EIXO TEMÁTICO: CLIMA E PLANEJAMENTO URBANO/RURAL.
ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO EM CASOS DE JANEIROS CHUVOSOS E SECOS (1999 – 2009) NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
Dra. Jana Maruška Buuda da Matta
UESB/UNEB – Vitória da Conquista e Caetité - BA <[email protected]>
Msc. Altemar Rocha Amaral UESB/UNEB – Vitória da Conquista e Caetité - BA
<[email protected]> Msc. Artur José Pires Veiga
UESB/UNEB – Vitória da Conquista e Caetité - BA <[email protected]>
Graduanda Adma Viana Bezerra UESB/UNEB – Vitória da Conquista - BA
<[email protected]> RESUMO Nos estudos climatológicos, o estado médio da atmosfera em determinado tempo e lugar, a variabilidade das chuvas e a relação entre os totais pluviométricos nos meses chuvosos, principalmente janeiro, são temas de trabalhos divulgados pela CPTEC/INPE, que merecem aprofundamento em escala local. Este trabalho tem como objetivo analisar a ocorrência, distribuição, altura da precipitação e número de dias chuvosos no mês de janeiro nos anos de 1999 a 2009 em Vitória da Conquista – BA. Para este trabalho foram utilizadas normais climatológicas diárias e mensais da Estação Meteorológica - INMET, localizado no campus da UESB em Vitória da Conquista – BA. Os resultados apontam certa regularidade na ocorrência dos dois fenômenos citados, apresentado tendência temporal para o prolongamento de 12/24 para até 36 meses de estiagem e espaçamento de 24/36/48 meses para janeiros com precipitação igual ou superior à média pluviométrica local (107 mm). Os resultados indicam sensível aumento no número de dias chuvosos e do total pluviométrico referente ao mês de janeiro nos anos estudados.
Palavras chaves: precipitação; comportamento temporal; incidência de chuvas.
ABSTRACT In climatologically studies, the average state of the atmosphere at a given time and place, the variability of rainfall and the relationship between the total rainfalls in the rainy months, especially January, are subjects of works published by CPTEC / INPE, which deserve further on a local scale. This work aims to analyze the occurrence, distribution, time of precipitation and number of rainy days in January in the years 1999 to 2009 in Vitória da Conquista - BA. For this work were used daily and monthly climatologically normal from the Meteorological Station - INMET, located on the campus of UESB in Vitória da Conquista - BA. The results show some regularity in the occurrence of two phenomena mentioned, displayed temporal trend for the extension of 12/24 up to 36 months of drought and spacing of 24/36/48 months to January with precipitation at or above average rainfall site (107 mm). The results indicate significant increase in the number of rainy days and total rainfall for the month of January in the years studied.
Keywords: precipitation; temporal behavior; rainfall of incidence.
Introdução
Nos estudos climatológicos, o estado médio da atmosfera em determinado tempo e lugar é condição
essencial. A variabilidade das chuvas e a relação entre os totais pluviométricos nos meses chuvosos,
principalmente janeiro, são temas de trabalhos divulgados pela CPTEC/INPE, que merecem
aprofundamento em escala local.
O município de Vitória da Conquista – BA, como em todas as regiões semi-áridas, apresenta
precipitações com acentuada irregularidade espaço-temporal, embora não possua a característica marcante
de elevadas temperaturas anual que ocasionam discrepantes taxas de deficiências hídricas, sugeridas por
Nimer (1979), em seus estudos sobre Pluviometria e recursos hídricos de Pernambuco e Paraíba.
No decorrer do ano, o regime térmico do município apresenta variação entre 10 e 150 C em
determinados horários diários comparados as quatro estações do ano, e se assemelha a variabilidade do
regime pluviométrico. O período de maior precipitação estende-se de novembro a abril e o de menor de
maio a outubro, sendo a média anual de 696 mm (RADAMBRASIL, 1981). O principal período de estação
chuvosa compreende os meses de setembro a março.. Sendo que nos últimos dez anos a regularidade desse
evento apresenta sensível alteração, tornando quase exceção chuvas em setembro. A maior incidência de
chuvas passou a ocorrer no final de novembro começo de dezembro.
