Download - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
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Universidade Federal de Santa CatarinaPrograma de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo
ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO ASSOCIADA CINESIOTERAPIA DE PAUSA COMO MEDIDAS PREVENTIVAS
E TERAPUTICAS S L.E.R./D.O.R.T. EM UMABATEDOURO DE AVES
Elcimar da Silva Reis
Dissertao apresentada aoPrograma de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo daUniversidade Federal de Santa Catarina
Como requisito parcial para obtenodo ttulo de Mestre em
Engenharia de Produo
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2Florianpolis2001
Elcimar da Silva Reis
ANLISE ERGONMICA DO TRABALHO ASSOCIADA CINESIOTERAPIA DE PAUSA COMO MEDIDAS
PREVENTIVAS E TERAPUTICAS S L.E.R./D.O.R.T. EM UM ABATEDOURO DE AVES
Esta dissertao foi julgada e aprovada para aobteno do ttulo de Mestre em Engenharia deProduo do Programa de Ps-Graduao em
Engenharia de Produo daUniversidade Federal de Santa Catarina
Florianpolis, 27 de agosto de 2001.
Profa. Leila Amaral Gontijo, Dra.Coordenadora do Curso
BANCA EXAMINADORA
_________________________________ Prof. Edio Luiz Petroski, Dr.
Orientador
_____________________________Prof. Jos Maral Jackson Filho, Dr.
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3__________________________________ Prof. Eugnio Merino, Dr.
A minha esposa, Patrizia, por todo amor, constante e incondicional apoio,
encorajamento e pacincia.
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4AgradecimentosAo orientador Prof. Edio Luiz Petroskipelo seu acompanhamento pontual eorientao competente e profissional.
todos os que direta ou indiretamentecontriburam para a realizao
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5desta pesquisa.
Sumrio
Lista de Figuras........................................................................................................ix
Lista de Tabelas........................................................................................................x
Resumo....................................................................................................................xi
Abstract...................................................................................................................xii
1 INTRODUO......................................................................................................1
1.1 Apresentao da Problemtica..........................................................................1
1.2 Justificativa e Relevncia do Trabalho...............................................................4
1.3 Objetivos do Trabalho........................................................................................6
1.3.1 Objetivo Geral................................................................................................6
1.3.2 Objetivos Especficos.....................................................................................6
1.4 Questes Investigadas.......................................................................................7
1.5 Delimitao do Estudo........................................................................................9
2 REVISO DA LITERATURA...............................................................................10
2.1 As L.E.R./D.O.R.T. e a Industrializao do Frango.........................................10
2.1.1 Nomenclaturas e Aspectos Conceituais das L.E.R./D.O.R.T.......................10
2.1.2 As Etiologias das L.E.R./D.O.R.T.................................................................13
2.1.3 Evoluo das L.E.R./D.O.R.T.......................................................................16
2.1.4 Principais Leses no Setor de Eviscerao e Seus Fatores Causais..........20
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62.1.4.1 Sndrome Tensional do Pescoo (STP).................................................20
2.1.4.2 Tendinite ou Sndrome do Impacto do Ombro..........................................22
2.1.4.3 Epicondilites Lateral e Medial....................................................................24
2.1.4.4 Tendinite e/ou Tenossinovite de Punho....................................................26
2.2 A Normatizao das L.E.R./D.O.R.T...............................................................29
2.3 A Ergonomia e a Preveno das L.E.R./D.O.R.T...........................................34
2.3.1 Conceituao e Caractersticas da Ergonomia...........................................34
2.3.2 Preveno das L.E.R./D.O.R.T...................................................................36
3 METODOLOGIA................................................................................................41
3.1 Primeira Etapa: Observaes e Registros Documentais................................42
3.2 Segunda Etapa: Coleta de Dados..................................................................43
3.3 Terceira Etapa: Programa de Cinesioterapia de Pausa.................................46
3.4 Quarta Etapa: Reavaliao Fsica..................................................................46
3.5 Quinta Etapa: Tratamento Estatstico dos Dados...........................................47
4 ANLISE ERGONMICA DO SETOR DE EVISCERAO.............................48
4.1 Anlise da Demanda.......................................................................................48
4.2 Anlise da Tarefa............................................................................................49
4.2.1 Homem.........................................................................................................49
4.2.2 Mquinas......................................................................................................50
4.2.3 Entradas e Sadas........................................................................................54
4.2.4 Aes...........................................................................................................54
4.2.5 Meio Ambiente.............................................................................................55
4.2.6 Organizao do Trabalho............................................................................56
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74.2.7 Organizao dos Postos de Trabalho.........................................................56
4.2.7.1 Exigncias Fsicas do Trabalho................................................................56
4.2.7.2 Regulaes...............................................................................................57
4.2.7.3 Exigncias Ambientais.............................................................................58
4.2.7.4 Exigncias Sensrio-Motoras...................................................................58
4.2.7.5 Exigncias Mentais...................................................................................59
4.3 Anlise da Atividade.......................................................................................59
4.3.1 Gestuais nos Postos de Trabalho...............................................................59
4.3.1.1 Inverso Ps/Cabea...............................................................................59
4.3.1.2 Inverso Cabea/Ps...............................................................................60
4.3.1.3 Rasgar o Gargalo (Garganta)...................................................................60
4.3.1.4 Toalete da Cloaca (Extirpao da Cloaca)...............................................61
4.3.1.5 Corte do Meio...........................................................................................62
4.3.1.6 Corte do Gargalo (Garganta)....................................................................62
4.3.1.7 Retirada das Vsceras...............................................................................63
4.3.1.8 Inspeo Federal......................................................................................63
4.3.1.9 Retirada do Fgado...................................................................................64
4.3.1.10 Retirada da Moela...................................................................................64
4.3.1.11 Retirada dos Pulmes.............................................................................65
4.3.1.12 Retirada do Resto do Esfago................................................................65
4.3.1.13 Corte do Pescoo...................................................................................66
4.3.2 Informaes.................................................................................................67
4.4 Diagnstico.....................................................................................................67
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84.5 Recomendaes.............................................................................................69
5 ANLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSO................................................72
6 C0NSIDERAES FINAIS...............................................................................95
7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................99
8 ANEXOS..........................................................................................................104
8.1 Coleta de Dados............................................................................................105
8.1.1 Questionrio................................................................................................105
8.1.2 Exame Fsico (Palpao)............................................................................106
8.1.3 Fora de Preenso palmar.........................................................................106
8.1.4 Medidas Antropomtricas...........................................................................106
8.1.5 Goniometria................................................................................................107
8.2 Programa de Cinesioterapia de Pausa..........................................................108
8.2.1 Exerccios para Aquecimento.....................................................................108
8.2.2 Exerccios para Alongamento.....................................................................110
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9Lista de Figuras
Figura 1: Nria........................................................................................................51
Figura 2: Pistola de Suco....................................................................................51
Figura 3: Extrator por Suco.................................................................................52
Figura 4: Tesoura Pneumtica...............................................................................53
Figura 5: Tneis de Higienizao...........................................................................53
Figura 6: Setor de Eviscerao.............................................................................55
Figura 7: Tipo de Regulao...................................................................................58
Figura 8: Toalete da Cloaca....................................................................................62
Figura 9: Inspeo Federal.....................................................................................64
Figura 10: Corte do Pescoo..................................................................................66
Figura 11A: Plataformas Readaptadas...................................................................70
Figura 11B: Utilizao das Plataformas Readaptadas...........................................70
Figura 12: Cinesioterapia de Pausa........................................................................71
Figura 13: Absentesmo no Perodo.......................................................................85
Figura 14: Incidncia de Tendinite..........................................................................87
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Figura 15: Comprometimento do Msculo Trapzio...............................................89
Figura 16: Dor no Msculo Supraespinhal..............................................................90
Figura 17: Dor no Epicndilo Medial do Cotovelo...................................................90
Figura 18: Dor no Epicndilo Lateral do Cotovelo..................................................91
Figura 19: Dor nos Msculos Flexores do Punho..................................................92
Figura 20: Dor nos Msculos Extensores do Punho..............................................93
Lista de Tabelas
Tabela 1: Movimentos da Coluna Cervical.............................................................75
Tabela 2: Movimentos da Coluna Cervical Agrupados por Sexo.........................76
Tabela 3: Movimentos do Ombro............................................................................77
Tabela 4: Movimentos do Ombro Agrupados por Sexo.......................................78
Tabela 5: Movimentos do Cotovelo........................................................................79
Tabela 6: Movimentos do Cotovelo Agrupados por Sexo....................................80
Tabela 7: Movimentos do Punho............................................................................81
Tabela 8: Movimentos do Punho Agrupados por Sexo........................................82
Tabela 9: Fora de Preenso Palmar.....................................................................84
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Resumo
Reis, Elcimar da Silva. Anlise ergonmica do trabalho associada cinesioterapia depausa como medidas preventivas e teraputicas s L.E.R./D.O.R.T. em umabatedouro de aves. Florianpolis, 2001. Dissertao (Mestrado em Engenharia deProduo) Programa de Ps-graduao em Engenharia de Produo, UFSC, 2001.
Este trabalho tem como objetivo a realizao de uma anlise ergonmica dotrabalho (AET) associada a um programa de cinesioterapia de pausa, como prevenodas L.E.R./D.O.R.T., no setor de eviscerao de um abatedouro de aves, onde as queixasdos funcionrios relacionam-se com dores nas regies cervical e membros superiores.Em conseqncia, a direo da empresa expe alto ndice de afastamento dosfuncionrios do trabalho, ocasionado por doenas ocupacionais. A populao desteestudo composta pelos 32 funcionrios do setor, sendo 14 do sexo feminino e 18 dosexo masculino. A mdia de idade de 29 anos e o tempo mdio de trabalho na empresade 2,9 anos. Metodologicamente o estudo est dividido em cinco etapas: na primeiraetapa, so realizados 4 meses de observaes in locus, utilizando, para isto, a anliseergonmica do trabalho. Na segunda etapa, aplicado um questionrio com o objetivo decaracterizar o grupo. Alm disso, realiza-se um exame fsico e goniometria das regiescervical e membros superiores, assim como, uma mensurao da fora de preensopalmar. Na terceira etapa, desenvolvido um programa de cinesioterapia de pausa, paracontemplar os segmentos mais acometidos. A quarta etapa, constitui-se em uma novacoleta de dados referente ao exame fsico, goniometria e fora de preenso palmar. Naltima etapa, apresenta-se o tratamento estatstico dos resultados obtidos nas coletas dedados, tendo para todos um nvel de significncia de 5% (p
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Quanto fora de preenso palmar, constata-se significncia estatstica (p
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area, consequence of the kinestherapy pause work. Along with the results of thosestudies, a reducttion of workers absence at work was clearly noticed. From 07 cases fromthe last semester of the year 2000 to only one case in the first semester of the year 2001. Analysis of the final results brought us to a conclusion where the ergonomic alterationsassociated with the kinestherapy pause program led us to accomplish our previousobjectives. It showed that the implement work promoted not only a healthier group ofworkers but also developed a higher degree of motivation and satisfaction in the workenviroment.
