com o qual se estreou, em 1969, com Ciclo de Cypris), Mário Cláudio confessa não se preocupar de-masiado com a questão da ortogra� a escolhida para os seus livros: “No Bra-sil foram publicados de acordo com a gra� a brasileira. Quando me colo-cam o problema eu respondo: façam como entenderem. Eles insistem, por exemplo, que António apareça com acento circunflexo, uma coisa que, para nós, não faz qualquer sentido. Desde que respeitem a semântica, a divisão do texto em parágrafos, a mancha [de texto], a colocação das vír-gulas, a pontuação, isso não me preo-cupa nada”, avança.
Rui Zink mostra-se igualmente flexível. “Não uso [o novo acordo] e acho que sou menos hipócrita do que
a maioria das pessoas que são contra e a favor. Eu, neste momento, apenas digo: organizem-se! No meio de tanta gente com razão, são precisas pessoas como eu, que não sabem se têm razão ou não”, graceja.
Professor universitário, Zink bene-ficiou da omissão de posição da sua universidade. “Como o espaço onde trabalho não tomou uma posição for-mal, eu faço aquilo que, para mim, é mais fácil. Para um tipo de 55 anos,
“NÃO USO [O NOVO ACORDO] E ACHO QUE SOU MENOS HIPÓCRITA DO QUE A MAIORIA DAS PESSOAS QUE SÃO CONTRA E A FAVOR. EU, NESTE MOMENTO, APENAS DIGO: ORGANIZEM-SE! NO MEIO DE TANTA GENTE COM RAZÃO, SÃO PRECISAS PESSOAS COMO EU, QUE NÃO SABEM SE TÊM RAZÃO OU NÃO ”
ui
Escritor e professor universitário
ZINK
qualquer mudança ortográ� ca compli-ca. Quando eu andava na terceira clas-se e tiraram o acento grave ao ‘rapida-mente’, foi rapidamente que deixei de usá-lo. Cumpro a lei do menor esfor-ço. O meu editor não aplica o AO 90, é uma opção dele, e eu sou boa boca”, refere. “Há uns tempos, uma edito-ra comprou uma tradução minha, em inglês, e disseram-me: nós aplicamos o acordo, por isso vamos modificar. Eu apenas perguntei: paga-me na mes-ma? Se eu fosse radicalmente contra o acordo, ia perder aqueles mil ‘euritos’. Porque eu tenho carácter… ou tento ter.” A mordacidade impunha-se: com ‘c’ ou sem ‘c’? “Boa pergunta…”, reconhece Zink com um sorriso aquiescente.
“Para que guardemos certeza,
ou verdade, em nossa escritura,
assim devemos escrever como
pronunciamos & pronunciar
como escrevemos”
Luís António Verney, Verdadeiro
Método de Estudar, 1746
“Não tenho sentimento nenhum
politico ou social. Tenho,
porém, num sentido, um alto
sentimento patriotico. Minha
patria é a lingua portugueza.
Nada me pesaria que invadissem
ou tomassem Portugal, desde
que não me incommodassem
pessoalmente, Mas odeio, com
odio verdadeiro, com o unico
odio que sinto, não quem escreve
mal portuguez, não quem não
sabe syntaxe, não quem escreve
em orthographia simplifi cada,
mas a pagina mal escripta, como
pessoa propria, a syntaxe errada,
como gente em que se bata, a
orthographia sem ipsilon, como
escarro directo que me enoja
independentemente de quem o
cuspisse”
Fernando Pessoa, Livro
do Desassossego, início
do século xx
“Na palavra lagryma, (...) a forma
da y é lacrymal; estabelece
(...) a harmonia entre a sua
expressão graphica ou plastica
e a sua expressão psychologica;
substituindo-lhe o y pelo i é
offender as regras da Esthetica.
Na palavra abysmo, é a forma
do y que lhe dá profundidade,
escuridão, mysterio... Escrevel-a
com i latino é fechar a boca do
abysmo, é transformal-o numa
superfi cie banal”.
Teixeira de Pascoaes, revista
Águia, início do século xx
Este texto foi escrito no antigo acordo
ortográfi co, mas as letras a negrito
salvaguardam o novo acordo.
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30
1
REVISTA MONTEPIO
o meu mundoOBSERVATÓRIO
1
POPULAÇÃO
A ENCRUZILHADA DA LONGEVIDADEEM 2050 PORTUGAL SERÁ O PAÍS MAIS ENVELHECIDO DA UNIÃO EUROPEIA, ACOMPANHANDO A PRINCIPAL TENDÊNCIA DA DEMOGRAFIA GLOBAL. SEREMOS MENOS PORTUGUESES A VIVER NO TERRITÓRIO NACIONAL E ESTAREMOS MAIS VELHOS DO QUE ALGUMA VEZ NA NOSSA HISTÓRIA. ESTARÁ O PAÍS (E O MUNDO) PREPARADO PARA AS MUDANÇAS SOCIAIS E ECONÓMICAS QUE ESTA REVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA TRARÁ, INEVITAVELMENTE?
POR RITA VAZ SILVA
ILUSTRAÇÃO VERA MOTA
31
REVISTA MONTEPIO
A esperança média de vida pouco se alterou entre o aparecimento do homem moderno, há 200 mil anos, e a primeira metade do século XX. Durante milénios, os seres humanos viveram, em média, 35 a 45 anos. No Paleolítico, um homem típico atingia, em média, os 33 anos. Em 1950, apesar de o mundo ter já 204 milhões de idosos, a esperança de vida à nascença, a nível global, era de 48 anos. Atualmente, é de 71 anos.
O envelhecimento acelerado da popu-lação é um capítulo ainda muito curto, mas sem paralelo, na história da evolu-ção humana. Por um lado, é uma con-quista da civilização e um re� exo da melhoria da esperança média de vida mas, por outro, e devido também à di-minuição da população ativa e contri-butiva, coloca desa� os signi� cativos à economia, à organização social e à sus-tentabilidade dos sistemas de proteção social e de saúde.
Foi a partir da década de 60 do século passado, com a melhoria das condições de vida, o acesso generali-zado a cuidados de saúde e a redução da mortalidade infantil, que as curvas estatísticas relativas à longevidade e envelhecimento da população, até aqui em paulatino crescendo, dispa-raram em � echa. “O envelhecimen-to populacional aconteceu de forma muito rápida em Portugal. Os idosos
de hoje em dia foram apanhados de surpresa. Muitos chegam à reforma e ainda têm os pais vivos. Comparati-vamente com o passado, hoje as pes-soas quase vivem duas vezes”, a� rma Maria João Valente Rosa, demógrafa e atual diretora da Pordata.
Entre 1950 e 2000, a população idosa acima dos 65 anos mais do que duplicou. As Nações Unidas indi-cam que deverá triplicar até 2050, estimando-se que uma em cada cin-co pessoas em todo o mundo terá mais de 60 anos. As mesmas proje-ções mostram que o número de pes-soas com 100 anos ou mais aumentará 15 vezes, passando de 150 mil em 2000 para 2,2 milhões em 2050.
Já daqui a quatro anos, em 2020, pela primeira vez em toda a história da humanidade o mundo terá mais pessoas com 60 anos do que crianças até aos 5 anos.
127,8%
É O ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO em Portugal, ou seja, o número de pessoas com mais de 65 anos por cada 100 jovens com menos de 15 anos em 2011. Em 1991 este rácio era de 68,1%
Percentagem da população com 60 anos ou mais
ANÁLISE
Os países com envelhecimento mais acelerado
2015
2050
FONTE: ONU/GLOBAL AGE WATCH INDEX 2015
Japão Itália Espanha PortugalCoreia do Sul
Grécia
27,0%
40,8%
28,6%
40,7%
33,1%
42,5%
18,5%
41,5%
24,4%
41,4%
27,1%
41,2%
32
1
REVISTA 01234561
o meu mundoOBSERVATÓRIOlongevidade
> JEANNE CALMENT Nasceu um ano antes de
Bell patentear o telefone e catorze
anos antes da Torre Eiffel. Jean-Marie
Robine, autor de um livro sobre a
Sra. Calment, tem a opinião de que
"era imune ao stress", e recorda que
costumava dizer que "se não podemos
fazer alguma coisa sobre o assunto,
mais vale não nos preocuparmos".
O recorde da
longevidade humana é
de 122 anos e pertence
a Jeanne Calment, uma
cidadã francesa nascida
em 1875.
No entanto, cientistas
do Albert Einstein
College of Medicine, em
Nova Iorque, acreditam
que o exemplo de
Calment, a única
pessoa na História
a ultrapassar a barreira
dos 120 anos, não
se repetirá muitas
mais vezes.
No estudo mais recente
sobre a longevidade,
publicado na revista
Nature, em outubro
de 2016, 115 anos é
a idade limite definida
pelos investigadores
da universidade norte-
-americana para os
seres humanos.
LONGEVIDADE
115 anos é o limite?
Este país é dos mais “velhos”Portugal não escapa à tendência. A esperança média de vida é de 76,9 anos para homens e 82,8 para mulhe-res, segundo dados do INE/Pordata para 2014 e a taxa de fecundidade é uma das mais baixas do mundo, 1,3 �-lhos por mulher. Em consequência, projeções do Eurostat sugerem que Portugal se tornará, em 2040, um dos países mais envelhecidos da União Eu-ropeia e o 4º a nível mundial com mais idosos (atrás do Japão, Coreia do Sul e Espanha). Nos próximos 30 a 40 anos, 3 milhões de portugueses terão mais de 65 anos e 3,7 milhões serão pensionistas.
Ainda segundo o Eurostat, a popu-lação vai diminuir para menos de 10 milhões e Portugal tornar-se-á a nação europeia com menos crianças e jovens.
Cada vez mais portugueses rece-berão pensões e por períodos mais longos, porque a esperança de vida, aos 65 anos, será maior. O decrésci-mo da força de trabalho e o envelhe-cimento têm, e continuarão a ter, um impacto direto na sustentabilidade dos sistemas de proteção social, no-meadamente nas pensões e no siste-ma nacional de saúde. “O envelheci-mento tem um efeito tendencialmen-te negativo no crescimento económico. Portugal não tem crescimento há mais de 15 anos e, sem imigração, a popula-
ção do país está a diminuir todos os dias. Temos cada vez mais pessoas re-formadas e menos a trabalhar. A atual situação política dominante ignora de-liberadamente os problemas concretos envolvidos no envelhecimento, a come-çar pelas pensões, que já são insusten-táveis e constituem uma das origens dos dé�ces permanentes e da respe-tiva dívida”, alerta Manuel Villaver-de Cabral, cientista social e diretor do Instituto do Envelhecimento da Uni-versidade de Lisboa.
A despesa total de segurança so-cial deverá duplicar de 15% do PIB, em 2008, para 30% do PIB em 2050. Di�cilmente o sistema de pensões e de saúde e a forma como trabalhamos nos dias de hoje sobreviverão à revolu-ção social que já está em curso há vá-rias décadas. Para a diretora da Por-data, “as fórmulas do passado têm os dias contados. O sistema de seguran-ça social foi originalmente criado co-mo um contrato de solidariedade en-tre gerações: quem está na idade ati-
va desconta para as pessoas que estão nas idades mais avançadas, supondo quem contribui que, quando chegar à reforma, existirão outras pessoas que vão descontar para elas. Este modelo funcionava bem quando as pessoas vi-viam poucos anos e muita gente en-grossava a parte da população ativa. Isto acabou. É preciso repensar toda a organização social”.
Trabalho na população séniorEm vez de fazer “o mergulho em pro-fundidade necessário para encon-trar soluções”, o país vai-se distrain-do com “paliativos”: congratula-se com as reformas antecipadas, indig-na-se com os cortes nas pensões e divide-se quanto ao aumento da idade de reforma. “São mudanças pontuais, importantes, mas que só atenuam o problema, continuando a ser insu-ficientes para equilibrar o sistema. Enquanto coletivo continuamos a não discutir seriamente a questão do envelhecimento”, defende a demógra-
3 700 000
PENSIONISTAS EM PORTUGAL
nos próximos 30 a 40 anos
80,4
ANOS É A ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA
de quem nasceu em Portugal em 2014
33
REVISTA MONTEPIO
fa e autora do livro O Envelhecimento da
Sociedade Portuguesa.Num estudo sobre o envelhecimen-
to global, publicado em 2012, a ONU as-sinala que “a longevidade é um triunfo do progresso e uma das maiores con-quistas da humanidade”. E avisa que “as capacidades e o conhecimento que a população mais velha foi adquirin-do ao longo da vida estão a ser desper-diçados com muitas pessoas idosas fo-ra do mercado de trabalho e inativas”. Denuncia ainda diversos casos de dis-criminação, sobretudo contra mulhe-res idosas no acesso ao trabalho e saúde.
Maria João Valente Rosa concorda que a integração da população sénior no mercado de trabalho, em moldes diferentes dos que existem hoje, pode ser um fator-chave para contrabalan-çar a perda de pessoas em idade ativa. “A forma como pensamos o nosso ciclo de vida é cada vez mais obsoleta. Herdá-mos do passado uma vida em três fases estanques – uma inicial para formação, a vida ativa, em que só trabalhamos, e a última em que descansamos. E porque não misturar as diferentes fases? Por exemplo, diminuir o tempo diário de-dicado ao trabalho e compensá-lo com mais anos em vida ativa. Ou prolongar a formação ao longo da vida? Ainda não vejo uma discussão séria sobre isto. Es-tamos a anos-luz de encontrar projetos de vida que permitam aos mais idosos continuarem a representar uma mais--valia social para a sociedade.”
Mais saúde, menos despesaCom 40% de portugueses com mais de 60 anos em 2050, e cada vez me-nos jovens ativos, a pressão sobre o sistema nacional de saúde poderá tornar-se insuportável. Os gastos com a saúde são uma das parcelas mais pesadas dos orçamentos de Estado em todo o mundo, sendo que as pes-soas com mais de 65 anos represen-tam, de acordo com um relatório da OCDE, quase metade das despesas estatais com saúde. Em Portugal, a despesa pública com saúde tem ron-dado os 10% do PIB.
Maria João Valente RosaDemógrafa e autora da obra O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa
P&R
Estamos preparados para o
envelhecimento da população?
Em termos coletivos não estamos
a reagir da melhor maneira.
Continuamos a ouvir discursos
perigosos que tentam dar a entender
que o envelhecimento demográfi co
é uma tendência que pode ser
contrariada, nomeadamente
pelo aumento da natalidade.
Não é verdade. O envelhecimento
é um processo inelutável. Também
não é verdade que o envelhecimento
seja a grande causa dos problemas
económicos. É ainda enganador
apresentar as reformas antecipadas
como um alívio para a economia,
tanto mais que a nossa maior
riqueza são as pessoas e não
devemos prescindir delas, qualquer
que seja a sua idade. O problema da
sociedade em que vivemos é outro:
está na nossa resistência à mudança
depois do envelhecimento se ter
começado a acentuar por estarmos
agarrados a modelos do passado
que já não funcionam. Para mim,
isto é o sinal de que não estamos
ainda preparados para mudar.
O que é necessário fazer para
facilitar a integração dos idosos?
Cada um tem a obrigação de
encontrar as suas soluções
e não esperar pelos outros.
Há uma combinação de esforços
entre cidadãos e Estado. A quem
governa compete estimular a
sociedade a acolher de uma forma
positiva, e não caritativa, todas as
pessoas, independentemente da
idade que têm.
Há discriminação pela idade?
Hoje em dia, a discriminação
pelo género não é bem-vista
mas continuamos a conviver
de forma pacífi ca com uma
discriminação face à idade.
Continuamos a pensar que,
a partir de uma certa idade,
as pessoas são prescindíveis,
só porque sim. Isto causa enormes
transtornos porque o grupo que
mais está a aumentar é o das
pessoas que são menos valorizadas
do ponto de vista social. Por isso
teremos de repensar os nossos
sistemas e o modo como nos
organizamos em termos de ciclos
de vida – este é para mim o maior
desafi o do presente e do futuro.
O que podem fazer os futuros idosos
para garantir uma melhor terceira
idade?
As pessoas que hoje estão na casa
dos 50 anos não são uma réplica
ampliada dos idosos do presente.
São pessoas muito mais
tecnológicas, qualifi cadas, ativas
e habituadas a consumos mais
diversifi cados. São pessoas que
sabem que vão viver mais tempo
e é muito negativo que deixem
de ter projetos de futuro.
Do ponto de vista individual,
estas pessoas podem começar
a preparar segundas carreiras.
Os futuros idosos não podem
nunca esquecer que a vida após
os 65 anos é longa e a sua qualidade
em muito depende dos projetos
de valor social que abraçarem
nesta nova etapa.
34
1
REVISTA 789:;<=8
o meu mundoOBSERVATÓRIOlongevidade
ANÁLISE
O Envelhecimento da População Mundial
34
FONTES: INE/PORDATA; ONU/GLOBAL AGE WATCH INDEX 2015; DIVISÃO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS; OCDE
Demogra�a Economia
População mundial com mais de 60 anos – Total
Grupo etário que mais cresce: Idosos com mais de 80 anos – Mundo
2015
901 milhões = 1 em cada 8 pessoas
2030
2050
1,4 mil milhões = 1 em cada 6 pessoas
2,1 mil milhões = 1 em cada 5 pessoas(22% da população mundial)
Índice de dependência de idosos – número de indivíduos com 65 anos
ou mais anos por 100 pessoas em idade ativa (entre 15 e 64 anos)
Portugal
Portugal
2000 24
201430,7
205054
Gastos do PIB com envelhecimento em pensões e saúde
2015
20%
2050
Entre 24 a 30%(projeção)
2015125 milhões
2030202 milhões
2050434 milhões
Divisão por grupos etários – Mundo
2010
0-14 anos – 27%
15-64 – 62%
65+ – 11%
2050
0-14 anos – 18%
15-64 – 60%
65+ – 22%
1990 95 mil
2015451 mil
20503,7 milhões
Centenários – Mundo
Numa viagem no tempo, a 2050, ficamos a conhecer os principais indicadores demográficos e económicos que vão
traçar novos contornos ao mundo. Os desafios que a nova paisagem sugere são muitos, e cabe a todos, desde governos
a agentes económicos e cidadãos, encontrar oportunidades no novo mapa da população mundial.
35
REVISTA >?@ABCD?
AMBIENTE
O ano de
2050 é
considerado,
pelos climatologistas,
um momento-chave.
Todas as medidas
adotadas hoje e no futuro
próximo, seja na redução
das emissões de carbono
seja na transição do uso
de combustíveis fósseis
para energias 100%
renováveis, produzirão
efeitos, bons ou
prejudiciais, a partir
de meados do século.
“É um momento de
viragem nas projeções
climáticas”, assegura
o meteorologista norte-
-americano Eric Holthaus
na sua conta de Twitter.
“Dependendo da
quantidade de gases
causadores do efeito
de estufa emitida para
a atmosfera, o mundo
pode vir a deparar-se
com uma nova realidade
climática algures entre
2047 e 2069”, explica
o jornalista Andrew
Freedman no site
especializado Climate
Central, citando um
estudo da Springer
Nature. As estimativas
indicam que mais
de 5 mil milhões
de pessoas estarão
expostas a fenómenos
meteorológicos extremos
e a novos recordes
históricos
de temperaturas.
Mais de 200 milhões
de pessoas serão
forçadas a abandonar
as suas casas devido
às alterações climáticas.
Em 2050, a população
mundial chegará aos
9 mil milhões de pessoas
e, pela primeira vez,
haverá menos crianças
até aos 5 anos do que
idosos.
Se por um lado será este
grupo etário o que mais
aumentará, por outro
será também aquele
que, em virtude da sua
vulnerabilidade às
ondas de calor, estará
particularmente em risco
devido à combinação
entre aquecimento
global e crescimento
populacional.
Segundo a ONU, o mundo
vai produzir mais lixo
e poluição e precisará
de mais alimentos, água
e energia, mas terá,
em teoria, menos
pessoas disponíveis
para trabalhar, o que
poderá colocar em causa
a sustentabilidade
ambiental e a segurança
alimentar.
Planeta em sufoco
montepio.orgSAIBA MAIS
Soluções Montepio para a Saúde e Proteção Social
RESIDÊNCIAS MONTEPIO
A Residências Montepio – – Serviços de Saúde SA, em atividade há mais de dez anos, inclui sete unidades residenciais geriátricas, localizadas de norte a sul do país e com capacidade para 709 residentes. Os centros destinam-se a acolher pessoas por um período de tempo determinado, em situações de pós-operatório e recuperação, ou definitivamente. Esta empresa do Grupo Montepio oferece ainda serviços de Apoio Domiciliário (refeições, higiene pessoal, acompanhamento) e de Tele-Assistência (apoio de emergência durante 24 horas). Através dos cartões Residências Montepio, o Cartão VITALidade+ e o CartãoTele-VITALidade, poderá aceder a descontos nas Residências Montepio e em outros serviços de cuidados domiciliários.
SOLUÇÕES MUTUALISTAS
A Associação Mutualista Montepio está focada na gestão de soluções que complementam o sistema público de Segurança Social, ajudando a planear o futuro e a assegurar o presente. Com as Soluções Mutualistas de Poupança pode valorizar as suas poupanças, obter complementos de reforma ou reforçar o seu capital. Através das Soluções Mutualistas de Proteção pode aceder a modalidades que vão da cobertura dos riscos de morte à invalidez e sobrevivência/velhice. São 14 soluções mutualistas adaptadas à sua medida, às suas necessidades e às da sua família.