Estudos com abordagem sobre o comportamento têmporo-espacial do regime pluviométrico
constituem-se em um fator de grande relevância para a compreensão dos sistemas que determinam os
regimes hídricos de regiões semi-áridas com altitudes entre 800 a mais de 1.000 metros acima do nível do
mar. Também é relevante para os sistemas de produção agrícola, em virtude de que dentre todos os
elementos meteorológicos, a chuva é o que detém maior influência no regime hídrico dos cultivos e da
pecuária para a obtenção de regularidade na produtividade, que justifique os altos investimentos
dispensados à agricultura.
A precipitação na forma de chuva é um dos elementos meteorológicos que mais influencia nas
disponibilidades hídricas. Os constantes conflitos em relação ao uso da água e as limitações espaço
temporal da efetiva disponibilidade hídrica nos municípios pertencentes ao semi-árido levam à necessidade
de maior conhecimento sobre as potencialidades das bacias hidrográficas no Polígono da Seca.
A crise energética vivenciado no Brasil, em 2001, levou o país a adotar o esquema emergencial
de racionamento, abrindo possibilidades de investimentos em estudos sobre precipitações pluviais,
sobretudo para criação e manutenção de reservatórios, tanques e lagos. Assim, este trabalho teve como
objetivo analisar a ocorrência, distribuição, altura da precipitação e número de dias chuvosos no mês
de janeiro nos anos de 1999 a 2009 em Vitória da Conquista – BA.
A cidade sede desse município ocupa a parte central da microbacia do rio Verruga, na unidade
geomorfológica Planalto dos Geraizinhos, com altitude variando entre 860 a 1200 m. O clima é úmido
e sub-úmido com características de semi-árido em áreas de depressão. Possui temperatura média anual
entre 20º e 24º C (MATTA; VEIGA; ALVES, 2001 e MATTA; VEIGA, 2001b e c). Sendo a
ocorrência de precipitação um processo aleatório, que não permite uma previsão determinística com
grande antecedência, estudos das características de precipitação como altura, duração, intensidade e
freqüência são de grande interesse em engenharia por sua freqüente aplicação nos projetos
relacionados com recursos hídricos (BACK, 1996).
Dentre as características das precipitações as de maior interesse pela relevância no
dimensionamento de obras hidráulicas, são a freqüência e a altura que correspondem,
respectivamente, ao número de ocorrências de uma dada precipitação no decorrer de um intervalo
fixado de tempo, e a quantidade de água precipitada por unidade de área horizontal (BEIJO;
MUNIZ; VOLPE; PEREIRA, 2003).
A precipitação máxima pode ser entendida como a ocorrência extrema com duração, distribuição
temporal, espacial crítica para uma área ou bacia hidrográfica (BERTONI & TUCCI, 1997, p.177 e 200).
Assim, “as precipitações máximas são retratadas pontualmente pelas curvas de intensidade, duração e
freqüência e através da precipitação máxima provável (PMP)”.
Para este trabalho foram utilizadas normais climatológicas diárias e mensais da Estação
Meteorológica - INMET, localizado no campus da UESB em Vitória da Conquista – BA. A partir
dessa análise obteve-se freqüência, caracterizada pelo número de ocorrência, o volume total, médio,
máximo, e desses resultados foram calculados desvio padrão, variância, correlação de Person e Teste
F, delimitando os janeiros chuvosos e secos.
Material e Método
Analisar a ocorrência, distribuição, altura da precipitação e número de dias chuvosos no mês de
janeiro nos anos de 1999 a 2009 em Vitória da Conquista – BA foi possível devido a existência no
Campus de uma estação meteorológica principal, em convênio INMET/UESB, desde setembro de
1998. Os dados coletados, nas três tomadas diárias, foram armazenados em um banco de dados e
trabalhados a fim de possibilitar sua utilização em pesquisas tanto dos docentes da universidade quanto
de discentes da graduação e pós-graduação.