Key words: L.E.R./D.O.R.T., Ergonomic work analysis, kinestherapy.
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11 INTRODUO
1.1 Apresentao da Problemtica
Observou-se neste ltimo sculo, em todo o mundo, o aparecimento e
progressivo aumento da ocorrncia de leses dos membros superiores ligadas ao
trabalho. Parte deste aumento deve-se rotina de trabalho das linhas de
produo, como o que pode ser constatado no trabalho que ora inicia. A
industrializao de aves tem em sua essncia a produo em srie, que prima
pela alta produo individual, desconsiderando as condies que favorecem a
segurana, a sade e a relao interpessoal, ou seja, a qualidade de vida no
trabalho. O reflexo deste quadro, um alto ndice de doenas na populao
operria, resultando muitas vezes em uma incapacidade permanente para o
trabalho, o que caracteriza um nus previdencirio para a sociedade.
Para entender de forma mais clara o que acontece com o trabalhador
atualmente, deve-se retornar histria como sugerem Iida (1990) e Couto (1995),
ao destacar que no sculo XIX, na Inglaterra, surge a revoluo industrial e a partir
da, infelizmente, o invento privilegiado em detrimento do homem. Um
trabalhador chega a ter uma jornada de trabalho de 16 18 horas dirias, sem
direito frias e convivendo com um regime de semi-escravido. O sculo XX
inicia-se com o aparecimento do denominado Taylorismo, onde seu precursor
Frederick Winslow Taylor, pregava a especializao das pessoas em
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2determinadas funes para racionalizar o tempo e melhorar a produtividade, o
chamado movimento de administrao cientfica. Seguindo estes preceitos e o
modelo observado em uma fbrica de beneficiamento de carnes, na segunda
dcada do sculo XX, Henry Ford instituiu o que jamais algum tinha visto na
indstria mundial, a linha de montagem. Isso economizava tempo, aumentava
extraordinariamente a produo com conseqente reduo do custo dos bens. Em
contrapartida, essas inovaes do incio a indesejada robotizao do
trabalhador, levando a uma total distoro dos princpios que a ergonomia
posteriormente viria a preconizar, pois pregava-se a adaptao do homem ao
trabalho. Criava-se a mquina, o posto de trabalho e a tarefa, procurando-se
posteriormente o trabalhador ideal para aquela funo. Com essas medidas,
acontece a exploso das doenas ocupacionais nunca antes vistas. O trabalhador,
a partir da, torna-se extremamente especializado em uma determinada tarefa e
alienado ao resto do processo de produo. O grau de isolamento e a cobrana da
produtividade, transformam o trabalhador em um individualista e egosta.
Um combate mais efetivo a este modelo de organizao do trabalho, a
chamada administrao racional ou cientfica, somente foi possvel a partir da
segunda metade do sculo XX, mais precisamente com o nascimento oficial da
ergonomia, em 12 de julho de 1949.
Nas consideraes de Iida (1990) e Grandjean (1998), o desenvolvimento
da ergonomia acentuou-se durante a Segunda da Guerra Mundial, quando
iniciou-se a pregao da adaptao do trabalho s caractersticas humanas, cuja
preocupao est nas questes cientficas, tecnolgicas, fsicas e de percepo
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3aplicveis em produtos, equipamentos e postos de trabalho. Apesar da ergonomia
ser recente como cincia, apenas meio sculo, observa-se grandes mudanas na
relao trabalho\trabalhador nos pases considerados desenvolvidos. Existe uma
preocupao em diminuir drasticamente, ou at mesmo eliminar, o trabalho
pesado e/ou realizado em condies ambientais desfavorveis. Entretanto, nos
pases em desenvolvimento, dos quais o Brasil faz parte, mantm-se outra
realidade, ou seja, aquela que apresenta extremas dificuldades em mudar essa
situao, seja por falta de tecnologia de ponta, observada em muitos setores
produtivos, j que eles dependem quase sempre desta tecnologia dos pases de
primeiro mundo, ou pela falta de viso estratgica por uma parte do setor
empresarial, que no visualiza os benefcios provindos do investimento na
qualidade de vida de seu funcionrio. Neste sentido, argumenta Drury et al.
(1999), ao enunciar que muitas empresas adotam modernos estilos de
administrao comercial associada estrutura produtiva ultrapassada.
Sabe-se que as doenas relacionadas ao trabalho no afetam somente o
terceiro mundo, mas deve-se concordar tambm que nesses pases a realidade
bem mais preocupante, quando se leva em conta os fatores scio-econmicos e
culturais de um povo.
No contexto brasileiro, essas doenas representam mais de 65% dos casos
reconhecidos pela Previdncia Social, constituindo-se num verdadeiro fenmeno
social, a chamada doena L.E.R.\D.O.R.T., segundo Couto et al. (1998).
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41.2 Justificativa e Relevncia do trabalho
No setor agro-industrial, mais especificamente no abate de aves,
encontram-se ainda muitas indstrias cujas linhas de produo apresentam uma
esmagadora supremacia do trabalho manual, a chamada industrializao
artesanal. A principal causa para essa supremacia, est ligada ao alto custo
financeiro para a introduo de tecnologia de ponta na linha de produo, o que
limita a automao de determinadas atividades do processo, reduzindo a
produtividade e, consequentemente, a margem de lucro.
Esta a justificativa de alguns dirigentes do setor.
Esses fatores levam os trabalhadores a permanecerem em posies
ortostticas/estticas, realizando movimentos repetitivos por longos perodos de
tempo e em condies ambientais desfavorveis, causando graus variados de
fadiga fsica e mental e contribuindo com o surgimento das doenas ocupacionais.
A presena isolada de movimentos repetitivos no suficiente para produzir
leses. Para que estas aconteam necessrio que existam fatores intrnsecos
(herana gentica, perfil metablico, homeostase tissular, estabilidade mecnica
das articulaes, entre outros) e fatores extrnsecos (organizao do trabalho,
fatores psicossociais, fatores ambientais e relaes humanas no local de trabalho)
associados (Nicoletti, 1996).
A ergonomia, atravs de seus mtodos de anlise ergonmica do trabalho,
permite a confrontao da tarefa prescrita com a realizada, bem como,
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5diagnosticar de forma objetiva as possveis alteraes ou adaptaes necessrias
melhoria do posto de trabalho, da organizao do trabalho ou condies
ambientais a que so submetidos esses trabalhadores.
A importncia da anlise ergonmica do trabalho na compreenso das
atividades dos trabalhadores, realada por Jackson e Barcelos (1999),
fornecendo assim, um diagnstico que relaciona os diversos determinantes das
atividades e suas conseqncias. Acreditam (Burns & Vicente, 2000), que a forma
observador participativo seja o mtodo mais eficiente para atingir tais objetivos.
Ao conjunto de aes que visam prevenir e/ou minimizar o aparecimento
das L.E.R.\D.O.R.T., somam-se os programas de cinesioterapia preparatrio,
compensatrio e relaxamento, que tm se mostrado ferramentas extremamente
teis no auxlio preveno de tais doenas, pois minimizam a fadiga muscular e
a m postura, melhoram a nutrio tecidual e o alongamento muscular,
interrompem a monotonia do trabalho repetitivo e propiciam uma maior interao e
sociabilizao entre os trabalhadores, entre outros benefcios. Inmeras empresas
tm se beneficiado com estes instrumentos na luta contra as doenas
ocupacionais, entre elas a Volkswagen e Faber-Castell de So Carlos SP, Nec
do Brasil, Siemens do Brasil, Atala Copco do Brasil e outras. Segundo o SESI
Servio Social da Indstria de Braslia-DF, em 1999 cerca de 461 empresas
contavam com um Programa de Ginstica Laboral e 185.519 trabalhadores
estavam praticando (Alves & Vale, 1999).
No Brasil no existem pesquisas que apontem o quanto os programas de
qualidade de vida representam um investimento e no um gasto, como muitos
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6ainda pensam. Nos Estados Unidos, estudos mostram que, de cada dlar aplicado
em projetos voltados ao trabalhador, o retorno de quatro a cinco dlares (Alves
& Vale, 1999).
No setor agro-industrial, so poucos os estudos realizados para quantificar
e qualificar o grau das leses e/ou qualidade de vida dos trabalhadores desta
atividade. Existem diversos programas de preveno das L.E.R./D.O.R.T. nas
empresas do ramo, conforme contatos pessoais mantidos com engenheiros e
tcnicos em segurana do trabalho, porm estes programas no so divulgados
ao meio acadmico/cientfico, o que impossibilita a determinao de qualquer
estatstica a respeito.
1.3 Objetivos do trabalho
1.3.1 Objetivo geral
Implementar a Anlise Ergonmica do Trabalho (AET), associada a um
programa de cinesioterapia de pausa, como auxiliares preveno e/ou
minimizao das L.E.R./D.O.R.T. no setor de eviscerao de um abatedouro de
aves.
1.3.2 Objetivos especficos
a) Analisar a organizao do trabalho no setor de eviscerao.
b) Detectar discrepncia entre o dimensionamento dos postos de trabalho, em
relao s medidas antropomtricas dos operadores.