“A saúde e a dependência são outro problema crescente. O sistema de cui-dados precisa de ser revisto em pro-fundidade, sobretudo num país em que os dois grupos etários que atual-mente mais aumentam em percenta-gem são os octogenários e os nonage-nários”, explica Villaverde Cabral.
Numa entrevista à agência Lusa, João Gorjão Clara, coordenador da Unidade de Geriatria da Universi-dade de Medicina de Lisboa, defende que Portugal, face ao envelhecimen-to crescente da população, tem de im-plementar um sistema de assistência médica própria para os mais velhos, tal como criou serviços de pediatria para as crianças.
A Noruega fez uma reforma pro-funda do sistema de saúde público e pode ter encontrado a fórmula mágica
para a redução das despesas do Esta-do com este setor: adiar os problemas de saúde na velhice. Segundo um re-latório da Fundação Gulbenkian so-bre o futuro para a saúde, os portugue-ses vivem apenas 6,5 anos saudáveis após os 65 anos, enquanto na Norue-ga o mesmo grupo etário vive quase 16 anos sem problemas de saúde.
“Hoje, a saúde depende em boa medida daquilo que fizermos com ela. Daí os apelos – por uma vez, fun-damentados – à prática precoce do envelhecimento ativo, cujo objetivo é sempre o mesmo: mais vida com mais saúde. No entanto, com a rapidez que o fenómeno do envelhecimento adqui-riu em Portugal, o Estado português tem no mínimo duas ou três décadas de atraso na promoção do envelheci-mento ativo”, nota Villaverde Cabral.
36
1
REVISTA EFGHIJKF
o meu mundoPERFIL
LUÍS ARAÚJO
DE PESSOAS E PARA PESSOASDESCONTRAÍDO, SEGURO, CARISMÁTICO. O NOVO PRESIDENTE DO TURISMO DE PORTUGAL ACREDITA QUE A INOVAÇÃO, O EMPREENDEDORISMO E A CRIAÇÃO DE SINERGIAS ESTRATÉGICAS TORNARÃO PORTUGAL UM DESTINO CADA VEZ MAIS COMPETITIVO
POR SUSANA LIMAFOTOGRAFIA ARTUR
“Quem não muda vira poste.” Para Luís Araújo, este ditado brasileiro faz todo o sentido. “Temos de estar em constante mudança.” E é assim que tem vivido. “A cada dois anos tento fazer qualquer coisa diferente”, conta o presidente do Turismo de Portugal.Sempre soube que queria seguir Direito. Por isso, aos 18 anos, deixou a ilha da Madeira e rumou à capital. Mas quando começou a estagiar a visão romântica que tinha do Direito caiu por terra. E nem a in�uência de um brilhante advogado madeirense – “com quem aprendi muito” – nem seis meses em Bruxelas, na Comissão Europeia, lhe devolveram o entu-siasmo pela vida de jurista. “Quando regressei à Madeira, decidi que não queria exercer e comecei à procura de trabalho noutras áreas.”
37
REVISTA LNOPQRSN
HOBBIES
Luís Araújo sempre foi o
contestatário da família.
Nascido numa família de
médicos, cedo decidiu
que queria seguir Direito.
Fazia sentido. Afinal,
nunca lhe faltavam
argumentos. Mas, em
vésperas de entrar para
a faculdade, anunciou
que iria cursar Belas
Artes. “O meu pai disse
que achava ótimo, mas
que eu deveria fazer uma
análise interior”. Acabou
por seguir Direito, mas
as artes nunca ficaram
esquecidas. O presidente
do Turismo de Portugal
faz parte dos Urban
Sketchers – grupo de
pessoas que gosta de
desenhar e que regista
locais e pormenores do
quotidiano em diários
gráficos. “Não estranhem
se me encontrarem
sentado no chão com
uma caixa de aguarelas
a desenhar.”
O artista
dois em dois meses ia à América Lati-na. Luís Araújo fala �uentemente es-panhol, graças à mãe. “Ela nunca falou português connosco”, relata.
Um telefonema voltaria a desa-fiá-lo para um cargo na Administra-ção Pública. Em fevereiro deste ano, Ana Mendes Godinho, secretária de estado do Turismo, convida-o para a presidência do Turismo de Portugal. “Disse-lhe que ia ser complicado acei-tar. A�nal, eu vinha do setor privado e não me sentia preparado”, conta. Mas o convite era irresistível, pelas valências do próprio Turismo e pela equipa incrí-vel com que iria trabalhar. “Eu era um pouco crítico deste setor. Tinha chega-do a altura de deixar de ser jogador de bancada e entrar no jogo.”
Os desafios são muitos, mas Luís Araújo tem a estratégia bem delinea-da: “A imagem de Portugal tem de ser diferente. Tem de ir ao encontro do
que o consumidor quer”. Para isso, há que apostar na imaginação e na inova-ção, como motores de empreendedoris-mo. E exempli�ca: “Pela primeira vez, Turismo, Património e Cultura estão a dialogar muito abertamente, com mui-tos projetos em conjunto. Acho que é isso que nos vai tornar competitivos”.
Para o presidente do Turismo de Por-tugal, o país tem características únicas. Mesmo assim, “é sempre bom ir lá fora ver o que os outros andam a fazer”, re-lembra. Aos 46 anos, continua a viajar bastante, mas hoje privilegia as viagens “menos exigentes”. “Gosto de ir, estar e seguir o �uxo das coisas, sem agenda.” Mas mesmo quando isso não é possível – em trabalho, por exemplo – consegue aproveitar bastante: “Só o estar em con-tacto com pessoas novas, com outras maneiras de pensar é muito enrique-cedor”. A�nal, o “Turismo é o setor das pessoas e para as pessoas”.
Nascido em Espanha, de pai madeiren-se e mãe espanhola, Luís Araújo sem-pre gostou de viajar, mas estava longe de imaginar que a sua carreira teria o Turismo no horizonte. Os primeiros passos foram dados no Grupo Pestana, o maior grupo português do setor. “Costumo dizer que foi a contratação mais longa da história do Grupo”, rela-ta sorrindo. As primeiras duas conver-sas foram muito formais, mas na últi-ma, com Dionísio Pestana, presidente do Grupo, foi diferente. “Perguntou--me tudo, menos coisas ligadas à mi-nha área: para onde ia de férias, o que gostava de fazer nos tempos livres…”
Acabou por ficar cinco anos no Funchal, até 2001, mas com a expan-são do Grupo Pestana no Brasil sen-tiu ser altura de mais uma mudança. “O Brasil é daqueles países em que es-tar a trabalhar é como estar de férias e vice-versa.” Durante quatro anos, se-ria responsável pelos hotéis do Nordes-te brasileiro, morando primeiro no Rio de Janeiro e mais tarde em Salvador.
Um convite inesperado, de um dos seus melhores amigos de infân-cia, obrigá-lo-ia a um regresso súbito. Bernardo Trindade, entretanto no-meado secretário de estado do Turis-mo, queria Luís Araújo como chefe de gabinete. “Era impossível dizer não”, conta. Foram dois anos muito exigen-tes, mas o balanço é positivo: “Foi uma experiência muito interessante num ambiente de trabalho fantástico”. Luís Araújo destaca a criação do Turismo de Portugal, que juntou vários organis-mos que estavam sob diferentes tutelas.
Regressaria ao Grupo Pestana em 2007. Depois de tempos de grande agita-ção vivia agora num ritmo mais estável. Tinha a seu cargo uma “área apaixonan-te”: serviços centrais, recursos humanos e marketing. Mas a sua mente inquieta vagueava já por outras paragens.
Nos anos em que esteve no Bra-sil abrira um hotel em Buenos Aires e começava agora a pensar na expan-são do Grupo Pestana para o Uruguai, Colômbia e a entrada em Cuba. Duran-te seis anos viveu em Lisboa, mas de
38
1
REVISTA MONTEPIO
o meu mundoCRÓNICA
Num soneto imortal, Camões começa assim: “Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades/Muda-se o ser, muda-se a con ança:/
Todo o mundo é composto de mudança/tomando sempre novas qualidades”
Todos nós queremos segurar o tempo porque possui-lo é atingir a imortalidade – numa ucro-nia perfeita onde tudo está certo –, dominado movimento de mudança que nos empurra para o tempo que ninguém deseja, ao encontro com o “esplendor da Luz perpétua”. Porém, como sublinha Kaufmann, o tempo é a dimensão da mudança. É esta tomada de consciência, de que o tempo é um movimento contínuo que “muda o ser”, que “muda a con� ança”, acabando por nos surpreender pelo futuro que está a chegar mas não conhecemos. Ter medo da mudança é, de certo modo, recear o movimento inexorá-vel do tempo. Porque é desagregador de antigas memórias, lugares de afeição que acomodam a con� ança construída pelas rotinas do tempo vivido.
Um lugar comum muito usado a� rma que “no meu tempo é que era bom”. De que tem-po se tratará? E o que seria bom? O clima? O amor? A comida?
Existe algo de in� nito, sem possibilidade de datação, neste “meu tempo”, e tenho dúvidas,
que se interpelarmos quem faz esta a� rmação, terá di� culdade em enumerar o que era “bom”. Porque, na verdade, essa ideia é o reconheci-mento que a mudança nos transforma interna e externamente, desconhecendo os novos sinais do tempo e, em desespero, procurando agarrar a imutabilidade do passado como uma âncora que se opõe à mudança.
Nietzsche vai mais longe do que Camões ao constatar o perpétuo movimento gerado pelo correr do tempo. Coloca-nos nessa luta entre o “bem”, ou seja o conhecido, o vivido, aquilo que aceitámos como nossa pertença e o que já rejeitámos, e o “mal”, que é a mudança, o re-ceio perante as trevas que fecham o desco-nhecido que, apenas, descobriremos amanhã. Neste singular momento em que somos actores da História e testemunhamos uma das maiores revoluções da vida da Humanidade – com a in-vasão tecnológica a transformar rapidamente os nossos quotidianos, acelerando o tempo, con-traindo o espaço – vamos tomando “novas qua-lidades” a uma velocidade inimaginável para a gestão da memória, ou seja, para a recordação de que “no meu tempo é que era bom”.
Mudar ganha esta dimensão multicomple-xa porque entra no que de mais substantivo é o psicodrama de cada ser humano. A necessi-dade de aceitar este “mundo composto de mu-dança”, o desejo de segurar a imutabilidade do mundo já vivido, a fome de agarrar o tempo que se escoa pelo calendário, pelas horas, no surgi-mento dos cabelos brancos, na saudade.
Estamos num ponto do tempo que é parado-xal. Cada vez mais perto de todos os cantos do mundo, de todos os milhões de seres que são nossos contemporâneos, graças à Internet, e cada vez mais sós, mais silenciosos, em fren-te a um mundo virtual que nos é oferecido pelo ecrã do nosso computador. Porém, não há co-mo fugir a esta vibrante mudança que acelera a vida até ao instante. Até exactamente ao ins-tante em que termina o tempo e descansamos em paz, imutáveis, entre o “esplendor da Luz perpétua”.
NOTA: O autor continua a escrever segundo
a chamada norma antiga.
FRANCISCO MOITA FLORES
O TEMPO E A MUDANÇA
CAMINHOS A PERCORRER EM MOBILIDADE, URBANISMO,
SOLIDARIEDADE
A MINHA CIDADE
página 46
SOCIEDADEAs filas de trânsito ensombram as nossas cidades, afetando a saúde e a economia. Mas há novas estratégias de mobilidade para Lisboa e Porto
página 40
AMBIENTEA candidatura ao prémo Capital Verde Europeia está a mudar Guimarães. Conheça a estratégia para colocar a cidade no topo das mais sustentáveis do Velho Continente
2
40
REVISTA MONTEPIO
a minha cidadeREPORTAGEM
AMBIENTE
GUIMARÃES VERDE DE ORGULHOCONHECIDA PELO VASTO PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL, MAS TAMBÉM PELA UNIÃO DAS SUAS GENTES, GUIMARÃES QUER AGORA SER A MAIS SUSTENTÁVEL CIDADE PORTUGUESA. SAIBA O QUE ESTÁ A MUDAR NA CIDADE ONDE, DIZ-SE, NASCEU PORTUGAL
POR CARLOS MARTINHOFOTOGRAFIA CM GUIMARÃES
ILUSTRAÇÃO VERA MOTA
41
REVISTA MONTEPIO
comunidade: o investimento no co-mércio local, a redução do desperdí-cio e a necessidade de explicar aos ci-dadãos como funcionam os prazos de validade dos alimentos.
“A transição tem sido boa, mas ain-da existem a�nações e ajustes constan-tes, considerando que é o sistema mais justo e o mais barato para o contribuin-te”, garante Amadeu Portilha. Para já, o PAYT está disponível apenas no cen-tro histórico, apesar dos pedidos para que seja implementado noutras zonas do concelho. “É preciso mantê-lo no ca-minho da credibilização”, argumenta Amadeu Portilha.
O que está a mudar?A candidatura de Guimarães a Capi-tal Verde Europeia é um passo lógico
Desde abril que os residentes e comerciantes do centro histórico de Guimarães sentem a sua fatura da água mais leve. São os primeiros cidadãos do concelho a pagar apenas pelo lixo que produzem, uma consequência do lançamento do PAYT (pay-as-you-throw), um sistema de monitorização que elimina a tarifa de resíduos indexada ao consumo – e à fatura – da água.“Até agora, os resultados superaram as expetativas em termos de redução de resíduos indiferenciados e de aumento de resíduos valorizáveis, entre papel, embalagens e vidro”, resume Amadeu Portilha, vice-presidente da Câmara de Guimarães.
O sistema PAYT é uma das várias me-didas que a autarquia vimaranense implementou nos últimos 18 meses para melhorar a sustentabilidade da cidade. E desta vez os cidadãos até têm uma desculpa para aderirem à moda ecológica, uma vez que Guimarães vai candidatar-se, no próximo ano, ao galardão de Capital Verde Europeia. Se a candidatura for bem-sucedida, a cidade minhota poderá ser considera-da a mais “verde” da Europa dentro de três anos, em 2020. Até lá, muita água vai passar por debaixo das pontes de Guimarães – e de preferência limpa. O sistema PAYT, há muito utilizado na América do Norte, Ásia e vários países europeus, é uma das principais mudanças de mentalidade que a autar-quia está a introduzir na cidade.
“Do ponto de vista ambiental, este é de longe o sistema mais justo da ges-tão de resíduos. É o princípio do polui-dor-pagador”, explica o presidente da associação ambientalista Zero, Fran-cisco Ferreira.
“É um sistema que envolve a sensi-bilização da comunidade e, nesta pri-meira fase, a monitorização. E fomenta a produção de menos resíduos, a sua reciclagem”, continua o responsável, que alerta que o sistema terá de ser valorizado com outras mudanças na
> MOBILIZAÇÃO
Em Guimarães,
toda a
comunidade
está empenhada
em contribuir
para o sucesso
da iniciativa: é o
nome da cidade
que está em causa
na forma como a cidade se foi abrin-do ao mundo desde que, em 2001, o seu centro histórico foi classi�cado pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade. Antes, Guimarães já tomara uma das mais importantes decisões urbanísticas das últimas décadas: a de reabilitar o seu centro histórico, cujos edifícios datam da Idade Média até ao século XIX. “O processo de reconstrução foi fantástico”, salienta António Cunha, reitor da Universidade do Minho e parceiro de Guimarães no projeto Capital Verde Europeia. “Existe um envolvimento total da população nos projetos que a cidade decide abraçar. Foi assim em 2012, na Capital Eu-ropeia da Cultura, e é assim agora”, continua o responsável.
2
42
a minha cidadeREPORTAGEMambiente
REVISTA MONTEPIO
Há um ano que
Guimarães comunicou
a intenção de se
candidatar a Capital
Verde Europeia.
“A cidade tem um
histórico de preparação
de candidaturas.
É um bom embalo”,
explica Francisco
Ferreira. Almada e Loulé
são outras cidades com
estratégias “verdes”.
Almada tem investido
em mobilidade
sustentável, modos
de transporte suaves,
como a bicicleta,
e biodiversidade.
Em Loulé, a estratégia
incide nas áreas
da energia, água, modos
suaves, mobilidade
sustentável e gestão
de resíduos. No entanto,
a grande infraestrutura
de sustentabilidade
urbana dos últimos
anos, em Portugal,
situa-se no Grande
Porto. “O Metro do Porto
mudou a forma como
as pessoas circulam
e utilizam o automóvel”,
admite o presidente
da Associação Zero.
INVESTIMENTO
As autarquias mais verdes
Desde que
foi lançado,
o prémio Capital
Verde Europeia
já teve nove
galardoados.
Será que é desta
que se falará
português na
sustentabilidade
urbana europeia?
2010
Suécia
Estocolmo
2011
ALEMANHA
Hamburgo
2012
ESPANHA
Vitoria-Gasteiz
2013
FRANÇA
Nantes
2014
DINAMARCA
Copenhaga
2015
INGLATERRA
Bristol
2016
ESLOVÁQUIA
Liubliana
2017
ALEMANHA
Essen
2018
HOLANDA
Nijmegen
“A cidade fez marca na reabilitação urbana, como bem mostra a excelên-cia do seu centro histórico”, corrobo-ra o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes, nascido na vizinha Braga.
Os números falam por si. Ainda na “ressaca” da Capital Europeia da Cul-tura, Guimarães candidatou-se a Ci-dade Europeia do Desporto e, entre nove rivais, foi eleita a melhor. “Em dois anos realizámos mais de 1 500 eventos, imprimindo uma dinâmica exclusiva na região”, garante Ama-deu Portilha. Poucos meses depois de concluída esta fase movimentada na cidade, Guimarães estava a anunciar a candidatura a um dos mais difíceis
tas e papa-chicletes em todo o centro histórico, para evitar que as pontas de cigarros e pastilhas sejam encon-tradas no chão; a iluminação LED é uma realidade por todo o concelho; viaturas elétricas substituíram a fro-ta municipal e foi criada uma plata-forma de carpooling. Foram ainda re-quali�cadas as linhas de água do rio Ave, Selho e da ribeira de Couros e a autarquia avançou �nalmente para a requali�cação �orestal da montanha da Penha, há muito pensada. Parale-lamente, começou a ser construído um dos primeiros edifícios autossus-tentáveis de referência, a Academia da Ginástica, foi alargado o número de zonas 30 e áreas de pedonalização e criados corredores verdes em toda a área do concelho e freguesias.
Uma cidade especialMuito deste trabalho de campo está a ser desenvolvido em parceria com a Universidade do Minho, que tem perto de 100 investigadores a full ou part time no projeto. Segundo António Cunha, sete das 11 unidades orgânicas da universidade estão envolvidas nos trabalhos de campo. “Desde a carateri-zação dos cursos de água, planeamen-to urbanístico ou indicadores sócioam-bientais ou económicos. São técnicos, investigadores ou engenheiros que co-laboram com o projeto”, explica o rei-tor da Universidade do Minho.
prémios europeus de gestão urbana. “O processo de candidatura a Capital Verde Europeia é estratégico, permi-tindo que fossem executados projetos e investimentos que introduzem mais qualidade de vida, uma maior cons-ciencialização ambiental e um desen-volvimento mais sustentável”, garante o vice vimaranense.
Guimarães é a quarta cidade por-tuguesa a participar no prémio. Lisboa, Porto e Cascais já concorre-ram em anos anteriores, sem sucesso. “O escrutínio é muito exigente”, garan-te José Mendes. “Estar nos �nalistas nomeados seria já uma grande honra e reconhecimento para Portugal.”
A cidade está consciente da exi-gência do processo. Assim, vai efe-tivar a sua candidatura apenas em 2017, depois de três anos de trabalho no terreno. Muitas das ações, porém, já são visíveis: existem agora ecopon-
43
REVISTA MONTEPIO
José MendesSecretário de Estado Adjunto e do Ambiente
P&R
Que ação ambiental
mais o surpreendeu
em Guimarães?
O percurso de
sustentabilidade de
Guimarães vem já dos
anos 80 do século passado.
A cidade fez marca na
reabilitação urbana, como
bem mostra a excelência
do seu centro histórico,
na atração do ensino
superior e investigação e
na construção do Ave Park.
Nos tempos mais recentes,
reconheço grande mérito
ao projeto de recuperação
da zona de Couros, o qual
alia a parte ambiental à
reabilitação do edifi cado,
à preservação da memória
de uma intensa atividade
em torno dos cortumes e,
não menos importante,
à instalação de valências
que projetam uma outra
modernidade, como é o caso
do centro de Ciência Viva,
do Instituto de Design
ou do polo da Universidade
das Nações Unidas.
A Universidade do Minho é
parceira do projeto. Qual o
papel das universidades na
investigação de inovações
que possam tornar uma
cidade mais sustentável?
A cidade é por excelência
o espaço de teste, incubação
e desenvolvimento de
soluções inovadoras
tributárias de uma
maior sustentabilidade.
Esta constatação é ainda
mais pertinente quando
se trata de universidades
públicas como a
Universidade do Minho,
que são fi nanciadas pelo
dinheiro do contribuinte e,
portanto, subscrevem um
contrato implícito
de devolver à sociedade,
em forma de conhecimento,
o investimento de que
benefi ciam.
Acredita que esta
candidatura poderá
inspirar outras cidades a
desenvolverem estratégias
e políticas ambientais
duradouras?
Sem dúvida. Aliás, o objetivo
central do programa de
Capitais Verdes Europeias
é a criação de referências
que possam demonstrar
boas práticas e infl uenciar
outras cidades para
a sua replicação. Espero,
assim, que outras cidades
portuguesas possam trilhar
caminhos semelhantes,
sendo que aqui é de realçar
o facto de Guimarães ter
estabelecido um objetivo
a prazo e ter colocado
no terreno uma trajetória
de sustentabilidade que é,
ela própria, mais importante
que uma eventual obtenção
do troféu.