Para este trabalho foram utilizadas normais climatológicas diárias e mensais da Estação
Meteorológica - INMET, localizado no campus da UESB em Vitória da Conquista – BA. A estação
encontra-se situada nas seguintes coordenadas geográficas, Latitude de 14º53' S; Longitude 40º48' W,
Hz 876,91 m. A altitude da estação é de 874,81 m, com cuba barométrica de 876,9m, e coeficiente 27
de correção da gravidade.
Os principais equipamentos e sistemas utilizados foram: a) computador PC 1.6 GHz, 256 MB
RAM, HD 40 MB com kit multimídia; b) programa de editoração eletrônica Excel e editor de texto
Word para Windows para manipulação e tratamentos estatístico.
As observações referem-se às precipitações pluviais diárias expressas em altura de lâmina
d’água (mm) referentes a 11 anos de observação do mês de janeiro entre 1999 a 2009, visando
estabelecer os anos de janeiros secos e chuvosos. A faixa recomendada pela Organização Mundial de
Meteorologia que, segundo Pinto (1999), é de 30 anos, não foi possível ser seguida devido a
insuficiência dedados pelo próprio tempo de funcionamento da estação naquele local. As leituras
diárias dos dados pluviométricos foram realizadas nos horários 9:00, 15:00 e 21:00 horas, e retiradas a
média diária e mensal. Para a precipitação máxima foi considerado o dia de maior precipitação pluvial
no mês de janeiro.
Após o tratamento, esses dados foram agrupados em períodos de um ano e mensal, extraindo-se
a máxima precipitação pluvial diária observada de cada período. Os dados analisados foram
compilados e tratados estatisticamente através de médias, desvio padrão, variância, método de
correlação de Pearson, linhas de tendência e logaritmos, também se utilizou os critérios de
determinação de Gaussen e Bagrouhs e da teoria de Extremos de Gumbel para determinação dos
janeiros chuvosos e secos. A partir dos resultados foram gerados diagramas, gráficos e tabelas, além de
cartogramas de localização e classificação climática local.
Resultados e Discussões
O estudo da precipitação em casos de janeiros chuvosos e secos em Vitória da Conquista –
BA, para um espaço temporal de 1999 a 2009, prevê uma análise das características climáticas e
geoambientais do município. A relação entre os dias com chuva e a precipitação total durante um
determinado período, permite conhecer o comportamento temporal das chuvas e por conseqüência as
condições geoambientais presentes no território.
Os índices pluviométricos ocorridos no mês de janeiro foram analisados tomando como
parâmetro a maior incidência de chuvas numa extensão territorial que abrange uma população de
aproximadamente 308,5 hab. (IBGE 2007). Essa relação corresponde à área do município de Vitória
da Conquista, situado na porção central do Planalto de Conquista, localizado à 14º 30’ S e, 41º ’ W.
Esse município está situado no divisor de águas entre duas bacias leste do Brasil (Figura 01).
Na porção Sul-Sudeste do município, a drenagem é voltada para o Rio Pardo, apresentando
características climáticas de clima úmido. Já na porção Norte-Nordeste, a drenagem volta-se para o
Rio de Contas, que possui características climáticas de semi-árido. O município possui uma variação
climática que acompanha os diferentes conjuntos topográficos conforme a sua dinâmica, temos uma
predominância do clima Úmido a sub-úmido na faixa correspondente à Encosta Oriental do Planalto de
Conquista, com totais pluviométricos que variam entre 1000 a 1500 mm anuais (Figura 02).
