Análise do DiscursoAnálise do Conteúdo
Profª Leila Rabello de OliveiraDisciplina: Metodologia da Pesquisa I
19/04/2005
Análise do Discurso Não se trata de uma disciplina/tema recente, pois
em uma palestra no College de France, em 1970, Michel Foucault declarou que em todas as sociedades, a produção do discurso é:
controlada, selecionada, organizada e distribuída segundo certos procedimentos "não
escritos", passados de geração para geração tanto através das atitudes dos falantes quanto através da própria linguagem empregada.
O que é Análise do Discurso ?
visa estudar e compreender a linguagem utilizada por membros de uma comunidade.
Ao examinarmos a forma e as funções dessa linguagem podemos compreender fatores sociais e culturais que caracterizam as relações entre pessoas, significados e o lugar social.
O que é Análise do Discurso ?
vai além do nível da frase ou superfície do enunciado e analisa unidades do discurso que estão diretamente ligadas ao contexto onde são produzidas, o que nos permite compreender melhor o significado mais profundo de uma ou mais orações.
Por vezes, a mesma frase, enunciada em diferentes contextos, apresenta significados diferentes
DISCURSO E COMUNICAÇÃO
Para que o discurso tenha um fundamento, é preciso haver condições mínimas de entendimento. Se não houver, o ato de comunicação não se efetivará, e o discurso cairá no vazio. Ou, como dizem os que trabalham com linguagem, os discursos se “desqualificam”.
Para Bakhtin (1998: 225)
o “Discurso não reflete uma situação, ele é uma situação.
Ele é uma enunciação que torna possível considerar a performance da voz que o anuncia e o contexto social em que é anunciado
Análise do Discurso é uma importante ferramenta para as diversas
relações que desejamos fazer em textos diversificados.
Com ela e através dela, temos subsídios suficientes para elaborarmos um trabalho coerente e consistente.
Para exemplificar melhor esta questão, o pensamento de Orlandi (2000: 15 e 39) nos proporciona uma visão mais clara a respeito de papel da análise discursiva.
Orlandi diz que a Análise do Discurso...
não trata da língua, não trata da gramática, ela trata do Discurso.
O discurso é uma palavra em movimento, é uma prática de linguagem.
Não há começo absoluto ou ponto final para o discurso.
Um dizer tem relação com outros dizeres realizados, imaginados ou possíveis.
tipos de discurso:
os discursos do dia-a-dia e de reuniões informais, continuamente reiterados e também transformados com a introdução de novas formas;
e os discursos específicos ou oficiais freqüentemente associados a determinadas comunicações, mais impermeáveis, herméticos e passivos de menor transformação, pois atendem ao propósito de reiterar códigos de poder.
Discurso Poético
No discurso Poético como no discurso social, a palavra ganha atribuições reais e irreais que permitem que uma mesma palavra possa atribuir ou sugerir significados sempre novos
o poético tem a possibilidade de trabalhar com o cotidiano
dentro do discurso poético, a “palavra é o limite da cultura, cada ato cultural usa a palavra de modo diferente
O gênero poético não trata do real e nem do irreal, mas do possível
Discurso Social
Trabalha com as dificuldades e diferenças sociais que podem gerar conflitos e tentam manipular o pensamento do homem.
Deste modo, o discurso social entra em choque com discursos da história e da própria poética, muitas vezes, o discurso social trapaceia a própria realidade.
Discurso Poético X Social
Embora o discurso poético siga o caminho de rupturas e contestações, muitas vezes ele se apresenta preso ao sistema de domínio da própria sociedade
Discurso Poético e Social
Todos os homens, qualquer que seja a sua posição na hierarquia social, vivem as cotidianidades. Nela colocam-se ‘em funcionamento’ todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidade manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideais, ideologias.
(HELLER, 1989: 17)
Discurso Poético X Social Em muitos casos a vida cotidiana está no centro
do acontecer literário.
O homem usa uma trama de histórias para representar a “sua” própria realidade.
O discurso poético é o jogo de possibilidades, é o jogo de poder e satisfazer.
Chico Buarque Entrando na questão do uso da palavra,
tomaremos como instrumento de análise a obra de Chico Buarque de Hollanda.
Com uma prática poética, o compositor consegue criar canções-poemas que nos levam a identificar uma (inter) relação com vários discursos, principalmente o social, o poético e o histórico-cultural.
Chico Buarque Em uma parte de sua obra, conseguimos
identificar a construção de perfis femininos que são cantados e decantados
consegue tematizar a figura feminina usando uma voz feminina, e em alguns casos, usando a voz masculina
Chico Buarque
Ao se colocar com um pensamento de mulher, consegue revelar os desejos e insatisfações da condição feminina; e quando utiliza como recurso a voz masculina, consegue moldar as personagens a um discurso masculinizado, fazendo com o universo feminino seja restrito a idéias patriarcais.
Música: Tira as mãos de mim (Chico Buarque) Para mostrar a importância do discurso
poético e de sua relação com outros discursos, como foi citado anteriormente, tomaremos como princípio a canção de Chico Buarque, intitulada: “Tira as Mãos de Mim”.