Um dos pontos altos desta parce-ria é a educação dos mais jovens, área a que a universidade presta especial atenção. “A sensibilização está a ser feita nas escolas do ensino básico e vai além daquilo que é normalmente explicado”, con� rma António Cunha.
O que nos leva de volta a Guima-rães e aos seus cidadãos. Todos os en-trevistados garantem que a cidade é es-pecial e a forma como os seus residen-tes lutam pelo bem comum não tem paralelo no resto do país. “Decidimos que uma candidatura desta natureza não se pode resumir aos gabinetes da Câmara Municipal. Tinha de ser um projeto de todos, para todos. Com as es-colas, associações, empresas, entidades públicas e privadas e cidadãos”, garan-te Amadeu Portilha.
O reitor da Universidade do Minho concorda e adianta que este é um pro-jeto multidisciplinar que tem o “envol-vimento direto de toda a população”.
> HISTÓRIA
Guimarães
espera ser
a primeira
autarquia
portuguesa
na lista das
Capitais Verdes
Europeias,
trazendo a
inovação na
sustentabilidade
para o Sul da
Europa
2
44
REVISTA MONTEPIO
a minha cidadeREPORTAGEMambiente
“Estudantes, empresas e cidadãos es-tão empenhados em todos os projetos que a cidade decide abraçar”, revela. O exemplo de Guimarães pode ser utilizado por outras cidades portugue-
sas, no futuro, mas o caminho terá de ser diferente. “Cada cidade [que parti-cipa neste prémio] tem uma lógica e o caminho não é necessariamen-te igual para atingir os �ns. A cultu-ra de Guimarães é muito diferente, outras cidades terão fatores diferen-ciadores”, argumenta.
Outra das conclusões destes 18 meses de trabalho assegura que o ca-
minho para a sustentabilidade urba-na não se faz de um ano para o outro. Segundo Francisco Ferreira, da Zero, este prémio tem o condão de mudar alguns dos aspetos estruturantes das cidades que concorrem num espaço de cinco anos. Guimarães não será diferente. “Há aspetos decisivos na avaliação, como a mobilidade, espaços públicos, participação das pessoas no
Academia de Ginástica
Laboratório da Paisagem
Parque da Cidade
Parque das Hortas
10 Parque da Penha
9
8
7
6
10
47
9
8
65
3
2
1
Universidade do Minho 5
Centro Histórico
Estádio D. Afonso Henriques
Castelo de Guimarães
Montanha da Penha 4
3
2
1
f Sistema PAYT
f Iluminação pública LED
f Ecovia no espaço urbano
com ligação às vilas
f Viaturas elétricas
f Laboratório da Paisagem
f Ecopontas e Papa-Chicletes
f Requalificação Florestal
da Montanha da Penha
f Bacias de retenção
f Edifício
autossustentável
(Academia
de Ginástica)
f Carpooling
f Monitorização
da qualidade
do ar
f Plano Municipal
de Mobilidade Urbana
Sustentável
f Plano Municipal de Resíduos
f Estratégia Municipal para
Adaptação às Alterações Climáticas
f Alargamento de zonas 30
e áreas de pedonalização
f Programa de Educação Ambiental
PEGADAS
f Requalificação de linhas de água
f Espaços e corredores verdes
O que está a mudar em Guimarães?URBANISMO
45
dia a dia, infraestruturas mais sus-tentáveis. Muitas destas coisas de-moram décadas a mudar”, afirma. E dá como exemplo a construção do Metro do Porto, um projeto que de-morou vários anos a ser construído. “O Metro do Porto mudou a forma como as pessoas circulam e utilizam o automóvel”, revelou. “Guimarães é uma cidade pequena, tem um histo-rial de ações de sustentabilidade, um prazo grande para os projetos decor-rerem e integra os cidadãos no mo-vimento. E pode rapidamente fazer correções ao plano”, avança.
Tudo isto contribui para o su-cesso da candidatura, a curto pra-
algo mais abrangente e complexo, que engloba a criação de estraté-gias para diminuir o tráfego auto-móvel mas também opções como as ecovias, intermodalidade, transpor-tes públicos mais eficazes, melho-res acessibilidades, zonas 30 e mais áreas pedonais”, conclui o autarca. Solucionado o puzzle da mobilida-de, Guimarães ficará mais forte pa-ra garantir o seu objetivo para 2020: ser Capital Verde Europeia.
zo, mas também para uma Guima-rães mais saudável para as próximas gerações. “As cidades de média di-mensão, como Guimarães, são mais representativas das cidades euro-peias, pelo que as soluções são mais facilmente replicáveis”, garante Amadeu Portilha. Por agora, exis-te apenas uma grande preocupação: a mobilidade na cidade. “É um pro-blema que afeta a qualidade de vida dos cidadãos. Agir na mobilidade é
> SAÚDE
Mais do que
levar o nome
de Guimarães
a toda a Europa,
o projeto pretende
contribuir para
uma cidade mais
saudável para
as próximas
gerações
PUB
2
46
a minha cidadeMOBILIDADE
REVISTA MONTEPIO
SOCIEDADE
PRÓXIMA ESTAÇÃO: TRANSPORTE PÚBLICOAS ÁREAS METROPOLITANAS DO PORTO E DE LISBOA APOSTAM NA PROMOÇÃO DOS TRANSPORTES PÚBLICOS COMO FORMA DE RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS DE MOBILIDADE. A INTERMODALIDADE E A SUSTENTABILIDADE ESTÃO NO TOPO DAS PREOCUPAÇÕES DAS DUAS MAIORES ÁREAS METROPOLITANAS DO PAÍS
POR CARLA JESUSFOTOGRAFIA ARTUR, MIGUEL NOGUEIRA/CMP
Georgina Costa já pensou procurar casa no centro do Porto. Trabalha perto do Hospital de São João e todos os dias faz a viagem entre a Invicta e Santo Tirso. Na sua história foi o coração que ganhou à razão e prefere fazer este percurso todos os dias a � car longe do namorado. “Se não apanhar trânsito demoro cerca de meia hora porque venho sempre por autoestrada. Se apanhar trânsito posso demorar uma hora.” Como tem um horário � exível, Georgina gere o dia a dia em função do trânsito.
“Quando saio de casa e vejo que vou chegar à autoestrada por volta das 9 horas, opto por parar numa pastelaria para tomar o pequeno-almoço e chegar um pouco mais tarde. Entre as 9h00 e as 9h30 sei que vou apanhar trân-sito e não vale a pena.” Já fez contas: ir de carro para o trabalho, em vez dos transportes públicos, custa-lhe mais 25 euros por semana mas reti-ra-lhe 15 minutos de trânsito por dia. O carro dá-lhe conforto na orienta-ção do tempo porque não teria forma de se deslocar para o trabalho sem ter
de apanhar, no mínimo, dois transpor-tes diferentes – a situação ideal seria a construção de uma estação de metro em Santo Tirso.
Todos os dias circulam 2 mil autocarros por hora na cidade do Porto. Ainda que não haja números exatos atualizados da quantidade de pessoas que entram e saem do Por-to todos os dias, os principais eixos de mobilidade estão identificados. “A ponte do Infante é um dos eixos óbvios de entrada na cidade. As res-tantes pontes são complementares,
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REVISTA MONTEPIO
tes públicos, por isso temos de apos-tar numa rede bem articulada, bem comunicada, e�ciente e e�caz. Uma rede em que as pessoas se sintam se-guras de que o autocarro chega a ho-ras ou de que há ligações com o metro”, defende a vereadora, que acredita que a medida mais importante para me-lhorar a qualidade de vida dos utentes é a �abilidade, ou seja, a certeza de que os transportes irão cumprir os horários e que serão mais rápidos do que os au-tomóveis individuais.
Uma das metas a que o execu-tivo se propõe passa pela susten-tabilidade: “A STCP tem 50% da frota a funcionar a gás natural. A meta é aumentar esta percen-tagem. Os transportes, a qualida-de do serviço e o investimento nes-te setor terá essa obrigatoriedade. Muitas vezes esquecemo-nos de fa-lar no pedonal. Também é um mo-do suave que se deve incentivar, não só com ruas pedonais mas também com passeios mais largos, elimina-ção de barreiras e melhores aces-sibilidades”, argumenta. Nos últi-mos dois anos o Porto “pedonalizou” algumas áreas da cidade, como a Rua das Flores ou a dos Caldeireiros. “Achamos que é uma forma das pes-soas circularem na cidade, criando
PROJETO
Terminal Intermodal de Campanhã
“Oterminal
é um
grande
ensaio e um anseio
muito antigo da cidade
do Porto. Até agora
ainda não tinha sido
possível avançar para
essa concretização”,
refere a vereadora da
Mobilidade da Câmara
Municipal do Porto.
O projeto, que está
em fase de conceção,
pretende assegurar
a facilidade de
transferência entre
os diferentes modos
de transporte. Este
Interface de Campanhã
é um dos principais
nós da rede de
transporte público
na cidade do Porto
e deverá funcionar
em articulação com
o Interface da Casa
da Música e o futuro
Interface do Hospital
de São João.
“É uma infraestrutura
importante que
será impactante
na articulação
da intermodalidade.
Este terminal
é absolutamente
crucial para resolver
os problemas crónicos
da entrada na cidade.
Queremos fomentar
o transporte público
de qualidade”,
acrescenta Cristina
Pimentel.
Área Metropolitana do Porto
1 900 Km2
1 700 000POPULAÇÃO RESIDENTE
2 000AUTOCARROS
que entram por hora na cidade
17MUNICÍPIOS
Arouca, Espinho, Gondomar, Maia,
Matosinhos, Oliveira de Azeméis,
Paredes, Porto, Póvoa do Varzim,
Santa Maria da Feira, Santo Tirso,
São João da Madeira, Trofa,
Vale de Cambra, Valongo,
Vila do Conde, Vila Nova de Gaia
uma nova dinâmica decorrente da pedonalização. As ruas alteram-se, há mais comércio e restauração e a cidade ganha”, acrescenta Cristina Pimentel. A morar em Vila Nova de Gaia e a trabalhar na Boavista, Cari-na Alves demora todos os dias cer-ca de 45 minutos a chegar ao local de trabalho. Há nove anos que ouve falar de uma extensão da linha do metro que lhe permitiria passar a utilizar os transportes públicos em todas as deslocações diárias, mas is-so ainda não aconteceu. Assim, todos os dias faz uso do carro para levar a �lha ao infantário e só a seguir con-segue apanhar o metro, que é “a for-ma mais rápida e económica de che-gar ao trabalho”.
> CRISTINA PIMENTEL integra
o pelouro da Mobilidade no executivo
da Câmara Municipal do Porto
mas servem sobretudo de atravessa-mento. Todo o plano rodoviário está concebido nesse sentido. A ponte do Freixo e a da Arrábida são eixos de contorno. A par da ponte do Infan-te, a Avenida AEP é outro dos pontos críticos de entrada na cidade. Os nós de saída da Avenida Fernão Maga-lhães e da zona do Campo Alegre são também complexos”, refere Cristina Pimentel, vereadora da Mobilidade da Câmara Municipal do Porto.
Cristina Pimentel acredita que não será fácil desenraizar o hábito as-sociado ao transporte individual, mas acredita que é nos transportes públi-cos que está a resolução de muitos dos problemas de mobilidade do Porto. “A pedra-de-toque são os transpor-
2
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REVISTA MONTEPIO
a minha cidadeMOBILIDADEsociedade
> DEMÉTRIO ALVES, primeiro secretário
metropolitano da AML.
“Como tenho de atravessar a ponte da Arrábida não compensa ir de car-ro, quer em termos de tempo, quer de desgaste, porque ao nível dos cus-tos não faz grande diferença”, a�rma. Não fosse o valor elevado das casas, Carina gostaria de morar “um bocadi-nho mais perto do trabalho, para não ter de pegar no carro e poder andar apenas de metro”. E deixa uma suges-tão de melhoria do transporte público da sua eleição: “Devia haver maior fre-quência no metro face à quantidade de utilizadores. Em hora de ponta a fre-quência é de quatro em quatro minu-tos, mas chega sempre muito cheio.”
Um ano, uma colcha de crochetAntes de mudar de casa, para Oeiras, Susana Neffe utilizava todos os dias o comboio da linha de Sintra para se deslocar até Entrecampos. Os 45 mi-nutos de viagem entre a estação de Rio de Mouro e o centro de Lisboa de-corriam entre livros, sudoku, palavras cruzadas e a fazer malha. Ao longo de quase um ano de viagens, recorda, es-tava prestes a terminar uma colcha em crochet, das grandes. Entretanto, comprou uma casa na zona de Oei-ras e mudou de trajeto e de ocupação do tempo de viagem. “Neste momento estou completamente apaixonada pe-la paisagem que aproveito para obser-var, sobretudo entre Oeiras e Alcânta-ra-Mar. Depois, entre Alcântara-Terra e Entrecampos aproveito para ler.” Todos os dias, Susana Neffe demora cerca de uma hora entre casa e o traba-lho. Faz uma caminhada de 15 minutos até à estação de Oeiras, sai na estação de Alcântara-Mar, outra caminhada de 10 minutos para mudar de estação e apanhar o comboio para Entrecam-pos. Poderia optar por outro percurso e ir até ao Cais do Sodré para apanhar o metro, mas este que faz todos os dias é mais rápido e também económico.
Área Metropolitana de Lisboa
2 900 000 POPULAÇÃO NA AML
2 000QUANTIDADE DE PASSES
existentes na AML
1 200 a 1 500MILHÕES DE EUROS
Custo anual para o Estado, resultante
de acidentes com automóveis
privados
18CONCELHOS
Alcochete, Almada, Amadora,
Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures,
Mafra, Moita, Montijo, Odivelas,
Oeiras, Seixal, Sesimbra, Setúbal,
Sintra, Palmela, Vila Franca de Xira
“Ir de carro para o trabalho não é solução, nem pelos custos, nem pelo conforto, nem pela imprevisibilidade do trânsito. Posso ser uma romântica, mas para mim a cidade ideal é aque-la onde temos uma mobilidade dife-rente da que existe atualmente em Lisboa, aquela onde há mais pessoas a andarem de transportes, a pé e de bicicleta.” O que falta para uma me-lhor mobilidade em Lisboa? “Haver transportes intermodais. Já há uma tentativa para que isso aconteça, mas o que se passa é que muitas vezes não há ligações na mesma estação”, refere Susana NeÈe.
Ainda que seja impossível pre-cisar a quantidade exata de pes-soas que todos os dias entram em Lisboa, estima-se que esse número se situa entre os 400 e os 500 mil. Esses movimentos pendulares, entre a re-sidência e o local de trabalho ou de estudo, estão diretamente relacio-nados com os meios de transpor-te públicos e privados. “Nos últimos vinte anos os movimentos pendula-res têm vindo a ser profundamente alterados. Em vez de toda a centrali-dade ser em Lisboa (e, portanto, ser um modelo rádio-concêntrico, que vem de fora para dentro, num mo-vimento de vaivém), atualmente há entre 30 e 35% dos movimentos que são transversais”, explica Demétrio Alves, responsável pela Área Me-tropolitana de Lisboa (AML).
A utilização de automóveis priva-dos continua a ser uma das maiores di�culdades na gestão do tráfego da cidade. “Há uma tendência que se ve-rifica desde os anos 70 e 80 e que é dramática. Isto está relacionado com questões culturais e socioeconómicas, mas também com a implementação e construção de novas rodovias com maior capacidade e qualidade. Tudo foi feito, durante décadas, a favor do automóvel individual. É evidente que as cidades entupiram, os espaços pú-blicos estão repletos de carros e o pro-blema do estacionamento é terrível”, refere Demétrio Alves.
ANÁLISE
Por uma nova mobilidade em LisboaDemétrio Alves, responsável pela Área Metropolitana de Lisboa,
aponta algumas medidas necessárias para melhorar o funcionamento
da cidade, que passam sempre por privilegiar os transportes públicos
PROBLEMA: Pouca ligação entre transportes diferentes
SOLUÇÃO: Defesa da intermodalidade
PROBLEMA: Poluição ambiental
SOLUÇÃO: Mutação sustentável para energias alternativas
PROBLEMA: Poucas soluções de transporte na periferia da cidade
SOLUÇÃO: Gestão e planeamento integrados na AML
PROBLEMA: Excesso de automóveis privados no centro da cidade
SOLUÇÃO: Progressivo afastamento dos automóveis do centro
Esta deve ser a grande aposta. “Não se pode dizer que
um serviço de uma linha de autocarro em Cascais não tem
nada a ver com a circulação do metropolitano de Lisboa:
são complementares. Deve fazer-se tudo no sentido da coordenação
de horários e informação partilhada”, refere o responsável.
Demétrio Alves defende que, além da melhoria da qualidade
dos transportes, é necessário proceder à criação de medidas
que facilitem a compreensão do sistema, referindo como exemplo
“não fazer sentido que existam cerca de 2 mil tipos de passes
diferentes na Área Metropolitana de Lisboa”.
Não sendo os automóveis elétricos uma solução para o congestionamento,
uma vez que “o problema não se resolve substituindo o congestionamento
de veículos a gasóleo por outro de veículos elétricos”, Demétrio Alves apoia
soluções sustentáveis que conduzam à utilização de energias limpas
nos transportes públicos, lembrando que “caminhar em direção às energias
limpas deve ser feito com seriedade e racionalidade”.
Neste campo, o responsável afi rma que “não é possível que a gestão
de cada município da AML incida apenas no seu mundo concelhio.
Tem de haver sintonia e esta gestão integrada tem de ter fundos
e não pode ser atirada para cima dos munícipes”.
Este deve ser um trabalho realizado não através da proibição, mas pela
melhoria das acessibilidades e alternativas. “Estas alterações também
têm a ver com questões culturais. As pessoas estão habituadas a ver
a sua liberdade associada ao automóvel quando, atualmente, é uma
prisão”, observa referindo-se aos congestionamentos que, todos os dias,
se verifi cam no centro e periferia da cidade.
1
PROBLEMA: Sistema público complexo e pouco efi caz
SOLUÇÃO: Investimento na melhoria dos equipamentos e do sistema2
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4
5
PUB
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REVISTA MONTEPIO
a minha cidadeMOBILIDADEsociedade
Paralelamente, assistiu-se nos últimos seis anos a um desinves-timento nas empresas públicas de transportes. Resultado? Os trans-portes públicos reduziram a ofer-ta em quantidade e em qualida-de, os percursos foram diminuídos, tal como os horários e as paragens. “Os operadores adaptaram a oferta por critérios comerciais. Uma carrei-ra não é rentável? Acaba-se. Portanto, chegamos ao �nal de 2015 no estado zero. É uma situação muito compli-cada porque a reversão para um bom sistema público de transporte de pas-sageiros é muito complexa. Temos de ter um binómio de grande exigência e de grande paciência”, acrescenta o responsável pela AML.
A AML ficou responsável pe-la gestão dos transportes no final de 2015 e, desde então, tem tentado reverter algumas das políticas ge-radas pela falta de recursos finan-ceiros, humanos e técnicos que ocor-reram, sobretudo com a redução orçamental que tem sido fomenta-da desde a crise económica de 2008. O estado zero que Demétrio Alves re-fere prende-se não só com a falta de condutores, maquinistas e mestres, mas também com as carruagens e autocarros inoperacionais. “Os uten-tes estão cheios de razão. Há coisas que exigem grandes massas finan-ceiras, mas outras há que exigem apenas massa cinzenta. Apesar das grandes dificuldades julgo que ini-ciamos um ciclo virtuoso, depois do ciclo vicioso”, explica o porta-voz da AML, dando como exemplo a reto-ma de 9,7% de aumento de passagei-ros no metropolitano nos primeiros seis meses de 2016. “Há apenas uma justi�cação: por ter sido possível esta-belecer outro tipo de diálogo entre a administração e as estruturas sindi-cais, conseguiu-se a paz social.”
São os próprios utentes que apontam algumas outras razões pa-ra que muitas pessoas continuem a preferir o automóvel próprio e pas-sar várias horas no trânsito todos os dias. “As condições dos transportes também têm muito a ver com os utili-zadores. Há muito pouco civismo e as pessoas não sentem necessidade de cuidar, há muito pouco cuidado com o que é de muita gente. Compreendo que haja pessoas que não gostem de andar de transportes públicos porque
INICIATIVA
Soluções de mobilidade“Transportes inteligentes, verdes e integrados” – é uma iniciativa
da Comissão Europeia que faz parte do Programa-Quadro Horizon 2020
e tem um orçamento de 6 339 mil milhões de euros. Conheça quatro
exemplos de inovação nos serviços de transportes públicos europeus.
Mesmo no inverno eslavo o
aquecimento nas paragens de
autocarro ajuda a menorizar o frio de
quem espera. Com um design atrativo,
estas paragens são ainda dotadas de
sistemas de poupança de energia.
Na cidade de Romeu e Julieta existe
um sistema inteligente que permite
otimizar a gestão de tráfego e a
emissão de gases poluentes, evitando
o “pára-arranca” e aumentando
a segurança dos automobilistas.
não são bonitos, nem confortáveis ou higiénicos. Também não há tranqui-lidade. Na linha de Sintra era pior. As pessoas falam alto ao telemóvel e ouvem música alta. Falta muita cul-tura de vivência em sociedade”, refe-re Susana NeÈe. Antes de comprar casa em Oeiras ainda procurou uma habitação no centro de Lisboa, mas os preços do imobiliário eliminaram esta possibilidade. E a vista para o mar, ao longo da linha de Cascais, acabou por convencê-la.
