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Page 1: Ana Pais Oliveira JL 2014

24 * ARTEVEXPOSIÇÕES,ESPETACULOS

41[Mais uma oportunidade de acedera novos autores, cada vez mais ape-trechados numa aproximação da arteà ciência, apesar dos 'sensacionalis-mos' de alguns para obter sucessoem pouco tempo. Ana Pais Oliveira(/I.PO), que agora expõe em Lisboa,pertence à geração nascida nos anos80, no seu caso, em Sandim, VilaNova de Gaia. licenciou-se em ArtesPlásticas/Pintura pela Faculdadede Belas Artes da Universidade doPorto, onde é doutoranda em Artee Design. Bolseira da Fundaçãopara a Ciência e a Tecnologia, temexposto com frequência, incluindono estrangeiro, e está representadaem museus e universidades, entreoutras instituições. Com prémios.

OLHARESRocha de Sonsa

Com uma sígnífícatíva obra pública,publicada, no país e noestrangeíro.

EXPRIÊNCIA FÍSICAE SENSORIALCada gesto com tinta sobre a tela,feito de acaso, não é um erro nemuma certeza. Essa ocasionalidadeserá uma deriva errática perantea normas da representação. Masa repetição desse ato, contrário,quase cego, pode acrescentar efeitossensorialmente positivos às manchas.Pintura gestual. Consagração estéticade um quase acaso. A propósito deuma história de dança, APO escreve:"Há, efetivamente, um conjunto denovas possibilidades e de déflníçãode recomeços em cada erro ou ato

de falhar." Picasso falava, não sob omesmo conceito, que "um quadroé uma soma de destruições." Nasartes, e nos seus tipos de pesquisacontemporâneos, o erro pode serestrutural e sedutor. Por vezes, quan-do tudo parece completo, olhamose o desânimo toma conta de nós. Aperceção, tropeçando em diversasarmadilhas, errando com frequênciaperpendiculares em linhas oblíquas,integra a reinvenção do visível. O realé contudo racionalizado a sua medida.e orientação pelos favores do cérebro.

A artista, através de técnicasque geometrizam e planificam acor nos quadros de uma arquiteturade suporte (até à sustentação final]tridimensionaliza o ver, reconstróias oblíquas, usando por vezes errosde meord para obter consequênciasexperimentais de efeito sedutor, ape-lativo. Tratá-se de urna experiênciaque atravessa a incerteza e problema-tiza poeticamente a forma. A cor é elamesma e o seu desdobramento, entrelinhas que a conjugam em inefá-veis sequências. O processo criativodesfaz certos ínícíos, ou fases, parareconstruir em erro o espaço, a ter-ceira dimensão, as razões da cor.

Perto do que explica APO, o erromostra acontecimentos ou coisasque nos surpreendem pelo seuinesperado teor poético, tanto nasartes plásticas como na escrita ou nocinema. A impossibilidade de certasimagens em movimento obrigam a

jornaldeletras.sapo.pt • 14 a 27 de maio de 2014 / JL

Obra de Ana pais Oliveira "Olhamos em silêmcio estes 'quadros'"

perceção a suspeitos atos de regra,integrando-a, por vezes, num novoimaginário. Podemos trabalhar portentativa e erro. Será porventura o I

erro que virá a suportar a tentativaconseguida.

Muito cedo, na escrita gráfica dascrianças, os traços e as manchas,concentrando-se a caminho darepresentação, abrem muitas vezes apoética e o valor a fantasia, pelo erroà beleza conquistada. Olhamos emsilêncio esses "quadros", a casa quenos pertence e onde refazemos a me-mória dos afetos, partidas e chegadas

Citemos de novor Ana PaisOliveira. Diz ela, em jeito de con-clusão: "Sedução em Erro apresenta,

Ana Pais OliveiraA casa, entre o erroe a sedução

assim, um conjunto de trabalhosonde a cor errada, que enganacontinuamente, que ilude e é volátil,é o elemento visual e expressivoprotagonista

De objetos de pintura que, dealgum modo, se apropriam de ele-mentos da arquitetura ou que assu-mem uma mais evidente qualidade edimensão arquitetónicas."

A relação do espaço, pela casa epela cor, importam ao interior danossa interioridade. "L

) Ana Pais OliveiraSEDUÇÃO EM ERROGaleria S. Mamede, até 20 de Maio. De segundaa sexta, as JO às 19h. Sábado: das 15 às 20h.

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