Ele era mil
Tu és nenhum
Na guerra és vil
Na cama és mocho
Tira as mãos de mim
Põe as mãos em mim
E vê se o fogo dele
Guardado em mim
Te incendeia um pouco
Éramos nós
Estreitos nós
Enquanto tu
És laço frouxo
Tira as mãos de mim
Põe as mãos em mim
E vê se a febre dele
Guardada em mim
Te contagia um pouco.
Canção: Tira as mãos de mim
Análise do Discurso Analisando de forma superficial esta letra, tem-se
a idéia de que uma mulher fala com um homem sobre um outro homem que não é ele (o ouvinte).
Assim, temos a 1ª, 2ª e 3ª pessoa do discurso. Tem uma voz do discurso que tece a história,
uma voz feminina. O texto é construído com antíteses: “Tira/Põe”, “Mil/Nenhum”, com metáforas, que se apóiam em uma semelhança ou comparação conotativa: “Éramos nós, estreitos nós”.
Desta forma temos a idéia de que a pessoa do discurso que fala e de quem se fala (nós), estavam sempre juntas, excluindo a pessoa com quem se fala (tu).
O 1º ‘nós’,(ele e eu) ,é um pronome pessoal do caso reto, é metáfora de ‘nós’ substantivo, ou seja, o 2º ‘nós’, que é plural de nó (substantivo).
Análise do Discurso Poético
A partir desta análise do discurso poético, que é muito utilizado pela literatura e pelas manifestações artísticas que utilizam a linguagem como recurso, podemos fazer uma outra análise que esta canção também contém:
um discurso histórico. ..
Para iniciar este processo de interpretação, voltaremos ao período histórico do Brasil.
No século XVII, o Brasil sofreu invasão Holandesa, O Brasil ainda era colonizado. Em meio a esta invasão, se destacou um mulato alagoano chamado Domingos Fernandes Calabar, casado com Bárbara. Amavam-se e lutavam, juntos, pelos seus ideais. O Brasil vivia um grande desenvolvimento no cultivo da cana-de-açúcar, despertando os interesses de outras nações, principalmente a Holanda. Isso fez com que os holandeses invadissem o Nordeste. Em uma dessas invasões, no Arraial do Bom Jesus, começou a aparecer a figura de “Calabar”, defendendo o seu lugar e mais tarde lutando ao lado dos Holandeses, o que lhe custou um título de traidor da pátria brasileira, a história foi contada pelos portugueses, que na época tinham o poder sobre a terra brasileira.
Voltando-se para Bárbara, mulher de Calabar, teve o poder de despertar o desejo em um amigo de Calabar, Sebastião Souto, que foi quem entregou o seu “amigo” para os portugueses.
Cometeu este ato, com o simples desejo de possuir Bárbara.
Assim, temos a idéia de que o indivíduo tem a capacidade de “produzir, reproduzir ou desafiar a realidade social na qual vive”
A partir da Análise Crítica do Discurso:
(1) produz e reproduz conhecimentos e crenças por meio de diferentes modos de representar a realidade;
(2) estabelece relações sociais; e
(3) cria, reforça ou reconstitui identidades.
Literariedade
Temos, através da idéia tríplice, a informação de que através desta canção, Chico Buarque reproduziu conhecimentos a respeito da história de Calabar e do período de colonização, da lingüística, da linguagem e sua estruturação textual, e da literatura, utilizando o jogo de palavras e a literariedade (conjunto de características específicas: lingüísticas, semióticas,sociológicas).
Observemos:
Ele era mil (Calabar)
Tu és nenhum (Souto)
Na guerra és vil (Souto)
Na cama és mocho (Souto)
Tira as mãos de mim (Bárbara)
Põe as mãos em mim (Bárbara)
E vê se o fogo dele (Calabar)
Guardado em mim (Bárbara)
Te incendeia um pouco (Souto)
Éramos nós (Bárbara e Calabar)
Estreitos nós (Bárbara e Calabar)
Enquanto tu (Souto)
És laço frouxo (Souto)
Tira as mãos de mim (Bárbara)
Põe as mãos em mim (Bárbara)
E vê se a febre dele (Calabar)
Guardada em mim (Bárbara)
Te contagia um pouco. (Souto)
Neste texto, temos um estereótipo feminino não muito comum. Uma mulher que usa de pressão psicológica para atingir o homem que entregou o seu marido
As principais identidades são Bárbara (a narradora), Calabar (o marido) e Sebastião Souto (o traidor).
A relação social neste discurso se apresenta através da omissão de Souto, que aparenta ser uma pessoa menos esclarecida, ou então submetido ao remorso de ter traído o seu amigo, assim, não questiona, não contesta
Esta pequena tentativa de análise do discurso permite observar a variedade de interpretações que somos capazes de fazer, graças aos recursos da linguagem
Devemos ver estes discursos como “momentos’, onde percebemos a manifestação de conhecimentos e um grande processo de transformação de uma sociedade.
Não é possível, então, isolar os atos de comunicação, a linguagem, os discursos.
Aspectos culturais dos discursos Antes de falar – observe... Saber ouvir; formas específicas de polidez; padrões de entonação; funções da linguagem; estratégicas de retórica;
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