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7c) Detectar posturas inadequadas durante a realizao das atividades nos postos
de trabalho.
d) Identificar os segmentos corporais mais acometidos pelas L.E.R./D.O.R.T
neste setor da empresa.
e) Verificar o absentesmo dos ltimos seis meses no setor.
f) Analisar os efeitos do programa de cinesioterapia, sobre a ADM (amplitude de
movimento articular) cervical e de membros superiores dos trabalhadores.
g) Analisar os efeitos do programa de cinesioterapia, sobre a fora de preenso
palmar.
h) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de
cinesioterapia de pausa, sobre as queixas de dores dos trabalhadores.
i) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de
cinesioterapia de pausa, sobre o absentesmo no setor.
j) Analisar os efeitos das alteraes ergonmicas, associadas ao programa de
cinesioterapia de pausa, sobre o grupo de trabalhadores do sexo masculino,
em relao ao grupo do sexo feminino.
1.4 Questes Investigadas
a) As adaptaes dos postos de trabalho minimizam os problemas posturais dos
trabalhadores durante a realizao de suas atividades?
b) O sistema de rodzios compensatrios nos postos de trabalho, contribuem com
a preveno e/ou minimizao das queixas de dores dos trabalhadores?
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8c) O programa de cinesioterapia de pausa dar maior ADM aos trabalhadores?
d) Com relao ao sexo dos trabalhadores feminino e masculino - o programa
de cinesioterapia dar maior ADM a um deles?
e) Com a implantao do programa de cinesioterapia de pausa associado com as
alteraes ergonmicas efetuadas, ocorrer uma diminuio no absentesmo
no setor?
f) Quanto ao absentesmo, como evoluir o grupo masculino em relao ao
feminino?
g) Os trabalhadores que se submeterem ao programa de cinesioterapia
apresentaro melhoria em sua fora de preenso palmar?
h) Com relao evoluo da fora de preenso palmar, como se apresentaro
os trabalhadores do sexo feminino e do sexo masculino, aps terem se
submetido ao programa de cinesioterapia?
i) Quais os efeitos da implantao do programa de cinesioterapia, associado s
alteraes ergonmicas do trabalho, para os trabalhadores que j apresentam
L.E.R./D.O.R.T?
j) Qual o efeito do programa de cinesioterapia associado s alteraes
ergonmicas do trabalho, em se tratando das dores manifestadas pelos
trabalhadores nas regies cervical e membros superiores?
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91.5 Delimitao do Estudo
Apesar da evidente necessidade de um estudo que seja abrangente e atinja
a empresa em sua totalidade, incluindo todos os setores, opta-se por delimitar
este estudo ao setor de eviscerao, j que este representa o maior nmero de
postos de trabalho dentre todos os setores e a maior incidncia de doenas
ocupacionais da empresa.
O setor de eviscerao extremamente importante dentro do processo,
pois a ave demora aproximadamente 15 minutos para percorrer todos os postos
de trabalho que o compe. Est localizado em um ponto eqidistante do incio e
do final da linha de produo, o que significa que qualquer imprevisto neste setor
compromete todos os processos seguintes. Os trabalhadores necessitam de
treinamento, pois realizam tarefas minuciosas e de preciso, alm disso, neste
setor que ocorre a monitorao permanente da inspeo federal, mostrando mais
uma vez a sua importncia dentro do processo industrial da ave.
O nmero de postos de trabalho e a incidncia de doenas ocupacionais
so as variveis que motivam a delimitao deste estudo a esse setor. Essas
variveis no devem representar uma limitao a um posterior complemento e sim
um estmulo para a implementao de todas as mudanas ergonmicas
necessrias aos outros setores da empresa.
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2 REVISO DA LITERATURA
2.1 As L.E.R./D.O.R.T. e a Industrializao do Frango
2.1.1 Nomenclaturas e Aspectos Conceituais das L.E.R./D.O.R.T.
Em 1700, em Modena, na Itlia, era publicado o livro De Morbis Artificum
Diatriba (Doenas dos Trabalhadores), de Bernardino Ramazzini (1633-1714). Ele
descreveu as doenas que acometem os trabalhadores em mais de 50
ocupaes. Retratou o sofrimento dos artesos escriturrios, enfatizando a leveza
e repetitividade do esforo, a sobrecarga esttica das estruturas dos membros
superiores e a ateno e tenso exigidas (Ruiz, 1999; Ribeiro, 1997).
Provavelmente, essa tenha sido uma das primeiras publicaes que descreveu os
Distrbios Relacionados ao Trabalho em um grande nmero de ocupaes,
porm sem conceitu-los como tal.
No Japo, em 1958, as leses msculo-esquelticas relacionadas ao
trabalho de perfurao de cartes, caixas registradoras e datilgrafos, receberam
o nome de Cervicobrachial Disorder, determinando aquelas leses na regio
cervical e membros superiores. Em 1973, estes sintomas passaram a ser
denominados Ocupational Cervicobrachial Disorder (OCD), conceituando
aqueles distrbios ocupacionais produzidos pela fadiga neuromuscular devido a
exerccios estticos e/ou repetitivos dos msculos destas regies, tendo nesta
terminologia, uma conotao causal (Oliveira, 1999, Santos Filho & Barreto, 1998).
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Na dcada de 80, na Austrlia, ocorreu uma epidemia de sintomas
dolorosos na regio cervicobraquial, chegando a atingir 80% dos trabalhadores de
alguns locais. Em 1984, estes sintomas foram denominados Repetitive Strain
Injury (RSI) (Browne et al., 1984). Este termo, at ento, era utilizado na literatura
ortopdica para descrever leses apresentadas por corredores de longa distncia
(Oliveira, 1999). Posteriormente, ainda na Austrlia, descreveu-se a Occupational
Overuse Syndrome (OOS), que conforme Couto (1998, p.18), eqivale dor nos
membros superiores relacionada sobrecarga funcional e o que melhor reflete
os quadros encontrados.
Nos Estados Unidos, utilizam-se os termos Cumulative Trauma Disorders
(CTD) e Repetitive Trauma Disorders (RTD), para referenciar aquelas leses dos
tecidos moles em trabalhadores expostos traumas cumulativos (Santos Filho &
Barreto, 1998).
J no Brasil, um conceito mais definido, somente foi visto na dcada de 80,
quando foi utilizado o termo Leses por Esforos Repetitivos (LER), que uma
traduo do conceito australiano de Repetitive Strain Injury e foi oficializada em
06.08.87, pela portaria 4062 do INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
(Couto, 1998). Lech e Hoefel (1994, p.7) conceituam L.E.R. como afeces dos
grupos musculares e/ou tendes cuja etiologia se deve ao contnuo e repetitivo
trabalho realizado com as mos ou qualquer segmento do corpo.
Na dcada de 90, foi introduzido no Brasil, o termo Distrbios
Osteomusculares, Relacionados ao Trabalho (DORT), que uma traduo dos
termos Work-Related Musculo-Skeletal Disorders Of The Upper Limbs (WMSDs),
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utilizado na Europa, principalmente Inglaterra e Itlia e, adotada nos Estados
Unidos como Work-Related Upper-Extremity Disorders (WRUEDs). Esses termos
marcam a abordagem ergonmica e epidemiolgica dos fatores de risco,
apresentando fatores etiognicos e patognicos s tarefas repetitivas, o uso
excessivo de fora, as posturas inadequadas e a organizao ininterrupta e
excessiva de trabalho (Verthein & Minayo-Gomez, 2000).
Considerando-se que o termo D.O.R.T. muito abrangente, dispensa
qualquer relao de causalidade, no exige explicao quanto ao mecanismo de
acometimento, sendo suficiente apenas a relao com o trabalho (Oliveira, 1999).
Couto (1998, p.20) define D.O.R.T. como:
transtornos funcionais, transtornos mecnicos e leses de msculos
e/ou de tendes e/ou de fscias e/ou de nervos e/ou de bolsas
articulares e pontas sseas nos membros superiores, que resultam em
dor, fadiga, queda da performance no trabalho, incapacidade temporria
e, conforme o caso, podem evoluir para uma sndrome dolorosa
crnica.
Atualmente no Brasil, observa-se, que o termo L.E.R. encontra-se em
crescente desuso, seja pelo abandono de sua equivalncia nos pases de origem,
j que ela privilegia apenas o esforo repetitivo, ou pela prpria reestruturao
interna, uma vez que as L.E.R. assumiram um conceito problemtico neste pas,
quando passaram a ser o nome de uma doena (diagnstico) e no o mecanismo
de leso, como o prprio nome sugere. O termo D.O.R.T. apresenta-se como um
conceito mais adequado, conforme sugerem Verthein e Minayo-Gomez (2000),
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13
pois contempla dois referenciais distintos: uma ateno aos dados biomecnicos e
psicossociais, de reconhecida importncia no entendimento deste distrbio e a
anlise do distrbio, o que abre a possibilidade de compreenso do mesmo,
atribudo a um carter constitucional, subjetivo e pessoal.
Como pode-se notar, existem inmeras nomenclaturas e conceitos para
este conjunto de distrbios que acometem diversos segmentos produtivos da
sociedade, porm o que tem preponderado do ponto de vista cientfico, a
dificuldade e controvrsia na caracterizao dos seus quadros, refletindo as
limitaes da prtica mdica diria para lidar com a questo, tanto no que se
refere caracterizao dos quadros clnicos, quanto aos aspectos envolvidos na
sua causalidade e histria natural (Santos Filho & Barreto, 1998).
2.1.2 As Etiologias das L.E.R./D.O.R.T.
A histria mostra atravs das literaturas especializadas, que as
L.E.R./D.O.R.T. acometem o trabalhador h muitos sculos, porm, elas foram
extraordinariamente acentuadas com a expanso industrial. O desenvolvimento
tecnolgico possibilitou maior mecanizao do trabalho com conseqente reduo
do uso da fora muscular bruta e trouxe oportunidades mltiplas ao ser humano.
Em contrapartida, exigiu um ritmo mais veloz e execuo de tarefas cada vez mais
especficas, comprometendo estruturas delicadas que compe determinados
segmentos corporais, o que demonstra a influncia das novas tecnologias e
exigncias de produtividade na gnese destes distrbios.
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14
Atualmente, o esforo fsico exigido pela automao de outra natureza,
um esforo leve, por isso, capaz de ser repetido em alta velocidade pelas mos e
dedos, ao mesmo tempo que cobra uma postura e sobrecarga estticas dos
segmentos restantes (Ribeiro, 1997).