O novo plano de intercâmbio de
transportes públicos permite aos
utentes usufruírem de maior rapidez
na chegada ao destino graças a cinco
plataformas intermodais em locais
estratégicos da cidade.
Na segunda maior cidade alemã
têm sido testados novos modelos
com baterias de maior autonomia.
O plano traçado visa que, em 2020,
todos os autocarros sejam “verdes”
e amigos do ambiente.
RZESZÓW, Polónia VERONA, Itália
HAMBURGO, Alemanha MADRID, Espanha
página 60
FINANÇAS PESSOAISOs associados Montepio têm acesso a condições vantajosas nos empréstimos sobre as reservas matemáticas. Saiba como
página 56
CROWDFUNDINGO financiamento colaborativo ou coletivo está a ganhar adeptos em Portugal. Saiba como a sua ideia pode sair do papel com a ajuda da multidão
página 64
FINANCIAMENTOA compra de automóvel é, para muitos, a segunda aquisição mais avultada da vida. Trazemos-lhe cinco dicas a ter em conta na hora de decidir
página 52
FINANÇAS PESSOAISOs anos dourados do futuro dependem das decisões que tomamos no presente. Que personagem quer ser no filme da sua vida?
PRODUTOS FINANCEIROS, SUGESTÕES E
EMPREENDEDORISMO
A MINHA ECONOMIA
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REVISTA MONTEPIO
a minha economiaFINANÇAS PESSOAIS
REFORMA
COMO VAI SER O SEU FUTURO?O FUTURO VAI TER FESTAS DE FAMÍLIA, FILHOS, CASA NOVA, NETOS E MEMÓRIAS. ATÉ LÁ VÁ POUPANDO PORQUE, PARA VIVER OS ANOS DOURADOS DO FUTURO A APRECIAR O ESPETÁCULO, O MOMENTO PARA COMEÇAR É AGORA. SE NÃO ESTÁ A VER O FILME DA SUA POUPANÇA, FAZEMOS-LHE A ANTE-ESTREIA
As boas histórias têm personagens fortes e memoráveis. Deixamos a si este papel. Con�amos-lhe a missão de tornar a sua história fantástica. Mas as personagens marcantes têm, normalmente, desa�os árduos e rigorosos. Como os seus. Desa�os que são tão difíceis quanto a facilidade de os encontrar se pensar na sua vida.
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REVISTA MONTEPIO
COMECE HOJE
A diferença está no esforçoEstudar, preparar o futuro dos � lhos, comprar a primeira casa ou mudar para uma nova, são desa� os que es-tão muito associados aos primeiros momentos de constituição da famí-lia ou de independência � nanceira. A reforma, agora com idade legal aos 66 anos, parece um objetivo lon-gínquo. Mas começar cedo a poupar e a planear o futuro pode ser a diferen-ça entre ter uma poupança remediada e uma poupança confortável.
1 Se quisermos ter 10 mil euros com o Montepio Poupança
Reforma e assumirmos, por hipótese, 2% de taxa de rendimento anual (TANB),
quanto precisamos de poupar durante 10 e 20 anos?
75€Esforço mensal de poupança
poupando durante 10 anos
35€Esforço mensal de poupança
poupando durante 20 anos
Exemplo
10 mil €
Comprar casa nova, ajudar os � lhos a alcançar a independência � nancei-ra, manter o prazer de viajar e viver a reforma com qualidade são desa� os a que a sua Associação já responde com produtos de poupança mutualis-tas desenhados à medida. Agora que-remos preparar o seu futuro, queremos mostrar-lhe como o � lme da sua vida pode ter dois caminhos de poupança. Tudo com um objetivo: um � nal per-feito. Que “continua”... na sua reforma.A mesma meta que mais de 20 mil portugueses associados do Montepio � xaram quando � zeram um dia a per-gunta: “Devo começar a preparar a mi-nha reforma?” e passaram a subscrito-res do Montepio Poupança Reforma, a solução pensada para quem pretende começar a poupar regularmente para os “anos dourados”.
Se começar a preparar o futuro é um passo difícil e se o futuro parece um desa� o muito vago, tornamos o seu caminho mais concreto para che-gar à reforma e poder viver o momen-to. Preparado?
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REVISTA MONTEPIO
a minha economiaFINANÇAS PESSOAISreforma
QUER POUPAR REGULARMENTE
Para os que pretendem poupar
regularmente apostando num
benefício fi scal vantajoso
Montepio Poupança Reforma
> Possibilidade de reforços
a qualquer momento
> Regime fi scal idêntico ao dos
PPR, embora não abrangido pela
portabilidade entre PPR
> Possibilidade de obter rendimento
melhorado por decisão dos
associados em Assembleia Geral
Quanto precisa para começar? 100 euros
Quem pode subscrever? Todos os associados
Quando pode resgatar? Aos 60 anos ou na idade
de reforma
PODE CONTAR COM:> Isenção de comissão
de subscrição> Benefício fi scal idêntico
ao atribuído aos PPR*
*Limite máximo de dedução à coleta de 20% das contribuições efetuadas
por sujeito passivo, dependente do escalão de rendimento coletável e do valor de outras deduções a que
tenha direito, até
•400€ - com idade até 34 anos
•350€ - com idade compreendida entre 35 e 50 anos
•300€ - com idade superior a 50 anos
Como encontrar o produto certo para si?À LUPA
Mostramos-lhe como estamos nas diferentes etapas para a reforma
e como respondemos aos seus desafi os de forma simples e clara.
QUER COMPLEMENTAR
A SUA PENSÃO DO SISTEMA
PÚBLICO
Para os que querem destinar
mensalmente parte do seu
rendimento para receber
uma pensão mensal vitalícia
a partir dos 56 anos
Montepio Pensões de Reforma
> Entregas mensais constantes
ou crescentes (2,5% ou 5% ao ano)
> Possibilidade de obter um valor
de pensão melhorado por
decisão dos associados em
Assembleia Geral
Qual o valor da pensão anual inicial?
Varia entre os 360€ e os 180 000€
Quem pode subscrever? Associados entre os 36 os 59 anos
Quando pode iniciar o recebimento da pensão?
A partir dos 56 anos
PODE CONTAR COM:> Isenção de comissão
de subscrição> Pensão vitalícia a receber
passível de tributação em sede de IRS – Categoria H
QUAL É O SEU OBJETIVO?
2 COMO QUER POUPAR?
Poupar regularmente ou valorizar uma poupança
Na hora de escolher as melhores soluções � nanceiras para a sua vida, faça esta pergunta: “Quero poupar regularmente para garantir um capi-tal na hora da reforma ou quero obter um montante extra à minha pensão do sistema público?”
A resposta é fundamental para per-ceber qual o melhor produto � nanceiro.
Por exemplo, quem quer ir poupan-do todos os meses, ou de forma regu-lar, pode encontrar uma solução como o Montepio Poupança Reforma, que permite entregas de poupança regu-lares e garante um benefício � scal se-melhante ao dos PPR no IRS.
Para quem procura um comple-mento à pensão do sistema público, através de uma pensão vitalícia a par-tir dos 56 anos, o Montepio Pensões de Reforma é a modalidade mutua-lista mais ajustada.
O Associado escolhe o prazo da subscrição, que pode variar entre os 10 e os 20 anos, subscrevendo um plano de quotas mensais constante ou um dos planos crescentes a 2,5 ou a 5% ao ano.
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REVISTA MONTEPIO
N
úm
eros que fazem pensar
AUTOMATIZE E AUMENTE
Entregas regulares ajustadas à infl açãoA in� ação não é apenas um dado que paira nos noticiários televisivos. O efeito nas suas poupanças está pre-sente nas compras do dia a dia, no seu poder de compra.
Se quer ou está a poupar regular-mente, por exemplo, 50 euros, tenha em conta este fator e vá, sempre que possível, aumentando este montan-te para conseguir manter os seus ob-jetivos de poder de compra intactos.
Além disso, tente manter automá-ticos estes reforços da sua poupança. É fácil falhar um mês com o seu com-promisso pessoal e se garantir que retira logo no arranque do mês uma fatia do salário para poupar, vai ser mais fácil manter nos eixos o seu pla-no até à reforma.
CONHEÇA BEM AS SUAS SOLUÇÕES
Soluções mutualistas e outros produtos fi nanceirosAs soluções da Associação Mutualis-ta Montepio assumem a designação de modalidades mutualistas ou pla-nos mutualistas e permitem valori-zar uma poupança regular ou uma poupança única, e de proteção, pro-tegendo a vida ou as � nanças dos as-sociados.
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4
montepio.org
SAIBA MAIS
Solução mutualista
Poupança à medidaMontepio Poupança Reforma é uma
solução mutualista pensada para
quem quer poupar por mais 5 anos
e têm como objetivo acumular uma
poupança regular para depois dos
60 anos.
Entrega mínima inicial100 euros
Entregas livresPode fazer entregas a partir de 20€,
dependendo do plano poupança que
pretende. Deste modo, pode desenhar
uma ponpança à sua medida.
Vantagens> Possibilidade de reforços a qualquer
momento.
> Regime fi scal idêntico ao dos
PPR, embora não abrangido pela
portabilidade entre PPR.
> Possibilidade de obter rendimento
melhorado por decisão dos associados
em sede de Assembleia Geral.
89,5%Em média, a primeira pensão é equivalente
a 89,5% do último salário
As modalidades mutualistas têm como garantia de capital o ativo da Associação Mutualista Montepio, que reúne mais de 600 mil associados.
É importante também perceber o que não são: depósitos a prazo, segu-ros de capitalização, seguros de vida ou planos poupança-reforma (PPR). Embora os planos de poupança-refor-ma tradicionais tenham muitas carac-terísticas presentes nas soluções mu-tualistas de reforma, a diferença es-tá na natureza jurídica, que confere à Associação Mutualista Montepio um papel de instituição complementar ao sistema de previdência social público enquadrado no setor da economia so-cial não lucrativa.
Número de anos de esperança de vida
aos 65 anos
19,2
Idade legal da reforma (anos)
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REVISTA MONTEPIO
a minha economiaFINANCIAMENTO
CROWDFUNDING
QUANDO A MULTIDÃO É A SOLUÇÃOTEM UMA IDEIA INOVADORA MAS NÃO CONSEGUE ARRANCÁ-LA DO PAPEL? NÃO DISPÕE DE CAPITAL PARA TIRAR O PROJETO DA GAVETA MAS PREFERE OUTRAS OPÇÕES ALÉM DO CRÉDITO BANCÁRIO? SE ESTE É O SEU CASO, ENTÃO O CROWDFUNDING PODE SER A RESPOSTA CERTA. O FINANCIAMENTO COLABORATIVO OU COLETIVO GANHA CADA VEZ MAIS ADEPTOS E PORTUGAL NÃO FOGE À TENDÊNCIA. SE TEM UMA IDEIA INOVADORA, JUNTE-SE AO CLUBE E PROCURE NA SOCIEDADE O CAPITAL DE QUE PRECISA
POR MARIA PEREIRAILUSTRAÇÃO VERA MOTA
Corria o ano de 1997 quando, sem dinheiro para � nanciar a sua digressão pelos EUA, a banda britânica de rock Marillion decidiu pedir aos seus fãs que os ajudassem a pagar as despesas. E assim foi. Com esta iniciativa, os músicos amealharam qualquer coisa como 60 mil dólares, colocando o crowdfunding na lista de opções para captar capital de artistas, empreendedores, beneméritos ou � lantropos. Muito mudou desde então, mas a ideia de base mantém-se: procurar junto da comunidade � nanciamento para um determinado projeto. E muitos já o conseguiram, angariando milhões de euros.
Família, amigos, business angels, fun-dos de capital de risco ou investido-res pro� ssionais. Todos são chama-dos a participar. Seja através de uma recompensa – que pode passar por receber primeiro o novo produto ou por um bilhete para a primeira � la do concerto – ou de uma parte do capi-tal da nova empresa, o � nanciamen-to coletivo está a transformar ideias inovadoras em negócios de verdade. E o que começou por ser uma ativida-de relativamente informal está a tor-nar-se pro� ssional e regulada, como aliás acontece no mercado português.
Ainda que este conceito não este-ja numa fase tão desenvolvida como noutros países, houve um forte cresci-mento do número de empreendedores
a procurarem (e a conseguirem) � nan-ciamento através do crowdfunding. São cada vez mais os casos nacionais e internacionais que viram a luz do dia graças ao � nanciamento coletivo. Exemplos como o livro de culinária (e não só) do humorista Bruno Alei-xo ou a “oitava geração” dos fatos de palco da banda Blasted Mechanism.
Confi ança como combustívelEstas campanhas mais mediáticas foram fundamentais para desblo-quear esta forma de � nanciamento em Portugal. “Um dos fatores impor-tantes para o crowdfunding funcionar é a con� ança. O histórico de campa-nhas bem-sucedidas faz toda a dife-rença para credibilizar o conceito”,
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REVISTA MONTEPIO
Nascida em maio,
a Boaboa é a primeira
plataforma de
investimento coletivo
focada numa capital
europeia. Ao contrário
do que acontece com as
plataformas já existentes,
a Boaboa apenas fi nancia
projetos empreendedores
que pretendam investir
em Lisboa. Desenvolvida
em parceria por várias
entidades – Câmara
Municipal de Lisboa,
Associação Mutualista
Montepio, Fundação
Calouste Gulbenkian,
Vieira de Almeida e
Associados e Associação
para a Inovação e
Empreendedorismo
de Lisboa (Startup
Lisboa), com o apoio
no desenvolvimento
tecnológico da PPL
Crowdfunding Portugal –,
a plataforma assume-
-se como uma alternativa
para empreendedores
da capital. "A nossa
intenção é construir
uma comunidade mais
'local'", explica Pedro
Domingues. "Para nós
é uma experiência nova
e com muito potencial
dado o elevado número
de solicitações que
cada um dos parceiros
terá para fi nanciamento
de iniciativas, que
poderão reencaminhar
para uma plataforma
pública na qual
poderão receber maior
visibilidade", acrescenta
o cofundador da PPL,
responsável pela parte
técnica e operacional.
E para quem pretende
lançar um novo projeto
em Lisboa não poderia
haver melhor altura.
Tal como Pedro
Domingos explica,
"a ideia é aproveitar a
marca Lisboa, que tem
cada vez mais força
dentro e fora do país".
INICIATIVA
Boaboa, o financiamento que só pensa em Lisboa
Nos últimos anos, o fi nanciamen-
to coletivo tornou-se mais popular.
Há mais portugueses a apostarem
no crowdfunding como alternativa
para lançarem os seus projetos?
Sim, um dos fatores importantes
para o crowdfunding funcionar é a
confi ança. O histórico de campa-
nhas bem-sucedidas faz toda a dife-
rença para credibilizar o conceito, a
plataforma e os restantes interve-
nientes. Os pagamentos online são
igualmente relevantes e a maioria
dos portugueses está cada vez mais
familiarizado com essa realidade.
É positivo ver o crowdfunding cres-
cer de um nicho para uma ferra-
menta mainstream.
Que dicas deixaria a quem quer
avançar com projeto e está a pon-
derar levantar capital através de
crowdfunding?
É muito importante planear e exe-
cutar uma boa comunicação, mes-
mo antes da campanha arrancar.
É também importante perceber
quem podem ser os apoiantes e que
recompensas ou incentivos podere-
mos oferecer para que se juntem e
contribuam da melhor forma possí-
vel. Um dos elementos fundamen-
tais na comunicação é um bom
vídeo: sucinto mas apelativo.
Qual é a taxa de sucesso dos proje-
tos da PPL e qual o valor fi nancia-
do através de crowdfunding?
Temos uma taxa de sucesso de
44%, o que é elevada face à média
internacional. Financiámos cerca
de 1,8 milhões de euros desde 2011
graças a mais de 50 mil apoiantes.
Pedro DominguesCofundador da PPL
P&R
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58
REVISTA TUVWXYZU
a minha economiaFINANCIAMENTOcrowdfunding
LIVRO DE BRUNO ALEIXOBruno Aleixo é bem
conhecido dos
portugueses.
O humorista também recorreu
ao financiamento coletivo.
50 Pratos (49 são iguarias…)
é o resultado
de uma campanha
de crowdfunding
bem-sucedida.
E a campanha foi mesmo
a segunda com o maior
número de apoiantes da PPL,
só superada pela dos
Blasted Mechanism.
explica Pedro Domingos, cofunda-dor da plataforma portuguesa PPL, pioneira no mercado nacional. Para o mesmo especialista “é positivo ver o crowdfunding crescer de um nicho co-nhecido apenas por alguns para uma ferramenta mainstream. É bom sinal haver mais uma solução de �nancia-mento e divulgação de bons projetos”.
A PPL é a maior plataforma na-cional de crowdfunding no segmento de recompensa, mas existem outras. A Raize, a Massivemov, a Olmo ou a Zarpante são exemplos de outras pla-taformas nacionais onde podem ser desenvolvidas campanhas de �nan-ciamento coletivo. Mas os empreende-dores nacionais podem também procu-rar na oferta internacional a resposta para o levantamento de capital. E são vários os casos de empresas que têm lançado as suas campanhas através de plataformas como a Kickstarter ou a luso-britânica Seedrs, lançada pelo português Carlos Silva. “O modelo tra-dicional de �nanciamento de startups
é ine�ciente e não particularmente meritocrático”, explica o cofunda-dor da Seedrs, a primeira platafor-ma europeia de equity crowdfunding.
Para o empreendedor, “o investimen-to em startups estava limitado a uma pequeníssima percentagem (0,5%) da população”, logo “fazia sentido tornar este processo mais e�ciente, transpa-rente e meritocrático, tornando-o ao
PROJETOS CROWDFUNDING
Casos de sucesso
CANOÍSTA MEDALHADO À BOLEIA DO CROWDFUNDING
José Ramalho já ganhou
várias medalhas ao longo
da sua carreira, incluindo
várias de ouro. Mas,
provavelmente, só conseguiu
chegar ao pódio com a ajuda
do crowdfunding. Em 2014
recorreu a esta forma de
financiamento para obter
capital para preparar a época
desportiva e remar para os
EUA. O atleta pediu 1 500€
e conseguiu 2 350€.
MÚSICA AO SOM DO CROWDFUNDING
São vários os músicos
nacionais que recorreram
ao crowdfunding para lançar
novos álbuns. Os Blasted
Mechanism são os mais
conhecidos, mas houve
mais. Os Primitive Reason,
Frankie Chavez, Nobody's
Bizness, Kandia,
Mazgani, ou Dazkarieh
são algumas das bandas
que já recorreram
a esta solução.
DAO LEVANTA MAIS
DE 150 MILHÕESÉ, até à data, a maior
campanha de
crowdfunding. A DAO,
uma rede de blockchain
pública, conseguiu captar
mais de 150 milhões
de dólares, um montante que
vai usar para ajudar
a desenvolver a sua atividade
de economia partilhada.
A empresa propõe
um novo modelo de
organização, baseada na
partilha de informação
através de uma rede.
OCULUS, A EMPRESA QUE
CONQUISTOU O FACEBOOK
Em 30 dias conseguiu
captar 2 437 429 dólares.
A Oculus VR é uma empresa
que aposta em aplicações
de realidade virtual e
conseguiu atrair o interesse
do Facebook. Acabou mesmo
por ser adquirida pela
maior rede social do mundo.
O negócio levantou, porém,
alguma controvérsia entre os
que apoiaram em primeira
mão a empresa.
3DOODLER IMPRIME EM TOM
COLETIVO
Os criadores da 3Doodler,
uma caneta que escreve em
três dimensões, encontraram
no crowdfunding a solução
para o financiamento.
Através da Kickstarter
recolheram 2 344 134 dólares
em 34 dias. Quem contribuiu
obteve o reembolso
do capital investido
no prazo de um ano.
59
REVISTA MONTEPIO
mesmo tempo acessível a muito mais gente”. E foi por isso que Carlos Silva decidiu lançar a Seedrs.
Boa comunicação diferenciaMas não basta a criação das platafor-mas para que as campanhas sejam bem-sucedidas. Antes de mais é ne-cessário que a ideia de negócio seja inovadora e esteja bem estruturada. Depois, é fundamental desenvolver todo um trabalho de bastidores para torná-la atraente para os investidores. “É muito importante planear e exe-cutar uma boa comunicação, mesmo antes da campanha arrancar.” Além disso “é também importante perce-ber quem podem ser os apoiantes e que recompensas ou incentivos po-deremos oferecer para que se jun-tem e contribuam da melhor forma possível”, explica Pedro Domingues. Já Carlos Silva adianta que o “sucesso no levantamento de capital através de uma plataforma de equity crowdfun-
ding depende em grande medida de uma preparação metódica e aprofun-dada da campanha e da estratégia pa-ra chegar a potenciais investidores”.Bruno Fonseca, CEO da Agroop, foi um dos empresários portugueses que conseguiram � nanciar o seu projeto através do crowdfunding. Não uma, mas duas vezes. Levantou no total 170 mil euros para desenvolver a sua so-lução inovadora para o setor agrícola. Para Bruno Fonseca, foi “fundamental termos conseguido comunicar de uma forma clara, não só o projeto, mas a nossa missão. As pessoas, quando in-vestem, querem perceber qual a estra-tégia e visão da startup e querem sen-tir-se envolvidas e representadas por essa visão”. “Além disso é importan-tíssimo demonstrar que existe uma equipa multidisciplinar, motivada e com forte know-how para materiali-zar o projeto e o roadmap proposto”, acrescenta.
