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Análise da Conjuntura Latino-Americana
A América Latina vem se apresentando nos últimos anos como a região onde a
luta pelo socialismo e pelo poder popular tem sofrido os maiores avanços em todo o
mundo. As perspectivas, em alguns países, são muito promissoras. Podemos afirmar
que se conforma um contexto revolucionário e de possibilidade real de avanço das
lutas populares, que não era visto na região desde as décadas de 60 e 70.
O contexto internacional de avanço do neoliberalismo nas décadas de 80 e 90
começou a sofrer uma reversão nos primeiros anos do século XXI. Após o domínio de
governos liberal-conservadores, como exemplo Menen na Argentina, FHC no Brasil e
Fujimori no Peru, que adotaram as políticas econômicas vindas do FMI e que
contribuíram para aprofundar problemas como a miséria, o desemprego e a
desigualdade social, os povos latino-americanos começaram a se levantar contra tal
política e a dar suas respostas.
As lutas de Chiapas, os movimentos anti-globalização, o Fórum Social Mundial,
enquanto espaço unificador de amplos setores progressistas, a luta das FARC-EP, e
a resistência heróica do povo cubano, foram pilares fundamentais para a construção
de alternativas viáveis de poder, que hoje começam a se consolidar em alguns paises
da América Latina. È importante ressaltar o papel fundamental da juventude nas
lutas contra o modelo neoliberal em toda a América Latina.
O contexto que era de resistência e sobrevivência sofreu uma alteração
significativa. Com o avanço da Revolução Bolivariana, com as lutas travadas pelo
povo boliviano em defesa das suas riquezas, que culminou no Governo de Evo
Morales, e com a criação da ALBA, a luta pelo socialismo, além da criação de
alternativas de esquerda em países como Chile (juntos podemos más), Brasil (Frente
de Esquerda) e México (La otra Campaña) o quadro político da região passou por
uma mudança qualitativa importante.
Cuba cumpriu um papel fundamental para a sustentação desses projetos
alternativos. Tanto política quanto materialmente contribuiu, e segue contribuindo,
para que as alternativas de esquerda na América Latina consolidem-se e avancem.
A possibilidade do novo governo eleito no Equador tomar o rumo da
construção de um projeto alternativo se apresenta de forma muito promissora. Tendo
em vista os processos de mobilização de massa no sentido de alteração da
constituição do país, além do forte discurso antiimperialista apresentado por Correa.
Mesmo com avanços tão significativos o imperialismo e as forças
conservadoras ainda seguem com peso em Nuestra América.
Podemos definir a existência de três eixos políticos, entre os países da
América Latina na atual conjuntura.
O primeiro podemos chamar de Liberal-Conservador, que conta com os
governos do México, Colômbia e Paraguai e grande parte dos paises da América
Central, como os principais aliados do imperialismo no continente.
O segundo pode ser definido como Social-Liberal, que se expressa nos
governos do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Nicarágua, como governos de
discurso progressista e popular, mas de prática contraditória que por vezes privilegia
o capital financeiro e a permanência do neoliberalismo, e em outros combatem estas
práticas econômicas, privilegiando os interesses nacionais.
E o terceiro eixo que podemos definir como Antiimperialista composto por
Venezuela, Cuba, Bolívia e com a possibilidade de contar com o Equador em um
curto ou médio espaço de tempo, dependendo da agudização dos processos pró-
constituinte e das lutas sociais naquele país.
O imperialismo estadunidense segue atuando e influindo decisivamente na
região. Ainda que com sua atenção voltada para a nefasta guerra que mantém no
Iraque, como uma necessidade de apropriar-se de fontes de energia e garantir a
hegemonia político-econômico-militar no contexto internacional, os Estados Unidos
tem um plano estratégico para a dominação econômica e política da América Latina e
ela se dá em três frentes.
A primeira é o plano Puebla-Panamá, que abrange o sul do México e toda a
América Central, onde através da instalação de bases militares e do ataque aos
povos originários, com a retirada de suas terras e diminuição de seu peso social e
político na região, visa garantir a influência e o domínio estadunidense, tendo em
vista o histórico de lutas contra o imperialismo naqueles paises e a proximidade
geográfica com Cuba. A ocupação militar do Haiti está enquadrada neste contexto.
A segunda é o Plano Colômbia. A instalação de bases estadunidenses e o
apoio militar ao governo Colombiano demonstram a preocupação do imperialismo em
ter uma porta de entrada para a Região Amazônica, fonte de recursos hídricos e
naturais, para onde em um curto espaço de tempo irá se voltar a exploração
imperialista. Outro fator importante é que com o avanço da Revolução Bolivariana, o
governo colombiano tende a agudizar sua luta contra as FARC-EP e fomentar
conflitos internos no país vizinho, através do apoio a paramilitares e a setores
conservadores.
Por fim, a terceira frente é o Paraguai. A instalação de bases e a cooperação
militar entre o Governo paraguaio e os Estados Unidos, demonstra a preocupação do
imperialismo em ter o controle da região onde se localiza o aqüífero guarani, maior
reserva de água doce subterrânea do mundo, que envolve o Paraguai, o norte
argentino, o sul do Brasil e o Uruguai. A compra de grandes extensões de terra por
proprietários estadunidenses, na região de fronteira entre o Paraguai e a Bolívia,
também é uma forma de levar um maior tensionamento a região. A desculpa de
combate a financiadores do terrorismo na tríplice fronteira, também é um elemento
que justifica a penetração dos Estados Unidos no país.
O imperialismo não abandonou seus planos de dominação para a América
Latina, mesmo com a derrota da ALCA, os TLCs e outras formas de cooperação
econômica tem sido as saídas encontradas pelos Estados Unidos no sentido de
manter seu domínio econômico na região.
O neoliberalismo, também não pode ser considerado vencido, apesar de
muitos governos identificados com esta política econômica terem sido derrotados nos
últimos anos, o que podemos observar é que a hegemonia do capital financeiro
permanece em diversos paises. Muitos dos governos “progressistas” seguem
mantendo algumas práticas neoliberais na condução de suas políticas econômicas, o
que demonstra que a superação deste sistema ainda passa por uma fase de difíceis
lutas e reacomodação de forças nos respectivos cenários políticos nacionais.