H importantes fatores associados ao surgimento e agravamento dos
quadros de leses relacionadas ao trabalho, entre eles pode-se destacar os
fatores biomecnicos, como contraes musculares prolongadas e tenso
muscular associada a estresse, os fatores da organizao do trabalho, como
ausncia de pausas, incentivo produtividade, falta de treinamento e superviso
inadequada. Oportuno destacar os aspectos agravantes, como o despreparo,
negligncia, presso econmica, retardo no diagnstico ou interveno
inadequada dos profissionais de sade e outros (Browne et al., 1984).
Posturas inadequadas durante o desenvolver de uma atividade, podem
ocasionar impacto entre estruturas, fadiga por contrao muscular esttica e at
mesmo compresso de nervos.
Segundo as consideraes de Couto (1998, p.80), as leses por traumas
cumulativos nos membros superiores so decorrentes da interao inadequada de
quatro fatores biomecnicos principais:
a) Fora - quanto mais fora a tarefa exigir do trabalhador, tanto mais
propenso ele estar para desenvolver as L.E.R./D.O.R.T.
b) Posturas incorretas dos membros superiores ocasionam desde o
impacto de estruturas moles (como no caso do ombro), fadiga por
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contrao muscular esttica (como no caso do pescoo) e at
compresso de nervos (como no caso do punho).
c) Repetitividade quanto maior o nmero de movimentos desenvolvidos
pelo trabalhador em determinado intervalo de tempo, tanto maior ser a
probabilidade do mesmo sofrer as leses de membros superiores.
d) Vibrao e compresso mecnica especialmente deletrias so as
formas de vibrao ocorrendo em freqncia de 8 a 100 Hz, alta
acelerao. Tambm importante a compresso mecnica da base das
mos, no local onde termina o nervo mediano.
Alm dos fatores biomecnicos, outros fatores esto associados nas
causas das L.E.R./D.O.R.T., tais como: fatores ambientais, organizao do
trabalho, pouco domnio da funo, traumatismos, alteraes hormonais (as
mulheres so mais propensas s leses), nvel de estresse relacionado
exigncia de produtividade e competitividade, relacionamento interpessoal, nvel
de satisfao, perfil psicolgico individual, entre outros.
Em suas consideraes Santos Filho e Barreto (1998), afirmam que
estudos realizados confirmam que no existe uma unanimidade com relao a
definio, especificidade e mtodo diagnstico dos casos, assim como, com
relao a abordagem de fatores de exposio ocupacional e extra-ocupacional.
Esses estudos apontam que fatores ligados ergonomia, organizao do trabalho,
alm de componentes biolgico-individuais, como idade, fatores genticos,
gravidez, estado mental, estresses e outras doenas sistmicas, estariam
envolvidos na gnese das L.E.R./D.O.R.T.
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16
Observa-se nas publicaes mais recentes, uma tendncia em ampliar os
fatores causais das L.E.R./D.O.R.T. para trs grandes dimenses, como afirma
Ribeiro (1997). Para abranger as possveis causas destes distrbios, necessita-se
debruar os olhos sobre uma dimenso social mais abrangente, que contm as
duas outras habitualmente referidas como fatores. A dimenso do trabalho, que
engloba o processo e organizao do trabalho e a dimenso individual, que
representa o modo de cada um sentir e refletir o mundo. Estas trs dimenses so
indissociveis.
Seguindo essa tendncia de causas multifatoriais, Couto (2000), prope um
modelo, onde as etiologias das L.E.R./D.O.R.T. no seriam influenciadas apenas
pelos fatores biomecnicos, mas por quatro outras variveis: organismo tenso,
predisposio individual, realidade social e eventos desencadeantes.
2.1.3 Evoluo das L.E.R./D.O.R.T.
Sabe-se que cada forma clnica das L.E.R. apresenta um quadro especfico,
porm, elas tendem a evoluir, dependendo da exposio aos fatores causais aos
quais o indivduo submetido. Objetivando o reconhecimento das fases clnicas e
conseqente melhora da efetividade das condutas frente s L.E.R., em 1984, no
clebre artigo Ocupational Repetition Strain Injuries, Browne et al. (1984)
descreveram trs estgios do desenvolvimento clnico das L.E.R. Nos anos 80 e
incio dos 90, alguns autores brasileiros, entre eles Lech e Hoefel (1994),
consideraram a evoluo das leses em quatro estgios. Corroborando com estes
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autores, em 1993, o INSS, atravs de suas normas tcnicas para avaliao da
incapacidade, classificou as L.E.R. em quatro graus de comprometimento.
No primeiro estgio/grau, o indivduo refere sensao de peso e
desconforto no membro afetado, a dor espontnea e localizada, s vezes em
pontadas, no h irradiao ntida, piora com a jornada de trabalho, porm, no
interfere no desempenho da atividade profissional e melhora com o repouso. Os
sinais clnicos esto ausentes e tem bom prognstico.
O segundo estgio/grau caracteriza-se por dor persistente e localizada,
aparece durante a jornada de trabalho de modo intermitente, pode exacerbar com
irradiao para membros superiores e coluna. O indivduo refere dor durante a
palpao ou mobilizao ativa ou passiva, a dor piora com a jornada de trabalho,
tolervel e permite o desempenho da atividade profissional, mas com reduo da
produtividade durante a exacerbao. A dor no melhora com o repouso. Pode
haver distrbio da sensibilidade, o que explica a parestesia dos membros
superiores. No rara a presena de edema localizado que piora com o trabalho.
Nos msculos pode haver hipertonia e nos tendes, espessamento e ndulos. Os
sinais clnicos esto ausentes e o prognstico favorvel.
No terceiro estgio/grau a dor persistente, intensa, sem fatores de
melhora e tem irradiao mais definida. Exacerba a dor durante a palpao ou
mobilizao ativa ou passiva. H sensvel queda da produtividade, quando no
impossibilidade de executar a funo. Observa-se compresso de nervo
eletroneuromiografia, justificando as parestesias. Os msculos apresentam
diminuio de fora, hipotrofia e incoordenao dos movimentos, podendo
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apresentar at atrofia por alterao nervosa e os tendes esto espessados e com
ndulos em seus trajetos. O edema e os sinais clnicos esto presentes e,
freqentemente, o retorno atividade produtiva problemtica. O prognstico
reservado.
O quarto estgio/grau caracterizado por dor intensa, constante e
generalizada. Com o movimento e palpao, a dor exacerba para todo o membro
superior e coluna cervical. A capacidade de trabalho nula e a invalidez se
caracteriza pela impossibilidade de um trabalho produtivo regular. Alm da
parestesia, h tambm diminuio da sensibilidade ttil. No inconstante neste
estgio o surgimento de deformidades. Os msculos encontram-se com
importante diminuio de fora, hipotrofiados, com incoordenao dos movimentos
e s vezes, com atrofia por denervao muscular. Podem ocorrer crepitaes
articulares e/ou tendneas. O edema normalmente est generalizado em todo o
membro superior, assim como, os sinais clnicos. As atividades da vida diria so
prejudicadas. Comumente ocorrem alteraes psicolgicas. O prognstico
apresenta-se sombrio.
Seguindo uma nova tendncia, em 1997, o INSS realizou uma reviso das
normas tcnicas e a partir da, evitou-se a classificao das L.E.R./D.O.R.T. em
graus, havendo apenas a descrio dos sinais e sintomas, dependendo da(s)
estrutura(s) acometida(s). Sendo assim, adotou-se a dor como o elemento mais
freqente para a caracterizao destes distrbios. Nas fases iniciais ela sentida
como um peso, ou como um incmodo mal definido, muitas vezes nos ombros,
sem relao direta com a principal rea comprometida, mas diretamente
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relacionada com a execuo do esforo exagerado. Com a evoluo, o indivduo
refere uma sensao de queimao, dor aos mnimos movimentos, que j
compromete as atividades da vida diria. A partir da, a dor apresenta-se em
estado crnico, alternando com crises agudas, fortes e incapacitantes. Nesta fase
mais avanada, a dor j melhor definida em termos de localizao e de
movimentos precipitadores. O alvio da dor obtido inicialmente pelo repouso,
mas nas fases mais adiantadas, ela persiste com o repouso.
Precocemente e com grande freqncia, referida uma sensao de
edema, que nem sempre, confirmado ao exame clnico. No menos freqente,
pode-se encontrar parestesia e choques, que podem traduzir a existncia de
compresso nervosa, levando o indivduo a deixar cair objetos ou acordar de
forma abrupta durante a noite. As diferenas de temperatura e umidade, podem
caracterizar uma complicao do quadro neurolgico (especificamente do Sistema
Nervoso Autnomo), denominado distrofia simptico reflexa.
Os msculos podem apresentar diversas alteraes, desde hipertonias,
hipotrofias, cibras, diminuio de fora, atrofia (por leso nervosa) e
incoordenao de movimentos. Alm disso, o comprometimento dos msculos
afeta de forma significativa as atividades da vida diria, tais como: dificuldade de
pentear os cabelos, mexer no bolso traseiro, coar as costas, amarrar os sapatos,
segurar objetos e ferramentas, entre outras atividades. Em fase mais evoluda,
podem ser observados ndulos nos tendes, deformidades em extremidades
(atrofia dos msculos da mo, por exemplo) e crepitao muscular e/ou articular.
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2.1.4 Principais Leses no Setor de Eviscerao e Seus Fatores Causais
O setor de eviscerao, por ser exclusivamente dependente do trabalho
manual, apresenta as Sndromes Tensionais do Pescoo, as Tendinites de
Ombro, as Epicondilites Lateral e Medial de Cotovelo e as Tenossinovites de
Punho, como as patologias que mais acometem os seus trabalhadores. Isso
ocorre porque nestas regies existe uma concentrao de cargas muito grandes,
criadas pelas alavancas articuladas que constituem o sistema esqueltico, bem
como, outros fatores extrnsecos, que sero discutidos na sequncia.
Segundo Sluiter et al. (2000), Tendinites, Tenossinovites, Peritendinites e
Tendinopatias so termos patoanatmicos usados para caracterizar o processo
patolgico do tendo ou das estruturas que o cercam. Esse processo pode ser
agudo ou crnico.