Além de comunicar com clareza, é também necessário “vender” a em-presa. Um bom vídeo pode fazer mi-lagres. “Muito importante na campa-
nha é o vídeo, todos nós gostamos de uma boa história, e em grande parte das campanhas de crowdfunding que vejo as pessoas investem na história, na equipa, mais do que no produto em si”, refere Pedro Lopes. Para o funda-dor da in� niteBook, que criou o Eco-Book, um quadro branco em forma de caderno, o design também “vende”, por isso “tem de ser aliciante”.
Garanta 30% do capitalGarantir uma parte do investimento antes de arrancar com a campanha é meio caminho andado para o suces-so. “Comecem com 30%”, aconselha Mário Mouraz, cofundador e CEO da Climber Hotel, que acrescenta que os empresários apenas deverão tor-nar pública a campanha caso consi-gam esse investimento inicial junto dos três F (família, amigos e “fools”). “Depois da campanha estar pronta é falar com todos os familiares e amigos para apoiarem, foi o que � z, e depois de ter algum dinheiro arrecadado, os ‘estranhos’ começam a con� ar no pro-duto e gera-se um efeito de bola de ne-ve. Dinheiro gera mais dinheiro”, conta Pedro Lopes.
Tudo deve ser preparado com o má-ximo detalhe. A Agroop, por exemplo, dispensou três meses a pensar nos por-menores e a montar a campanha an-tes de a divulgar. “É fundamental tentarem antecipar quaisquer dú-vidas de potenciais investidores pa-ra que durante o tempo que a cam-panha está ativa (60 dias) consigam ter tudo bastante bem estruturado e otimizado”, realça Bruno Fonseca.Depois da primeira ronda de � nan-ciamento, procurar capital através do crowdfunding torna-se mais fácil. O reconhecimento da “marca” faci-lita a tarefa de convencer os investi-dores a participarem numa nova fa-se do projeto. Pedro Lopes, de olho já numa nova campanha de � nancia-mento coletivo no curto prazo, assu-me: “O crowdfunding é atualmente a melhor forma de � nanciamento para uma startup.”
O que o levou a procurar fi nancia-
mento no crowdfunding, em detri-
mento dos mecanismos de fi nan-
ciamento tradicionais?
O crowdfunding possibilita maior
visibilidade, obter uma rápida ava-
liação do mercado, criar uma base
de clientes ou de potenciais clientes
e acelerar a fase de fi nanciamento
e parcerias. Em dois meses conse-
guimos chegar a vários estados dos
EUA, através da televisão, jornais
e online. Apesar de não termos
alcançado o mínimo defi nido, a
maioria dos que demonstraram
interesse em adquirir os nossos
produtos mantiveram a intenção de
compra, elevando o nosso valor nos
rounds de fi nanciamento.
Mesmo assim, hoje em dia existem
demasiados projetos em simultâneo
e conseguir a atenção dos media
não é nada fácil.
Que conselhos deixaria a quem
pretende fi nanciar o seu projeto
através de crowdfunding?
Investir no vídeo da campanha e
no design da informação a colocar
online. O trabalho de marketing
antes e durante a campanha
também é fundamental. Não basta
um bom produto e um bom vídeo.
Se não chegar às pessoas não vai
ser fi nanciado.
Porque escolheu a KickStarter?
É a melhor plataforma de crowdfun-
ding. Depois porque um dos fun-
dadores da FYT Jeans pertence ao
MIT e a Harvard e planeámos a nos-
sa entrada no mercado para os EUA,
apesar do nosso projeto ser online.
Miguel CarvalhoFundador da FYT Jeans
P&R
60
REVISTA MONTEPIO
3a minha economiaFINANÇAS PESSOAIS
SOLUÇÃO MUTUALISTA
O ANTÍDOTO PARA A INCERTEZAUM INFORTÚNIO PODE PÔR EM CAUSA O FUTURO DE TODA A SUA FAMÍLIA E INTERROMPER OS SONHOS DE UMA VIDA. SE É IMPOSSÍVEL PREVER O DIA DE AMANHÃ, NÃO É DIFÍCIL PROTEGÊ-LO E GARANTIR A ESPERANÇA COM SOLUÇÕES PENSADAS PARA FAZER DA ESTABILIDADE UMA REGRA DE OURO
A incerteza é uma constante da vida. Em 1716, o britânico Christopher Bullock escrevia, na obra The Cobler of Preston, que só existiam duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Esta ideia, que ao longo dos anos foi defendida por diversas
Exemplo do valor da quota inicial para as várias coberturas previstas e para dois associados com idades atuariais de 30 e 40 anos
EXEMPLO
Proteger um crédito cujo capital inicial em dívida é de 25 000€
Quotas de modalidade no primeiro ano
Morte Morte + Invalidez absoluta e defi nitiva
Morte + Invalidez total e permanente
anual mensal* anual mensal anual mensal
ASSOCIADO 30 ANOS 32,90€ 2,85€ 33,89€ 2,94€ 34,94€ 3,03€
ASSOCIADO 40 ANOS 59,94€ 5,20€ 61,74€ 5,35€ 67,52€ 5,85€
* QUOTA DA MODALIDADE MENSAL = (QUOTA DA MODALIDADE / 12 MESES) X (1+ TAXA DE FRACIONAMENTO), TENDO-SE UTILIZADO UMA TAXA DE
FRACIONAMENTO DE 4% NESTA SIMULAÇÃO.
personalidades, da literatura à política, terá contribuído, ainda que indiretamente, para a criação do movimento mutualista, uma forma de acautelar o futuro – nosso e dos nossos familiares – através de uma visão de solidariedade, igualdade e entreajuda.
61
REVISTA MONTEPIO
que, não sendo cumpridos, podem trazer-lhe algumas dores de cabeça – e é aqui que a Associação Mutua-lista Montepio pode ajudá-lo, através da solução Montepio Proteção Outros Encargos. Um deles é o crédito auto-móvel, uma solução que muitos por-tugueses utilizam para garantir a sua mobilidade e a da sua família (ver pá-ginas 64 a 66).
Outra das soluções na qual muitas famílias se têm apoiado para garantir um futuro melhor para os seus mem-bros é o crédito estudante, um emprés-timo para formação que permitirá ao seu � lho – ou até a si – frequentar uma licenciatura, pós-graduação, mestrado, doutoramento, curso de especialização tecnológica ou aceder a um programa de mobilidade e intercâmbio interna-cional, como o Erasmus.
Mas há mais: nos últimos anos, muitos portugueses foram forçados a consolidar os créditos num único en-cargo mensal, reduzindo a prestação a pagar todos os meses mas aumen-tando o número de anos do prazo. Se optar – ou já optou – por esta solu-ção, sabe que este passa a ser o seu principal encargo � nanceiro. Motivo mais que su� ciente para que o queira “segurar”, não vá uma situação de mor-te ou invalidez (total e permanente ou absoluta e de� nitiva) tirar-lhe o rendi-mento mensal necessário para fazer fa-ce aos seus compromissos. É aqui que a Solução de Proteção Outros Encargos, da Associação Mutualista Montepio, ganha ainda mais importância, ajudan-do-o numa altura duplamente difícil e libertando os agregados familiares de encargos previsivelmente incompor-táveis à sua situação � nanceira. Uma forma de, na adversidade, continuar a olhar para o futuro com esperança.
Controlar o riscoPossuir um crédito é um argumen-to importante para quem quer pro-teger-se – e aos familiares – em caso de invalidez ou morte do ganha-pão do agregado. Mas não só os agrega-dos com créditos precisam de prote-
Montepio Proteção – –Outros EncargosDois caminhos, a mesma garantia
PLANO CAPITAL CONTRATADO (CC)
> ASSEGURAR O COMPROMISSO
Para quem quer proteger um crédito
(que não seja individual ou
de habitação)
> A VANTAGEM DE SEREM DOIS
Se forem dois associados a
subscreverem a modalidade, o que
tem a quota mais baixa benefi cia de
um desconto de 50%
> DEVOLUÇÕES DE QUOTAS
Só em caso de amortização total do
crédito é que existe lugar a devoluções
PLANO CAPITAL SUBSCRITO (CS)
> ASSEGURAR O FUTURO
Para quem quer proteger a família
em caso de morte ou invalidez
> A FAMÍLIA COMO UM TODO
Toda a família do agregado pode
subscrever esta modalidade.
Se vários forem associados têm
desconto de 50% em todas
as quotas, exceto na mais alta
> PLANIFICAÇÃO À MEDIDA
Permite um plano anual ajustado
às necessidades de cada família
BENEFÍCIOS FISCAISDeduções em sede de IRS para
associados portadores de defi ciência
e trabalhores dependentes com
profi ssões de desgaste rápido
montepio.org
SAIBA MAIS
Isto porque, há 300 anos, como nos nossos dias, nunca sabemos o que nos reserva o amanhã e, por mais que batamos em madeira, os infortú-nios podem estar ao virar da esquina. Combater a incerteza e acautelar as � nanças é o principal objetivo das so-luções mutualistas de proteção, uma almofada que ajuda os associados da Associação Mutualista Montepio a garantir que, em caso de infortúnio, não entrarão em situação de incum-primento e a sua situação � nanceira permanecerá controlada.
Proteger o seu futuroSe proteger o crédito à habitação ou o crédito individual é uma solução roti-neira para muitos portugueses, exis-tem outros encargos de empréstimos
ção. No caso da solução Montepio Pro-teção Outros Encargos, os associados podem optar não só pela subscrição ligada a um contrato de crédito, desde que este não seja crédito habitação ou pessoal, mas também pela subscrição de um capital a legar aos bene� ciá-rios que entender (plano CS – Capital Subscrito). Neste caso, o Associado subscritor desta solução está a garan-tir que, numa situação de infortúnio ligada à invalidez ou morte, recebe, ou os seus bene� ciários, o capital subscri-to. E, de duas, as coisas certas da vida passarão a três: a morte, os impostos e o apoio da sua Associação Mutualista Montepio.
62
D
E
S
C
O
D
I
F
I
C
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R
UM NOVO IMPOSTO PARA O IMOBILIÁRIO, AUMENTO DAS REFORMAS MAIS BAIXAS, O PRINCÍPIO DO FIM DA SOBRETAXA E NOVOS IMPOSTOS SÃO ALGUMAS DAS GRANDES NOVIDADES DO ORÇAMENTO PARA 2017. UM PLANO QUE NÃO TRAZ MUITAS NOVIDADES FACE AO QUE ESTAVA ANUNCIADO MAS QUE VAI AFETAR A VIDA DOS PORTUGUESES E MEXER COM O DINHEIRO QUE TRAZEM NA CARTEIRA
OS NÚMEROS DO ORÇAMENTO
QUAIS VÃO SER OS APOIOS?
MANUAIS OFERECIDOS E MAIORES SUBSÍDIOSFamílias com crianças vão sentir algum alívio. Os manuais escolares para o primeiro ciclo serão oferecidos e o abono de família para crianças entre 1 e 3 anos vai mais do que triplicar. As famílias do quarto escalão, que têm rendimentos mensais entre 633 e 1 055 euros, vão voltar a receber o abono para crianças até 3 anos. Os funcionários públicos recebem um aumento no subsídio de refeição de 25 cêntimos.
ESTADO QUER CAPTAR POUPANÇAO Executivo estima que os Certifi cados de Aforro e os Certifi cados de Tesouro Poupança Mais captem mil milhões de euros. E quem tiver um PPR do Estado vai ter mais benefícios fi scais. Jovens até aos 35 anos poderão deduzir até 400 euros do investimento nos certifi cados de reforma na fatura de IRS.
QUAIS SÃO AS NOVIDADES?
DECLARAÇÕES SIMPLEXEm 2017 o Simplex chega às declarações de IRS. O Fisco quer que as declarações automáticas sejam uma realidade, partindo da informação recolhida atualmente no e-fatura.
RECIBOS VERDES COM NOVAS REGRASO Executivo pretende mudar o modelo de descontos dos recibos verdes e acabar com algumas isenções, nomeadamente aquela de que benefi ciam os trabalhadores por conta de outrem que também prestam trabalho independente. Entre as várias alterações propostas está a vontade que os trabalhadores independentes paguem uma tributação mínima mensal, de 20 euros, mesmo que não registem qualquer atividade nesse mês. Esses valores serão depois descontados em faturas seguintes. Do outro lado da balança, o governo quer igualar direitos face aos trabalhadores por conta de outrem. Mas para isso é necessário reforçar os descontos.
1,6%do PIB em 2017 é a meta
do défi ce orçamental prevista no Orçamento, o que corresponde a menos 1 500 milhões de euros
que o registado em 2016
1,5%do PIB é a previsão de crescimento da economia
portuguesa para 2017
1,5%é a taxa de infl ação,
prevista para 2017, nos escalões de IRS. Já a sobretaxa será eliminada gradualmente no
próximo ano, a partir de março.
63
... E OS IMPOSTOS?
ANDAR DE CARRO VAI FICAR MAIS CAROQuem tem carro pode preparar-se para ter mais encargos em 2017. O imposto sobre veículos sobe, assim como o imposto do selo. Há ainda uma nova taxa para carros comprados a partir de janeiro. Além destes aumentos, os condutores serão penalizados através do agravamento sobre os produtos petrolíferos. Um conjunto de medidas para que os portugueses deixem o carro na garagem e utilizem os transportes públicos.
PATRIMÓNIO ACIMA DE 600 MIL EUROS COM NOVO IMPOSTONem todos vão pagar mais sobre os imóveis que detêm. A nova taxa, de 0,3%, para quem detenha património imobiliário com um valor tributário acima de 600 mil euros, penaliza sobretudo os grandes grupos económicos e seguradoras.
REFRIGERANTES, ÁLCOOL E TABACO VÃO CUSTAR MAISBeber uma Coca-Cola ou um Sumol é mais caro desde janeiro graças à nova taxa para as bebidas açucaradas. De fora fi cam, por exemplo, sumos naturais. Mas não são só as bebidas menos saudáveis que vão pesar na carteira dos portugueses. Fumar e beber cerveja também vai custar mais alguns cêntimos no próximo ano. O aumento é de 3%.
3%O IMPOSTO SOBRE VEÍCULOS
aumenta em 2017, passando a custar mais 3% do que até
agora. A este imposto acresce um agravamento de 0,8% do IUC.
550 eurosO Executivo volta a mexer
no método como são considerados os fi lhos na fatura do IRS.
Desaparece o quociente familiar, deixando de se contar o número de fi lhos no agregado familiar,
e passa a deduzir-se um valor fi xo por dependente: 550 euros.
10 eurosAs pensões mais baixas vão ser
aumentadas em 2017. As reformas entre 275 euros e 648 euros vão receber mais 10 euros a partir de
agosto e as pensões até 838 euros vão ser atualizadas de acordo com a infl ação. Já as grandes pensões
deixam de pagar a CES.
64
REVISTA MONTEPIO
3a minha economiaFINANÇAS PESSOAIS
CRÉDITO
CINCO ARGUMENTOS PARA COMPRAR UM AUTOMÓVELCOMPRAR UM AUTOMÓVEL É UM SONHO COMUM A MUITOS, MAS EXISTEM FASES DA VIDA EM QUE ESTA VONTADE SE TORNA UMA OBRIGAÇÃO. SIGA AS NOSSAS DICAS PARA TOMAR UMA BOA DECISÃO
Comprar um automóvel é um sonho que muitos acalentam, mas existem fases da vida em que este desejo se torna imprescindível. De caminho único. Qualquer que seja a sua motivação de compra, há sempre uma estrada comum a todos: a informação necessária para que tome uma boa decisão. Re� ita, analise todas as hipóteses em carteira e decida qual representa um melhor investimento para o seu desa� o inicial. Deixamos-lhe algumas dicas para escolher bem, mas também as motivações que estão por detrás da nossa necessidade de adquirir um automóvel.
65
REVISTA MONTEPIO
Independência fi nanceiraFazer uma viagem de sonho, sair de casa dos pais
ou comprar um carro são escolhas habituais de quem,
ao entrar no mercado de trabalho, alcança
a capacidade fi nanceira para investir em si e nos seus
prazeres. Comprar um carro é sinónimo de liberdade
e independência para fazer tudo o que queremos, à hora
e no local que quisermos.
DICA: Para a maioria das pessoas, comprar um automóvel
é a segunda aquisição mais avultada da vida, logo a seguir
à habitação. Por isso, se vai comprar um carro usado perca
algum tempo a pesquisar. Visite vários stands, compre
jornais e revistas da especialidade e peça conselhos
a amigos e conhecidos.
Gastos excessivos com manutençãoÀ medida que os carros fi cam mais velhos sucedem-
-se as visitas à ofi cina, muitas das quais dispendiosas.
A partir de uma certa idade faz mais sentido trocar
de carro a assumir os riscos da constante
desvalorização do veículo, marcada por reparações
ou substituições de peças.
DICA: Mesmo que já tenha decidido a marca e modelo
do carro que vai comprar, visite vários pontos
de venda para procurar o melhor preço. Mesmo nos
stands da mesma marca é habitual encontrar preços
diferentes. No caso dos carros usados e semi-novos
esta diferença é mais acentuada, por isso perca
algum tempo a pesquisar os melhores preços
para uma determinada viatura.
1
Família a aumentarAdquirir um automóvel a poucos meses
da família aumentar é das decisões
fi nanceiras mais usuais que os cidadãos
tomam. Afi nal, há que receber o bebé
com o conforto que o momento pede:
seja trocar o velhinho três portas
por um automóvel mais novo e fi ável,
seja investir numa bagageira maior
e nos extras necessários para colocar a cadeirinha em segurança.
DICA: Pense bem no tipo de carro que vai comprar. Uma compra impulsiva
pode levá-lo a escolher um desportivo ou um descapotável, mas se tem uma
família grande isso irá colocar-lhe outros desafi os na hora de transportar
os seus fi lhos em segurança ou mesmo na logística: uma bagageira grande
é importante para guardar o carrinho de bebé ou outros acessórios.
3 À medida que
A partir de uma certa idade faz mais sentido trocar
stands
fi nanceiras mais usuais que os cidadãos
Independência fi nanceiraFazer uma viagem
ou comprar um carro são escolhas habituais de quem,
ao entrar no mercado de trabalho, alcança
a capacidade fi nanceira para investir em si e nos seus
prazeres. Comprar um carro é sinónimo de liberdade
e independência para fazer tudo o que queremos, à hora
e no local que
DICA:
é a segunda aquisição mais avultada da vida, logo a seguir
à habitação. Por isso, se vai comprar um carro usado perca
algum tempo a pesquisar. Visite vários
jornais e revistas da especialidade e peça conselhos
MOBILIDADE
Setor em mudançaEVOLUÇÃO DO MERCADO
AUTOMÓVEL
O setor automóvel teve em 2016
o quarto ano de recuperação, com
vendas a superarem a barreira
dos 200 mil veículos. Depois de
ter registado um ritmo muito forte
no primeiro trimestre do ano, devido
à antecipação de compras de veículos
ligeiros provocada pelo aumento
da fi scalidade automóvel, a taxa
de crescimento das vendas começou
a desacelerar.
PRINCIPAIS VANTAGENS DO
SERVIÇO DE MANUTENÇÃO
ASSOCIADO AO FINANCIAMENTO
O produto Contrato de Manutenção
e Serviços oferece ao proprietário
e utilizador de uma viatura automóvel
a garantia de qualidade da manutenção
do seu veículo, com custos
previsíveis e inferiores, associando
ao fi nanciamento um contrato que
prevê, através do pagamento de uma
mensalidade fi xa, a manutenção
preventiva e corretiva assegurada
pelas ofi cinas de marca escolhidas
pelo cliente.
PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DESTE
MERCADO
As fronteiras entre os setores
automóvel e tecnológico têm vindo
a esbater-se com as novas soluções
de mobilidade. A crescente
incorporação de tecnologia nos
automóveis aparenta ir no sentido
da autonomização da condução destes
veículos, assim como da otimização
da sua efi ciência energética, em
particular no uso em espaço urbano,
permitindo ganhos assinaláveis
na utilização do tempo dos seus
utilizadores. Por outro lado, a maior
sensibilidade para os problemas
ambientais, a densifi cação das cidades
e os custos associados à tradicional
posse de viatura originam novos
conceitos de utilização do automóvel,
como o car-sharing, sendo igualmente
previsível que a regulamentação
se torne, a uma escala global, mais
restritiva do uso de automóveis
baseados em combustíveis fósseis.
66
REVISTA MONTEPIO
a minha economiaFINANÇAS PESSOAIScrédito
3
CRÉDITO AUTOAquisição de veículos novos, seminovos ou usados. A propriedade da viatura é do cliente com reserva de propriedade ou hipoteca ao Montepio Crédito. Taxa Fixa ou Indexada (EUR3M)
VANTAGENS• Financiamento até 100%
• Sem valor adicional no fi nal do contrato
• Prazos de fi nanciamento até 120 meses
• Sem obrigação de seguro de Danos Próprios
• Seguro de Vida de um titular incluído
• Oferta de Cartão Combustível de descontos
ALUGUERContrato de Aluguer de Longa Duração (ALD), para veículos com menos de um ano e com discriminação do IVA. O veículo é propriedade do Montepio Crédito até ao fi nal do contrato. Taxa Fixa ou Indexada (EUR3M)
VANTAGENS• Flexibilidade dos valores de entrada (5% a
60%) e duração do contrato (até 96 meses)
• Benefícios fi scais para empresas, empresários em nome individual e profi ssionais liberais
• Isenção de reconhecimento notarial
• Vantagens na subscrição de seguro automóvel
• Oferta de Cartão Combustível de descontos
LEASINGVeículos até 5 anos com IVA descriminado, com valor residual no fi nal do contrato. O veículo é propriedade do Montepio Crédito até ao fi nal do contrato. Taxa Fixa ou Indexada (EUR3M)
VANTAGENS
• Flexibilidade dos valores de entrada e duração do contrato (até 120 meses)
• Rendas baixas resultantes da conjugação da reduzida taxa de juro com o valor residual
• Benefícios fi scais para empresas, empresários em nome individual e profi ssionais liberais
• Isenção de reconhecimento notarial
• Oferta de Cartão Combustível de descontos
RENTINGAluguer operacional até 5 anos,
para veículos novos. Taxa Fixa
VANTAGENS• Gestão da frota e coordenação de todos
os passos (encomenda, entrega e devolução do veículo)
• Racionalização do custo total da frota, reagrupando as despesas adicionais
• Oferta fl exível, permitindo aos clientes escolherem os serviços que pretendem contratar*
• Nesta modalidade o Montepio Crédito oferece regularmente aos seus clientes a Viatura do Mês, com a seleção de uma viatura específi ca fi nanciada por Renting e a correspondente oferta complementar a preços de campanha
* Negociação e compra do automóvel, fi nanciamento, pagamento de impostos, manutenção corretiva e preventiva, gestão de pneus, gestão de sinistros, seguro, veículo de substituição, assistência em viagem, combustível, revenda do automóvel, serviços de consultoria.