Verifica-se uma faixa de transição do tipo sub-úmido nas extremidades da Encosta Oriental do
Planalto de Conquista, com totais pluviométricos que variam entre 900 a 1200 mm anuais, tendo um
déficit hídrico nos períodos de estiagem. Apresenta estação chuvosa no outono-inverno e primavera-
verão; há também uma faixa mais seca com o clima predominante de sub-úmido e semi-árido no topo
do Planalto da Conquista e na Depressão Itambé-Itapetinga, com totais pluviométricos que variam
entre 700 a 1.000 mm anuais.
Figura 01 – Brasil: Localização do Município de Vitória da Conquista – BA – 2009. Fonte: Rocha, 2009
Para a faixa de clima sub-úmido a semi-árido do município, o Instituto de Nacional de
Meteorologia - INMET, 2008 elaborou um balanço hídrico baseada na classificação de Thornthwaite
(1948), Conforme essa composição climática evidencia-se um balanço hídrico que representa um
período chuvoso de reposição das águas no solo entre outubro e março sendo uma estação definida das
chuvas, com um armazenamento máximo de 100 mm mensais e um longo período de estiagem que
representa um déficit hídrico no solo que vai de 00 a - 40 mm (Figura 03).
A transição de áreas úmidas para áreas de menor umidade no território conquistense pode ser
constatada através da vegetação. Verificam-se áreas de floresta densa áreas de transição entre caatinga
e Vegetação arbórea, bem como pelo tipo de solos que possui uma sucessão entre solos zonais álicos e
distróficos, na medida em que a disponibilidade hídrica se torna menor. Toda essa variação climática
pode ser explicada pela compartimentação topográfica do município que é muito diversificada, entre
380 a 1.100 m de altitude.
Figura 03 – Vitória da Conquista: Balanço hídrico climatológico – 1961 – 1990. Fonte: Rocha, 2009.
A distribuição das chuvas em Vitória da Conquista é irregular com precipitações média de 732
mm/ano. O período de maior precipitação pluvial ocorre nos meses de novembro a março, com altura
máxima/dia entre 10 a 90 mm. Nos anos de 2002, o fenômeno das chuvas surpreendeu pela constância e
volume apresentados (Tabela 01). No dia 03 de janeiro de 2002, a precipitação máxima com altura de 87
mm se aproximou da probabilidade máxima/dia da precipitação, quase se aproximando da PMP –
Precipitação Máxima Provável, prevista por Matta, Veiga e Alves (2001) quando estabeleceram a PMP de
100 mm/24 h. para Vitória da Conquista. A probabilidade de ocorrência desse fenômeno tinha previsão
para 104 anos, com conseqüências graves pelo subdimensionamento da rede de esgoto na área urbana.
Tabela 01 – Vitória da Conquista: Precipitação média diária ocorrida no mês de janeiro - 1999 a 2009. Ano/dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
jan/99 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,0 14,9 2,8 7,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
jan/00 0,1 3,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 8,3 22,1 3,9 1,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 36,0 0,8 5,9 6,6 25,0 6,2 0,0 0,0 2,3 0,0 17,0 0,0
jan/01 0,1 0,0 0,0 0,0 1,4 1,0 0,8 0,0 0,0 0,0 0,8 0,0 0,0 0,1 1,7 1,7 0,2 0,0 0,0 0,6 1,2 2,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
jan/02 12,5 36,6 87,8 15,4 16,1 12,5 8,3 6,6 1,4 1,6 3,0 18,6 0,8 13,2 12,4 31,9 6,8 26,0 0,0 0,2 2,2 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
jan/03 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,3 2,2 1,2 1,2 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0 2,0 29,8 0,0 0,0 2,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 17,5 0,0
jan/04 0,0 0,0 3,2 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 11,8 0,4 8,6 3,0 11,6 10,4 12,4 6,0 22,0 0,4 0,6 1,8 28,0 21,4 1,2 3,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
jan/05 0,0 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 5,6 0,0 3,6 11,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,8 23,6 47,4
jan/06 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,7 2,2 8,4 3,2 1,5 0,5 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
jan/07 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 59,0 2,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,8
jan/08 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 57,0 2,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 30,3 0,0 0,0 0,0 0,0 12,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 13,2
jan/09 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 3,2 45,1 4,3 0,0 1,4 4,5 8,2 9,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,8 0,0 0,9 20,6 48,0 2,0 0,0 0,0 0,0
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
Ainda com base nos estudos de Matta e Veiga (2001, p.7) é possível afirmar que em Vitória da
Conquista “existe uma freqüência de baixa e alta precipitação em intervalos cíclicos de 2 a 3 anos”.