Corroborando com esses achados, Ruiz (1999), descreve o acometimento
de ombros/braos em 21% e somente braos em 20%, dos trabalhadores de uma
empresa deste setor industrial.
2.1.4.1 Sndrome Tensional do Pescoo - (STP)
uma sndrome dolorosa que acomete os msculos das regies laterais e
posterior do pescoo, em especial os trapzios, elevadores das escpulas,
rombides, escalenos e esternocleidomastideos. Estes msculos so submetidos
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a um alto grau de carga esttica em atividades que utilizam as extremidades
superiores, bem como, em postos de trabalho que exijam posturas inadequadas.
Nessa linha, Lech et al. (1994, p.44) descreveram a STP como uma
desordem orgnica e funcional provocada pelo trabalho repetitivo, aumento da
carga muscular esttica e postos de trabalho onde h uma sobrecarga e posio
inadequada da cabea e dos membros superiores.
Referindo-se sndrome, Sluiter et al. (2000), afirmam que esta apresenta
um conjunto de sintomas no bem definidos e que as queixas no so
centralizadas apenas na regio do pescoo, mas sim, irradiam tambm para os
ombros. Eles alertam ainda, para o cuidado com a distino entre a STP e outras
doenas, tais como: Osteoartrose da Coluna Cervical, Sndrome Cervical,
Sndrome do Desfiladeiro Torcico e Tendinites de Ombro, que podem apresentar
sintomas semelhantes. Com o trabalho esttico acentuado, ocorre um grande
acmulo de substncias irritantes no interior dos msculos, como por exemplo o
cido ltico, que pode ocasionar dor, hipersensibilidade, tenso e contratura
muscular com pontos dolorosos (Trigger Points), limitando sobremaneira a funo
muscular, devido a fadiga. Na continuidade, Lech et al. (1994, p.44), relatam
queixas como dor na regio cervical e ombro, cefalia, fraqueza e fadiga
muscular, parestesia e tontura, causando dor palpao, aumento de tnus
muscular, limitao dos movimentos, diminuio da lordose cervical e queda do
ombro.
Sobre a mesma sndrome, Rekola et al. (1997), constataram a STP em
mais de 25% dos 440 trabalhadores que realizavam atividades com as
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extremidades superiores em movimentos repetitivos, posturas desfavorveis e
desorganizao do trabalho, como o quadro encontrado no setor de eviscerao.
2.1.4.2 Tendinite ou Sndrome do Impacto de Ombro
A tendinite ou sndrome do impacto de ombro, uma patologia que
representa um grande nmero de ocorrncias, dentre as leses anteriormente
mencionadas, o que confirma os dados de Lech et al. (1998, p.165), que as
patologias de ombro so as principais causas de queixas nos ambulatrios de
doenas do trabalho e a segunda mais freqente nos ortopedistas (logo aps a
dor lombar).
Os trs estgios progressivos da Sndrome do Impacto de Ombro, so
descritos por Neer(1972). No primeiro estgio, ocorrem edema e hemorragia
reversveis e esto presentes em indivduos jovens e o tratamento conservador.
No segundo estgio, o manguito rotador (conjunto de msculos formado pelo
redondo menor, infraespinhal, subescapular e supraespinhal, sendo este ltimo, o
mais acometido), apresenta fibrose e tendinite crnica tpica, ocorre entre 25 e 40
anos e o tratamento pode ser conservador ou cirrgico (retirada da regio ntero-
inferior do acrmio, denominada acromioplastia). No terceiro estgio, ocorrem os
espores e rupturas musculares e incidem em indivduos acima de 40 anos, sendo
o tratamento preferencialmente cirrgico (Neer, Lech, 1995).
A Sndrome do Impacto de Ombro definida por Sluiter et al. (2000), como
uma irritao das estruturas no espao subacromial, devido a uma diminuio da
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23
vascularizao e processo degenerativo, causado pelos impactos repetitivos dos
vrios tipos de tecidos ali existentes, dentre eles destacam-se, os msculos do
manguito rotador, tendo da poro longa do bceps braquial e a bursa
subacromial. Caracteriza-se por dor na regio do ombro quando o indivduo eleva
o brao acima de 90.
Na descrio da Sndrome do Impacto e Patologia do Manguito Rotador de
Malone et al. (1995), destacam a patologia do manguito rotador como uma tenso
repetitiva dos msculos, que resulta em um processo inflamatrio, porm sem
impacto mecnico.
Quanto aos fatores causais desta sndrome, os movimentos repetitivos em
tarefas que exijam elevao dos braos acima de 90, podem levar a um atrito e
degenerao do manguito rotador, provocado pelo impacto que ocorre entre a
grande tuberosidade do mero contra a poro ntero-inferior do acrmio,
ligamento craco-acromial, articulao acromioclavicular e processo coracide
(estruturas que compem o arco craco-acromial) (Lech et al, 1998).
Morrison e Bigliani (apud Nicoletti, 1990, p.163, Paim, 2000, p.102)
descrevem que o acrmio pode ser classificado anatomicamente, conforme sua
curvatura lateral, em reto, curvo e ganchoso. Quanto mais curvo o acrmio, maior
ser o impacto desenvolvido e maior ser a possibilidade de ocorrer leso do
manguito rotador.
No Brasil, Nicoletti et al. (1990), realizaram estudo semelhante ao descrito
por Morrison e Bigliani em 1986, em 117 indivduos normais e concluram que
18,8% dos acrmios eram retos, 68,8% eram curvos e apenas 12,4% ganchosos.
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24
Os tipos curvos so responsveis por 81% das rupturas do manguito encontradas
no estudo em cadveres.
Estudos realizados por Frost e Andersen (1999), sobre a Sndrome do
Impacto no Ombro em 1591 trabalhadores de um abatedouro e de uma indstria
qumica, entre 1986 e 1993, concluem que, a repetitiva elevao do brao causa
compresso e diminuio do fluxo sangneo no msculo supraespinhal, devido
ao impacto desta estrutura contra a superfcie inferior do acrmio, provocando
tendinite, degenerao e eventualmente ruptura parcial ou total do tendo do
msculo, o que causa progressivo aumento da dor local, diminuio da amplitude
de movimento e da fora do ombro. Os autores afirmam, que a preveno desta
patologia ocorre se diminuir o tempo de exposio aos fatores de risco,
especialmente nas atividades que necessitam combinar fora, repetitividade e
sustentao do brao elevado.
2.1.4.3 Epicondilites Lateral e Medial
A caracterstica das Epicondilites Lateral e Medial segundo( Sluiter et al.,
2000), a dor intermitente na juno msculo-tendnea ou no ponto de fixao
dos extensores do punho (Epicondilite Lateral) ou flexores do punho (Epicondilite
Medial), na regio do cotovelo.
A Epicondilite Lateral uma leso por uso excessivo, que acomete a
origem do msculo extensor radial curto do carpo e, em menor grau, o extensor
radial longo do carpo e extensor comum dos dedos. A Epicondilite Medial, tambm
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25
uma leso por uso excessivo, que acomete preferencialmente os msculos
flexor radial do carpo e o pronador redondo. Sua ocorrncia, em relao
Epicondilite Lateral de 1:7 (Leach et al., Snyder-Mackler, apud, Harrelson et al,
2000, p.408).
Alm da sndrome dolorosa no cotovelo, Lech et al. (1998, p.157), dizem
que as epicondilites podem irradiar para o antebrao. comum atingir indivduos
que realizam trabalho manual e/ou repetitivo. H maior incidncia na populao
com idade entre 35 e 55 anos.
Kleinert (apud, Lech, 1998 p.158) sistematizou quatro teorias para explicar
a fisiopatologia das epicondilites:
a) Micro ou macroruptura, que ocorreriam na origem dos msculos
extensores. Nestes casos so encontradas alteraes degenerativas nas
fibras dos tendes causadas pela idade;
b) Stress ou trauma, que causem ruptura. Isto leva irritao da membrana
sinovial e do tecido gorduroso subtendneo, formando um tecido de
granulao;
c) Degenerao do ligamento anular, que pode levar dor;
d) Compresso do nervo radial. Alguns pacientes com epicondilite podem
ter associado reas de compresso do nervo radial devido a fibrose ou
presena de bandas.
Nas epicondilites, o indivduo apresenta a dor como o primeiro sintoma,
geralmente localizado ao redor dos epicndilos lateral e/ou medial do mero, mas
algumas vezes, tem irradiao para regio distal do antebrao. Nas fases mais
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evoludas da sndrome, ocorre diminuio da fora de preenso palmar, que
representada pela dificuldade ou incapacidade de pegar e/ou erguer um objeto. Os
movimentos de supinao e pronao do antebrao podem estar prejudicados,
principalmente na fase aguda (Sluiter et al., 2000, Lech et al., 1998, Harrelson el
al., 2000).
Os movimentos repetitivos e esforos estticos excessivos, associados
posturas inadequadas, falta de pausas e rodzios de funo, baixa temperatura e
alta umidade, podem levar leses do tipo epicondilite. Porm, Lech et al. (1998)
afirmam, que a causa bsica ainda desconhecida. Eles dizem que, mais de vinte
causas j foram descritas, sem que exista concordncia entre os autores.
2.1.4.4 Tendinite e/ou Tenossinovite de Punho
De acordo com estudos realizados por Sluiter et al (2000), tendinite um
processo inflamatrio do tendo. Essa inflamao pode ser causada por
microleses do tecido, devido a repetitivos traumas mecnicos. A tenossinovite
uma inflamao em torno da bainha sinovial que envolve o tendo. Esta bainha
extremamente vascularizada, sendo responsvel pela secreo do lquido sinovial
que nutre o tendo e impede o atrito durante o movimento. O movimento do
tendo no interior de sua bainha pode provocar um espessamento do mesmo,
inflamando-o e provocando aderncias, o que posteriormente causar dificuldades
de deslizamento nas suas bainhas. Os autores afirmam ainda, que o msculo
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flexor profundo do II ao IV dedo, o mais freqentemente afetado por estas
aderncias, devido a sua participao efetiva no movimento de preenso palmar.