OFERTAS COMPLEMENTARESDisponíveis mediante subscrição de produtos de fi nanciamento tradicional – Crédito, Aluguer
e Leasing:- Disponíveis mediante subscrição
de produtos de fi nanciamento tradicional: Crédito, Aluguer e Leasing
- Seguros de proteção ao crédito, nomeadamente seguro de vida, incapacidade, hospitalização ou desemprego
- Seguro Auto Lusitania
- Serviço de manutenção que permite, através de um pagamento mensal constante e sem atualizações, usufruir da manutenção necessária ao normal funcionamento do automóvel, abrangendo revisões, reparações de avarias ou peças que resultem do desgaste normal do automóvel. Abrange também a manutenção preventiva, corretiva
e reparação de anomalias
Estes produtos podem ser subscritos diretamente no Montepio Crédito ou através de 400 pontos de venda (concessionários ou stands automóveis) com os quais o Montepio Crédito tem parceria a nível nacional.
Soluções de ¦ nanciamento automóvel Montepio Crédito
montepiocredito.pt
SAIBA MAIS
Preocupações ambientaisEm Portugal ainda são poucos os que
conduzem um carro elétrico ou híbrido.
Mas este é um caminho de não-retorno
e cada vez mais cidadãos irão optar por
trocar o seu carro de motor tradicional
por uma opção mais sustentável assim
que os preços deste tipo de veículos
começarem a descer.
DICA: Em 2017 o incentivo ao abate
de veículos com mais de 10 anos para
a compra de veículos híbridos plug-in
mantém-se, ainda que o seu valor seja
reduzido para metade: 562,50 euros.
Se pretende pagar menos e ainda
não chegou a altura de comprar
um carro elétrico, certifi que-se
que escolhe um automóvel com
um índice de CO2 baixo.
DICA: Adquirir um carro usado pode ser uma
excelente opção: permite-nos comprar uma
viatura melhor e que não seria acessível
enquanto nova, sendo que estes veículos
não desvalorizam tanto quanto os novos.
Tenha também em conta o consumo do carro.
Se costuma andar no para-arranca do trânsito,
deverá ter em conta o consumo urbano.
4Mudança de casa ou trabalhoNum mundo ideal, todos vivemos
perto do trabalho ou temos
acesso a transportes públicos
de qualidade, que nos permitem
deixar o carro em casa durante
a semana. Já o mundo real
leva-nos a trabalhar em locais
longe da residência, aos quais
só podemos chegar por via
do transporte individual, e nem
sempre temos à disposição
transportes públicos de qualidade.
página 78
PASSEIOS COM HISTÓRIAVisitar a Casa de Mateus é recuar vários séculos. Uma viagem no tempo, à alma e arte das gentes transmontanas
página 73
GUIA DE ESCAPADAS O paraíso pode estar aqui ao lado. Faça as malas e aproveite as inúmeras vantagens dos parceiros da Associação Mutualista
página 82
TESTEMUNHOFã de Robert De Niro e Carla Galvão, o ator Sérgio Moura Afonso abriu-nos o cofre das suas paixões, feitos e recordações de 21 anos de carreira. Conheça-o melhor
página 68
VINTAGE A moda, design e tradições das últimas décadas continuam a apaixonar gerações de cidadãos. O que os leva a viverem, culturalmente, no tempo dos seus pais e avós?
IDEIAS E DESCOBERTAS EM LAZER, FAMÍLIA, SAÚDE, CULTURA
A MINHA VIDA
68
4
REVISTA MONTEPIO
a minha vidaREPORTAGEM
“Casaco de cabedal preto e cabelo superarranjado, com muita laca e gel – quer para os meninos, quer para as meninas!” Para as irmãs Ana e So� a Torres, estas duas características de� nem a moda rockabilly. Ana tem 34 anos e é mãe a tempo inteiro; So� a, de 32, é professora universitária. Juntas criaram a comunidade Pinup Portugal, que está perto de atingir os 5 000 fãs no Facebook.
O fascínio por este mundo está pre-sente desde que se lembram, mas foi há cinco anos que a moda dos anos 50 entrou nas suas vidas “mais a sé-rio”. “Sempre adorámos tudo o que é vintage: móveis, moda, música”, con-ta Ana. Porquê? Não é fácil explicar. “Mas em termos de moda é devido ao facto de ser um estilo extremamente feminino e que valoriza o corpo da mulher”, explica So� a. “Tal e qual como ele é, com plena aceitação de todos os tamanhos e formatos.”
Saias muito rodadas, vestidos com uma cintura acentuada, decotes gene-rosos e armados. Mulheres com for-mas voluptuosas, lábios pintados de um vermelho vivo, seguras de si mes-
VINTAGE
EM BUSCA DA DÉCADA PERDIDAVESTEM-SE DE MODODIFERENTE, DECORAM AS SUAS CASAS COM ARTIGOS DE OUTRAS ÉPOCAS, OUVEM MÚSICA HÁ MUITO DESAPARECIDA DAS RÁDIOS E CONDUZEM CARROS CLÁSSICOS. HISTÓRIAS DE QUEM FAZ DA CULTURA PRÉ E PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL UMA FORMA DE VIDA
POR SUSANA LIMA
mas e que não passam despercebidas. Um estilo que � caria para sempre ligado à inesquecível Marilyn Monroe. Já no que diz respeito à música, Elvis Presley é a personi� cação do verda-deiro estilo rockabilly. Com a sua pou-pa armada e volumosa, a gola levan-tada ou o carismático blusão preto de cabedal, o rei do rock n’ roll cantou e encantou com a sua voz grave e se-dutora. O seu estilo inconfundível per-dura até hoje no imaginário dos fãs mais fanáticos. As irmãs Torres não
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REVISTA MONTEPIO
estilo pinup, prefere peças mais ro-mânticas. “É o estilo das princesas”, anuncia com um sorriso. Há seis anos, decidiu levar esta paixão mais longe. Deixou para trás um empre-go na banca e abriu uma loja em ple-na vila de Oeiras. Na Hippie Lover
vão tão longe. A casa de Ana tem um estilo vintage – desde os móveis à deco-ração – mas com algumas adaptações aos dias de hoje. Já o vestuário merece uma atenção especial. “No início, com a nossa pequena máquina de costu-ra, fazíamos umas saias ou vestidos simples”, conta. Hoje, com a Internet, é tudo mais fácil. A maioria dos arti-gos vem de Inglaterra, Holanda e Ale-manha. “É claro que nos Estados Uni-dos existe imensa oferta. No entanto, devido às taxas alfandegárias, só re-corremos a artigos norte-americanos no caso de verdadeiras relíquias.”
Também Mónica Soutelo há mui-to que se rendeu ao vintage. Longe do
não faltam corações, folhos e rendas, cuidadosamente escolhidos e combi-nados. Há padrões dos anos 50 e 60, lado-a-lado com vestidos estilo belle
époque (anos 20). “Não seguimos ten-dências. O que usávamos há dez anos é o que usamos agora”, comenta.
^ CULTURA
RETRO
Discos de vinil,
carros e motos
de marcas míticas,
música intemporal.
A cultura vintage
veio para fi car
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REVISTA MONTEPIO
a minha vidaREPORTAGEMvintage
Da fl anela aos blusões de gangaDe acordo com Maria Isabel Mar-cos, professora de Design de Mo-da na Lisbon School of Design e especialista em História da Moda e Análise de Tendências, Mónica Soutelo pode ser uma visionária, sen-do das primeiras a incorporar as mu-danças de mentalidade de cada épo-ca, ou uma cética. Neste último caso, isso signi� ca que a oeirense pouco se importa com a moda. Certo é que está longe de ser uma consumido-ra comum, cuja de� nição, segundo a especialista “é aquela que procura a aceitação no seio do seu grupo pa-ra se sentir segura com o seu novo look”. “[Esta] é quem copia o estilo dos fashion leaders, mas só depois de ter a certeza que o mesmo é moda.”
Ainda assim, a professora salien-ta que as tendências não se sucedem uma a seguir à outra, numa linha temporal cronológica: “Convivem em simultâneo, em diferentes fases de crescimento e maturação.”
Segundo Mónica Soutelo, a maio-ria das clientes da Hippie Lover tem entre 25 e 35 anos. “São pessoas com um estilo mais arrojado, que não têm
EM FOCO
Museu a céu aberto
É normal
associarmos
o vintage e a cultura
pop de décadas
passadas a tendências
norte-americanas,
britânicas ou
francesas, mas esta
não é uma regra.
Portugal também tem
as suas modas vintage,
como é o caso dos
produtos vendidos por
Margarida Cerdeira na
Mar Pintado.
Especialista em
Conservação
e Restauro pela
Fundação Ricardo
do Espírito Santo, esta
Associada do Montepio
interessa-se por tudo
o que está relacionado
com o património
e as memórias
portuguesas.
A Mar Pintado foi a
concretização de um
sonho, uma extensão
de si mesma.
“Poderia perfeitamente
ser a minha casa.
Escolho cada peça não
de forma racional, mas
de uma forma mais
emotiva”, conta.
Situada no coração de
Lisboa, a dois passos
da Sé, a loja oferece
uma verdadeira
viagem no tempo a
quem a visita. Uma
viagem pelas tradições
mais antigas do nosso
país. “Tudo o que aqui
está é português e feito
à mão”, salienta.
A ajudá-la nesta
aventura tem um
amigo, marceneiro
embutidor. São suas
algumas das obras
mais originais da Mar
Pintado. Pulseiras e
pendentes de madeira
com uma espécie de
riscas coloridas – tão
perfeitas que parecem
pintadas à mão. Mas o
segredo é outro:
Ele é skater e utiliza
restos de skates. Daí as
cores vivas.”
Mantas e adufes,
sabonetes e cadernos
artesanais, artigos
de cortiça e bordados.
Cada artigo tem uma
história para contar e
Margarida faz questão
que quem a visita
fi que a conhecê-la − em
português ou em
inglês. À medida que
percorre lentamente a
loja, explicando cada
detalhe, ao lado de uma
cadeira alentejana
– uma peça sempre
muito apreciada –,
recorda que quando
era pequena teve uma
que adorava, oferecida
pelo avô. É aqui que a
sua viagem ao passado
ganha um impulso
emocional. Na verdade,
não será este que todos
os amantes do vintage
procuram?
Museu a céu aberto
“Poderia perfeitamente
Museu a céu aberto
^ MAR PINTADO
Margarida
Cerdeira é
apaixonada
pelo património
português
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Areeiro | Guerra Junqueiro | Parede | Mafra | Mem Martins
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problemas em usar um vestido mui-to rodado, com bolinhas ou animais”, explica Mónica, enquanto mostra um vestido azul repleto de pequenos bul-dogues franceses. “Eu �quei com um para mim. Quem tem um buldogue francês tem de ter um vestido des-tes”, conta.
Todas as semanas, a proprietá-ria da Hippie Lover recebe novida-des e faz questão de atiçar as clientes �éis com fotos dos artigos no charriot, que publica na página do Facebook. O toque especial, porém, está nas sel�es que tira com a roupa vestida. “Cria muita proximidade com as clientes. Ao verem as peças em mim �cam com uma ideia melhor de como irá �car nelas”, explica.
A moda de outros tempos é uma paixão antiga. Mónica Soutelo sem-pre sentiu que vivia fora de época. O seu guarda-roupa está repleto de folhos, rendas e corações. “Adoro tu-do o que tenha corações”, confessa. A loja é o seu re�exo. “Escolho cada
peça. Uma a uma.” Também na de-coração Mónica procura ter aponta-mentos vintage, como é o caso do tou-cador que comprou a uma senhora de idade. “Fazia parte da sua mobília de solteira”, conta.
O vintage está na moda e a verdade é que basta olhar à nossa volta para o comprovar. Peças dos anos 60, 70 e 80 passeiam-se pelas ruas. A cin-tura das calças das senhoras subiu, as camisas de �anela com xadrez vol-taram e os blusões de ganga e cabe-dal também.
Os mais arrojados arriscam com-binar padrões diferentes numa mes-ma toile�e, enquanto os clássicos jo-gam pelo seguro e optam por dar apenas um toque vintage ao visual. A tendência está instalada e mesmo nas marcas mais comerciais é possí-vel encontrar artigos que parecem de outras épocas. “Num mundo global e em constante mutação, o mercado da moda é cada vez mais competitivo e feroz. As marcas necessitam de ante-
cipar as tendências e acompanhar as rápidas mudanças que se veri�quem para se manterem competitivas”, des-taca a professora Isabel Marcos.
Mas não foi apenas o vestuário que regressou do passado. Há eletro-domésticos que parecem do tempo das nossas mães – como os da Smeg –, motas que lembram a que o nos-so pai tinha quando andava no liceu, a Vespa, e mobiliário que parece reti-rado do set da série “Casei com uma Feiticeira”.
De pequenino se escolhe o destinoMini. A grande tradição da família Soares resume-se a esta pequena pa-lavra, mas que, para esta, representa um grande carro. “Quem me passou o gosto pelos Mini foi o meu pai. Aos seis anos já ia com ele aos encontros do Clube Mini de Portugal (CMP)”, con-ta Gabriel Soares. O primeiro Mini
recebeu-o ainda antes de ter idade pa-ra conduzir. Com nove anos, começou
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REVISTA MONTEPIO
a minha vidaREPORTAGEMvintage
a ajudar o pai a restaurar o Mini. “Oito anos depois, estava � nalmente com-posto. É um Mini 1000, de 1979, de cor branca, todo restaurado e posto a meu gosto”, diz orgulhoso.
Gabriel Soares é um dos 3 067 só-cios do CMP – o maior clube de au-tomóveis monomarca de Portugal. “A Grande Família Mini” é compos-ta por pessoas de todas idades – a sua maioria do sexo masculino – unidas pela paixão por este emblemático au-tomóvel. “Só quem conduziu ou andou
num Mini é que sabe a adrenalina que se sente”, destaca Gabriel, que cresceu com eles: “Os Minis da minha família davam para fazer uma concentração!” O pai tem um, o padrinho e o seu ir-mão mais dois, e dois tios têm três e um, respetivamente.
Para muitos dos associados do CMP, ser proprietário de um Mini
é o reacender de uma paixão antiga que traz consigo memórias do passa-do. Mas Gabriel Soares, de 18 anos, foi seduzido pelas “novas emoções mo-torizadas” que o Mini proporciona.
Estas emoções, somadas ao seu his-torial familiar, tornaram inevitável o despertar da paixão pelo pequeno grande Mini.
Mas o jovem não está só: de tem-pos a tempos, proprietários de Minis
de todo o país respondem ao chama-mento do CMP e reúnem-se nas tão aguardadas concentrações. Aí, exi-bem orgulhosos os seus carros – uns mais restaurados que outros, alguns completamente enfeitados – num verdadeiro des� le que não deixa nin-guém indiferente.
Viver fora de épocaSeja na paixão por carros antigos ou na roupa que se veste no dia a dia, a verdade é que o vintage está na mo-da, uma espécie de regresso ao passa-do mesmo para quem nunca o viveu na pele. Para Ana e So� a Torres, po-rém, isso pouco importa: elas adoram tudo o que lembra os anos 50. Mónica Soutelo, por seu lado, sempre sentiu que vive fora de época, pois nunca se identi� cou com as tendências de mo-da do seu tempo. E Gabriel Soares e os seus companheiros do CMP serão sempre � éis ao seu Mini. Mas será fácil viver no século XXI com estilos do passado?
“Sim”, dizem as irmãs Torres. “Ape-nas nos vestimos um pouco diferen-tes dos demais e temos casas mais gi-ras!”, brincam. Noutros países, o estilo rockabilly é tão corrente como qualquer outro. Em Portugal, ainda é raro e por isso ouvem comentários como: “Que cabelo é esse? Andas mesmo assim vestida todos os dias? Vais a alguma festa de Carnaval?”
“Mas é tudo pací� co!”, lembram. “O que importa é sermos felizes e sentirmo-nos bem.” E � ca a crítica: “Vivemos numa sociedade que procu-ra formatar as pessoas e anular todo o sentido crítico e criativo.” Para Ana e So� a o importante é não ter medo de destacar a nossa originalidade, a nossa individualidade: “Todos os se-res humanos são únicos, porque não assumir isso?”
Curto, clássico ou recorrente. Estes três ciclos de moda estão presentes em
tudo o que vestimos no dia a dia.
VESTUÁRIO
Os ciclos de moda
Curto:
A tendência cresce
à mesma velocidade
com que perde força.
A nova tendência
aparece nos desfiles, é
assimilada pelos fashion
leaders e "fashionistas"
(early adopters) e segue
diretamente para as
redes de fast fashion do
mercado massificado.
O percurso é curto e tem
normalmente a duração
de uma temporada.
Clássico:
Alguns estilos
nunca se tornam
completamente
obsoletos. Modificam-
-se, atualizam-se,
mas permanecem
sempre. Renovam-se
constantemente sem
perderem a sua essência
(como por exemplo
os mocassins). Este
ciclo é caraterizado
pela simplicidade
do desenho.
Recorrente:
São estilos que voltam
com regularidade. Após
o seu desaparecimento
surgem anos depois,
embora reinterpretados
em função dos novos
tempos. São a prova
de que na moda nada
é exatamente o mesmo
e, no entanto, nada é
totalmente novo
(a moda dos 50, o punk
ou o grunge são dois
exemplos).
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REVISTA MONTEPIO
a minha vidaTEMPO LIVRE
Não são muitos dias mas são preciosos e podem fazer maravilhas. Portugal é o país ideal para roubar ao calendário uns dias só para nós. As curtas distâncias permitem reservar apenas meio dia para a viagem e as paragens, se bem pensadas, podem ser conjugadas com o melhor de dois (ou três) mundos: uma refeição magní�ca, rápida e económica. Sem esquecer que a viagem em si pode já ser um dos predicados da escapada, principalmente quando optamos por trocar as portagens pelas vistas das estradas nacionais. Todos os portugueses devem recordar-se do país maravilhoso que os acolhe.
GUIA DE ESCAPADAS
A VIDA É AGORA! AS PESSOAS SÃO O REFLEXO DO SEU QUOTIDIANO, CINCO DIAS POR SEMANA. MAS PARA QUE A SUA ENERGIA SEJA BEM APLICADA, HÁ ALTURAS EM QUE DEVE SAIR DA ROTINA. PARTA À DESCOBERTA E NÃO SE ESQUEÇA: SEMPRE NA MELHOR COMPANHIA E COM O SEU CARTÃO DE ASSOCIADO MONTEPIO
POR MIGUEL FERREIRA DA SILVA
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REVISTA [\]^_`a\
a minha vidaTEMPO LIVREguia de escapadas
Um �m de semana “aditivado” com dois dias de férias, quando bem apro-veitado, revela-se essencial à produ-tividade laboral e ao fortalecimen-to das relações familiares e pessoais, contribuindo para a nossa cultura e bem-estar. Ou seja, você, os empre-gadores, namorados/as e a família, saem a ganhar.
Emoção para toda a famíliaComeçando por cima, geogra�camen-te falando, rumamos ao Minho e a uma das suas cidades da raia interior: Chaves. Aloje-se no topo da cidade, no Hotel Casino de Chaves, e agende a aventura do dia seguinte no Pena Aventura Parque. Antes de sair da ci-dade não se esqueça de provar o me-lhor pastel folhado de Portugal.
Oitenta quilómetros a Oeste, ho-ra e meia de carro, começa o Parque Natural da Peneda-Gerês. Um bom ponto de partida para conhecer a região é o Parque Cerdeira onde, em bungalows que mais parecem ca-sas de montanha ou, para os mais aventureiros nesta época do ano, em modo campismo, tem oportuni-dade de respirar um dos melhores ares nacionais. Como no imobiliário, o importante é a localização, e o Par-que Aventura Diver Lanhoso é o lo-cal ideal para suster a respiração. Tudo isto graças à adrenalina de um “voo” a 130 Km/h no Fantasticable, o maior do seu género no mundo.
Descendo no mapa mas subin-do em altitude, à serra mais alta de Portugal Continental, temos por desti-no a Estância de Ski Serra da Estrela. Depois de estabelecido o “campo base”
numa das unidades do grupo Eurosol, em Seia ou em Gouveia, reservamos o forfait para toda a família e preparamos as máquinas para as quedas mais apa-ratosas ou proezas mais inacreditáveis. Mas sempre com um sorriso. O princi-pal para qualquer progenitor que quei-ra evitar a célebre frase vinda do banco de trás – “falta muito?” – é que todos se divirtam e levem para casa uma histó-ria para contar. Quem sabe não inspira um trabalho na escola e, também eles, marcam pontos no regresso.