Em 2003, o volume de precipitações foi de 421,4mm/ano, enquanto a média histórica era representada
pelo volume estimado em 732 mm. Em 2004, somente nos primeiros 5 meses, o volume de chuvas foi
de 866 mm, ultrapassando, portanto, essa média.
0
50
100
150
200
250
300
350
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Precipitação Total/mêsPercentual/ano
Figura 04 – Vitória da Conquista: Comportamento anual da precipitação no mês de janeiro – 1999/2009 Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
Observa-se na Figura 04 que o mês de janeiro apresenta a mesma característica apontada por
Matta e Veiga (2001), em relação à variabilidade da pluviometria do município de Vitória da
Conquista. A linha de tendência, nesses onze anos, apresenta uma mediana entre 150 a 160 mm de
chuva para o mês de janeiro. Observa-se que existe uma tendência maior para janeiros abaixo dessa
linha do que propriamente acima dela. Cabe ressaltar que os janeiros mais secos ficam abaixo da linha
de tendência dos 50 mm/mês, com o caso mais grave nesses anos para janeiro de 2001. Para as
exceções, tanto de janeiros secos quanto janeiros chuvosos como o ano de 2002. Observa-se, portanto,
certa regularidade cíclica, com maior aproximação tanto para janeiros secos respectivos aos anos de
1999, 2001, 2003 e 2006, sendo o mesmo observado para janeiros chuvosos respectivos os anos de
2000; 2004; 2008; 2009, com exceção muito acima da média para o ano de 2002.
A variabilidade da precipitação está diretamente ligada à quantidade média de chuvas ao longo do
mês, ano, ou mesmo referente à estação do ano. As baixas latitudes em áreas do semi-árido, a precipitação
pluvial é sazonal e variável de um ano para outro. Segundo Ayoade (1996, p.172) “quanto menos variável
é a precipitação pluvial, mais confiável ela é. Isso ocorre porque o índice de variabilidade média que se
repete a cada ano, estação, ou mês depende do período em consideração”.
Dessa forma, embora Vitória da Conquista esteja inserida no Polígono da Seca, sua variabilidade
em termos de total pluviométrico e temperatura a distingue dos demais municípios do seu entorno, em
decorrência de diversos fatores como: continentalidade, estar situado sobre áreas que apresentam quebra de
relevo, altitude acima de 850 m. e, a depender das condições meteorológicas, apresenta características
dominantes, em determinadas épocas do ano, de áreas de alta pressão.
Tabela 02 – Vitória da Conquista: Precipitações diárias máximas ocorridas no mês de janeiro entre 1999 a 2009.
Período de Ocorrência
Dia da Ocorrência
Precipitação máxima (mm)
Precipitação mensal (mm)
Número de dias de precipitação
Janeiro 1999 11 14,9 37,6 05 Janeiro 2000 20 36,0 138,5 14 Janeiro 2001 22 2,8 12,4 12 Janeiro 2002 03 87,8 315,7 21 Janeiro 2003 21 29,8 58,5 09 Janeiro 2004 22 28,0 146,8 18 Janeiro 2005 31 47,4 96,1 08 Janeiro 2006 11 8,4 21,3 10 Janeiro 2007 14 59,0 74,5 07 Janeiro 2008 08 57,0 114,9 06 Janeiro 2009 27 48,0 161,3 13
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
A Tabela 02 sintetiza os dados da Tabela 01 fazendo uma relação entre o dia de ocorrência e o
valor da precipitação máxima em cada janeiro, ao longo desses onze anos, bem como a relação entre o
total de precipitação mensal e o número de dias em que ocorreram chuvas (Figura 05).