Tendinite/Tenossinovite a inflamao da fscia que cobre os tendes dos
msculos. Quando os msculos acometidos possuem uma cobertura por bainha
sinovial, denomina-se o processo de Tenossinovite e quando no a possuem,
denomina-se Tendinite (Couto, 1991, Lech et al., 1998).
Essas leses so caracterizadas em seu incio, por dor insidiosa, que
aumenta com o movimento de punho/mo, sensao de peso e desconforto
regional. Evolui para dor intensa, crepitao, perda de fora, hipotrofia muscular,
perda de sensibilidade e parestesia. O paciente tem dor e/ou incapacidade ao
segurar e/ou carregar objetos (Lech & Hoefel, 1994, Sluiter et al, 2000).
Alguns mecanismos so destacados por Couto (1991, p.31) e podem levar
leso dos tendes e das suas bainhas:
a) Se no houver tempo adequado de recuperao, o esforo repetitivo
leva a um distensionamento lento e progressivo ou separao das fibras
de suas substncias matricial, causando inflamao;
b) Se h contrao muscular esttica ou repetitiva do msculo, pode haver
tambm o distensionamento do tendo, havendo a compresso das
microestruturas vasculares, o epitendo, e o endotendo, que causam
isquemia, distenso das fibrilas e inflamao;
c) As posturas viciosas tambm podem comprimir a microestrutura do
tendo e aumentar a fora necessria para a execuo de uma tarefa,
que pode comprimir as microestruturas e contribui para a inflamao;
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d) difcil a recuperao do processo inflamatrio, uma vez que o tendo
mal vascularizado.
Os mecanismos de leso acima descritos por Couto (1991, p.31), retratam
o quadro encontrado no setor de eviscerao do abatedouro de aves. Os
movimentos repetitivos de flexo-extenso de punho, com contrao esttica e
constante dos msculos estabilizadores, sem pausas e, associados fatores
ambientais desfavorveis, so indiscutivelmente pr-disponentes leses dos
tendes e suas bainhas. Corroborando com isto, Frost et al. (1998), estudaram a
ocorrncia de Sndrome do Tnel do Carpo em 1141 trabalhadores de 46
diferentes postos de trabalho de diversos abatedouros e concluram que, a no
observao de fatores ergonmicos, associados postura inadequada,
movimentos de flexo de punho em alta velocidade e grande fora do trabalho
manual, so fatores causadores dessa sndrome. Alm dos fatores biomecnicos,
que predispe s leses dos membros superiores, nota-se que a temperatura
extremamente baixa, associada alta taxa de umidade, representa um ambiente
hostil e potencialmente lesivo ao trabalhador.
Neste sentido Frost et al. (1998), Iida (1990), afirmam que a baixa
temperatura (menor que 15C) e a alta umidade ambiental, influem diretamente
no desempenho do trabalho humano, reduzindo a concentrao e as capacidades
para pensar e julgar. O controle muscular tambm afetado, reduzindo a destreza
e a fora. Muggleton et al. (1999) relataram que a baixa temperatura reduz a
circulao sangnea nos membros superiores, causando a diminuio da
sensibilidade e funo motora da mo. Os autores descrevem ainda, a diminuio
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da qualidade de preenso palmar em ambientes com alto ndice de umidade. A
utilizao de luvas para proteo contra temperaturas extremas, a sugesto de
Kinoshita (1999), entretanto alerta para o fato de que a sua utilizao diminui a
sensibilidade discriminatria e fora de preenso.
Alm de todos estes fatores predisponentes, devem ser considerados nas
causas das L.E.R./D.O.R.T., os fatores sociais e individuais de cada pessoa.
2.2 A Normatizao das L.E.R./ D.O.R.T.
Com referncia Normatizao das L.E.R./ D.O.R.T., possvel observar
na histria, que o Estado em muitos momentos, faz sua interveno na relao
capital-trabalho, seja por vontade prpria ou por presso externa. No Brasil, o
primeiro passo para a normatizao desta relao foi a Consolidao das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-lei n.5452 de 1 de maio de 1930, onde
entre outras coisas trata da segurana e da medicina do trabalho (Porto, 1998).
A Lei n.6514 de 22.12.77 da CLT, referente Segurana e Medicina do
Trabalho, estabelece as Normas Regulamentadoras como as NR-5, que trata da
organizao da Comisso Interna de Preveno de Acidentes CIPA, a NR-7,
que trata do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional PCMSO, a
NR-9, que aborda o Programa de Preveno de Riscos Ambientais PPRA e a
NR-17, que trata sobre a Ergonomia. Essa lei estabeleceu critrios de forma a no
permitir que os trabalhadores sejam expostos aleatoriamente situaes de risco,
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30
bem como, para obter melhorias nos ambientes de trabalho, prevenindo e/ou
minimizando as doenas ocupacionais (Monteiro, 1997).
A partir da CLT, muito se evoluiu nos campos da regulamentao e da
proteo do trabalhador, porm, o marco relativo s L.E.R. propriamente dita,
ocorreu em 1987, quando a Tenossinovite dos Digitadores foi reconhecida como a
primeira patologia causada por esforos repetitivos no trabalho, atravs da portaria
n.4602 do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (Sato et al. apud
Monteiro, 1997, p.41).
Em 1993, o INSS lanou a Norma Tcnica para Avaliao da Incapacidade
sobre L.E.R., onde foi ampliada para quatorze tipos de patologias e foram
normatizados os procedimentos administrativos e periciais, as formas clnicas, os
estgios evolutivos, a preveno e a conduta dos profissionais de sade frente ao
atendimento dessa doena (INSS, 1993). Essas normas j tinham sido publicadas
no mbito estadual pela Secretaria de Estado da Sade de So Paulo em
08.06.1992, atravs da resoluo SS 197.
Conforme destaca Porto (1998), atravs do Decreto n.2172 de 05 de
maro de 1997, o INSS, com a participao de vrios segmentos da Previdncia
Social, do Ministrio do Trabalho, dos Sindicatos de Classe, do Empresariado e de
Faculdades de Medicina, finalmente aprovam a atualizao da Norma Tcnica
sobre L.E.R./D.O.R.T., inclusive definindo pela mudana da nomenclatura,
passando em definitivo para DORT Distrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho.
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31
A atualizao compem-se de duas partes distintas, a primeira versa a
respeito da clnica da patologia e a segunda constitui-se da Norma Tcnica
propriamente dita.
Importante observar na segunda parte desse documento, a distino de
atribuies delegadas aos diversos agentes envolvidos nesta problemtica,
considerando-se a empresa, as instituies governamentais, o segurado, e os
sindicatos, atribuies tais como:
1 Pela empresa:
a) Identificar as reas de risco, com discrio detalhada dos postos de
trabalho com as tarefas pertinentes a cada funo (.....), lembrando do
perfil epidemiolgico da doena.
b) Acompanhar cuidadosamente os trabalhadores submetidos a excesso
de solicitao osteomioligamentar dos membros superiores, procurando
minimizar ou eliminar tal condio.
c) Aos primeiros sintomas suspeitos, afastar o trabalhador da atividade at
que se estabelea o diagnstico correto.(......), caso persistam os
sintomas e sinais clnicos, com diagnstico firmado, emitir CAT
Comunicao de Acidente de Trabalho.
d) A minimizao e a soluo dos problemas sero obtidas pela prtica de
ergonomia nos locais e postos de trabalho, que responsabilidade da
empresa.
e) necessrio que nas funes e trabalhos em que haja solicitao
osteomioligamentar, as pessoas sejam treinadas, recebendo
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ensinamentos sobre as tcnicas corretas de execuo das tarefas e
alertando-as sobre as prticas erradas que estejam adotando.
f) O mdico do trabalho dever manter atualizados os dados referentes s
condies de sade do empregado, principalmente no que tange as
patologias ocupacionais relacionadas ao excesso de solicitao
osteomioligamentar.
2 Pela Delegacia Regional do Trabalho:
a) Coordenar a execuo das atividades relacionadas com a segurana,
higiene e medicina do trabalho.
b) Programar as atividades de inspeo de segurana e sade do trabalho.
c) Inspecionar o cumprimento das normas regulamentadoras de segurana
do trabalho.
d) Realizar o cadastramento das empresas inspecionadas, com anotaes
das notificaes, infraes e percias, bem como, elaborar quadros
estatsticos.
e) Acompanhar as atividades de inspeo de segurana e sade do
trabalho.
f) Colaborar nas Campanhas de Preveno de Acidentes de Trabalho.
g) Propor medidas corretivas para as distores identificadas na execuo
dos programas e aes.
3 Pelo INSS:
a) Uniformizar os critrios para reconhecimento de patologias
ocupacionais.
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b) Agilizar as medidas necessrias para recuperao e/ou reabilitao
profissional, evitando a cronificao subjetiva das leses.
c) Reconhecer que um dos principais fatores contributivos para o
aparecimento dessas leses a inadequao do sistema e dos mtodos
de trabalho.
d) Desmistificar as D.O.R.T., evitando a neurose coletiva direcionada para
doena incurvel.
e) Evitar o nus decorrente de diagnsticos imprecisos e mal conduzidos
que levam extenso do benefcio acidentrio para patologias que
fogem natureza desta questo.
f) Realizar as aes regressivas pertinentes.
4 Pelo Segurado:
a) Propor imediata ateno mdica ao sentir dor persistente no membro
superior.
b) Cumprir o tratamento clnico prescrito e atender com presteza s
solicitaes do mdico assistente.
c) Sabendo do risco de sua atividade, evitar outras exposies
concomitantes e horas-extras (......), acatando as medidas de proteo.
d) Descrever com detalhes e preciso suas atividades na empresa e fora
dela.
5 Pelo Sindicato da Categoria:
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a) Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos e
individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou
administrativas.
b) assegurada a participao dos trabalhadores e empregadores nos
colegiados dos rgos pblicos em que seus interesses profissionais ou
previdencirios sejam objeto de discusso e deliberao.
Essa atualizao de 1997, objetivou simplificar, adequar e uniformizar o
trabalho dos diversos segmentos que atuam direto ou indiretamente nesta rea.