Dolce Fare NienteÉ um misto de arte e ciência, e o seu maior paradigma na natureza é a bradypus torquatus, conhecida por preguiça, animal que sem esforço consegue dormir 14 horas por dia. De acordo com estudos realizados pe-la Harvard Medical School, o sono é uma atividade de extrema importân-cia que otimiza instantaneamente os níveis de energia do nosso corpo. A boa notícia é que podemos dar uma ajuda durante uma escapada às margens do rio Caima, direitos ao Hotel Rural Vale do Rio, perto de Oliveira de Azeméis. As camas são magníficas, o serviço impecável e o cenário paradisíaco (silêncio e pas-sarinhos). Para culminar, ainda po-de dar umas braçadas na piscina ou adormecer, novamente, durante uma massagem no spa. E porque dormir normalmente abre o apetite, ouse experimentar a salada exótica. Se a vista do restaurante para a serra da Freita lhe abrir o apetite, está em boa terra. Experimente as papas “ale-gria” de osso da Suã ou o polvo assa-
do, verdadeiros pitéus para verdadei-ros apreciadores.
Ideal para descansar é também a unidade Água Hotels de Mondim de Basto, no distrito de Vila Real, jun-to ao santuário da Senhora da Gra-ça e às curvas lânguidas do Tâmega. Numa das casas de montanha ou nos fabulosos espigueiros adaptados, lá no alto, o sono está mais perto das es-trelas. Antes do check out vale a pena marcar uma sessão de massagem de relaxamento no Água Viva Spa para preparar a semana que se avizinha com outra energia.
Rumando para sul e a menos de uma hora de Lisboa, rodeados por um cenário que alia a placidez da Reserva Natural do Estuário do Sado ao ambiente cosmopolita da marina do Tróia Resort, surge a joia da coroa da hotelaria da região, o Tróia Design Hotel. Este cinco estrelas não deixa o seu crédito por mãos alheias, sobretu-do em detalhes que fazem toda a di-ferença, como o pequeno-almoço ou
^ UMA ESCAPADA
de três dias é ideal para
descobrir uma cidade
a pé ou para aproveitar
o belo interior português,
como Amarante
75
REVISTA bcdefghc
no The Spa, distinguido pelos World Luxury Spa Awards. Descansar tam-bém tem destas coisas. Por isso, mi-me-se. Você merece.
Despertar os sentidosSe os seus sentidos estão formatados para as mesmas paisagens, sabores e sensações, então encare estas propos-tas como uma dieta para os sentidos. O seu Cartão de Associado tem uma chave que lhe dá acesso a estas expe-riências, ajudando-o a �car no local certo à hora certa.
A Associação Mutualista tem parce-ria com três unidades hoteleiras cujos restaurantes têm sido consagrados pelo guia Michelin: Ocean e Vila Vita Parc Resort, em Porches; Casa da Calçada, em Amarante, e o Feitoria, no Altis Be-lém, em Lisboa. Aqui, vale a pena fi-car só para prolongar a experiência por mais tempo, ainda que o seu Cartão de Associado só possa ser utilizado no alo-jamento. Por isso, se tem um especial pedido a fazer, se quer celebrar uma
^ SINTRA
Situada a poucos quilómetros
de Lisboa, é um local perfeito
para quebrar a rotina
e recuperar forças
Despertar os sentidosROMANCE
> AMARANTE Casa da Calçada Relais & Chãteaux
> ANADIA Grande Hotel da Curia Golf e Spa
> SINTRA
Palácio Seteais
WELLNESS
> MONCHIQUE
Villa Termal Caldas de Monchique GASTRONOMIA
> PORCHES Vila Vita Parc Resort, Ocean
> LISBOA
Belém Altis Hotels
> AMARANTE Casa da Calçada Relais & Chãteaux
NATUREZA
> MADEIRA, Vila Galé Santa Cruz, Snorkeling com golfinhos
> GERÊS
Parque Cerdeira
> PÓVOA DO LANHOSO
Diver Lanhoso
> ILHA DO PICO
Aldeia da Fonte
AVENTURA
> CHAVES
Hotel Solverde, Pena Aventura ParkNEVE
> SERRA DA ESTRELA
Hotéis Eurosol
> SEIA
Albergaria Senhora do Espinheiro
FAMÍLIA
> PONTA DELGADA Hotel Comfort Inn Ponta Delgada
DESCANSO
> OLIVEIRA DE AZEMÉIS
Hotel Vale do Rio
> BRAGA
Hospedaria Convento de Tibães
> MONDIM DE BASTO
Água Hotels Mondim de Basto
> TROIA Tróia Design Hotel Aqualuz Tróia
CIDADE
> GUIMARÃES
Hotel Guimarães
> LISBOA
Altis Avenida
> LISBOA
Hotel do Chiado
> PORTO
Charming House Marquês
> PORTO
Hotel da Música
HISTÓRIA
> BRAGA Villa Garden Braga
> VISEU Casa da Ínsua
DESPORTO
> LISBOA
Pestana CR7
GUIA PARA UMA ESCAPADA
data e se os dois forem apaixonados por gastronomia, este é o seu local ideal pa-ra o �m de semana.
Mas nem só de sabores se aplacam os sentidos ávidos por emoções terre-
nas. O cheiro da serra de Sintra, a vis-ta cinematográ�ca da entrada que dá vazão ao Penedo da Saudade, a impo-nência de um palácio oitocentista que invoca um tempo em que palavras co-mo mistério, requinte ou charme fa-ziam parte da civilização ocidental. E é essa marca que encontramos em Seteais, hoje operado pela cadeia Tivoli Hotels & Resorts. Além do alojamento cinco estrelas destaca-mos as T Experiences, que incluem workshops de joalharia, um piqueni-que gourmet ou um passeio de veleiro. São experiências. Memórias que vai levar consigo para casa.
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REVISTA MONTEPIO
a minha vidaTEMPO LIVREguia de escapadas
Descobrir a CidadeNão há nada como uns olhos frescos. Sair da nossa zona de conforto e en-frentar um (ou três) dia(s) numa cidade que não é a nossa mas que decidimos conquistar. Venha de comboio, autocar-ro ou de avião, porque aprender a mo-ver-se na cidade como um local faz par-te da experiência. Escolha o seu hotel como misto entre base de operações e porto de abrigo, perto do centro.
Na cidade berço, o Hotel de Gui-marães é uma escolha segura. Dali pode descobrir a pé uma cidade cuja fundação se perde na escala de carbo-no 14 mas que sabe sempre reinven-tar-se ao longo das eras. A oferta de restaurantes que testemunha a exce-lência da gastronomia portuguesa a preços acessíveis vai deixar-lhe um dilema na hora da partida – se calhar, ainda vem para cá morar.
Ao lado, Braga é como um roche-do. Não precisa de argumentos e ad-jetivos para ser uma das melhores ci-dades para se viver em Portugal. Rica em património, juventude, inovação, cultura, gastronomia, pessoas, Braga é a prova de que podemos sempre re-gressar onde fomos felizes. Esta frase é ainda mais verdadeira se tivermos o nosso poiso no Villa Garden Braga, um palacete do século XIX, a 10 minu-tos do centro histórico, que conjuga o charme das madeiras trabalhadas da escadaria e pátio interior com aponta-mentos de modernidade.
Mas um capítulo sobre cidades nunca estaria completo sem as duas maiores do país. Em Lisboa, convi-damo-lo, e à sua família, a conhe-cer o novo projeto do Grupo Pesta-na, uma parceria entre o maior gru-po hoteleiro português e o “melhor jogador do mundo”. O Pestana CR7 � ca num edifício renovado, num es-tilo cosmopolita que tem na tecno-logia o prato forte das amenities. Um dia, todos os hotéis vão ter 1GB em wireless e os hóspedes, só por se-rem clientes, vão poder ter acesso gra-tuito à Internet mesmo fora do hotel.
E fechamos este guia no Porto e com um convite ao Mercado do Bom Sucesso. Aqui as hortaliças frescas misturam-se com os restaurantes, lojas gourmet, moda e o magnífico Hotel da Música. Do “Requiem” de Mozart a “Nem às Paredes Confesso” de Amália, passando pelas “Águas de Março” de Tom Jobim, a música dá o mote a cada quarto desta unidade par-ceira da Associação. Se quiser trazer a viola pode ainda aceder a salas de en-saios disponíveis no hotel.
A viagem de regresso é sempre di-fícil. Mas não se esqueça que, em três dias, melhor é impossível.
RELAXAR COM ESTILO
Vantagens para si> PARQUE CERDEIRACampo de Gerês, Terras de Bouroparquecerdeira.comDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> DIVER LANHOSOLugar de Porto de Bois, Oliveiradiver.com.ptDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> HOTEL SOLVERDE CHAVEShotelcasinochaves.solverde.ptDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> HOTÉIS EUROSOLeurosol.ptDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> HOTEL RURAL VALE DO RIOvaledorio.ptDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> ÁGUA HOTELS MONDIM DE BASTOaguahotels.ptDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> VILA VITA PARC RESORTvilavitaparc.comDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> ALTIS HOTEL BELÉMaltishotels.comDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> CASA DA CALÇADA RELAIS & CHÃTEAUXcasadacalcada.comDESCONTO ASSOCIADO: 20%
> HOTEL GUIMARÃEShotel-guimarães.comDESCONTO ASSOCIADO: 30%
> VILLA GARDEN BRAGAvillagarden.ptDESCONTO ASSOCIADO: 15%
> PESTANA CR7 LISBOApestanacr7.comDESCONTO ASSOCIADO: 10%
> HOTEL DA MÚSICAhoteldamusica.comDESCONTO ASSOCIADO: 10%
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REVISTA MONTEPIO
4a minha vida
CRÓNICA
O facto de os ocidentais terem, de facto, repartido o domínio do mundo até ao � m da segunda guerra mundial, foi acompanhado
da convicção de que a ocidentalização era o caminho único para o desenvolvimento político, tendo como valor de referência
a democracia, e como estrutura governante um aparelho que Francis Fukuyama identi� cou como sendo a novidade Estado, isto é, um poder independente enquadrante de um povo num de� nido
território, um sistema jurídico com premissas culturais participadas, e � nalmente um executivo responsável e responsabilizável.
A longa hegemonia fez-lhes ignorar o aviso de Toynbee, no sentido de que esse chamado terceiro mundo viria a considerar os ocidentais
como os maiores agressores dos tempos modernos.
Qualquer das propostas categorias de identi-� cação do edifício político ocidental não teve em conta que as áreas culturais libertadas ti-nham pressupostos culturais diferenciados, o que torna extremamente difícil de racionaliza-ção o turbilhão político que, para os ocidentais, signi� ca violação da ordem e, para muitos dos libertados, por vezes parece que entendem ser um regresso à autenticidade das suas premis-sas aprisionadas pelos colonizadores.
Talvez se aproximem do vaticínio inquie-tante de Toynbee, em face do turbilhão que afeta populações de tão diferentes latitudes, es-tas palavras do lembrado Fukuyama: “a estabi-lidade dos equilíbrios disfuncionáveis sugere uma razão por que a violência desempenhou um importante papel na inovação institucional e nas reformas. A violência costuma ser enca-
rada como um problema que os políticos têm de resolver, mas por vezes é a única forma de desalojar interesses instalados que bloqueiam a mudança institucional”. Que tais observações tenham apoio nos distúrbios que não se aquie-taram depois das independências que se multi-plicaram no terceiro mundo, não exclui que na área ocidental, que perdeu o domínio colonial, se tenha julgado poder organizar o globalismo com respeito pelos seus especí� cos e enume-rados princípios. Ao contrário, a pluralidade de interpretações e rejeições, a diversidade dos interesses, a complexidade inesperada das no-vas circunstâncias, vieram a promover um de-clínio das instituições oferecidas, quer nas an-tigas colónias, quer nas diferentes antigas sedes imperiais, afetadas pela crise � nanceira global que desa� ou a manutenção de uma estrutura que a longa história lhes parecia consolidar na essência, ainda que multiplicando as formas.
A experiência que vivemos nesta passagem de século foi a de que a inovação institucional exige, para que a paz não seja quebrada, que os interesses existentes, e até politicamente domi-nantes, participem no reconhecimento da justiça da mudança, o que de regra implica não infrin-gir os valores essenciais das sociedades em cau-sa. Sirvam de tema de meditação as diferenças, no incipiente regionalismo europeu, dos Estados de criação ocidental.
O modelo ocidental de governança, com séculos de formação, não foi uma súbita obe-diência a qualquer mensagem vinda do alto, e começou por enfrentar o globalismo com a solução imperial para o que chamou resto do mundo. Lembrou recentemente Roger Crow-le, no seu estudo sobre “como Portugal criou o primeiro império global”, uma carta de Afonso de Albuquerque para o Rei, já consciente do � m da vida, escrevendo que “os fumos da Ín-dia são poderosos – temo que chegará a altu-ra em que, em vez de sermos conhecidos como guerreiros, como agora, seremos conhecidos como tiranos cobiçosos”. Passaram séculos, e os antigos donos dos impérios foram surpreendi-dos pelas múltiplas invocações das previsões de Albuquerque.
NOTA: O autor continua a escrever segundo
a chamada norma antiga.
ADRIANO MOREIRA
O DECLÍNIO POLÍTICO
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REVISTA MONTEPIO
a minha vidaPASSEIOS COM HISTÓRIA
SAIBA MAIS
FUNDAÇÃO CASA DE MATEUS – VILA REAL
TEL: 259 323 121
HORÁRIO: DE MAIO A OUTUBRO DAS 9H ÀS 19H30.
DE NOVEMBRO A ABRIL DAS 9H ÀS 18H
www.casademateus.pt
CASA DE MATEUS
REGRESSO AO PASSADO EM TRÁS-OS-MONTES
Reza a lenda que a Casa de Mateus foi projetada pelo italiano Nicolau Nasoni, arquiteto italiano radicado em Portugal no início do século XVIIIe que foi responsável, entre outros projetos, pela Igreja dos Clérigos, no Porto. Suposições à parte, uma coisa é certa: a Casa de Mateus foi mandada construir por António José Botelho Mourão, 3º Morgado de Mateus, e substituiu há mais de 250 anos uma casa de família já existente no mesmo local. Considerada Monumento Nacional desde 1910, a Casa de Mateus é um dos ex-líbris da região de Vila Real, tendo recebido 97 000 visitantes em 2015
MONUMENTO NACIONAL DESDE 1910, A CASA DE MATEUS LEVA-NOS NUMA VIAGEM ATÉ AO SÉCULO XVIII, COM A SUA ARQUITETURA BARROCA E ESPÓLIO CULTURAL INCALCULÁVEL. UM PONTO DE PARTIDA PARA CONHECERMOS MELHOR TRÁS-OS-MONTES E AS SUAS GENTES
POR CARLOS MARTINHO
FOTOGRAFIA CASA DE MATEUS
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REVISTA ijklmnoj
“É um ponto de grande interesse turístico. O número de visitantes, na-cionais e estrangeiros, tem vindo a aumentar nos últimos anos”, explica José Carlos Fernandes, diretor técni-co do monumento. Em 2016, segundo o responsável, o número de visitantes será superior ao do ano anterior.
Uma história com mais de 500 anosVisitar a Casa de Mateus é regressar ao século XVI e aos primeiros mem-bros desta casa de família, os Morga-dos de Mateus. A visita tem um am-biente familiar: em cada sala é con-tada a história de uma família cuja riqueza foi sendo preservada até aos dias de hoje. “São dados a conhecer os principais membros, desde o século XVI, bem como todo o enquadramento histórico e arquitetónico”, explica José Carlos Fernandes.
Os jardins que envolvem a casa ins-piraram-se nos jardins de Versalhes. Mais recentemente, uma intervenção do arquiteto Francisco Ribeiro Teles deu a oportunidade a cada um dos vi-sitantes de se fascinar com o re�exo da casa num espelho-d'água.
Um das principais atrações da visi-ta, porém, encontra-se dentro da casa. A biblioteca tem um espólio com cerca de 6 000 livros, alguns que datam do sé-culo XVI. Nesta sala encontra-se ainda
Iniciativa Montepio ^ 18 DE FEVEREIRO
15H
Inscrições: [email protected] de inscrição: 15,50€
INFORMAÇÕES
montepio.pt/vantagens-associado
exposta a primeira edição ilustrada de Os Lusíadas (1817), ordenada por D. José Maria, 5º Morgado de Mateus, Morgado d’Os Lusíadas. “Foi elaborado nas o�cinas Firmin Didot, em Paris, e conta com gravuras dos artistas Gé-rard, Decenne e Fragonard. As chapas
de cobre também estão expostas na sala”, refere José Carlos Fernandes.
A visita guiada à casa, capela e espaços de exposição tem a duração de 60 minutos, começando na adega. Há cinco séculos que a família da Casa de Mateus está ligada à vitivi-nicultura, pelo que é impossível dei-xar Trás-os-Montes sem conhecer e degustar os vinhos produzidos pela empresa Lavradores de Feitoria.
A visita dos jardins não é guiada. Assim, os visitantes podem perma-necer o tempo que desejarem e per-derem-se na sua beleza envolvente. E, quem sabe, imaginar as histórias que já percorreram aqueles cami-nhos mágicos.
DESTAQUE
Fundação abriu a casa ao mundo
Mandada
construir
por António
José Botelho Mourão,
por volta de 1743,
a Casa de Mateus
sobreviveu mais de
200 anos como solar
privado de família.
Em 1971, porém, foi
criada a Fundação da
Casa de Mateus, que
tem desenvolvido um
extenso programa
de manutenção
e recuperação do
património e abriu
a casa ao mundo.
Desde então, assegura
o diretor técnico da
fundação, foi feito um
“investimento colossal
na recuperação do
monumento nacional”.
“Foram recuperados
todos os espaços
interiores da casa
bem como toda a sua
envolvente”, explica.
O maior esforço ocorreu
em 2005, ano em que
diversos espaços da
casa e espólio móvel
foram restaurados
para permitir a
abertura aos visitantes.
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4
REVISTA pqrstuvq
a minha vidaCRÓNICA
Sobe a rua vagarosamente. Agora usa bengala para melhor se equilibrar. A subida é íngreme, e ele só há pouco tempo começou
a sentir as di�culdades. Amanhã tem de mandar a crónica e já amanhou duas ou três ideias. Gosta de escrever acerca de pessoas
simples, que nada mais �zeram senão trabalhar toda a vida. Ele teve sorte, apesar de tudo. Trabalhou em jornais, como revisor,
e chegou a escrever um livro, melancólico e grave, sobre pessoas que ia conhecendo. A época não era propícia a temas simples, daquela
natureza, e o livro não obteve êxito, mínimo que fosse, e ele desistira. Mas era um bom revisor de provas e, por isso, era chamado,
com relativa frequência, para rever textos deste e daquele.
Sobe a rua e pensa nos netos, o Francisco e o Manuel. Sorri de pequena felicidade, e não deixa de caminhar. Um pouco ofegante, ago-ra; mas tenciona parar, um pouco mais aci-ma, na barbearia do Cosme, com quem gosta de conversar de livros e de cultura. O Cosme é um barbeiro antigo e culto, dos quase desapa-recidos, barba e cabelo impecavelmente feitos. Conhecem-se desde tempos quase imemoriais, quando havia polícia política, prisões cheias de recalcitrantes, e pessoas desavindas em turbi-lhão. Às vezes, ele pensa: os antigos estão a de-saparecer, de velhos e de doenças, é assim. Ele continua a ler. De preferência Emile Zola, e os portugueses Ferreira de Castro e Alves Re-dol. Conheceu os dois, e chegou a rever provas de tipogra�a de textos de ambos. Nessa altura, a mulher ajudava-o, mas ela morrera de doen-ça súbita, e ele �cara só, desorientado e sem sa-ber como prosseguir. Mas prosseguiu, com ar-dor e mais afã. O trabalho ocultava um pouco a dor de se sentir só. Os �lhos, três, tinham a sua vida, e mais que fazer do que aturar um velho agarrado à sua solidão e à sua velhice.
Há três semanas começou a sentir di�culda-de em caminhar. Pensou que era uma di�cul-dade momentânea. Disse ao Cosme, e o Cosme sorriu, benevolente e atencioso. “Estás velho. Estamos velhos. Eu também sinto di�culda-des em andar, mas que posso fazer?”
Mais um pouco e lá chegaria. Ofegante e com as pernas doentes e dolentes, lá chegou. Os velhos chegam sempre, é preciso é querer chegar. Um dia destes vai escrever uma his-tória de velhos que nunca chegam ao destino, mas que persistem. O Cosme está à porta da barbearia. Esperava pelo amigo, e assistira à sua caminhada di�cultosa. Agora iam beber um café ou uma cerveja, tanto faz.
Agora, sente que envelheceu. Melhor, que está a envelhecer. Esquece-se de muita coisa e, sobretudo, de frases, de títulos de livros e do rosto de muita gente. Esquecer é um modo de matar ou de estar morto. A vida. Aprendeu que a vida é também isto. E sorri.
BAPTISTA-BASTOS
O REVISOR DE LIVROS SOBE A CALÇADA
NOTA: O autor continua a escrever segundo
a chamada norma antiga.