O desvio padrão do comportamento pluviométrico do mês de janeiro apresentou similitude com
a média de chuva mensal que foi de 4,03 para os anos analisados, com desvio de 4,97 (Figura 06). A
correlação entre o total de precipitação mensal e o número de dias chuvosos foi de 0,7, o que
representa uma média correlação positiva, e quanto maior o número de dias chuvosos essa correlação
decaia para até -0,2 representando uma fraca correlação negativa. A correlação positiva de 0,7 estava
centrada na média de 9,5 mm/dia, o que representa 19% do total de chuva/mês.
Percentual da Precipitação Máxima/Dia
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Dia
% precipitaçãomáxima/dia
Figura 05 – Vitória da Conquista: Percentual da precipitação máxima em relação ao total mensal do
mês de janeiro – 1999/2009 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
Vitória da Conquista: Desvio padrão do comportamento pluviométrico de janeiro 1999-2009
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
20,0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Desvio Pad
Figura 06 – Vitória da Conquista: Desvio padrão para o comportamento pluviométrico dos janeiros –
1999/2009 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
Cumpre salientar que esse período apresenta uma boa correlação entre a pluviometria e o
número de dias de chuva. O Teste F apresentou significância de 9% de probabilidade, o que
demonstrou uma tendência temporal significativa dos dados.
Observa-se na Figura 07 que o comportamento pluviométrico é cíclico, apresentando duração
de dois a três anos consecutiva de aumento da pluviosidade seguida de declínios acentuados com fortes
indícios de seca anual, seguido de anos que, embora ocorra melhor distribuição dos dias chuvosos, as
precipitações estão aquém das necessidades econômicas da região.
Por conseguinte, dessa análise é possível inferir que existe uma tendência para aumento do total
pluviométrico para o mês de janeiro, bem como aumento do número de dias chuvosos. O cálculo
estatístico de probabilidade de ocorrência de precipitações e os estudos de Tucci (1997, p.209)
apontam que “existem controvérsias quanto à existência de um limite superior de precipitação num
dado local”. A precipitação máxima provável (PMP) pode ser vista não como um limite físico, com
possibilidades de ocorrência pelas condições analisadas, mas, sim, como um evento cuja superação
está associada a uma probabilidade muito baixa.
Vitória da Conquista: Comportamento pluviométrico janeiro 1999 a 2009
0
50
100
150
200
250
300
350
jan/99 jan/00 jan/01 jan/02 jan/03 jan/04 jan/05 jan/06 jan/07 jan/08 jan/090,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
Total
Média
Desv Pad
Variância
Log. (Variância)
Figura 07 – Vitória da Conquista: Comportamento pluviométrico do mês de janeiro ao longo de onze
anos em relação ao total, média, desvio padrão, variação e variação logarítmica – 1999/2009 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009.
Essa estimativa de tendência ao aumento tanto dos dias quanto do índice pluviométrico não
quer dizer que venha haver maior regularidade e constância de dias chuvosos para o município, visto
que esse fenômeno depende de fatores naturais. No entanto, para a agricultura a irregularidade e
inconstância das chuvas prejudicam muito o período de floração do café na região Sudoeste, tendo em
vista que esse é o mês que deveria apresentar melhor distribuição para garantir produtividade e
qualidade na safra.
Conclusões
A partir dos resultados foram classificados os janeiros secos respectivos aos anos 1999; 2001;
2003; 2005; 2006; 2007, e chuvosos 2000; 2002; 2004; 2008; 2009. Observou-se, portanto, certa
regularidade na ocorrência dos dois fenômenos citados, apresentado tendência temporal para o
prolongamento de 12/24 para até 36 meses de estiagem e espaçamento de 24/36/48 meses para janeiros
com precipitação igual ou superior à média pluviométrica local (107 mm). Esses resultados indicam
sensível aumento no número de dias chuvosos e totais pluviométricos referentes ao mês de janeiro.