Ao criar critrios e atribuies mais claras, obtm-se uma melhor abordagem dos
diversos aspectos envolvidos nas D.O.R.T., tanto na ocorrncia e agravamento do
quadro, como na possibilidade de diagnstico precoce, tratamento e reabilitao
adequados.
2.3 A Ergonomia e a Preveno das L.E.R./D.O.R.T.
2.3.1 Conceituao e Caractersticas da Ergonomia
Como descreveram Iida (1990) e Grandjean (1998), a palavra ergonomia
vem do Grego: ergon = trabalho e nomos = legislao, normas, regras. Iida (1990)
a define como o estudo da adaptao do trabalho ao homem, ressaltando que o
trabalho nesta conceituao abrange no apenas os equipamentos para
transformao de materiais, mas sim, todo tipo de relao do homem com o seu
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trabalho. Seguindo o mesmo princpio, Grandjean (1998), conceitua a ergonomia
como a cincia da configurao do trabalho adaptado ao homem.
Segundo a definio de Couto (1998), ergonomia o conjunto de cincia
e de tecnologias que procura melhorar as condies de trabalho, objetivando,
sobretudo, conforto aliado produtividade.
Para Wisner (apud Santos & Fialho, 1997, p.21) a ergonomia definida
como o conjunto dos conhecimentos cientficos relativos ao homem e necessrios
para a concepo de ferramentas, mquinas e dispositivos que possam ser
utilizados com o mximo de conforto, de segurana e de eficcia.
A ergonomia uma rea de atuao multidisciplinar, talvez por situar-se em
uma linha tnue entre as cincias humanas, biolgicas e exatas. Quando se pensa
em ergonomia, pressupe-se uma perfeita harmonia entre o usurio, a tarefa, a
ferramenta e o ambiente de trabalho. Entretanto, a ergonomia constitui parte
importante mas no exclusiva da melhoria das condies de trabalho. preciso
considerar os dados psicossociais envolvidos no contedo e na organizao geral
da atividade.
Como preconiza Monteiro (1997), a prtica ergonmica deve observar o
respeito ao homem enquanto trabalhador e ser humano, bem como, a sua
qualidade de vida no trabalho. Para isso, deve-se abordar as trs dimenses do
trabalho: a demanda (os problemas), a tarefa (o dever) e a atividade (o fazer),
englobando assim os fatores organizacionais, tcnicos e ambientais, inclusive os
aspectos de comportamento do homem no trabalho.
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Segundo afirmao de Daniellou (apud Barcelos, 1997), quando utiliza-se a
ergonomia, pretende-se estudar a atividade de trabalho, a fim de contribuir para a
concepo dos meios de trabalho adaptados s caractersticas fisiolgicas e
psicolgicas dos seres humanos, com os critrios de sade e de eficcia
econmica. Corroborando com esta idia, Monteiro (1997), diz que o papel da
ergonomia no sistema de produo visa contribuir mais efetivamente na
transformao do trabalho, participando ativamente na implantao de projetos
ergonmicos com objetivo de modificar os ambientes de trabalho e proporcionar
assim, condies laborais fsicas e psicologicamente aceitveis.
2.3.2 Preveno das L.E.R./D.O.R.T.
A observao de princpios ergonmicos fundamental na preveno dos
distrbios relacionados com as atividades profissionais, quando o prprio conceito
de ergonomia diz que ela procura melhorar as condies de trabalho, dando
conforto e segurana ao trabalhador.
De acordo com as consideraes de Stobbe (1996), os princpios
ergonmicos so baseados na combinao de cincia, engenharia e um completo
entendimento das capacidades e limitaes humanas. Quando esses princpios
so aplicados no projeto de um posto de trabalho, na tarefa, no processo ou
procedimento, a incidncia de leses msculo-esquelticas diminuem.
Entre os princpios ergonmicos, destaca-se a Anlise Ergonmica do
Trabalho (AET), que para Barcelos (1997, p.29), torna possvel o reconhecimento
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da realidade do trabalho e dos trabalhadores, considerando todos os elementos
que interagem nesta relao. A autora afirma ainda, que a AET permite no s
identificar o trabalho, mas descrever todos os modos operatrios, os agravantes,
as comunicaes, o coletivo de trabalho, as competncias requeridas pela funo
e as competncias que os operadores j possuem.
A anlise ergonmica do trabalho, dividida por Santos e Fialho (1997), em
trs fases: a anlise da demanda, anlise da tarefa e anlise da atividade. Com os
dados obtidos na anlise destas fases, pode-se diagnosticar possveis distores
na situao de trabalho e elaborar um plano de interveno. Como afirma
Monteiro (1997), as medidas preventivas so mais eficazes do que as corretivas,
j que atravs de estudos prvios, pode-se detectar possveis situaes de riscos
e evitar danos futuros. Quando no h uma atuao na concepo do posto de
trabalho, fundamental que se implante um programa ergonmico que vise
eliminar ou minimizar as condies laborais lesivas.
Pode-se destacar tambm a cinesioterapia preparatria e/ou compensatria
(ginstica laboral), como mtodo efetivo na preveno das L.E.R./D.O.R.T., j que
ela garante o alongamento e melhora da nutrio muscular. Nas situaes de
grandes esforos fsicos e/ou movimentos repetitivos, so indicados exerccios de
aquecimento e alongamento muscular no pr atividade, de forma a preparar o
organismo para o esforo que se iniciar e, de alongamento durante e aps a
atividade, proporcionando uma melhor oxigenao das estruturas musculares
envolvidas, diminuindo assim, o acmulo de cido ltico (fadiga muscular) e
minimizando as possveis instalaes de leses.
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Os dados encontrados em trabalhos especficos sobre a Preveno das
L.E.R./D.O.R.T., confirmam a eficcia da cinesioterapia como mtodo preventivo,
destacando-se o trabalho realizado por Pereira e Lech (1997), que implementaram
um programa de exerccios para preveno destes distrbios em uma empresa de
processamento de dados, durante quatro meses. Os exerccios eram realizados
anteriormente ao incio do expediente. Os autores relataram um ndice de 72,2%
de indivduos que aps participarem das atividades indicaram diminuio de
queixas relacionadas s regies de membros superiores.
Dias (apud Chacn, 1999), desenvolveu um projeto de ginstica laboral
durante 3 meses junto fabrica de Tintas Renner. Em 1989, esse projeto foi
desenvolvido sob forma de exerccios preventivos e teraputicos realizados no
prprio ambiente de trabalho, tendo o objetivo de prevenir o trabalhador contra
doenas por traumas cumulativos. De acordo com a autora, aps o primeiro ms
de trabalho alguns funcionrios j sentiam reduzidas suas dores.
Martins (2000) relatou melhora na flexibilidade do ombro, cotovelo, punho,
quadril e joelho de 26 indivduos que submeteram-se a 4 meses de ginstica
laboral, 3 vezes por semana, durante 15 minutos cada sesso. Alm disso, a
autora relatou ainda, que o programa afetou inclusive o estilo de vida dos
participantes, levando-os a adotar hbitos mais saudveis, com conseqente
melhora da qualidade de vida.
As reclamaes de dores foram reduzidas 60% na Siemens do Brasil, aps
a introduo da ginstica laboral, conforme menciona o mdico do trabalho e
coordenador do Departamento Mdico da indstria, Paulo Esper Atala. Waldir
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Eugnio Lcio, gerente de RH da Atlas Copco, apresentou os resultados de um
questionrio que quantificou a aceitao da ginstica laboral pelos funcionrios da
empresa. Os resultados demonstram um ndice de 85% de notas entre oito e dez
para a atividade fsica, refletindo o grau de satisfao dos questionados (Alves &
Vale, 1999).
Monteiro (1997), afirma que a ginstica laboral proporciona inclusive a
humanizao dos ambientes de trabalho, reduzindo o estresse e a irritabilidade
proveniente, algumas vezes, do trabalho. Porm, um mtodo que no pode ser
imposto, pois pode trazer resultados contrrios ao esperado, caso o funcionrio o
faa com desprazer. A associao da ginstica laboral, com a educao dos
trabalhadores, a preocupao gerencial e as modificaes ergonmicas so
pontos-chaves para a preveno das L.E.R..
Outras duas medidas que tem se mostrado auxiliares importantes contra a
ocorrncia das L.E.R./D.O.R.T., so as pequenas pausas durante o perodo de
trabalho associadas aos rodzios de funes. Conforme prev a NR-17, dentro do
contexto da organizao do trabalho em atividades que exijam sobrecarga
muscular esttica ou dinmica do pescoo, ombros, dorso, membros superiores e
membros inferiores, deve-se considerar a introduo de pequenas pausas de 10
minutos a cada 50 minutos trabalhados, sem aumento do volume ou ritmo de
trabalho em decorrncia do intervalo. Quanto aos rodzios de funes, trabalhos
como o de Higss et al. (1992), demonstram que trabalhadores que realizam
rodzios de funes so menos acometidos por esses distrbios, pois esses
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trabalhadores utilizam grupos musculares diferentes em cada atividade, o que
minimiza a fadiga crnica por repetitividade.
Na reviso da Norma Tcnica sobre D.O.R.T. realizada em 1997 pelo INSS,
dada grande nfase preveno destes distrbios. A norma diz que um
programa de preveno de D.O.R.T. em uma empresa deve iniciar pela criteriosa
identificao dos fatores de riscos presentes na situao de trabalho, destacando
ainda que para cada situao corresponde um conjunto de medidas de controle
especficas, evitando a progresso da doena. As medidas de controle a serem
adotadas devem envolver o dimensionamento adequado do posto de trabalho, os
equipamentos e as ferramentas, as condies ambientais e a organizao do
trabalho. A norma menciona ainda, que o resultado do programa de preveno
depende da participao e compromisso dos diferentes profissionais da empresa:
trabalhadores, supervisores, cipeiros, tcnicos de servio de segurana do
trabalho, gerentes e diretores.
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3 METODOLOGIA
Com o objetivo de comprovar a validade deste trabalho, foi realizada uma
pesquisa de campo na empresa X, que tem suas atividades voltadas para o ramo
agro-industrial - abate de aves - desde 1979. A empresa est sediada no
municpio de Araucria, Regio Metropolitana de Curitiba, Estado do Paran.