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REVISTA wxyz{|}x
a minha vidaTESTEMUNHO
SÉRGIO MOURA AFONSO
Começou a sua atividade em 1995, no grupo de teatro escolar Os Jotas,
e fundou a Companhia de Teatro de Marionetas Os Valdevinos, teatromosca
e a Companhia da Esquina. Tem participado em séries de televisão, curtas
metragens e publicidade desde 2000. Acumula desde 2010 a profissão de
professor de Interpretação e de coordenador do Curso de Artes de Espetáculo –
– Interpretação no Instituto para o Desenvolvimento Social (IDS), em protocolo
com o Teatro A Barraca.
perguntas a...
Qual a figura histórica com que
mais se identifica?
Nenhuma, por não me sentir à altura
de nenhuma. Mas existem várias
que admiro, da política às artes.
Qual o seu maior medo?
Medo a sério é de abelhas! Receio
ou temor é o de não chegar a fazer
as coisas que desejo concretizar,
tanto a nível pessoal como
profissional.
Qual a sua ideia de felicidade
perfeita?
É um dia passado em família.
É o dia da estreia de um espetáculo
novo. É ter tempo para contemplar.
É um bolo sem culpa. É um concerto
de uma das bandas de eleição.
É ter amigos!
Qual o seu maior feito?
São 3: uma carreira de ator de
Esta entrevista foi realizada seguindo
as premissas do famoso Questionário
de Proust, que pretende refletir a
personalidade do entrevistado. O nome
e popularidade deste questionário estão
relacionados com as respostas dadas pelo
escritor francês Marcel Proust.
21 anos e as minhas duas filhas.
Deram todos muito trabalho e prazer.
Se morresse e ressuscitasse como
uma pessoa ou animal, quem
escolheria ser?
Um lobo. Escolheria um animal
para poder descansar um pouco
da convivência com os Homens.
Quem são os seus heróis na vida
real?
Todos aqueles que conseguem
sobreviver todos os dias. Tanto
as pessoas que lutam contra doenças
assassinas como os fugitivos
de guerras desumanas e cruéis.
O que aprecia mais nos seus amigos
e família?
O facto de, ainda que não esteja
presente tanto como desejaria,
sentir que estarão sempre lá quando
necessário. Aprecio o agradecimento
num abraço ou numa palavra
quando posso contribuir de alguma
forma positiva.
Se pudesse mudar algo em si, o que
seria?
Mudaria o mais óbvio para todos
os que me conhecem: a teimosia.
Por vezes levo-a ao limite e acabo
por desapontar os mais próximos.
Quem é o seu ator favorito/a?
A nível internacional Robert
De Niro. No plano nacional, admiro
vários mas destacaria uma atriz
extraordinária, Carla Galvão.
Qual a figura do teatro que mais
admira?
Todos os que conseguem ainda fazer
teatro em Portugal. Os que, com ou
sem subsídios, trabalham para atrair
público às salas. Os que fazem um
trabalho diário honesto.
©M
IGU
EL
CA
RD
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O
NOTÍCIAS INSTITUCIONAIS, INICIATIVAS,
PROJETOS E COMUNICADOS
O MEU MONTEPIO
página 88
AGENDANão perca todas as atividades e iniciativas que preparámos, este trimestre, para os associados Montepio
página 84
ÀS VEZES O AMORPatrocinado pela Associação Mutualista Montepio, o festival que celebra o amor regressa em fevereiro com espetáculos em 12 cidades
página 86
DESCONTOSInvista em si e na sua família e beneficie de descontos junto de uma extensa rede de parceiros
84
REVISTA MONTEPIO
5o meu montepioCULTURA
Quantos namorados se conheceram à boleia de músicas de Jorge Palma, Rui Veloso, André Sardet ou João Pedro Pais? É verdade: o amor combina com a música, talvez a forma de arte mais romântica das sete ditas tradicionais. E para os fãs apaixonados, pela músi-ca e não só, a Associação Mutualista Montepio patrocina, pelo terceiro ano, o Festival Montepio Às Vezes o Amor, uma celebração que vai percorrer doze cidades portugueses nos dias 11 e 14 de fevereiro.
Rui Veloso, Jorge Palma, Bruno Nogueira e Manuel Azevedo (do pro-jeto Deixem o Pimba em Paz), Amor Electro, Áurea, HMB, Gisela João, Raquel Tavares, André Sardet, João Pedro Pais, Rita Guerra e Paulo Gon-zo são os nomes anunciados. Este ano, o Festival vai chegar pela primeira vez a Aveiro, Beja, Coimbra, Faro, Viana
FESTIVAL
ÀS VEZES, O AMOR LIGA-NOS À MÚSICAO FESTIVAL MONTEPIO ÀS VEZES O AMOR TRAZ-NOS MÚSICA PARA NAMORAR. NOS DIAS 11 E 14 DE FEVEREIRO, O AMOR VAI ESTAR NO AR EM 12 CIDADE PORTUGUESAS, DE VIANA DO CASTELO A FARO. CONHEÇA OS NOMES QUE ESTARÃO PRESENTES NA 3ª EDIÇÃO DO FESTIVAL E QUAIS OS DESCONTOS PARA OS ASSOCIADOS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIO
FESTIVAL MONTEPIO ÀS VEZES O AMOR
Os dias dos concertos
11 DE FEVEREIRO*
^ Rui Veloso,
Centro Cultural de Viana do Castelo
^ Jorge Palma,
Teatro Aveirense, Aveiro
^ Raquel Tavares,
Cine Teatro Pax Julia, Beja
^ HMB, Teatro Municipal de Vila do
Conde
^ Rita Guerra, Centro Cultural e Social
de Olival, Vila Nova de Gaia
^ Paulo Gonzo, Centro de Congressos
de Arade, Lagos
^ Áurea, Cine Teatro Avenida, Castelo
Branco
^ André Sardet, Teatro Lúcio da Silva,
Leiria
14 DE FEVEREIRO*
^ Deixem o Pimba em Paz, Coliseu dos
Recreios, Lisboa
^ Gisela João, Convento S. Francisco,
Coimbra
^ Amor Electro, Coliseu do Porto
^ João Pedro Pais, Teatro das Figuras,
Faro
*todos os concertos começam às 22h
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REVISTA MONTEPIO
A Associação Mutualista Montepio patrocina os concertos de Dengaz nos coliseus do Porto e Lisboa
Luís Mendes, mais conhecido pe-lo nome de palco Dengaz, vai atuar aos coliseus do Porto e Lisboa nos dias 17 e 18 de março, respetivamen-te. Os concertos são patrocinados pela Associação Mutualista Monte-pio e são a consequência do sucesso do seu segundo álbum de originais, “Para Sempre”, que chegou a núme-ro um de vendas digitais em apenas algumas horas e de onde se destaca-ram os singles “Dizer que Não” (qua-tro platinas digitais) e “Nada Errado” (uma platina digital).
Os concertos têm direção musi-cal de Twins, produtor do último álbum, sendo que Dengaz terá a companhia da Ahya Band e de vá-rios convidados.
Os associados Montepio, e acom-panhante, bene� ciam de 20% descon-to na aquisição de bilhetes, um bene-fício válido nas bilheteiras dos coli-seus de Lisboa e Porto.
Carreira feita a pulsoDengaz iniciou a carreira musical aos 14 anos quando, com um grupo de amigos, fundou os Dinastia. Mais tarde, juntou-se à banda de reggae
InnaStereo, antes de ingressar num projeto a solo que veio a culminar, numa primeira fase, no seu primei-ro álbum em nome individual, inti-tulado Skill Respeito & Humildade.
O ano de 2013 marcou a con� r-mação de Dengaz como uma das re-velações da música portuguesa, ao que se seguiram dois anos de tra-balho que deram origem ao álbum “Para Sempre”, lançado em 2015.
Associação Mutualista vai correr em CascaisA Baía de Cascais é o ponto de partida e chegada da Montepio Meia Maratona de Cascais
A beleza da vila de Cascais – e arre-dores – é o pano de fundo da Monte-pio Meia Maratona de Cascais, uma prova de corrida patrocinada pe-la Associação Mutualista Montepio e pela Caixa Económica Montepio Geral e que tem na famosa baía da vila o ponto de partida e chegada. A Montepio Meia Maratona de Cas-cais vai realizar-se a 25 e 26 de feve-reiro, fim de semana de Carnaval, pelas 10h. A prova engloba a Meia Maratona (num total de 21,0975 km),
os 5 km de Cascais e a Corrida das Crianças. As inscrições são gratuitas para as crianças dos 5 aos 13 anos – existe um limite de 500 participantes neste escalão – e tem um custo entre os 10€ e os 14€, para os restantes par-ticipantes.
A Montepio Meia Maratona de Cascais conta com o apoio da Câma-ra Municipal de Cascais e do Centro de Cultura e Desporto do Pessoal do Município de Cascais. Saiba mais em meiamaratonadecascais.pt.
Dengaz nos coliseus em MarçoA Associação Mutualista Montepio patrocina os concertos de Dengaz nos coliseus do Porto e Lisboa
do Castelo, Vila Nova de Gaia e Lagos, cidades que se juntam a Castelo Bran-co, Leiria, Lisboa, Porto e Vila do Con-de, que renovam os concertos.
Associados Montepio com descontoOs interessados em assistir a estes espetáculos não devem demorar na aquisição do bilhete: é que todos os concertos das duas edições anteriores tiveram lotação esgotada. Os associa-dos Montepio têm direito a um des-conto especial de 20% sobre o preço do bilhete (entre os 10€ e 30€) a partir de 1 de janeiro e até aos dias dos espetá-culos. Este desconto aplica-se ao por-tador do Cartão de Associado e res-petivo acompanhante, num máxi-mo de dois bilhetes por Associado. A aquisição do bilhete deve fazer-se na sala onde se realiza o espetáculo.
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REVISTA MONTEPIO
DESCONTOSE BENEFÍCIOS PARA ASSOCIADOS
VANTAGENS DE SER
ASSOCIADO/A MONTEPIO
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Em Ribeira Grande
e Ponta Delgada.
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feriados) e workshops Gin
Sushi e Golfe (4 pessoas).
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experiência de Golfe (30 min.)
por cada 4 pessoas.
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compras (exceto
artigos em campanha
ou promoção).
Em Coimbra e Aveiro.
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anuais. Em Abrantes, Sardoal,
Mação e Alvaiázere
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Netoys – Brindes e Brinquedos
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e modelismo ferroviário). No Porto
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87
REVISTA MONTEPIO
Descontos para associados MontepioNovos acordos celebrados
CONSUMO
LOJAMUSICA.COMCOIMBRA E AVEIRO
SCIENCE4YOUCOBERTURA NACIONAL
LOJA EQUIVALENZA/SWEET APPLEBENEDITA
OURIVESARIA JADEPÓVOA DE VARZIM
NETOYS – BRINDES E BRINQUEDOSPORTO
CULTURA E LAZERATIVIDADES E OCUPAÇÃO
DE TEMPOS LIVRES
PARQUE CERDEIRAGERÊS
FORMAÇÃO
GOGLOBAL – FORMAÇÃO EM LÍNGUASABRANTES, SARDOAL, MAÇÃO, ALVAIÁZERE
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CLÍNICA CUF ALMADAALMADA
VIZELMÉDICA – CLÍNICA MÉDICA DE VIZELAVIZELA
CLINIMÓSPORTO DE MÓS
CLÍNICA DA TOCHA – MEDICINA DENTÁRIATOCHA
CLÍNICA UROLÓGICA DR. ROGÉRIO C. GOUVEIAMOSCAVIDE
SAÚDEREABILITAÇÃO FÍSICA/
CENTROS DE ENFERMAGEM
FISILEÇA – CLÍNICA DE REABILITAÇÃOLEÇA DA PALMEIRA
SANTA CASA MISERICÓRDIA DO MACHICO – CENTRO MÉDICO E DE REABILITAÇÃOMACHICO
FISIO SAÚDEALPENDURADA
SAÚDEHOSPITAIS
HOSPITAL CUF SANTARÉMSANTARÉM
SAÚDEEQUIPAMENTO HOSPITALAR
I-MOVEMAISPORTO
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CLÍNICA VETERINÁRIA DE SANTANAPONTA DELGADA E RIBEIRA GRANDE
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disponível (BAR) e sobre a
carta de SPA. Em Mondim
de Basto, Mesão Frio,
Lagoa, Carvoeiro e Nelas.
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Aldeia da Mata Pequena10% no alojamento (com exceção dos
meses de julho e agosto, Carnaval,
Páscoa e fi m de ano). Em Igreja Nova,
Mafra. aldeiadamatapequena.com
10%DESCONTO
10%DESCONTO
10%DESCONTO
REVISTA MONTEPIO
88WORKSHOP
DIA 28 | 15H | ATMOSFERA M, LISBOA “PENSAMENTO SAUDÁVEL, AUTOESTIMA, AUTOCONFIANÇA, E A SUA LIGAÇÃO COM A NOSSA IMAGEM E POSTURA”
3h00 | 20€
VISITA ORIENTADA
DIA 28 | 15H | LISBOA A MAÇONARIA EM PORTUGAL
3h30 15€ (adultos)7,50€ (entre os 11 e os 18 anos)Gratuito até aos 10 anos(os valores de inscriçãoincluem lanche)
VISITA ORIENTADA
DIA 4 | 15H | PORTOPALÁCIO EPISCOPAL
4€
WORKSHOP
DIA 4 | 15H | ATMOSFERA M, PORTO “A NOSSA IMAGEM ATUAL E A PRETENDIDA, REGRAS GERAIS DE VESTUÁRIO, GUARDA--ROUPA BÁSICO E ESSENCIAL, O PAPEL DOS ACESSÓRIOS”
3h00 20€
VISITA ORIENTADA
DIA 8 | 15H | LISBOAIGREJA DE SÃO DOMINGOS
15€ (adultos)7,50€ (entre os 11 e os 18 anos)Gratuito até aos 10 anos(inclui lanche)
AGENDAATIVIDADES EXCLUSIVAS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIONÃO PERCA PASSEIOS, ATIVIDADES
AO AR LIVRE, CURSOS, VISITAS
ORIENTADAS OU WORKSHOPS
CRIADOS A PENSAR EM SI E NA
SUA FAMÍLIA. MARQUE NA AGENDA,
RESERVE O DIA E INSCREVA-SE
PARA UMAS HORAS OU UM DIA
BEM PASSADOS
JANEIRO FEVEREIRO
VISITA ORIENTADA
DIA 18 | 10H | VILA REALSANTUÁRIO DE PANOIAS
2€
VISITA ORIENTADA
DIA 19 | 10H E 15H | VILA POUCA DE AGUIARA MINAS DE BOTICAS
Gratuito
VISITA ORIENTADA
DIA 22 | 15H | LISBOASÉ DE LISBOA
15€ (adultos)7,50€ (entre os 11 e os 18 anos)Gratuito até aos 10 anos(inclui lanche)
WORKSHOP
DIA 25 | 14H | ATMOSFERA M, LISBOA “A NOSSA IMAGEM ATUAL E A PRETENDIDA, REGRAS GERAIS DE VESTUÁRIO, GUARDA--ROUPA BÁSICO E ESSENCIAL, O PAPEL DOS ACESSÓRIOS”
3h00 | 20€
8FEVEREIRO
IGREJA DE SÃO DOMINGOS
4FEVEREIRO
PALÁCIO EPISCOPAL DO
PORTO
REVISTA MONTEPIO
VISITA ORIENTADA
DIA 5 | 10H | LAMEGOMUSEU DE LAMEGO
Gratuito
VISITA ORIENTADA
DIA 5 | 15H | LAMEGO SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS E IGREJA DE SANTA CRUZ
5€ (gratuito para menores de 6 anos)Inclui degustação de enchidos e prova de vinhos do Douro
VISITA ORIENTADA
DIA 8 | 15H | LISBOASÃO VICENTE DE FORA
15€ (adultos)7,50€ (entre os 11 e os 18 anos)Gratuito até aos 10 anos(inclui lanche)
PASSEIO COM HISTÓRIA
DIA 18 | 15H | PORTO“OS JUDEUS NO PORTO”
3€
8MARÇO
SÃO VICENTE DE FORA
SAIBA MAISwww.montepio.org
Informações e inscriçõesGabinete de Dinamização Associativa
[email protected]. 213 249 230/1
MARÇO
DIA 5 | MUSEU DE LAMEGO
Gratuito Gratuito
DIA 5 | SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS E IGREJA DE SANTA CRUZ
5€ (gratuito para menores de 6 anos)Inclui degustação de enchidos e prova de vinhos do Douro
18MARÇO
“OS JUDEUS NO PORTO”
4 e 25FEVEREIRO
“A NOSSA IMAGEM ATUAL E A PRETENDIDA, REGRAS GERAIS
DE VESTUÁRIO, GUARDA-ROUPA BÁSICO E ESSENCIAL,
O PAPEL DOS ACESSÓRIOS”
22FEVEREIROSÉ DE LISBOA
90
REVISTA MONTEPIO
90
UM ESPAÇO PARA PENSAR E AGIR
AGENDA
ESPERAMOS POR SIPORTO | Rua Júlio Dinis, n.° 160, 6.° piso | CONTACTOS T.: 220 004 270 E-MAIL [email protected] horário Segunda a sexta-feira, das 9h00 às 19h00 | Sábados das 11h00 às 17h00 (Biblioteca das 13h00 às 19h00) | Encerrado aos domingos e feriados
LISBOA | Rua Castilho, n.° 5 | CONTACTOS T.: 210 002 730 e-mail [email protected] horário Segunda a sexta-feira, das 9h00 às 19h00 | Sábados, das 11h00 às 17h00 | Encerrado aos domingos e feriados.
Mais informações
sobre as atividades dos atmostera m
emmontepio.pt/atmosferam
OS ESPAÇOS ATMOSFERA M
CONSTITUEM UMA REFERÊNCIA
NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA
E DA CULTURA JUNTO
DA SOCIEDADE CIVIL, DOS
PARCEIROS E ASSOCIADOS DO
MONTEPIO E SUAS FAMÍLIAS.
Os associados Montepio podem usufruir de atividades permanentes?
f BookCrossing
f Clube de leitura
f Formações e cursos livres
f Iniciativas do Clube Pelicas
f Encontros GEPE
f RUTIS Porto
f Encontros Toastmasters
f Tertúlias e conferências
Sabia que...
ARTE TÊXTIL
Inauguração a 4 de fevereiroDulce Roselló, Associada Montepio,
apresentará uma exposição com trabalhos
desenvolvidos em 2016. Em paralelo, a
artista desenvolverá workshops gratuitos.
PORTOEXPOSIÇÕES
ANGOLA: MUXIMA, DESENHO
E TEXTO, Inauguração a 16 de janeiro Através do traço de Luís Ançã e do texto
de Luís Mascarenhas Gaivão, ambos
associados Montepio, esta exposição
constitui uma homenagem à natureza
e humanidade dos angolanos.
CLUBE PELICAS
Aos sábados, o Clube Pelicas acolhe
associados até aos 13 anos em Lisboa
e Porto. Saiba mais em clubepelicas.pt.
LISBOA E PORTO CONVERSAS ENTRE PAISUma vez por mês marcamos encontro
com pais e mães para uma conversa
sobre temas ligados às crianças. Tema de
janeiro: “Bullying", dia 14 em Lisboa e 28 no
Porto. Tema de Fevereiro: “Uso das Novas
Tecnologias”, dia 11 em Lisboa e 25 no Porto.
AGENDA CLUBE PELICAS
28 JANEIRO
>Workshop de Dança, Porto
> Workshop de Expressão Artística,
através da MandalasLisboa
4 FEVEREIRO
>Ioga para Crianças, Porto
>Histórias Contadas, Lisboa
11 FEVEREIRO
>Workshop "O Mocho Encantado", Porto
> Ioga para Crianças & Expressão
Artística, Lisboa
18 FEVEREIRO
> Workshop Origami & Música para
Crianças, Porto
> Música para Crianças e Workshop
Robótica, Lisboa
25 FEVEREIRO
> Workshop máscaras de Carnaval, Porto
e Lisboa
JANEIRO E FEVEREIRO
LISBOA
CURSOS LIVRES
Oferta formativa composta por cursos
dedicados a diversas temáticas.
A inscrição é livre e exclusiva a
associados. Será emitido um
certifi cado/diploma de frequência.
POLÍTICA INTERNACIONAL
CONTEMPORÂNEACurso destinado a dar aos participantes
instrumentos de análise política,
tendo por base a História recente.
Formador: Bernardo Pires de Lima
Horário: Segundas-feiras, das 19h00 às 20h30
Duração total: 18 horas
O QUE É A JUSTIÇA?O programa visa descodifi car
a Justiça em Portugal, dos direitos
fundamentais ao direito da Família
ou ao funcionamento dos tribunais.
Formador: a designar
Horário: Quartas-feiras, 19h00-20h30
Duração total: 18 horas
COMUNICAÇÃO EFICAZ E
BOM USO DA LÍNGUA PORTUGUESA Formação orientada ao aperfeiçoamento
das competências linguísticas e
comunicacionais, no que respeita ao uso
correto da Língua Portuguesa.
Formador: Sandra Duarte Tavares
Horário: Quintas-feiras, 19h00-21h00
Duração total: 20 horas
HISTÓRIA(S) DA ARTEUma viagem pelos paradigmas
da arte ocidental.
Formador: Rui Mateus
Horário: Sextas-feiras, 17h00-18h30
Duração total: 8 horas
EXPOSIÇÕES
IMPRESSÕES ARTÍSTICASA promoção da expressão artística
e autodeterminação de pessoas com
difi culdades intelectuais são ferramentas
de empowerment que contribuem para
uma sociedade mais inclusivas. Projecto
da PrimaverArte, desenvolvido pelo CECD
Mira Sintra, em parceria com a Câmara
Municipal de Sintra, Teatromosca e o
Instituto Nacional para a Reabilitação.
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