Por conseguinte, para uma melhor compreensão da dinâmica meteorológica será necessário estudos
que possam associar os anos de ocorrência dos fenômenos La Nina e El Niño, em associação com o
aumento e escassez da precipitação nos anos de ocorrência desses dois fenômenos.
Referências Bibliográficas
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 4. ed.: Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
BACK, Á.J. Análise das máximas intensidades de chuva para a região de Urussanga – SC. In: Anais do Congresso Nacional de Engenharia de Agrimensura. Salvador: Federação Nacional dos Engenheiros de Agrimensura (FENEA), 1996, p.75-80.
BEIJO, Luiz Alberto; MUNIZ, Joel Augusto; VOLPE, Clóvis Alberto; PEREIRA, Gener Tadeu. Estudo da precipitação máxima em Jaboticabal (SP) pela distribuição de Gumbel utilizando dois métodos de estimação dos parâmetros. In: Revista Brasileira de Agrometeorologia, v. 11, n. 1, p. 141-147, 2003.
BERTONI, C. B.; TUCCI, C. E. M. Precipitação. In: TUCCI, C. E. M. (org.). Hidrologia: ciência e aplicação. 2. ed.. Porto Alegre: Editora da Universidade de Porto Alegre, 1997.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contagem populacional. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
INMET. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Monitoramento das Estações Automáticas. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/sonabra/maps/automaticas.php>. Acesso em: 30 nov. 2008.
MATTA, Jana Maruška Buuda da; VEIGA, Artur José Pires; ALVES, Carley Rodrigues. Precipitações Máximas Prováveis em Vitória Da Conquista: por uma drenagem urbana sustentável. In:Anais do 6º CONPEX, 5º Seminário de Iniciação Científica (Conhecimento Diversidade e Qualidade de Vida). Vitória da Conquista - BA: UESB, 2001a, p. 180.
____; ____. Regime térmico do solo no município de Vitória da Conquista. In: Anais SBPC, 53. Salvador: UFBA, 2001b. 1 CD.
____. ____. Modelagem da bacia hidrográfica do rio Verruga: o perímetro urbano da cidade de Vitória da Conquista. In: CONGRESSO DE PESQUISA E EXTENSÃO, 6 - SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 5. Vitória da Conquista: EDUESB, 2001c. v. 1, p. 178-178.
MOURA, Soelma Beserra de; SILVA, Thieres George Freire; SOARES, José Monteiro. Análise da precipitação e do número de dias de chuva em Juazeiro, Bahia. Brasília – DF: EMBRAPA, 16 de setembro de 2005Disponível em: <http://www.repdigital.cnptia.embrapa.br/handle/CPATSA/31947>. Memória Técnica EMBRAPA. Acesso em: 17/04/2009.
NIMER, Edmon. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1979.
PINTO, Fernando Alves. Chuvas intensas no Estado de Minas Gerais: análise e modelos. Viçosa, MG: UFV, 1995, 87 p. (Tese Doutorado em Irrigação e Drenagem - Curso de Pós-graduação em Engenharia Agrícola).
PINTO, Josefa Eliane Santana de Siqueira. OS REFLEXOS DA SECA NO ESTADO DE SERGIPE. Aracaju: NPGEO/UFS, 1999.
ROCHA, Altemar Amaral. Atlas Geográfico de Vitória da Conquista - atualização. Vitória da Conquista – Ba: UESB, 2009.
THORNTHWAITE, C.W. An approach toward a rational classification of climate. In: Geographical Review.38, p.55-94, 1948.
TUCCI, C. E. M. (org.) Hidrologia: ciência e aplicação. 2 ed.: Porto Alegre: Editora da Universidade: ABRH, 1997.