No incio do perodo em que foi realizada a pesquisa, a empresa possua
112 funcionrios, distribudos entre seus setores administrativos e de produo,
sendo que este ltimo, comportava o maior em nmero de funcionrios, 92 ao
todo.
A produo da empresa, apresenta uma flutuao de 14.000 a 23.000
abates dirios, dependendo da demanda do mercado que compreende a cidade
de Curitiba e Regio Metropolitana.
O setor de eviscerao da empresa, ao qual direcionada a pesquisa,
contava no incio do perodo em que a pesquisa foi desenvolvida, com um quadro
de funcionrios composto de 32 pessoas, cujo perfil est abaixo discriminado
Sexo feminino: 14; masculino: 18
Mdia de idade - 29 anos (com extremos entre 19 e 54 anos)
Tempo mdio de trabalho na empresa - 2,9 anos.
Dando continuidade conduo metodolgica da pesquisa de campo, esta
compem-se de cinco etapas: anlise ergonmica do trabalho, coleta de dados,
programa de cinesioterapia de pausa, reavaliao fsica e tratamento estatstico.
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3.1 Primeira Etapa: Observaes e Registros Documentais
Utilizando a metodologia da anlise ergonmica do trabalho, realizou-se a
anlise das atividades desenvolvidas nesse setor, detalhando cada posto de
trabalho.
Para viabilizar o processo, foi realizada uma reunio com o diretor da
empresa, a gerente de produo, os encarregados de produo, o tcnico em
segurana do trabalho e todos os funcionrios do setor alm do observador. Na
reunio foram realizadas as apresentaes e fornecidas as informaes sobre o
trabalho a ser desenvolvido. Tendo em vista o desenvolvimento metodolgico,
neste momento buscou-se a sensibilizao dos presentes, com a exposio da
importncia do projeto e da participao de cada um, sem a qual no seria
possvel um ponto de partida e de definio dos suportes fundamentais para a
execuo da proposta. Na sequncia, foi analisado o PPRA (programa de
preveno de riscos ambientais), para que os presentes tomassem conhecimento
da tarefa prescrita destinada ao setor, bem como, os seus riscos ambientais. Na
mesma oportunidade foi analisado o relatrio cadastral dos funcionrios para
levantar dados referentes data de admisso, histria mdica e ocorrncia do
absentesmo verificado no ltimo semestre do ano de 2000.
No total foram realizados 4 meses de observaes durante o perodo
compreendido entre setembro e dezembro do ano 2000, em dias da semana e
horrios diferentes, com a finalidade de visualizar a rotina do setor.
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Durante os perodos de observao, foram realizadas 13 visitas empresa,
com a durao de 3,5 a 6 horas cada visita, inclusive durante o horrio de
almoo, fator este que proporcionou uma maior interao entre o observador e
observados.
A pesquisa foi enriquecida com registros fotogrficos e filmagens do setor,
com a finalidade de complementar a observao in locus.
3.2 Segunda Etapa: Coleta de Dados
Nessa etapa foram coletados dados individuais dos funcionrios do setor,
com a finalidade de traar um perfil etrio, cultural, mdico e antropomtrico da
populao estudada.
Essa coleta de dados foi composta por quatro sub-etapas: dados de identificao
e histria mdica, exame fsico, medidas antropomtricas e goniometria.
Para viabilizar esse procedimentos, buscou-se levantar os seguintes dados:
1) Identificao e histria mdica: foi aplicado um questionrio com o
propsito de levantar: a) dados pessoais, b) histria mdica. (ANEXO
8.1)
a) Dados pessoais: foram levantados dados referentes ao nome, idade,
sexo, membro dominante, raa, escolaridade, tempo de servio e
atividade fsica. Quanto a este ltimo, procurou-se levantar no somente
a prtica, mas sim a freqncia da mesma.
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b) Histria mdica: teve o propsito de levantar as doenas anteriores, de
origens ocupacional ou no, doenas atuais, tratamentos realizados ou
em andamento e afastamentos do trabalho. Quanto ao afastamento do
trabalho, procurou-se saber o tempo de durao deste afastamento.
2) Exame fsico: com base na anlise do relatrio cadastral de
funcionrios, anlise do PPRA, anlise ergonmica do trabalho e
queixas dos funcionrios, foi elaborado um protocolo de exame fsico
(palpao), direcionado s necessidades desses funcionrios e
seguindo o que sugere Couto et al. (1998). Sendo assim, utilizou-se um
exame que abrangesse estruturas da coluna cervical e membros
superiores, tais como: msculos esternocleidomastideos e
supraespinhais, epicndilos mediais e laterais dos meros, msculos
flexores e extensores dos punhos e nervos ulnares, mediais e radiais.
Alm do exame fsico, nesta etapa, tambm foi medida a fora de
preenso palmar. Para isso, utilizou-se um dinammetro da marca
Diener-Germany, com escala de 0 a 200 kg. Conforme preconizam
Hallmann e Hettinger (1989) e, Lehmkuhl e Smith (1989) para a posio
e fixao do segmento corporal mensurado, foi adotada a posio
sentado com membro avaliado relaxado, antebrao apoiado sobre a
coxa e cotovelo a aproximadamente 70 de flexo.
3) Medidas antropomtricas: a altura ideal para as extremidades dos
membros superiores em atividades em p, para trabalhos leves, em
mdia 105 centmetros para homens e 98 centmetros para mulheres, o
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que representa a altura dos cotovelos. Para trabalhos pesados
recomendado, em mdia a altura de 90 centmetros para homens e 85
centmetros para mulheres (Grandjean, 1998).
4) Para o procedimento das medidas de alturas e comprimentos foi
seguida a padronizao proposta por Alvarez e Pavan (1999). Foram
mensuradas as seguintes partes do corpo: estatura, altura acromial,
altura radial, altura dactiloidal e comprimento dos membros superiores.
Para estas mensuraes foi utilizada uma fita mtrica metlica adaptada
com haste e leitura com preciso de 1 milmetro. Todas as tomadas de
alturas foram realizadas do lado direito, conforme padronizao. A
massa corporal dos trabalhadores tambm foi mensurada atravs da
padronizao sugerida por Alvarez e Pavan (1999). A coleta foi feita
atravs de uma balana da marca IBS com escala de 0 a 200 kg.
5) Goniometria: foi determinada a amplitude articular atravs da realizao
de goniometria dos movimentos de flexo, extenso, flexo lateral para
a direita, flexo lateral para a esquerda, rotao para a direita e rotao
para a esquerda da coluna cervical, elevao, extenso, aduo,
rotao medial e rotao lateral do ombro, flexo, extenso, supinao e
pronao do cotovelo alm de , flexo, extenso, abduo e aduo do
punho. Mensurou-se essa varivel atravs da padronizao proposta
por Marques (1997), sendo utilizado um gonimetro para grandes
articulaes da marca Carci.
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3.3 Terceira Etapa: Programa de Cinesioterapia de Pausa
Com base nos dados das etapas anteriores, foi desenvolvido um programa
de cinesioterapia de pausa contendo 10 exerccios de aquecimento e 09
exerccios de alongamento/relaxamento para a regio cervical e membros
superiores. (ANEXO 8.2)
O programa foi aplicado no perodo de janeiro junho de 2001, em 5 sries
dirias com durao de 10 minutos cada srie. A distribuio foi realizada durante
o trabalho da seguinte forma: primeira srie, no incio do perodo da manh,
quando foram priorizado os exerccios de aquecimento; a segunda srie realizou-
se aps duas horas de trabalho; a terceira na sada para o almoo; a quarta , aps
duas horas de trabalho do perodo da tarde e a quinta srie realizou-se no final do
perodo da tarde. Exceto a primeira srie, em todas as demais foram priorizados
os exerccios de alongamento/relaxamento.
3.4 Quarta Etapa: Reavaliao Fsica
A reavaliao fsica realizou-se seis meses aps a implantao do
programa de cinesioterapia de pausa. Na reavaliao fsica verificou-se a fora de
preenso palmar e goniometria de todos os funcionrios do setor, com a finalidade
de quantificar e qualificar as alteraes ocorridas em termos comparativos s
observadas na coleta de dados inicial.
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3.5 Quinta Etapa: Tratamento Estatstico dos Dados
Para a obteno dos resultados das coletas de dados, foi realizado o
tratamento estatstico dos mesmos, utilizando-se o Teste t para comparao de
mdias para todas as variveis quantitativas, i.e., como o estudo da goniometria.
Para estudar as variveis do exame fsico, foi utilizada a Prova de McNemar (teste
no-paramtrico). Para algumas variveis relativas aos dados de identificao, tais
como sexo, atividade fsica/freqncia de tempo de servio, foi utilizado o Teste de
Qui-Quadrado. Todos com um nvel de significncia de 5% (p
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4 ANLISE ERGONMICA DO SETOR DE EVISCERAO
A Anlise Ergonmica do Trabalho (AET), segue o que preconiza Santos e
Fialho (1997), quando afirmam que uma AET deve conter trs fases
cronologicamente abordadas: a anlise da demanda, a anlise da tarefa e a
anlise das atividades. Todas culminando com um diagnstico e posteriores
recomendaes, para promover as alteraes necessrias na situao de
trabalho.
A continuidade das consideraes de Santos e Fialho (1997), destacam que
esses procedimentos baseiam-se na Anlise Ergonmica do Trabalho
desenvolvida por Faverge a partir de 1955, ou seja, h uma intensa influncia da
escola europia, principalmente da francesa, a qual abrange no somente os
fatores biomecnicos, como preconizava a escola americana, mas tambm os
fatores psicossociais.
4.1 Anlise da Demanda
O alto ndice de queixas de dores nos membros superiores manifestado
pelos funcionrios do setor de eviscerao, deve-se principalmente cervicalgia,
tendinites de ombro, cotovelo e punho.
A direo da empresa apresentava queixas motivadas pela alta
porcentagem de afastamento dos funcionrios, para tratamento de doenas
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ocupacionais nesse setor da empresa. Por tal razo, solicitou a realizao de um
estudo ergonmico dos postos de trabalho, visando melhorar a organizao e
qualidade do trabalho, a reduo do absentesmo e a preveno de doenas
ocupacionais.
4.2 Anlise da Tarefa
4.2.1 Homem
A a